sábado, 3 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA - Norberto Bobbio: apreender o sentido da obra de Gramsci

O que fez da obra de Gramsci uma obra formativa e não somente moralizadora ou imediatamente política, foi que esta não foi tanto uma teoria do marxismo, um exercício filosófico para filósofos, mesmo quando Gramsci serviu-se de Marx, reaprendido através de Lenin, para acertar suas próprias contas com o idealismo de Croce, senão uma utilização e verificação do método marxista feitas com o objetivo de dar uma interpretação de alguns pontos centrais do desenvolvimento da sociedade italiana do Renascimento ao facismo, e de elaborar algumas categorias analíticas para o estudo da sociedade e da política destinadas a servir como esquemas de compreensão histórica muito mais além dos campos no qual ele as aplicou , como “classes subalternas”, “bloco histórico”, “hegemonia e ditadura”, “sociedade civil e sociedade política”, “sociedade regulada”, “vontade coletiva”, “catarsis”, “reforma moral e cultural”, “literatura nacional-popular”, “intelectuais orgânicos”, “puros”, “tradicionais”, “organização da cultura”, etcétera.”. "

Cf. El perfil ideológico del siglo XX en Italia, Fondo de Cultura, México, 1989.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
TSE deixa brecha ao proibir quem tem contas rejeitadas
Europa cria sua Lei de Responsabilidade
De Merkel para Dilma
BNDES vai apoiar laboratório nacional
Fifa: pontapé no traseiro do Brasil

FOLHA DE S. PAULO
Síria barra ajuda humanitária da Cruz Vermelha
Brasil tem que receber "chute no traseiro", diz dirigente da Fifa
Choro do adeus
Dinheiro para ex-vice do BB saiu de conta de cliente do banco
Presidente do TJ-SP diz que imprensa denigre o tribunal

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma chora, fala do "fardo" de governar e pede união a aliados
Unip é acusada de direcionar exame para ser bem avaliada
Montadora se livrará de alta de IPI se prometer fábrica no País
Merkel vai justificar ao Brasil ação de europeus
Fifa sugere chute no traseiro do Brasil

CORREIO BRAZILIENSE
Senadores papam 14º, 15º e ainda driblam o IR
A estranha amizade de Cachoeira e Demóstenes
Policiais terão que devolver aumento
Imposto de Renda
Fifa quer dar "chute na bunda" do Brasil
Justiça tem nova visão sobre as famílias
Pane no sistema da Tam deve ficar sem punição

ESTADO DE MINAS
Fora de área
Rejeição de contas vai barrar 192
Prefeito e vice em rotas opostas para sucessão

ZERO HORA (RS)
Construtora garante obra
Conselhão vai discutir a dívida com a União
Prejuízo de R$ 5,3 bi com mortes no trânsito

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Fifa endurece com a organização da Copa
Declaração do IR sem mistérios

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Dilma entra na campanha eleitoral – Editorial:: O Estado de S. Paulo

Para que serve o Ministério da Pesca e Aquicultura? Serve para garantir a bênção dos evangélicos da Igreja Universal à candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Simples assim, a presidente Dilma Rousseff entregou ao bispo Marcelo Crivella (PRB-RJ) a pasta até agora ocupada por um petista. Mas o sacrifício deve valer a pena: além de o PT se livrar da incômoda gritaria dos evangélicos da Universal em torno de delicados temas religiosos, o candidato imposto por Lula ganha a possibilidade de vir a contar com o apoio do PRB - que, por enquanto, permanece no páreo, com o deputado Celso Russomanno num surpreendente primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Mas isso é mero detalhe. O que importa é que se escancara o ingresso, de sola, do Palácio do Planalto na campanha eleitoral paulistana. E trata-se apenas do começo.

A cada dia que passa - e estamos a sete meses do pleito - as impressões digitais de Lula se tornam mais nítidas na estratégia eleitoral que tem como objetivo consagrar a hegemonia do lulopetismo em todo o País. Para isso é imprescindível derrotar seus adversários nos redutos mais importantes que ainda lhes fazem alguma resistência: a cidade e o Estado de São Paulo. Este fica para daqui a dois anos.

Essa estratégia não vai custar barato para o PT - a senadora Marta Suplicy e o defenestrado ministro Luiz Sergio que o digam -, mas Lula já deixou claro que está disposto a pagar o preço que for necessário. Cacife não lhe falta e Dilma Rousseff acaba de comprová-lo, com a presteza com que se dispôs a entrar no jogo e procurar o chefão em São Bernardo para, num encontro de quase três horas, pedir conselhos e receber novas instruções. Mas teve que ouvir calada o novo membro do Gabinete dizer, com inegável senso de humor, que, embora ministro da Pesca, não sabe nem "colocar minhoca no anzol". O que não tem a menor importância, já que essa pescaria nada tem a ver com peixes.

Toda a encenação que fez o pano de fundo da triunfante entrada do bispo Crivella em cena criou em Brasília uma situação política tão desfrutável que propiciou manifestações que foram do deboche ao puro cinismo. Deste se encarregou a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti: "É a incorporação efetiva (ao primeiro escalão do governo) de um aliado. Mas não traremos disputas locais para o âmbito federal". Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-petista e ex-ministro de Lula, optou pela zombaria: "O governo resolveu pôr na Pesca um pescador de almas, que ainda vai andar sobre as águas". Como levar a sério o que se passa em tal ambiente político?

O eleitor paulistano pode se preparar, portanto, para uma das campanhas eleitorais mais disputadas e extravagantes da história da cidade, na qual, pelo andar da carruagem, a ética e os bons modos certamente acabarão sendo deixados de lado. As evidências disso se acumulam.

Em manobra rasteira claramente destinada a cacifar poder de barganha com o governo, o mensaleiro Waldemar da Costa Neto, dono do PR, explora a ingenuidade do folclórico e muito bem votado deputado Tiririca, lançando-o candidato a prefeito de São Paulo. O homem já se sente "prefeito do povão".

E o jovem e ambicioso deputado Gabriel Chalita não faz feio nessa galharda companhia: depois de transitar por três partidos em menos de dois anos, finalmente encontrou um que se dispôs a lançá-lo a um cargo executivo e anuncia orgulhoso: "Eu tenho uma cara só".

O saldo desse circo de horrores é que a cidade de São Paulo, com todos os graves problemas sociais e urbanos que aqui se agravam, corre o risco de se tornar a vítima de uma longa campanha eleitoral que tende a passar ao largo do debate das questões que realmente interessam aos seus mais de 10 milhões de habitantes.

A federalização do pleito de outubro é inevitável, e em certa medida até desejável, porque aqui estará sendo decidido o futuro político do País a curto e médio prazos. Mas é preciso que os candidatos não se esqueçam de que, apurados os votos, o vencedor terá de enfrentar a enorme responsabilidade de governar a cidade.

"Está virando uma palanqueira"

A semana foi uma aula política para a presidente Dilma. O discurso proferido durante a posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, para pacificar a base aliada, demonstrou uma presidente preocupada com as inconstâncias na relação com os aliados, deixando de lado o perfil meramente técnico e gerencial, bem avaliado perante a população, mas visto com desconfiança pelos parlamentares.

A nomeação de Crivella também derrubou outro paradigma: o PRB foi para o ministério para que o partido e os evangélicos apoiem a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. A sete meses das eleições municipais, Dilma começa a ensaiar o discurso de palanque. Como disse o ex-presidente Lula, "essa menina está virando palanqueira". (PTL)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

'Agora será mais difícil criticar Dilma'

Mas ataque ao "kit gay" pode ser usado contra Haddad em SP

BRASÍLIA. Além de confirmar a pré-candidatura de Celso Russomanno (PRB) à prefeitura de São Paulo, o presidente nacional do partido, Marcos Pereira, e o novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, não afastaram a possibilidade de a campanha de Russomanno usar, como arma para atacar o petista Fernando Haddad, o kit anti-homofobia - o chamado "kit gay" feito pelo Ministério da Educação na gestão do petista.

Segundo o presidente do PRB, o uso ou não do kit anti-homofobia será avaliado pelo partido e Russomanno com os marqueteiros da campanha. Bispo licenciado da Igreja Universal, Pereira afirmou que ainda é cedo para falar sobre como se dará a campanha, e enfatizou que a ida de Crivella para o Ministério só dificultará as críticas ao governo federal.

- Agora será mais difícil fazer críticas em relação ao governo federal, mas com Haddad é outra coisa. A presidente Dilma já disse que uma coisa é o governo federal e outra coisa é a eleição municipal - afirmou Pereira.

- Essas coisas de campanha eleitoral a gente não prevê, é um dilúvio de ódio e paixões - disse Crivella, numa referência ao uso do kit anti-homofobia.

