quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Alberto Aggio

Discutir o país é o ponto de partida e o ponto de chegada de qualquer política que busca elevar a qualidade da nossa recente democracia. Foi isso que Lula quis evitar criando a imagem de país pronto e acabado, à sua imagem e semelhança, inebriado pelo consumo e pelo marketing governamental. A cidadania lhe deu uma lição preciosa: disse que quer um segundo turno para discutir concretamente aquilo que se refere diretamente às obrigações do governo federal no que tange à questões importantes, especialmente aquelas que envolvem a infra-estrutura do país, a saúde, a segurança e a educação, elementos essenciais para a conquista, avanço e manutenção do desenvolvimento e do bem-estar dos brasileiros. A cidadania quer abrir espaço para o debate que não houve, sem a prerrogativa de que sua candidata seja a melhor simplesmente porque é “amiga do presidente” e tem “orgulho disso” ou porque ela, segundo Lula, está “destinada” a ser a “mãe dos brasileiros”. Lula precisa entender que é o Estado patrimonialista – aquele que as elites costumam entender como coisa sua – que a democracia brasileira está deixando para trás.

(Alberto Aggio, no artigo ‘A política venceu a arrogância’, publicado dia 5/10/2010)

Clima tenso:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Há na campanha de Dilma Rousseff um ambiente político de crise que não se dissipou com a reunião do Palácio da Alvorada do presidente Lula com os aliados. Havia uma certeza de vitória que o resultado das urnas transformou em receio de uma derrota no segundo turno.

Os votos que faltaram para a definição no primeiro turno são explicados por diversas óticas, e nem mesmo o presidente Lula escapa das críticas.

Procuram-se culpados, e em especial há uma desconfiança entre os aliados, especialmente o PMDB, mas não apenas ele, e o PT, antecipando as dificuldades que eram pressentidas para a formação do governo.

Sentindo-se excluídos da campanha nas últimas semanas, os aliados tinham a impressão de que o governo já considerava a eleição ganha e os petistas formavam um núcleo duro em torno da candidata, tentando marcar posição num futuro governo.

Antônio Palocci, José Eduardo Cardozo e outros petistas centralizaram de tal forma as decisões da campanha que ninguém mais participava do processo.

A vitória que parecia certa impediu que os aliados reclamassem com vigor, mas o PMDB e os outros partidos da base aliada internamente já imaginavam que esse poderia ser o tratamento em um futuro governo.

Com a reversão de expectativas, os aliados já estão querendo se posicionar em uma situação mais de força, o que se reflete em algumas mudanças na coordenação da campanha.

A chegada de Ciro Gomes, do PSB, é um sinal de que os aliados terão mais importância na definição estratégica do segundo turno.

Também as férias do ministro da articulação política, Padilha, vem do fato de que ele tem um bom diálogo com os partidos aliados.

Na análise do PMDB, os grandes movimentos da campanha não foram feitos pelos políticos, mas pelos diversos setores da sociedade, o que demonstra uma independência que não estava nos planos do governo.

O tal fator de bem-estar da população foi suficiente para colocar a candidata oficial do nada para um patamar de 40% dos votos.

Mas o movimento contra a legalização do abort o surgiu espontaneamente dentro dos movimentos religiosos e continua como um fator muito ativo nesse segundo turno, sem que tivesse sido provocado por nenhum marqueteiro tucano.

Também a rejeição às denúncias de corrupção no Gabinete Civil com Erenice Guerra mudou votos na reta final. Todas questões morais que mexeram com o eleitorado.

A candidatura de Marina Silva surpreendeu a todos, roubando pontos preciosos dos dois ponteiros.

Dilma perdeu na reta final os pontos que poderiam levá-la para uma vitória no primeiro turno, e Serra caiu do patamar de 40% que manteve grande parte da campanha e que foi o tamanho que Geraldo Alckmin teve no primeiro turno de 2006.

O PMDB tem uma avaliação de que esse caminho ficou aberto para Marina também por um erro estratégico do próprio Lula que, considerando a parada ganha, deu asas à sua obsessão com o Senado.

De um lado, de destruir os inimigos que escolheu, de outro de conseguir uma maioria tranqüilizadora.

Começou a fazer campanha para aliados em detrimento de outros.

Para o PMDB, o exemplo da Bahia é claro: o peemedebista Geddel Vieira Lima perdeu a eleição, mas fez 1 milhão de votos, e foi totalmente ignorado pela campanha de Dilma, que se dedicou com exclusividade à vitória do governador Jacques Wagner do PT.

O resultado foi que Dilma teve no estado a mesma percentagem de votos que o governador baiano, e deixou de receber uma parte ponderável dos votos de Geddel. Disciplinado, o peemedebista já anunciou ontem que apoiará Marina.

A opção preferencial por um aliado em cada estado fez com que a campanha de Dilma abrisse mão de outros palanques, o que pode trazer conseqüências para o segundo turno.

Houve também uma prioridade de Lula em pedir votos nos estados para o Senado, alegando que Dilma precisará de um apoio parlamentar seguro, como se ela já estivesse eleita.

Os partidos aliados, em especial o PMDB, estão fazendo questão de divulgar a boca pequena que há insatisfação dentro da aliança governista e, mais que isso, que há uma real preocupação do governo quanto ao resultado final da eleição neste segundo turno.

A cara preocupada do candidato a vice Michel Temer no pronunciamento que deveria ser da vitória e parecia ser o de uma derrota que não aconteceu, refletia esse sentimento.

O PMDB é dos que acham que vingança é um prato que se come frio.

A força das mulheres: do mesmo modo que aconteceu na eleição de 2006, o resultado oficial da eleição foi coincidente com os resultados obtidos pelos dois principais institutos de pesquisa, Ibope e Datafolha, na apuração do voto feminino.

Pelo Ibope, Dilma teve 47% entre as mulheres, e pelo Datafolha 48,3%. Mais próximo do resultado oficial 46,9% do que as previsões das pesquisas.

Serra teve 34% entre as mulheres no Ibope e 34,8% no Datafolha, dentro da margem de erro do resultado final, que foi de 32,6%.

E Marina Silva tinha 18% entre as mulheres no Ibope e 16,9% no Datafolha, e obteve 19,3% de votos válidos.

Trilhas opostas:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A verdade é que elas nunca se entenderam na hora das decisões. Marina e Dilma são opostos.

Os conflitos foram abundantes nos anos em que ambas conviveram no governo. Dilma mandou alagar a Mata Atlântica, aumentou a energia fóssil na matriz, ignorou a colega no PAC, iniciou obras controversas e afastou Marina do Plano Amazônia Sustentável.

Dilma esqueceu dos conflitos por conveniência eleitoral, mas os registros ficaram nos jornais, nos relatos de testemunhas, nos documentos oficiais, nas decisões.

Dilma fulminou com os depreciativos minha filha e meu filho todos os então assessores de Marina que a contrariaram. Alguns são da máquina pública. Alguns deixaram o governo depois de conflitos.

Em Copenhague, o então ministro Carlos Minc foi destratado.

Hoje, Minc exibe uma amnésia conveniente, mas não pode pedir a quem esteve lá, como eu, que esqueça o que viu e ouviu. Um funcionário, experiente participante de Conferências do Clima, foi fulminado por Dilma numa reunião interna quando fazia sábias ponderações: Olha menino, isso aqui não é coisa de amador, é para profissional. A neófita no tema era ela.

