Wilson Figueiredo
Jornalista
DEU NO JORNAL DO BRASIL
A falta de modéstia presidencial valeu como sinal para que as rãs do brejo em que se transformou a coalizão de partidos ao redor de Lula começassem a coaxar e inaugurassem o coro em favor do terceiro mandato. Para se apresentar de peito aberto, como o melhor presidente que a República conheceu por via eleitoral, era preciso apenas estar convencido. Lula sempre esteve e não esconde o bom juízo que faz a seu próprio respeito. Não havia tempo a perder numa questão que requer atenção e cuidado nos quatro anos do mandato, e se decide mesmo nas urnas.
As rãs não cessavam de insistir, dentro e fora do Congresso, em mais um mandato para Lula, e tanto azucrinaram a paciência alheia que levaram o presidente a recolher o assunto ao depósito das falsas soluções para calar a suspeita generalizada que o comprometia perante a História (do Brasil). Já começava a tresandar aquela conversa de reforma constitucional fora de hora, quando o presidente desautorizou a campanha e deu como garantia (sem pedir troco) a palavra de que não era e não seria candidato em hipótese alguma. A postura tão taxativa foi contraproducente, pois sempre há mais de uma hipótese para se mudar o curso da Constituição e contornar as urnas. Se era assim antes, ficou muito mais depois que Lula declarou a crise internacional uma tempestade nacional em copo d"água, da qual (a tempestade, claro) vive a oposição para não morrer de sede.
O terceiro mandato passou a ser para a imagem de Lula, enfunada pelas pesquisas, o mesmo que a renúncia foi para Jânio Quadros desde a prefeitura de São Paulo. Lado a lado o tempo todo. Lula e o terceiro mandato tornaram-se também inseparáveis em qualquer raciocínio político em torno de 2010. Da própria extroversão o presidente se ocupa diariamente. Mas, assim como não era possível considerar Jânio sem incluir o risco de renúncia em algum ponto do percurso, ninguém entendeu o alto investimento de Lula apenas para passar o tempo, considerando-se a versatilidade de que ele é capaz e a natureza do nosso arraigado presidencialismo.
Lula teve discernimento para fazer uma curva, sair pela tangente e ver a candidatura Dilma Rousseff com olhos de eleitor. Por aí fica esperando a hora de trocar de roupa e de papel. Fez da ministra a candidata do peito e do PAC, com tratamento preferencial, enquanto as rãs queremistas faziam a zorra para o assunto não esfriar. Adiantou-se ao PT, que ficou chupando pirulito no recreio, e às manobras do PMDB, que é bom garfo, tem olho gordo e peso parlamentar respeitável. Quer conferir se a sua preferência pela ministra-chefe da Casa Civil pegará de muda e garantirá votos suficientes. O enxoval da candidata foi o pré-sal, que faz a parte que lhe compete. Mas, de modo geral, todos se preparam mesmo é para o imprevisível.
De fora para dentro, o Brasil se posta como ilha incólume aos maus ventos e aberto aos bons pressentimentos. De dentro para dentro, Lula fatura o otimismo do fim de ano sem baixar os juros e a guarda. De dentro para fora, o Brasil não é o roto entre esfarrapados, mas um país com capital político da classe média que se expande e chega ao consumo. Já se foi o tempo em que crises políticos eram patrocinadas pela oposição. Governos sempre têm a faca e o queijo à mão. E nada mais indicado do que a via pré-eleitoral para se apresentar uma crise daquelas cuja razão fundamental fica nos escombros da Constituição soterrada. Lembremo-nos de 1937, mas sem esquecer 1930, a única revolução com saldo. A História não é repetente, mas os políticos são reincidentes. Depois de cem anos sem reeleição, tudo indica que esse equívoco veio, a pretexto de ajudar a democracia, para ficar. Cada presidente que se reelege ressalva que, em princípio, é contra o segundo mandato. Aceita pelo bem de todos e a felicidade geral que, esta sim, também quer ficar. Lula ressalva que não aceita em hipótese alguma o terceiro mandato.
Um passo adiante. O terceiro mandato começou a zumbir antes que a candidatura Dilma Rousseff levantasse vôo, e tem, este ano, 12 meses para fazer ruído, enquanto como diria o Pacheco (do Eça) Lula faz História.
