quinta-feira, 5 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: ‘hora-extra’

"O RH da prefeitura vai ter de fazer hora-extra para fazer a rescisão de mais de 900 petistas com cargos de confiança em Belo Horizonte."

Aécio Neves, senador (PSDB) sobre o rompimento da aliança entre PSB e PT na capital mineira e o anúncio de que os petistas vão deixar os postos. Folha de S. Paulo, 5/7/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Senado derruba voto secreto em cassações
Mantega: gastança do Congresso ‘quebra o Estado’
PT em desvantagem em 9 de 10 capitais
Paraguai decide retirar embaixador de Caracas
Dilma reage à ameaça chinesa no Mercosul

FOLHA DE S. PAULO
Cientistas dizem ter achado provável 'partícula de Deus'
Governo prevê PIB de 2% e recuperação somente em 2013
Mujica diz que, no Mercosul, o fator político venceu o jurídico
Agenda desmente Haddad sobre pedido de verba de SP

O ESTADO DE S. PAULO
Câmara de SP vai mudar registro de presença de vereador
CCJ aprova processo de cassação de Demóstenes
Delta perderá seu maior contrato com a União
Mantega defende real desvalorizado
Após vídeo, Paraguai retira embaixador da Venezuela

VALOR ECONÔMICO
Dilma volta a ser 'mãe' do PAC para destravar obras
Em um mês, preço agrícola aumenta 21%
Calote tira espaço de banco grande e força crédito na agência
Sob o signo do novo, candidatos tentam bater o favorito Serra
Planos de fidelização reduzem em até 70% preço de remédios

BRASIL ECONÔMICO
Empresas perdem US$ 80 bilhões por ano com gargalos na logística
Mantega aos empresários: "Libertem o espírito animal"
Empresas perdem US$ 80 bilhões por ano com gargalos na logística
Chuva de papel
Mantega aos empresários: "Libertem o espírito animal"

CORREIO BRAZILIENSE
Servidor do TJDF chega a ganhar mais de R$ 100 mil
Senado acaba com o voto secreto na cassação de parlamentar
Maluf, agora, beija a mão da presidente

ESTADO DE MINAS
Falsas seguradoras dão golpe de R$ 3 bi
Lacerda e Patrus já têm os vices
Comissão dá sinal verde à cassação de Demóstenes

ZERO HORA (RS)
Onda de transparência leva poderes do Estado a divulgar os salários
Venda de etanol cai 66% desde 2009 no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Greve nas mãos da Justiça
Rands deixa o PT e apoia Geraldo Júlio
Demóstenes pode ser cassado no dia 11

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Ontem, Dilma disse que o governo não se meteria, mas já começa a ‘dar uma mãozinha”

Perto do prazo final, Dilma prestigia Marinho e Paes

Antes da proibição pela Justiça Eleitoral, presidente participa de entrega de equipamentos em São Bernardo e no Rio

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Apesar ter dito que não participaria de campanhas nos municípios, a presidente Dilma Rousseff já começou a "dar uma mãozinha" a alguns dos candidatos preferenciais do Planalto. Está programada para hoje a participação dela na inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em São Bernardo do Campo, maior cidade do ABC paulista e terra do ex-presidente Lula.

Dilma subirá ao palanque ao lado do prefeito Luiz Marinho (PT), candidato à reeleição. Amanhã, tem agendas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). As participações foram marcadas às vésperas da proibição de candidatos irem a inaugurações de obras públicas, no sábado. A partir de amanhã, a Justiça Eleitoral permite a campanha de rua. "Tecnicamente não é campanha. É uma inauguração. Campanha só depois do dia 7", comentou um interlocutor de Dilma.

Mas, ao lado de Marinho (PT), Dilma fará discurso em sinal de apoio ao candidato. Episódio semelhante ocorrerá amanhã, no Rio. Ela tem duas inaugurações com Paes e o governador Sérgio Cabral, peemedebistas cada vez mais próximos do Planalto.

Pela manhã, Dilma vai aparecer na cerimônia de entrega de 640 casas do programa Minha Casa, Minha Vida. À tarde, inaugurará uma coordenação de emergência ao lado do Hospital Miguel Couto, no Leblon. A presidente deve discursar nessas solenidades, a exemplo do que fez em março, quando exaltou com Paes a importância da parceria entre os governos federal, estadual e municipal.

Dilma também esteve com Fernando Haddad (PT), candidato em São Paulo, na exposição Guerra e Paz, no Memorial da América Latina.Na terça-feira, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que Dilma quer se manter afastada das eleições municipais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Procuradoria tenta vetar presença de Paes em inauguração

RIO - A Procuradoria Eleitoral pediu ontem ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, que cancele as inaugurações de amanhã, primeiro dia de campanha, com a presença de Dilma Rousseff.

As inaugurações de 460 unidades habitacionais e de uma nova emergência hospitalar no Rio usam uma brecha na lei. As campanhas sempre começam em 6 de julho, mas a presença em inaugurações é vedada a candidatos três meses antes da eleição. Como o pleito deste ano cai no dia 7 de outubro, isso permite que prefeitos inaugurem obras no dia 6.

Apesar disso, o procurador Maurício Ribeiro enviou ofício a Paes solicitando que ele não vá, para assegurar "a igualdade entre os candidatos".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

MPE: presença de Paes em inauguração é ilegal

Procurador regional eleitoral encaminhou ofício ao prefeito, que também pode ser acusado de abuso de poder político

Renato Onofre

A brecha encontrada pela campanha do prefeito Eduardo Paes (PMDB) para, junto com a presidente Dilma Rousseff (PT), participar de três inaugurações amanhã - primeiro dia oficial de campanha - é considerada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) como ilegal e caracteriza abuso de poder político. Ontem, o procurador regional eleitoral, Maurício da Rocha Ribeiro, encaminhou um ofício para o prefeito, candidato à reeleição, recomendando a sua não participação nos eventos. Por meio de sua assessoria, Paes disse que só vai se manifestar após a notificação oficial.

Pela legislação eleitoral, os candidatos ao Executivo com mandato em curso não podem participar de inaugurações ou eventos institucionais três meses antes do dia da votação. Este ano, o primeiro turno acontece no dia 7 de outubro e, por uma combinação de datas, a campanha começa três meses e um dia antes.

Segundo o procurador, em ofício, a participação do prefeito já caracteriza utilização da máquina pública: "A propaganda eleitoral não pode ocorrer por meio de propaganda institucional. Isso ameaça a máxima igualdade entre os candidatos, levando ao desequilíbrio do pleito", alertou o procurador, afirmando ainda: "Em razão de sua elevada condição de agente público é vedada a utilização da máquina administrativa em benefício próprio ou de qualquer candidatura".

Além da presidente Dilma, Paes terá no palco a companhia do governador Sérgio Cabral (PMDB), seu principal fiador político nestas eleições. O primeiro evento será em Triagem, Zona Norte do Rio, onde serão entregues 640 unidades habitacionais financiadas pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida, que também teve recursos injetados pelo município.

Em seguida, a tropa de candidatos, que terá a participação do vereador Adilson Pires, indicado pelo PT para vice na chapa do prefeito, e candidatos à Câmara Municipal da aliança governista, seguirá para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Zona Sul, para a inauguração da Coordenação de Emergência Regional. No fim do dia, eles voltam à Zona Norte e participam da cerimônia de implantação da Nave do Conhecimento, em Madureira, que vai oferecer oficinas a moradores da região.

Mesmo não tendo recebido ofício do MPE, ainda na noite de ontem, a coordenação da campanha se reuniu com a assessoria jurídica para avaliar a recomendação do procurador. Na terça-feira, o coordenador da campanha de Paes, Carlos Alberto Muniz, disse que o evento é uma agenda de Paes como prefeito, e não como candidato.

FONTE: O GLOBO

PT em desvantagem em 9 de 10 capitais

O PT começa a campanha com cenário desfavorável em nove das dez maiores capitais. A legenda lançará candidato em sete, mas, por enquanto, lidera só em Recife. O fim da aliança com o PSB local, no entanto, deve mudar o quadro. Ontem, desiludido com o partido, o deputado Maurício Rands (PT-PE) anunciou sua saída

PT terá dificuldades nas dez maiores capitais

Nomes do partido em cidades como Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre vão mal nas pesquisas de intenção de voto

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. O PT enfrentará uma dura batalha para conseguir sair das eleições de outubro controlando qualquer uma das dez maiores cidades do país. Com a definição de Patrus Ananias como candidato em Belo Horizonte, os petistas passaram a ter nomes próprios em sete delas. Mas, se há três semanas a situação geral parecia alvissareira, hoje o quadro é sombrio. O único candidato do partido que lidera as pesquisas em uma dessas capitais é o senador Humberto Costa, em Recife, mas lá ele terá de enfrentar o candidato do governador Eduardo Campos (PSB), com aprovação popular que já chegou a 90%, e que está construindo uma aliança com quase uma dezena de partidos que antes estavam com o PT.

Por isso, Costa não deverá contar com apoio de parte significativa de seus correligionários, ainda magoados com a retirada do nome do atual prefeito, João da Costa, que foi impedido pela direção nacional do partido de disputar a reeleição.

