Pelo comportamento da presidente Dilma Rousseff até agora, a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e das Medidas Provisórias do Brasil Maior mostraram isso, ontem, à exaustão, ela estica a corda da intransigência até quando der, antes de entregar, conceder, atender às aspirações parlamentares. Mostrou, em vários momentos, que não se constrange em fazer negociação de verbas e cargos. Como todos os governos brasileiros dos últimos anos, este passou meses dizendo que não faria a troca de mercadorias no Congresso e sucumbiu na última hora. Não faz em torno do que não interessa, mostraram as mudanças ministeriais. Teria pago mais barato se tivesse feito antes o diálogo em torno do que lhe interessa, na fase de negociação política?
É provável, portanto, que o jogo de resistência e concessão se repita na distribuição de novas capitanias aos partidos, quando estiver recompondo seu governo após as eleições municipais e as eleições das mesas da Câmara e do Senado.
Desde logo, porém, afirma-se que o PT dificilmente mudará seu desenho interno de forças a partir da ocupação de novas cidadelas, e é só disso que se trata internamente no partido.
Há um jogo de resistência, de início e doação, no fim
Os ministros filiados ao PT que integram o governo Dilma não devem temer por seus cargos. Na Casa Civil, Gleisi Hoffmann, nas Comunicações, Paulo Bernardo, na Saúde, Alexandre Padilha, na Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, na Educação, Aloizio Mercadante, na Justiça, José Eduardo Cardozo, no Planejamento, Miriam Belchior, marcados estão como do PT da Dilma, os principais auxiliares neste primeiro mandato.
São ministros da linha de frente, dirigindo setores prioritários e de grande visibilidade. Mas há também Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral, Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, e tantos outros, sobre os quais ainda não vazou qualquer sinal de desgosto da presidente. Aparentemente, Dilma já trocou as heranças indesejáveis do governo Lula e seguiu em frente. Mas fará mudanças.
E é sobre elas que se discute internamente no PT. Há um grande grupo de petistas que temem sua relação futura com o governo Dilma.
Com a aproximação do julgamento do mensalão, a decisão de entregar a presidência da Câmara e do Senado ao PMDB, e a possibilidade, para muitos remota mas para alguns petistas mais próximos muito real, de o presidente Lula não ter motivação para concorrer em 2014, temem ficar na chuva e querem se precaver.
Segundo a argumentação que bate e rebate no grupo, Dilma teria que fazer um rearranjo nas forças do PT representadas no Ministério. Isto significa, na linguagem subentendida por todos, trocar alguns desses nomes hoje considerados o PT da Dilma por outros "quadros mais partidários".
A presidente Dilma, avaliam petistas do "quadro partidário", precisa de alguém que a auxilie nas avaliações políticas. Acreditam, por exemplo, que ministros como Padilha e Mercadante, que têm a característica de mergulhar em seus assuntos, profundos, abrangentes, complicados, teriam que ser deslocados. Um dos cenários em debate mostram Padilha e Pimentel movidos de seus atuais postos para atuar mais diretamente em política, junto à presidente. Que reforçaria Transportes, Cidades e Integração Nacional com nomes de consistência política.
O PT mantém-se alerta e antecipa-se aos fatos porque teme que, na ausência de Lula, a sucessão saia da costela do governo do PT, não do PT.
Adecisão da Justiça Eleitoral que suspendeu a intervenção determinada pelo presidente do partido, Gilberto Kassab, no diretório municipal do PSD de Minas Gerais, foi o primeiro ato dessa disputa interna no novo partido a favorecer a senadora Kátia Abreu que declarou-se em dissidência. Como é notório, o diretório decidiu apoiar Márcio Lacerda (PSB) e, num golpe definido pela senadora como "autocrático" e pela justiça eleitoral como "despótico", Kassab atropelou a Executiva para levar o partido à candidatura oposta, de Patrus Ananias, do PT.
Já se disse que foi uma briga entre a CNA (agricultura), de Kátia, e a CBIC (construção civil), de Paulo Safady, presidente do PSD mineiro e muito próximo ao governo Dilma. Ou que Kassab evitou apoiar Aécio, preferindo Dilma, enquanto Kátia fez o movimento oposto, contraditório com o que vinha demonstrando.
Kassab vinha conseguindo vencer a batalha da comunicação e fazer prevalecer suas razões. A Justiça devolveu à senadora Kátia Abreu os motivos para dissidência e revolta que vem apresentando desde o início. O ato de intervenção foi ilegal e autocrático, sem consultas à Executiva do partido, numa rasteira política contra o segundo vice-presidente, o mineiro Roberto Brant, que deixou o cargo e o partido.
Se o Senado Federal quisesse realmente recuperar-se do desgaste que lhe parece insuperável, uma sina em que Demóstenes Torres foi apenas a última fatalidade e que a candidatura de Renan Calheiros à presidência é o indício da próxima, já teria feito algo para acabar com a figura do senador biônico, que não tem voto mas muitos casos tem participação preponderante no financiamento do eleito. Uma indústria.
Além do suplente Wilder Morais que assumiu no lugar do senador goiano cassado semana passada, outros cinco devem assumir os lugares de senadores que estão se candidatando a prefeito e, se tiverem êxito, darão lugar a outros a quem o eleitor não foi apresentado nem neles votou.
São candidatos nas eleições municipais os senadores Inácio Arruda (PCdoB), em Fortaleza; Vanessa Graziotin (PCdoB), em Manaus; Humberto Costa (PT), em Recife; Wellington Dias (PT), em Teresina. Seus suplentes são Raimundo Noronha Filho, Francisco Garcia, Joaquim Francisco, Maria Regina Sousa, respectivamente. Já existem 19 suplentes biônicos em ação, substituindo os escolhidos pelos eleitores.
FONTE: VALOR ECONÔMICO