sexta-feira, 20 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Brasil conduziu com competência negociação na ONU

O Globo

Mesmo que resolução tenha sido rejeitada no Conselho de Segurança, esforço diplomático não foi em vão

Os ataques do grupo terrorista Hamas e a subsequente reação de Israel ocorreram no momento em que o Brasil ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A coincidência histórica deu à diplomacia brasileira a oportunidade — e a responsabilidade — de assumir o protagonismo nas negociações em torno do conflito. A primeira resolução proposta pelo Brasil foi rejeitada na última quarta-feira, em razão do veto dos Estados Unidos. Mas o esforço diplomático brasileiro não foi em vão.

A resolução brasileira foi uma contraproposta à formulação da Rússia, que manifestava preocupação com o agravamento da situação humanitária na Faixa de Gaza, mas nem mencionava os ataques do Hamas que mataram mais de 1.400 pessoas na semana anterior ou os quase 200 reféns que os terroristas haviam capturado em Israel. Os termos eram obviamente inaceitáveis para os integrantes do Conselho. O Brasil tomou a iniciativa de produzir um texto alternativo que contemplasse três pontos. Primeiro, condenasse explicitamente o terrorismo do Hamas. Segundo, exigisse libertação imediata dos reféns. Terceiro, mantivesse foco na questão humanitária em Gaza.

Flávia Oliveira - Impasse inaceitável

O Globo

Conselho de Segurança da ONU tornou-se anacrônico

O Direito humanitário internacional agoniza, e o multilateralismo fenece, enquanto ao menos 5 mil pessoas, a maioria civis, já perderam a vida no mais recente conflito bélico mundial, a contraofensiva de Israel ao terror do Hamas. São ambos — o Direito e o multilateralismo — reféns de um modelo, daqui a pouco centenário, de negociação global em que um punhado de países manda muito, e um monte apita quase nada. O poder de veto torna as votações de mentirinha. Aconteceu mais uma vez nesta semana, quando a oposição solitária dos Estados Unidos escanteou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução articulada pelo Brasil, que teve, na prática, sinal verde de 14 dos 15 membros.

O ataque terrorista em Israel, que vitimou mais de 1.400 pessoas, incluindo três brasileiros, e fez quase duas centenas de reféns, em 7 de outubro, se deu dias depois de o Brasil assumir por um mês a presidência do conselho. A primeira providência do Itamaraty foi convocar uma reunião de emergência, no dia seguinte à barbárie. O encontro, tão breve quanto esvaziado, não resultou sequer em nota conjunta dos países. Nem houve consenso sobre condenação ao Hamas. Sandra Coutinho, correspondente da TV Globo em Nova York, notou que o governo Joe Biden, democrata, se fez representar pelo embaixador Robert Wood, quinto na hierarquia da missão americana na ONU, liderada por Linda Thomas-Greenfield. Sinal de falta de apreço ao colegiado e de alinhamento total — e declarado — à posição israelense.

Bernardo Mello Franco - Biden tenta salvar reeleição e se associa a crise humanitária em Gaza

O Globo

Após bloquear resolução brasileira na ONU, presidente americano reforça apoio incondicional a Israel e pede mais dinheiro para guerras

Os Estados Unidos vetaram a proposta brasileira para frear a guerra no Oriente Médio. O texto recebeu apenas um voto contrário: o americano. O suficiente para impedir a aprovação no Conselho de Segurança da ONU.

A resolução condenava os ataques terroristas do Hamas, cobrava a libertação de todos os reféns e pedia “pausas humanitárias” nos bombardeios de Israel.

Ao justificar o veto, a embaixadora Linda Thomas-Greenfield criticou a ausência de menção ao “direito de defesa” israelense. Na prática, isso equivaleria a reconhecer um direito de ataque a Gaza, onde extremistas dividem espaço com civis inocentes.

O texto barrado pelos EUA não falava em cessar-fogo generalizado. Tampouco proibia Israel de usar força militar contra os terroristas. Limitava-se a exigir acesso “rápido, seguro e sem obstáculos” aos comboios de ajuda humanitária. O objetivo era proteger funcionários da própria ONU, da Cruz Vermelha e de outras organizações imparciais, que tentam levar água, comida e assistência médica aos palestinos.

Luiz Carlos Azedo – Biden, Netanyahu e Putin são senhores da guerra

Correio Braziliense

A crise humanitária em Gaza solidificou posições enraizadas no mundo em desenvolvimento quanto ao conflito israelense-palestino. A maioria apoia a criação do Estado da Palestina

O jornalista Henry Foy, correspondente do Financial Times em Bruxelas, instiga a reflexão sobre a nova conjuntura internacional a partir da guerra de Gaza, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse, ontem, que será de longa duração. Ou seja, não deve se encerrar enquanto Israel não invadir a Faixa, eliminar o Hamas e restabelecer seu controle sobre toda a região, a exemplo do que já ocorre na Cisjordânia — apesar da existência de uma enfraquecida Autoridade Palestina.

Segundo Foy, o apoio incondicional do Ocidente a Israel, especialmente Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, envenenou os esforços para isolar a Rússia e obter apoio dos países em desenvolvimento em favor da Ucrânia. A reação implacável dos israelenses ao ataque terrorista do Hamas, em 7 de setembro, desconstruiu a narrativa do Ocidente em relação às violações de direitos humanos cometidas pela Rússia em Donetsk e outras regiões ocupadas por suas tropas.

José de Souza Martins* - No Brasil, velhice é uma categoria econômica, e não etária

Valor Econômico

O conceito de velho ficou claro quando uma economista do governo anterior comentou que os velhos causavam prejuízo à Previdência Social

Neste mês de outubro, completo 85 anos de idade. Sou de uma classe social de origem em que meus avós não sabiam a própria idade nem sabiam para que servia sabê-la. Preocupei-me pela primeira vez com idade no dia em que o médico olhou os exames que eu havia feito e comentou: “Pra sua idade, você está muito bem!”. O acento em “na sua idade” parecia indicar uma anomalia e, nesse sentido, não estava bem.

O conceito de velho ficou claro quando uma economista do Ministério da Economia, no governo anterior, comentou, e vazou, que os velhos causavam prejuízo às contas da Previdência Social. Ou seja, um trabalhador viver mais e melhor não é um prêmio por uma vida de trabalho, é um crime de lesa-economia. Velho é, portanto, quem se aposenta e prejudica o sistema previdenciário. Senhor de escravos tinha mais generosa concepção da velhice de seus cativos.

César Felício - Lobbies em ação na reforma tributária

Valor Econômico

Proposta já recebeu 545 emendas, das quais 444 estão protocoladas

Até terça-feira estavam protocoladas 444 emendas à reforma tributária no Senado. Em um dia, entraram mais 78. Só um senador, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos Vanderlan Cardoso (PP-GO), apresentou 25. No começo da tarde dessa quinta-feira o relator da matéria, senador Eduardo Braga (MDB-AM), comentava já existir 545 propostas de alteração, embora nem todas apareçam registradas na tramitação da PEC disponível na internet.

A avalanche é um indicativo de duas coisas: uma é que deve se repetir no Senado o script da Câmara em julho, com mudanças no texto até o momento do placar eletrônico ser liberado e o resultado da votação proclamado. A segunda é que se chegou a uma espécie de última chamada para o embarque de setores que buscam tratamento especial.

Claudia Safatle - Governo e mercado seguem distantes na questão fiscal

Valor Econômico

No governo, acha-se bastante ‘conservadora’ a projeção da média do mercado, que estima déficit de 0,8% do PIB para 2024

Continua grande a distância entre as expectativas do mercado e as pretensões do governo na política fiscal, seja no resultado primário, seja na trajetória da dívida pública. Esse tema não é novo para quem acompanha o dia a dia das contas públicas, mas ele impõe um custo que não existiria se houvesse uma convergência entre o que o mercado espera e o que o governo se propõe a fazer: não só atrasa a velocidade de queda da taxa de juros, mas eleva a curva da taxa de juros futura e encarece o financiamento da dívida pública.

No governo, acha-se bastante “conservadora” a projeção da média do mercado, que consta do relatório Focus, do Banco Central, que estima déficit de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024, decrescendo muito lentamente até 2026, sem nem sequer chegar à estabilidade da dívida bruta como proporção do PIB.

Celso Ming - Redução da jornada de trabalho

O Estado de S. Paulo

A discussão sobre redução da jornada de trabalho começa a ganhar força no Brasil. Entre seus defensores está o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, para quem a mudança “já passou da hora”.

Este é um tema em alta em todo o mundo, especialmente depois da pandemia, que alterou a percepção das pessoas sobre o trabalho em suas vidas.

Encurtar a jornada em um cenário de intensas transformações no mercado de trabalho requer não só aprofundamento das análises de como a novidade seria aplicada, mas, também, sobre como criar condições para que as empresas adotem o modelo e, ao mesmo tempo, garantam seu cumprimento pelos trabalhadores que operam fora da chancela da CLT.

Eliane Cantanhêde - Brasil busca consenso, EUA se isolam

O Estado de S. Paulo

Por que o veto dos EUA a uma resolução propondo ‘pausa humanitária’? Vá-se entender...

Os Estados Unidos tinham boas razões para empurrar com a barriga a votação de uma “pausa humanitária” articulada pelo Brasil na guerra de Israel. Com o amplo apoio à proposta de resolução entre os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, cinco permanentes e dez rotativos, o governo Joe Biden sabia que seria o único voto contrário, ficaria isolado no próprio conselho e atrairia chuvas e trovoadas do mundo árabe e de sociedades mundo afora.

Foi o que ocorreu, depois que o Brasil percebeu a manobra protelatória e submeteu a resolução a voto. Todos os membros rotativos, inclusive o Japão, aliado dos EUA, votaram a favor da pausa para proteger as populações civis que já sofreram tanto nesta guerra. Dos cinco permanentes, dois votaram a favor, França e China, e dois se abstiveram, Rússia e Reino Unido, o que é considerado positivo, pois abstenção não impede aprovação.

Vinicius Torres Freire - Venezuela, Gaza, petróleo e o risco de piora ainda maior na política mundial

Folha de S. Paulo

Mundo anda sobre gelo fino e trincado; horror no Oriente Médio pode ser chance para Trump

Os Estados Unidos suspenderam por seis meses algumas sanções contra a Venezuela. Americanos ou quem faça transações com os americanos vão poder negociar petróleo, gás e ouro venezuelanos e, também, títulos da dívida do país dominado por Nicolás Maduro, em calote desde 2017.

Mas o governo dos EUA não autorizou a compra de dívida nova do país, o que não refresca em nada o financiamento internacional do país.

Quanto ao que interessa aqui e agora, nestas colunas, se e quando a Venezuela conseguir vender mais petróleo e gás haverá um pequeno alívio para a sua economia desgraçada. "Se": a produção de petróleo na Venezuela foi arruinada por sanções, incompetência e fuga de talentos técnicos.

O aumento ora previsível da produção venezuelana não fará coceira na oferta mundial do combustível, que diminuiu basicamente neste ano porque Arábia Saudita e Rússia assim o quiseram.

Hélio Schwartsman - Credencialismo universitário

Folha de S. Paulo

Empresas delegam a instituições de ensino avaliação de candidatos a empregos

Reportagem da Folha mostrou que cinco instituições de ensino superior privadas concentram 27% dos alunos de graduação do país. Elas ganharam espaço com o avanço do ensino a distância.

Por que valorizamos diplomas universitários? Em parte, porque as universidades de fato treinam seus estudantes para determinadas carreiras, notadamente aquelas que exigem conhecimentos técnicos específicos e o desenvolvimento de habilidades. É difícil alguém se preparar para ser médico sem passar por laboratórios, simuladores e estágios supervisionados em hospitais, além, é claro, das aulas teóricas.

Bruno Boghossian - Metralhadoras desviadas abasteceriam shopping center do crime

Folha de S. Paulo

Estrutura do Estado pode ser mercado atraente para facções e agentes que jogam o jogo da corrupção

O shopping center do crime está aquecido. Em setembro, traficantes do Rio receberam uma oferta em vídeo para comprar metralhadoras calibre .50 pela bagatela de R$ 180 mil cada. Policiais apontaram que as armas haviam sido desviadas de uma unidade do Exército em São Paulo.

O sumiço de 21 metralhadoras do arsenal militar mostra como a estrutura do Estado pode ser um bom ambiente de negócios para os criminosos. Há tempos, traficantes e milicianos fazem transações em delegacias e batalhões. Nesta quinta (19), a PF prendeu quatro policiais civis suspeitos de vender toneladas de maconha para o Comando Vermelho.

Marcos Augusto Gonçalves - É preciso também pacificar o Brasil

Folha de S. Paulo

Desvio de metralhadoras do Exército alimenta barbárie de nossa guerra particular

Não sei se o leitor já teve a oportunidade de ver de perto uma metralhadora .50. A máquina impressiona menos pelo porte, de certa forma enxuto, apesar do peso de 34 quilos, e mais pela visão do cinto de munição, com sua série de cartuchos de alto poder destrutivo.

A.50 é um armamento pesado de guerra, usado há décadas por exércitos mundo afora. Dispara mais de 500 tiros por minuto e serve para combates terrestres ou defesa antiaérea. Pode perfurar blindagens e abater helicópteros e outras aeronaves.

Há poucos dias, 13 dessas armas desapareceram de um quartel do Exército Brasileiro em Barueri, no estado de São Paulo. Também deu-se falta de um lote de oito outras metralhadoras, de calibre 7,62.

Ruy Castro - Cadeia para Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Se ele continuasse no poder, a Justiça é que estaria hoje sob o seu senso particular

Bolsonaro pediu a libertação dos extremistas presos pelo 8/1. Disse que eles são inocentes. E muitos talvez o sejam, no sentido de que, pascácios, papalvos e patetas, deixaram-se aliciar pela sua incessante pregação golpista e foram para Brasília como zumbis aparvalhados. Já os que os financiaram, transportaram, alimentaram, abrigaram e organizaram —e isso vai de paisanos a fardados—, não podem ter refresco. Sabiam o que estavam fazendo. Se acha que os baderneiros são inocentes, Bolsonaro deveria oferecer-se como resgate e se trocar por eles no xilindró.

Poesia | O Amor - Vladimir Maiakovsk

 

Música | Beth Carvalho - O Mundo é um moinho & As Rosas não falam (Cartola)