Em São Paulo, o petista Fernando Haddad só agora chegou aos 8% de intenção de voto, ainda distante dos 30% do tucano José Serra. Terá contra si na campanha as máquinas da prefeitura de Gilberto Kassab e do governo de Geraldo Alckmin, ambos aliados de Serra. Para completar, ainda que Lula continue sendo apontado como principal eleitor na cidade, sua capacidade de influência vem se reduzindo nos últimos meses.

O cenário é parecido em Belo Horizonte. Com a ruptura sacramentada no fim de semana, o PT terá pela frente a missão de fazer Patrus Ananias superar os pesos das máquinas da prefeitura e do governo de Antonio Anastasia para derrotar o prefeito Márcio Lacerda, que lidera as pesquisas com grande folga. E o senador Aécio Neves, patrono da candidatura de Lacerda, é apontado nas últimas pesquisas como o principal eleitor na cidade.

No Rio, o partido firmou uma aliança com o prefeito Eduardo Paes e indicou para vice o vereador Adilson Pires. O mesmo ocorreu em Manaus, onde o partido indicou o vice da candidata do PCdoB, senadora Vanessa Grazziotin, e em Curitiba, com vice na chapa de Gustavo Fruet (PDT). Em Porto Alegre, o partido lançou o deputado estadual Adão Villaverde, que tem menos de 10% das intenções de voto, em um cenário de polarização entre as candidaturas do atual prefeito José Fortunati (PDT) e da deputada Manuela D"Ávila (PCdoB), os dois com mais de 30% das intenções de voto.

Em Salvador e Fortaleza, que com Recife formam as três maiores capitais nordestinas, o cenário também é incerto. Se dois anos atrás o governador Jaques Wagner (PT) se reelegeu com 63% das intenções de voto, hoje sua popularidade já não é tão grande. É nesse cenário que o candidato do PT, Nelson Pellegrino, enfrentará seu principal adversário, o deputado ACM Neto, que lidera com folga as pesquisas.

Em Fortaleza, por sua vez, o PT também viu o PSB se descolar de sua candidatura e, assim, ficou sem apoio do governador Cid Gomes. O petista Elmano Freitas, escolhido pela prefeita Luizianne Lins para sucedê-la, amargava entre 1% e 2% na pesquisa Ibope divulgada em maio. A gestão de Luizianne vem sendo mal avaliada.

- Em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, a situação só chegou a esse ponto pelas divergências internas do PT. O PT vem sendo vítima de suas próprias divergências e incompreensões. Eles demoraram meses para definir seus campos - avalia um ex-aliado.

Em Belém, o candidato petista será o deputado estadual Alfredo Costa, que está mal nas pesquisas e não anima nem mesmo os correligionários de lá. Pela frente, ele tem candidatos fortes. O líder das pesquisas é o ex-petista Edmílson Rodrigues (PSOL), seguido do candidato de Jader Barbalho, José Priante (PMDB) e do candidato do governador Simão Jatene, Zenado Coutinho (PSDB).

FONTE: O GLOBO

Especialistas veem momento difícil

Queda nas candidaturas próprias e julgamento do mensalão complicam cenário para petistas

Mariana Timóteo da Costa

SÃO PAULO. Número de candidaturas próprias em queda nas capitais: 17 contra 19, de 2008. Uma candidatura, a de Fernando Haddad, que patina nas pesquisas em São Paulo. Afastamento de um importante aliado (o PSB) em três cidades estratégicas - Recife, Belo Horizonte e Fortaleza. Julgamento do mensalão, um escândalo com o potencial de afetar seu desempenho nas urnas. Tudo isso aliado a uma presidente (Dilma Rousseff) que, segundo analistas, não gosta de fazer política, um líder (Lula) - que gosta muito - impossibilitado de fazê-la por questões de saúde e à economia, cuja desaceleração promete acentuar-se ainda mais nos próximos meses. O PT, segundo avaliações de cientistas políticos consultados, vive um momento complicado. O que compromete as aspirações do partido tanto para as municipais de outubro quanto para as presidenciais de 2014.

- O partido vive sua pior crise de identidade dos últimos dez anos, e isso ameaça a liderança caudilhista de Lula no processo político nacional - opinou Marco Antonio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos.

Para Villa, "apatia política" de Dilma, o estado de saúde e "um certo desgaste da figura do Lula entre políticos locais", a incapacidade do PT em formar novas lideranças e, especialmente, a economia justificam o quadro . O julgamento do mensalão, segundo ele, também pode afetar as eleições.

- Se figuras-chave do projeto de poder do PT, como José Dirceu e João Paulo Cunha, forem condenadas, presas, a oposição poderá explorar isso muito bem na campanha municipal - afirmou Villa, para quem a ausência de nomes fortes locais recai sobre a figura de Haddad.

O cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), acrescenta ainda ao quadro a incapacidade - "talvez por soberba"- do PT em fazer coligações com o PSB, uma força política em ascensão.

- Resolver enfrentar o PSB em Recife, Belo Horizonte e Fortaleza é um tiro no pé. O PT perde força e pode pagar caro por isso. Se Campos era um nome para concorrer apoiado pelo PT em 2018, agora há quem aposte que ele saia candidato em 2014, contra a Dilma, quem sabe ao lado do Aécio (Neves, do PSDB) - disse Fleischer.

Carlos Mello, cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), acha que o mensalão ainda é uma incógnita e acredita ser muito cedo para falar em fracasso da candidatura Haddad.

- Ele está mal nas pesquisas (8%), o Serra mantém lá seus 30%, mas têm muito mais rejeição do que ele. Muita coisa pode mudar.

Mas o cientista político vê algo de concreto animando as eleições municipais e ameaçando o PT: "o nascimento de uma estrela que não é do partido, o Eduardo Campos".

- Ele jogou o jogo direitinho. Com a saída da Luiza Erundina da chapa em São Paulo, não exigiu substituí-la. Por que? Já pensava em afastar-se do PT nas três capitais. Ganha, assim, capital político e pode realmente representar uma alternativa ao partido de Lula daqui pra frente.

No Rio, o partido, além de não ter um candidato próprio a prefeito este ano, vem, ao longo do tempo, investindo menos em lideranças cariocas.

- Mas isso não é de agora, o PT nunca foi forte no Rio. Agora, com a bem sucedida aliança com Cabral e Paes, isso passou a preocupar menos - explicou Mello.

FONTE: O GLOBO

Registro desmente Haddad sobre pedido de verba de SP

Ex-ministro dizia que gestão Kassab nunca o procurou para obter recursos do MEC

Confrontado com papéis que atestam reunião, petista muda versão e diz ter havido encontro de última hora

Daniela Lima, Rodrigo Vizeu

SÃO PAULO - Registros oficiais desmentem a versão repetida pelo candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, de que nunca foi procurado pela administração paulistana em busca de verba para a cidade quando ocupou o Ministério da Educação, entre 2005 e 2012.

Em entrevista à Folha no dia 16 de junho, Haddad afirmou: "O secretário de Educação do prefeito Kassab [Alexandre Schneider] jamais me solicitou uma única audiência durante toda a sua gestão à frente de sua secretaria e durante toda a minha gestão. Nunca houve manifestação de interesse da prefeitura em estabelecer parceria com o governo federal."

A agenda pública do Ministério da Educação e um e-mail da Secretaria Municipal de Educação ao gabinete do então ministro mostram que Haddad recebeu Schneider ao menos uma vez. O encontro ocorreu em 16 de fevereiro de 2011, a pedido do então secretário.

Hoje, Schneider é candidato a vice na chapa do tucano José Serra, o principal adversário do PT na eleição.

Versões

Na última segunda-feira, Schneider disse que Haddad havia mentido e relatou um encontro com o petista, no MEC. Questionada, a assessoria de Haddad confirmou em nota a audiência.

Depois, quando a reportagem apontou que o petista havia negado diversas vezes qualquer encontro com Schneider, a assessoria do candidato emitiu uma segunda nota. Disse que houve apenas "visita" e reiterou que Schneider ou o prefeito Gilberto Kassab (PSD) nunca pediram "audiência para demandar recursos do MEC".

Avisada sobre a existência de registros de uma audiência, a assessoria de Haddad deu uma terceira versão. Em nota assinada pelo coordenador-geral da campanha, Antonio Donato, assumiu a audiência e os pedidos de recurso, mas disse que a demanda foi feita "de última hora".

"O secretário [Schneider] estava pressionado pelo Ministério Público do Estado, que se preparava para ajuizar uma ação civil pública de improbidade pela incapacidade de suprir o deficit de 120 mil vagas de creche", completou.

Parceria

No e-mail que pediu a reunião com Haddad, a Secretaria de Educação disse que queria apresentar "projetos para possíveis parcerias".

Desde que assumiu a candidatura, Haddad vem atribuindo o baixo volume de investimentos do MEC em São Paulo ao desinteresse da gestão de Kassab. Ele tem usado a falta de parcerias como mote e sempre diz que, se eleito, poderá trazer mais recursos federais para a cidade.

Ontem, Schneider criticou Haddad: "É lamentável que um candidato jovem, em sua primeira eleição, inicie-a com uma prática tão antiga como mentir", disse.

