sábado, 30 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

Você não governa um país tão diversificado como o Brasil, onde o partido do presidente não tem mais de 20% do Congresso, sem alianças. A questão da aliança é outra. Aliança para quê? Tem uma frase de um sociólogo, o Werneck Viana, que eu gosto muito, que diz o seguinte: “O PT e o PSDB disputam quem comanda o atraso. O problema grave é quando o atraso comanda”. Por exemplo, o mensalão foi um momento em que o atraso comandou o PT. As alianças têm que ser feitas com um propósito. Quando o objetivo é só se manter no poder, aí realmente você vê o atraso comandando o Brasil. "


(Fernando Henrique Cardoso, na entrevista ao Correio Braziliense, hoje)

Entrevista - Fernando Henrique Cardoso

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Ex-presidente acha que foi citado com tanta frequência na campanha petista por ser o autor das principais mudanças no país

Renata Mariz
Enviada especial

São Paulo — Uma cambalhota rumo ao pior da tradição política brasileira é como o sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso enxerga os oito anos de governo do atual ocupante do Planalto. Lula, para FHC, “esterilizou” o Partido dos Trabalhadores e obteve avanços econômicos menores do que era possível. Fernando Henrique considera a menção ao seu governo na propaganda eleitoral petista uma prova de que permanece como uma “pedra no caminho” dos adversários. “É um problema dentro da alma deles”, desdenha o ex-presidente, em entrevista exclusiva ao Correio. Durante a conversa na ampla sala que ocupa dentro do Instituto Fernando Henrique Cardoso, no centro de São Paulo, ele mostrou otimismo com os rumos do país, explicou por quais motivos considera o correligionário José Serra mais preparado para ser presidente, analisou os rumos que a disputa eleitoral tomou na reta final e criticou a postura de Lula na campanha, a quem chama de “líder de facção”. De Brasília, sente falta de sobrinhos e netos que moram na cidade e do “horizonte”, mas não da política. FHC também falou de suas atividades atuais, que incluem a participação em um filme a respeito do combate às drogas.

FHC “dentro da alma deles”

Que balanço o senhor faz dos oito anos de governo Lula?

Para minha surpresa, o Lula reforçou o que havia de pior na tradição política brasileira, que é o clientelismo, a fisiologia. Nunca imaginei que o Lula fosse dar uma cambalhota tão grande nesse sentido. Dentro do aspecto de cultura política, portanto, foi um retrocesso. O Estado brasileiro vem melhorando e continuará melhorando. Não podemos confundir o Estado com o governo. Você tem uma burocracia no Brasil cada vez mais competente. As empresas estatais são cada vez melhores. O que eu acho que o governo Lula fez de errado nesse aspecto é que voltou a ter uma coloração de ingerência política muito grande nas empresas estatais, que tinham que ser públicas e são cada vez menos públicas, no sentido de servir cada vez menos ao Estado e mais aos interesses de partidos e sindicatos.

As alianças feitas pelo PT ao longo do governo agravam esse quadro?

Você não governa um país tão diversificado como o Brasil, onde o partido do presidente não tem mais de 20% do Congresso, sem alianças. A questão da aliança é outra. Aliança para quê? Tem uma frase de um sociólogo, o Werneck Viana, que eu gosto muito, que diz o seguinte: “O PT e o PSDB disputam quem comanda o atraso. O problema grave é quando o atraso comanda”. Por exemplo, o mensalão foi um momento em que o atraso comandou o PT. As alianças têm que ser feitas com um propósito. Quando o objetivo é só se manter no poder, aí realmente você vê o atraso comandando o Brasil.

E quanto às realizações práticas, o senhor observa avanços?

O Fundo Monetário Internacional deu uma relação do que ocorreu do ano 2000 a 2010 nas economias mundiais. O Brasil passou de 9ª para 8ª. Porém, o crescimento da economia brasileira foi menor que a da argentina, da peruana, da colombiana. O PIB cresceu só 42,79% na década em média. Ou seja, 4,2%. Em renda per capita, passamos de 68º para 71º, sendo que o aumento de renda na década foi de 57%. O que isso quer dizer? Que estamos melhorando numa velocidade muito menor do que a maioria dos países.

Uma marca forte do governo Lula é a área social, tendo como vitrine o programa Bolsa Família. O que o senhor pensa a respeito disso?

Existem 15 países na América Latina com esse mesmo programa. Isso começou na década de 1990, em Honduras. O Brasil começou em 1997, com o Bolsa Escola e outras bolsas mais, e foi melhorando. O melhor país que fez foi o Chile. Tudo bem que lá são só 250 mil famílias. Mas eles conseguiram fazer um programa de tal maneira que eles acompanham as bolsas até que a família consiga dispensar o benefício, quando tem emprego e está ligada ao sistema geral de educação e saúde. O nosso ainda está longe disso. Até porque é muita gente. Não estou cobrando isso. Mas o fato é que estamos longe de ser um programa que tenha acabado com a pobreza. Está, na verdade, subsidiando a pobreza. É claro que é melhor subsidiar do que não subsidiar. Quem começou o subsídio fui eu. Mas você não pode cantar vitória alardeando redução de pobreza.

De onde vem esse otimismo? Acho que aprendemos a lidar com economia internacional, com câmbios e com programas sociais. O problema nosso agora é racionalidade e velocidade de gestão.Se o PT ganhar, como apontam os institutos de pesquisa, isso será possível?

Não quero prejulgar o que vai acontecer. Se for no mesmo caminho do que está ocorrendo, vamos continuar deixando muito clientelismo pelo caminho. A continuidade desse estilo de fazer política me parece muito ruim. Não falo das políticas de Estado. O Estado brasileiro como um todo aprendeu muito e faz, o governo menos do que Estado.

E o Serra no poder, como será? Serra define objetivos e vai buscá-los. O Serra não é um político no sentido tradicional, de ceder aqui, ceder acolá. E o Brasil, neste momento, precisa de gente que não tenha esse estilo tradicional para poder colocar as coisas no trilho. Como o senhor analisa a comparação exaustivamente apresentada na propaganda petista entre Lula e FHC?

A comparação é equivocada. Eu acho até fantástico que oito anos depois eles só falem de FHC. Não se livram dessa pedra no caminho, porque é uma pedra no caminho, não é? Não tem outro jeito porque as mudanças foram feitas por mim. Isso é um problema lá dentro da alma deles, que precisam se apropriar de tudo. E não conseguem, porque não tem jeito, não dá para mentir o tempo todo.

Lula saiu em defesa de sua candidata, enquanto a ausência do senhor no programa tucano foi percebida. O que ocorreu? Pergunte ao Serra e à campanha do Serra. Mas não foi criado, em julho passado, um núcleo político para a campanha, tendo o senhor como membro?

Esse núcleo nunca existiu. Eu só vi no jornal. Nunca houve reunião desse grupo. A campanha é orientada pelo Serra e pelo pessoal do Serra.

Na campanha para prefeito de São Paulo, em 1985, o senhor foi interpelado pelo apresentador Boris Casoy, durante um debate, sobre crer ou não em Deus. E acabou perdendo para Jânio...

Exato. E eu disse a ele que ele não deveria fazer essa pergunta. Falei que a pergunta deveria ser se eu respeitava as religiões, se, como prefeito, respeitaria a liberdade religiosa. A crença é uma questão pessoal que deve ser preservada numa democracia.

Já reviu a decisão de não cumprir mais mandatos políticos?

Não, continuo firme em não querer mais me envolver em política eleitoral. A vida intelectual para mim sempre foi muito forte.

É verdade que o senhor está fazendo um filme sobre a descriminalização da maconha?

Não sobre a descriminalização, mas sobre o problema das drogas em si. O tema do vídeo, do qual sou um dos participantes, é a chamada guerra contra as drogas, que está fracassando no mundo inteiro. Então, a ideia do filme não é apontar uma proposta, mas mostrar diferentes pontos de vista, diferentes experiências no mundo. Uma das mais importantes, sem dúvida, é a de Portugal, onde descriminalizaram todas as drogas. Ou seja, não é legalizar, e sim não mandar para a cadeia. Além disso, lá eles montaram uma rede de assistência aos dependentes. Creio que o caminho seja por aí, não pela repressão.

O senhor já tinha essa opinião quando presidente, mas não podia expressá-la?

Não, eu acreditava, quando estava no governo, que o caminho era erradicar. Fizemos, inclusive, erradicação de plantação de maconha em Pernambuco. O que não adiantou nada. Porque plantavam de novo em outro lugar.

Do ponto de vista democrático ::Raimundo Santos

As águas turvas da eleição presidencial, particularmente as do segundo turno, não vão impor o resultado do pleito sem resistência das áreas de esquerda e de centro-esquerda defensoras da política fundada no conhecimento intelectual da circunstância hoje reunidas em torno de Serra. É provável que o pleito se decida a favor do governo por força da hegemonia popular de Lula e da movimentação de inúmeras máquinas organizadas, sobretudo as dos três níveis de governo sob seu controle, o futuro, assim, pertencendo, pelo ativismo do Presidente da República, a Dilma Roussef. Neste campo eleitoral, o presente é apresentado pela ótica do alargamento da política social originária dos anos 1990 considerado como a grande transformação realizada pelo governo Lula. É tão forte este ponto de vista que outro dia a candidata se admirava ao ver quanto o seu governo fazia no plano social e ainda se mantinha a democracia. Tal estranheza desconsidera os clássicos que repensaram radicalmente o modelo revolucionário do passado e em particular as reflexões dos inúmeros autores que nos falam de um novo reformismo para o século XXI, tempo de grandes possibilidades democráticas e de desenvolvimento, embora ainda arraste guerras, crises, sequelas patológicas (drogas, criminalidade) e elevada fragmentação social de incidência perigosa no mundo político.

