Grupo de Lula perde poder
• Dilma anuncia mais 7 ministros; escolhidos para o Planalto são de alas minoritárias do PT
Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro e Luiza Damé – O Globo
-BRASÍLIA- Ao anunciar o nome de mais sete ministros, entre eles cinco do PT, a presidente Dilma Rousseff alterou ontem o jogo de poder tanto no governo como em seu próprio partido. A corrente majoritária do PT, conhecida como Construindo um Novo Brasil (CNB), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu força na Esplanada dos Ministérios, e o bloco composto pelas alas Mensagem e Democracia Socialista (DS), críticas à direção partidária, passou a ter mais influência no Palácio do Planalto. Nos últimos anos, a CNB teve alguns de seus expoentes envolvidos em escândalos de corrupção, entre eles José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, condenados no mensalão. Pela primeira vez desde que o PT assumiu o governo federal, a CNB terá menos interferência no Planalto.
Depois de passar quatro dias descansando no litoral da Bahia, Dilma voltou ontem para Brasília e, no fim da tarde, anunciou o nome de mais sete ministros. Tomarão posse na quinta-feira Antonio Carlos Rodrigues, do PR, no Ministério dos Transportes, e Gilberto Ochi, do PP, na Integração Nacional. Os cinco petistas anunciados são: Miguel Rossetto (Secretaria Geral), Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Ricardo Berzoini (Comunicações) e Carlos Gabas (Previdência).
Patrus, Berzoini e Gabas são da CNB. Rossetto e Vargas, da Democracia Socialista. A questão é estes últimos passam agora a integrar o núcleo político do Palácio do Planalto, em substituição a dois ministros da CNB que sempre foram muitos fiéis a Lula: Berzoini (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral).
O atrito entre Dilma e a corrente majoritária do PT ainda pode piorar. Ontem, integrantes da CNB afirmavam que a presidente pretende nomear o deputado Alessandro Molon (pT-RJ), também da Mensagem, para a Secretaria de Comunicação Social, pasta responsável pela distribuição das verbas publicitárias do governo. Para um dirigente do PT, essa nomeação deflagrará "uma guerra" interna na sigla. Nenhuma crítica ou prognóstico, porém, foi feito em declaração pública.
Equilíbrio de forças
Desde o primeiro governo de Lula, a composição de forças dentro do PT vinha se refletindo na distribuição dos ministérios. Dilma, no entanto, parece estar ignorando essa tradição. Mesmo assim, integrantes da CNB diziam ontem que ainda tinham esperanças de que a presidente levasse em conta o equilíbrio interno de forças do partido e não nomeasse Molon.
Para compensar a perda de espaço, a CNB quer emplacar o deputado José Guimarães (PT-CE) para a liderança do governo na Câmara. Essa função atualmente é exercida pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS), também da Mensagem.
Da cota petista, já havia sido anunciado como ministro, na semana passada, Jaques Wagner para a Defesa. Apesar de ele ter boa relação com a CNB, Wagner é de uma corrente chamada Reencantando, que só atua na Bahia.
Da corrente majoritária ainda devem ser confirmados Ideli Salvatti nos Direitos Humanos e Aloizio Mercadante, na Casa Civil, embora este último não defenda os interesses do partido no governo, sendo, inclusive, alvo de queixas da CNB. A presidente deve manter ainda José Eduardo Cardozo, que é da Mensagem, no Ministério da Justiça.
Até o final da tarde de ontem, poucas horas antes do anúncio, integrantes da corrente majoritária do PT ainda alimentavam a expectativa de que Dilma recuasse da intenção de nomear Pepe Vargas, da corrente Democracia Socialista, para as Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação política.
Para além da luta interna, o PT perdeu espaço no novo governo ao ser substituído no comando do Ministério da Fazenda e da Educação. Os petistas também queriam emplacar o tesoureiro da campanha à reeleição, Edinho Silva, no Ministério do Esporte, mas a pasta acabou sendo entregue ao pastor George Hilton, do PRB.
Apesar desses entraves, nem tudo é reclamação na CNB. A corrente ficou satisfeita com a ida de Berzoini para as Comunicações. Como ele tem uma posição pessoal favorável à regulação da mídia, uma das bandeiras do PT, sua nomeação foi interpretada como um sinal de que Dilma promoverá a "democratização dos meios de comunicação" em seu segundo mandato.
Lideranças petistas afirmaram que Dilma até conversou sobre a reforma ministerial com Lula e com o presidente do PT, Rui Falcão, mas não levou suas opiniões em conta:
— Ela está fazendo um Ministério à sua imagem e semelhança — afirmou um integrante da CNB.
"Muito difícil"
Ontem, ao revelar mais um bloco de ministros, Dilma deixou outras 15 pastas para serem definidas nas 48 horas finais de seu primeiro mandato. No último dia 17, ao participar da cúpula de presidentes do Mercosul, Dilma chegou a desabafar com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmando que estava "muito difícil" formar um novo governo.
Das 15 pastas em aberto, dez devem continuar com os atuais titulares, e cinco devem mudar de comando. São elas: Relações Exteriores, Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Comunicação Social (Secom), Cultura e Assuntos Estratégicos (SAE).
Na última terça-feira, foram anunciados treze ministros, sendo seis do PMDB, um do PT, um do PSD, um do PCdoB, um do PRB e um do Pros. Foram eles: Aldo Rebelo (Ciência Tecnologia e Inovação), Cid Gomes (Educação), Edinho Araújo (Secretaria de Portos), Eduardo Braga (Minas e Energia), Eliseu Padilha (Secretaria de Aviação Civil), George Hilton (Esporte), Gilberto Kassab (Cidades), Helder Barbalho (Pesca), Jaques Wagner (Defesa), Kátia Abreu (Agricultura), Nilma Lino Gomes (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial); Valdir Simão (Controladoria Geral da União) e Vinicius Lages (Turismo).
No final de novembro a presidente já havia anunciado a nova equipe econômica: Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Armando Monteiro (Desenvolvimento Econômico), além da permanência de Alexandre Tombini no Banco Central. Os ministros tomarão posse no dia 1º de janeiro, no Palácio do Planalto, após a presidente ser empossada no Congresso.