O desdobramento da reunião Haddad-Schneider também é alvo de polêmica. Schneider diz que a burocracia do MEC impediu o acesso da cidade aos recursos. Haddad afirma que os procedimentos exigidos eram simples.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma atuou contra Aécio na disputa em BH

Planalto deu aval à candidatura de Patrus Ananias (PT) e costurou apoio do PMDB e do PSD de Gilberto Kassab

Ação visa se contrapor à tentativa de reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), que é apoiado pelo tucano

Natuza Nery, Catia Seabra

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff agiu na segunda para se contrapor a articulação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), seu virtual rival na eleição de 2014, na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte.

A ação ocorre após a quebra de um acordo de coexistência entre tucanos e petistas na cidade, sob comando de Márcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição.

Até a semana passada, tudo caminhava para uma reedição do acordo. Mas, segundo membros do governo, Aécio manobrou para rompê-lo.

Ele teria atuado para afastar o PT do PSB porque deseja ver Lacerda como candidato ao governo de Minas em 2014, parte de seu plano de se tornar presidente. Como o lançamento de Lacerda colocaria um petista à frente da prefeitura, preferiu dinamitar a dobradinha.

O PT enxergou na ação do senador tucano uma nacionalização da disputa.

Dilma então deu o aval para concretizar o rompimento e o lançamento de candidatura própria petista: o ex-ministro Patrus Ananias.

Após isso, o Planalto costurou os apoios de PMDB, PDT e PC do B para viabilizar Patrus. Ontem, o PSD, do prefeito Gilberto Kassab, também confirmou que engordará a chapa, que terá como vice o peemedebista mineiro Aloísio Vasconcelos.

O roteiro de ações que resultou na candidatura Patrus foi desenhado no Palácio do Alvorada, na segunda, durante uma reunião de Dilma com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), o presidente do PT, Rui Falcão, e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), ex-prefeito de BH.

A operação contou com a ajuda do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

Ontem, Lacerda disse que a eleição deve discutir "questões da cidade" e não se transformar "em uma disputa nacional, de 2014".

"Não vamos permitir que pessoas de fora venham interferir nas nossas questões e dizer o que devemos fazer."

Amigo de Aécio, o ex-ministro Ciro Gomes foi também apontado como um dos mentores da ruptura.

Ontem, Ciro, que participou de encontro da Executiva Nacional do partido, acusou o PT e o ex-ministro José Dirceu de superestimar a disputa entre os dois partidos.

Segundo ele, o objetivo é incentivar a entrada de Lula na campanha, em socorro aos candidatos do PT.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Grupo de Serra sinaliza apoio ao PSB para derrotar Dilma em 2014

Aliados do ex-prefeito de SP também querem enfraquecer Aécio

Catia Seabra

BRASÍLIA - Dispostos a alimentar a guerra PT versus PSB e abater o desafeto Aécio Neves (PSDB-MG), aliados de José Serra já acenam com a possibilidade de apoiar a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência em 2014, contra Dilma Rousseff (PT).

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) -um dos articuladores da candidatura de Serra à Prefeitura de SP- admite o apoio ao PSB sob o argumento de que, sozinha, a oposição não terá condições de enfrentar o PT.

O elo entre serristas e Eduardo Campos é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, cujo recém-criado PSD faz dobradinha com o PSB.

"PSB e PSD, dois planetas viajando pelo espaço público em órbitas independentes do PT, que se arvora em centro do sistema polar: esse poderá ser um dos reflexos mais importantes das eleições municipais sobre o quadro nacional", diz Nunes Ferreira.

Atrás dessa justificativa esconde-se também o desejo de enterrar as pretensões eleitorais de Aécio. Em conversas com seus colaboradores, Serra debita a derrota de 2010 na conta do senador, que fragilizou sua campanha ao recusar a oferta de vice da chapa.

Ontem mesmo Kassab desferiu um golpe contra Aécio ao negociar a aliança do PSD com o PT, contra o candidato do PSDB em Belo Horizonte.

Aliados de Serra sonham com a união de Campos, Kassab e Serra em 2014. Se fosse eleito, Serra embaralharia o jogo de Aécio no PSDB. Mas a operação dependeria da disposição de Campos de duelar contra Dilma.

Amigo e ex-vice de Serra, Alberto Goldman diz que, conforme o cenário político e econômico, Campos poderá concorrer. Hoje, diz ele, Campos tem mais visibilidade que Aécio. "É o fato novo. O Aécio não é nenhum fato novo. É velho", disse o tucano.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lacerda e Patrus já têm os vices em BH

O deputado estadual Délio Malheiros (PV) surgiu como surpresa na chapa de Marcio Lacerda (PSB), na véspera do último dia para registro de candidaturas à prefeitura. Patrus Ananias (PT) terá como companheiro o ex-presidente da Eletrobrás Aloisio Vasconcelos (PMDB). Prestigiado pelo PT, o atual vice, Roberto Carvalho, assume a função de coordenador da campanha. Lacerda terá apoio do senador Aécio Neves e do governador Antonio Anastasia, ambos do PSDB. Patrus conta com a retaguarda de Lula e Dilma Rousseff. Com esses perfis, as duas chapas devem polarizar a eleição na capital.

Times escalados em BH

Prefeito Marcio Lacerda tentará a reeleição tendo como vice Délio Malheiros (PV). Depois de longa articulação, Patrus Ananias formará chapa com o peemedebista Aloísio Vasconcelos

Juliana Cipriani, Daniel Camargos e Marcelo da Fonseca

O rascunho do que seriam as eleições de outubro foi alterado completamente ontem, na véspera do registro das candidaturas, e levou a um quadro de polarização na definição das chapas que disputam a Prefeitura de Belo Horizonte. A briga ficará concentrada entre o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT), o que pode levar a um resultado em apenas um turno. Os dois vices, fruto das reviravoltas que ocorreram até a noite de ontem, serão respectivamente o deputado estadual Délio Malheiros (PV) e o ex-presidente da Eletrobrás, Aloísio Vasconcelos (PMDB). No embate de forças, o socialista terá o apoio do governador Antonio Anastasia e do senador Aécio Neves, do PSDB, e o petista terá na sua retaguarda a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

A maior surpresa foi a escolha do vice na chapa de Lacerda, que até ontem era seu ex-secretário de governo Josué Valadão (PP), e foi substituído por Délio Malheiros. O parlamentar do PV, que até então se colocava como alternativa ao governo do socialista e se apresentava com discurso ácido de oposição a Lacerda, retirou seu nome para se unir ao prefeito. O deputado federal Eros Biondini (PTB), da renovação carismática da Igreja Católica, também desistiu da candidatura para apoiar Lacerda.

Do outro lado, o PMDB desistiu, em favor do PT, da candidatura do deputado federal Leonardo Quintão, que em 2008 deu trabalho a Lacerda levando o pleito para um segundo turno acirrado. A ideia inicial era que Quintão fosse vice na disputa, mas o parlamentar se recusou e tentou emplacar o nome do pedetista Mario Heringer, que seria seu companheiro de chapa caso continuasse com a candidatura a prefeito. Os deputados federais João Magalhães, Mauro Lopes e Saraiva Felipe não concordaram com a indicação de um nome de fora do partido. "A campanha de BH, infelizmente, nacionalizou. Outros candidatos retiraram a candidatura e vão apoiar Marcio Lacerda. Como somos parceiros nacionais do PT, não temos outra opção a não ser caminhar unidos", analisa Andrade. Com a decisão, o PDT deve apoiar Lacerda.

A decisão por Aloísio foi tomada em reunião em Brasília entre o vice-presidente da República, Michel Temer, o presidente estadual do PMDB, deputado federal Antônio Andrade, o presidente nacional da legenda, senador Valdir Raupp (RO), e parte da bancada mineira. Aloísio sempre foi um dos principais articuladores políticos nos bastidores do PMDB mineiro. Engenheiro de formação, também foi deputado federal na década de 1980 e participou da promulgação da Constituição de 1988.

Irmãos Patrus Ananias, que havia sido escolhido na terça-feira pela Executiva Nacional para concorrer pelo PT, sacramentou a troca de candidatura em um encontro reservado à tarde com o vice-prefeito Roberto Carvalho. Vencedor na convenção do PT que decidiu romper com Lacerda, Carvalho havia registrado sua candidatura no Tribunal Regional Eleitoral e só com sua renúncia o quadro poderia ser mudado. Em clima de amizade, os dois selaram a aliança no fim da tarde no apartamento de Patrus. Carvalho passa a ser coordenador da campanha petista.

Patrus não quis se pronunciar. Carvalho disse que foi uma conversa de irmãos que têm uma amizade de 40 anos. "Vou comunicar às 15h de amanhã (hoje) essa decisão. É um posicionamento em defesa da unidade do PT e considero o nome de Patrus como se fosse o meu", afirmou. O vice, que desde o início do processo eleitoral defendeu a candidatura própria e se colocou como candidato, disse não ter feito qualquer reivindicação para retirar seu nome. "Na medida em que considero Patrus como se fosse eu, me sinto contemplado." Na noite de ontem, Carvalho recebeu muitos cumprimentos em encontro com a militância no diretório municipal, quando reafirmou o apoio a Patrus e convocou os petistas a participarem ativamente da campanha. Segundo ele, o ex-presidente Lula prometeu empenho na campanha em BH.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Petistas continuam na PBH

Não entregar os cargos. Essa é a orientação do presidente municipal do PT, vice-prefeito Roberto Carvalho, aos 900 petistas lotados na Prefeitura de Belo Horizonte. "Temos uma decisão do diretório municipal. O PT foi eleito, não está lá de favor. Quem está de favor é o PSDB", argumentou. O prefeito, no entanto, não vai aguardar os pedidos de exoneração. Nos bastidores, a informação é de que Marcio Lacerda (PSB) está só aguardando o registro das candidaturas para tirar os petistas do Executivo

Os socialistas já estariam articulando a substituição dos secretários e dos ocupantes de cargos estratégicos hoje ocupados pelo PT, por indicações dos partidos que vão compor chapa com Lacerda.