Jornalista
DEU NO JORNAL DO BRASIL
A falta de modéstia presidencial valeu como sinal para que as rãs do brejo em que se transformou a coalizão de partidos ao redor de Lula começassem a coaxar e inaugurassem o coro em favor do terceiro mandato. Para se apresentar de peito aberto, como o melhor presidente que a República conheceu por via eleitoral, era preciso apenas estar convencido. Lula sempre esteve e não esconde o bom juízo que faz a seu próprio respeito. Não havia tempo a perder numa questão que requer atenção e cuidado nos quatro anos do mandato, e se decide mesmo nas urnas.
As rãs não cessavam de insistir, dentro e fora do Congresso, em mais um mandato para Lula, e tanto azucrinaram a paciência alheia que levaram o presidente a recolher o assunto ao depósito das falsas soluções para calar a suspeita generalizada que o comprometia perante a História (do Brasil). Já começava a tresandar aquela conversa de reforma constitucional fora de hora, quando o presidente desautorizou a campanha e deu como garantia (sem pedir troco) a palavra de que não era e não seria candidato em hipótese alguma. A postura tão taxativa foi contraproducente, pois sempre há mais de uma hipótese para se mudar o curso da Constituição e contornar as urnas. Se era assim antes, ficou muito mais depois que Lula declarou a crise internacional uma tempestade nacional em copo d"água, da qual (a tempestade, claro) vive a oposição para não morrer de sede.
O terceiro mandato passou a ser para a imagem de Lula, enfunada pelas pesquisas, o mesmo que a renúncia foi para Jânio Quadros desde a prefeitura de São Paulo. Lado a lado o tempo todo. Lula e o terceiro mandato tornaram-se também inseparáveis em qualquer raciocínio político em torno de 2010. Da própria extroversão o presidente se ocupa diariamente. Mas, assim como não era possível considerar Jânio sem incluir o risco de renúncia em algum ponto do percurso, ninguém entendeu o alto investimento de Lula apenas para passar o tempo, considerando-se a versatilidade de que ele é capaz e a natureza do nosso arraigado presidencialismo.
Lula teve discernimento para fazer uma curva, sair pela tangente e ver a candidatura Dilma Rousseff com olhos de eleitor. Por aí fica esperando a hora de trocar de roupa e de papel. Fez da ministra a candidata do peito e do PAC, com tratamento preferencial, enquanto as rãs queremistas faziam a zorra para o assunto não esfriar. Adiantou-se ao PT, que ficou chupando pirulito no recreio, e às manobras do PMDB, que é bom garfo, tem olho gordo e peso parlamentar respeitável. Quer conferir se a sua preferência pela ministra-chefe da Casa Civil pegará de muda e garantirá votos suficientes. O enxoval da candidata foi o pré-sal, que faz a parte que lhe compete. Mas, de modo geral, todos se preparam mesmo é para o imprevisível.
De fora para dentro, o Brasil se posta como ilha incólume aos maus ventos e aberto aos bons pressentimentos. De dentro para dentro, Lula fatura o otimismo do fim de ano sem baixar os juros e a guarda. De dentro para fora, o Brasil não é o roto entre esfarrapados, mas um país com capital político da classe média que se expande e chega ao consumo. Já se foi o tempo em que crises políticos eram patrocinadas pela oposição. Governos sempre têm a faca e o queijo à mão. E nada mais indicado do que a via pré-eleitoral para se apresentar uma crise daquelas cuja razão fundamental fica nos escombros da Constituição soterrada. Lembremo-nos de 1937, mas sem esquecer 1930, a única revolução com saldo. A História não é repetente, mas os políticos são reincidentes. Depois de cem anos sem reeleição, tudo indica que esse equívoco veio, a pretexto de ajudar a democracia, para ficar. Cada presidente que se reelege ressalva que, em princípio, é contra o segundo mandato. Aceita pelo bem de todos e a felicidade geral que, esta sim, também quer ficar. Lula ressalva que não aceita em hipótese alguma o terceiro mandato.
Um passo adiante. O terceiro mandato começou a zumbir antes que a candidatura Dilma Rousseff levantasse vôo, e tem, este ano, 12 meses para fazer ruído, enquanto como diria o Pacheco (do Eça) Lula faz História.