Ressentimentos podem ser superados. Mais difícil são as consequências de decisões tomadas. A BR-319 foi um dos motivos do embate entre as duas. Liga Manaus a Porto Velho e atravessa 700 km de terra de ninguém. Foi construída pelo governo Médici, mas foi retomada de volta pela floresta. O último ônibus que transitou por lá foi em 1978. O governo quis refazê-la para dar capital a Alfredo Nascimento.

Marina queria que fosse criada uma rede de áreas protegidas no entorno para evitar que a rodovia incentivasse a grilagem e o desmatamento.

O governo nunca implementou isso e, perto da eleição, contornou a falta de licença ambiental, mandando o Exército iniciar as obras.

Hoje, já há focos de grilagem e desmatamento no sul do Amazonas por causa dela.

Na BR-163, Marina coordenou, com o então ministro Ciro Gomes, o projeto para fazer da Cuiabá-Santarém uma estrada sustentável.

Foram aprovadas unidades de conservação e instalação de postos de fiscalização e vigilância para proteger a região da grilagem, reduzindo o impacto ambiental. Marina ganhou a batalha, mas o governo não pôs em prática o prometido.

Foi onde Minc capturou os bois piratas. Quem passou por lá recentemente viu que os bois voltaram.

Barra Grande é uma hidrelétrica no Sul do país que foi construída com um EIARima fraudado, aprovado no governo anterior. Nele se dizia que na área a ser alagada havia um capoeirão. Na hora de fazer o lago, descobriu-se que era na verdade uma preciosa área de Mata Atlântica com Araucária. Dilma queria alagar a mata, Marina foi contra.

A energia a ser gerada era pequena para tanto estrago e era convalidar um crime. José Dirceu, então chefe da Casa Civil, decidiu estudar um pouco mais o problema. Dilma quando assumiu o cargo mandou alagar a Mata.

Nas usinas do Rio Madeira houve um embate amazônico.

O presidente Lula debochou dizendo que a briga era por um bagre, mas a briga foi maior e de novo opôs Marina e Dilma, já na Casa Civil, mas sempre elétrica. O MMA queria proteção contra o meio ambiente, peixes, matas, qualidade da água, prevenção contra o mercúrio e estudo do impacto da sedimentação.

Dilma assumiu a defesa das empreiteiras, Marina ficou com as ONGs e o Ibama. A então ministra do Meio Ambiente conseguiu impor exigências que aumentam a segurança ambiental. Se forem cumpridas.

A diferença irreconciliável foi o PAC. Ele teria que ser feito junto com o Plano Amazônia Sustentável (PAS), para que as obras do século XXI não repetissem os crimes ambientais do governo militar.

Dilma defendeu que o PAS fosse entregue ao então ministro Mangabeira Unger. O presidente Lula comunicou a decisão numa reunião ministerial, dizendo que Marina não poderia cuidar do Plano porque não era isenta. Foi o sinal verde para que o PAC passasse trator sobre os limites ambientais. Marina saiu do governo.

O substituto Carlos Minc brigou algumas brigas, mas perdeu as principais. Resistiu à licença para Belo Monte. As pressões da ministra Dilma foram explícitas e estão documentadas.

Os diretores de licenciamento e energia do Ibama saíram. Os novos aceitaram a imposição de prazo numa reunião na Casa Civil no dia 7 de janeiro, e deram a licença em primeiro de fevereiro, apesar de os funcionários terem escrito que não houve tempo para avaliar os riscos ambientais. Tive acesso a documentos oficiais e publiquei na coluna Ossos do Ofício, em 17 de abril.

Vejam em meu blog. Os riscos ambientais e os fiscais de Belo Monte são imensos, mas ela é uma das obras do Plano de Aceleração da Candidatura de Dilma Rousseff.

Na reunião com alguns dos líderes eleitos da sua base, divulgada pelo Blog do Noblat, Jacques Wagner disse que as trilhas de Marina e Dilma sempre foram próximas.

Quem viu os fatos, e rejeita o modelo stalinista de reescrever a história, sabe que as trilhas sempre seguiram direções opostas.

Mano a mano:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Se o PT pode retirar o tema do aborto do programa aprovado pelo partido porque atrapalha a campanha eleitoral, com a mesma facilidade pode repor o assunto na agenda quando achar que não há mais obstáculos.

Esse tipo de gesto dificilmente convenceria alguém e poderia representar um grave risco para a candidata Dilma Rousseff: os grupos religiosos não ficariam satisfeitos, as pessoas que concordam com a descriminalização do aborto ficariam insatisfeitas e a campanha deixaria a impressão geral de que quis fazer todo mundo de bobo.

Conforme ficou demonstrado pelo resultado do primeiro turno, o brasileiro não está naquele estado de idiotia que se imaginou. Ainda sabe fazer umas contas, discerne razoavelmente umas coisas das outras e não se deixa levar pelo cabresto.

Por isso mesmo a maquiagem tem limite e, principalmente agora no segundo turno, os poderes do marketing também. Há controvérsia sobre o velho dito segundo o qual eleição do segundo turno é outra eleição.

Quem discorda fala da quase impossibilidade de primeiro e segundo colocados inverterem as posições. De fato, a virada não é a regra. Mas é um outro tipo de processo. Nele, há muito pouco espaço para enganação: o mano a mano põe os candidatos face a face numa luta sem segunda chance.

O horário eleitoral deve prender atenção do eleitorado muito mais: porque é mais curto - dez minutos para cada lado - e porque não tem mais aquele desfile de candidatos aos parlamentos.

São vinte e poucos dias de adrenalina. Nesse período conta muito menos a propaganda e muito mais a estratégia. Ou seja, a política, tudo o que faltou no primeiro turno.

Ambos os grupos adversários estarão com suas figuras de ponta eleitas e liberadas para cair na batalha. Há vantagens e desvantagens para Dilma Rousseff e José Serra.

Ela continua com duas imensas vantagens: o presidente Lula na chefia dos trabalhos e a dianteira de muitos milhões de votos.

Ele tem em seu favor o espaço de conquista de eleitores nos dois maiores colégios eleitorais, cujos governadores eleitos são do PSDB, e o ânimo renovado de militantes e eleitores pela possibilidade real de vitória, sentimento que tinha sido arquivado havia uns dois meses.

Dilma carrega passivos importantes: os ecos do escândalo Erenice Guerra, os temas polêmicos (aborto, imprensa, casamento gay, direito de propriedade) que o partido abraça e que o governo incorporou no Plano Nacional de Direitos Humanos 3, achando que a concessão à esquerda não renderia problemas e poderia dar até certo charme à candidata.

Serra vem de uma campanha horrível em que ele errou mais que todos, mas não errou sozinho. Achou que ganharia a eleição por gravidade, por sua bela formação, sua excelente trajetória. Esqueceu-se apenas de compartilhar essa maravilha com o País e de dar a ela uma forma política que pudesse construir na cabeça das pessoas uma representação de alternativa de poder.

O PSDB tem as próximas semanas para mostrar se tem unidade, vontade e inteligência para falar direito com o eleitor.

A grande vantagem do tucano é que a campanha não pode piorar.

Já os petistas que achavam que a campanha não precisava mudar nada, tiveram de se deparar com a dura realidade relatada pelos governadores na primeira reunião pós-primeiro turno. Aliás, realizada no Palácio da Alvorada, sob a égide da ilegalidade - para não perder o hábito.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, puxou o assunto e vários concordaram: Lula errou ao ser tão agressivo e o PT inteiro, candidata inclusive, ao se comportar como se a eleição estivesse ganha.