A ordem de Roberto Carvalho para que os petistas continuem na PBH contradiz a do presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes que, na segunda-feira, orientou os filiados a entregarem seus cargos ao prefeito. Até ontem, nenhuma exoneração motivada pelo rompimento da aliança entre socialistas e petistas foi publicada no Diário Oficial do Município.

Além dos 900 cargos comissionados, o PT tem cinco secretarias, três administradores regionais e quatro presidências de órgãos da administração indireta. Com as exonerações, o partido perderá não só espaço, terá prejuízo financeiro. Isso porque, pelo estatuto do partido, todos os filiados contribuem com a legenda por meio de descontos percentuais nos salários. (AM)

FONTE: ESTADO DE MINAS

'Ao contrário do que os petistas pensam, aliança não é para liquidar companheiro', diz Ciro Gomes

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Em meio ao silêncio da direção do PSB sobre o embate com o PT, coube ao ex-ministro Ciro Gomes atacar a gula do aliado, que rompeu a aliança com o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), e lançou Patrus Ananias na disputa. "O PT quer vassalagem. Eles só conhecem o "Vem a nós". Querem destruir o PDT, como estão fazendo com o PC do B. Mas, com o PSB, não vão fazer", criticou Ciro, para quem nem o PT nem o PSDB do senador Aécio Neves (MG) pensaram nos interesses de Belo Horizonte ao esticarem a corda até o ponto de os petistas deixarem a coligação.

"Ao contrário do que o PT pensa, aliança não é para liquidar o companheiro. O que mais querem de mim além de terem aniquilado minha vida pública?", indagou, ao lembrar que o PSB abriu mão de sua candidatura a presidente para apoiar o PT de Dilma Rousseff.

O PT deve se preocupar com o projeto de poder do PSB?

Temos muita lucidez. Tanto que eu próprio fui sacrificado. Eu era o quadro mais experiente e o mais qualificado das possibilidades de candidatura na eleição passada. Estava em segundo lugar nas pesquisas e o partido retirou minha candidatura para apoiar a candidata Dilma. Se o PT não entender isso, é porque a goela do PT ficou maior que a cabeça.

O ex-ministro José Dirceu disse que o rompimento da aliança PT-PSB em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte ameaça a aliança nacional, tendo em vista a reeleição de Dilma. O sr. concorda?

Quem quer pegar galinha não diz xô. É preciso falar claro para todo mundo entender. Nós permanecemos aliados e entendemos que o que está em marcha é a eleição municipal. Na eleição presidencial passada o PSB fez um sacrifício e não participou. Ao contrário do que o PT pensa, aliança não é para liquidar o companheiro.

O PT não é bom parceiro?

O PT quer vassalagem. Eles só conhecem o "Vem a nós". Querem destruir o PDT, como estão fazendo com o PC do B. Mas, com o PSB, não vão fazer. O que mais querem de mim além de terem aniquilado minha vida pública?

Na semana passada o sr. e o prefeito Marcio Lacerda tiveram um encontro reservado em Brasília, na casa do senador Aécio Neves (PSDB-MG), para tratar da eleição em Belo Horizonte. Como foi a conversa?

O prefeito me pediu para acompanhá-lo nesta conversa, da qual saí muito mal impressionado com o Aécio. Ele não pode brigar por coligação de vereador em Belo Horizonte. Grande parte da opinião brasileira dá a ele a possibilidade de ser um quadro nacional. Se ele tem essa missão histórica no futuro, não pode ficar cuidando de aliança de vereador e botando a faca no pescoço de aliados como eu, que sempre fui aliado incondicional dele.

Mas Lacerda também não queria reeleger petistas que fazem oposição a ele na Câmara, e os vereadores do PSB ameaçaram renunciar se houvesse coligação. 

Poderíamos sacrificar alguns companheiros porque temos o candidato majoritário e uma administração extremamente bem avaliada e apoiada, em sua origem, por PT e PSDB. Quem rompeu foi o PT, mas os dois esticaram a corda e Aécio também apequenou-se nesse processo. Nem o PT de BH nem o Aécio pensaram nos interesses de Belo Horizonte. Só pensaram nessa queda de braço mesquinha e extemporânea. Mas falo por mim. Ele (Lacerda) com certeza não concorda com o que estou dizendo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Rands deixa o PT e apoia Geraldo Júlio

Deputado anunciou renúncia aos cargos de parlamentar e secretário de Estado e disse que o socialista é o mais preparado para assumir a PCR.

Rands aprofunda crise no PT

Em protesto contra direção petista, deputado anuncia saída do partido e da vida pública e elogia socialista Geraldo Júlio

Paulo Augusto

Um dos trechos da famosa Lei de Murphy diz, sem perdão: “Nada é tão ruim que não possa ser piorado”. A crise interna do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, que parecia ter se acalmado nos últimos dias, voltou a sofrer um duro golpe, ontem, com uma carta divulgada pelo secretário estadual de Governo e ex-pré-candidato petista à Prefeitura do Recife, Maurício Rands. No texto, intitulado Carta ao povo pernambucano, o também deputado federal faz críticas à direção nacional do PT – que “autoritariamente (impôs) a retirada à minha candidatura e à do atual prefeito” –, tece elogios ao candidato da nova Frente Popular, Geraldo Júlio (PSB) – “é o quadro mais preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do Recife” –, e, surpreendentemente, anuncia sua desfiliação à legenda, devolvendo seu mandato ao partido – “saio da vida pública e da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania”.

Em síntese: a inesperada decisão de Maurício Rands, anunciada um dia após sua chegada de uma viagem que durou cerca de um mês aos Estados Unidos, é mais um capítulo na interminável saga de autofagia que o Partido dos Trabalhadores vem promovendo – em especial, a partir de dezembro passado, quando o prefeito João da Costa foi alvo de um ultimato interno, por parte do grupo do qual fazia parte o próprio Rands. Desse ultimato, surgiram vários episódios conturbados, desde o lançamento da pré-candidatura a prefeito do secretário estadual de Governo, passando por um mal-sucedido e fratricida processo de prévia, culminando com a exclusão – forçada ou não – dos dois petistas que tentaram, pela via da chamada “democracia interna” do PT, ser candidatos.

“Depois da decisão da direção nacional do PT, impondo autoritariamente a retirada à minha candidatura e à do atual prefeito, recolhi-me à reflexão. Ponderei sobre o processo das prévias e sobre o momento político mais geral. Concluí que esgotei por inteiro minha motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT”, desabafou Maurício Rands, em sua carta.

Ao mesmo tempo, em que foi duro com o seu agora ex-partido, o deputado federal explicitou sua nova preferência eleitoral, repetindo os argumentos que o governador Eduardo Campos (PSB) utilizou para justificar o rompimento com os petistas. “Minha candidatura buscou construir uma legítima renovação por dentro do PT e da Frente Popular. (...) Porém, setores dominantes da direção nacional do PT já tinham outro roteiro que não o debate democrático. Ou seja, cometeram o grave equívoco de ter a pretensão de impor, a partir de São Paulo, um candidato à Frente Popular e ao povo do Recife”, avaliou.

Trocando em miúdos, a Carta ao povo pernambucano de Rands não significa “apenas” uma reviravolta completa na história daquele que, até bem pouco tempo, era um dos principais mosqueteiros do exército petista no Estado. Mais que isto, simboliza a desordenação atual em que vive o Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, pondo cada vez mais em risco seu prêmio maior, a Prefeitura do Recife. Tal qual D’Artagnan, Humberto Costa vai ter que ser um hábil espadachim para reverter essa história.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Maurício Rands, lucidez & loucura:: Raul Jungmann

Inveja, foi o meu primeiro sentimento ao ler a carta de Rands.

Duvido que alguém hoje, que faça política com seriedade, que não queira, por um momento que seja, cair fora da vida pública. Tanta corrupção, escândalos, maledicências, punhaladas e canalhice, são demais, mesmo para quem tem senso de missão e dever.

Maurício é um caso duplamente raro. Renuncia a um... mandato parlamentar sem ser acusado de nada e/ou para fugir de uma cassação certa.

E deixa um partido no poder, o PT, por puro desencanto.

Partido que ajudou a construir com disciplina e zelo ao longo de 32 anos. O que o levou a ser relator da reforma da previdência no 1o governo Lula, esquecendo de tudo o que defendeu, como militante e advogado de causa sindicais, antes de se tornar parlamentar.

Estivemos juntos em vários momentos, e lhe sou grato por diversas atitutes que, ao meu modo, reciproquei.