Esse tipo de resistência também esteve presente nos votos adicionais decisivos à passagem de Serra para o segundo turno, contendo, como já foi observado, a ambição do campo liderado pelo Presidente da República. No entanto, à medida que apareça a hipótese de uma vitória oposicionista, o desassossego de Lula certamente o levará a tudo fazer para ganhar a eleição, ficando mais nítido, na sua militância exasperada, o descompromisso com o Estado democrático de direito, já visível desde o seu primeiro governo quando se passou a usar, de forma consciente na esquerda, a política para fins transformistas (mensalão e outros), havendo agora indícios da dificuldade em aceitar a alternância no poder. O Presidente da República – falando mais de si e dos seus feitos do que dos problemas reais e futuros – é quem fala, aliás, com muita repercussão inclusive em áreas intelectuais, da necessidade de um segundo ciclo de governos – assim parece ter sido pensada a candidatura oficial – por meio de um “terceiro mandato” até o seu retorno mais adiante.

Por mais que se pinte a candidatura oposicionista como retrocesso para a vida dos pobres e Serra como condenável defensor das privatizações dos anos 1990 -- sem a avaliação desses dois temas à luz daquele período das reestruturações requeridas pela mundialização da economia (e também tempo em que quase não houve oposição política de esquerda ao governo Fernando Henrique Cardoso) – é difícil apagar destes dias correntes o fato de que Serra significa uma interrupção do modelo Lula de conduzir o país. Tem vigorado na era Lula um estilo caracterizado pela instrumentalização dos partidos, pela imobilização dos movimentos sociais, pela desvalorização da política (substituída na eleição em grande medida pelo carisma presidencial) e ainda marcado (esse é o efeito mais demorado de constantes atitudes presidenciais) por uma corrosão da cultura política democrática que vem se generalizando (papel importante tem a nova Constituição de 1988 ao dar-lhe lastro de direitos) de modo lento desde a redemocratização que ganhou curso amplo com a anistia de 1979. Neste contexto, a candidatura oposicionista não se resume à corrida de promessas e marketing – a que Serra se deixou levar –, agora sob pressão e velocidade ainda maiores de um governo que entra em pânico diante da possibilidade de uma derrota eleitoral quando a plena vigência da democracia política pressupõe normal alternância no poder.

Muitas são as tensões que movimentam esta eleição. No entanto, no campo que apoia a candidatura Serra não há aquele medo conquanto sua derrota, como ocorreu em 2002, não ensejará ofensivas de rua nem táticas para desestabilizar governo, diferente de um cenário em que Serra ganhe o pleito. Há, contudo, uma delas que terá grande importância para o futuro que é a tensão a pesar como uma ameaça sobre o reconhecimento pleno da política, particularmente partidária, como meio para ganhar a eleição e depois conduzir a república, orientar a economia e encaminhar medidas reformistas dirigidas aos problemas urbanos e rurais. Em relação ao primeiro ponto, é bom recordar a trajetória político-partidária da candidatura oposicionista, o próprio Serra tendo que ganhar a indicação para concorrer à presidência em meio a disputa, inclusive com reticências no interior do seu próprio partido, nisso sua escolha diferindo da de Dilma. Composta a sustentação heterogênea da candidatura oposicionista, nas suas áreas de esquerda e de centro-esquerda há crença (expressa em textos e falas públicas) na tradição brasileira que entende a política como processo para obter fins e resultados (fins, no dizer Habermas ao qualificar o reformismo deste nosso tempo, pensados distante do abismo entre o “ideal” e o “possível”, “sem adiar nada para o final dos tempos”), ou seja, como caminho eficaz escolhido para ser trilhado na vigência plena da democracia. Leia-se, no discurso proferido no lançamento de sua candidatura, esta afirmação de Serra: “E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.” E ainda: "Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis.”

Viram-se também quantas foram as demoras e quanto custou ao candidato oposicionista e às lideranças de esquerda e de centro-esquerda que lhe são mais próximas reunir apoios partidários para a sua campanha devido ao fato de que considerável parte do campo político no qual Serra tem sua maior força (partidos, nomes de prestígio político e líderes à frente de administrações municipais e estaduais) teria sido neutralizada pela poderosa influência de Lula, como agora dizem os analistas. Daí também que o seu crescimento nas pesquisas do início do segundo turno possa estar ligado não só à retomada mais animada da campanha como também à dinamização de áreas políticas já libertas daquele constrangimento, havendo ainda registro de tendências de opinião que reagem criticamente ao modo petista de governo sem que necessariamente se identifiquem com o candidato Serra.

Mesmo que o candidato já esteja no duro jogo eleitoral em curso, o valor da política – assumida por Serra sem reservas -- é uma dimensão que escapa das águas turvas e dos palanques exaltados que consomem estas eleições exibindo os dois candidatos indiferenciados. Aos olhos de setores de esquerda e de centro-esquerda alinhados com Serra, a valorização da política é o que distingue as duas candidaturas, é o que evidencia um discurso que aparece articulado ao modo antigo em contraste com o outro novo discurso radicado na mobilização variada sem mediação da política fundada em conhecimento da circunstância, como se vê na evocação diuturna na propaganda de Dilma da figura do Presidente da República.

Agora, nos últimos dias, optou-se na campanha de Dilma pela tática da comparação entre os modelos neoliberal e o do social. Apoiar esta opção, tal como se vê na propaganda, significa compartilhar a responsabilidade intelectual da mais completa abstração dos tempos dos governos de Fernando Henrique Cardoso, como se neles não tivessem sido estruturadas muitas soluções aos problemas hoje aí ainda postos (Plano Real, certas privatizações, fomento da agricultura familiar como estratégia permanente etc.). Aliás, já passa o momento para que aflore essa discussão sobre o “neoliberalismo brasileiro” do qual, aliás, se valeu o governo Lula para obter seus êxitos (a propósito daqueles anos 1990 e de reconhecimentos ao governo Lula, ver o lema de Serra “O Brasil pode mais”) e sobre o papel de Fernando Henrique Cardoso, o presidente democraticamente eleito com rejeição em consideráveis áreas da intelectualidade brasileira como jamais se viu neste país.

Sem aquela avaliação intelectual e pública em todos os seus termos, comparar um eventual governo de Serra à época de Fernando Henrique Cardoso não é o que diferencia as duas candidaturas. O fato mais significativo para caracterizar Serra na campanha em andamento, a meu ver, é o fato de que o candidato se reivindica, em pronunciamentos conhecidos (ver o artigo sobre os 25 anos da Nova República publicado pela Folha de São Paulo e o discurso acima citado), não só descendente da Nova República como proclama sua adesão sem reservas ao Estado democrático de direito. Essa identificação – à qual às vezes o candidato consegue aludir nos palanques como sua referência – é a questão hoje ameaçada de se perder e é o que baliza ambientes expressivos do campo que apoia Serra. Está por demais difícil discernir uma questão derivada, importante para se ver o “modelo” de Serra, qual seja, a de que o ponto de vista democrático, na circunstância que vivemos, põe o candidato e um eventual governo seu diante da economia com uma orientação deliberada de administrá-la como um todo. Isso significa atenção tanto aos problemas e às possibilidades das empresas como aos problemas e às possibilidades das famílias, conquanto ambas são patrimônio nacional, como diz o Partito Democrático da Itália se referindo aos efeitos predadores da recente crise financeira e aos desafios de se buscar inovações econômico-financeiras, tecnológicas, no campo da economia verde, inclusive inovações na esfera política. Adotar de forma pública a adesão sem reservas ao Estado democrático de direito adquire significado de diretriz de postura e programática (para valer no agir político e nos planos econômico e social) e indica que já não se trabalha com a noção de projeto doutrinário de sociedade futura mas com programas reformistas conscientemente expostos em discurso público único.

Como também se diz naquele partido europeu, aliás, às voltas com o grande problema da hegemonia efetiva de Berlusconi entre os eleitores italianos, trata-se de buscar uma aliança com a sociedade, “uma aliança com o país”, e já não mais de se mover na política eleitoral com a idéia de mobilizar forças contra inimigos, sendo esta a condição para se tornar competitivo e depois ter melhores condições para exercer função de governo. Isso requer, voltando ao tema da política social, ver a melhora da situação dos menos favorecidos não apenas por meio dos sempre indispensáveis programas emergenciais, mas como parte do renovamento da economia como um todo (por exemplo, o caso da agricultura familiar). E ainda: para que seja tentada, com resultado sustentável, a realização desse tipo de reformas pressupõe contexto político favorável, para o qual são fundamentais os partidos, o Congresso, a opinião pública, uma cultura política democrática e assim por diante e, por certo, a habilidade no fazer política (reunir energias, convergências e negociar soluções) do dirigente colocado no maior posto da república. Este parece ser -- pois também existe o cenário pós-eleitoral, caso Serra ganhe o pleito, de os perdedores se proporem lastrear o país com a mais radical oposição --, o motivo de o candidato estar falando, agora no segundo turno, do seu propósito de liderar um governo de concentração democrático-reformista, com isso querendo dizer que os atributos do carisma e da sagacidade sem política tanto são precários como enfraquecem as já debilitadas instituições democráticas (os partidos, que são os primeiros interlocutores dos gestores públicos). Esse é um caminho difícil, de avanço progressivo e bem diverso da marcha carismática à medida que esta – como se viu nos últimos tempos – está em busca permanente do poder em crescente detrimento do Estado democrático de direito.

