quinta-feira, 24 de maio de 2018

Opinião do dia: Por um polo democrático e reformista

"O Brasil vivenciou recentemente uma das maiores crises de sua história com múltiplas faces que interagem e se retroalimentam. Instabilidade política aguda, recessão econômica profunda, estrangulamento fiscal, corrupção endêmica e institucionalizada, radicalização em um ambiente social marcado pela desesperança, a intolerância e o sectarismo, conflitos e desarmonia entre os poderes republicanos. Faltam pouco mais de quatro meses para as eleições presidenciais. É uma oportunidade rara e única de recolocar o país nos trilhos, desenhando uma trajetória de retomada dos valores fundamentais da ética, do trabalho, da seriedade, do espírito público e dos compromissos com a liberdade, a justiça social e o desenvolvimento sustentável.

A eleição de 2018 se apresenta talvez como a mais complexa e indecifrável de todo o período da redemocratização. Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral.

Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade. Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo, a serenidade, a experiência, a competência, o respeito à diversidade e o compromisso com o país.

É neste sentido que as lideranças políticas que assinam este manifesto conclamam todas as forças democráticas e reformistas a se unirem em torno de um projeto nacional, que a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços já alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos.

Esta iniciativa, e isso é vital para seu sucesso, deve agregar, de forma plural, liberais, democratas, socialdemocratas, democratas cristãos, socialistas democráticos, numa discussão franca e aberta, sobre os nossos atuais dilemas e os caminhos para a construção do futuro desejado para o Brasil.

Este projeto nacional, visando à construção da necessária e urgente unidade política nas eleições, não deve ser obra de uma dúzia de líderes políticos e intelectuais. Para pavimentar o caminho da unidade terá obrigatoriamente de ser obra coletiva, envolvendo partidos políticos, lideranças da sociedade civil e todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista, atrasado e bolivariano.

Os que assinam esse manifesto lançam, como contribuição inicial ao debate e ao esforço coletivo que poderá ser desencadeado, pontos essenciais que podem gerar consensos progressivos em torno da agenda nacional e dos avanços necessários, a partir de uma perspectiva democrática e reformista.

William Waack: ‘Projeto nacional’

- O Estado de S.Paulo

Há um apelo para que elites se juntem em torno de um projeto. Mas, que elites?

Sempre um hábil piadista, consta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se recentemente com um arcebispo brasileiro em jantar. “Seu nome eu conheço bem”, teria dito o sociólogo ao prelado. “Mas não é curioso que a gente não se lembre do nome praticamente de mais nenhum bispo ou cardeal?” E acrescentou, enquanto a ironia ocupava o recinto: “Mas tem sido assim também com os generais, com os empresários – a gente não lembra de muitos deles”.

Fernando Henrique tem sido lembrado nos últimos dias como o autor do mais recente apelo para que grupos de liderança, especialmente políticos, se unam em torno de uma plataforma democrática e reformista – interpretada precipitadamente por alguns como “união do centro” quando, me parece, é muito mais abrangente. No fundo, é um apelo para que elites se juntem em torno de um projeto. Mas, que elites?

Na insuperável descrição de “elites brasileiras”, publicada aqui no Estado no último sábado por Bolívar Lamounier, o que temos não é nada remotamente parecido com o que os livros de sociologia designam como elites. “Temos, isso sim, corporações, grupos de interesse, setores aguerridamente engalfinhados, cada um querendo sua parte no erário”, escreveu Bolívar. Quando, em recentes tempos, houve algo parecido a uma união em torno de um projeto, boa parte dessas elites comprou o projeto do... PT.

Merval Pereira: Ministério de notáveis

- O Globo

O cientista político Octavio Amorim Neto, professor da Fundação Getulio Vargas no Rio, escreveu no Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) de maio um artigo tratando da governabilidade do futuro presidente brasileiro, que, ao que tudo indica, será minoritário no Congresso devido à crescente fragmentação partidária e ao enfraquecimento dos três principais partidos — MDB, PT e PSDB. Sua instigante tese é que o antídoto ao presidencialismo de coalizão, desmoralizado diante da opinião pública, seria a formação de um ministério de notáveis, tal qual tentou em 1992 o então presidente Collor.