A exemplo da defesa que fiz do governo Lula, quando estávamos em missão no exterior, diante do parlamento e Suprema Corte hondurenhos, da acusação de complô, com cubanos e Chavez, na crise do presidente Zelaya em nossa embaixada.

Maurício, como tantos, fechou os olhos para os desvios e a degradação do seu partido, o PT. Até o dia em que este, desfigurado e implacável, o triturou e esmagou seus sonhos, humilhando-o publicamente.

Referindo-se a sua saída da vida pública, seu colega Fernando Ferro disse não se saber se sua renúncia ao mandato devia-se à lucidez ou a loucura.

Opino que a lucidez.

Loucura, é continuar sonhando e com ideais no palco da farsa política brasileira, onde o PT, de herói salvador, transformou-se em seu oposto: um monstro que devora e destrói seus melhores filhos.

Geraldo agradece apoio de Jarbas Vasconcelos

Depois do governador Eduardo Campos (PSB), foi a vez do candidato a prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), visitar o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que voltou a integrar a Frente Popular nesta campanha após ficar duas décadas distante, disputando e apoiando candidaturas de oposição a Eduardo. A conversa entre Jarbas e Geraldo durou quase uma hora, ontem à noite, ocorreu no apartamento do peemedebista, no Cais de Santa Rita, onde descansa desde que voltou de São Paulo para se restabelecer de uma cirurgia cardíaca.

A imprensa não pôde acompanhar ao encontro. Ao final, Geraldo afirmou que a conversa foi “animada” e que encontrou um senador “disposto” a voltar ao ritmo de trabalho. O socialista, contudo, deixou ele à vontade para decidir quando e como vai participar da campanha. “É uma liderança importante, que tem uma história no Estado. Estou muito contente em poder contar com ele na campanha e, se vencer, no governo. Queremos que ele participe do processo, mas quem decide é ele”, argumentou.

O socialista falou que agradeceu ao senador pela decisão de apoiar o projeto da Frente Popular do Recife, que levou o PMDB a desistir de lançar o deputado federal Raul Henry à prefeitura. Nesse primeiro contato mais direto, Jarbas e Geraldo conversaram sobre o Recife e o socialista disse que queria contar com a experiência do ex-prefeito, que administrou o Recife por duas vezes (86/88 e 93/96). O peemedebista fez questão de mostrar parte de sua famosa coleção de artesanato.

Na agenda de hoje, Geraldo visitará a direção do Porto Digital e o reitor da UFPE, Anísio Brasileiro. À noite, participará de jantar oferecido por policiais militares, no Clube dos Oficiais.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Recife, Daniel Coelho dá a largada no sábado

Paulo Augusto

Aos poucos, o candidato a prefeito do Recife Daniel Coelho (PSDB/PPS/PTdoB) vai definindo os primeiros passos de sua campanha. Amanhã, o tucano deve anunciar sua tropa de choque, ou seja, os nomes de quem vai ficar com a coordenação-geral, bem como os responsáveis pela publicidade e pela comunicação, entre outras funções estratégicas. Ao mesmo tempo, começa a deixar agendados os primeiros atos públicos.

E o evento marcado para ser oficialmente a abertura da campanha vai acontecer na manhã de sábado (7): uma trilha com a militância no Engenho Uchoa. “É um local simbólico, porque foi prometido transformar em parque desde o início da gestão do PT, há 12 anos, e nada foi feito. Chegaram a ameaçar colocar lá a triagem do lixo da cidade. Então, a gente quer transformar esse ato no primeiro compromisso de campanha: o de transformar aquilo ali num parque ecológico, inclusive com trilhas urbanas, que é algo que não existe no Recife”, afirmou Daniel Coelho. Já no domingo, o tucano deve realizar um outro ato, que ainda está sendo fechado pela equipe de campanha.

Ainda carregando consigo algumas características abraçadas desde o tempo em que era do PV, Daniel pretende dar um caráter ecológico e sustentável à sua campanha. Tanto que pretende utilizar bicicletas de som, ao invés dos tradicionais carros, em seus atos. “Pela questão de poluição sonora, ambiental e para não estar aumentando o trânsito, vamos usar só bicicleta. Inclusive na reunião que tive com candidatos a vereadores, orientamos eles a utilizarem a mesma tática, embora não possamos obrigá-los”, afirmou.

Com relação ao programa de governo, o tucano agendou para o dia 14 deste mês um ato de lançamento, no Colégio Salesiano.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Delta perderá seu maior contrato com a União

Impedida de fechar novos negócios com a União, a Delta Construções, alvo de investigações da Polícia Federal e da CPI do Cachoeira, perderá o maior dos contratos que ainda mantém com órgãos públicos. O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) antecipou ao Estado a decisão de romper o contrato de obras de um dos lotes da transposição do Rio São Francisco pelo qual a construtora ainda tinha mais de R$ 100 milhões a receber. A decisão será formalizada até o fim do mês, quando o ministério concluir a auditoria no contrato de R$ 265,4 milhões

Delta vai ser tirada do São Francisco, maior contrato federal da empresa

Ministério da Integração adianta ao "Estado" que construtora será excluída da obra cujo lote está parado e foi orçado em R$ 265,4 milhões

Marta Salomon e Anne Warth

Impedida de fechar novos negócios com a União, a Delta Construções perderá o maior dos contratos que ainda mantém com órgãos públicos. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, antecipou ao Estado a decisão de romper o contrato de obras de um dos lotes da transposição do Rio São Francisco, em Mauriti (CE), pelo qual a Delta ainda tinha mais de R$ 100 milhões de obras a executar.

As obras no lote 6 da transposição estão paradas. Segundo adiantou o ministro, o que falta ser construído passará por nova licitação, provavelmente em setembro. Só com uma nova empreiteira no negócio as obras seriam retomadas, prevê Bezerra Coelho.

"Eles pararam a obra sem ter causa justificável para parar, estamos caminhando mesmo para rescindir o contrato", disse o ministro por telefone, do Japão. Bezerra Coelho descartou a possibilidade de continuar a obra com as demais empreiteiras que integram o Consórcio Nordestino – EIT e Getel. "Para não incorrer em novos atrasos na transposição, o melhor é relicitar."

A decisão de romper o contrato será formalizada até o fim do mês, quando o ministério concluir a auditoria no contrato de R$ 265,4 milhões, assinado em 2008. O termo ganhou um aditivo no ano passado, antes de as investigações da Polícia Federal envolvendo a Delta se tornarem públicas. Trata-se do maior dos contratos que a empreiteira suspeita de integrar os negócios do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem com a União.

A empreiteira mantém pouco mais de cem contratos com órgãos do governo federal. Na maioria deles, a Delta presta serviços ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), vinculado ao Ministério dos Transportes. Mas o maior contrato prevê a construção de 39 dos cerca de 600 quilômetros de canais de concreto da transposição do São Francisco.

No mês passado, a Delta foi declarada inidônea e, com isso, ficou impedida de celebrar novos contratos com a União. O destino dos acordos em curso – que somam R$ 1,2 bilhão ainda não pagos, conforme revelou o Estado em maio – ficou dependendo da conclusão de auditorias nos ministérios e nos órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).

"Plena capacidade". Procurada nesta quarta-feira, 4, a Delta alegou que "teria plena capacidade de entregar a obra contratada". Em nota, a empreiteira disse que a rescisão do contrato não vai impor demissões extras na empresa. Mais de 300 já teriam sido demitidos no canteiro da Delta na transposição. A empresa alega ter paralisado as obras do lote 6 a pedido do Ministério da Integração. A pasta nega a versão da Delta e informa que vinha cobrando a retomada imediata das obras.

O trecho da transposição em Mauriti (CE) será o último a ser concluído, de acordo com a mais recente versão do cronograma de obras. A previsão é que fique pronto no segundo semestre de 2015.

Iniciada em 2007 como a mais cara obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a transposição do São Francisco já deveria ter ficado pronta. Por falhas no projeto, os contratos iniciais ganharam aditivos e novas licitações de saldos remanescentes de obras elevaram o custo do projeto para R$ 8,2 bilhões.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mantega defende real desvalorizado

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o câmbio deve valorizar a economia, reforçando sinais de intervenção para evitar que o dólar caia abaixo de R$ 2

Mantega defende câmbio desvalorizado e dólar sobe pelo segundo dia seguido

Ministro volta a criticar os banqueiros ao cobrar mais crédito e spread menor; ao setor industrial pede a ampliação dos investimentos

Francisco Carlos de Assis, Gustavo Porto

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou ontem a mensagem do governo de que vai intervir no mercado para evitar que o dólar caia abaixo de R$ 2. Na terça-feira, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, deu entrevista à "Agência Estado", anunciando que o BC estava pronto a intervir no mercado. Mendes acenou que R$ 2 seria o piso para a cotação do dólar para evitar que os produtos brasileiros fiquem mais caros no mercado internacional e a indústria perca competitividade.

Ao comentar a entrevista, Mantega disse ontem que o governo adotou nos últimos meses medidas para desvalorizar o real em 20%. "Fazemos a política correta, estamos com o câmbio com uma posição que valorize a economia brasileira", disse.

A reação do mercado foi imediata. Pelo segundo dia seguido, o dólar fechou em alta, desta vez com valorização de 0,79% no mercado à vista, cotado a R$ 2,0310. É o maior nível desde 28 de junho.