Consta que Lula prometeu ser elegante nos modos, que Dilma falará com Deus em público quando necessário e que os petistas serão humildes como discípulos de Francisco, o santo.

Isso com a colaboração de Ciro Gomes, que agora passa a integrar a coordenação de campanha, onde se prometeu também lugar de destaque para o PMDB.

Para quem? Para o partido que segundo Ciro pode ser definido como um "ajuntamento de assaltantes". Serão dias inesquecíveis.

O PSDB e o futuro :: Sérgio Guerra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Parte expressiva do eleitorado felizmente deu o seu recado, sufragando maciçamente candidatos da oposição neste primeiro turno das eleições

O que infunde credibilidade a um partido político e garante sua permanência no tempo é a consistência de seu ideário e a fidelidade que lhe devota na prática.

As eleições são o teste periódico a que essa conjunção entre doutrina e prática é submetida.

A sociedade tem o sagrado direito de oscilar entre as propostas que lhe são oferecidas, decidindo qual a mais adequada para cada momento. Ao eleger o vencedor, elege simultaneamente quem o fiscalizará.

Assim, governo e oposição são missões de igual magnitude. Nas democracias, o eleitor identifica os compromissos e promove, a seu critério, o princípio da alternância.

Um bom desempenho pode garantir permanência menor ou maior, mas sempre sem lançar mão de artifícios para se perpetuar no poder. Há fidelidade às regras do jogo e o princípio da alternância é sua cláusula pétrea.

Isso quer dizer que não se deve cogitar de expedientes abomináveis, como quebra de sigilos fiscais para produção de dossiês, com vistas à exclusão do adversário.

Aqui, infelizmente, ainda contemporizamos com aberrações, transferindo ao eleitor a tarefa de julgar. E ele, felizmente, não tem sido omisso. O resultado está expresso neste primeiro turno, em que parte expressiva do eleitorado deu o seu recado, sufragando maciçamente candidatos da oposição.

Foi o que aconteceu em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Tocantins, com o PSDB, e em Santa Catarina e no Rio Grande do Norte, com o DEM. São Estados que representam, aproximadamente, 43% da população brasileira. Responsabilidade que certamente aumentará agora no segundo turno, quando disputaremos os governos do Pará, Goiás, Piauí, Alagoas e Roraima.

O PSDB é fruto da redemocratização brasileira. Seus fundadores forjaram-se na luta contra a ditadura militar. Fundado em junho de 1988, quatro meses antes da promulgação da nova Constituição, definiu-se como força social-democrata.

O núcleo dos que iriam formá-lo lutou e foi responsável por conquistas importantes, tanto no que diz respeito aos direitos e garantias individuais quanto no capítulo de direitos sociais e trabalhistas.

O Fundo de Amparo ao Trabalhador é um dos frutos dessa atuação, quando o então constituinte José Serra propôs emenda ao texto em que se discutia o seguro-desemprego, especificando que os recursos do PIS/Pasep deveriam financiar o programa.

A atuação destacada daqueles parlamentares resultaria em aprovação eleitoral e fez com que, em tempo recorde, o novo partido fosse cortejado pelos que exerciam o poder. Fernando Collor tentou, sem êxito, cooptá-lo. Seu sucessor, Itamar Franco, estabilizou a economia ao nomear Fernando Henrique Cardoso ministro da Fazenda.

O êxito do Plano Real -o grande legado dos tucanos à recuperação econômica do país- levou por duas vezes consecutivas o PSDB à Presidência, já no primeiro turno.

Eleito Lula, o PSDB ajustou-se a seu papel de oposição, distinguindo sempre entre opor-se ao governo e opor-se ao país. Jamais jogou no quanto pior, melhor. E não jogará.

O PSDB tem clara sua missão de protagonista do regime democrático brasileiro. Respeita as regras do jogo e se sente no dever de denunciar quando são postas em risco.

Esses compromissos históricos com os ideais brasileiros nos fazem crer que, no próximo dia 31, milhões de cidadãos, soberanos e não tutelados, vão continuar, junto com o PSDB, a construir a história do Brasil.


Sérgio Guerra, 62, economista, é senador pelo PSDB-PE e presidente nacional do PSDB.

Política e bruxaria :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Afinal de contas, quem venceu o primeiro turno?

Dilma ganhou porque ganhou mesmo. Teve 14,3 pontos a mais, quando a regra diz que quem vence o primeiro turno vence o segundo e está virtualmente eleito.

Mas Dilma também perdeu, e muito, porque ela e Lula cantaram vitória antes da hora e houve uma reversão de expectativas. Isso suscita uma série de lugares-comuns, como: Dilma caiu do cavalo, a candidata tropeçou no salto alto, ou a onda morreu na praia.

São expressões que "colam", porque carimbam o resultado e se disseminam como se fossem uma tendência. Principalmente combinadas à postura de Dilma no segundo turno: voz cansada, olheiras profundas, parecendo menos otimista, até um tanto descomposta, cercada de gente sorumbática. E sem Lula à vista.

Com Serra, ocorreu o oposto: ele ganhou porque passou a maior parte da campanha engolindo sapos e nossa insistente previsão de que estava morto e ressurgiu das cinzas para o segundo turno.

Daí porque o contraste: Dilma, com 46,9%, reapareceu com ar derrotado; Serra, com apenas 32,6%, comemorou como se eleito estivesse, cercado de amigos sorridentes e com ar confiante -aliás, como nunca se vira nesta campanha.

Mas Serra "perdeu perdendo", como disse Marina Silva às vésperas do dia 3, porque entra na reta final em forte desvantagem numérica e de condições. Dilma saiu do primeiro e entrou no segundo turno com mais partidos, mais dinheiro, a máquina e gente fazendo sua campanha por toda a parte.

O jogo só empata agora no quesito TV e rádio, pois os dois candidatos passam a ter um tempo igual. Mas, se os programas são fundamentais e consolidam imagens e discurso, não fazem mágica.

Mágica, só com política, articulação e sobretudo vontade. E, como se tem visto na prática, uma boa dose de bruxaria ajuda um bocado.

Filho sim, pai nem tanto :: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Vale para Lula e para o lulismo a avaliação do lulista Jaques Wagner, governador reeleito da Bahia e um dos bons quadros do PT, segundo o qual "não existe carlismo sem ACM". Ou seja, sem Antonio Carlos Magalhães.

É óbvio, caro Jaques. Vale, de resto, para todos os caudilhos, coronéis, líderes populares ou populistas: nenhum deles sobrevive a seu criador. A eleição, de resto, demonstrou rotundamente que o lulismo, mesmo vivo o seu fundador, é bem menor que Lula.

Uma coisa é a popularidade do presidente, na altura de 80%. Outra é a votação de sua criatura, Dilma Rousseff, que seduziu apenas 35% do total de eleitores inscritos. Essa é a conta que mede, de fato, a adesão a uma candidatura, não a regra eleitoral que contabiliza apenas os votos válidos, com o que Dilma foi a 47%.

Dá a nítida sensação de que o brasileiro se fascinou com "Lula, o filho do Brasil", realmente uma extraordinária história de vida e de sucesso. Mas essa coisa de "pai" do Brasil, "mãe" do Brasil, cola muitíssimo menos, mesmo que Dilma ganhe no segundo turno, como continua sendo a hipótese mais lógica e mais provável.

