Março
já é o mais cruel dos meses: leitos de UTI faltando, hospitais entrando em
colapso, cadáveres se empilhando nos cemitérios. O Brasil é hoje visto como
risco sanitário internacional. O ambiente propício à propagação do Sars-CoV-2
tornou o país o laboratório ideal para a evolução de variantes mais
contagiosas. Enquanto o darwinismo corre solto, a displicência do Planalto deu
origem a reações desencontradas de estados e municípios, cujos governantes,
apresentados dia após dia a novos recordes de mortos, têm decretado medidas de
restrição mais duras para lidar com a pandemia fora de controle.
O presidente Jair Bolsonaro diz que “criaram pânico”, desdenha as mortes — “chega de frescura, de mimimi; vão ficar chorando até quando?”— e agride quem cobra vacinas —“só se for na casa da tua mãe (sic)”. Diante de tanta grosseria e da omissão irresponsável, secretários estaduais endereçaram à nação um grito de socorro. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) propôs toque de recolher — já em vigor em alguns estados — em âmbito nacional; lockdowns nas cidades em que a ocupação de UTIs ultrapassar 85%; proibição de shows, cultos religiosos e atividades esportivas; fechamento de praias e bares; barreiras sanitárias nacionais e internacionais. Pede ainda o reconhecimento do estado de emergência, recursos extraordinários para o SUS e a volta do auxílio emergencial.