FONTE: O GLOBO

Serra: Dilma ainda “não deslanchou”

O pré-candidato do PSDB e ex-governador de São Paulo, José Serra, considerou ontem que o governo da presidente Dilma Rousseff ainda não "deslanchou".É mais uma mostra de que os assuntos nacionais devem ser abordados na disputa à sucessão municipal. Em entrevista, Serra ressaltou que o eleitor quer discutir problemas municipais, mas ponderou que, caso o quadro nacional seja abordado na disputa de outubro, estará pronto para discuti-lo.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Serra retoma foco nacional e ataca presidente

Tucano admite que eleitor quer discutir problemas da cidade, mas disse que informará sobre cenário do País

Gustavo Uribe

Ainda com o foco nas questões nacionais, o pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, afirmou ontem que o governo da presidente Dilma Rousseff ainda não "deslanchou" e avaliou que o rumo da atual administração federal é incerto. Ao se apresentar como pré-candidato à Prefeitura na quarta-feira, Serra afirmou que o sonho de disputar a Presidência da República em 2014 está "adormecido", mas deu demonstrações de que não abandonou o projeto político.

Em entrevista na madrugada de ontem ao Jornal da Noite, da TV Bandeirantes, Serra admitiu que em uma campanha municipal o eleitor quer discutir problemas municipais, mas ponderou que, caso o quadro nacional seja abordado na disputa municipal, estará pronto para discuti-lo.

"Em uma campanha, como a da cidade de São Paulo, o eleitor quer discutir os problemas da cidade", lembrou. "Agora, toda vez que o quadro nacional tiver de entrar, eu vou estar presente informando", justificou.

O ex-governador de São Paulo avaliou que o atual governo federal tem uma tendência de considerar todos os temas prioritários, o que prejudica a sua atuação. Ele observou ainda que faltam mais investimentos na infraestrutura nacional, o que expõe uma fragilidade do País.

"Há uma tendência de se considerar tudo prioritário, quando tudo é prioritário, nada é prioritário", criticou.

Desindustrialização. Serra alertou também quanto ao processo de desindustrialização da economia nacional, o que, segundo ele, tem feito com que o Brasil perca competitividade no mercado internacional.

"Nós estamos perdendo competitividade na indústria e passando a importar coisas que já produzíamos aqui", afirmou. Ele reconheceu, contudo, que a economia nacional caminha bem, mas em virtude, sobretudo, da alta nos preços das commodities no mercado mundial.

O pré-candidato do PSDB voltou a garantir que, caso seja eleito, cumprirá o mandato de prefeito de São Paulo até o fim e antecipou que, em sua campanha eleitoral, pretende organizar as suas propostas em formato setorial.

Serra afirmou ainda que deve ficar para abril ou maio a definição do nome do vice na aliança capitaneada pelo PSDB. "Tem de ser um vice que acrescente votos e que tenha boa qualidade", observou.

Estados Unidos do Brasil. Ao comentar o risco da crise europeia chegar à economia nacional, Serra cometeu uma gafe.

O pré-candidato do PSDB referiu-se ao Brasil como "Estados Unidos do Brasil", tendo sido corrigido em seguida pelo jornalista Boris Casoy, entrevistador do jornal.

"Não, o Brasil chama República Federativa do Brasil." O ex-governador de São Paulo primeiro questionou se o nome havia mudado. Depois, reconheceu o equívoco. "Que é parecido", respondeu.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma chora, fala do "fardo" de governar e pede união a aliados

Menos de 24 horas após se encontrar com o ex-presidente Lula em São Bernardo para discutir a rebelião na base aliada, a presidente Dilma Rousseff fez apelo à união dos partidos governistas. Ela falou sobre o "fardo" de governar, chorou e destacou a importância da "coalizão forte" para dividir a tarefa e fazer o que somos eleitos para fazer. Instruída por Lula a cuidar mais da política para evitar levantes, Dilma usou a posse do ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), para tentar amenizar a crise. Após o discurso, o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), negou que o manifesto de peemedebistas contra o PT, divulgado na véspera, signifique ruptura com Dilma

Em crise com base, Dilma pede coalizão forte e diz que cabe a ela montar equipe

Presidente foi aconselhada por Lula a agir logo para "pote de mágoas" dos aliados não transbordar na eleição municipal; petista falou do "fardo" de governar e chorou em evento

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura

BRASÍLIA - Menos de 24 horas após se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, a presidente Dilma Rousseff fez um apelo à união dos partidos que compõem a base aliada, falou sobre o "fardo" de governar, chorou e destacou a importância de uma "coalizão forte" para dividir essa tarefa. Instruída por Lula a cuidar mais da política para evitar novas rebeliões, Dilma usou ontem a cerimônia de posse do ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), para tentar pôr um freio de arrumação na crise.

"Nós precisamos de uma coalizão forte para promover as mudanças que julgamos necessárias ao País. E para que, de resto, possamos fazer aquilo que nós somos eleitos para fazer, aquilo que o povo brasileiro espera de nós e, sobretudo, aquilo que é imprescindível que nós façamos", discursou a presidente, no Palácio do Planalto. Ela citou 11 vezes o termo "coalizão"e disse que "graças a Deus" tem uma base que a apoia.

No encontro de quinta-feira com Lula, porém, Dilma expôs ao padrinho político o seu incômodo com a insubordinação do PMDB, que divulgou manifesto subscrito por deputados, e avalizado pelo vice-presidente Michel Temer, contendo críticas ao PT e ao governo. Não foi só: ela reclamou da infidelidade de aliados como o PR, o PDT e o PSB, que se destacaram por expressivas votações contra o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp).

Lula aconselhou a sucessora a conversar mais com os partidos que compõem a coalizão, ouvir suas queixas e afagá-los sempre que possível, para evitar que o pote de mágoas transborde. "Não deixe que isso prospere", comentou o ex-presidente, de acordo com relatos da conversa.

Insatisfeitos por não participarem das decisões governamentais e com a distribuição dos cargos, os peemedebistas viram na nomeação de Crivella para o Ministério da Pesca a gota d"água para a rebelião. Ao divulgarem o manifesto no qual dizem viver numa "encruzilhada" em que o PT quer tirar o "protagonismo" do PMDB, deputados observaram que nem Temer foi consultado sobre a escolha de Crivella.

Decidida na última hora, a ida do senador do PRB para o primeiro escalão teve o objetivo de acalmar os evangélicos, descontentes com o Planalto, e atraí-los para a campanha do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Crivella é bispo da Igreja Universal e, para emplacá-lo na Pesca, Dilma tirou da cadeira o petista Luiz Sérgio.

Foi uma operação preventiva para blindar Haddad da tentativa do pré-candidato do PSDB, José Serra, de associar o ex-ministro da Educação ao kit anti-homofobia, material preparado para combater o preconceito contra homossexuais nas escolas.

Com um discurso cheio de recados, Dilma respondeu à crítica do manifesto do PMDB de que há uma "relação desigual" entre os parceiros, pois o processo de decisão no Planalto "não passa pela discussão" com os aliados.

"Eu queria dizer para vocês que o que distingue o presidencialismo é que, nesse sistema, as decisões são responsabilidade e pesam sobre as costas da pessoa que é chefe de Estado e de governo", insistiu Dilma. "Cabe ao presidente ouvir, consultar, avaliar e decidir, mas também cabe ao presidente construir a equipe que divide esse fardo."

Emocionada, ela chorou ao citar o petista Luiz Sérgio.

Ao dizer que o presidente tem o dever de administrar para todos, "inclusive para os que não votaram nele", Dilma procurou debelar os focos de incêndio na base. "É possível e é necessário (...) falar para todos os brasileiros mesmo que você se apoie numa coalizão e numa aliança."

Após o discurso de Dilma, o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB, disse que o manifesto do partido - subscrito por 45 de 76 deputados - não significa ruptura com o governo. "É mais alerta porque a insatisfação da bancada começa pelas eleições municipais, já que há um trabalho intenso do PT para neutralizar candidaturas do PMDB."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra chama aliado de Alckmin para coordenar equipe

Ex-governador começa a montar time para campanha à prefeitura; antigos aliados também foram convocados

Em outra frente, de olho nas prévias, deputados federais e vereadores organizam ato pró-Serra na próxima semana

Daniela Lima

SÃO PAULO - Mesmo antes de disputar as prévias que definirão o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra já começou a acionar nomes para montar sua equipe de campanha.

Na último domingo, ele pediu ao governador Geraldo Alckmin que liberasse o secretário Edson Aparecido (Desenvolvimento Metropolitano) para coordenar os trabalhos durante a eleição.

Aparecido é um dos principais interlocutores políticos de Alckmin. Ao convidá-lo, Serra sinaliza alinhamento com o governador.

Aparecido comunicou os dois pré-candidatos que concorrem com Serra nas prévias -o secretário José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Tripoli- sobre o convite. Assegurou a ambos que não haverá definição antes do resultado da disputa interna.

Serra também reabilitou antigos aliados. O ex-governador Alberto Goldman passou a despachar com ele no escritório político e a fazer contato com outras siglas.

O tesoureiro de Serra na eleição presidencial de 2010, Márcio Fortes, reapareceu em São Paulo na última terça-feira para prestigiar a cerimônia de inscrição do ex-governador nas prévias.

