Prefeito do Rio
chega ao PSD interessado em montar aliança que pode reunir apoiadores de Lula e
Ciro
Por Cristian Klein
e Francisco Góes / Valor Econômico
RIO - Equilibrista por
natureza, o prefeito do Rio Eduardo Paes saiu nesta semana do DEM e filiou-se
ao PSD, para onde também irá seu candidato a governador em 2022, o presidente
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Quem quiser acreditar que eu tô
brincando com Felipe Santa Cruz vai perder tempo”, afirma em entrevista
ao Valor.
Por outro lado, a
elasticidade de Paes o faz lançar pontes para a esquerda, numa aliança que
poderia ser encabeçada pelo deputado federal Marcelo Freixo (Psol), que deve
migrar para o PSB, ou pelo ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT). Paes
defende um palanque amplo e aberto a vários presidenciáveis, do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT), incluindo o
balão de ensaio do próprio PSD, onde o presidente nacional da legenda, Gilberto
Kassab, busca filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Paes faz política
de boa vizinhança até com o governador Cláudio Castro (PL), ligado ao
presidente Jair Bolsonaro e com quem se estranhou há dois meses, por causa de
medidas de restrição contra a pandemia. “Tudo pode acontecer. Ontem estavam me
dizendo que o [ex-ministro da Saúde Eduardo] Pazuello vai ser candidato a
governador... Então, numa dessas, Cláudio vira um cara mais de centro. Faltando
um ano para a eleição, há chance de tudo”, diz Paes
O prefeito reiterou
sua posição de não multar Bolsonaro por ter promovido aglomeração, com
apoiadores sem máscaras, no domingo: “É o povo que decide, é na eleição. Temos
condições de julgar e avaliar. Não vou fazer o jogo do presidente da República,
não vou ficar animando festa de gente que está errada”.
A seguir, os
principais trechos da entrevista:
Valor: Por que escolheu o PSD para se filiar?
Eduardo Paes: A
origem disso é o conflito do [deputado federal] Rodrigo Maia no Democratas.
Rodrigo, nesse período mais difícil para mim, de quatro anos fora do poder,
apanhando de tudo que é lado, foi muito solidário, muito correto comigo,
estendeu a mão. Ajudou, defendeu publicamente, do alto da liderança na
presidência da Câmara, me viabilizou duas eleições. Então eu não tinha como não
ser solidário, nesse movimento dele. Tenho pelo ACM Neto uma relação de muita
amizade. Dois amigos brigaram. Só que um está no meu terreiro e outro não está.
Valor: O PSD está virando um novo MDB?
Paes: Se
for sem alguns dos vícios... quando você olha para os quadros - [Antonio]
Anastasia, Kalil, Geraldo [Alckmin, no PSDB, sondado pelo partido], [Paulo]
Hartung [sem filiação partidária, sondado pelo partido], o Otto [Alencar],
estamos falando de um partido com quadros interessantes. O que virou a política
brasileira? Um dia todo mundo quer que eu multe o presidente, aí você é xingado
com ódio das pessoas [por não multar o presidente]. No outro você fecha uma
escola porque estão cantando “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, essas
maluquices... E aí você demite a direção da escola e são os malucos do
bolsonarismo te xingando. O Brasil precisa de equilíbrio. Precisamos de
política para resolver o problema brasileiro. Se tirar o Michel [Temer] no meio
do caminho, os nossos dois últimos presidentes eleitos, Dilma [Rousseff] e
Bolsonaro, não são os maiores talentos da política. E nossa tarefa é de
construção de consensos.
Valor: Porque agora a filiação?
Paes: Porque
não nasci em Minas Gerais, nem sou político das antigas e gosto de decidir as
coisas rapidamente. Quero construir um projeto, não quero ficar esperando, ver
qual é a nau que vai voar melhor e eu vou junto... Não vou sair [candidato a
governador], mas quem quiser acreditar que acredite e quem não quiser que se
rasgue e espere. O Felipe [Santa Cruz] é o meu candidato a governador. Uma
candidatura como a do Felipe, ela precisa ser construída, não vou parar de
construir por um minuto.
Felipe Santa Cruz é meu candidato a governador. Eu
não vou sair [candidato], quem quiser que acredite”
Valor: Fechado a outros nomes?
Paes: Estamos
conversando com outros quadros? Estamos. Estamos conversando com o Freixo, tem
o Rodrigo Neves, me dou bem com o Cláudio, tenho uma boa relação com ele, mas
meu candidato é o Felipe. Acho que é o quadro mais qualificado. A própria
posição do Felipe é de conversar, discutir. Agora, eu acho o meu candidato
melhor.
Valor: O que falta para uma aliança com Freixo?
Paes: Primeiro
é tempo, muito tempo. E depois, o Psol não quer aliança. Acho que facilita e
muito [se Freixo se filiar ao PSB].
Valor: O senhor fez campanha falando da importância da experiência, mas
aposta agora em alguém sem carreira política prévia, não é contraditório?
Paes: É e
não é [contraditório]. Primeiro, temos um problema de alternativas no Rio,
muito objetivamente, se for olhar os nomes que estão colocados, tem só o
Rodrigo [Neves] com alguma experiência na prefeitura de Niterói. Acho que o
Felipe é um cara da política e o tema que a gente precisa resolver no Rio de
Janeiro, e aí conheço a capacidade dele de liderar, de aglutinar, chama-se
segurança pública.