Spread. O ministro adotou novamente a postura de colocar contra a parede os banqueiros, cobrando o aumento do crédito e a redução dos spreads bancários (diferença entre as taxas de juros pagas pelos bancos na captação de recursos e a cobrada dos clientes nas operações de empréstimos).

Mantega também não poupou de cobranças os industriais. "É preciso que o setor empresarial desperte seu espírito animal e faça os investimentos, pois quem sai na frente tem vantagens", disse. "É preciso que haja mais crédito dos bancos, com o spread caindo", completou, durante o Seminário Econômico Fiesp-Lide, em São Paulo.

No evento, Mantega rebateu críticas feitas pelo presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, que representava os banqueiros, e do presidente da Nestlé, Ivan Zurita, um dos porta-vozes do setor produtivo. Setubal atribuiu a redução do crédito ao aumento da inadimplência e à falta de um mecanismo de recuperação de perdas. Ele disse que só o Itaú Unibanco terá de arcar com uma perda de R$ 18 bilhões por conta de calotes neste ano.

O ministro, por sua vez, disse reconhecer o aumento da inadimplência, mas lembrou que é da natureza dos bancos serem pro-cíclicos (aumentarem o crédito em momentos de prosperidade) quando deveriam ser anticíclicos.

"Não é sair dando crédito adoidado, mas se reduzir o spread a inadimplência vai cair. Quero dizer, doutor Setubal, que o spread bancário no Brasil é muito alto", cutucou Mantega.

Após o presidente da Nestlé criticar a alta carga tributária e citar que 50% do preço de uma garrafa de água é resultante de tributos, Mantega disse que o setor de alimentos é o mais desonerado de todos, e que o governo se preocupa com o impacto da área na inflação. Em seguida, alfinetou Zurita: "A Nestlé tem no Brasil o segundo maior mercado mundial e significa que deve ter crescido lucrando bastante".

Logo na abertura do evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou de Mantega que o governo amplie, "em mais 60 dias", o prazo de recolhimento de impostos para "dar fôlego", no curto prazo, ao setor produtivo no momento de crise e de recuo no crédito. Para Mantega, uma coisa é propor uma agenda estratégica num cenário sem crise e a outra é propô-la em momentos de crise.

O ministro lembrou que a crise europeia começou diferente da crise de 2008 nos Estados Unidos, mas que seus efeitos deletérios sobre a economia estão ficando parecidos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mantega indica novo modelo econômico

Guinada, segundo Mantega, será percebida quando medidas começarem a surtir efeitos

Beatriz Abreu

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu ontem pela primeira vez que o governo Dilma Rousseff pratica uma nova "matriz macroeconômica", uma mudança que, segundo ele, veio para ficar. A lógica de Mantega é de que essa reforma será melhor compreendida quando as medidas de curto e longo prazos amadurecerem e uma nova rodada de contratos na economia ocorra dentro dos novos padrões.

Uma reestruturação dos instrumentos de condução da economia é o pano de fundo dessa nova relação entre as medidas fiscal, monetária e cambial. Os instrumentos são os mesmos, mas o peso de cada braço do antigo tripé econômico foi relativizado e diferenciado pela ousadia de quebrar paradigmas, como o de baixar a taxa de juros a um piso inferior aos 9%, sem provocar inflação.

Os ventos foram favoráveis à essa mudança que, na realidade, começou a dar sua guinada ainda no governo Lula, quando o Ministério da Fazenda foi vitorioso no embate em torno da redução da meta de inflação, que se mantém até hoje em 4,5%, com intervalo de dois pontos para cima e de dois pontos porcentuais para baixo. Esse movimento de mudança na política econômica ganhou impulso com a fase aguda da crise financeira internacional.

Na época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou mão das chamadas medidas macroprudenciais, implementadas pelo Banco Central no fim da gestão de Henrique Meirelles.

São medidas que reequilibraram a oferta de crédito interno e externo com a administração dos compulsórios, o dinheiro que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central. Só assim, o BC administrou e ainda administra os vasos comunicantes de maior disponibilidade de dinheiro na economia e garante um alívio aos pequenos bancos que, na crise, perdem a condição de captar recurso barato no mercado.

Matriz. O controle fiscal deu a sustentação necessária à nova "matriz macroeconômica". Na avaliação do ministro, abriu espaço para menor rigidez no controle da inflação por meio da dosagem da taxa de juros, a Selic, e a uma política cambial mais ativa. A redução dos juros já é ponto pacífico e colocou por terra a certeza entre economistas de que o País não suportaria uma taxa de juro inferior a 9% porque a inflação retornaria a passos galopantes. O juro caiu e a inflação também, movimento bem-sucedido com o efeito deflacionário do baixo crescimento mundial. O Banco Central reafirma que a política é de câmbio flutuante, mas também não é novidade que o BC e governo trabalham com uma taxa de câmbio "neutra", que não pressiona os preços.

Ninguém diz que patamar é esse. "É um número mágico", repetem os técnicos. Há uma certeza no Planalto à qual o BC está alinhado: o governo não quer que o câmbio se aprecie tanto.

Anteontem, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, disse, em entrevista ao Estado, que o BC interviria para conter a retomada do processo de desvalorização do real. Foi uma intervenção no câmbio e coerente com a nova matriz econômica e, portanto, com o discurso de Mantega.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lance ousado:: Merval Pereira

O rompimento da aliança com o PT em Belo Horizonte foi o lance mais ousado dos muitos que o senador Aécio Neves vem fazendo nos bastidores partidários nos últimos tempos, trabalho a que tem se dedicado em vez de aparecer para a opinião pública como o grande líder oposicionista, sob o risco de dar a sensação errônea de que está desinteressado do embate político.

Da mesma maneira que, durante o governo Fernando Henrique, o então deputado Aécio Neves montou sua candidatura costurando alianças nos bastidores para romper o acordo firmado com o então PFL, o hoje senador trabalha com o objetivo de criar condições políticas que permitam montar uma proposta de campanha ampla, que lhe dê respaldo para o combate ao governo que pretende desencadear no momento que considere mais adequado.

Como costuma fazer, Aécio trabalha nos bastidores para montar uma grande aliança partidária que lhe respalde a candidatura à Presidência em 2014, jogando na divisão da base aliada em decorrência não apenas da deterioração da situação econômica, mas também dos desencontros de diversos partidos com o PT.

A jogada de Belo Horizonte, porém, pode dar errado caso se confirme o desgaste com o PSB, que se ressente da separação do PT, sobretudo porque o PMDB, em jogada oportunista, mas correta pragmaticamente, está se oferecendo para abrir mão de candidatura própria para apoiar o ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias, que será o candidato petista. O PMDB viu no episódio oportunidade para demonstrar lealdade ao governo, alegando a condição de parceiro preferencial no plano nacional.

Da mesma maneira que o PSB alegou que, em São Paulo, está apoiando o candidato de Lula pela relevância do principal objetivo do PT, tomar conta de uma prefeitura que há anos está dominada pelos tucanos e seus aliados, como trampolim para vencer o governo do estado de São Paulo em 2014.

Os dois partidos, PMDB e PSB, disputam no interior da aliança governista a vice-presidência na provável chapa de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A eleição em Belo Horizonte acaba assim tendo uma relevância própria, transformando-se em uma simbolização da força política de Aécio Neves tendo em vista as eleições de 2014, assim como a de São Paulo significa a maior jogada do ex-presidente Lula para consolidar a hegemonia petista no país.

Derrota de Aécio em Belo Horizonte, assim como de Lula em São Paulo, terá reflexos na formação das alianças partidárias mais adiante.

As eleições municipais têm um peso local muito acentuado, mas, em determinadas cidades e capitais, elas dão pistas sobre como evoluirão as tratativas a nível nacional. Além do mais, os partidos tentam se cacifar na disputa municipal para que suas ramificações políticas municipais ganhem valor no mercado nacional de alianças.

Por isso mesmo, o racha do PSB com o PT em Belo Horizonte, mais do que os de Fortaleza e Recife, está sendo visto pelo comando nacional petista como sinalização de que o governador Eduardo Campos está se movendo para uma distância segura do PT.

Como nem tudo é coerente quando se trata de aliança partidária, e menos ainda quando Ciro Gomes está envolvido, a disputa em Minas difere da de Fortaleza, por exemplo. O líder do PSB no Ceará é, em tese, favorável a que o PSB marque sua posição se distanciando do PT e, especificamente em Fortaleza, defendeu essa posição junto ao irmão, o governador Cid Gomes.

Mas, em Belo Horizonte, onde o prefeito, Marcio Lacerda, candidato à reeleição, mais que seu correligionário, é um seu protegido político, Ciro está crítico em relação à atuação de Aécio Neves, a quem atribui a criação de um ambiente que levou ao rompimento com o PT.

Ciro criticou também a direção nacional do PT por ter apoiado a indicação de Patrus Ananias, em vez de intervir na regional mineira para garantir a permanência do partido na aliança em Belo Horizonte.

Como se vê, joga-se neste pleito municipal um xadrez político que tem tudo a ver com a eleição de 2014. Por parte da oposição, vencer em São Paulo e Belo Horizonte é fundamental para manter as poucas cidadelas ainda não dominadas pelo PT, que se dedica, por sua vez, a tentar fragilizar esses redutos tucanos.