O secretário Andrea Matarazzo (Cultura), que abriu mão de disputar as prévias em favor de Serra, assumiu as negociações com a bancada de vereadores.

Matarazzo foi avisado que Serra quer que ele seja candidato a vereador em 2012, para liderar a bancada ou até mesmo presidir a Câmara. O secretário, no entanto, ainda sonha em negociar a vice na chapa do tucano.

Assessora histórica de Serra, a jornalista Paula Santa Maria foi convidada a voltar a trabalhar com ele.

Em outra frente, que trabalha para fortalecer o tucano nas prévias, deputados federais e vereadores farão atos públicos de apoio na próxima semana.

Já o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente), que também abdicou da disputa por Serra, está encarregado de selar a paz entre o ex-governador e a juventude tucana, além de melhorar suas relações com covistas históricos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PMDB quer seus secretários fora da gestão Kassab

Catia Seabra

BRASÍLIA - Em mais uma demonstração de que trabalha pela candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, o vice-presidente da República, Michel Temer, pediu que peemedebistas com cadeira na gestão Kassab entreguem os cargos.

Temer se reuniu com os secretários Bebeto Haddad (Esporte) e Uebe Rezeck (Participação e Parceria) para sugerir o desligamento deles.

Uebe poderá ocupar vaga na Assembleia. Bebeto deve concorrer a vereador.

Para peemedebistas, após o flerte PT-Kassab, só Chalita poderá atacar a gestão atual, desde que os secretários se afastem.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Prefeito e vice esticam a corda da disputa em BH

Marcio Lacerda diz que não tem dúvidas de que a aliança com PT e PSDB será reeditada em outubro. Roberto Carvalho avalia que base do partido deve decidir pela candidatura própria

Alice Maciel e Bertha Maakaroun

Dois atos políticos na tarde de ontem em Belo Horizonte deram o tom de como deverá ser intrincada a disputa pela prefeitura da capital. Enquanto o prefeito Marcio Lacerda (PSB), em visita à sede do PR, no Santo Agostinho, dava como certa a reedição da chapa majoritária formada por PSB com um petista de vice e o apoio formal do PSDB, a alguns quarteirões dali, na sede do PT, o vice-prefeito Roberto Carvalho anunciava a adesão de 3.447 filiados à tese da candidatura própria, que corresponderiam, segundo ele, a mais de 80% dos eleitores da última disputa interna do partido.

Para Lacerda, o acordo para a aliança entre PSB, PT e PSDB já estava selado desde o ano passado, com o aval das direções nacionais, independentemente de o PT aceitar ou não os tucanos. "Nesse momento, o acordo contempla a vice para o PT e uma participação formal do PSDB na chapa", disse o prefeito, descartando, pelo menos por enquanto, qualquer possibilidade de os tucanos apontarem um candidato para a cadeira atualmente ocupada por Roberto Carvalho. As outras reivindicações apresentadas pelo PSDB, como a participação na campanha e no programa de governo, foram classificadas pelos socialistas, segundo o prefeito, como "muito válidas".

Lacerda disse ainda que não está no seu projeto político se lançar candidato ao governo de Minas nas eleições de 2014. "Ninguém é candidato de si mesmo. De qualquer forma, o meu projeto é ficar mais quatro anos na prefeitura e avançar bastante nos projetos que nós já iniciamos", acrescentou. Nos bastidores, há especulações de que o PSDB estaria "desesperado" para ficar com vice-prefeitura, porque Lacerda poderia renunciar e candidatar-se ao governo do estado..

Mais apoio Quem também está querendo um lugarzinho na campanha de Lacerda é o PR. Ontem, depois de reunião com o prefeito, o presidente municipal do partido, Léo Portela, oficializou o apoio dos republicanos à reeleição do socialista. Em troca eles querem, além de estar na coordenação da campanha, participar da construção do programa de governo, assim como o PSDB, e também ter um cargo no primeiro escalão no próximo mandato. Eles voltam para o governo ainda este mês, com uma vaga em uma administração regional.

O PR rompeu com o prefeito em dezembro do ano passado em razão de "divergências" sobre a administração. Uma crise interna se arrastava há alguns meses e chegou ao governo, quando a direção municipal colocou os cargos de indicação partidária à disposição. O estopim foi a saída do senador Clésio Andrade da legenda, o que levou o partido a pedir de volta os cargos indicados por ele, incluindo o do sobrinho Harley Andrade, secretário administrativo da Regional Centro-Sul.

Depois de ter feito as pazes, o presidente municipal do partido disse que o PR adotou uma postura de independência no ano passado para conversar de forma isenta com todos os grupos. "Hoje chegamos a um consenso de que o melhor para Belo Horizonte é caminhar da mesma forma que em 2008".

FONTE: ESTADO DE MINAS

Paes concentra ataques em Padilha

"Será que ele não entendeu ainda que representa um governo de continuidade?"

Carolina Benevides

"Será que ele (o ministro da Saúde, Alexandre Padilha) estava querendo fazer um recorte do que herdou como situação da saúde no Brasil? Ou será que não entendeu ainda que representa um governo de continuidade?", disse ontem o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ), que faz parte da base aliada do governo federal, mas afirmou estar indignado com o fato de o Rio ter sido classificado como a pior cidade do país, entre as maiores, na pesquisa divulgada anteontem pelo Ministério da Saúde, que avaliou o serviço do SUS no Brasil. A nota do Rio foi 4,33, e a média nacional ficou em 5,47.

- O que me causa indignação é que o ministro, desde sua primeira coletiva, e eu não me sinto confortado, já fica explicando que, se fosse levado em consideração 2011, o Rio estaria acima da média nacional. Então, por que não divulga os dados inteiros? Ou será que ele estava querendo fazer um recorte do que herdou como situação da saúde no Brasil? Ou será que não entendeu ainda que representa um governo de continuidade?

De acordo com Paes, o DataSus, sistema do governo federal que reúne informações sobre Saúde de todos os municípios do país, já está atualizado com dados de 2011 e aponta "um avanço no Rio". Mas, segundo ele, as melhorias não podem ser creditadas ao ministro da Saúde.

- A única coisa que aconteceu com o Rio em 2011 foi ter perdido recursos do governo federal. Então, quero dizer uma coisa claramente: todos os avanços de 2011 não devem ser creditados na conta desse ministro. O ministro Temporão (José Gomes Temporão, ministro da Saúde no governo Lula), sim, aumentou, em 2010, em R$ 100 milhões o recurso que a gente recebe do governo federal. Ano passado, diminuiu. Quando ele (Padilha) lá na frente levantar o triênio dele, não botem na conta desse ministério os benefícios que são feitos na cidade do Rio neste momento. O presidente Lula e a presidenta Dilma me permitiram, com recursos para outras obras, colocar tanto dinheiro na Saúde. Estou sendo muito específico, falando dessa irresponsabilidade do ministério e do ministro - disse Paes, que completou: - Tenho com o governo federal um trabalho de parceria permanente. A única área em que não tenho para mostrar é na Saúde em 2011. Então, esse ministro não tem autoridade moral para vir aqui fazer avaliação do trabalho da prefeitura com dados não atualizados.

Um levantamento feito pela prefeitura mostrou que o município investe 25% do orçamento em Saúde - R$ 4 bilhões em 2012 - e que os repasses do ministério caíram em 2011, em relação a 2010. Foi R$ 1.086 bilhão em 2010 e R$ 1,072 bilhão em 2011.

- Foram menos R$ 14 milhões. Eu não estou contestando os problemas. Acho que (a Saúde) não é boa, mas melhorou. Então, eu fico imaginando quantos gestores incompetentes receberam um prêmio do ministro e quantos prefeitos responsáveis estão aí com a cara de trouxa feito eu.

Após a divulgação da pesquisa - que analisou a situação de todos os municípios do país no mesmo período -, o prefeito fez um levantamento dos dados de 2011:

- Dane-se que o ministro fez (uso dos mesmos critérios) em outros lugares. Muitos outros devem ter sido injustiçados como eu fui. Em 2008, a cobertura do Saúde da Família era de 3,5%. Em 2011, 27,4%. Aumentaram no Brasil, nos últimos três anos, 803 equipes de Saúde da Família. E dessas, 437 no Rio. Quero ser avaliado e responsabilizado, não quero dividir culpa com ninguém. Mas quero ser avaliado pelo que já fiz. Essa pecha de que não avancei na Saúde, eu não vou levar.

Padilha não quis comentar.

FONTE: O GLOBO

PT x PT: Humberto, uma pedra no sapato de João da Costa

Senador estaria mais interessado do que nunca em se tornar candidato a prefeito, de acordo com avaliação de aliados do atual gestor

Bruna Serra

O ano de 2010 já estava perto do fim quando um dos principais líderes do PT pernambucano, Humberto Costa, foi eleito senador, maior conquista de sua trajetória política. Já se passaram quase 14 meses desde que assumiu o cargo e ele está de volta ao centro do debate eleitoral no Estado, agora como uma pedra no caminho da reeleição do correligionário João da Costa, prefeito do Recife. “Sabe aquela brincadeira do cuscuz, que quem derrubar o palito perde o jogo? É isso que estão tentando fazer com o prefeito no PT, cavar para que ele caia”, compara, em reserva, uma fonte tida em alta conta na prefeitura.