Esse ponto de vista da política, mais precisamente democrático, é o que está em jogo nesta eleição na qual muitos veem os candidatos pouco diferenciados. Do ponto de vista democrático – aliás, prevalecente em outro momento de crise aguda, o mensalão, quando se preferiu dar sequência ao curso institucional-democrático --, muito depende o andamento das coisas nos cenários próximos, ganhe Dilma ou Serra. Mais que uma candidatura tucana, a candidatura Serra está colocada na encruzilhada das duas crenças -- crença na política ou na luta pelo poder a qualquer custo --, postando-se Serra como descendente de uma cultura política custosamente acumulada neste país.


Raimundo Santos é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/CPDA)

Realidade e utopia:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A oposição chega à reta final da campanha presidencial fazendo contas de chegar que só fecham se tudo der certo para ela, e tudo der errado para a candidata oficial, o que por si só indica que é muito difícil a reversão do resultado previsto pela maioria das pesquisas eleitorais.

No embate entre a utopia e a realidade, sobram esperanças que às vezes esbarram em números frios como os das pesquisas que, na sua esmagadora maioria, indicam a vitória de Dilma.

O presidente do DEM, deputado reeleito Rodrigo Maia, por exemplo, anda no seu iPhone com uma manchete do dia da eleição para prefeito do Rio em 2000 prevendo a vitória de Conde por uma diferença de 14 pontos com base em pesquisa do Datafolha.

Cesar Maia venceu a eleição por dois pontos de diferença.

Essa é a esperança dos tucanos para esta eleição: que uma virada de última hora em São Paulo e em Minas Gerais dê a vitória a José Serra contra o favoritismo de Dilma.

Pelo menos há um trabalho bastante intenso de suas principais lideranças para essa tentativa, o que já demonstra a evolução política do grupo, que em outras eleições se dividiu permanentemente e desistiu da campanha com antecedência diante da inevitabilidade da derrota.

Desta vez, tanto no primeiro quanto neste segundo turno, a oposição se recusa a aceitar a derrota como um fato da vida.

Chegou ao segundo turno a reboque da votação excepcional da senadora Marina Silva, do Partido Verde, mas está conseguindo aumentar a parcela de eleitores que vota na oposição.

Mesmo as pesquisas que dão vitória a Dilma preveem que Serra superará a marca dos 40% dos votos válidos, que foi o que tanto Serra quanto Alckmin obtiveram nas disputas com Lula nos segundos turnos de 2002 e 2006.

A aposta da oposição é que a diferença será menor ainda, podendo mesmo transformar-se em uma vitória que seria histórica se tornasse realidade.

Contra essa utopia oposicionista, mais do que qualquer obstáculo eleitoral, se posta a figura de Lula.

As pesquisas qualitativas que a oposição manda fazer indicam claramente que os eleitores estão a fim de votar na candidata do Lula, de pouco ou nada valendo as eventuais qualidades intrínsecas da candidata Dilma Rousseff.

E é justamente essa vulnerabilidade da adversária que alimenta a esperança de uma virada.

A comparação entre Serra e Dilma, por exemplo, tem mais importância para os eleitores do que a feita entre Lula e Fernando Henrique, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, e só tem prioridade no Nordeste, onde Dilma vem tirando a grande diferença de votos que lhe garante a dianteira.

Pelos cálculos da campanha governista, Dilma pode tirar até 8 milhões de diferença na região, enquanto os tucanos esperam perder por 5 milhões ou 6 milhões.

Na conta oposicionista, a abstenção no Nordeste pode reduzir essa diferença.

Na comparação entre os dois candidatos, o tucano José Serra vem explorando o sentimento de receio que eleitores têm em relação à falta de experiência e ao desconhecimento da candidata do governo.

Esse receio se expressa com mais força no Sudeste, mas está presente também no Sul, no Centro-Oeste e no Norte.

Há uma fragilidade na campanha de Dilma que os tucanos esperam explorar até o último momento: segundo pesquisas, existem 16% dos que se dizem seus eleitores que têm receio de um eventual governo dirigido por ela.

Para neutralizar essas desconfianças, o presidente Lula avalizou sua candidata de todas as maneiras durante a campanha, chegando a exagerar nos seus atributos, conferindo-lhe papel central nas realizações do governo.

Esse gesto de desprendimento presidencial, não muito usual na sua personalidade egocêntrica, na verdade é um tributo a si mesmo, pois eleger Dilma é parte inseparável de seu projeto pessoal de poder político para além da Presidência.

Não apenas uma demonstração de força, como também uma tentativa de continuar influindo nas decisões do país.

Se vai dar certo, não se sabe, e o mais provável é que não dê, diante dos exemplos históricos em que a criatura quase sempre rompe com o criador.

O presidente, aliás, é mestre nesse comportamento dual, em que constrói e desconstrói fatos e pessoas, como se tivesse um gosto especial nesse jogo que só comprova seu poder de persuasão.

Assim como levou nos ombros a candidata que escolheu do nada, Lula também já criou diversos embaraços para a campanha petista.

Sua tagarelice, quando tudo indicava que, afinal, conseguiria superar seu trauma de nunca ter vencido uma eleição no primeiro turno, ajudou a levar a eleição para o segundo turno.

A maneira irresponsável com que acusou Serra de ter protagonizado uma farsa no episódio de Campo Grande, no Rio, trouxe problemas para sua campanha, mas, ao mesmo tempo, deu munição para que a facção aloprada de sua militância tivesse assunto para animar a campanha.

Seu rancor na disputa política trouxe-lhe, e para a sua candidata, o repúdio de setores mais politizados da sociedade, mas também tirou do caminho de um eventual governo Dilma líderes oposicionistas de peso.

Até mesmo o senador Marconi Perillo, que cruzou seu caminho duas vezes — uma quando apareceu como o idealizador do Bolsa Família, ao sugerir a unificação dos programas já existentes, e outra quando anunciou que denunciara a existência do mensalão a Lula, que nada fez — está passando por momentos difíceis em Goiás, onde chegou a liderar com folga a corrida para o governo e hoje está vendo essa diferença se reduzir, devido ao empenho pessoal de Lula em derrotá-lo.

No final da campanha, resta aos tucanos aguardar que os votos de São Paulo e de Minas façam valer a força do PSDB nos dois maiores colégios eleitorais do país.

Mesmo que as pesquisas não indiquem isso, a cúpula do partido conta com uma ampliação maior da vantagem em São Paulo — por volta de 3 milhões de votos, no mínimo — e pelo menos zerar a vantagem que a candidata petista tirou em Minas no primeiro turno.

A tarefa do governo é mais simples: apenas manter o que já ganhou no primeiro turno. No Nordeste e no Rio, a diferença a seu favor está sendo ampliada.

Depois do palanque:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Quando novembro vier, será inevitável olhar o quadro econômico sem escapismos. Há muitos dilemas para enfrentar. A dívida bruta está em torno de 60% do PIB, o superávit real caiu, num ano de aumento de arrecadação. O dólar é um preço desconcertante.

O governo não sabe o que fazer com o câmbio. Os candidatos evitaram o tema economia e gastaram sua munição em algumas falsas batalhas.

Os números ouviram muito desaforo durante o programa eleitoral e os debates.

Foram contorcidos para confessar o que não registraram ou foram tomados pelo que se parecem e não pelo que são de fato.

O mercado de trabalho teve mais dinamismo no governo Lula, sem sombra de qualquer dúvida. Mas quem procurar no Ministério do Trabalho ou no IBGE vai encontrar números diferentes dos 15 milhões de empregos que Dilma Rousseff tem dito que foram criados.

Há de fato boas notícias nessa área. E há um mar de más notícias. O desemprego de jovens de 18 a 24 anos está em 14%, isso é 125% maior do que os 6,2% da taxa média de desemprego, que é a mais baixa desde o começo da pesquisa. No Recife, o desemprego de jovens é de 20% e em Salvador é de 24,5%. Na informalidade estão 22 milhões de trabalhadores. Números que informam que no melhor momento recente do mercado de trabalho, há desafios gigantes pela frente.

O número de alta do PIB é mais vistoso do que real.

Parte dos 7,5% do crescimento este ano é apenas a recuperação da queda do ano passado. O país crescia a 6%, caiu para taxas negativas, e este ano recuperou o que havia perdido e ainda cresceu. Mas de crescimento real mesmo, segundo especialistas, é entre 4% a 4,5%, o que é uma boa taxa. Isso significa que para repetir o nível de 7% no ano que vem, só mesmo pisando mais o pé na tábua e criando mais distorções. É por isso que as previsões são de crescimento menor em 2011.

O Brasil tem sido visto com bons olhos por analistas de bancos, fundos e agências de risco estrangeiros não porque as contas públicas melhoraram, é que o mundo piorou muito. Na comparação com outros países o Brasil parece bem.

Mas há dados que afligem. A arrecadação está aumentando mais de 17% e mesmo assim o Brasil está reduzindo o superávit primário e a dívida bruta está em 60%. A dívida líquida só não está aumentando por causa dos truques contábeis como o de registrar como empréstimos o dinheiro transferido para o BNDES. O superávit primário de setembro foi tão gigante quanto falso, mas o governo aproveitou a fantasia e mandou gastar mais. A receita é falsa, o gasto é real.

Números marretados são ótimos para inglês ver, mas não enganam quem vive de olhar os indicadores brasileiros.

O crédito está se expandindo fortemente e já está perto de 50% do PIB.