Não é à toa que dois dos jornais mais relevantes no mundo -ambos absolutamente deslumbrados com Lula-, como o são "El País" e "Le Monde", tenham coincidido em assinalar que os brasileiros não quiseram dar um cheque em branco para Lula.

Acho até que dariam se fosse o próprio Lula o candidato. Para o lulismo não.

Para a Câmara dos Deputados, então, o que houve foi a velha fragmentação, suspeito que inédita no mundo. O normal é que o partido majoritário fique pouco acima ou pouco abaixo da metade dos assentos. Aqui, nem somando os dois partidos com mais deputados (PT e PMDB) dá um terço da casa (conseguiram exatos 32,5%). E o PMDB é apenas oportunista, não lulista.

Olha nós aí outra vez .... :: Tibério Canuto

DEU NO BLOG DO PITACOS

Empate absoluto

Calma comunidade pitaqueira.

Sei que vocês estão indóceis para saber o que está dando o tracking tucano, que retomou no dia de ontem. Conversamos por um minuto com nosso amigo, que está superocupado. Curto e grosso, ele me passou a novidade.

Sentados na cadeira?

Dilma: 43%

Serra: 43%

Só deu tempo de perguntar a que se atribui tal fenômeno. A resposta também foi curta e grossa: “Os eleitores de Marina estão vindo para o nosso lado e em massa”.

Na estimativa do nosso amigo marqueteiro, o Datafolha dará um resultado mais favorável a Dilma, provavelmente 5 pontos à frente de Serra. Mas já mostrará a queda constante da criatura do caudilho.

É bom lembrar que o tracking e a pesquisa de campo têm metodologia diferente.

Por isto nosso amigo sempre espera que a pesquisa de campo dê entre quatro a cinco pontos a mais para a candidata, em relação aos levantamentos do tracking.
Por outro lado, o tracking captura mais rapidamente a movimentação do eleitorado e é mais preciso nas tendências e nos segundos que antecedem o apito final. Isso aconteceu no domingo passado. Além do mais, Pitacos põe a mão no fogo, não sofre influência de ninguém para alterar curvas e números, seja em que direção for.

Faço dois registros:

1) Mesmo se o Datafolha apontar uma diferença de cinco pontos – como nosso amigo estima – isto é quase nada, levando-se em conta que ainda não começou o programa televisivo, nem houve debate. O primeiro será na Bandeirantes, no domingo, às 22:00.

2) A frente de cinco pontos é extremamente pequena e na verdade significa dizer que se três pontos mudam de lado, a vantagem de Dilma evapora.

É bom lembrar que no primeiro turno quem mais ficou próximo da realidade das urnas foi o tracking tucano, que acertou mais do que todos os institutos de pesquisa.

Fator Pé no Chão

É essencial conter a euforia e mais do que nunca aplicar o FPC de Pitacos (Fator Pés no Chão), aquele deflator que sempre devemos aplicar ao nosso entusiasmo.

Estamos a uma eternidade do dia final da eleição. O jogo mal está começando.
Lembrete importante: voto não é uva que dá em cacho. Ele cai na urna um a um.

Cada voto a mais conquistado aproxima Serra da diplomação na virada do ano, como Presidente do Brasil.

Contenção do radicalismo de Lula e do PT. E boa redução do desequilíbrio político:: Jarbas de Holanda

1) Mesmo que Dilma Rousseff siga sendo favorita na disputa presidencial, a campanha do 2º turno começa num contexto bem diverso do da primeira fase. Com a perda de muitos votos para Marina Silva, a candidata situacionista teve de assumir uma postura de moderação que a distinga do radicalismo do PT e de suas propostas programáticas (como as de controle da mídia e em apoio ao aborto), bem como em relação aos escândalos praticados no governo. E a necessidade de tal moderação deverá igualmente conter o radicalismo retórico do presidente Lula – em favor de parte dessas propostas e ate da “extirpação” de adversários.

2) O novo cenário mostra sensível redução do desequilíbrio político em que se travou o embate do 1º turno – produto da elevada popularidade de Lula, da ampla coligação eleitoral que ele montou, dos bons indicadores econômicos e sociais e da fragilidade da campanha de Serra. Não obstante tudo isso, na fase final desta etapa, com o salto dos índices de intenção de votos de Marina Silva a candidatura de Serra, embora sem crescimento de seus próprios índices, afirmou-se como competitiva, ajudando e beneficiando-se do vigor de campanhas oposicionistas locais no Sudeste, no Sul e em estados com forte peso do agronegócio (no Centro-Oeste e em três pequenos do Norte). O que propiciou a ele vitórias conjuntas com a obtida por essas campanhas, já no 1º turno, em Santa Catarina, no Paraná, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul; em Minas Gerias, a somar-se ao sucesso dos candidatos aecistas, com significativa redução da distância que o separava de Dilma Rousseff; e, a chegar à frente no Mato Grosso, em Rondônia, no Acre, em Roraima.

3) O referido desequilíbrio seria mantido com a eleição de Dilma no 1º turno, e até reforçado se persistissem as tendências indicadas pelas pesquisas feitas ao longo de setembro – de maioria da candidata lulista em Santa Catarina, no Paraná e em São Paulo. O que, no plano político-partidário, ademais de desastroso para o PSDB, seria negativo também para o PMDB – tendo em vista seu papel de principal aliado não esquerdista do governo Lula e na campanha de Dilma. Pois o PT apareceria como o grande responsável por tal vitória, a ser instrumentalizada para ampliação da influência na composição e nas decisões do novo governo. Ao passo que, nos planos da política econômica e institucional, o aumento do peso do petismo favoreceria bastante a aplicação da sua receita para a gestão da (provável) sucessora de Lula, cujos ingredientes básicos foram explicitados por José Dirceu em exposição para sindicalistas feita semanas atrás em Salvador: entre outros, mais estatismo e aparelhamento partidário da máquina governamental, articulados com a adoção para valer de projetos restritivos da liberdade de imprensa.

4) O respaldo de grandes parcelas da população à corajosa ação da imprensa (na denúncia de graves e sucessivas irregularidades praticadas em órgãos do governo federal, bem como na condenação a atitudes de Lula próprias de um irado chefe de facção mas inteiramente incompatíveis com as de um presidente), esse respaldo retirou da agenda política e institucional um dos itens centrais dos objetivos esquerdistas e autoritários do petismo: o controle da mídia. E a frustração da “onda vermelha”, que liquidaria o pleito presidencial no 1º turno, reforçou o peso do PMDB e de outros partidos e lideranças não esquerdistas da base governista na batalha de Dilma no 2º turno e na composição de seu governo, se for eleita. Esse quadro não altera, de saída, o forte desequilíbrio político representado pela ampla maioria que os partidos da aliança pró-Dilma terão no Congresso. Mas tal respaldo certamente inibirá o apoio majoritário a decisões e a projetos antidemocráticos.

Jarbas de Holanda é jornalista

Nova Musica Vanessa da Mata - Boa Sorte/Good Luck - Clipe Oficial part. Matheus da Matta

Serra muda rumo e defende legado de FH na campanha

DEU EM O GLOBO

Depois de esconder Fernando Henrique, o tucano José Serra iniciou o segundo turno defendendo o legado do ex-presidente. Em reunião com governadores e senadores eleitos, Serra elogiou as privatizações. A defesa mais enfática de FH foi feita pelo senador eleito Aécio Neves (MG): "Se querer condenar as privatizações, estão dizendo a cada brasileiro que pegue o celular e jogue na lata de lixo." Dilma fez carreata na Baixada Fluminense. A campanha petista divulgará um programa de governo para deixar claro que, se eleita, Dilma não defenderá aborto.

