terça-feira, 4 de agosto de 2015

Opinião do dia - Luiz Werneck Vianna

O específico da situação atual, sem o que ela não ganha inteligibilidade, se encontra no fato de importância capital de que, desta vez, o controle da crise não tem como ser exercido apenas pelos políticos, debalde os apelos à concórdia dos bem-intencionados. Fora da arena propriamente política, faz-se presente um tertius, o Poder Judiciário e o conjunto de instituições constitucionalmente criadas a fim de exercer controle sobre a administração pública, como, entre outras, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal, instâncias formalmente autônomas da política e que, nestes 27 anos de vigência da Carta de 1988, têm forjado uma cultura própria. Neste mundo de direitos, princípios e interpretações hermenêuticas, Maquiavel, soberano indiscutível entre os políticos, não entra. Salvo, é claro, pela porta dos fundos.

Aconteça o que acontecer, nada passará ao largo da política. A proteção de valores e princípios, que nos custaram tanto a afirmar, mais a preservação do que já foi conquistado nesta devassa ainda em curso, está reclamando que se tire logo o Maquiavel do armário.

-------------
*Luiz Werneck Vianna é sociólogo da PUC-Rio, em artigo ‘Antagonismos em Desequilíbrio’. O Estado de S. Paulo, 2 de agosto de 2015.

Nova prisão de Dirceu une Lava-Jato e mensalão

'Profissionalismo no crime'

• PF prende José Dirceu, acusado de montar na Petrobras o mesmo esquema de corrupção do mensalão

Cleide Carvalho, Germano Oliveira e Tiago Dantas - O Globo

Operação "Pixuleco"

CURITIBA, SÃO PAULO e BRASÍLIA - O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu é acusado de receber propinas antes, durante e depois de condenado pelo mensalão. Suspeita-se de que tenha dedicado os últimos 12 anos à corrupção. No mensalão, para beneficiar o partido. Na Lava-Jato, não só para arrecadar doações de campanha, mas também para enriquecer a si próprio. Para o Ministério Público Federal, ao indicar nomes para dirigir a Petrobras, como Renato Duque, hoje preso, Dirceu idealizou o esquema de corrupção na estatal, a exemplo do que aconteceu com o Banco do Brasil, foco de fraudes para sustentar a base aliada no mensalão, em 2005.

- Entendemos que o DNA, como diz o ministro Gilmar (Mendes), é o mesmo do mensalão e da Lava-Jato - disse o procurador Carlos Fernando Lima, integrante da força-tarefa da Lava-Jato.

- A responsabilidade de José Dirceu é evidentemente, aqui, como beneficiário de maneira pessoal, não mais de maneira partidária, enriquecendo pessoalmente - completou.

Ao decretar a prisão preventiva de Dirceu e autorizar a Operação "Pixuleco", deflagrada ontem pela PF, o juiz Sérgio Moro disse que Dirceu recebia propinas desde 2003, quando assumiu a Casa Civil do governo Lula. Para o juiz, provas de recebimentos no mensalão reforçam indícios de "profissionalismo e habitualidade na prática do crime", e caracterizam "acentuada conduta de desprezo não só à lei e à coisa pública, mas igualmente à Justiça criminal e à Suprema Corte".

Intermediário de propinas e delator na Lava-Jato, Milton Pascowitch contou à PF que, antes do mensalão, o grupo político de Dirceu se aproximou de algumas empresas que prestavam serviço para a Petrobras. Essas companhias começaram a pagar propina direto aos beneficiários, segundo ele. Após o mensalão, surgiu a figura dos operadores, que intermediavam os repasses de propina. Agora, a possibilidade de Duque se tornar delator eleva a tensão no PT, que é acusado de dividir os "pixulecos" da estatal com PMDB e PP, e teme novas provas e detalhes sobre a ação de João Vaccari, ex-tesoureiro do partido.

Também foram presos preventivamente (sem prazo) Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, que sugeriu a Dirceu o nome de Duque para a Petrobras, e Celso Araripe, ex-gerente da estatal. Outros 5 foram presos temporariamente: Luiz Eduardo de Oliveira e Silva (irmão de Dirceu), Roberto Marques (ex-assessor), Olavo Hourneaux Moura Filho (irmão de Fernando), Júlio Cesar dos Santos (ex-sócio de Dirceu) e Pablo Kipersmit (diretor da Consist). Dirceu, sua empresa e seis presos tiveram bens bloqueados de até R$ 20 milhões cada um.

Transferência para Curitiba
À noite, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do mensalão no Supremo, autorizou a transferência de Dirceu para a carceragem da PF em Curitiba. Dirceu cumpria pena pelo mensalão em Brasília, no regime domiciliar. Como a decisão saiu à noite, ele passou a noite na Superintendência da PF em Brasília. Dirceu recebeu roupas, lençol, cobertor e travesseiro.

De acordo com a Lava-Jato, os valores eram pagos a Dirceu por meio de falsos contratos de prestação de serviços da JD Consultoria, em dinheiro vivo e até em ressarcimento de gastos pessoais. As propinas descritas a Dirceu somaram cerca de R$ 90 milhões entre 2007 e 2014, segundo levantamento do GLOBO. Duas fornecedoras da Petrobras, Hope e Personal, garantiam, conforme o delator, "a maior renda" ao ex-ministro. O grupo de Dirceu recebia R$ 800 mil a R$ 1 milhão por mês, e Pascowitch entregava de R$ 80 mil a R$ 90 mil mensais à JD. Algumas vezes, o "pixuleco" era dado a João Vaccari.

As duas empresas forneciam mão de obra terceirizada à estatal. Nos contratos da Hope, a propina teria chegado a R$ 51,5 milhões - referentes a 1,5% do valor obtido pela empresa em contratos com a estatal. A Personal pagava valores fixos. Para o MPF, a JD era uma central de "pixulecos".

- Com todo o tempo em que essa investigação durou, não há sequer uma comprovação de serviço prestado pela empresa JD - disse Márcio Anselmo, delegado responsável pela operação na PF.

No mensalão, Dirceu foi condenado em dezembro de 2012 e preso em novembro de 2013. Ficou na cadeia até 28 de outubro de 2014. Mas continuou recebendo de empreiteiras, o que, para Moro, configura propina. Foram R$ 8,5 milhões desde 2009 da Camargo Corrêa, Galvão Engenharia, UTC, Engevix e Egesa. OAS e UTC depositaram até 2014. Ele recebeu R$ 8,446 milhões do laboratório EMS e R$ 1,379 milhão da Monte Cristalina em parcelas mensais, pagas ainda depois que foi preso. Dos pagamentos da Engevix, segundo Pascowitch, um foi real, para Dirceu fazer negócios no Peru. O restante foi propina de Cacimbas 2, obra da Petrobras.

Camargo Corrêa e EMS disseram ter contratado serviços de Dirceu para abrir mercado no exterior. A OAS negou irregularidades. Hope e Engevix disseram estar prestando esclarecimentos à Justiça. Galvão Engenharia e UTC não comentaram e a Personal não respondeu.

Delator: R$ 10 milhões foram entregues ao PT

• Milton Pascowitch, operador e delator da Lava-Jato, diz ter dado propina ao partido entre 2009 e 2011

Sérgio Roxo, Thiago Herdy e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - O operador Milton Pascowitch, um dos delatores da Operação Lava-Jato, disse à Justiça que entregou ao menos R$ 10,5 milhões de propina em dinheiro vivo na sede do PT, em São Paulo. O delator contou que, entre 2009 e 2011, levou R$ 10 milhões em espécie ao local para pagar propina referente a um contrato que a construtora Engevix havia assinado com a Petrobras. Outros R$ 532 mil foram deixados na sede do partido em novembro de 2011 como parte de um contrato da empreiteira com o governo federal para a realização de obras na Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Em depoimento prestado à Justiça por meio de seu acordo de delação premiada, Pascowitch falou sobre um contrato da Engevix com a Petrobras para construir cascos de oito plataformas de perfuração do pré-sal no estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Um dos donos da empreiteira, Gerson Almada, já havia dito à Justiça que o negócio tinha girado cerca de US$ 2,4 bilhões e que Pascowitch teria ficado com US$ 120 milhões para pagar propinas.

O operador declarou, por sua vez, que R$ 14 milhões deveriam ir para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Destes recursos, "foram feitos pagamentos da ordem de R$ 10 milhões em espécie na sede do PT em São Paulo", afirma o Ministério Público Federal (MPF) no documento que deu início às investigações que levaram o ex-ministro José Dirceu a ter a prisão decretada ontem. Outra propina paga em dinheiro vivo teria a ver com um contrato da Engevix com o governo federal para construção de Belo Monte.

O pagamento de propinas na construção da usina hidrelétrica, orçada em R$ 29,9 bilhões, já havia sido citado pelo ex-presidente da Camargo Correa Dalton Avancini. Ele disse que a empreiteira se comprometeu a pagar R$ 20 milhões ao PMDB pelas obras.

Os procuradores juntaram às provas o cruzamento de ligações telefônicas entre Vaccari e Pascowitch para justificar a relação próxima entre os dois. Parte dos telefonemas foi feita pelo ex-tesoureiro a partir de telefone da sede do PT, num prédio no Centro de São Paulo. O documento foi utilizado pelo MPF para justificar o pedido de prisão de Dirceu.

Nem toda a propina destinada ao PT era paga em dinheiro vivo, segundo Pascowitch. Os repasses ilícitos também chegavam ao partido por meio de contratos de consultoria simulados com outras empresas, como a de informática Consist, a Editora 247 e a Gomes e Gomes Produção de Eventos. O operador disse que esses serviços não foram prestados.

A Engevix informou que está prestando os esclarecimentos à Justiça.

Prisão de Dirceu: como "assunto pessoal"
O PT afirmou que "refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção". "Todas as doações feitas ao PT ocorreram estritamente dentro da legalidade, por meio de transferências bancárias, e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral", afirma nota assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão. O petista não quis comentar a prisão do ex-ministro José Dirceu, alegando não ter conhecimento dos autos do processo. Questionado sobre o impacto político, disse que o assunto será discutido em reunião da Executiva do PT hoje.

A ordem no partido é tratar a prisão de Dirceu como assunto pessoal do ex-ministro, relativo a suas atividades de consultor, sem ligação com sua militância partidária. Não haverá por parte da cúpula petista uma defesa pública, o que deve contribuir para o isolamento de Dirceu.

O programa de TV do PT, que será exibido na quinta-feira, não tratará do tema. Serão mantidas as falas, já gravadas, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Os dirigentes esperam panelaço durante a exibição, mas não acreditam que a prisão de Dirceu possa inflar as manifestações, já que o ex-ministro já tem uma imagem desgastada.

Investigadores analisam atividades de Lula

Por André Guilherme Vieira e Fernando Taquari - Valor Econômico

CURITIBA e SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou "no radar" da Operação Lava-Jato, segundo comentou uma autoridade diretamente envolvida nas investigações, logo após a prisão preventiva do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, decretada pelo juiz Sergio Moro, da Justiça Federal de Curitiba, e cumprida ontem, em Brasília, durante a 17ª fase da investigação, denominada "Pixuleco".

Dirceu é investigado por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro pelo recebimento de R$ 29 milhões em sete anos, de empresas investigadas por meio da JD Assessoria e Consultoria, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

"Por enquanto são suspeitas. Ele [Lula], por ora, não é investigado. Mas ele está no radar", afirmou a autoridade ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Chama a atenção dos investigadores o fato de Lula ter recebido pagamentos a título de remuneração por palestras de empresas das quais dirigentes e executivos respondem a processo criminal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa a partir de recursos desviados de contratos com a Petrobras.

"Ele [Lula] recebeu valores daquelas empresas investigadas. No exercício do mandato dele não há nenhum indício de que tenha recebido. Mas depois que ele saiu do cargo, recebeu aqueles valores referentes a palestras pelo Instituto [Lula], que têm de ser pensados", avalia a fonte.

A empresa aberta por Lula para receber remunerações por suas palestras, a Lils palestras, Eventos e Publicidade Ltda, recebeu R$ 1,5 milhão da Camargo Corrêa em três pagamentos de R$ 337,5 mil (em 26 de setembro de 2011), R$ 815 mil (em 17 de dezembro de 2012) e R$ 375,4 mil (em 26 de julho de 2013). As informações constam de laudo pericial da Polícia Federal.

"Nenhum dos delatores disse que os pagamentos recebidos por Lula foram propina. Mas os valores não deixam de ser suspeitos. Nos parece algo incompatível se considerarmos que as empresas pagavam mais de R$ 300 mil por palestra que sequer comprovação têm, e ainda com esse custo", afirma um dos responsáveis pelas investigações.

Procurado, o ex-presidente ressaltou, por meio da assessoria de imprensa do instituto que leva seu nome, a legalidade das palestras ao afirmar que foram eventos públicos e que os pagamentos estão registrados e declarados à Receita Federal. "Esse boato anônimo não corresponde nem à verdade nem à declaração dada pelo procurador Carlos Fernando Lima [que atua na Lava-Jato] em entrevista ao jornal "O Globo", no dia 26 de junho, onde ele diz: 'sabemos que o ex-presidente faz palestras efetivamente'", diz a nota.

Já Camargo Corrêa afirmou que "as contribuições ao Instituto Lula referem-se a apoio institucional e à Lils Ltda. ao patrocínio de palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no exterior. A contribuição ao Instituto Lula foi registrada equivocadamente em 2012 como 'bônus eleitoral' na contabilidade analisada pela Polícia Federal, de acordo com a empresa.

Planalto teme efeito de nova leva de delatores

Por Andréia Sadi, Natuza Nery e Marina Dias – Folha de S. Paulo

• Além de possível acordo de Renato Duque com a Justiça, governo não descarta colaboração de Marcelo Odebrecht

• PT dá como certa a reedição de panelaços durante o programa do partido nesta quinta; Dilma participará

BRASÍLIA - Assustados com o avanço das investigações da Operação Lava Jato, que prendeu José Dirceu nesta segunda-feira (3), integrantes do governo temem que uma nova leva de delações agrave a já deteriorada situação política do PT e do Planalto.

Assessores do governo e dirigentes petistas admitiram à Folha que a segunda prisão de Dirceu –que já cumpria pena por ter sido condenado no mensalão– abala a legenda pelo peso histórico dele no partido. Mas o que preocupa, de fato, é o efeito ""pós-Dirceu"": novas revelações envolvendo o mundo petista em delação de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras.

Duque, que está preso, foi apadrinhado por Dirceu na Petrobras e é acusado de usar a diretoria para realizar operações financeiras junto ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Ambos estão detidos em decorrência das investigações da Lava Jato.

Advogados que atuam na operação relataram que um acordo prevendo a colaboração do ex-diretor só avançou após ele aceitar entregar aos investigadores provas sobre sua relação com o ex-tesoureiro do PT e pagamentos de propina no exterior.

Além de Duque, interlocutores do Planalto falam em uma ""trinca de delações"" que pode agravar o quadro do governo. Eles não descartam uma colaboração de Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, e do próprio ex-ministro da Casa Civil e seu entorno em troca de benefício judicial.

Petistas acreditam que são grandes as chances de o irmão de Dirceu Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e do assessor do petista, Bob Marques, ambos presos nesta segunda-feira, firmarem acordo de delação. Diante do cenário, avaliam, não há perspectiva a médio prazo de reabilitação da imagem do partido.

Nesta quinta-feira, vai ao ar o programa do segundo semestre do PT na TV. O mote da peça é a defesa do governo e do partido, e marca a volta da presidente Dilma à rede nacional de rádio e TV após os panelaços durante a sua fala em 8 de março.

O PT dá como certa a reedição dos protestos durante o programa desta quinta. A participação de Dilma está mantida, dizem assessores. O Planalto também espera uma adesão maior às manifestações contra o governo Dilma marcados para o dia 16 de agosto em todo o país.

O governo, porem, fará um esforço para tentar manter o grau de estabilidade na economia e blindar a presidente para que os desdobramentos das investigações não contaminem ainda mais a agenda do governo. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou que a prisão do ex-ministro não foi debatida na reunião de coordenação política desta segunda.

Governo teme aumento da crise

Governo teme acirramento da crise após prisão

• Ministros avaliam que nova fase da Lava Jato dá munição a protestos marcados para o dia 16 e que aumenta o risco de Lava Jato chegar a Lula

Vera Rosa – O Estado de S. Paulo

O governo avalia que a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acirra mais os ânimos contra o PT e a presidente Dilma Rousseff e aumenta o clima de beligerância no País num momento crucial, em que ela precisa de apoio para enfrentar a pressão dos que querem o impeachment. Auxiliares de Dilma temem que a investigação atinja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem provas concretas.

O assunto foi tratado em conversas reservadas entre ministros, ontem, antes da reunião de coordenação política. A odem no Planalto é proteger Dilma do novo escândalo, que tem potencial para dar munição aos protestos marcados para o dia 16, em todo o País, contra o governo e a corrupção. A prisão de Dirceu na 17.a fase da Operação Lava Jato, batizada de Pixuleco, também provocou preocupação na cúpula do PT. Dirigentes da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil, de Lula e Dirceu, discutiram os desdobramentos da crise ontem, em Brasília, e hoje haverá reunião da Executiva Nacional.

Petistas receberam informações de que um integrante da Polícia Federal estaria dizendo aos presos: "Se você entregar o Lula, sairá rapidinho." Em nota, o presidente do PT, Rui Falcão, refutou as acusações de que o partido teria realizado operações financeiras ilegais ou participado do esquema de corrupção na Petrobrás, conforme relato do lobista Milton Pascowitch na delação premiada à Polícia Federal e ao Ministério Público. Pascowitch acusou Dirceu de comandar o desvio de recursos na estatal e disse ter entregue pelo menos R$ 10,5 milhões na sede do PT, em São Paulo.

Berlinda. A investigação da PF joga novamente os holofotes sobre o PT, dez anos depois do escândalo do mensalão. Agora, o receio do Planalto e do partido é de que novas delações compliquem mais o cenário político. Dirceu foi homem forte do PT e do governo Lula e ainda tem influência sobre a legenda. "A Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro não deixam a gente entrar na agenda positiva", disse um ministro ao Estado.

Na semana passada, o governo achava que o reinício dos trabalhos do Congresso seria difícil, principalmente por causa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que rompeu com Dilma e tem o nome envolvido na Lava Jato. Assessores da presidente acreditavam, porém, que a denúncia contra Cunha - acusado pelo lobista Júlio Camargo de cobrar propina de US$ 5 milhões - poderia desviar o foco da pressão sobre Dilma. Agora, no entanto, o diagnóstico é de que tudo vai piorar.

Amigos de Dirceu disseram ao Estado que ele já esperava a prisão e, por isso, está "tranquilo". Apesar de magoado com Dilma e com Lula, sob o argumento de que eles nunca o defenderam, o ex-ministro não pretende apontar o dedo para ninguém enquanto estiver preso. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou que o esforço do governo é para não permitir que os problemas na política contaminem a economia. "A gente dorme e acorda com uma notícia dessas. Do ponto de vista do ambiente de negócios, essa é a preocupação, porque precisamos ter estabilidade.

As investigações seguem e o País também segue, com suas empresas funcionando e com a economia funcionando." Irritado com acusações da oposição, que tentaram associar Dirceu a Lula e Dilma, o senador Jorge Viana (PT-AC) atacou. "A oposição no Brasil está num papel muito apequenado e não aguenta nem meia Lava Jato", reagiu. "Por que se apura a ação de algumas figuras e de alguns partidos e não se apura de outros? É um jogo de cartas marcadas?"

Dirceu não é mais o mesmo, mas sua prisão pode manchar era Lula

• Petista ainda cumpre pena pela condenação no mensalão e pode perder benefício do regime domiciliar

Por Alan Gripp –O Globo

RIO - José Dirceu não é a sombra do que foi, mas sua nova prisão, ainda que fosse a bola mais cantada no mundo político atual, tem consequências significativas, no curto e médio prazos.

A principal delas é política. Os investigadores disseram estar convencidos de que o esquema de corrupção na Petrobras nasceu no primeiro governo Lula e era a repetição do mensalão. Em ambos os casos, segundo os procuradores da Lava-Jato, Dirceu foi o principal estrategista, preenchendo postos-chaves para a engrenagem dos esquemas.

Como se sabe, no mensalão os recursos desviados foram usados na compra do apoio da base aliada no Congresso. Na Lava-Jato, os recursos foram drenados para campanhas eleitorais e, aqui e ali, para os bolsos de alguns — Dirceu entre eles, aponta a investigação.

Ainda que existam diferenças, a comparação tem o poder de deixar uma mancha na era Lula e enfraquece a tese, já em desuso, de que o ex-presidente desconhecia as negociações não republicanas de sua administração. E mais: em tom enigmático, os procuradores sugeriram que Lula, ele próprio, integra a lista de investigados da Lava-Jato.

Tudo isso pode insuflar os protestos contra Dilma Rousseff, marcados para o dia 16 de agosto. Esse é o maior temor dos dirigentes petistas. As manifestações anteriores já haviam se notabilizado pelo caráter antipetista, extrapolando a insatisfação contra a presidente. A depender da adesão, os atos podem deixar ainda mais vulnerável o governo, que vai encarar, fragilizado, o retorno de um Congresso frenético.

A prisão de Dirceu também tem consequências jurídicas para ele próprio. Sua situação é bem mais complicada do que a de outros alvos da Lava-Jato. O petista ainda cumpre pena pela condenação no mensalão e ganhou da Justiça o chamado benefício de progressão do regime, deixando a cadeia para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar. Agora, é possível que, provocada pelo Ministério Público, a Justiça reveja esse benefício.

Pesa contra Dirceu o fato de que parte dos pagamentos recebidos do lobista Milton Pascowitch foi feita no período em que ele estava preso. Segundo o próprio Pascowitch, trata-se de propina. Portanto, em tese, Dirceu não tinha exatamente o "bom comportamento" que o levou para casa.

Também é certo que o passado do mensalão terá impacto numa eventual futura condenação do petista na Lava-Jato, quando o seu histórico será levado em conta.

É bom lembrar que a prisão ocorre ao mesmo tempo em que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, justamente o operador alçado ao cargo por Dirceu, em 2004, também negocia um acordo de delação premiada. Não sem razão, a notícia desta negociação reforçou o sentimento de pânico em Brasília.

É preciso esquecer a propaganda e abrir o jogo ao Brasil, diz FHC

Por Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em um recado indireto à presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta segunda-feira que é preciso deixar de lado a propaganda política e “abrir o jogo” ao Brasil sobre os motivos da crise política e econômica que o país vive. Ao citar sua gestão como exemplo, FHC disse que o governo precisa se comunicar e explicar para a população o que pretende fazer para resolver os problemas.

“Não adianta esperar que tecnocraticamente se resolvam as questões. Não é isso. É preciso que haja crença, esperança e você não engaja ninguém na esperança se não tiver liderança que diga com clareza o que está fazendo e o que vai acontecer”, afirmou o ex-presidente. “Esqueça por um momento a propaganda e abra o coração, abra o jogo ao Brasil. Vamos ter que ter um momento do Brasil de verdade, de dizer: erramos nisso, acertamos nisso e vamos ter que fazer isso, vamos ter que apertar o cinto e vai acontecer tal coisa”, disse FHC, ao dar uma palestra organizada pela ESPM, instituição de ensino superior, em um teatro na capital paulista nesta segunda-feira.

Em críticas às gestões do PT na Presidência, o ex-presidente afirmou que o país “perdeu o rumo” e que viveu um momento de “delírio” na economia, ao apostar na expansão do consumo e no crédito. “Houve um momento de perda de rumo. Perdemos o rumo. Recuperar o rumo não é fácil. Nós perdemos o rumo e nós todos ficamos embalados com a ideia megalomaníaca de que tudo era possível”, disse. “Entramos em um momento no Brasil de um certo delírio. Foi a partir de 2007, 2008 até que viram que a crise não era uma marola e, em vez de termos nos preparado para fazer o que era preciso fazer, não fizemos”, afirmou.

Ao falar sobre a crise política enfrentada pelo país, o ex-presidente disse que o volume de corrupção registrado é “brutal” e afirmou que para superar esse período é preciso “liderança nova”. FHC, no entanto, ponderou que não existe “salvador da pátria” e disse que os problemas só serão superados dentro de um “processo” político.

Sem citar Dirceu, FHC exalta instituições: 'Democracia está trabalhando'

José Roberto Castro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Tucano disse ironicamente que não sabia sobre prisão de ex-ministro, mas que instituições estão começando a fazer contrapeso à cultura brasileira, de arbítrio

SÃO PAULO - Poucas horas depois da divulgação da prisão do ex-ministro José Dirceu na 17° fase da Operação Lava Jato, o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso fez nesta segunda-feira, 3, um discurso para estudantes exaltando as “instituições” que estão combatendo a corrupção.

“As instituições começam a funcionar de uma maneira mais eficiente. Não obstante ao volume de corrupção, que é brutal, alguns responsáveis estão na cadeia, os tribunais começam a funcionar e a polícia começa a prender quem antes não era preso. Os procuradores acusam e a imprensa divulga”, disse FHC ao estudantes da primeira turma da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

“A democracia está trabalhando e as instituições estão começando a fazer contrapeso à cultura brasileira, que é de arbítrio”, concluiu o tucano. Eleito em 1994 e reeleito em 1998, Fernando Henrique Cardoso lembrou aos estudantes que foi o “primeiro presidente eleito que não caiu” e fez críticas a atual presidente.

O ex-presidente exaltou a chegada ao poder de movimentos sociais na Espanha, mas disse que no Brasil os partidos ainda não conseguiram entender esse fenômeno.

Ao deixar o teatro em São Paulo onde deu palestra a estudantes universitários, o ex-presidente foi questionado por jornalistas sobre a prisão do ex-ministro. Sem parar para entrevista, FHC respondeu, com ironia: “eu nem estava sabendo”.

Lei de Conteúdo Nacional. Falando a estudantes sobre a necessidade de o País conectar sua produção à produção global, FHC criticou o governo Dilma e a Lei de Conteúdo Nacional para a exploração de petróleo. O tucano disse que a presidente implanta política como se País estivesse “nos anos 30” ou “nos anos 70, como (Ernesto) Geisel”.

“É bom ter indústria nacional, mas não adianta forçar. Só pode produzir petróleo se tiver 65% feito aqui. Como não tem condições, o governo começa a emprestar dinheiro, começam empresas fictícias que não conseguem qualidade, atrasa tudo e não funciona".

'É hora de esquecer propaganda e falar do Brasil de verdade', diz FHC

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em uma série de recados velados ao PT e à presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) afirmou que não se atravessa uma crise de confiança só com ações técnicas e publicidade enganosa.

"É preciso que haja crença, esperança. Você não engaja ninguém se não tiver liderança que diga com clareza o que está fazendo e o que vai fazer", iniciou, rememorando o caminho que percorreu para dar credibilidade ao plano Real.

"Esqueça por um momento a propaganda e abra o coração, abra o jogo ao Brasil. Vamos ter que ter um momento do 'Brasil de verdade', de dizer: 'erramos nisso e nisso, acertamos nisso e vamos chegar nisso", recomendou.

Foi a segunda vez que o tucano recomendou publicamente um mea-culpa aos integrantes do partido que ocupa o Planalto desde 2003. Para FHC, o país está "sem rumo" e os brasileiros "atônitos". Ele disse ainda que cenários como esse não se resolvem com "um ato, mas com processos".

"Não existe um salvador da pátria", concluiu.

Numa referência indireta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, FHC disse que, entre os anos de 2007 e 2008 o país se perdeu em um "delírio" megalomaníaco.

"Até que viram que a crise não era era uma marola e, em vez de termos nos preparado para fazer o que era preciso ser feito, não fizemos. Não fizemos na saúde, não fizemos investimentos", afirmou.

O ex-presidente falou sobre o quadro nacional durante aula inaugural da ESPM, instituição de ensino superior de São Paulo. Ele deixou o evento sem falar com jornalistas e não quis responder sobre a prisão do ex-ministro da Casa Civil de Lula, José Dirceu.

"Eu nem sabia", disse.

Lideranças novas
FHC também destacou que será preciso renovar lideranças e gerações no comando da política. Ele não citou nomes de seu partido ou de outros como exemplos ou modelos a serem seguidos. Sempre que se referiu a políticos, falou de nomes do passado, como Tancredo Neves.

Para oposição, prisão de Dirceu aproxima investigação de Lula e Dilma

Por Folhapress – Valor Econômico

BRASÍLIA - Com a prisão do ex-ministro petista José Dirceu nesta segunda-feira, líderes da oposição afirmam que as investigações da Operação Lava-Jato se aproximam cada vez mais do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, além do núcleo principal do PT.

Para o senador Aloysio Nunes (SP), vice-líder do PSDB no Senado, os fundamentos usados para a prender José Dirceu deveriam influenciar, pelo menos, uma investigação contra Lula e Dilma.

Segundo os investigadores, Dirceu foi um dos criadores do esquema de corrupção na Petrobras e na estatal a prática do mensalão - a compra de apoio parlamentar.

"Se a justificativa é que ele [Dirceu] contribuiu para formar o esquema da Petrobras, essa mesma se prestaria também, pelo menos, à abertura de uma investigação contra Lula e Dilma. Ele não montou isso sozinho. Havia um presidente da República e uma chefe da Casa Civil", afirmou o tucano.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também comentou a prisão do ex-ministro e sugeriu, em nota, que "falta pouco" para as investigações começarem a chegar a Lula e Dilma.

"Temos que aplaudir essa nova etapa da Lava-Jato, que não se restringe a intermediários e finalmente começa a chegar aos cabeças pensantes, elaboradores de todo esse esquema corrupto dentro do Palácio do Planalto alimentado por 'pixulecos'. Falta pouco agora", disse.

O líder democrata na Câmara, Mendonça Filho (PE), acredita que essa fase inaugura o início das investigações contra o núcleo político do esquema, e que atingirá principalmente o PT. "O Dirceu foi o grande mentor do projeto de poder do PT e a prisão de hoje [segunda] agrava ainda mais o quadro político já delicado do partido."

Mendonça se refere ao PT como uma "organização criminosa". "É triste para o Brasil ver que foi dominado por uma organização criminosa, com aval da cúpula de um dos principais partidos da história da República", disse.

Na mesma linha dos colegas, o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), afirmou em nota que a prisão de Dirceu "deixa clara a ligação entre os escândalos do mensalão e do petrolão como práticas do governo petista".

"Os fatos agora tornados públicos poderão finalmente chegar ao andar de cima. A hora é de apoiar as investigações e confiar na isenção das instituições", afirmou.

Impeachment
Já o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), defendeu um novo governo no país para que "ele possa, junto com a Justiça, corrigir os rumos do Brasil. Para o deputado, "há o encaminhamento de que o impeachment pode se tornar necessário" porque a "ingovernabilidade está instalada no país".

Na avaliação do deputado, o processo de julgamento e as punições do mensalão "não serviram como advertência ao PT de que era preciso parar com as atividades que envolviam corrupção".

O líder do partido na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), também afirmou que as investigações se aproximam de Lula.

"A prisão de Dirceu complica ainda mais o Partido dos Trabalhadores, que, na Presidência da República, montou uma engrenagem de corrupção para roubar recursos da população brasileira. Desmoraliza totalmente um partido que pregava a ética na política e ao chegar ao poder, infelizmente, mergulhou de cabeça no submundo do crime", disse.

Dirceu foi preso preventivamente na manhã desta segunda na 17ª fase da Operação Lava-Jato. Seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, sócio dele na JD Consultoria, também foi detido. Outro detido é Roberto Marques, ex-assessor do petista. Eles estão na superintendência da PF em Brasília e devem ser transferidos para Curitiba, onde ficarão à disposição da 13ª Vara da Justiça Federal.

Com a prisão de Dirceu, a ordem no Palácio do Planalto é blindar a presidente Dilma e tentar impedir que os desdobramentos da Lava-Jato contaminem ainda mais agenda do governo.

Durante a reunião de coordenação política nesta segunda, ministros disseram que a gestão Dilma "precisa ser blindada" da repercussão que a prisão do ex-ministro vai trazer ao cenário. No entanto, o núcleo político da presidente avaliou que será "bastante difícil" manter o governo fora do desgaste que o fato vai criar ao PT e aos petistas.

Na quinta-feira vai ao ar o programa do partido em rede nacional. Para a cúpula da legenda, a nova prisão de Dirceu vai dar ainda mais munição para a reedição de panelaços durante a exibição da peça.

Como a "Folha de S.Paulo" revelou, o programa será a primeira vez em que a presidente aparecerá em rede nacional após o panelaço do dia 8 de março, durante seu discurso pelo Dia Internacional da Mulher.

Petistas afirmam que a nova prisão de Dirceu tem o efeito de uma "pá de cal" na já desgastada imagem do partido.

Dirigentes petistas já esperavam a prisão do ex-ministro. Um membro da cúpula do PT disse à reportagem que, apesar do desgaste à legenda, a prisão de Dirceu é "mais do mesmo".

Oposição vê investigação se aproximar do Planalto

Bernardo Caram, Daniel Carvalho, Isadora Peron e Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

• PSDB, DEM e PPS fazem elogios à atuação da Lava Jato e dizem haver razão para apuração incluir Lula e Dilma

BRASÍLIA - A avaliação que predominou entre os líderes da oposição após a prisão do ex-ministro José Dirceu é que as investigações da Operação Lava Jato estão chegando mais perto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. "O mesmo fundamento que embasou a condenação de Dirceu no mensalão, a teoria do domínio do fato, deveria conduzir a investigação de Lula e Dilma", defendeu o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP). Essa também foi a posição adotada pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR).

"Quando se chega a esse estágio de investigação, o que se pressupõe é que algo mais virá." O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), adotou um tom mais ameno. O tucano afirmou que o partido "não comemora nem lamenta" a prisão de Dirceu, mas disse que aqueles "que cometeram delitos, independentemente da função que ocupam ou ocuparam, devem responder por eles dentro do que determina a lei". Em nota, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que faltava pouco para as investigações chegarem a Lula e Dilma.

"Temos que aplaudir essa mais nova etapa da Lava Jato, que não se restringe a intermediários e finalmente começa a chegar aos cabeças pensantes, elaboradores de todo esse esquema corrupto alimentado por "pixulecos" dentro do Palácio do Planalto. Falta pouco agora", disse. Essa também foi a avaliação do presidente do partido, senador Agripino Maia (RN). "A hora é de apoiar as investigações e confiar na isenção das instituições", disse. Para ele, a nova prisão de Dirceu "estabelece clara ligação entre o mensalão e o petrolão como práticas de governo". O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que, diante das novas revelações da operação, "há o encaminhamento de que o impeachment pode se tornar necessário".

"Polícia começa a prender quem não era preso", diz FHC
Poucas horas após a prisão do ex-ministro José Dirceu pela Operação Lava Jato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem um discurso a estudantes no qual exaltou as instituições que combatem a corrupção. "Não obstante o volume de corrupção, que é brutal, alguns responsáveis estão na cadeia, os tribunais começam a funcionar e a polícia começa a prender quem antes não era preso. Os procuradores acusam e a imprensa divulga", disse FHC a alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

"A democracia está trabalhando e as instituições estão começando a fazer contrapeso à cultura brasileira, que é de arbítrio." Ao deixar o teatro em que foi realizada a palestra aos estudantes universitários, o ex-presidente foi questionado por jornalistas sobre a prisão do ex-ministro. Sem parar para entrevista, FHC respondeu: "Eu nem estava sabendo".

Planalto tenta evitar desgaste para Dilma

• Em discurso no Alvorada, presidente, sem citar Dirceu, diz que não tem medo "da travessia"

Fernanda Krakovics, Maria Lima, Cristiane Jungblut e Junia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Embora já fosse esperada, a prisão do ex-ministro José Dirceu pegou ontem de surpresa o Planalto por ocorrer justamente na volta do recesso parlamentar, em meio ao esforço do governo para tentar recuperar a governabilidade e melhorar o ambiente político. A estratégia do Planalto é tentar se descolar do episódio, em tentativa de blindar a presidente Dilma Rousseff desse desgaste.

O Planalto teme que a prisão de Dirceu sirva de combustível para as manifestações contra o governo marcadas para o dia 16, ao alimentar o sentimento antipetista, e para os pedidos de impeachment protocolados na Câmara. A preocupação é não deixar a Lava-Jato ofuscar ações "positivas" preparadas para os próximos dias, como a celebração, hoje, dos dois anos do programa Mais Médicos.

Ontem, durante a reunião da coordenação política com a presidente, os participantes procuraram não tocar no assunto com Dilma. Mas, de acordo com um integrante do Planalto, houve comentários sobre o tema feitos por alguns participantes em conversas paralelas.

À noite, nas pouco mais de duas horas do churrasco oferecido aos líderes e presidentes de partidos no Alvorada, Dilma não falou sobre a prisão de Dirceu, mas o assunto dominou as conversas. O clima descrito pelos presentes era de muita preocupação com o desfecho político das investigações. Houve consenso de que o alvo final é o ex-presidente Lula. Em discurso, Dilma disse que ninguém deve temer o que vem pela frente:

- Na crise política, as instituições devem ser preservadas. Devemos fazer nossa travessia sem medo. Eu não tenho medo. Eu aguento pressão , eu percebo o que está acontecendo, ouço para mudar e melhorar.

Dilma também pediu que os aliados enfrentem com altivez as pautas difíceis que serão votadas no Congresso:

- Da estabilidade fiscal eu não arredo o pé. Não quero que votem como carneirinhos, mas como uma base corajosa em nome do Brasil e para o Brasil.

Os punhos de petista e o fim do mito da perseguição política

Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

Em 15 de novembro de 2013, quando foi preso por causa da condenação no chamado escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu se deixou fotografar erguendo o punho. No gesto, repetido pelo também condenado José Genoino, Dirceu tentou transformar essas prisões num protesto político.

Evocava seu passado - e o de Genoino - de ex-militantes combatentes da ditadura militar para justificar que a prisão pelo mensalão não passaria de uma espécie de revanchismo político contra a chegada do PT ao Palácio do Planalto. Menos de dois anos depois, Dirceu volta a ser preso, mesmo estando cumprindo pena de prisão domiciliar por causa do escândalo anterior.

Agora, foi detido pela Polícia Federal, na 17.a fase da Operação Lava Jato, batizada como Pixuleco. Nas fotos não há mais punhos erguidos, nem protestos. A cara é de desânimo. E o decreto de prisão que o juiz federal Sérgio Moro redigiu é contundente no seu conteúdo, afirmando que, mesmo durante o julgamento do mensalão, "reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime".

A nova prisão de Dirceu tem o devastador efeito de uma pá de cal no seu mito. Durante o julgamento do mensalão, seus aliados e admiradores cultivaram uma ideia de que o então ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa pesara na mão no relatório contra os políticos petistas, especialmente no caso do ex-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa corrente acreditava firmemente que Dirceu e outros petistas foram condenados no mensalão sem provas. Em suma, uma injustiça. O protesto dos punhos cerrados ajudou a inflar, por algum tempo, essa ideia de que por trás da condenação estava uma fortíssima disputa política e ideológica.

O famoso "nós contra eles", uma espécie de pai do "Fla x Flu" que marcou a última campanha presidencial entre petistas e tucanos. Num eco dentro do Congresso, o então vice-presidente da Câmara, o deputado André Vargas (ex-PT-PR), também ergueu seu punho ao lado de Joaquim Barbosa, solidário aos companheiros presos. Assim como Dirceu, Vargas também não tem mais nenhum motivo para erguer seu punho, já que teve seu mandato cassado e foi preso por causa de seu envolvimento nas investigações conduzidas pela Lava Jato.

A prisão de ontem enterra esse mito. Segundo Moro, Dirceu está sendo preso acusado de receber propinas, dentro do esquema de desvio de recursos no escândalo da Petrobrás. Segundo essas investigações, seu nome aparece no esquema depois de delação feita por Milton Pascowitch, supostamente pela simulação de contratos de consultoria de sua empresa. Como político, Dirceu teve papel central na chegada do PT ao poder.

Com extrema habilidade, foi um de seus principais organizadores e coordenou a campanha vitoriosa de Lula em 2002, iniciando um ciclo de quatro triunfos seguidos na disputa pela Presidência da República. Principal dirigente do PT, fortaleceu a estrutura da legenda e soube preparar o terreno, com alianças políticas mais ao centro, para que Lula chegasse ao poder depois de três tentativas frustradas. O desfecho inesperado dessa trajetória é um baque que o PT terá dificuldades para assimilar.

Charge de Chico Caruso - O Globo


Partidos não sabem lidar com povo na rua, diz FHC

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

• Tucano chamou corrupção de "brutal" e deu conselhos à presidente Dilma Rousseff

SÃO PAULO - A menos de duas semanas dos novos protestos contra a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o Congresso e os partidos estão "atrás" da sociedade e não sabem como agir diante dos movimentos que cobram novas práticas da política.

"O Congresso está tateando. Os partidos, nem se fala. Não sabem se ficam neutros, se entram na onda ou se ficam contra. Não sabem como tirar proveito da situação. E não tem proveito a tirar. Tem que aprender", disse nesta segunda (3), em aula inaugural da ESPM, em São Paulo.

A crítica ocorre uma semana após o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), anunciar que a sigla vai veicular propaganda convocando "indignados" a irem às ruas no dia 16 contra Dilma.

FHC fez uma retrospectiva do país. Disse que o momento atual tem deixado a sociedade estupefata e que a corrupção "é brutal". Enviou mensagens a Disse. Disse que não se supera um período de crise de confiança com "tecnocracia" e que a recuperação requer "liderança nova".

Sem citá-la, recomendou: "Esqueça a propaganda e abra o jogo ao país. Tem que ter o momento do Brasil de verdade". Disse que é preciso explicar o motivo do ajuste, apontar os próprios erros e dar perspectiva. "Essa explicação não é técnica. É clara e emocional." E arrematou: "Tem que tentar fazer o que é certo. Pode errar, mas você não vai estar falseando a si mesmo. Quem começa a falsear a si, falseia o resto".

Produção industrial cai 0,3% em junho e recua 6,3% no 1º semestre

Por Robson Sales – Valor

RIO - A produção industrial registrou queda de 0,3% em junho, perante um mês antes, na série livre de influências sazonais. Em maio, contudo, tinha avançado 0,6%. Os dados constam da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A queda de junho, porém, foi menos intensa que a média prevista por 22 analistas consultados pelo Valor Data, de baixa de 0,8%. O intervalo das estimativas ficou entre recuo de 1,2% e decréscimo de 0,3%.

Ante junho de 2014, a produção industrial brasileira caiu 3,2%. Foi 16º taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. Nos seis primeiros meses deste calendário, a indústria apresentou recuo de 6,3%. Nos 12 meses até junho, a queda correspondeu a 5%.

Considerando a passagem de maio para junho, a produção de bens de capital apresentou queda de 3,3%, a produção de bens intermediários caiu 0,2%, enquanto a de bens de consumo duráveis declinou 10,7%. A produção de bens de consumo semi e não duráveis, contudo, registrou incremento, de 1,7%.

Ainda no comparativo mensal, 15 dos 24 ramos pesquisados tiveram declínio na produção, como máquinas e equipamentos (-7,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,7%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,8%).

Perante junho de 2014, a produção de bens de capital recuou 17,2%, a de bens intermediários caiu 1,7%, ao passo que a produção de bens de consumo duráveis diminuiu 2,4% e a de bens de consumo semi e não duráveis teve baixa de 2,4%.

"No índice acumulado para o fechamento do primeiro semestre de 2015, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 6,3%, com perfil disseminado de taxas negativas, já que as quatro grandes categorias econômicas, 24 dos 26 ramos, 67 dos 79 grupos e 70,1% dos 805 produtos pesquisados apontaram recuo na produção", destacou o IBGE em nota.

Merval Pereira - O DNA da corrupção

- O Globo

A aguardada (até por ele mesmo) prisão de José Dirceu ganhou maior densidade política devido à linha do tempo traçada pelo procurador Carlos Fernando Lima, determinando que o início do esquema foi o mesmo do mensalão, quando José Dirceu era o todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, que o chamava de "capitão do time".

Se o DNA dos dois escândalos, mensalão e petrolão, é o mesmo, como definiu o ministro do STF Gilmar Mendes e confirmou a Operação Lava-Jato, e a finalidade, a mesma, financiar as atividades políticas de PT e seus aliados, estaremos em breve diante do mesmo dilema que os investigadores do mensalão enfrentaram há dez anos: a cadeia de comando parava em Dirceu, ou o presidente Lula era o verdadeiro Capo di tutti capi?

A presidente Dilma, que na ocasião era ministra de Minas e Energia e presidia o Conselho da Petrobras, fica em posição frágil diante da definição de quando o esquema do petrolão começou. Será possível que Dirceu nomeasse diretores da Petrobras sem que Dilma soubesse por que estavam sendo escolhidos, e com que missão?

Naquela altura do mensalão, havia o receio de que indiciar Lula como seu grande mentor poderia desencadear uma ação dos tais movimentos sociais a que o ex-presidente sempre recorria como ameaça. Para que o processo tivesse prosseguimento sem transtornos políticos, o procurador-geral da época, Antonio Fernando de Souza (que, aliás, hoje é advogado de defesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha), preferiu parar em Dirceu, considerando-o o grande chefe do que classificou de "quadrilha", denominação que, afinal, o STF derrubou.

Hoje, a situação política é outra, embora ainda restem receios quanto a Lula. Sua aura de grande liderança popular persiste, mas já está arranhada a ponto de permitir uma investigação sobre tráfico de influência a favor da Odebrecht pelo Ministério Público de Brasília. Lula não teve condições, embora tentasse, de parar a investigação.

Ontem, na entrevista coletiva sobre a fase "Pixuleco" da Operação Lava-Jato, o procurador Carlos Fernando Lima citou diversas vezes o ex-presidente Lula, para deixar claro que o escândalo da Petrobras começou ainda no seu primeiro governo. Perguntado se considerava Dirceu a liderança mais importante para o esquema de corrupção na Petrobras, o procurador fez questão de afirmar que Dirceu "é um dos principais, mas não o único".

Indagado se o ex-presidente Lula será investigado, Carlos Fernando Lima disse, escolhendo as palavras, que "neste momento não existe nenhum indicativo de necessidade de prisão de quem quer que seja que não esteja preso". Mas deixou claro que "nenhuma pessoa num regime republicano está isenta de ser investigada".

Ainda deu-se ao trabalho de explicar que "apenas pessoas com foro privilegiado devem ser investigadas em foro competente. Um ex-presidente pode ser investigado em primeiro grau".

A questão central é que a chegada do PT ao poder fez com que a corrupção se tornasse "endêmica e disseminada, como metástase", na definição de outro procurador. Ou, na definição de Carlos Fernando Lima: "(...) Houve uma sistematização da corrupção no governo do PT, como compra de apoio parlamentar". De maneira enigmática, ele deixou um recado direto a bom entendedor como Lula: "Temos uma ideia boa e clara de onde podemos chegar, mas isso é fato sigiloso".

É certo que ainda existe um temor reverencial quando se fala de Lula em nível institucional, pois em nível popular esse medo já se desfez. O próprio ex-presidente Fernando Henrique fica cheio de dedos quando o assunto é uma possível prisão de Lula. Ora diz que sua prisão "dividiria o país", que Lula é um líder popular e que "não se deve quebrar esse símbolo".

Mais tarde, em uma nota com o objetivo de esclarecer declarações a uma revista alemã, disse que se Lula merecer ser preso "é de lamentar, porque terá jogado fora (coisa que vem fazendo aos poucos) sua história..".

Como se vê, já é possível perguntar e discutir se Lula vai ser preso, o que indica que são muitos os indícios que o envolvem com as empreiteiras do petrolão. Agora resta aguardar para ver se nossa democracia já está madura o suficiente para vermos com naturalidade, embora indignados, um ex-presidente da República sendo investigado por corrupção.

Luiz Carlos Azedo - Delírios persecutórios

Correio Braziliense

• O PT nunca aceitou a condenação de José Dirceu no processo do mensalão, cuja legitimidade até hoje é questionada pela legenda e pelos advogados que atuaram no caso

Delírios persecutórios se caracterizam pela crença de ser vítima de perseguição ou conspiração. Quem sofre do distúrbio acredita — e possui explicações coerentes para o fato — que alguém conspira e deseja o seu mal. Na definição clínica, o sujeito acredita que é objeto de uma conspiração, podendo estar relacionada com fraude, espionagem, perseguição, envenenamento, calúnia, assédio ou obstrução nos seus objetivos a longo prazo.

Para sustentar o delírio, exageram-se pequenos acontecimentos. Uma injustiça, por vezes, demanda uma ação judicial. É a chamada “paranoia querelante”, muito comum nos tribunais e órgãos públicos, nos quais a pessoa afetada envolve-se em repetidas tentativas de obter, respectivamente, sentenças ou decisões favoráveis. Delírios persecutórios também podem se manifestar por meio de ressentimento e raiva, às vezes recorrendo a violência.

Na abordagem freudiana, a contradição do delírio persecutório se manifesta no “eu amo” que se transforma em “eu odeio”, e gera uma espécie de bateu, levou: “Ele me odeia e me persegue, o que me dá o direito de odiá-lo”. A partir daí, vem a projeção: os sentimentos são percebidos externamente de maneira oposta, e o sujeito acha que o outro o odeia. Freud associa esse ódio exterior ao afeto ou amor interior, mas aí já é outra prosa mais complicada: entra na roda a discussão sobre desejos reprimidos.

A nova prisão de José Dirceu na 17ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Pixuleco pela Polícia Federal, por suspeita de envolvimento no escândalo da Petrobras, desperta nos militantes petistas um sentimento de frustração e de revolta. No segundo caso, a maioria acredita que está sendo vítima de uma grande conspiração de direita, quiçá, dos Estados Unidos de Barack Obama. Os argumentos dos advogados dos réus e a narrativa da cúpula petista estimulam essa reação, que não deixa de ser uma maneira de mobilizar os quadros do PT para a luta política, cada vez mais dura.

O PT nunca aceitou a condenação de José Dirceu no processo do mensalão, cuja legitimidade até hoje é questionada pela legenda e pelos advogados que atuaram no caso. O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, relator do processo, que depois presidiu o STF e comandou o julgamento, sofreu ataques diretos dos petistas devido à atuação no caso. Agora, o mesmo ocorre com o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, que é tratado como um “ferrabrás” que exorbita das funções no caso Lava-Jato, ao pôr na cadeia, preventivamente, os principais acusados.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em entrevista em Curitiba, disse que o escândalo da Petrobras e o mensalão têm a mesma genealogia: “Nós temos o DNA, realmente, de compra de apoio parlamentar — pelo Banco do Brasil, no caso do mensalão, como na Petrobras, no caso da Lava-Jato”. Segundo ele, “José Dirceu recebia valores nesse esquema criminoso enquanto investigado no mensalão e enquanto foi preso. Seu irmão fazia o papel de ir até as empresas para pedir esses valores”.

Esse foi um dos fatos, segundo o procurador, que motivaram o novo pedido de prisão para Dirceu, que já cumpria pena em prisão domiciliar por condenação no mensalão. Para o advogado dele, a cúpula petista e os amigos do ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, a prisão foi arbitrária e desnecessária: ele poderia perfeitamente responder às acusações até que transitasse em julgado o processo da Lava-Jato, cumprindo, em casa, a pena pela qual já foi condenado.

Conspiração
A polêmica sobre Dirceu é uma amostra grátis do que pode ocorrer no país caso as investigações avancem na direção de petistas mais ilustres. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se articula e mobiliza forças para salvar o PT de uma catástrofe eleitoral irreversível, que inviabilize a candidatura dele em 2018. A volta ao poder de Lula é cada vez mais difícil, por causa do fracasso do governo Dilma Rousseff e do escândalo da Lava-Jato, que desgasta a imagem dele como líder político.

Lula é um craque da comunicação política, sabe utilizar com maestria a emoção dos militantes petistas e dos eleitores cujas vidas melhoraram durante o seu governo. No programa do PT que vai ao ar na quinta-feira, dirá que a legenda sofre uma perseguição odienta.

Vaias à presidente Dilma Rousseff, hostilidades quase físicas a políticos petistas em aviões de carreira e em restaurantes, além de uma bomba caseira lançada contra o Instituto Lula, em São Paulo — um ato tipicamente fascista — servem para corroborar o discurso. O clima pesado nas redes sociais é um exemplo da radicalização que vem por aí, já que grande manifestação contra o governo Dilma e o PT está programada para o próximo dia 16.

As investigações da Operação Lava-Jato contra o PT não são um fato banal, muito menos um delírio. A cúpula petista está à beira de ser tragada pelo escândalo. Rui Falcão, presidente nacional do PT, nega as denúncias: “O Partido dos Trabalhadores refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção”, diz.

A nota assinada por Falcão renova a fé dos militantes petistas que não acreditam nas denúncias e imaginam que tudo não passa de perseguição e conspiração golpista, ou seja, uma espécie de delírio persecutório coletivo.

Bernardo Mello Franco - A causa de Dirceu

- Folha de S. Paulo

Nos últimos anos, José Dirceu ainda era tratado como herói por muitos políticos e militantes do PT. Até ser preso, continuou a aparecer nos encontros do partido, onde posava para fotos e ouvia o grito de "guerreiro do povo brasileiro".

Sua inocência era defendida até por petistas que admitiam a existência do mensalão. Para eles, o ex-ministro teria sido condenado por agir "em nome da causa". Seria injusto compará-lo a um corrupto clássico, desses que desviam dinheiro público para passear de Lamborghini.

O mito do heroísmo foi estimulado pelo próprio Dirceu, que investiu na confusão entre o julgamento na democracia e a perseguição na ditadura. Essa narrativa ficou insustentável com as revelações da Lava Jato.

O ex-guerrilheiro não voltou à cadeia por negociar votos no Congresso com métodos heterodoxos. Ele agora é acusado de receber "pixulecos" de empreiteiros e lobistas que participaram do saque à Petrobras.

Além de colaborar com a montagem do esquema de corrupção, Dirceu "se beneficiou dele", disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. O juiz Sergio Moro enumerou ocasiões em que os desvios da estatal teriam ajudado a enriquecê-lo.

Condenado por chefiar o mensalão, Dirceu recebia um "mensalinho" de R$ 80 mil a R$ 90 mil, disse o lobista Milton Pascowitch. Ele também contou que pagou despesas pessoais do ex-ministro, como a reforma de uma casa de campo (R$ 1,3 milhão), a reforma de um apartamento em São Paulo (R$ 1 milhão) e a compra do imóvel de uma filha (R$ 500 mil).

Antes que se questione o delator, a decisão de Moro ressalta que ele apresentou provas do que disse.

A Lava Jato já havia revelado que Dirceu recebeu R$ 39 milhões após deixar o governo. Mesmo assim, ele pediu doações a militantes petistas para pagar a multa do mensalão. Agora que o ex-ministro voltou à cadeia, alguns participantes da vaquinha podem concluir que a sua causa, na verdade, era a causa própria.

Cristian Klein - Risco alto e controlado

- Valor Econômico

• Ameaça à economia trava união entre as ruas e o Congresso

No delicado equilíbrio político que sustenta o governo, o fator mais desestabilizador não é o presidente da Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha atrapalha, vai vender caro (como sempre) qualquer legislação de interesse do Planalto, mas não representa o maior risco para a presidente Dilma Rousseff. A maior ameaça vem das ruas.

E para azar do governo e dos petistas, as manifestações marcadas para dia 16 encontram o mesmo tipo de "aquecimento" dos protestos de 15 de março, que reuniram cerca de 1,7 milhão de pessoas pelo país.

Uma semana antes, numa homenagem ao Dia da Mulher, o pronunciamento de Dilma em cadeia nacional de rádio e TV fora retaliado por intensos panelaços em diversas capitais. Agora, a mobilização será precedida por outra fala, que pode agitar os humores da opinião pública quando a presidente aparecer no programa partidário do PT, nesta quinta-feira. A propaganda petista será veiculada três dias depois da prisão, ontem, do ex-presidente do partido, José Dirceu.

JD é acusado de estender o mensalão - pelo qual ainda cumpria pena em regime domiciliar - para o esquema de corrupção na Petrobras, investigado na Operação Lava-Jato. Dirceu preso pode ser considerado "mais do mesmo", como esperam os petistas, ou um elemento a reavivar a indignação popular, como anseiam os oposicionistas.

Os protestos do dia 16 serão uma prova de fogo para Dilma e os movimentos que se organizam nas redes sociais contra ela e o PT. Até o momento, as ruas deram sinalizações contraditórias, ou pelo menos insuficientes, sobre o grau de insatisfação do brasileiro. A primeira manifestação foi gigantesca. A segunda, em 12 de abril, mobilizou cerca de um terço do protesto anterior. É o terceiro ponto de observação que dirá se Dilma continua sob pressão das ruas ou se o bloco dos (mais) descontentes se dispersou.

Em 5 de maio, o programa partidário do PT escondeu Dilma, mas mostrou o ex-presidente Lula e o resultado foi semelhante ao do Dia da Mulher - panelaços não só pelas capitais, mas pelas cidades do interior. Diferentemente da primeira vez, porém, não havia a associação entre caçarolas e convocação de protesto - conjunção que se repetirá agora.

Essa combinação parece ser uma das características favoráveis à ação coletiva anti-Dilma. Por outro lado, a conjuntura política não é a mesma de meses atrás.

Com o refluxo do segundo protesto, a oposição partidária, PSDB à frente, se aproximou da oposição das ruas, o que quebra seu caráter supostamente autônomo, espontâneo. Como lembrou a cientista política americana Kathryn Hochstetler, em entrevista ao Valor na sexta-feira, essa partidarização é um dos maiores equívocos que a mobilização de rua contra Dilma pode cometer. Tende a reduzir o escopo dos protestos ao se identificar com uma das partes interessadas, em vez de criar coalizões suprapartidárias de descontentamento. O efeito pode ser até o contrário, ao amalgamar, em contraprotestos, grupos ligados ao governo. É exatamente o cenário que está se desenhando, já que PT, CUT e movimentos sociais como o MTST resolveram convocar manifestações de apoio à Dilma, em resposta aos chamados para o domingo, 16.

Para os defensores do governo - ou contrários ao "golpe" - a mobilização pode ser igualmente pouco inteligente. Em março, além dos panelaços, os protestos bem-sucedidos contra Dilma foram esquentados pela ida às ruas dos apoiadores da presidente, dois dias antes, numa sexta-feira, reforçando o clima de Fla x Flu das eleições do ano passado.

Seja como for, os dilmistas buscam provocar um efeito dissuasório, contra as tentativas de impeachment em curso.

Ao que parece, esse risco de polarização e, sua contraface, a dissipação do movimento das ruas já foram contabilizados pelos atores políticos - incluindo o empresariado.

Com a crise político-econômica aguda, evitar a perda do grau de investimento passou a fazer parte do topo das prioridades da agenda do governo e de boa parte dos interesses ligados à oposição partidária.

Se não for por seu próprio esvaziamento, as ruas precisam ser domadas, controladas, sob pena de aprofundar ainda mais a recuperação econômica.

Esse é o principal entrave à aliança entre o Congresso e as manifestações de massa, que poderia sacramentar o fim precoce do mandato de Dilma.

A classe política - em conversação contínua com o poder econômico - está reticente. O PSDB dá uma no cravo e outra na ferradura. Anuncia adesão aos protestos, mas recusa-se a incendiá-los. O senador Aécio Neves, presidente do partido e adversário à reeleição de Dilma, disse que "não comemora nem lamenta" a prisão de Dirceu. Preferiu louvar o "pleno funcionamento das instituições".

O longo tempo que separa Dilma do fim do mandato - recém-legitimado - abre espaço para a cautela, dadas as incertezas e ressignificações em jogo: o quê (afastamento constitucional ou golpe), quando (antes ou depois do meio do mandato), como (impeachment ou renúncia), porque (pedaladas fiscais, dinheiro sujo de campanha ou envolvimento direto em corrupção - o tiro de misericórdia ainda não encontrado) e quem assumiria (se Michel Temer, Aécio ou um novo eleito).

Outras questões sobre a mesa: Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos acusados na Lava-Jato, têm condições de liderar o processo no Congresso? À oposição interessa chegar ao poder em meio a uma crise e logo se tornar vidraça?

Tudo somado, ao delicado equilíbrio de sustentação do governo por sua base aliada corresponde uma cuidadosa aproximação da oposição partidária com a das ruas. Ambos tentam manejá-las.

Entre os principais grupos que comandam as manifestações, o PSDB elegeu o mais moderado, o Vem Pra Rua, seu interlocutor preferencial. O movimento ganhou perfil de "protesto institucionalizado" (vários grupos em torno de uma Aliança), organizado (pelas redes sociais), moderado (com articulação no Congresso) e ordeiro (leva até seguranças para manifestação).

Resta saber se a insatisfação pode ser controlada em fogo brando.

FHC e a tormenta petista – Editorial / O Estado de S. Paulo

Há raros momentos, nos períodos de tormenta que ciclicamente afetam a vida de um país, em que um gesto de serenidade e de lucidez ilumina o cenário para expor, aos que têm olhos para ver, o melhor caminho para a bonança. Em artigo publicado domingo no Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou qualquer conversa com o PT que “cheire a conchavo ou, pior, que permita a suspeita de que se deseja evitar a continuidade nas investigações em marcha” sobre corrupção no governo. E acrescentou: “Para dialogar, não adianta se vestir em pele de cordeiro. Fica a impressão de que o lobo quer apenas salvar a própria pele”. “Será que chegou o tempo”, diz o texto, “de rezar pela sorte de alguns setores da vida empresarial e política? Talvez. Mas a hora para agir já não é mais, de imediato, do Congresso e dos partidos, mas, sim, da Justiça.” É o caminho.

Com esse artigo, o líder tucano desmonta a ardilosa tentativa lulopetista de envolver o maior partido da oposição num “diálogo” capaz de neutralizar politicamente tanto a possibilidade de eventualmente o Congresso votar o impeachment de Dilma Rousseff – por conta, por exemplo, da rejeição das contas do governo pelo TCU – como de a Operação Lava Jato resultar na condenação dos líderes do PT e da base aliada por envolvimento com o escândalo da Petrobrás e outros, como do setor elétrico, a que as investigações levem.

O lulopetismo é conhecido pela soberba com que despreza opiniões que não sejam as suas próprias e pela falta de cerimônia com que procura o apoio dos adversários – que normalmente trata como inimigos – nos momentos de apuro. Foi assim que, por ocasião do estouro do escândalo do mensalão, no primeiro mandato de Lula, sob o argumento da necessidade de preservar o equilíbrio institucional, a oposição foi persuadida a aliviar a pressão sobre o Planalto. A partir daí, contando com a sólida base de apoio popular de que então dispunha, Lula logrou dar a volta por cima e reeleger-se em 2006.

Em seu artigo, Fernando Henrique recorda que tomou a iniciativa, em 2013, quando Dilma e os ex-presidentes da República brasileiros viajaram à África do Sul para o funeral de Nelson Mandela, de sugerir, diante “do tamanho da crise em gestação”, que todos se unissem para “propor ao País um conjunto de reformas para fortalecer as instituições políticas”. Mas a sugestão não prosperou. Mais do que isso: “Naquela ocasião, como em outras, a resposta do dirigente máximo do PT foi ora de descaso, ora de reiteração do confronto, pela repetição do refrão autorreferente de que antes dele tudo era pior”.

O líder tucano afirma que a recusa de entrar num mero “conchavo” com os petistas “não implica dizer um não intransigente ao diálogo”. Mas é essencial que os donos do poder adotem uma postura realmente democrática: “Tomara que as aflições pelas quais passam o PT e seus aliados lhes sirvam de lição e os afastem da arrogância e do contínuo desprezo pelos adversários, até agora tratados como inimigos. É hora de reconhecerem de público que a política democrática é incompatível com a divisão do País entre ‘nós’ e ‘eles’”.

Com a hipocrisia de travestir de intenções altruísticas uma descarada tentativa de pedir socorro num momento de desespero, Lula botou seus porta-vozes em campo para sondar a possibilidade de colocar a autoridade moral e o prestígio político de Fernando Henrique Cardoso – que sempre contestou e tentou destruir – a serviço da sobrevivência de seu periclitante projeto de poder. O PT é um partido que “chegou nitidamente ao fim de um ciclo” porque “não se autorreformou, não capitaneou uma grande mudança pela reforma política”. E este diagnóstico não é de FHC, mas de um fundador e importante líder do partido, o ex-governador gaúcho Tarso Genro, em entrevista ao Estado publicada no domingo.

Do líder tucano é a recomendação de que “cabe aos donos do poder o mea culpa de haver suposto sempre serem a única voz legítima a defender o interesse do povo”. A crise em que o lulopetismo mergulhou o País parece estar ensinando ao povo brasileiro que é preciso escolher melhor quem tem a missão de defender seus interesses.

Dirceu, de novo – Editorial / Folha de S. Paulo

• Encarceramento do ex-ministro da Casa Civil era esperado, mas ainda assim provocou súbitas mudanças no panorama político

Não se pode dizer que a prisão de José Dirceu tenha sido uma surpresa. O próprio ex-ministro já a dava como certa –e desde o início de julho buscava impedi-la por meio de habeas corpus preventivos, afinal rejeitados pela Justiça. Nem por isso o novo encarceramento do petista deixou de provocar mudanças súbitas no panorama político.

A primeira e mais óbvia implicação dessa 17ª fase da Operação Lava Jato diz respeito ao PT. Com horário reservado na quinta-feira (6) para propaganda em rede nacional de rádio e televisão, a direção partidária planejava reduzir os danos já infligidos à conspurcada legenda. Se a missão era difícil, agora se tornou impossível.

Dirceu, como se sabe, nunca foi um Zé Ninguém na agremiação. Mesmo tendo sido preso em decorrência do mensalão e cumprindo o restante da pena em regime domiciliar, jamais perdeu ascendência sobre correligionários. No ano passado, 3.972 pessoas lhe doaram quase R$ 1 milhão para que pagasse multa imposta pela Justiça.

Embora tenha divulgado nota negando participação em "qualquer esquema de corrupção", pareceria ridículo se o PT, a esta altura, pretendesse se dissociar de Dirceu –um ícone do petismo.

De um lado, há o ultraje. Para os investigadores, o ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula foi um dos responsáveis por criar o sistema de desvios na Petrobras.

De outro, há a desfaçatez. Segundo o juiz federal Sergio Moro, existem boas razões para crer que o petista recebeu propina antes, durante e até depois do julgamento do mensalão, quando já se encontrava atrás das grades.

Sua nova prisão, determinada por Sergio Moro em caráter preventivo, tem a finalidade de "interromper o ciclo delitivo", dentro de um contexto de "criminalidade desenvolvida de forma habitual, profissional e sofisticada".

Mais uma vez, portanto, desloca-se o foco do escândalo para o PT, resultando em alívio momentâneo para o PMDB. O principal sócio do governo Dilma Rousseff (PT) via-se pressionado, nas últimas semanas, pelas suspeitas que incidem sobre alguns de seus líderes.

Pesava especialmente a expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, viesse a denunciar em breve o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Um lobista disse que, em 2011, pagou US$ 5 milhões ao hoje presidente da Câmara no intuito de garantir um contrato com a Petrobras.

Nada impede, naturalmente, que a acusação seja formalizada pela PGR nos próximos dias. Com José Dirceu preso, Eduardo Cunha não poderá insistir na esdrúxula tese de que as investigações têm sido conduzidas com propósitos políticos.

Melhor assim. Quando se trata de combater a corrupção no país, a Justiça precisa ser implacável com todos os partidos. Sem exceção.

José Casado - Da mesma árvore

- O Globo

Palácio do Planalto, janeiro de 2003. Lula degusta a primeira semana no poder em conversa com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Miro Teixeira (Comunicações).

Preocupa-se com o novo Congresso, que toma posse no mês seguinte. Chegou à Presidência com 52 milhões de votos, mas o PT não conseguiu ir além dos 18% das cadeiras na Câmara, com 91 deputados federais.

Discute "como é que se organiza", nas suas palavras, a maioria no Legislativo. Dirceu sai na frente com um enunciado sobre o "Congresso burguês", evocação dos "300 picaretas" que Lula usara anos antes ao se referir à maioria dos parlamentares federais.

O líder escuta, sorridente, a ideia de usar cargos com fatias do orçamento do governo e das empresas estatais para compor a "maior base parlamentar do Ocidente".

A proposta esconde e mistifica, tanto quanto revela. Palocci e Miro percebem o aval de Lula a Dirceu. Em oposição, sugerem alianças a partir de projetos específicos - a começar pelo "ajuste fiscal" -, até para atrair parte da oposição, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo que exibia o orgulho de ter passado a faixa presidencial ao operário transformado em símbolo da democracia industrial brasileira. Palocci e Miro insistem. Acabam atropelados.

A partir de então, houve romaria ao quarto andar do Planalto, onde o secretário-geral do PT Silvio Pereira e o tesoureiro do partido Delúbio Soares loteavam cargos entre aliados. Dirceu homologava, auxiliado por Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, mais conhecido como "FM". No Congresso, provocavam-se frequentadores do Planalto: "O deputado anda ouvindo muita rádio "FM"".

A mecânica das negociações havia sido testada na campanha. Numa noite de junho de 2002, Lula, o vice José Alencar, Dirceu e Delúbio foram ao apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília. Lá estava Valdemar Costa Neto, líder do PR, que contou à revista "Época" em agosto de 2005: "O Lula e o Alencar ficaram na sala; fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu. Comecei pedindo uns R$ 20 milhões..."

Valdemar levou metade e, mais tarde, ganhou como outros a "porteira fechada" de departamentos (Dnit), delegacias (Trabalho e Receita Federal) e diretorias (Infraero, Itaipu e Correios).

O "filé" era a Petrobras, na definição de Roberto Jefferson, líder do PTB. Foi partilhado por dois Josés: Dirceu, do PT, e Janene, do PP. Logo, somaram-se líderes do PMDB.

Havia engenho na separação entre o mensalão e a reserva de até 3% nos contratos entre a Petrobras e cartéis privados - supervisionada pelo diretor Renato Duque, recrutado por Dirceu e "FM". O mensalão viabilizava "a maior bancada parlamentar do Ocidente". A Petrobras financiava a máquina eleitoral necessária aos "20 anos no poder", incluindo uma espécie de folha complementar de salários para ocupantes de cargos-chave no governo.

Mensalão e corrupção na Petrobras nasceram da mesma árvore. Depois de dez invernos, evidencia-se seu cultivo com o uso sistêmico da política para crimes. Novos detalhes devem aflorar depois de amanhã, quando se define a lista de sucessão na Procuradoria-Geral da República. Como sempre, tudo foi encoberto em nome da luta "contra a exploração dos trabalhadores" - os mesmos que, hoje, estão pagando a conta.

Celso Ming - O ajuste sobre os ricos

- O Estado de S. Paulo

A economia brasileira vai afundando no rombo das contas públicas, na disparada da inflação e na quebra dos investimentos que bloqueiam o crescimento, a renda e o emprego.

A política em vigor, o ajuste colocado em prática pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é insuficiente para obter o reequilíbrio das contas públicas e para relançar as bases para o crescimento. Não há outro caminho: é o ajuste mais as reformas.

Não se pode dizer que não foi tentada outra rota. Desde 2010, o governo do PT colocou em marcha a Nova Matriz Macroeconômica. Foi o que levou a economia ao atoleiro porque se baseou no consumo cevado a subsídios, no crédito fácil e nos juros artificialmente baixos.

Ainda há gente, principalmente entre as chamadas esquerdas brasileiras, que repudia a atual política econômica da presidente Dilma que, embora tardiamente, passou a distribuir a conta da má gestão anterior para a população.

Um desses exemplos de ataque à atual política econômica é do ex-governador do Rio Grande do Sul o petista Tarso Genro. Mas ele não sabe o que propor em troca, como se vê há meses por suas intervenções e que foi corroborado pela entrevista publicada domingo no Estadão.

O ex-governador, que quebrou o Rio Grande a ponto de obrigar seu sucessor a deixar de pagar o funcionalismo público, quer um ajuste que onere só os ricos. A proposta dele é passar a cobrar uma taxa sobre patrimônio; aumentar substancialmente o imposto sobre herança; taxar os ganhos financeiros e impor as reformas. Ele não diz o que pretende das reformas, mas o resultado do que imagina não deve ser diferente das propostas que vem fazendo.

É pobre o ajuste que dependa só dos ricos. Se for concentrado em mais impostos sobre patrimônio, que nenhum país sabe como cobrar; se depender da arrecadação do imposto sobre herança, que precisa esperar que o proprietário morra; e se avançar sobre a renda financeira - que, portanto, alcance fundos de investimento, fundos de pensão e a poupança da classe média -, o ajuste será miserável e, como tal, ineficaz.

Nem os Estados Unidos, nem a área do euro, nem o Japão propuseram receitas parecidas com essas e, no entanto, vêm conduzindo a recuperação que pode ser lenta, mas é segura e sustentável.

Agora que a opção socialista ficou inviável, ex-marxistas, quando assumem funções de governo, têm dificuldades para eleger políticas que garantam fundamentos sólidos para o crescimento e para o emprego. Agarram-se a opções que supõem ser keynesianas, que se baseiam na expansão do consumo obtida por aumentos de despesa pública, sem antes examinar a real situação do Tesouro e sem garantir a expansão da oferta de mercadorias, de serviços e de empregos.

Não existe a opção em que insistiu o partido Syriza à frente da Grécia neste primeiro semestre. A rejeição de um programa construído sobre princípios de responsabilidade fiscal implicou a aceitação de pacote ainda mais duro do que o que foi recusado.

Não dá nem para perdoá-los por não saberem o que fazem, porque já sabem o que fizeram e já viram que deu errado.