O governo terá tarefa difícil pela frente, manter unida a ampla base partidária que o apoia, enquanto o PSDB joga com a expectativa de que os atritos com o PT e a situação econômica deteriorada farão com que parte dessa base se una ao projeto político de Aécio. Caso o PMDB seja alijado do posto de parceiro preferencial do PT, a aposta é que venha a apoiar a candidatura tucana, formando grande bloco com DEM, PPS, e, se não o apoio integral, pelo menos o de partes de PR, PP e PDT. Há inclusive quem imagine a união de todas essas siglas sob o guarda-chuva de novo partido, que também poderia abrigar políticos individualmente.

Com a decisão do STF de dar tempo de propaganda gratuita e participação no fundo partidário a partidos formados com base na nova legislação, proporcional à votação de seus fundadores, ficaria mais fácil atrair na base aliada adeptos do projeto tucano com Aécio para presidente em 2014. Difícil é imaginar que PMDB e PSDB abram mão de suas respectivas siglas para a formação de novo partido.

Com ou sem partido novo, porém, o fato é que o candidato natural do PSDB à Presidência da República em 2014 está costurando nos bastidores diversas alianças políticas para viabilizar sua candidatura, confiante em que a aliança da base aliada não resistirá às dificuldades de convivência interna nem à crise econômica que tende a se agravar.

FONTE: O GLOBO

O preço da salada:: Jânio de Freitas

O fortalecimento recente do PSB já o torna um problema para o petismo, para Lula e para Dilma Rousseff

A salada de partidos que o PT produziu com seus acordos eleitorais pelo país afora, sem critério algum, mais o enfraquece do que o fortalece. As estimativas preliminares indicam a tendência de que o PT dificilmente manterá seu atual comando em muitas prefeituras e Câmaras Municipais. Mas o maior efeito desse enfraquecimento deverá recair sobre as eleições de governos estaduais, com reflexos no quadro da disputa pela Presidência também em 2014.

Adotada como orientação petista desde o primeiro mandato de Lula, a tática das alianças a granel obrigou a concessões e à entrega de nacos do poder que fortaleceram os integrantes dos arranjos, em detrimento do próprio PT. E os estimularam a passar, em grande parte das disputas municipais e dos projetos para 2014, de aliados a possíveis concorrentes.

Nesse sentido, o PSB é o exemplo quase perfeito. Seu intenso fortalecimento nos últimos anos, ampliado pela habilidade do governador pernambucano Eduardo Campos para aproveitar a aliança com o PT, já o torna um problema eleitoral e político para o petismo, para Lula e para Dilma Rousseff.

No Recife, área de longo domínio petista, o governador e o seu PSB derrotaram a articulação tentada por Lula para preservar o quadro atual. Com mais passos individualistas do PSB em outros municípios, os petistas já têm a percepção de que Eduardo Campos e seus correligionários serão um problema na eleição presidencial. Seja por alimentar pretensões próprias ou pelo custo exigido para reproduzir as alianças com Lula e Dilma.

Outro caso exemplar consumou-se ontem. Este, em Minas, onde o PT enrolou-se até em si mesmo. Afinal, conseguiu apresentar o ex-prefeito Patrus Ananias como candidato à Prefeitura de Belo Horizonte. Mas a consolidação das perspectivas só veio na última hora, com a entrada firme do vice-presidente Michel Temer para acabar com a candidatura do PMDB e aliar o partido ao PT.

A conduta sóbria de Temer como vice-presidente encobre sua expressiva contribuição para o governo Dilma e para a própria presidente. Ação reconhecida e declarada por ela. A cada uma de suas participações, frequentes na solução de embaraços do governo na Câmara e no Senado, Temer cresce no PMDB que preside.

E no PMDB cresce a pouco citada e muito difundida pretensão de um candidato próprio à Presidência.

No mínimo, portanto, o fortalecimento peemedebista representará um custo altíssimo para seu possível apoio à candidatura presidencial do PT.

A hipótese hoje especulada, por exemplo, de descolar Michel Temer e negociar a vice com Eduardo Campos, para atrair o PSB, vai ficando cada vez mais difícil.

Em outra escala, partidos menores da "aliança" atual também têm ganhos em relação ao PT e seus candidatos.

Como se viu em São Paulo e se vê em Fortaleza, entre outros numerosos casos. Nos quais o vale-tudo ensina que seus efeitos não estão só no lucro imediato. Nem são apenas favoráveis. Sua cobrança pode ser lenta, mas, diferentemente da justiça, chega mesmo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mercosul/Chávez. A pressão de Dilma Rousseff pelo ingresso. Que uruguaios querem reverter:: Jarbas de Holanda

Estão tendo ampla repercussão negativa, no Brasil e no exterior, as revelações do chanceler uruguaio Luís Almagro, tornadas públicas anteontem, de que se deveu basicamente à presidente do Brasil a decisão da cúpula do Mercosul (semana passada, em Mendoza, Argentina) de combinar uma suspensão da presença do Paraguai com a entrada da Venezuela no bloco. “O governo do Uruguai – afirmou – não esteve de acordo com a forma como ela foi decidida. Já nas negociações entre chanceleres realizadas na quinta-feira (véspera do encontro dos presidentes) fomos essencialmente contrários ao ingresso da Venezuela nessas circunstâncias". “No dia seguinte, segundo Almagro, o presidente de seu país José Mujica, manifestou-se também contrário ao ingresso “de forma implacável”. E, no anúncio da decisão, ele demonstrou sua insatisfação cedendo a cadeira presidencial ao embaixador uruguaio na Argentina, e acompanhou a leitura da declaração da cúpula da segunda fila de assentos. Almagro informou que o uso do encontro de Mendoza (cuja pauta original centrava-se no debate dos efeitos da crise internacional e dos problemas existentes nas relações comerciais dos países do Mercosul) para deliberação sobre o polêmico ingresso da Venezuela no bloco decorreu de intervenção “decisiva” da presidente do Brasil, secundada pela da Argentina, Cristina Kirchner. E concluiu assinalando que, apesar da decisão anunciada, “não foi dada a última palavra sobre o referido ingresso, pois, em face da resistência do Uruguai, não se consumou a entrada formal e efetiva da Venezuela no Mercosul, que terá de depender ainda da avaliação jurídica do seu país, a ser feita até 31 de julho.

As revelações do ministro das Relações Exteriores do Uruguai surpreenderam e desagradaram profunda-mente a presidente Dilma Rousseff. Ela contava que não se tornasse público o protagonismo que teve ao forçar o ingresso da Venezuela, na expectativa de que o fato fosse tratado como “uma decisão unânime, que refletiu um consenso político” da Argentina, do Uruguai e do Brasil, conforme seu assessor especial Marco Aurélio Garcia em declaração feita anteontem, na tentativa de negar e desqualificar as afirmações do chanceler uruguaio. Assim, a presidente poderia vender tal ingresso – para os meios políticos e empresariais – como algo inevitável e que até lhe propiciaria exercer um certo controle sobre Hugo Chávez. Marketing esvaziado pelas referidas revelações, com dividendos bem negativos para o Palácio do Planalto. O que foi avaliado duramente em editorial do Estadão, de anteontem – “Golpe contra o Mercosul”. Do qual se seguem dois trechos: “Em mais uma decisão desastrada e vergonhosa para a diplomacia brasileira, a presidente Dilma Rousseff apoiou a suspensão do Paraguai e a admissão da Venezuela como sócia do Mercosul”. “Além de representar mais uma grave ameaça ao Mercosul, já enfraquecido por suas divisões, pelo protecionismo interno e por sua incapacidade de integração competitiva na economia global, a decisão a favor do ingresso da Venezuela é muito discutível do ponto de vista legal”.

“Virada” anti-Chávez do Uruguai – Assumindo postu-ra ostensiva semelhante à do chanceler Luiz Almagro, o vice-presidente do Uruguai, Daniel Astori (politicamente vinculado ao chefe de governo, José Mujica) – numa entrevista dada anteontem ao jornal El Observador, divulgada aqui em matéria da Folha Online – qualificou o ingresso da Venezuela no Mercosul como uma “agressão institucional” ao bloco econômico. “É uma ferida institucional muito importante, talvez a mais grave nos 21 anos do Mercosul”, afirmou. Mais adiante no texto da matéria: “Ainda segundo Astori, o ingresso da Venezuela e a suspensão do Paraguai atingem “o coração do Tratado de Assunção (que instituiu o Mercosul em 1991)” e ignoram uma de suas normas mais importantes (...) o ingresso de um membro pleno tem de ser aprovado por todos os membros plenos já existentes. O vice uruguaio manifestou esperança de que a decisão seja revertida”. E as posturas de autoridades uruguaias contrárias à decisão da cúpula de Mendoza inspiram mobilização parlamentar desencadeada pelos partidos oposicionistas do país vizinho. Assim, o Senado do Paraguai, o único dos quatro existentes nos países integrantes do Mercosul que não aprovou o ingresso da Venezuela chavista no bloco, vai saindo da posição solitária que adotou com a perspectiva de uma “virada” das forças políticas uruguaias na mesma direção.

Jarbas de Holanda é jornalista

Nome aos bois:: Eliane Cantanhêde

Ninguém crê na permanência do chanceler Antonio Patriota até o fim do governo. É injusto, porém, culpar o Itamaraty pela crise do Mercosul com a saída temporária do Paraguai e a entrada permanente da Venezuela.

A primeira reação de Dilma à queda de Lugo -que, apesar de armada durante meses, pegou todo o mundo (literalmente) de surpresa- foi considerá-la, intramuros, como um golpe.

O Itamaraty argumentou que a deposição foi votada pela Câmara, pelo Senado e posteriormente pela Justiça, abençoada pela igreja e acatada pelos brasiguaios. Aliás, pelo próprio Lugo. Por isso, a nota brasileira condena a "ruptura", não o "golpe".

Depois, Dilma entrou na fila aberta por Venezuela e enfim liderada pela Argentina, e chegou a pensar em punições drásticas ao Paraguai, como revisão do financiamento do BNDES ao gasoduto até Assunção.

O Itamaraty sugeriu que a reação fosse política, sem atingir a população e sem tumultuar ainda mais a política interna, pois a possibilidade da volta de Lugo era próxima de zero.

Por fim, Dilma e Cristina Kirchner viram a chance de fazer o que está para ser feito há anos: jogar a Venezuela no Mercosul, ampliando o poder econômico do bloco e amarrando Chávez às normas da região.

Mais uma vez, o Itamaraty alertou que o momento poderia não ser adequado, pela tensão, e que havia questões jurídicas complicadas: o Paraguai estava só suspenso, não expulso, e a adesão venezuelana precisava ser por unanimidade.

A posição pró-adesão foi definida a três: Dilma, Kirchner e o uruguaio José Mujica, sem a presença de diplomatas e assessores. Decisão de cúpula, até porque política externa é decidida pelos presidentes e apenas operada pela diplomacia.

Durona como ela só, Dilma não gosta do estilo melífluo de diplomatas. Mas presidentes têm de ouvi-los e, aliás, precisam ser diplomáticos. Aliás, externa e internamente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Nova Resposta:: Míriam Leitão

O mundo vive um momento grave da crise que começou em 2008. Ela teve um período de redução de intensidade em 2010, mas voltou a piorar. Neste quadro, é natural a queda do ritmo de crescimento. O governo acertou na redução da taxa de juros, mas não tem tido ânimo para enfrentar a agenda de reformas e mudanças que poderiam melhorar o ambiente de negócios no Brasil. Pior: em seis meses, só investiu 21% do orçamento.

Está na hora de mudar a natureza da resposta à crise. Até agora, o governo apostou apenas em aumento do consumo via endividamento. A família brasileira tem índices de endividamento menores do que os de outros países, mesmo assim, o custo dos financiamentos é muito alto no Brasil. Por isso o fôlego desse tipo de estímulo é mais curto do que em outras economias.

A redução da Selic e o esforço do governo para provocar a queda do spread bancário tornaram as dívidas mais baratas. Mesmo assim, a inadimplência está aumentando, principalmente das pessoas físicas.

O pacotismo serial do governo conseguiu reduzir a crise em poucos setores e por algum tempo, mas não tem sido suficiente. O último dado da produção industrial mostra isso. O setor de linha branca conseguiu segurar a produção em maio, por causa da queda do IPI. Os outros setores despencaram.

Quando sair o dado de junho, os números de produção de veículos serão melhores. Mas nenhuma retomada tem sido sustentada.

Nada disso é estrutural e o governo deveria pensar em outro caminho. Os dados do site Contas Abertas não deixam dúvidas de que o governo tem investido menos do que tem autorização para investir. Bem menos.

Do total previsto para investimentos em 2012 (R$ 90,1 bilhões), a União aplicou até junho só R$ 18,9 bilhões. Mas a notícia pode ser ainda pior: desse montante, apenas R$ 4,8 bilhões foram de investimentos feitos este ano, o restante, R$ 14,1 bilhões, são restos a pagar, ou seja, pendências do ano passado.

- Estamos no meio do ano é só foram investidos 21% do previsto. É muito pouco. Nesse número ainda estão incluídos os restos a pagar - diz Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas.

Se compararmos com o mesmo período do ano passado, a situação está só um pouquinho melhor. Em valores correntes, a União investiu R$ 17,8 bi entre janeiro e junho de 2011, R$ 1,1 bi a menos do que no mesmo período deste ano. Mas os investimentos feitos até agora são inferiores aos do primeiro semestre de 2010 (R$ 19,1 bilhões). Em valores constantes, atualizados pelo IGP-DI, da FGV, a redução entre o montante investido nos primeiros seis meses de 2010 e as aplicações de 2012 chega a R$ 3 bilhões.

O investimento total melhorou um pouco, quando comparamos os primeiros seis meses de 2011 e 2012, mas os números do Ministério dos Transportes seguem na direção contrária. Gil Castello Branco diz que a pasta aplicou neste primeiro semestre R$ 2,3 bilhões a menos do que investiu no mesmo período do ano anterior. Em valores constantes, são menos R$ 2,5 bilhões.

- A crise tem endereço certo. É Esplanada dos Ministérios, bloco R.

Os escândalos que levaram a substituições no Ministério paralisaram a máquina. Como resultado, há muito investimento que precisa ser feito e outros que foram interrompidos pela metade.

O governo precisa fazer um balanço dos pacotes setoriais anunciados, de quanto houve de renúncia fiscal, do resultado atingido. Eles custam caro, produzem desigualdades dentro do sistema produtivo e não têm tido resultado importante. Em vez de perseguir um número de PIB, o governo tem que ter uma proposta, uma agenda. Dentro dela, terá que estar a realização dos investimentos previstos no Orçamento.

O governo não investe, nem deixa investir. O ambiente de negócios no Brasil é hostil ao investimento. Custo da energia é muito alto, carga tributária aumenta todos os anos há duas décadas, sistema tributário é complexo e a logística é deplorável. Enfrentar essa lista é trabalhoso, exige que a presidente lidere a agenda legislativa em vez de apenas apagar incêndio. Neste exato momento, por não ter feito qualquer proposta relevante, e por ser ano eleitoral, o governo está encurralado pelo Congresso, que prepara aprovações de várias bombas fiscais.

FONTE: O GLOBO

Sem bala na agulha:: Celso Ming

Para uma plateia visivelmente desacorçoada de empresários, reunida no auditório da Fiesp, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, transmitiu poucas mensagens animadoras.

Insistiu em que a crise global é muito grave e que vem produzindo mais estragos do que se pensa. Com isso, pareceu tirar a responsabilidade do governo pela forte queda do crescimento industrial, de 3,4% nos primeiros cinco meses deste ano (em relação a igual período de 2011).

O ministro vem dizendo - e ontem repetiu - que o governo federal tem feito o que pode. E, entre as providências tomadas, nem chegou a elencar os nove pacotes pontuais e improvisados de incentivos fiscais e as medidas protecionistas cujos resultados vêm decepcionando. Preferiu apontar como decisões importantes de política econômica a desvalorização cambial colocada em marcha desde março e a redução dos juros. Para ele, essas decisões fazem parte do novo mix que determina os rumos da política econômica, que precisa apenas ser melhor entendida. Mas Mantega não foi capaz de convencer os cobradores de resultados de que a resposta da economia tem sido baixa. Chegou mesmo a argumentar que a desvalorização do real reduz os custos das empresas, sem explicar como chegou a essa conclusão - quando se sabe que esse fator aumenta as despesas tanto com importações de insumos, peças e componentes quanto com empréstimos externos.

Ele seguiu garantindo que o avanço econômico do segundo semestre ficará entre 3,0% e 4,0% e que, em 2013 e 2014, a economia brasileira estará rodando à velocidade de cruzeiro, com crescimento de 4,0% a 5,0% ao ano. Não são números diferentes das apostas que o próprio Mantega vem anunciando desde o último trimestre do ano passado e que, no entanto, desembocaram neste desempenho medíocre da economia.

O governo não tem na ponta da agulha nenhuma bala capaz de reverter imediatamente o jogo perdedor. Pede paciência. No entanto, se a crise global, sobretudo a europeia, vem gerando tantos estragos no setor produtivo como ele diz; e se, de resto, a crise continuará grave e sem perspectivas de solução; não há como concluir, a partir daí, que o pior está passando e que, nos próximos meses, tudo será diferente.

O ministro ainda avisou que o empresário ajudaria muito se voltasse a acreditar e se, afinal, liberasse com investimentos o espírito animal que carrega dentro de si. Mas não foi capaz de indicar como se processará a conversão.

Também ontem, a presidente Dilma Rousseff não apresentou notícias melhores. Limitou-se a declarar que "vamos virar esse jogo" - sem dizer como.

Este governo há muito imaginava que bastaria criar um forte mercado interno de massas e uma nova ajeitação macroeconômica para que tudo se resolvesse. Como a realidade vem contrariando essa expectativa, parece agora tomado pela perplexidade. Não é capaz de explicar como a produção industrial vai andando para trás enquanto o consumo avança à proporção de 5,0% a 6,0% ao ano. Nem sabe como induzir a virada quando cresce a percepção de que a alavancagem do consumo, graças ao aumento do salário e do crédito, já não dá conta do recado. Nessas condições, não basta recorrer ao encorajamento verbal do tipo "vamos, minha gente, acreditem".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO