A antecipação radical de um clima
plebiscitário próprio de segundo turno eleitoral é, por um lado, má notícia
para quem se preocupa com a estabilidade e integridade do regime democrático,
condições sem as quais a democracia, como instituição e como conduta política, não
pode prosperar como valor, nem avançar no enfrentamento das questões
econômicas, sociais e ambientais pendentes no país. A antecipação subjetiva do
clima sugere que as datas decisórias magnas do pleito (sejam duas ou termine
sendo apenas uma) avizinham-se com rapidez incomum, a ponto de se imaginar, a
cada amanhecer, que o próximo será o do dia D, durante o qual virá uma
enigmática hora H. Sim, ainda é julho e o país (não mais apenas suas elites,
como ocorria há poucas semanas) já começa a respirar um quase outubro.
Os pulmões da democracia, entretanto, precisam de oxigênio e tecidos razoavelmente íntegros para cumprir ainda cerca de três meses de uma maratona eleitoral. Pode-se prever (na incerteza de praxe) que a atual sensação de antecipação se despedirá de nós daqui a duas semanas, quando se espera que estejam definidos os atores que irão até o fim do jogo, bem como seus respectivos alinhamentos em cada estado da federação. Embora peguem o carro andando - com o script plebiscitário já acertado antes com o eleitor - esses arranjos finais são importantes e podem produzir alterações na cena, para o bem ou para o mal, seja lá o que cada pessoa ou partido entenda sobre os sentidos dessas duas palavras amigas dos dogmas religiosos ou ideológicos e inimigas do pluralismo da política democrática.