Mesmo assim, essa medida de crédito/PIB do Brasil é baixa quando comparada com outros países. Só que com os juros brasileiros o custo do serviço dessa dívida tanto para as famílias quanto para as empresas é muito mais alto. Nosso horizonte de endividamento é mais curto. As famílias se endividam a 40% ao ano.

Isso é muito alto.

O Brasil está melhor do que outros países do mundo e ainda paga juros de 10,75%, por isso tem atraído mais capital estrangeiro; o capital entra derrubando o dólar; o dólar incentiva a importação e aprofunda o déficit em transações correntes. O governo tenta deter a entrada de dólar com aumento do IOF e ameaças de que tem “outras armas” mas não diz quais. Isso apressa novas entradas. O Banco Central compra mais reservas internacionais numa moeda que está perdendo valor em relação às outras e em títulos de dívida de países que não remuneram seu capital.

E se endivida a 10,75% ao ano. Está pegando dinheiro no cheque especial para aplicar na poupança. E mesmo com toda essa compra de reservas o dólar cai.

Os setores que se sentem ameaçados pelos importados começam a pedir medidas de proteção. Assim, o país vai criando um desajuste atrás de outro.

Parte do déficit externo é causado por aumento de investimentos. Isso é ótimo porque aumentará a capacidade produtiva da economia brasileira. Só que parte desse excesso é para financiar consumo. E aí é que mora o perigo.

O dólar baixo ameaça os produtores locais, que já falam em “desindustrialização”, como a Fiesp, mas é o que tem garantido que a inflação não suba muito. Os preços de alimentos e serviços estão em alta, mas o de produtos impactados pelo dólar estão subindo mais devagar pela queda da moeda americana. O que significa que se o governo tiver sucesso no seu projeto de desvalorizar o real frente à moeda americana, terá um outro problema para resolver: a alta da inflação.

O ministro da Fazenda disse que aumento de gasto não é inflacionário.

Ele se engana mais uma vez. A inflação não está subindo apenas porque o dólar está baixo e tem puxado para baixo o índice.

Para onde se olhe há circulo vicioso se formando na política econômica, administrada com imperícia e desconhecimento teórico básico. Parte do sucesso atual se deve ao fato de que a China crescendo está comprando mais e elevando preços de commodities que o Brasil exporta. Não fosse isso, o rombo nas contas externas seria maior. Só que parte do crescimento da China se deve às exportações turbinadas por um yuan com preço artificialmente baixo.

A torcida é para que este governo e o próximo a ser eleito consigam ver os riscos que estão se formando.

Quando forem desarmados os palanques talvez seja possível admitir a existência dos desequilíbrios. Mas isso, quando novembro vier.

Hélio Bicudo: Liberdade de expressão

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A liberdade de expressão, que tem na imprensa sua melhor qualificação, não é vista com bons olhos por quantos se sentem intocáveis no exercício da função pública.

Quando os ventos autoritários se fazem sentir, violando os direitos fundamentais da pessoa humana, o primeiro a ser descartado é o da liberdade de expressão, buscando cerceá-la para que a verdade seja ocultada da sociedade civil, embalada pela mentira.

Tivemos episódios na América Latina que bem demonstram o mal-estar de governantes que, embora eleitos inicialmente segundo as normas democráticas, não conseguem aceitar, mínimas que sejam, críticas a seu modo de atuar.

É o que se viu na ditadura Fujimori no Peru e que reaparece em países de nosso hemisfério, alguns deles claramente agindo contra a liberdade dos meios de comunicação e outros, como é o caso do Brasil, procurando, sorrateiramente, o mesmo resultado, mediante o sofisma da "democratização da mídia".

Das críticas à imprensa escrita, falada e televisiva, diante da dificuldade encontrada pela União em agir segundo um claro sistema de censura, a incumbência passa, numa primeira etapa, aos Estados governados pelo PT.

É o caso do Ceará, que já elaborou lei fiscalizadora e que está sendo seguido por Alagoas, Piauí e Bahia, nos quais se pretende constituir conselhos para atuar no controle dos órgão de comunicação, como se isso devesse ocorrer em benefício do povo.

Ora, basta ler a Constituição, quando trata dos direitos fundamentais, para constatar, no seu artigo quinto, a imposição da inviolabilidade do direito de expressão, independentemente de censura ou de licença.

Acrescente-se que a Constituição impõe a punição a qualquer discriminação atentatória contra os direitos e liberdades fundamentais (inciso XLI do citado artigo quinto).

Na verdade, o reconhecimento dos direitos fundamentais é, sem dúvida, o elemento básico para a realização do princípio democrático. Na lição de Gomes Canotilho, constitucionalista português de notável saber, qualquer que seja a compreensão que se queira atribuir ao princípio democrático, parece inequívoco que, dentre outros, o exercício democrático do poder implica o livre exercício do direito de liberdade de expressão, que é, ao lado de outros, constitutivo do próprio princípio democrático.

Vai daí que, no ensinamento de Hans Kelsen, na ideia de democracia há dois postulados, considerados primordiais do ser social: a reação contra a coerção resultante do estado de sociedade e o protesto contra o tormento da heteronomia, ou seja, a submissão de tício a terceiro.

Desde que concretizados os conselhos estaduais de real censura à mídia, que se irão multiplicar segundo as imposições do poder central, passar-se-à à regulamentação deles pelo governo federal, sob o pretexto de uniformiza-los.

É, sem dúvida, a estratégia de impor censura aos meios de comunicação e, em especial, à imprensa, ideia que fora enunciada pela Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) em 2009, por convocação do governo Lula.É preciso, pois, que a vigilância pela sociedade civil não se deixe esmorecer diante da euforia que o desenlace eleitoral possa ensejar a este ou àquele, mas continue mostrando que não se conforma com aventuras antidemocráticas.


Hélio Bicudo, 88, advogado, é presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos). Foi vice-prefeito do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy) e deputado federal pelo PT-SP (1990-94 e 1995-98).

Para construir o futuro:: Editorial – O Estado de S. Paulo

Quem suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva só poderá construir o futuro e consolidar o Brasil como grande economia se for capaz, em primeiro lugar, de proteger a estabilidade conquistada a partir dos anos 90. Precisará cumprir uma longa agenda para modernizar o País, torná-lo tão competitivo quanto as economias mais dinâmicas e garantir seu lugar entre as potências. Mas, para isso, o governo terá de abandonar o voluntarismo, renunciar à farra com dinheiro público e retomar o caminho da responsabilidade. Esse caminho foi claramente abandonado e a mais nova comprovação desse fato é a escandalosa manipulação das contas públicas.

Nenhum avanço teria sido possível, nos últimos oito anos, sem a base construída até 2002. O combate à pobreza teria sido muito menos eficiente se a inflação desenfreada continuasse corroendo cada aumento salarial e cada centavo das políticas sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu esse fato e por isso respeitou a ação do Banco Central, mesmo contra as pressões dos companheiros e aliados. Mas seu compromisso com a política responsável tem sido cada vez mais frouxo - tanto mais frouxo quanto maior a sua dedicação ao jogo eleitoral e ao seu projeto de poder.

O próximo governante deverá, portanto, enfrentar uma dupla tarefa, se não quiser condenar-se ao fracasso. Terá de afastar o risco de um retrocesso, preservando o tripé da estabilidade: uma política realista de metas de inflação, respeito à responsabilidade fiscal e câmbio flutuante.

Para manter esse rumo, terá de corrigir uma série de desvios. Precisará conter a expansão do gasto corrente, abandonar a demagogia com os salários do setor público, renunciar ao empreguismo e ao aparelhamento do governo. Deverá buscar a eficiência do setor público - inaceitável para a ideologia petista - e buscar o máximo retorno para cada centavo do orçamento.

Uma efetiva poupança pública será indispensável tanto para o crescimento seguro da economia quanto para a adoção de uma política anticíclica digna desse nome, como a adotada, por exemplo, no Chile: economizar em tempos de prosperidade para gastar nas fases difíceis.

Com o manejo responsável e eficiente do dinheiro público, realizar a decantada reforma tributária será muito mais fácil. Será necessária, naturalmente, uma complicada negociação com Estados e municípios, uma tarefa evitada, durante oito anos, pelo presidente Lula.

Se o próximo governo fracassar nesse item, por incompetência ou indisposição para missões difíceis, o empresário brasileiro continuará em séria desvantagem no jogo internacional. Mais que isso, poderá encontrar dificuldade crescente para competir e, portanto, para produzir e criar empregos. Todos os candidatos prometeram trabalhar por essa reforma. Nenhum, no entanto, detalhou a promessa nem disse como enfrentará a tarefa.

Se quiser garantir uma nova e prolongada prosperidade, quem suceder ao presidente Lula deverá resistir à tentação de controle pessoal ou partidário da economia. Terá de renunciar à ideia de reestatizar empresas bem-sucedidas no setor privado e também ao uso de instrumentos de governo, como os bancos públicos, para operações promíscuas.

Não faltarão empresários dispostos a construir com o grupo governante esquemas de dominação econômica disfarçados de projetos nacionalistas. O germe de um capitalismo de compadrio e de favores já se instalou e prosperou nos centros de poder nos últimos anos. É tempo de combater esse germe, não só em benefício da economia, mas também do regime democrático.

A construção do futuro dependerá igualmente de um retorno à diplomacia realista e eficiente, guiada pelo interesse nacional bem compreendido e não por ilusões ideológicas dos anos 60.