Ainda resistente em colocar publicamente o desejo de sentar-se na cadeira de João da Costa, o senador trabalha para viabilizar o seu nome. Há quem diga que Humberto estaria muito desiludido com a função de senador. Seus pares contam que por ter trabalhado diversas vezes no Executivo, como secretário e ministro, ele é só queixume com a burocracia da Casa Alta.

É nesse contexto que representantes da corrente petista Construindo um Novo Brasil, comandada em Pernambuco por Humberto, colocam diariamente em xeque as condições de João da Costa em conduzir por mais quatro anos a capital. O prefeito, de seu lado, insiste que sua gestão personifica fielmente as diretrizes de projeto político estabelecidas pelo PT.

Em Brasília, Humberto tem procurado líderes de partidos que formam a Frente Popular para discutir as possibilidades no Recife. “O maior cabo eleitoral de Humberto chama-se Joaquim Francisco (PSB), que está doido para ganhar um mandato de sete anos como senador”, conta um habitué das “negociações” na capital federal.

João da Costa sabe que não pode perder tempo, precisa conseguir o quanto antes que o PT confirme seu nome, visto que, apesar de algumas resistências, como é o caso do PTB, os partidos aliados tendem a receber sua candidatura com naturalidade.

Diante da euforia que tomou conta da prefeitura com a vinda da presidente Dilma Rousseff (PT) ao Recife esta semana, o senador foi o único que resistiu em admitir publicamente que a visita ilustre reforça candidatura do prefeito.

Rivais na disputa pela candidatura ao Senado em 2010, Humberto e o deputado federal João Paulo agora trabalham claramente em sintonia. A pedido do ex-prefeito, o vereador Múcio Magalhães trabalhou na última quinta-feira para esquentar a tese de que há no PT outros interessados em derrubar João da Costa. Além de Humberto e João Paulo, entrou na arena – citado por Múcio – o secretário estadual de Governo, Maurício Rands.

Em meio ao incêndio que consome o PT, o governador Eduardo Campos (PSB) – dizem aliados – está farto da novela do PT – ele deve se reunir com o ex-presidente Lula para tratar do imbróglio (leia na página 6). A ideia é que o líder máximo petista convença o senador a se conformar com a candidatura do prefeito. O JC tentou, sem sucesso, contato ontem com Humberto.

FONTE: KORNAL DO COMMERCIO (PE)

Isolamento não preocupa Guerra

Em entrevista à Rádio JC/CBN, presidente do PSDB diz que PMDB e DEM têm isolado seu partido, mas que a candidatura de Daniel Coelho à Prefeitura está assegurada

Gilvan Oliveira

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, admitiu ontem isolamento do partido nesse período de pré-campanha à Prefeitura do Recife, fruto, segundo ele, de um movimento deliberado de distanciamento das outras siglas oposicionistas à gestão João da Costa (PT), principalmente PMDB e DEM. Mas assegurou que os tucanos terão candidatura própria a prefeito, a do deputado estadual Daniel Coelho, mesmo que o PSDB não atraia legendas para uma coligação, indo à disputa com uma chapa “puro sangue”. “O isolamento não nos aflige”, disse o parlamentar, em entrevista à Rádio JC/CBN.

Apesar de acusar o isolamento, Guerra classificou como “legítimas” as pré-candidaturas a prefeito dos seus colegas de Câmara Federal Raul Henry (PMDB) e Mendonça Filho (DEM). Frisou, no entanto, que ao PSDB, que sempre serviu de suporte aos dois tradicionais aliados, indicando seus vices e fechando coligações proporcionais, chegou a hora de encabeçar uma candidatura majoritária no principal colégio eleitoral do Estado. “Nós já votamos tantas vezes neles, não podem eles votar na gente?”, indagou.

O deputado procurou desmistificar a tese das oposições no Recife como uma reedição da extinta União por Pernambuco, coligação que deu suporte político às duas gestões estaduais de Jarbas Vasconcelos (PMDB). Ele, aliás, fez questão de excluir o PSDB de uma nova reunião do bloco, ironizando uma falta de renovação nos quadros dos demais partidos. “A união de todo mundo com as mesmas caras, para dizer as mesmas coisas, não contem comigo”, advertiu, apontando Daniel Coelho a “cara nova” no debate sucessório do Recife.

Pelas declarações de Guerra na entrevista, ficou enfatizado que a relação dos tucanos com os antigos aliados está tensa e distante, principalmente com o PMDB, porém sem desbancar para um rompimento. Ele ironizou o fato de atribuírem esse distanciamento à proximidade do PSDB com o PSB, do governador Eduardo Campos. “Me diga um que não se diz amigo do governador ou tem conversas com ele”, questionou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Um culto no Palácio do Planalto

Ao assumir a Pesca, Crivella faz discurso religioso e plateia responde "Glória a Deus"

Isabel Braga, Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Uma posse com jeito de culto. Por alguns momentos o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, agiu como se estivesse pregando num templo, durante a solenidade em que assumiu o cargo de ministro da Pesca e Aquicultura, no Palácio do Planalto. Houve várias menções a Deus, inclusive para justificar o fato de não ter muita experiência em assuntos relacionado à pesca. Na plateia, foram ouvidas respostas de "Glória a Deus". Crivella também citou pensamentos do bispo fundador da Igreja Universal, seu tio Edir Macedo.

Crivella encerrou o discurso com uma oração em que pede a Deus que dê sabedoria e discernimento aos colaboradores e funcionários da pasta que comandará, para que não ocorram deslizes éticos. Poucos deputados e senadores da bancada evangélica, no entanto, compareceram à posse. O grupo não se sente representado por Crivella.

Na frente da presidente Dilma Rousseff, Crivella admitiu seu desconhecimento da área e pediu a Deus que lhe oriente na gestão da pasta.

- Muitas vezes Deus não escolhe os mais qualificados, mas, sempre, Deus qualifica os escolhidos (...) Peço a Deus que a vontade do espírito produza a nova missão, que possa ocorrer entre nós o milagre da benção maravilhosa que Jesus realizou (...). Que Deus nos ajude, que nas nossas represas, nas águas do nosso mar os peixes se multipliquem e cheguem às mesas de todos os brasileiros, sobretudo os mais pobres - rezou Crivella, finalizando:

- Peço também que o Senhor nos conceda a todos nós, colaboradores e funcionários do Ministério da Pesca e da Aquicultura, boa vontade, idealismo, sabedoria e discernimento para que continue não ocorrendo em nosso ministério qualquer deslize desses que desunem o povo e faz o cidadão de bem sentir vergonha de ser brasileiro. Por isso, humildemente peço, me ajude, meu Deus!

Além das menções a Deus e orações, Crivella também enalteceu e fez vários elogios à presidente, chamando-a de estadista e atuante. Crivella destacou a ajuda de Dilma, ainda como ministra, ao Rio de Janeiro, destacou sua inconformidade em conviver com a miséria no país e a luta para erradicá-la. Nesse momento, um dos presentes à solenidade, gritou: "Glória a Deus!". O ministro também elogiou o ex-vice-presidente José Alencar, que era filiado ao PRB.

A presidente Dilma fez menção a Deus uma única vez em seu discurso:

- Foi graças a essa ampla coalizão que sustenta o meu governo que chegamos ao poder para governar para todos, sem exceção. Essa ampla coalizão, ela deve, pode e, graças a Deus, nos apoia na promoção das mudanças que vimos promovendo no Brasil.

Após sua posse, o novo ministro minimizou o fato de poucos parlamentares evangélicos terem comparecido à solenidade:

- A Liliam Sá (PSD-RJ) estava presente. O ministro é do PRB, é evangélico, mas a indicação é do PRB.

Crivella afirmou que vai se dedicar para levar a pesca brasileira a um patamar de respeito mundial, como acontece com agricultura brasileira. Ele citou estudo feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos estabelecendo, entre outras metas, a de dobrar o consumo per capita de peixe no Brasil e gerar um milhão a mais de empregos no setor. Ele disse que, para isso, é preciso mais recursos, pesquisa, sugerindo a criação de uma "Embrapa da Pesca", além de mais engenheiros de pesca. Segundo ele, no Brasil existem 800 mil engenheiros, mas apenas 147 engenheiros de pesca.

O senador disse que Dilma pediu-lhe que cuide dos pescadores artesanais que estão na informalidade e são mais de um milhão.

- Esse é o espírito do nosso governo, pensar nos outros - Crivella.

Dilma deu o ministério a Crivella para conter as críticas de evangélicos a seu governo e também para tentar ajudar o candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, alvo dos religiosos por causa do que chamam de "kit gay".

FONTE: O GLOBO

Cresce a adesão de militares a manifesto

Dilma agora ameaça punir os 325 oficiais que já assinaram o "Alerta à Nação", entre eles 44 generais da reserva

Evandro Éboli

BRASÍLIA. Um dia após o governo anunciar punição aos militares que assinaram o manifesto "Alerta à Nação - eles que venham, aqui não passarão", texto que critica a interferência do governo Dilma Rousseff no site do Clube Militar, aumentou ainda mais a adesão de oficiais da reserva ao movimento. Até ontem, 325 militares tinham assinado o documento, sendo 44 generais da reserva. Entre estes, 13 são generais de Exército, de quatro estrelas, maior posto na carreira.

Irritada com a ampliação do movimento de protesto, Dilma determinou que todos os que assinaram, e que podem vir a aderir, sejam punidos por seus respectivos comandos.

A reação dos militares também ganhou apoio de 65 civis. Ao todo, são 390 os signatários. Até terça-feira, apenas cem militares apoiavam o texto.

Dois ex-chefes do Comando Militar do Leste assinam

A reação ganhou apoio de oficiais que deixaram a ativa recentemente e foram para a reserva. São oficiais que integraram o Alto Comando do Exército e que promoveram, quando lá estivam, dezenas de generais que continuam na ativa. Por isso, esses generais da reserva gozam de respeito dos antigos subordinados.

Entre os generais que foram recentemente para a reserva e que assinaram o manifesto estão dois oficiais que até recentemente chefiavam o Comando Militar do Leste: o general Luiz Cesário da Silveira Filho, que foi para a reserva em maio de 2009; e o general Rui Alves Catão, que deixou a ativa em maio de 2010.

Cesário, em seu discurso de despedida do Comando, exaltou o golpe militar de 1964, disse que participou deste movimento sob a incontestável liderança do então general de brigada Emilio Garrastazu Médici, "de patriótica atuação posteriormente na Presidência". Cesário ainda criticou o então ministro da Defesa Nelson Jobim e escreveu um artigo intitulado: "Um Jobim fora do tom". Para completar, Cesário atacou a concessão da patente de coronel a Carlos Lamarca, guerrilheiro da VPR, que foi chamado por ele de "assassino".

Outro signatário do manifesto é o general Maynard Marques de Santa Rosa, que, em fevereiro de 2010, foi exonerado por Nelson Jobim do cargo de chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, por ter criticado a criação da Comissão da Verdade. Santa Rosa a chamou de "Comissão da Calúnia" e disse que ela seria composta por "fanáticos que adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a banco como meio de combate ao regime para alcançar o poder". Era um texto que circulava na internet.

Antônio Araújo de Medeiros, outro general de Exército da reserva que aderiu ao movimento, foi instrutor do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI). O general Valdésio Guilherme de Figueiredo, outro a aderir, integrou o Superior Tribunal Militar (STM). Gilberto Barbosa de Figueiredo, ex-presidente do Clube Militar, também subscreve o documento. Além dos 44 generais, assinam o manifesto 195 coronéis, 32 tenentes-coronéis, 11 majores, 12 capitães, 14 tenentes, 9 subtenentes, 8 sargentos e um cabo.

A lista com as adesões é atualizada diariamente e está publicada no site "A verdade sufocada", controlado pelo coronel Carlos Brilhante Ustra, que foi comandante do Doi-Codi entre 1970 a 1974.

A reação começou com a decisão do governo em punir por indisciplina os que assinam o manifesto. No texto, os militares da reserva criticaram a interferência do governo no site do Clube Militar e o veto a um texto ali publicado criticando a presidente Dilma Rousseff e duas ministras.

Autores não reconhecem autoridade de Amorim

No "Alerta à Nação", os oficiais dizem não reconhecer "qualquer tipo de autoridade ou legitimidade" de Celso Amorim para determinar a retirada do texto.

"Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo", diz o documento.

Como no manifesto vetado no site do Clube Militar, o documento também critica a criação da Comissão da Verdade. "A aprovação da Comissão da Verdade foi um ato inconsequente, de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo". O texto publicado no site atribuía a Maria do Rosário e a Eleonora Menicucci declarações que estariam a serviço do que classificaram de "minoria sectária", disposta a reabrir feridas do passado.

FONTE: O GLOBO

'Não cabe investigar ações da resistência'

Para secretário de Justiça, prioridade da Comissão da Verdade é localizar desaparecidos

Evandro Eboli

BRASÍLIA. A investigação sobre as circunstâncias em que se deram a tortura e o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, assim como a identificação de seus torturadores, é tida como um dos casos prioritários a serem tratados na Comissão da Verdade. Esta é a opinião de integrantes do governo da presidente Dilma Rousseff, também uma ex-perseguida política.

O surgimento de novos personagens do episódio que envolvem o ocorrido com Rubens Paiva, revelados pela Globonews e pelo GLOBO, reforçam, para setores do governo, que a elucidação do que ocorreu com o ex-deputado deve ser tema central da comissão.

O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, que também é presidente da Comissão de Anistia, considera que a Comissão da Verdade terá, como primeira missão, justamente a localização de desaparecidos e a identificação dos responsáveis. Depois, vai investigar as demais violações, como mortes e torturas. Numa outra etapa, vai identificar as estruturas da repressão, a cadeia de comando e a colaboração do setor privado com a ditadura.

- Não cabe investigar as ações da resistência. Estavam no direito legítimo de lutar contra a ordem ilegítima e a opressão. A Comissão da Verdade serve para investigar os crimes de Estado. Aqueles cometidos pelo ente que deveria proteger os cidadãos e não persegui-los - disse Abrão.

Para o coordenador-geral do Projeto Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos , Gilney Viana, que também foi preso e torturado pela ditadura, o caso de Rubens Paiva é emblemático:

- É um caso simbólico e que vai ser tratado pela Comissão da Verdade com o seu tamanho devido. Há testemunhos, como ficou demonstrado agora, que são bastante evidentes e esclarecedores.

Sobre as declarações do general Luiz Eduardo Rocha Paiva, de que deveriam ser julgados supostos crimes cometidos pela esquerda - onde cita a presidente Dilma - Gilney afirmou que o objetivo da Comissão da Verdade não é esse:

- A comissão terá a finalidade de apurar os crimes cometidos pelos agentes do Estado. Os outros (dos grupos de esquerda) já foram apurados, objetos de inquérito e de processos judiciais. As pessoas cumpriram pena.

Dilma irritou-se com as declarações do general Rocha Paiva, ao GLOBO, levantando dúvidas sobre se ela foi de fato torturada. O presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, condenou as declarações do general Paiva:

- O que deverá ser apurado pela futura Comissão da Verdade é a atuação e a responsabilidade de agentes públicos civis e militares, que, se valendo de suas funções e remunerados pelos impostos pagos pelos cidadãos, mataram, torturaram e sequestraram perseguidos políticos pela ditadura militar instaurada em 1964.

Dilma está com dificuldade em fechar a relação dos integrantes da Comissão da Verdade. Já se passaram cem dias da solenidade de sanção e até agora esse grupo não foi criado. Ela discutiu o assunto com o ex-presidente Lula anteontem.

Para Iara Xavier, ex-perseguida política e da coordenação do Comitê Pela Verdade, Memória e Justiça de Brasília, Dilma se isolou na escolha e não recebeu dirigentes de movimentos sociais:

- Cobramos uma audiência com a presidente, mas não fomos atendidas. Esse já é um tema que a sociedade brasileira não tem interesse e a Dilma ainda evita interlocução com os movimentos... Assim, ela se enfraquece.

FONTE: O GLOBO

Nara Leão - Meditação

Fratura do tempo:: Míriam Leitão

Tudo é bom no jornalismo: coluna, comentário, entrevista, furo, crônica, cobertura continuada, desenhar uma página, ver o trabalho minucioso de uma ilha de edição, correr contra o tempo no fechamento. Mas a reportagem é um momento supremo. Mergulhar numa história e ir unindo as pontas, fechando um quebra-cabeças, ouvindo as partes, é um exercício de paciência e emoção. Quando dá certo, você até sonha. Sonhei.

A ideia que Cláudio Renato e eu tivemos na Globonews há mais de dois meses era a de falar do trabalho da Comissão da Verdade e tentar mostrar como desapareciam os desaparecidos, que mundo era aquele que ainda nos assombra. O resultado do trabalho foi ao ar na quinta-feira e ontem - ainda repete às 0h30m e às 19h05m deste domingo - e foi publicado neste jornal.

O título Uma História Inacabada foi escolhido pela editora Cristina Aragão. Ele reflete com exatidão e delicadeza o drama do país e das famílias que não enterraram seus mortos, não realizaram seu luto.

Difícil reconstruir os fatos de cada um dos 183 desaparecidos políticos, mas eles sumiam assim pra nunca mais ao entrar numa guarnição militar, ou até em braços clandestinos do Estado, como foi a tenebrosa Casa da Morte de Petrópolis. Escolher Rubens Paiva é fácil. Ele foi definido por Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição como a encarnação da sociedade. Descobrir o que os militares da Polícia do Exército da Barão de Mesquita fizeram em 1971 com o seu corpo é um segredo que ainda pertence aos assassinos.

Escolhemos então seguir seus passos finais, trazer o personagem à vida fazendo seu perfil na conversa com pessoas que o conheceram, em fotos e imagens públicas e das famílias, em documentos como o valioso relato escrito pela professora do Colégio Sion Cecília Viveiros de Castro. Fizemos uma longa entrevista com o Procurador da Justiça Militar Otávio Bravo, que está reabrindo os processos de 39 pessoas que sumiram no Rio e no Espírito Santo.

Fomos a Brasília duas vezes entrevistar autoridades sobre a Comissão da Verdade, que ainda não está funcionando. Tentamos falar com os comandantes militares. O Ministério da Defesa indicou José Genoino. A linguagem corporal dos chefes das três Forças, na sanção da lei que criou a Comissão já dizia tudo: eles detestam tudo isso. Integrantes dos clubes militares, dos oficiais da reserva, deram respostas vagas aos nossos pedidos, o coronel Brilhante Ulstra, que chefiou o DOI-Codi de São Paulo, segue orientação do seu advogado para não falar. O general Rocha Paiva disse com clareza o que pensa. Ele é contra a Comissão, contra reabrir essa discussão, acha que há um risco enorme de que a procura de informações termine na execração pública e punição de seus companheiros. Afirmou que assim pensam os militares da ativa. Na saída, na porta do seu apartamento em Brasília, o general me explicou o que o move:

- Não fui da comunidade de informações, mas poderia ter sido. O acaso me levou para outra área. Não vou deixar companheiros meus em risco, agora que a situação mudou.

O Brasil pode até decidir não olhar para trás, mas não pode mais permitir que seja resultado do veto das Forças Armadas. Ele e os atuais comandantes militares estavam no início das suas carreiras quando a comunidade de informações montou aparelhos de tortura, morte e ocultação de cadáver dentro de instituições que hoje prestam valiosos serviços à pátria. O general Rocha Paiva rechaçou a minha afirmação de que é um outro Exército: "É o mesmo."

Pelo acaso desse tempo de jornalismo multimídia, eu fiz, recentemente, uma reportagem publicada neste jornal sobre empreendedorismo nas favelas. Para tornar possível o momento que começa a ser luminoso no Rio, forças policiais e os militares se uniram contra traficantes. Naquele tempo obscuro se uniram numa coalizão macabra. Por coincidência, num mesmo dia eu trabalhei de manhã na matéria dos desaparecidos, fui à tarde para a Rocinha conversar com empreendedores para a outra reportagem e terminei o dia fazendo coluna sobre crise do endividamento da Europa. Visitei dois tempos do Brasil e a lembrança de crises econômicas que já superamos.

Cláudio Renato e eu desembarcamos num sábado de manhã em São Paulo e passamos o dia no antigo Deops - Departamento Estadual de Ordem Política e Social - um lindo prédio onde tragédias ocorreram e agora famílias passeiam no fim de semana vendo exposição do memorial da resistência. Lá, entrevistamos os três filhos de Rubens Paiva.

A equipe tinha imaginado gravar numa antiga cela. Marcelo foi logo detonando a ideia, com jeito brincalhão:

- Horrível. Numa cela? Não! Vamos procurar um lugar bonito, leve.

Rimos do nosso erro. Era de fato uma péssima ideia pôr os filhos de Rubens Paiva numa cela. Onde a gente estava com a cabeça?

Na procura dos fios da meada lemos livros, material de jornal, vimos documentários. Jason Tércio no livro "Segredo de Estado" recria a história, com partes de ficção. No livro "K.", Bernardo Kucinski fala do pai que procura a filha, professora da USP, e jamais a encontra. Numa frase, ele resume o que as famílias buscam, entre elas, a do autor: "Para que a sua memória na nossa memória descanse."

FONTE: O GLOBO

Morre Fernando Sant`Anna: Enorme perda para o PPS, para a Bahia e para o Brasil

Na Constituinte, Fernando Sant`Anna (c) Augusto Carvalho (e) e Freire. 
Francisco Inácio de Almeida

O ex-deputado federal Fernando Sant'Anna morreu nesta quinta-feira aos 96 anos na Cidade de Todos os Santos. A Bahia, o Brasil e o PPS lamentam profundamente a morte do Adorável Comunista. Presidente de honra do partido, ele deixa a esperança de um Brasil mais justo. Crítico da luta do poder pelo poder, lutou no pelourinho da ditadura pela democracia. Fernando Sant`Anna nunca perdeu de vista o liberdade plena do povo brasileiro. Resistiu e venceu. É um ícone da resistência democrática. Leia abaixo nota do PPS em homenagem ao CAMARADA de luta.

Enorme perda para o PPS, para a Bahia e para o Brasil

A direção nacional do Partido Popular Socialista comunica, sob forte e sentida emoção, a morte, neste dia 1º de março, do querido companheiro Fernando dos Reis Sant’Anna, presidente nacional de honra do PPS. Com o seu desenlace, aos 96 anos, não apenas nós, seus amigos de combate partidário, estamos de luto, mas também a Bahia e o próprio Brasil.

Além de notável engenheiro civil, este bravo filho de Irará, no Recôncavo Baiano, foi presença destacada em alguns dos grandes momentos da história brasileira, como liderança política e como parlamentar. É considerado um dos "comunistas históricos" do país, notabilizando-se sobretudo pela defesa da propriedade estatal das riquezas do subsolo do país.

Desde jovem, integrou-se às lutas por um Brasil democrático, desenvolvido e equitativo, nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro. Participou, como líder da delegação baiana, do Congresso Nacional, realizado, no Rio de Janeiro, então capital da República, em aberto desafio à ditadura do Estado Novo, momento em que foi fundada a União Nacional dos Estudantes, da qual foi um dos seus primeiros dirigentes nacionais.

Formado, em 1944, no Curso de Engenharia da então Escola Politécnica da Bahia, em Salvador, no ano seguinte torna-se engenheiro-chefe do Segundo Distrito da Aeronáutica (Bahia e Sergipe), sendo logo depois chamado a trabalhar como assessor direto do grande e revolucionário educador que foi Anísio Teixeira, no governo de Octávio Mangabeira, como engenheiro-chefe encarregado da Planificação e Construção de Escolas Públicas.

Grande orador, que empolgava multidões e plenários não apenas pelo rico conteúdo dos seus discursos e falas, mas também pela rica forma de apresentar suas ideias, após resistir a pressões de amigos e companheiros que o estimulavam a disputar mandatos populares, ele finalmente se candidata e se elege deputado federal, no pleito de 1960. Num dos momentos mais delicados da vida nacional, nos anos que antecederam o Golpe de 1964, ele foi um dos parlamentares mais combativos em defesa da institucionalidade democrática e das reformas de base, sobretudo como um dos líderes do Governo João Goulart.

Tendo sido cassado em seu mandato e em seus direitos políticos, incluído na lista primeira dos punidos pelo regime atrabiliário, Fernando foi obrigado a refugiar-se em uma embaixada, para fugir à repressão policial-militar, depois exilando-se por alguns anos. Após a Anistia, retomou a carreira parlamentar, elegendo-se nos pleitos das legislaturas federais de 1982 e 1986. Foi, em 1987/88, um dos mais ativos constituintes, integrando a sua Comissão da Ordem Econômica e 2º presidente da Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, além de integrante da Frente Parlamentar Nacionalista, sendo considerado um dos "deputados nota 10" pelo Diap, notabilizando-se pela luta em nacionalizar o subsolo e suas riquezas minerais. Ali coordenou a campanha nacional "O Petróleo é Nosso", em defesa da propriedade do subsolo pelo Estado brasileiro.

Homem de formação ética e política irretocável, ele atravessou mais de meio século de vida pública, conseguindo estabelecer um delicado equilíbrio de ser radical no caráter e nas convicções ideológicas e políticas e, ao mesmo tempo, ser flexível no relacionamento interpessoal e no diálogo político. Como disse o editor do belo livro do jornalista Antonio Risério – O Adorável Comunista – Fernando era um “camarada” que sempre colocou a camaradagem, em primeiro lugar.

Em meu nome pessoal, e de todos os que fazem o PPS, transmitimos nossas fraternas condolências à sua companheira Gilka e os seus filhos Márcia, Pedro e Isabella, à sua irmã Wanda, e que tenham paz de espírito para suportar esta imensa perda, que é de todos os que tiveram o prazer de conhecer e compartilhar da amizade desta singular figura humana.

Brasília, 1º de março de 2012
Deputado Roberto Freire
Presidente nacional do PPS

FONTE: PORTAL DO PPS

O debate da Defesa:: Merval Pereira

Está para ser aprovada pelo Congresso Nacional a Medida Provisória 544, que cria a figura da Empresa Estratégica de Defesa. O Ministério da Defesa está definindo o Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa (Paed), que deve indicar os produtos que deverão ser adquiridos da indústria nos próximos 20 anos.

Há quem tema, como o professor Eduardo Brick, do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) da Universidade Federal Fluminense (UFF), que esse plano não seja feito de forma a integrar as necessidades das Forças Armadas àquelas destinadas a fortalecer e preparar a indústria e promover a inovação relacionada a esses produtos.

No Brasil, os problemas afetos à indústria de defesa estão distribuídos por três ministérios (Defesa; Desenvolvimento e Indústria e Comércio; e Ciência e Tecnologia), e o planejamento exige uma estreita interação entre esses três entes públicos, além da própria indústria, que teria muito a colaborar nesse planejamento.

Ao mesmo tempo está para ser votado o Projeto de Lei de Conversão, que será muito importante porque cria a figura da empresa brasileira "nativa" na Base Logística de Defesa (BLD), designação que Brick usa para diferençar de empresa brasileira.

Essa última, pela Constituição, é qualquer uma que tenha sede no Brasil, independentemente da origem do capital controlador.

Embora em alguns setores (mídia e aviação civil) já houvesse restrições ao controle por capital estrangeiro, essa restrição não existia nas indústrias de defesa. O problema é corrigido com essa lei.

Ela também incentiva a inovação e a integração das infraestruturas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e industrial para defesa, e, na opinião de Eduardo Brick, minimiza também o que considera "um dos maiores absurdos" que a legislação anterior criava: o governo brasileiro podia comprar no exterior produtos que sejam de interesse estratégico para a defesa nacional sem pagar qualquer imposto, enquanto as compras internas, na indústria brasileira, eram agravadas com os enormes impostos que vigoram aqui, como se fosse um produto qualquer destinado ao consumo.

Já o cientista político Clovis Brigagão, do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, e professor-visitante do programa de mestrado em Relações Internacionais da Uerj, tem uma visão crítica sobre a Política de Defesa no Brasil.

Para ele, o Ministério da Defesa mais parece um órgão militar do que propriamente um ministério de política pública de defesa integrada em orçamento, compra e gastos.

Continuam prevalecendo para Brigagão os interesses separados da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Um avanço foi a criação do Alto Comando de Defesa.

O professor Clóvis Brigagão lembra que já tivemos uma indústria bélica brasileira nos anos 60 a 80 do século passado, que "sumiu, virou pó", com muito subsídio do BNDES, que pagou a conta dessa "aventura" que, segundo ele, teve "muito marketing e pouco resultado efetivo.

Brigagão diz que a transferência da tecnologia militar para a indústria de bens e serviços foi nula nesse processo.

Para ele, o projeto que cria o regime tributário especial para a indústria de defesa nacional e normas específicas para licitação de produtos e sistemas de defesa, com preferência para a produção nacional, que isenta as chamadas empresas estratégicas credenciadas pelo Ministério da Defesa da cobrança de IPI, PIS, Pasep e Confins, é um privilégio inaceitável:

"O Estado é uma mãe para a indústria de defesa, que igual a outra qualquer de importância para o país deveria agir de acordo com as regras do mercado e não viver às custas do contribuinte que paga a conta e não sabe o que é feito nem na defesa, nem na indústria da defesa."

Domício Proença Júnior, professor do Programa de Engenharia de Produção do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) e do Programa de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escreveu na "Revista Brasileira de Política Internacional" um artigo sobre a indústria bélica que começa sintomaticamente com uma citação do filósofo alemão Ernst Jünger: "Máquinas não vencem batalhas, mesmo que se ganhem batalhas com máquinas - uma enorme diferença".

Para ele, "mais ou melhor tecnologia não garante mais ou melhores arranjos de defesa". A ênfase tecnológica expressa, por exemplo, na meta dos EUA de Transformação ou na Estratégia Nacional de Defesa do Brasil "presume uma passagem fluente desde a busca por resultados tecnológicos até sua materialização em termos de arranjos de defesa".

O professor Domício Proença Júnior considera que "o aprendizado que permite identificar, desdobrar e usar vantagens combatentes só pode ser adquirido e mantido vivo nas organizações e pessoas pela prática, pelo exercício e pela crítica que nasce da articulação entre estudo, experimento e experiência".

O processo que leva de possibilidades tecnológicas a vantagens combatentes é, por sua própria natureza, uma obra inacabada, alerta em seu texto Domício Proença Júnior, para quem "a tutela civil tem que ser capaz de impor dinâmicas que conduzam e apoiem o cerne de capacidade combatente das forças, impedindo que este se paralise em dinâmicas burocráticas, autocomplacentes e satisfeitas". ( Continua amanhã)

FONTE: O GLOBO

Minhocas e amebas :: Fernando Rodrigues

Ontem, na posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, estava na plateia a ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. Entrou muda e saiu calada.

Nessas ocasiões, em meio à discurseira, há aplausos e palavras de apoio. Quando Crivella fez citações religiosas, foi possível ouvir alguém dizer "glória a Deus".

Essas duas nomeações recentes, a de Crivella e a de Menicucci, mostram como há ainda uma assimetria no trato de determinados temas dentro do Estado brasileiro. A ministra das Mulheres, como se sabe, é uma histórica defensora dos direitos iguais entre os sexos e da descriminalização do aborto.

No governo, Menicucci rendeu-se ao discurso anódino do Planalto. Aborto? Fica para o Congresso decidir. E não se fala mais nisso.

Já Crivella, criacionista e descrente da teoria da evolução, pode derrubar quantas vezes quiser o muro que deveria separar igreja e Estado. Como senador, em 2009 compartilhou uma dúvida com seus colegas -"O surgimento da vida a partir de uma ameba traz o primeiro questionamento: e a ameba, surgiu de onde?". O discurso sobre o ser unicelular está em bit.ly/crivella.

Ontem, repetiu não saber "colocar a minhoca no anzol", apesar de ter virado ministro da Pesca. Olhou para Dilma Rousseff. Compungido, amparou-se na força divina: "Muitas vezes, Deus não chama os mais qualificados, não escolhe os mais qualificados. Mas sempre Deus qualifica os escolhidos". Ou seja, tornar-se um bom ou mau ministro é também uma questão de fé.

Crivella é do PRB e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Igreja e partido entram no governo com a missão de vocalizar os anseios de políticos evangélicos. Em meio a metáforas e a discursos sobre minhocas e amebas, Dilma Rousseff oficializa, assim, mais um oximoro da administração petista, o excêntrico Estado laico-cristão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Os enredados :: Miguel Reale Júnior

No círculo midiático de hoje, a reflexão e a assunção sopesada de convicções individuais, bem como o silêncio e a solidão, cederam passo a uma saraivada contínua de comunicações. Reage-se a esta prevalência do virtual de forma passiva ou com manifestações apressadas de cunho emocional. Neste mundo de inter-relações imediatas, vive-se com a mídia e pela mídia, segundo Manuel Castells, para quem, com as redes sociais se instala uma virtualidade real.

"Todos são iguais perante o Facebook", eis o novo direito fundamental. Diversos enredados na rede social expõem a si próprios e cada qual passa a ter acesso ao mundo do outro. Se a televisão, o principal meio de comunicação em nosso país, está presente em todos os instantes, a criar, de um lado, o monólogo e, de outro, a audiência preguiçosa, com as crescentes redes sociais se torna viável que o enredado possa manifestar-se sem a preocupação de ser razoável.

Esse fenômeno carrega contraposições.

A primeira, relativa à minimização do valor da intimidade e da vida privada, um dos direitos da personalidade consagrados nas modernas Constituições democráticas, mas violado pelo descaso com que muitos dos enredados tratam sua própria área de exclusividade, em compulsão pelo compartilhamento de cada instante de sua vida.

No inciso X do artigo 5.º da Constituição federal, no capítulo Dos Direitos e Garantias Fundamentais, consagra-se que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas (...)". O direito à privacidade constitui atributo da personalidade, requisito essencial à realização da pessoa humana, instaurando a expectativa de respeito à própria singularidade. A Constituição distingue entre intimidade e vida privada, estabelecendo dois campos: um de grande reserva e interioridade, ligada às próprias convicções e expressões de pensamento, bem como relativamente ao que se passa entre quatro paredes; outro, menos restrito, relativo à vida doméstica, aos hábitos cotidianos, acessível a pessoas próximas nas quais se confia.

Para Hannah Arendt, há uma zona de exclusividade onde sem cuidados se desenvolve a própria existência, definida por Judith Martins Costa como a especial esfera da vida em relação à qual é garantida a imunidade ao próprio modo de ser da pessoa, defesa a interferência alheia, pois é o locus, material e espiritual, em que cada qual fixa sua singularidade, seus gostos particulares a serem usufruídos reservadamente. Há uma diferença no grau de intensidade de exclusividade: a intimidade diz respeito ao modo de ser singular que cada qual tem no campo nuclear de sua existência, aos dados de foro o mais restrito, enquanto a vida privada diz respeito a formas de pensar e agir a serem sabidas apenas por poucos.

Vê-se agora, todavia, que a inserção numa rede social faz muitos dos fisgados desprezarem os limites quer da vida privada, de acesso limitado aos mais chegados, quer também do próprio núcleo mais fechado da vida íntima, como se viver só tivesse sentido ao se compartilhar e socializar com muitos outros, pela rede, todas as sensações e vivências, devendo-se divulgar aos demais todos os acontecimentos da existência. De um lado, franqueia-se a intimidade, de outro, instala-se um "voyeurismo" compulsivo: deixar-se ver e ver os outros.

A segunda contraposição decorre de ser o internauta alvo de comunicações em série, mas ao mesmo tempo ter a possibilidade de se manifestar livremente, sobre tudo e sobre todos, jorrando, sem compromisso, opiniões que vão do elogio apaixonado à agressividade desmedida, em aplauso ou crítica ao comportamento de alguém ou de algum grupo de pessoas.

A liberdade de manifestação de pensamento constitui gênero de primeira necessidade na vida democrática, condição essencial de desenvolvimento dos cidadãos, pois areja, alimenta a multiplicidade de opiniões, garante a difusão de pensamentos e a participação pelo conhecimento e pela crítica dos fatos. A amplitude da liberdade de manifestação, estatuída no artigo 220 da Constituição, exige, todavia, a observância da composição com outros valores, em especial a dignidade sexual, a honra e a vida privada, a não discriminação. Veem-se, contudo, em comentários de internautas, novatos no exercício da liberdade de pensamento, excessos, com violação da honra alheia, de sua intimidade ou incitando o ódio e a discriminação das mais variadas espécies. Só o tempo consertará tais exageros.

Por fim, a última contraposição surge da ilusão de que a plena possibilidade de manifestação de pensamento iguale o valor das diversas perspectivas. Não se deve, porém, confundir o direito de se exprimir com atribuir a mesma validade às diversas visões manifestadas, em inaceitável relativismo. A pessoa humana, enquanto titular dos direitos de não ser discriminada, de manter a integridade física e psíquica, de não ter violada sua honra ou intimidade, de exercer liberdade religiosa, constitui valor conquistado arduamente no processo histórico do Ocidente, a prevalecer como fonte nuclear de outros direitos fundamentais.

A maior intensidade valorativa da dignidade da pessoa humana não impede que se garanta a liberdade de opinar contra a liberdade religiosa, ou de imprensa, ou em favor do comandante Schettino (do Costa Concordia). O vertiginoso crescimento dos meios de manifestação, no entanto, traz o risco do relativismo que iguala o diferente e nega a prevalência de valores essenciais obtidos ao longo da História. A multiplicidade de opiniões exigiria avaliá-las criteriosamente e não dar a todas o mesmo peso.

Cabe, ao final, realçar: essas perplexidades não retiram os benefícios propiciados pelas redes sociais por aproximar pessoas e ventilar questões de interesse geral. Mas fica sempre o desafio de entender os valores dominantes nestes tempos de urgência, de exposição e interação contínuas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A indignação de Dilma:: Celso Ming

Tem pouco efeito prático externo a indignação que a presidente Dilma Rousseff manifestou quinta-feira por causa das políticas monetárias frouxas dos países ricos que canibalizam, segundo ela, as economias dos emergentes.

Apenas para relembrar, Dilma se queixou de que as impressionantes emissões de moeda pelos bancos centrais dos Estados Unidos e da área do euro provocam "tsunami monetário", ou seja, despejam vagalhões de moeda no resto do mundo e tiram competitividade do setor produtivo dos emergentes – especialmente do Brasil, à medida que acarretam desvalorização das moedas fortes e valorização das mais fracas, como o real.

Ao denunciar a guerra cambial provocada pela política monetária das grandes potências, o ministro Guido Mantega já denunciava esse efeito e continua acreditando em que possa contar com séria discussão no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), sobre o impacto no comércio global provocado pela manipulação do câmbio.

Mas não dá para afirmar que, por terem despejado nos mercados mais de US$ 7 trilhões, os grandes bancos centrais estejam adotando políticas condenáveis e, portanto, sujeitas a represálias pelo resto do mundo. E não deixa de ser paradoxal que essa questão seja levantada no momento em que Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), e Mario Draghi, do Banco Central Europeu, estejam sendo festejados como salvadores globais por dominarem com essas políticas – ao menos temporariamente – os incêndios que varriam as economias dos Estados Unidos e dos países-membros do bloco do euro.

Mas, afinal, o que é melhor para o Brasil: enfrentar o efeito colateral dessas políticas (o tal tsunami de moeda estrangeira no câmbio interno), mas trabalhar sem as turbulências que paralisaram a economia mundial e a ameaçaram com uma tempestade perfeita; ou o contrário? Por acaso, o governo do PT prefere a paisagem desoladora de uma grande depressão global, de poder destrutivo equivalente ao dos anos 30? Ou, então, poderia sugerir aos grandes bancos centrais opções, politicamente viáveis, melhores do que a adotada?

O governo brasileiro também se contradiz quando condena o sacrifício imposto às populações dos países ricos – em recessão, desemprego, perda de salário e tal – e, ao mesmo tempo, acusa seus governos de praticar políticas fiscais flácidas, que têm de ser compensadas em seguida com despejo de trilhões de dólares.

Tivesse o Brasil poupança equivalente a 50% do PIB, como a da China, seria possível neutralizar os efeitos deste e de outros tsunamis. Mas não é o que acontece. O Brasil tem uma poupança insignificante, de apenas 17% do PIB, que tende a ficar ainda mais baixa em consequência da política econômica dos últimos anos, que privilegia o consumo em nome da criação de um forte mercado interno.

Pode-se lamentar a falta de políticas preventivas contra enchentes. Mas há um momento, como este, em que tudo o que é possível fazer é passar os móveis para o andar de cima e depositar sacos com areia para tentar deter os efeitos da enxurrada sobre a casa. No entanto, há razões para acreditar que a indignação de Dilma tenha mais objetivo interno do que externo.

CONFIRA

Encontro de damas. Os ataques da presidente Dilma Rousseff à atuação dos grandes bancos centrais foram prontamente transmitidos ao exterior pelas agências de notícias e, nesta sexta-feira, mereceram comentário da chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Disse compreender as razões de Dilma, mas que a convenceria de que os bancos centrais estão certos.

Sem desastre. Dilma se encontrará com Merkel na próxima segunda-feira, em Berlim e, digamos, não pretende convencer Merkel de que está errada. Nem teria condições de sustentar o ponto de vista de que Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, está produzindo um desastre.

Bom para a Ata do Copom. Muito provavelmente, o discurso de Dilma terá mais utilidade interna do que externa. Poderá ser usado pelo Banco Central do Brasil para justificar novas derrubadas dos juros, agora como necessidade para reduzir a entrada de moeda estrangeira destinada à especulação com juros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Drummond o homenageado da Flip 2012

Silviano Santiago, do 'Sabático', foi o escolhido para fazer a conferência em homenagem a Carlos Drummond de Andrade

Maria Fernanda Rodrigues

No ano em que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) será homenageado na 10.ª Festa Literária Internacional de Paraty, de 4 a 8 de julho, Silviano Santiago fará a conferência de abertura. O escritor, crítico literário e colunista do Sabático pretende tratar, na noite de 4 de julho, sobre a atualidade e o cosmopolitismo do poeta mineiro, que ele conheceu pessoalmente e com quem organizou Carlos e Mário, livro de correspondências trocadas com Mário de Andrade - que seria lançado em 2002.

"A atualidade de Drummond é inegável. Paralelamente aos outros grandes poetas modernistas, ele apresenta uma diversificação temática, estilística e de dicções poéticas muito grande e isso o torna uma figura bem mais complexa que os demais modernistas. É por essa diversificação que ele nunca cairá no lugar comum da poesia de gosto fácil", diz Santiago, que lançou, em 1976, obra de ensaios sobre o poeta. Ao mesmo tempo, conta, ele tinha um "tino extraordinário para poemas que cairiam no gosto do público, como José".

A questão do cosmopolitismo, uma das grandes características da poesia de Drummond segundo o crítico, deve ganhar destaque na apresentação. Drummond não conheceu a Europa e nem os Estados Unidos, e a Argentina foi o único país estrangeiro que ele visitou, relembra o crítico. "Mas desde o início ele mostra uma visão de mundo muito ampla que coincide com esse desejo do Brasil hoje de falar menos sobre o umbigo e mais sobre as relações internacionais."

Santiago e Drummond se encontraram algumas vezes - a primeira delas foi em 1955. Depois, como eram vizinhos de rua, se cruzaram pelo Rio. Estiveram juntos duas ou três vezes nos famosos Sabadoyles, nome dado às reuniões de sábado realizadas por Plínio Doyle em sua casa, e em outros momentos. Para Santiago, Drummond era tímido, mas não era sério. Tanto que mudava a voz ao atender o telefone para evitar os chatos

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO