*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do
Cárcere, v.1. p. 99. Civilização Brasileira, 2006.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Opinião do dia – Antonio Gramsci* (a força das ideias)
Malu Gaspar - Cassar Dallagnol foi pouco
O Globo
Se houvesse um censo para esse tipo de
coisa, provavelmente se constataria um recorde de taças tilintando em Brasília
logo após a
cassação de Deltan Dallagnol. Sem contar as mensagens, ligações e memes
entre autoridades se congratulando por extirpar da política o ex-procurador da
Lava-Jato de Curitiba.
Em meio à celebração, houve quem disputasse
o pioneirismo na luta contra a operação que, segundo seus críticos,
“criminalizou a política” e deu asas ao bolsonarismo. Para os mais ambiciosos,
cassar Dallagnol foi pouco. "Só comemoro mesmo quando expulsar o
Moro", me disse uma parruda autoridade da República.
Por mais insaciável que seja o desejo de vingança, porém, o “sistema” não tem do que reclamar. Nesta semana, mais um passo foi dado contra a “criminalização da política”. Foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados a anistia para todas as irregularidades nas prestações de contas dos partidos sobre o uso do fundo eleitoral.
Merval Pereira - O sistema é f*#@
O Globo
TSE usou uma interpretação premonitória
para cassar a candidatura de Dallagnol
Continuamos a fase mediúnica da Justiça
brasileira, quando se arquiva um processo porque ele certamente prescreverá no
seu decorrer e se condena alguém pelo que poderia fazer caso acontecesse isso
ou aquilo. Tudo faz parte, no entanto, de um esquema organizado para liberar
condenados e condenar os que os condenaram. E tudo dentro da lei, “com Supremo,
com tudo”, como previa o ex-deputado Romero Jucá. Ele, por sinal, anda livre,
leve e solto fazendo política em Brasília, embora tenha sido derrotado mais uma
vez na eleição de seu estado. A Justiça não o apanhou, mas o eleitor sim.
No primeiro caso, a título de exemplo, Lula não pode mais ser punido pelo caso do tríplex do Guarujá, pois o Ministério Público Federal alegou que, com os prazos prescricionais reduzidos pela metade, já que ele tem mais de 70 anos, os crimes de que é acusado — lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva — já estariam prescritos se um novo julgamento ocorresse. O processo foi arquivado, e Lula considera-se inocentado nesse e noutros casos.
Luiz Carlos Azedo - Cassação de Dallagnol é a volta do cipó de aroeira
Correio Braziliense
Ex-chefe da força-tarefa de Curitiba, algoz do
presidente Lula, que ousou estender suas investigações contra a corrupção aos
tribunais superiores, acabou defenestrado pelo TSE
Gravado em 1968, o ano da Passeata dos 100
Mil e do Ato Institucional nº 5, a letra da música Cipó de Aroeira, de Geraldo
Vandré, que empresta seus versos à coluna, fez muito sucesso à época. Era uma
alusão à Revolta da Chibata (1910) e ao passado escravagista da Colônia e do
Império, cujos castigos físicos impostos aos escravos indisciplinados e
rebeldes continuaram praticados após a abolição, pela Marinha de Guerra:
“Marinheiro, marinheiro/ Quero ver você no mar/ Eu também sou marinheiro/ Eu
também sei governar/ Madeira de dar em doido/ Vai descer até quebrar/ É a volta
do cipó de aroeira/ No lombo de quem mandou dar/ É a volta do cipó de aroeira/
No lombo de quem mandou dar”.
Também foi uma espécie de prenúncio da opção pela luta armada que uma parte da oposição ao regime militar viria a adotar, sob a liderança principal do comunista Carlos Marighella. Havia um evidente voluntarismo na ideia de que seria possível combater o regime militar recorrendo à força das armas, o que resultou no fracasso dos grupos guerrilheiros urbanos e rurais constituídos sob a inspiração, principalmente, da Revolução Cubana. Nunca houve a volta do cipó de aroeira. O regime militar seria derrotado nos marcos de suas próprias regras eleitorais.
Maria Cristina Fernandes - Ao cassar Dallagnol, TSE aduba lavajatismo
Valor Econômico
Cassação de Dallagnol mostrou que
lavajatismo não morreu
Deltan Dallagnol colocou o Ministério
Público Federal no modo guerrilha e o país num frenesi jurídico-político do
qual não saiu até hoje. Transformou-se, assim, num dos principais cabos
eleitorais do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar disso, ou melhor, em grande
parte por causa disso, recebeu o voto de 344 mil paranaenses para chegar à
Câmara dos Deputados e se dedicar à política, vocação que não foi capaz de
sublimar durante seu mandato como procurador da República.
O TSE foi o grande dique de contenção do golpismo que ameaçou inundar a democracia, mas, ao cassar o mandato de Dallagnol, não contribui para devolver o país à normalidade institucional. O lavajatismo de Dallagnol ajudou a derrubar Dilma Rousseff. Com o lavajatismo que tem guiado decisões como a da noite desta terça-feira, o TSE, supostamente, sai em socorro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas pode ajudar a minar sua legitimidade.
Maria Hermínia Tavares* - O ambiente no governo
Folha de S. Paulo
Não faltará ocasião para testar a firmeza
dos compromissos ambientais
A ministra Marina Silva tem insistido no
que considera a principal diferença entre os dois períodos em que comandou o
Ministério do Meio Ambiente. O primeiro, entre 2003 e 2008, ao ocupar um nicho
no governo, a partir do qual construiu boa parte das instituições que regem a
proteção de nossas florestas e a biodiversidade.
Hoje a questão ambiental se destaca entre os compromissos do governo Lula, com espaço próprio em distintas áreas da administração, entre elas nada menos de 19 ministérios e bancos públicos, assegurando-lhe fortes ferramentas de ação.
Bruno Boghossian - Os custos de uma CPI
Folha de S. Paulo
Comissão será presente para bolsonaristas,
mas deve fazer poucos estragos sobre Lula
O deputado Luciano Zucco já se referiu
a Lula como
ex-presidiário e comparou a ocupação de terras pelo MST ao terrorismo. Ricardo
Salles disse que gestões petistas são lenientes com
invasões. Kim Kataguiri sentenciou,
aos 100 dias de mandato, que o atual governo é desastroso.
Presidente, relator e vice-presidente terão palco livre na CPI que foi instalada para investigar a atuação do MST, mas tem o governo como alvo principal. A comissão dificilmente conseguirá fôlego suficiente para atrapalhar Lula, mas deve manter os oposicionistas agitados e exigir uma dose extra de mobilização política do Planalto.
Vinicius Torres Freire - Haddad e Lira vencem, PT perde
Folha de S. Paulo
Comando da Câmara indica os termos de um
acordo entre a direita parlamentar e Lula
A Câmara
aprovou a tramitação urgente do teto móvel de gastos Lula-Haddad, o
dito "arcabouço fiscal". Foi uma vitória por 367 votos a 102, com uma
abstenção —presença de 91,6% dos deputados.
Foi uma vitória de Fernando
Haddad, ministro da Fazenda,
e de Arthur
Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Derrota do comando do PT, que não
engole o "arcabouço fiscal" e ainda menos o ligeiro aperto que a
Câmara deu na regra de gasto. Essa tramitação também tem um recado para o
presidente da República.
Nada foi aprovado. O projeto será votado na semana que vem, dia 24. Os números da votação, porém, foram expressivos. A tramitação com urgência reduziu a possibilidade de haver emendas importantes ao projeto. O que importa aqui é menos política econômica e mais a política-politiqueira.
William Waack - O preço da vontade
O Estado de S. Paulo
As principais diretrizes do governo são as vontades do presidente Lula
Seja feita a vontade do chefe é um problema
difícil em qualquer governo mesmo quando o chefe manda sozinho. Não é o caso do
presidente Lula. Ele está muito longe de governar sozinho, mas insiste para que
suas vontades sejam feitas.
A lista de vontades do chefe é longa e apoiada em inabaláveis convicções próprias. Seus subordinados estão suando sangue, e algumas das vontades ainda não passaram pelo teste da realidade.
Eugênio Bucci* - O inexorável
O Estado de S. Paulo
Trégua de seis meses nas pesquisas sobre IA não vai resolver nada. Olhe com ternura e compaixão para o mundo à sua volta, pois ele vai desaparecer num suspiro
De umas poucas semanas para cá, o
historiador israelense Yuval Harari escreveu um par de artigos afirmando que a
inteligência artificial (IA) “hackeou” o “sistema operacional” da espécie
humana. Tratase de uma metáfora: “sistema operacional”, aqui, significa
linguagem. A máquina finalmente dominou nossas formas de expressão e
comunicação – e o perigo que isso representa é inédito, colossal, maior do que
qualquer outro que tenhamos conhecido antes.
Harari tece raciocínios com uma limpidez irresistível. Autor de best-sellers mundiais, como Homo Sapiens (publicado no Brasil pela Companhia das Letras), tem o dom de tornar palatáveis, acessíveis e até mesmo envolventes alguns dos mais excruciantes dilemas do nosso tempo. O primeiro dos artigos, originalmente publicado no The New York Times, foi traduzido em jornais brasileiros. O Estadão o estampou em suas páginas no dia 28 de março, com o título de O domínio da inteligência artificial sobre a linguagem é uma ameaça à civilização.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Petrobras joga fora o mecanismo que a fez sobreviver
O Globo
Teste da nova política de preços acontecerá
quando barril de petróleo e dólar voltarem a subir
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva começou a cumprir a promessa de “abrasileirar” o preço dos combustíveis.
Se o significado da expressão era uma incógnita na campanha eleitoral, continua
sendo depois do anúncio de que a Petrobras
abandonará a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) para
estabelecer quanto cobra por gasolina, diesel e gás de cozinha. “Nos
alforriamos do PPI para executar uma política de preços a partir das nossas
capacidades competitivas”, disse o presidente da estatal, Jean Paul
Prates.
Apesar de as ações da Petrobras terem subido, ninguém entendeu direito a nova política. O certo é que ela procura não transferir a volatilidade das cotações internacionais do petróleo aos preços internos. Em termos vagos, a estatal informou que seus preços variarão de acordo com as condições locais de cada refinaria, para oferecer “a melhor alternativa acessível aos clientes”. De imediato, Prates anunciou a queda dos preços cobrados nas refinarias pela gasolina, pelo diesel e pelo botijão de gás. O governo celebrou, mas as ameaças para o futuro são evidentes.