Seja quem for o novo ocupante do Palácio do Planalto, precisará de ideias claras e de muita determinação para cuidar dessas tarefas. Enfrentará pressões de grupos instalados no aparelho estatal e de grupos nutridos pelo setor público e acomodados à sua sombra, como os agentes do peleguismo sindical e estudantil. A construção, em algumas áreas, dependerá de um trabalho prévio de demolição.

Último duelo

DEU EM O GLOBO

Último duelo Dilma Rousseff e José Serra se cumprimentam no começo do debate de ontem à noite, na Rede Globo. Eleitores indecisos fizeram as perguntas aos candidatos, que puderam debater suas propostas.

Debate com o Brasil real

Sem ataques, Dilma e Serra discutem, na Rede Globo, problemas levados por eleitores indecisos

Maiá Menezes, Paulo Marqueiro, Fábio Brisolla e Fábio Vasconcellos

Finalmente, um debate de propostas sobre problemas concretos.

Numa clara tentativa de evitar o clima de guerra que adotaram nos outros debates no segundo turno, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se concentraram em responder aos temas propostos pelos eleitores indecisos, que relataram seus problemas reais e pediam soluções, no último debate da eleição, realizado ontem à noite pela Rede Globo. Serra provocou sutilmente Dilma ao falar de corrupção e de inflação.

Mas, na maior parte do tempo, listaram propostas para temas como funcionalismo, agricultura, segurança, saúde e saneamento.

Ao responder à pergunta do advogado Lucas Andrade, do Distrito Federal, sobre a sucessão de escândalos envolvendo políticos no país, Serra afirmou que a corrupção no país “chegou a níveis insuportáveis”. Na réplica sobre o tema, ele citou o caso dos aloprados, petistas envolvidos na compra de dossiê contra a campanha dele ao governo de São Paulo, em 2006. O tucano falou sobre escândalos que atingiram a política “nos últimos 20 anos”. Serra fez uma referência indireta a denúncias na Casa Civil, mas, diferentemente de outros embates, sem citar o nome do PT, da adversária Dilma ou da ex-ministra Erenice Guerra: — O exemplo tem de vir de cima.

Tem de ser implacável, não passar a mão na cabeça. Quando o chefe passa a mão na cabeça, é terrível, pois isso vai acabar se repetindo porque pessoas vão achar que estão protegidas.

Há casos até hoje insepultos.

Lembra do dossiê dos aloprados? Tinha R$ 1,7 milhão que a polícia apreendeu, ninguém foi condenado, não tem processo. Esse é um péssimo exemplo — disse Serra.

Consenso sobre concursos públicos

O tucano defendeu a liberdade de imprensa ao dizer que é a mídia que “descobre grande parte das irregularidades e não pode ser inibida, pressionada”.

Dilma, na réplica da pergunta sobre corrupção, elogiou a atuação da Polícia Federal: — Nos últimos anos, reforçamos e profissionalizamos a Polícia Federal.

Começamos a ver uma série de casos de corrupção sendo apurados. E vimos pessoas de gradação mais elevada sendo presas. Mal feito, pode ter certeza, que em qualquer lugar que não houver investigação, vai acontecer. Tem que investigar e punir.

E a PF é um dos maiores instrumentos de apuração.

A pergunta sobre agricultura familiar, feita a Dilma pelo funcionário público Robinson Luis, de Porto Alegre, foi usada como recurso para uma outra discussão: o risco da volta da inflação ao país. A questão apareceu na réplica de Serra: — O que precisa a agricultura? Precisa de renda. Para renda, precisa de crédito. Às vezes, ele não tem condição de pegar. Será necessário fazer uma reorganização ampla.

Com política de juro alto e moeda valorizada, o agricultor (gaúcho) perde competitividade para a Argentina e o Uruguai. E infraestrutura.

Ele precisa de estrada, e 40% da armazenagem são considerados ruins e falta estrada, isso encarece o preço do milho, etc. Estamos tendo aumentos imensos no preço do feijão, do arroz, leite, açúcar, carne.

Não são aumentos sazonais. A inflação de alimentos está o dobro da inflação do consumidor médio.

Dilma defendeu a política de agricultura familiar implementada na gestão Lula. E também reagiu a Serra: — Nós aumentamos o crédito, que era de R$ 4,2 bilhões, para R$ 16 bilhões, e o crédito da agricultura, principalmente a familiar, é feito com juros subsidiados, porque tem sentido social. Criamos o seguro agrícola e isso tem sido responsável pela diminuição da pobreza e o aumento da renda. Eu vou ampliar o programa de compra direta de alimentos do agricultor familiar.Vou ampliar de 700 mil (agricultores) para mais 500 mil.

Esse momento de aumento de preços de alguns alimentos é sazonal, isso aconteceu em outros momentos.

Por isso a inflação está em torno de 5,1% — defendeu Dilma, A valorização do funcionalismo público uniu Dilma e Serra. O tucano voltou a defender a concessão de benefícios por mérito e a aposentadoria integral para os funcionários públicos, “porque eles têm dedicação integral”. Já a petista disse que era uma tradição tratar mal o funcionário público. A partir daí, fez um balanço da gestão Lula, lembrando dos concursos públicos. E falou de educação, dizendo que o governo tem valorizado os professores: — Sou contra serviços terceirizados e precários na função pública — afirmou a petista.

Um outro tema que preocupou os indecisos foi a segurança. À pergunta feita pela costureira de Fortaleza Vera Lúcia Bezerra, Dilma reconheceu as limitações da União: — É uma situação tão grave que a União é obrigada a fazer cooperação entre estados e municípios, por exemplo, pagando bolsa aos policiais. Eu proponho a criação de políticas comunitárias.

Serra defendeu uma ação mais enérgica do governo federal: — Pela constituição cabe aos estados, mas o governo federal deve se jogar nessa luta, principalmente combatendo contrabando de drogas e armas.

A droga entrando, ela gera o crack e fomenta o crime — disse Serra, que defendeu a criação de um cadastro nacional de criminosos.

Dilma afirmou que o cadastro já existe e que o governo Lula policia fronteiras.

O debate, realizado no estúdio da Central Globo de Produção, contou com a participação de 80 eleitores indecisos, que foram selecionados pelo Ibope em todas as regiões do país. Esses eleitores redigiram perguntas importantes para o futuro na nação, escolhendo temas definidos pela produção.

Seguindo as normas acertadas com os candidatos, o debate teve três blocos. Em cada um deles, quatro eleitores fizeram perguntas. O primeiro candidato a responder em cada bloco foi definido por sorteio. As respostas, as réplicas e tréplicas tiveram duração de dois minutos.

Após o fim do terceiro bloco, Dilma e Serra fizeram suas considerações finais, encerrando o último debate da campanha.

Para debate, Dilma se isola e copia Lula

DEU EM O GLOBO

Maria Lima

A preparação de Dilma Rousseff para o mais decisivo debate dos presidenciáveis, realizado pela TV Globo na noite de ontem, começou na quarta-feira, quando ela assistiu a sessões de vídeo dos debates do presidente Lula na emissora, em 2002 e 2006. Desde quinta-feira à noite, a candidata petista permaneceu isolada com a equipe em um andar inteiro de um hotel na Zona Sul do Rio, municiando-se de dados do governo, revendo os vídeos e recebendo instruções sobre o formato do debate da Globo.

— O vídeo dos debates de Lula mostra como ele reagiu às alfinetadas do tucano Geraldo Alckmin sem parecer arrogante.

Lula ensinou tudo a Dilma, como andar durante os discursos no palanque, comunicando-se mais com o público — contou o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.

Troca de ataques, só de forma velada

DEU EM O GLOBO

Serra diz que crescimento não pode ser "voo de galinha"; Dilma: país cresce desde 2003

Os indecisos convidados pela TV Globo levaram para os dois últimos blocos do programa temas como saneamento, educação, geração de empregos e saúde.

O tom propositivo não impediu, no entanto, que os presidenciáveis recorressem a ataques sutis. Serra afirmou que o governo federal elevou os impostos na área do saneamento, o que teria dificultado os investimentos no setor. Bem rouca, Dilma Rousseff aproveitou uma pergunta sobre educação para dizer que professores não podem ser tratados a cacetadas, numa referência indireta aos confrontos ocorridos no estado de São Paulo.

A primeira indireta, no segundo bloco, partiu do candidato tucano. Na resposta a uma pergunta sobre saneamento, Serra defendeu a criação de uma defesa civil nacional para atender os moradores atingidos por enchentes. O candidato do PSDB disse também que o aumento dos impostos do governo federal retira recursos das empresas estatais: — Tem um dado que prejudica os investimentos em saneamento: o governo federal duplicou os impostos sobre o saneamento. Isso tirou R$ 2 bilhões das companhias estaduais por ano e diminuiu o seu investimento.

Dilma afirmou que os governos anteriores não investiam em saneamento porque não era possível colocar o nome dos políticos nas obras. Ela prometeu triplicar os investimentos em saneamento e que, para isso, seriam necessários R$ 45 bilhões.

Dilma defendeu o aumento dos salários dos professores, ao responder sobre educação, mas usou uma provocação recorrente em seus programas de TV: — O professor para ser valorizado precisa ganhar bem, e ter formação continuada. Não se pode estabelecer com o professor uma relação de atrito, quando pede melhores salários, acaba sendo recebido com cassetetes.

Serra defendeu a melhor formação dos professores, mas criticou a política de educação na Bahia, administrada pelo PT: — A Bahia, um estado governado pelo PT, um partido do governo federal, nem assim fez-se milagres na Educação. Porque é preciso fazer um trabalho muito grande, que vai além do discurso e da boa intenção.

