• ‘Não mandam nessa nega’, diz Tia Eron, de partido aliado, antes do voto decisivo
Outro defensor do peemedebista, Wladimir Costa (SD-PA) mudou de lado minutos após defender o colega em discurso; defecções podem aumentar até a votação definitiva, no plenário da Câmara, ainda sem data marcada para ocorrer
Após quase oito meses, o Conselho de Ética da Câmara aprovou, por 11 votos a 9, parecer favorável à cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por ter mentido à CPI da Petrobras ao negar que tenha contas no exterior. A sessão de conclusão do mais longo processo da história do conselho foi marcada por confusão e repleta de surpresas, a maior delas o voto que definiu o resultado, da deputada Tia Eron (PRB-BA), cujo partido é aliado de Cunha. “Não mandam nessa nega aqui!”, exclamou ela, que citou até Platão antes de desfazer um mistério alimentado por semanas. Após o voto de Tia Eron, Wladimir Costa (SDPA), que acabara de discursar em defesa de Cunha, mudou o seu voto, num sinal de que outras traições poderão ocorrer na votação definitiva, no plenário da Câmara, ainda sem data marcada. O deputado disse que recorrerá à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde integrantes foram trocados para tentar dar a Cunha a maioria do colegiado.
A um passo da cassação
• Com traições, Conselho de Ética pede perda de mandato de Cunha, que tende a ser confirmada
Isabel Braga, Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Maria Lima e Leticia Fernandes - O Globo
BRASÍLIA - Em decisão surpreendente, o Conselho de Ética da Câmara pediu ontem a cassação do mandato do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Por 11 votos a9, o parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) foi aprovado, com dois votos que nos últimos dias eram dados como certos para Cunha: o de Tia Eron (PRB-BA) e, em virada de última hora, do deputado Wladimir Costa (SD-PA). A decisão pegou Cunha de surpresa e, na opinião de aliados e opositores, torna improvável sua absolvição no plenário da Casa.
Desde que o voto aberto nas cassações de mandato foi aprovado, o plenário da Câmara aprovou todas as recomendações do Conselho de Ética: as cassações do deputado preso Natan Donadon e de André Vargas e a suspensão do deputado Carlos Alberto Lereia. Ontem, uma frase de Tancredo Neves era lembrada no plenário: peça qualquer coisa a um político, menos que ele se suicide.
— Com o voto aberto, cada um pensa em seu próprio pescoço. E a opinião pública já escolheu um lado: contra Cunha — disse um dos deputados.
Depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou Cunha da presidência e do mandato, aliados insistiram para que ele renunciasse à presidência da Casa para facilitar a aprovação de uma pena mais branda. Cunha jamais aceitou a hipótese. Ontem, após a derrota, nem o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos mais fiéis aliados de Cunha, tinha uma estratégia clara.
— Não sei o que fazer agora, confesso que estou perdido — disse Marun, com semblante abatido.