De volta ao legado de FH

Serra muda tom do primeiro turno e defende resultados das privatizações e Plano Real

Adriana Vasconcelos, Cristiane Jungblut e André de Souza

BRASÍLIA - No primeiro grande ato de campanha do segundo turno, que reuniu ontem os principais governadores e parlamentares eleitos por PSDB, DEM, PPS e até dissidentes do PMDB, o presidenciável tucano, José Serra, tentou mostrar otimismo e disposição para mudanças de discurso. A começar pelo resgate do legado do governo Fernando Henrique, incluindo o Plano Real e até as privatizações. A estratégia atende a sugestões do senador eleito por Minas e ex-governador Aécio Neves, que tem reforçado a ideia de que o governo Lula não teria o sucesso que teve sem as conquistas deixadas pelos antecessores.

Itamar Franco deu a cobertura para o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique, lançar as bases do Plano Real. O Real é do Itamar e do Fernando Henrique. O Real eliminou nuvem de poeira quente que sufocava o país. Porque a gente sabe que quem paga o pato pela inflação são os pobres discursou Serra.

Após esconder FH no primeiro turno, Serra destacou a privatização nas telecomunicações e lembrou o tempo em que os brasileiros eram obrigados a declarar as linhas telefônicas no Imposto de Renda. Disse que o governo Lula deu prosseguimento à política, ao vender entre 2004 e 2005 os bancos do Ceará e do Maranhão: Dizem que vão voltar com privatização (na campanha do PT). O governo Lula continuou privatizando.

Dois bancos. E não é um problema de número, é de ideologia. Se privatizou, é que não era tão contra. Eu elogio a privatização, a abertura de telecomunicações.

Não venham com trololó de factoides dessa natureza.

Aécio faz defesa de Fernando Henrique

O senador eleito Aécio Neves foi mais enfático na defesa de FH. Na chegada, disse que esta deveria ser a primeira atitude da nova fase da campanha e que não se deve ter vergonha de debater as privatizações: Devemos defender isso com altivez e iniciar o segundo turno falando dele. Não teria havido o governo Lula se não tivesse havido o governo Itamar, com a coragem política de lançar o Real, e se não tivesse havido o governo FH, que consolidou e abriu a economia. Se querem condenar as privatizações, estão dizendo a cada cidadão brasileiro que pegue o celular no seu bolso, na sua bolsa, e jogue na lata de lixo mais próxima. Foi a privatização do setor que permitiu a universalização de acesso da população, por exemplo, à telefonia celular.

Pressionado a assumir figurino de oposição, diferente do mostrado na TV, quando se apresentou como Zé e usou imagens de Lula, Serra mostrou disposição para atacar. Criticou a postura de Lula na campanha e prometeu, se eleito, discutir mudanças na legislação para delimitar ação de chefes de Estado numa eleição.

Serra disse que o PT e sua candidata dividem o Brasil entre bons e maus: Nunca tratei e não vou tratar oposição como inimigos da pátria.

Dizem que o PSDB fez uma oposição de banana. Eu diria que foi soft. Mesmo na oposição, continuamos preocupados com o Brasil. Não vamos mudar de atitude no governo. A grande maioria do PT tem duas caras.

Aécio disse que o governo Lula teria aparelhado a máquina pública: Uma campanha (da Dilma) que se baseou no nós contra eles. Primou pelo aparelhamento da máquina.

A campanha do Serra vai dizer: o Brasil somos todos nós. Não queremos mais um governo a serviço do aparelhamento da máquina.

Itamar anima aliados e cobra de Serra: 'Seja mais o senhor que o marqueteiro'

DEU EM O GLOBO

Para o ex-presidente, tucano não precisa esconder ninguém que o apoie

BRASÍLIA. Político mais aplaudido no encontro da oposição, ontem, Itamar Franco (PPS), ex-presidente da República e senador eleito por Minas, repetiu críticas ao presidente Lula e à candidata Dilma Rousseff (PT), mas fez reparos ao comportamento de José Serra. No discurso, ao afirmar que transmitia uma mensagem de fé e de solidariedade, Itamar disse que Serra tem que corrigir erros, mudar o discurso, ser mais autêntico e não dar tanta importância aos conselhos dos marqueteiros. No encontro, o clima era de grande otimismo, com tucanos e aliados considerando que o favoritismo de Dilma já virou para Serra.

Se não enfrentarmos, ficarmos falando só na nossa biografia, se não mudarmos o nosso discurso... o segundo turno é uma nova eleição. Temos que corrigir erros e aferir a nossa bússola discursou Itamar. Seja mais Serra, seja mais o senhor do que o marqueteiro. Vossa Excelência não precisa tanto de marqueteiros, seja mais Serra. Vossa Excelência tem uma vida limpa. Não precisamos esconder quem quer que seja do nosso lado. O povo quer saber o que pensamos, qual o pensamento dos problemas estruturais.

Ninguém inventou o Brasil. Se não, teríamos que chegar à conclusão de que quem abriu os portos do Brasil não foi dom João VI e sim o presidente Lula.

Itamar reclamou ainda que o governo Lula e sua candidata batiam fortemente em Minas Gerais: Eles levantaram uma tese tão absurda de que Minas não poderia eleger senadores da oposição, e demos uma resposta viril e forte. Os mineiros escolhem seus candidatos.

O discurso do ex-presidente animou os políticos. Ele chegou ao lado de Aécio Neves e do governador reeleito de Minas Gerais, Antonio Anastasia.

Derrotado na eleição para o Senado no Ceará, o atual senador Tasso Jereissati (CE) disse que se sentirá vitorioso se Serra vencer a eleição: Enfrentei uma campanha dificílima, concorrendo contra o presidente da República. Se Serra ganhar, me sinto mais vitorioso do que se tivesse ganho para o Senado.

O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que será uma nova eleição e que o PT está desanimado diante do fato de não ter vencido no primeiro turno.

Essa campanha se mostrou de valores e postura, e temos o candidato que tem um legado de coerência e compromisso. E não esse atraso do personalismo, da companheirada. Lula não é o candidato. O Brasil precisa de instituições fortes e não do personalismo e do atraso. Vamos comparar melhor os dois candidatos.

Estamos confiantes de que vamos conseguir a vitória. O ambiente é cada vez mais favorável acrescentou Anastasia.

O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, afirmou: A Dilma ainda é favorita. Mas entra no segundo turno decepcionada.

O Serra, animadíssimo.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que o partido apostava no segundo turno: Vai acontecer o que o PT nunca imaginou: vitória da oposição, daqueles que representam a liberdade de imprensa, os valores cristãos.

Tucanos planejam unir propostas ambientais de Marina e de Serra

DEU EM O GLOBO

Aliados do presidenciável afirmam que o programa é todo "esverdeado"

SÃO PAULO. Atento à movimentação pelo apoio do PV de Marina Silva, o comando da campanha de José Serra (PSDB) está debruçado sobre propostas em meio ambiente do programa da candidata verde. A ideia é agrupar num único documento os principais pontos do setor, criando convergência maior entre os planos dos dois partidos.

Há uma avaliação no ninho tucano de que a campanha de Serra sai na frente, pois tem como pano de fundo a política ambiental adotada quando ele era governador de São Paulo, tida como uma das mais avançadas no país.

O nosso programa de governo é todo esverdeado, com corte ambiental que passa para todas as áreas explicou o coordenador da campanha presidencial de Serra, Xico Graziano.

O GLOBO teve acesso ao que está previsto no programa de governo do PSDB para o meio ambiente. O documento está dividido em nove itens: código florestal, moratória do desmatamento, pagamento por serviços ambientais, comitês de bacias hidrográficas, Rio São Francisco, ecoturismo, economia verde, zona costeira e diesel limpo.

Entre as primeiras ações, o plano tucano prevê incluir a área de preservação permanente no cômputo da reserva legal para agricultores familiares, desde que se firme compromisso de recuperação ambiental com prazo máximo de dez anos. Também está presente a articulação com setores produtivos rurais de um prazo de cinco anos para suspensão das licenças de desmatamento, assim como a regulamentação do artigo 23 da Constituição, que determina competência dos entes federativos para licenciamento ambiental.

Usando como exemplo iniciativas adotadas por Serra no governo paulista, o programa coloca em pauta a implantação de economia verde, com empresas se adaptando a projetos de sustentabilidade.

Ambientalistas ligados ao PSDB destacam o projeto de uma montadora em Piracicaba que teve de se adaptar a protocolos, como proteção do lençol freático, replantio e encaminhamento de dejetos.

O programa prevê que as empresas se antecipem às questões ambientais, antes de implantadas disse Graziano.

O programa está sob apreciação de Serra, que tem pedido aos coordenadores que levem em conta o maior número de iniciativas de seu governo.

São Paulo é tido como um dos estados que adotaram uma das mais audaciosas metas para políticas de mudança climática. O governo, a partir da lei 13.798 de 2009, determinou como objetivo até 2020 reduzir em 20% emissões de dióxido de carbono.

Dentro do Projeto Etanol, o governo tem diminuído a meta de redução da queima de palha de cana de açúcar. Do total de usinas em São Paulo, 85% foram signatárias do protocolo agroambiental. Outra iniciativa é que, de 1997 até 2009, o número de lixões a céu aberto caiu de 502 para sete. A Secretaria de Meio Ambiente estima que até dezembro não haverá lixão desse tipo no estado.

O desmatamento é outro item que, segundo tucanos, aproxima Serra do PV. No início da gestão de Serra, em 2006, verificou-se o desmatamento autorizado de 6.268 hectares, sendo que o trabalho em 3.889 hectares foi autuado pela Polícia Militar Ambiental.

Diz relatório da secretaria que, para cada hectare desmatado em 2009, 110 hectares estão sendo recuperados.

Para incentivar a política ambiental nos municípios, o então governador determinou que verbas disputadas por diferentes cidades são dadas àquela que cumprir mais itens de uma lista de prioridades ecológicas.

Uma linha de celular por habitante

DEU EM O GLOBO

A maior democratização da telefonia após a privatização é inegável. Em 1998 ano em que a Telebrás foi vendida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, por R$ 22,057 bilhões, fatiada em 12 empresas havia telefones em apenas 32% dos lares brasileiros. Em 2009, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, os telefones, fixos ou celulares, chegavam a 84,3% das residências.

A grande vedete da privatização foi a telefonia celular. Se era artigo inexistente na vida do brasileiro comum antes de 1998, hoje há praticamente uma linha por habitante. Em relação aos 7,4 milhões de linhas há 12 anos, houve um salto de 2.500%, para 190 milhões.

Desse total, são 82% pré-pagos e 18%, pós-pagos.

Ter uma linha fixa pelos caminhos oficiais, antes da privatização, era tarefa dura. Imperava o mercado paralelo, em que uma linha podia custar US$ 10 mil. Telefone era um bem, declarado no Imposto de Renda. Em julho de 1998, mês da venda da Telebrás, existiam 20,37 milhões de telefones fixos no Brasil. Atualmente, são 44,2 milhões de linhas instaladas, 117% a mais. E boa parte delas está ociosa, ou seja, sobra telefone fixo. As linhas em operação somam 32,6 milhões, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Ainda há muitos desafios, como baratear as tarifas, melhorar os serviços e universalizar mais a telefonia. Mas a privatização foi o chute inicial para investimentos que permitiram que o país evoluísse em telecomunicações.

E, tão importante quanto a privatização da telefonia, foi a decisão de derrubar o monopólio da Embratel no provimento de internet.

Marina: PV pode não ter posição única

DEU EM O GLOBO

Verde admite que divergências são grandes e que há chance de que ela tome caminho distinto do resto do partido

Sérgio Roxo


SÃO PAULO. A verde Marina Silva que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais, com 19,6 milhões de votos admitiu ontem a possibilidade de tomar um caminho diferente do PV neste segundo turno.

Em duas entrevistas, ela lembrou que as divergências dentro do partido podem inviabilizar uma posição única: Obviamente, quando se vai para uma discussão democrática, sempre há a possibilidade de diferenças, e há a possibilidade de convergências afirmou, no final da tarde.

Mais cedo, em entrevista à Rádio Jovem Pan, ao ser perguntada se seguirá obrigatoriamente o rumo decidido pelo partido, ela disse que não se pode dizer que será uma posição única. Marina disse considerar natural que ocorram divergências dentro da legenda: Em um partido como o PV não tem como imaginar, até pela diversidade, um processo unânime. Temos posições diversificadas.

E, por isso, que, quando me filiei, asseguramos a realização de uma convenção para definir a posição caso houvesse segundo turno, com garantia à minoria do direito à manifestação.

Marina vai se reunir com Dilma e Serra Antes da convenção do PV, marcada para o próximo dia 17 quando será decidida a posição do partido , Marina deverá ter reuniões separadas com Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Os dois candidatos receberão uma lista de propostas que, na visão dos verdes, devem ser incorporadas aos programas dos dois finalistas.

Convenção decisiva será no dia 17

SÃO PAULO. O PV realizará uma convenção dia 17 para decidir sua posição no segundo turno. Votarão os 60 membros da executiva nacional, 15 deputados eleitos, 11 candidatos a governador derrotados no primeiro turno, candidatos a senador e 15 pessoas que não pertencem ao partido, mas apoiaram Marina Silva: são cinco representantes do Movimento Marina Silva (rede de colaboradores na internet), cinco integrantes do grupo que fez o programa de governo e cinco religiosos que apoiaram Marina.

A executiva é composta, na sua maioria, por dirigentes próximos ao tucano José Serra. Com a incorporação de mais pessoas, a tese da neutralidade deve ganhar forças.

Em reunião com aliados, opção por neutralidade no 2º turno ganha força

DEU EM O GLOBO

Vice de Marina, Guilherme Leal afirma que não subirá em palanques

SÃO PAULO. Para tomar a sua decisão sobre qual caminho defenderá para o PV no segundo turno da eleição presidencial, Marina Silva se reuniu ontem por cerca de quatro horas com segmentos da sociedade que participaram de sua campanha.

Segundo um dos participantes do encontro, a maioria defendeu uma posição de neutralidade. Alguns até declaram voto no tucano José Serra ou na petista Dilma Rousseff; ainda assim, afirmaram que a posição mais correta para Marina e o PV seria a de não declarar apoio a nenhum deles.

A preocupação principal é com o risco de que a terceira colocada na eleição perca o capital político acumulado com os quase 20 milhões de votos obtidos. Assim, ela deixaria de representar para a sociedade um terceira via à polarização política entre PT e PSDB, que marca a disputa eleitoral nacional há 16 anos.

Das cerca de 60 pessoas que estiveram na reunião, apenas o teólogo Leonardo Boff, que apoiou Marina, manifestou na saída a sua posição. Ele declarou voto em Dilma. O empresário Guilherme Leal, vice na chapa da verde, afirmou que, mesmo que assuma apoio a um dos candidatos finalistas, terá uma posição discreta e não subirá em palanques.

Não faz parte dos meus planos (subir em palanque).

Acho isso pouco provável.

Marina: resultado da votação foi um alerta da população Durante a campanha, Leal, sócio da empresa de cosmético Natura e dono de um patrimônio de R$ 1,2 bilhão, já havia declarado ao GLOBO que Marina deveria ficar neutra, caso não fosse ao segundo turno.

As pessoas que estavam na reunião deram contribuições muito relevantes de como acham que deve ser o o procedimento. De fato, há uma preocupação, não na velha linguagem de manter o capital eleitoral, mas na ideia de como é que a gente faz para que essa manifestação da sociedade (na eleição) possa significar um novo processo, e não perder o vínculo com esse processo disse Marina.

A candidata disse acreditar que a votação do último domingo foi um alerta da população porque mesmo o presidente, com 80% de aprovação, não conseguiu eleger a sua candidata; e Serra só foi para o segundo turno por causa dos votos dela. Ela acrescentou que o fato de os senadores tucanos Arthur Virgílio (AM) e Tasso Jereissati (CE), dois dos mais duros opositores do governo Lula, não terem conseguido se reeleger indica que as pessoas não querem a oposição pela oposição.( Sérgio Roxo)

Oposição ironiza apoio de Ciro à candidata petista


DEU EM O GLOBO

Roberto Freire, ex-aliado, considera o fato como "insensato"

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. A oposição comemorava ontem a indicação do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) para ser um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff.

Para o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), que defendeu a candidatura presidencial de Ciro em 2002, o deputado, conhecido pelo seu destempero verbal, poderá atrapalhar mais do que ajudar.

Coisa meio insensata. Ciro vai coordenar um ajuntamento de assaltantes? Pois é assim que ele se referiu ao PMDB. Como fica o PMDB nisso? O Ciro tem dificuldades para coordenar a própria campanha, imagine a dos outros. Posso falar por experiência própria, quando fizemos a campanha de 2002 lembrou Freire, no encontro dos aliados de José Serra, em Brasília.

O ex-senador Jorge Bornhausen (DEM-SC) foi outro que ironizou a escolha de Ciro: Ciro vai espanar o PMDB.

Gostei muito da indicação.

Sem esconder a mágoa do antigo aliado cearense, que na campanha deste ano ajudou o governo Lula a lhe impor a derrota no Ceará, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) evitou comentários.

Mas Ciro foi o assunto dos bastidores no encontro da oposição, com governadores, senadores e deputados eleitos.

Escolha de Ciro desagrada ao PMDB

DEU EM O GLOBO

Partido foi xingado pelo deputado que virou coordenador da campanha de Dilma; peemedebistas cobram mais participação

Maria Lima

BRASÍLIA. O PMDB do vice na chapa governista, Michel Temer, não quer esperar a eventual vitória de Dilma Rousseff para saber qual o tamanho de sua fatia na divisão do poder. A petista já começou a administrar o clima de insatisfação geral no PMDB.

Ela mesma conversou ontem com o ex-ministro e candidato derrotado ao governo da Bahia, Geddel Vieira Lima, que ameaçava dissidência e marcou evento em Salvador, na sexta-feira, para lançar a campanha do segundo turno em favor da petista.

Outro fator que motivou a cobrança do PMDB foi a indicação do deputado Ciro Gomes (PSBCE) para ser um dos quatro coordenadores da campanha de Dilma Rousseff. Causou mal-estar dentro do PMDB e foi motivo até de chacota nas reuniões reservadas do PMDB ontem.

Integrantes da cúpula do partido avaliaram que Ciro tem um discurso muito radical, especialmente contra o PMDB ele já chamou Temer de chefe de um ajuntamento de assaltantes , e que pode não atrair mais apoios, e sim afastar pessoas.

Lembraram que o PMDB foi alvo de pesados ataques do deputado.

Em várias ocasiões, Ciro chamou o PMDB de quadrilha e disse que a prática do partido é a da frouxidão moral.

Os peemedebistas viram no gesto uma escolha pessoal de Lula, para agradar ao governador reeleito do Ceará, Cid Gomes, e ainda ao governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB.

O ex-governador Moreira Franco procurou contemporizar a reação a Ciro no PMDB: Ele foi indicado coordenador.

O PMDB, na sua maioria, apoia a indicação. Não há restrições significativas.

Mesmo assim, o PMDB prometeu engajamento, mas quer contrapartidas. Em reunião num hotel de Brasília, Michel Temer liderou ontem um ato de demonstração de força com cerca de cem lideranças expressivas. E o recado foi claro: o PT terá que abrir espaço para que o vice e o partido tenham visibilidade, inclusive na TV. E a cúpula do PMDB quer deixar amarrado um entendimento sobre a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado em fevereiro.

Em discurso, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), foi o porta-voz da insatisfação.

Batendo no peito e em tom exaltado, disse que chegou a hora da verdade.

Não aceitamos essa história de eleição para um partido só ganhar. O PT é um grande partido, mas ou ganhamos juntos ou não ganha ninguém conclamou o líder peemedebista.

Eu me mantive discreto no momento em que não se exigia muito a minha presença, não sei se por erro da coordenação.

Mas eu disse para Dilma que queremos uma participação mais efetiva discursou Temer.

Plano de Dilma foca ambiente e religião

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Programa, a ser lançado 20 dias antes do segundo turno, corteja eleitorado de Marina e aborda temas polêmicos

Texto com novas metas, lançado com 4 meses de atraso, visa neutralizar perda de voto por aborto e ataques do PT à mídia

Ana Flor, Valdo Cruz, e Márcio Falcão

DE BRASÍLIA - A campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência lança na próxima semana o programa de governo da candidata, deixado de lado no primeiro turno. Além de defender a democracia, liberdade de expressão e religiosa e o direito a vida, o documento terá ênfase na sustentabilidade e no meio ambiente.

A divulgação, quatro meses após o início da campanha, de um programa com ênfase ambiental tem por objetivo atrair o voto dos eleitores de Marina Silva (PV).

Agora prioritária, a questão ambiental aparecia de forma genérica nos dois programas apresentados no registro da candidatura.

Segundo a avaliação de aliados, o destaque para questões ambientais no documento evitaria que o debate fosse pautado pelo PV e pelos "marineiros".

Ao ressaltar a liberdade de imprensa no documento, a campanha visa neutralizar o desgaste causado pelos ataques da candidata e do presidente Lula à imprensa.

Ontem, o candidato a vice Michel Temer afirmou que o primeiro ponto será o compromisso com a "democracia, liberdade de expressão e religiosa e o direito à vida".

VACINA

A defesa da liberdade religiosa é uma tentativa de estancar a perda de votos no eleitorado religioso, devido à mudança de posição de Dilma em relação ao aborto.

Segundo o coordenador do programa de governo, Marco Aurélio Garcia, o texto não se estenderá no tema do aborto porque não há intenção de dar ênfase às polêmicas religiosas, mas à comparação dos projetos do governo atual e o tucano, de Fernando Henrique Cardoso.

"Essa discussão [sobre o aborto] é uma tentativa de setores da oposição de dividir votos religiosos. É usar a religião como fator de divisão, quando ela é na realidade um fator de união", disse.

O programa será batizado de "13 Compromissos de Dilma com o Brasil".

A campanha petista afirma que chegou a elaborar 13 pontos para um programa de governo ainda no primeiro turno, mas eles não chegaram a ser divulgados.

Em julho, o PT registrou no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como programa de governo um documento aprovado em congresso nacional do partido, em fevereiro.

O texto continha reivindicações das alas mais à esquerda do PT -como tributação de grandes fortunas, redução da jornada de trabalho e combate "ao monopólio" dos meios de comunicação.

Após repercussão negativa, o partido retirou o texto e fez uma versão mais amena.

Para FHC, Dilma lida com os temas ambientais como Geisel

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Gustavo Hennemann

BUENOS AIRES - A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, considera os "temas ambientais um obstáculo" para alcançar metas econômicas e isso deve beneficiar José Serra (PSDB) no segundo turno das eleições, segundo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Em entrevista concedida anteontem ao jornal argentino "La Nación", FHC disse que Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva são desenvolvimentistas com uma visão parecida à do general Ernesto Geisel (1974-1979), presidente do regime militar.

Ambos consideram prioridade o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), segundo FHC, e veem "temas ambientais" como entraves ao desenvolvimento.

Segundo o ex-presidente, Serra fez mais do que ninguém pelo meio ambiente em São Paulo e, por isso, tem vantagem sobre Dilma para cooptar parte dos quase 20 milhões de votos recebidos por Marina Silva (PV), que tem o argumento ecológico como base de seu discurso.

Na mesma entrevista, FHC valorizou o fato de Dilma não ter sido eleita já no primeiro turno. "É importante para a democracia [ter segundo turno], porque põe freio à ideia de que o Lula tem uma maioria esmagadora e que aquele que tem a maioria poder fazer de tudo", afirmou.

As falar das chances de Serra, disse que houve um impacto na opinião pública que fez o PT perder votos e que essa tendência pode continuar. "Claro que não sou ingênuo e sei que não é algo fácil, mas eu acredito que ainda podemos ganhar", disse.

Questionado sobre o papel de intermediário entre Serra e Marina, atribuído a ele pelo PSDB, afirmou que ajudará o tucano em tudo o que ele pedir. No entanto, disse que é mais importante formular uma mensagem que coincida com o "estado de ânimo dos eleitores de Marina" do que negociar com o PV.

FHC voltou a criticar a atuação de Lula na campanha de Dilma e a dizer que ele "deixou de ser chefe de uma nação para ser chefe de uma facção" no período.

Governo evita convite a Dilma e Erenice

DEU EM O GLOBO

Senadores governistas faltaram à sessão na CCJ para que oposição não conseguisse aprovar convocação

Isabel Braga

BRASÍLIA. O governo determinou aos senadores de sua base que não comparecessem à sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Casa ontem.

A medida drástica foi determinada para evitar qualquer tipo de risco na aprovação, na véspera da campanha de segundo turno, do convite à candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, e à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, para darem explicações sobre denúncias de suposto lobby na pasta.

A atitude irritou o presidente da Comissão, senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Ele alegou que deu sua palavra aos governistas de que não iria colocar os requerimentos em votação.

Governo não deixou que a comissão trabalhasse Para Demóstenes, a manobra do governo foi ruim porque impediu a CCJ de votar os outros 82 projetos que estão pendentes de apreciação na comissão, e demonstrou falta de confiança em suas atitudes.

Segundo ele, o governo mandou um recado avisando que seus senadores não compareceriam ao encontro.

Eu sou de palavra. O que eu acerto, eu cumpro. Mas durante o processo político, as pessoas começam a duvidar de tudo. O governo não deixou que a Comissão de Justiça trabalhasse hoje. Temos 82 projetos, a casa está cheia. Depois das eleições vamos votar, e aprovar ou rejeitar.

É convite, elas nem são mais autoridades, podem re-cusar disse Demóstenes.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) admitiu que o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que vai deixar o cargo para participar da campanha de Dilma, orientou os senadores da base a não comparecer à reunião da CCJ.

Suplicy afirmou, no entanto, que a estratégia precisaria ter sido melhor discutida com os senadores da base.

Houve, da parte do Ministério (das Relações Institucionais), do Padilha, a orientação para que não houvesse presença hoje. Mas isso precisa ser objeto de diálogo entre Padilha e os senadores. É preciso que o governo tenha postura de dizer que é legítimo os senadores terem direito às informações sobre qualquer problema.

Nós, do PT, sempre tivemos postura de apurar tudo. Não vejo por que razão a Erenice não pudesse vir aqui e esclarecer o que aconteceu, se erros foram cometidos, que levaram Lula a afastá-la, e que os erros sejam aqui esclarecido.

O senador Álvaro Dias (PSDBPR) também criticou a estratégia do governo. Segundo ele, a bancada governista poderia ter usado sua maioria para rejeitar os requerimentos. Dias acredita que o governo quis evitar um desgaste de rejeitar a convocação de Dilma e Erenice para prestar esclarecimento sobre as denúncias: É evidente que há um receio do governo com relação ao desgaste eleitoral inevitável.

Não há o desejo de aprofundar investigações, para que não se revele fatos que podem comprometer ainda mais a imagem do governo.

Planalto evita que Erenice e Dilma falem de lobby ao Senado

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Senadores aliados ao Planalto esvaziaram reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que votaria convites a Dilma Rousseff e a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra para explicar acusações de lobby.

Planalto manobra para evitar ida de Dilma ao Senado

Governistas esvaziam reunião que votaria convites para candidata e Erenice explicarem tráfico de influência

Eduardo Suplicy diz que orientação partiu de Alexandre Padilha, que saiu de férias para reforçar campanha

Nancy Dutra e Valdo Cruz

DE BRASÍLIA -Senadores aliados ao presidente Lula foram orientados a não comparecer à reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que votaria convites à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra para explicar indícios de tráfico de influência na pasta.

Segundo o senador Eduardo Suplicy (PT), o pedido partiu do ministro Alexandre Padilha. "Houve, da parte do ministério [de Relações Institucionais], a orientação para que não houvesse a presença hoje", afirmou Suplicy.

Uma reunião da CCJ do Senado foi convocada ontem pelo presidente da comissão, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), para discutir os requerimentos de autoria de seu colega Alvaro Dias (PSDB-PR). A sessão não foi aberta por falta de quorum.Dias afirmou que os governistas poderiam ter usado a maioria para rejeitar os requerimentos, mas preferiram evitar "desgaste político".

REFORÇO

Depois do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) foi convocado para reforçar a campanha de Dilma Rousseff (PT).

Sua principal missão será cuidar dos contatos com parlamentares e da agenda de mobilização de movimentos sociais. O foco dessa atuação é trazer de volta o eleitor que estava disposto a votar em Dilma mas optou por Marina Silva. A petista começou a cair nas pesquisas após denúncias de tráfico de influência na Casa Civil.

Padilha sairá em férias para integrar a equipe de coordenação da petista. Sua participação foi pedido de Dilma e de seus coordenadores, feito diretamente a Lula.

Responsável pela articulação com o Congresso e prefeituras no governo, Padilha vai ser responsável por envolver deputados e senadores na busca de votos para Dilma.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Pela rua :: Ferreira Gullar

Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
solto ao fumo da gasolina queimada.