A questão ambiental, seara da candidata derrotada Marina Silva (PV), foi defendida com ênfase por Serra e Dilma. Um morador de Belém perguntou o que seria feito para reduzir o desmatamento e as queimadas em sua região. Dilma citou as ações do governo: — A área desmatada estava em 27 mil quilômetros quadrados e conseguimos reduzir para 7 mil quilômetros quadrados. E pretendo reduzir ainda mais. A tolerância será zero com desmatamento — disse Dilma.

Em seu comentário, Serra lembrou que a redução do desmatamento deve estar associada a uma política de empregos para a população: — Tem de oferecer alternativa econômica para a população.

Isso é fundamental.

Na pergunta sobre empregos informais, Serra ressaltou a importância de incentivar um “crescimento sustentável” da economia através de parcerias entre governo e estado: — Precisamos de uma economia forte. Não podemos viver a situação de voo de galinha, que dá um salto grande mas não consegue se sustentar.

Dilma disse estar empenhada em dar condições para que as pessoas saiam da informalidade.

A candidata também comentou a ironia de Serra: — Conseguimos criar 15 milhões de empregos, três vezes mais do que o governo anterior.

Isso não é voo de galinha, vem desde 2003.

Ao falar sobre políticas sociais, Serra elogiou o Bolsa Família, mas disse que o programa deve ser acompanhado por uma política de empregos.

Dilma respondeu com uma crítica ao governo de São Paulo, administrado por Serra: — Em São Paulo, e cabe a constatação: quem cuida de pobre por lá é o governo federal.

Na última semana, Petrobras fez campanha todos os dias

DEU EM O GLOBO

Às vésperas do segundo turno das eleições, a Petrobras não passou um único dia sem divulgar notícias favoráveis ao governo: de patrocínio para projetos sociais a descobertas em águas ultraprofundas no Nordeste. Ontem foi a vez de a Agência Nacional do Petróleo anunciar estimativas de reservas da área de Libra, na Bacia de Santos: entre 3,7 bilhões e 15 bilhões de petróleo, numa "margem de erro" de 305%. A Petrobras poderá ficar com pelo menos 30% dessas reservas do pré-sal. A ANP disse, no entanto, que o mais provável e que Libra tenha 7,9 bilhões de barris, igualando-se ou superando Tupi. Para o especialista Adriano Pires, a ANP errou ao divulgar as previsões com o mercado aberto e muito próximo ao dia da eleição.

Petróleo em ritmo eleitoral

Às vésperas da eleição, Petrobras faz anúncios e ANP estima em até 15 bilhões de barris pré-sal de Libra

Danielle Nogueira

Na reta final para o segundo turno das eleições, o setor de petróleo brasileiro viveu uma intensa agenda de divulgações, com destaque para anúncios feitos por Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP). A semana começou com a divulgação dos projetos sociais e ambientais que receberam patrocínio da Petrobras e terminou ontem com o anúncio pela ANP da estimativa de volume recuperável de óleo de Libra, área localizada no présal da Bacia de Santos. Segundo a agência, o volume pode variar bastante: de 3,7 bilhões a 15 bilhões de barris de petróleo. Ou seja, 305%. No cenário mais otimista, Libra se tornaria o maior campo já descoberto no Brasil, com praticamente o dobro das reservas estimadas para Tupi (de até oito bilhões de barris), também situado no pré-sal da Bacia de Santos.

Os anúncios incluíram ainda a descoberta de uma nova fronteira exploratória, no litoral de Sergipe, onde a Petrobras encontrou petróleo em águas ultraprofundas, e a entrada em operação do navio-plataforma Cidade de Angra dos Reis, em Tupi, com o qual a produção no campo, hoje em teste, se tornará comercial. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a sujar as mãos de petróleo, repetindo o gesto do então presidente Getúlio Vargas no início dos anos 50, e afirmou que o século XXI será a vez do Brasil. Na opinião de especialistas, a sucessão de eventos mostra claramente a “instrumentalização política” de Petrobras e ANP num contexto de corrida eleitoral.

— Governo e oposição estão disputando a paternidade simbólica do pré-sal, que representa o país do futuro, a possibilidade de nos tornarmos exportadores de petróleo. O que se vê é uma instrumentalização política, especialmente da Petrobras. Há uma busca por parte do governo Lula de associar sua imagem à Petrobras e mostrar o Estado como a força que promove o desenvolvimento, de modo a se diferenciar da prática privatista do governo anterior — avalia o cientista político Maurício Santoro, do Centro de Pesquisa e História Contemporânea (Cpdoc) da Fundação Getulio Vargas.

Para especialista, anúncio foi político

No episódio mais recente dessa estratégia, a ANP informou em comunicado que, após a perfuração de um poço em Libra, o volume recuperável de óleo na área poderia chegar a 15 bilhões de barris, “sendo a estimativa mais provável de 7,9 bilhões de barris, de acordo com avaliação da certificadora Gaffney, Cline & Associates”.

A consultoria fora contratada pela ANP para certificar as reservas do présal e, assim, definir o preço do barril de petróleo usado como base no processo de capitalização da Petrobras.

O anúncio foi feito por volta das 14h, com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) aberta, o que causou estranheza entre especialistas. Libra está a 183 quilômetros da costa do Rio de Janeiro em área do pré-sal não licitada e, portanto, pertencente à União. Mas, caso o marco regulatório do pré-sal seja aprovado no Congresso, o novo modelo de exploração (partilha de produção) prevê que a Petrobras tenha ao menos 30% dos blocos do pré-sal não leiloados. O anúncio, portanto, poderia impactar as ações da empresa.

— A ANP cometeu dois equívocos: divulgar as reservas de Libra às vésperas das eleições e fazer o anúncio com a Bolsa aberta, já que a Petrobras poderá ser operadora do campo. É mais um evento político no qual a ANP mostrou que não tem a autonomia desejada de uma agência reguladora — disse Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Perguntada sobre o porquê de ter feito o anúncio dois dias antes das eleições e antes do fechamento do mercado, a ANP disse em nota que “divulga suas descobertas e as dos concessionários no menor prazo possível, a fim de manter a sociedade informada sobre as atividades de Exploração e Produção no país”. Mais cedo, a agência ressaltou a importância da descoberta de Libra ter um volume de óleo recuperável superior às atuais reservas provadas brasileiras, que hoje são de 14 bilhões de barris de óleo equivalente (inclui óleo e gás). Excluindo o gás, as reservas de petróleo são de 12,9 bilhões, segundo a Petrobras, o que coloca o Brasil na 16aposição do ranking global das reservas petrolíferas. Com os possíveis 15 bilhões de barris de Libra, o país subiria para o 11o-lugar, à frente de nações como Nigéria e Qatar. Considerando as estimativas de reservas já feitas para outras áreas do pré-sal, como Tupi e Iara, o Brasil saltaria para a 8aposição.

Lula repete estratégia de 2006

Não é a primeira vez que anúncios da Petrobras servem de palanque político para Lula ou para a candidata à Presidência do PT, Dilma Rousseff. Em abril de 2006, Lula comemorou a entrada em operação da plataforma P-50, na Bacia de Campos, que simbolizava a autossuficiência em petróleo. A partir de então, o país passou a produzir petróleo em volume suficiente para seu consumo, mas, como o óleo brasileiro é pesado, inadequado para a fabricação alguns combustíveis, as importações de óleo leve permaneceram. No mesmo ano, três dias após o resultado do primeiro turno das eleições, que levou Lula a disputar o segundo turno com o então candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, a Petrobras anunciou a existência de “volume significativo de petróleo leve” na Bacia de Santos, o que viria a ser o pré-sal. Em novembro de 2007, Dilma, na época à frente da Casa Civil, foi porta-voz do anúncio da descoberta de Tupi.

No fim do dia de ontem, a Petrobras fez mais um anúncio: a descoberta de petróleo no poço Cabaça Sudeste-2, em Angola. Ela tem 5% do bloco, ao lado da italiana Eni (35%), entre outras.

Lula e FHC se empenham na reta final

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Principais aliados de Dilma e Serra buscam votos em SP, maior colégio eleitoral do País e responsável por 20% das abstenções do primeiro turno

Na reta final da campanha, os principais aliados dos candidatos a Presidência foram escalados para, tentar conquistar votos entre os eleitores de São Paulo. Com Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) priorizando a preparação para o último debate na TV, que ocorreria ontem à noite, coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saírem às ruas paulistas para um último esforço eleitoral. A opção por São Paulo não foi à toa. O Estado é o maior colégio eleitoral do País, com 30,2 milhões de eleitores. Além disso, no primeiro turno São Paulo foi responsável por 4,9 milhões de abstenções, ou cerca de 20% do total.

Lula e FHC, a 2 dias da eleição, brigam por votos em SP para Dilma e Serra

Ofensiva se deve ao fato de Estado ser maior colégio eleitoral do País, com 30,2 milhões de eleitores, e onde ex-presidente derrotou sucessor duas vezes; coordenadores das duas campanhas não escondem preocupação com abstenções amanhã por conta do feriado

Marcelo de Moraes

Na reta final da campanha, os principais aliados dos candidatos à Presidência foram escalados para tentar conquistar votos entre os eleitores de São Paulo. Com a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra no Rio, dando prioridade à preparação para o último debate na TV, coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saírem às ruas para um último esforço a favor de seus candidatos.

Ambos se enfrentaram nas urnas em 1994 e 1998. Nas duas ocasiões, Fernando Henrique foi eleito no primeiro turno.

A opção por São Paulo não ocorreu à toa. O Estado é o maior colégio eleitoral do País, com 30,2 milhões de eleitores. É mais que o dobro, por exemplo, do total de votos disponíveis em Minas Gerais, com 14,5 milhões.

Além disso, os coordenadores das duas campanhas não escondem sua preocupação com a possibilidade de aumento no índice de abstenções amanhã, por conta do feriado. No primeiro turno, 4,9 milhões de eleitores paulistas deixaram de votar. Isso representa praticamente 20% de toda a abstenção ocorrida no território nacional. O eleitor paulista também anulou 1 milhão de votos e produziu 856 mil votos em branco.

Para os aliados de Serra, é preciso que seja feita uma ampla mobilização para impedir o aumento da abstenção local. Isso ocorre porque apostam no prestígio do PSDB no Estado para que Serra conquiste votos suficientes para reverter a vantagem nacional de Dilma, apontada pelas pesquisas de intenção de voto.

Meta. No primeiro turno, os tucanos acham que Serra poderia ter ganho muito mais votos em São Paulo, uma vez que sua votação foi inferior à obtida pelo governador eleito Geraldo Alckmin. Enquanto Alckmin recebeu 11,5 milhões de votos, Serra não passou de 9,5 milhões. A ideia dos tucanos é capturar pelo menos esses 2 milhões de eleitores que têm afinidades com candidatos do partido e transmiti-los para a campanha de Serra.

Do lado petista, a tática é inversa. Lula reforçou sua passagem ontem pelo Estado para tentar preservar o patrimônio obtido por Dilma no primeiro turno. Na ocasião, ela recebeu 8,7 milhões de votos, cerca de 800 mil a menos que Serra. Com isso, a candidata impediu que o tucano abrisse uma boa diferença entre os paulistas, como ocorreu na disputa entre Alckmin e o petista Aloizio Mercadante. Enquanto Dilma perdeu por apenas 800 mil votos, Mercadante foi batido por 3,5 milhões de votos.

Por conta disso, Lula sabe que, se seu prestígio não for suficiente para quebrar a hegemonia tucana no Estado, serve, pelo menos, para limitar o potencial de crescimento de Serra entre os eleitores paulistas.

'Sou otimista. Dá para ganhar, para virar', diz FH

DEU EM O GLOBO

Ex-presidente aposta em Minas e em São Paulo

Flávio Freire

SÃO PAULO. Depois de desistir na metade de uma caminhada tumultuada pelo Centro de São Paulo, organizada pelo PSDB em apoio à candidatura de José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que acredita numa virada do tucano sobre Dilma Rousseff (PT) no segundo turno. Fernando Henrique aposta em Minas Gerais e em São Paulo como fiéis da balança na eleição do segundo turno, e garantiu ter feito tudo o que Serra pediu a ele durante a campanha.

Sem esconder seu incômodo com o empurra-empurra durante a caminhada que chegou a atravessar o Viaduto do Chá - onde perdeu a sola de um dos sapatos - Fernando Henrique declarou:

- Sou sempre otimista. Dá para ganhar, dá para virar - disse ele, enquanto deixava a manifestação pró-Serra cercado por três seguranças.

Ao lado dos candidatos eleitos para o governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o Senado, Aloysio Nunes Ferreira, além do prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), o ex-presidente deixou o Largo São Francisco ao lado de centenas de militantes. Acenou, cumprimentou eleitores que se arriscaram a atravessar o cordão de segurança e assistiu à briga entre organizadores do evento e cinegrafistas. Durante a caminhada, Fernando Henrique evitou qualquer declaração.

"É bom gastar sola de sapato, né", diz FH

Ao ser pressionado contra as grades do Viaduto do Chá, o ex-presidente seguiu as orientações dos seguranças e deixou a manifestação. No caminho para o sede do Instituto FHC, também no Centro de São Paulo, respondeu aos jornalistas sobre se considerava o estado de Minas Gerais como o fiel da balança na eleição de amanhã.

- Não só Minas, mas São Paulo também.

Fernando Henrique fez graça com o episódio envolvendo a sola de seu sapato. Ao jornalista que perguntou se seria mais um percalço da campanha tucana, mostrou bom humor:

- É bom gastar sola de sapato, né? - respondeu ele.

Carregando faixas, bandeiras e balões de gás, a militância tucana percorreu as ruas do Centro acompanhada de policiais militares. Pelo menos 50 homens em carros e motos afastavam alguns curiosos que tentavam se aproximar do grupo de autoridades.

Alguns lojistas baixaram as portas dos estabelecimentos temendo confusão, como a que ocorreu em Campo Grande (RJ), quando Serra foi atingido por um objeto na cabeça. Não fossem os inúmeros bate-boca de organizadores com cinegrafistas e fotógrafos, o evento teria transcorrido sem qualquer problema.

Serra, que ontem à noite participou do debate da Rede Globo, no Rio de Janeiro, não marcou presença no evento de encerramento da campanha tucana.

Uma queima de fogos marcou a caminhada pelo Viaduto do Chá, onde os militantes tucanos também soltaram balões de gás verdes e amarelos.

Em SP, ex-presidente e Geraldo Alckmin lideram caminhada

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Otimista, FHC se defendeu das acusações de privatizações em seu governo e disse que ainda ""dá para ganhar""

Daiene Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), lideraram ontem uma caminhada de apoio ao candidato tucano à Presidência, José Serra. Acompanhados da militância tucana e de nomes fortes do tucanato paulista, passaram pelo Viaduto do Chá e por ruas do centro da capital paulista.

FHC, que entrou na campanha há duas semanas, principalmente para se defender das acusações de privatização em seu governo, disse que fez tudo o que pediu. O ex-presidente afirmou ainda que São Paulo e Minas Gerais serão os "fiéis da balança" na disputa presidencial e que Serra tem chances de virar o jogo. "Eu sou sempre otimista. Dá para virar, dá para ganhar", disse.

Alckmin, que teve votação superior à de Serra em São Paulo no 1º turno, afirmou que os últimos dois dias serão cruciais para a virada do candidato do PSDB. "Essas 48 horas são decisivas para transformar intenção de voto em voto. O que vale é domingo, é o voto na urna", afirmou.

O governador eleito, que preteriu a transição para fazer campanha por Serra, foi ainda a Ferraz de Vasconcelos e Barueri, na Grande São Paulo, em busca de votos para o presidenciável. Hoje, em sprint final, faz périplo por mais três cidades da região.

Para Alckmin, trata-se de uma disputa apertada, mas que ainda não está decidida. "Vamos trabalhar até domingo", prometeu. De acordo com ele, três Estados serão decisivos. "São Paulo, Minas Gerais e Rio, que são os mais populosos, têm mais impacto."

O senador eleito por São Paulo, Aloysio Nunes (PSDB) afirmou, ao lado do governador do Estado Alberto Goldman, estar confiante num resultado positivo domingo. "Nossas pesquisas mostram uma diferença bem menor", afirmou. "A campanha está sendo feita agora na cabeça dos eleitores."

Após a saída de FHC, Alckmin e os correligionários pararam no meio da caminhada para tomar um café. Em seguida, retomaram a passeata, que terminou na Praça da República, no início da tarde. Inicialmente, foi divulgado que seria encerrada na Praça da Sé.

Colaborou Roberto Almeida

Serra e Dilma fecham a campanha em Minas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por ser o segundo maior colégio eleitoral do País, Estado vira palco para o duelo final de PSDB e PT, que promovem hoje carreatas e caminhadas

Christiane Samarco e Malu Delgado

O candidato tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff encerram a campanha presidencial hoje, em Belo Horizonte, com carreatas e caminhadas pelas ruas da capital mineira. Mais que acreditar na tese de que Minas decidirá a eleição, como no início da campanha, os dois partidos valorizam o simbolismo do Estado.

Entre os tucanos, a rejeição à tese de que Minas decide a eleição é movida pelo medo de serem responsabilizados por uma eventual derrota de Serra. Entre os petistas, pela confiança na vitória e por ser uma forma de mostrar autonomia de Dilma.

Não por acaso, o senador eleito Aécio Neves empreendeu uma ofensiva pessoal em favor de Serra, que foi de comícios, viagens e reuniões à gravação de mensagem de telemarketing em que agradece o apoio e pede o voto "no mesmo 45 do governador (Antonio) Anastasia". Embora sustentem o discurso da virada, os tucanos deixam brecha para um eventual revés. "O voto daqui vale igual ao dos outros. O objetivo é Serra ganhar aqui e no Brasil inteiro", diz Anastasia. O senador Eduardo Azeredo adverte que "Aécio está fazendo tudo o que pode, mas a vitória depende do desempenho do conjunto do Brasil, especialmente São Paulo e Rio".

Para sorte do tucanato, até o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que coordena a campanha de Dilma no Estado, admite estar ultrapassada a premissa de que a eleição do futuro presidente dependeria de Minas. "A tese não vale mais porque o Brasil não está empatado", afirma. "Minas não decidirá porque o Brasil já se decidiu e é Dilma."

Simbolismo. A decisão da coordenação de campanha de Dilma de encerrar a corrida presidencial em Minas tem um significado eleitoral óbvio, mas também uma simbologia política sobre a caminhada mais autônoma que a candidata precisará traçar, se eleita. No fim do primeiro turno, o palco da despedida foi São Bernardo do Campo (SP), terra de Lula. Agora, Dilma se volta para sua cidade natal. Lula só não estará ao lado da petista, segundo a coordenação, por causa da morte do ex-presidente argentino Nestor Kirchner. Independentemente disso, Dilma transfere uma tradição político-eleitoral do PT de São Paulo para Minas. A candidata, enfim, não é Lula.

Se há um simbolismo político na transferência de São Paulo para Minas, há também uma resposta eleitoral. O grande temor da campanha no segundo turno era uma possível virada dos tucanos no Estado, liderados por Aécio. Escaldada pela derrota que o tucano impôs ao PT no primeiro turno, a militância quer dar o troco com a vitória de Dilma.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) foram chamados para apaziguar os ânimos no Estado e garantir o engajamento das lideranças políticas dos dois partidos. Padilha levou a tarefa a sério. Na quinta-feira, mandou avisar aos colegas de São Paulo que não participaria de um comício em Araraquara, com Michel Temer (PMDB) e outros ministros, porque cuidava das coisas de Minas. O ministro, em férias, foi escalado para conter o assédio de Aécio aos prefeitos mineiros.

Nos últimos dias, a coordenação da campanha de Dilma comemora as estatísticas de pesquisas feitas para consumo interno.Os números são tão otimistas que a colocam em posição melhor que no primeiro turno, quando obteve quase 17 pontos porcentuais a mais que o tucano.

"É muito simples: mineiro tem trauma da turma do FHC. Não vai votar num candidato que acha que o Brasil começa e termina na Avenida Paulista", diagnostica o presidente estadual do PT de Minas, deputado Reginaldo Lopes.

Enquanto a campanha tucana programou uma caminhada na nobre área sul da cidade, passando pelo bairro em que Lula se irritou com moradores que o vaiaram, no dia 16, a petista percorrerá em carreata bairros da periferia e de Ribeirão das Neves, na região metropolitana e dará coletiva na Casa do Baile, na Pampulha. Mais mineiro e tradicional que isso impossível.

Colaborou Eduardo Kattah

Paraíba garante reduto serrista em pleno Nordeste

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Segundo maior colégio eleitoral do Estado e onde Lula registra índices de popularidade acima de 90%, Campina Grande deu a tucano vitória folgada no 1º turno

Andrea Jubé Vianna

Na cidade de Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral da Paraíba e segundo PIB do Estado, o tucano José Serra vence com folga a petista Dilma Rousseff. O município, distante uma hora e meia da capital João Pessoa, representa uma ilha de poder do PSDB na região Nordeste, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfruta de índices de popularidade acima de 90%.

O município é governado pelo PMDB do prefeito Veneziano do Rêgo Filho, e seu irmão, deputado Vital do Rêgo Filho, eleito senador. O partido trava disputa de poder na região com o PSDB do ex-governador cassado Cássio Cunha Lima, que foi três vezes prefeito de Campina Grande.

Campina Grande tornou-se uma das principais cidades-pólo do Nordeste, favorecida pela instalação de grandes indústrias como Alpargatas, Coteminas e Apel, de componentes eletrônicos. Os cursos de engenharia e computação da Universidade Federal de Campina Grande estão entre os melhores do País. Mas o município ganhou fama internacional por causa da Festa de São João, considerada a maior do mundo.

No município, Serra ficou em primeiro lugar, com 91 mil votos. Marina Silva (PV) apareceu em segundo, com 61 mil, e Dilma acabou em terceiro, com 57 mil. Mas a presidenciável petista liderou a votação no Estado, onde obteve 1 milhão de votos, seguida pelo tucano, com 551 mil.

Não se vê em Campina Grande a idolatria que a maioria dos eleitores nordestinos nutre pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lá as atenções se fixam no jovem ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano passado, por abuso de poder econômico e político.

Cássio representa a força do PSDB na região. Menos de um ano após a cassação, ele retornou: elegeu-se senador com 1 milhão de votos - a Paraíba tem 2,7 milhões de eleitores.

Inelegível. No entanto, foi considerado inelegível pelo TSE por causa da Lei da Ficha Limpa. Agora, seus advogados preparam recurso contra a decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Aos 37 anos, filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, foi deputado federal e duas vezes governador, além dos três mandatos como prefeito da cidade.

A fala firme e indignada, os cabelos lisos sobre a testa, a mania de gesticular com o punho cerrado, lembram o Fernando Collor de Mello pré-impeachment.

"Quero tranquilizá-los sobre o julgamento de hoje, ele não me atinge, continuo senador. Eles não vão me punir duas vezes", discursou com voz inflamada num comício em João Pessoa, na última quarta-feira, quando o STF confirmou a validade da Lei da Ficha Limpa. Eleitoras tentam chegar mais perto. Uma delas conseguiu: driblou o segurança, subiu ao palanque e o agarrou, em cena testemunhada pela reportagem.

O presidente do PSDB na Paraíba, senador Cícero Lucena, acusa o presidente Lula de transformar a Paraíba "em quintal de Pernambuco", boicotando projetos que alavancariam o desenvolvimento do Estado, como a usina de biodiesel e o porto de águas profundas. Não fosse isso, Lucena diz que Cássio seria uma liderança nacional.

Servidor do BB acessou conta de Ej 'por engano'

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Os dados bancários do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, foram acessados sem motivo por duas vezes em agência do Banco do Brasil em Maricá, no Rio. Em depoimento à Polícia Federal, o servidor Márcio Vinícius Alves disse que consultou a conta do tucano em 26 de março deste ano -por engano, segundo ele. A defesa do tucano pediu investigação.


Dados de dirigente tucano foram acessados sem motivo por gerente do BB em Maricá

Em depoimento à PF, servidor admitiu que viu os dados de Eduardo Jorge, mas alegou que foi por engano

Acesso foi em agência em que tucano recebeu depósito de R$ 3,9 mi por conta de espólio; banco nega irregularidades

Fernanda Odilla

BRASÍLIA - Os dados bancários do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, foram acessados sem motivo por duas vezes em uma agência do Banco do Brasil em Maricá (RJ).

Em depoimento à Polícia Federal na quarta-feira, o gerente de contas do BB Márcio Vinícius Alves afirmou que no dia 26 de março deste ano consultou por engano, em dois momentos, a conta corrente do dirigente tucano. Alves contou à PF que fez os acessos às 11h29 e às 11h30.

Segundo a versão do servidor, atualmente lotado em agência do BB em Niterói (RJ), na ocasião foi feita "uma reclamação de cliente repassada pela telefonista da agência, questionando um depósito não creditado".

Ele disse que recebeu as informações do suposto cliente em um pedaço de papel, com o nome, agência, conta e valor do depósito questionado. Porém, ao fazer o acesso, verificou "inconsistência dos dados", ou seja, que o titular da conta acessada não era o cliente que havia ligado reclamando.

Para a defesa de EJ, que já suspeitava do acesso imotivado, não há dúvida de que o sigilo bancário foi violado.

"O Banco do Brasil precisa investigar de maneira definitiva os motivos pelos quais as informações da conta corrente do meu cliente foram acessadas em Maricá", afirmou a advogada do tucano, Ana Luísa Pereira.

Conforme a Folha revelou em junho, a chamada "equipe de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência fez circular dados fiscais e financeiros sigilosos do tucano.

Integrantes do grupo obtiveram informações de série de três depósitos na conta de EJ no BB no valor de R$ 3,9 milhões, além de cópias de cinco declarações completas de seu Imposto de Renda.

Foi em Maricá que EJ vendeu imóveis do espólio de seu sogro, o que justificou os depósitos de R$ 3,9 milhões.

O tucano afirmou que não tem nem nunca teve conta em agência em Maricá.Em setembro, o BB já havia informado à PF que a conta de EJ havia sido acessada cinco vezes entre 2009 e 2010, em Brasília, onde o tucano tem conta, e em Maricá.

Contudo não havia explicado as razões da consulta no Rio.

Seis dias antes do depoimento do servidor, o BB encaminhou novo ofício à polícia afirmando que o procedimento adotado não apenas pelo então gerente em Maricá como pelos outros servidores que acessaram a conta de EJ estavam "em compatibilidade com as funções por eles desempenhadas".

Entretanto o banco não detalhou quais dados foram acessados nem se eles foram copiados ou impressos. Também não mencionou a possibilidade de erro do gerente.

O gerente do BB disse que, ao perceber não se tratar do cliente que reclamava do depósito não creditado, "não prosseguiu nas demais checagens" nem "imprimiu nem consultou demais dados cadastrais daquela conta".

Ontem, por meio da assessoria de imprensa, o BB informou que, "até o momento, as informações sobre acessos realizados à conta do cliente Eduardo Jorge não configuram quebra do sigilo".

Além de negar a violação, o banco afirmou que as consultas "são compatíveis com atividades bancárias e, por tais motivos, não exigem novas providências".

Caetano Veloso - "Sampa"

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html


O site nacional do PPS na internet esteve fora do ar devido a um ataque de hackers que sobrecarregou os nossos servidores. A equipe de informática está trabalhando para normalizar a situação.
A técnica empregada pelos hackers consiste em simular acessos simultâneos em grande quantidade, ontem alcançaram a média de 80 mil por segundo, o que ocasiona a paralisia no nosso sistema. Soubemos que o site do Democratas também está fora do ar pelo mesmo motivo e na segunda foi o site do Serra, o que evidencia o carater eleitoral do fato.
Continuamos com dificuldade de postar os editoriais.

Obrigado pela compreensão.

Mulher sentada::João Cabral de Melo Neto

Mulher. Mulher e pombos.
Mulher entre sonhos.
Nuvens nos seus olhos?
Nuvens sob seus cabelos.

(A visita espera na sala;
a notícia, no telefone;
a morte cresce na hora;
a primavera, além da janela).

Mulher sentada. Tranqüila
na sala, como se voasse