Octavio Amorim Neto lembra que, ao longo das nossas duas experiências democráticas (1946-1964 e 1985-2018), “todos os chefes de Executivo que não lograram formar uma maioria legislativa, ou a perderam, não conseguiram terminar suas administrações no prazo constitucionalmente estipulado. São os casos de Getúlio Vargas em 1954, Café Filho em 1955, Jânio Quadros em 1961, João Goulart em 1964, Fernando Collor em 1992, e Dilma Rousseff em 2016”.

Trata-se de um fenômeno muito frequente em nosso país, ressalta o cientista político, que rechaça a ideia de alguns políticos de recorrer a plebiscitos para forçar o Legislativo a acatar as principais propostas do novo governo. Além de “uma afronta às prerrogativas constitucionais de deputados e senadores”, significa também “se valer de um expediente típico do rotundamente falido bolivarianismo venezuelano”.

Faltou aos partidos de esquerda propostas para sobrepor o PT, diz sociólogo

Entrevista: Caetano Araújo

-Assessoria FAP/Germano Martiniano

"O principal legado do governo Temer é a manutenção do calendário eleitoral"

A entrevista desta semana da série FAP Entrevista é com o sociólogo Caetano Ernesto Pereira de Araújo. Com graduação, mestrado e doutorado em Sociologia pela UnB (Universidade de Brasília), ele também é consultor legislativo do Senado Federal. Tem experiência na área de sociologia, com ênfase em Teoria Sociológica e Sociologia Política, atuando principalmente em temas como eleições, rural, parlamento, esquerda, democracia, socialismo e tecnologia.

Neste ano em que se celebra 200 anos do nascimento de Karl Marx, Caetano Araújo trouxe a FAP uma reflexão necessária sobre o pensamento marxista. “Como ocorre com todo grande autor, a obra de Marx inspira leituras novas em cada novo momento da história. Certamente alguns aspectos, tidos anteriormente como fundamentais, tenderão a perder espaço para outros menos percebidos até agora”, acredita.

Na entrevista, o sociólogo também comentou o por quê de grande parte da população brasileira restringir o pensamento de esquerda ao PT. Para Araújo, o Partido dos Trabalhadores conseguiu, nas últimas décadas, ser a principal força eleitoral da esquerda. “As potenciais alternativas não conseguiram, até o momento, formular um projeto claro e convincente para os eleitores”, avalia.

A entrevista que segue abaixo integra a série que a FAP com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano, as eleições.

• FAP Entrevista – Fernando Gabeira, em recente artigo, escreveu que o PT, PSDB e PMDB, que são detentores da maior parte do financiamento eleitoral, também seguem em queda por conta da Operação Lava-Jato. Como o senhor analisa este paradoxo frente às eleições 2018?

Caetano Araújo – Gabeira tem razão. Desde a redemocratização há uma desconfiança acentuada dos eleitores face aos políticos, aos partidos e, especialmente, aos legislativos. Essa desconfiança aprofundou-se a cada novo escândalo revelado, até que, nas manifestações de 2013 atingiu um novo patamar: a rejeição difusa ao sistema como um todo e, penso, principalmente às regras de seleção dos mandatários, ou seja, às regras eleitorais. Desde então a Lava-Jato só fez aumentar a rejeição dos eleitores em relação aos eleitos. Num movimento de defesa, os maiores partidos acordaram recentemente novas regras para a disputa eleitoral. Regras que concentram os principais recursos de campanha, tempo de televisão e dinheiro, nas mãos das direções das direções partidárias. Daí o paradoxo aparente: os maiores partidos, que sofrem o maior desgaste junto a opinião pública, apostam no quase monopólio da exposição na mídia e nos recursos financeiros para reverter esse desgaste, tudo isso numa campanha que será de curta duração.

• As pesquisas para presidente apontam Bolsonaro na liderança, no caso de Lula não concorrer. Lula, mesmo preso, lidera em todos os cenários. Ou seja, a crença por mudanças ainda está nos extremos. Por que o centro ainda não conseguiu emplacar nenhum nome?

Tenho restrições ao emprego do conceito de centro político. Me parece que esse termo fazia pleno sentido na maior parte do século XX, quando o campo da política era dominado por apenas uma oposição fundamental entre esquerda e direita. Num espaço como esse havia um centro moderado, em antagonismo permanente com a extrema esquerda e a extrema direita extremadas, ambas sempre prontas para sacrificar a ordem democrática a seus objetivos políticos. Hoje, todas as evidências apontam para a relevância de uma segunda oposição que convive com a primeira, aquela entre nacionalismo e cosmopolitismo. Essa segunda oposição está redefinindo os sistemas partidários dos países democráticos e, por vezes, sobrepõe-se à oposição tradicional entre esquerda e direita. A respeito da vantagem de Lula e Bolsonaro nas pesquisas, penso que ambos vocalizam as duas maiores demandas do eleitorado, que hoje são, a meu ver, equidade e segurança, respectivamente. No imaginário popular, Lula permanece, até por falta de concorrentes, como o campeão das políticas de equidade, enquanto o discurso de Bolsonaro sinaliza a disposição de investir tudo, mesmo que com o sacrifício dos procedimentos democráticos, na segurança do cidadão, ou seja, na ordem. Enquanto outros candidatos permanecerem focados na política econômica e não ingressarem nesses temas de maneira articulada e crível, creio que Lula e Bolsonaro continuarão a liderar as pesquisas.

• Quando a propaganda eleitoral começar, nos quais os grandes partidos têm mais tempo de televisão, o senhor acredita que este quadro de polarização entre Lula e Bolsonaro se modificará?

Reverter o desgaste político com televisão e dinheiro é a aposta dos grandes partidos. Penso, no entanto, que mais importante do que a concentração dos meios de campanha nas mãos dos maiores partidos será o posicionamento concreto em torno da agenda dos eleitores. Minha hipótese é que, nessa agenda, equidade e segurança ocupam a posição central. Se a estabilidade econômica estivesse nessa posição, a popularidade do Presidente Temer estaria em patamar diferente.

• As “fake news” são um outro problema referente às eleições 2018. O senhor enxerga alguma solução a curto prazo?

As fake news já foram um problema grave em 2014 e tudo indica que este ano o problema será mais grave ainda. Vejo dois caminhos para minimizar seu impacto. Primeiro, o aprimoramento da regra de modo a facilitar a responsabilização dos geradores e replicadores, inclusive as empresas responsáveis pelas redes, de notícias deliberadamente falsas. O segundo caminho possível seria a construção de um grande pacto interpartidário contra a violência e a mentira nas eleições. Esse caminho exigiria, no entanto, reverter a tendência à polarização e à radicalização que tem sido dominante na política nacional nos anos recentes.

O sociólogo Zander Navarro, em artigo publicado na semana passada em O Estado de S. Paulo, escreveu que “Marx e o marxismo são encantadores como um movimento de ideias, mas deixaram de ser a arquitetura possível de uma nova sociedade.” O senhor concorda com esse argumento?

Como ocorre com todo grande autor, a obra de Marx inspira leituras novas em cada novo momento da história. Certamente alguns aspectos tidos anteriormente como fundamentais tenderão a perder espaço para outros menos percebidos até agora. Sobre a arquitetura do caminho para uma nova sociedade, creio que a experiência mais relevante do século XX foi a revolução de 1917, intimamente ligada à leitura leninista da obra de Marx. Para falar apenas no plano da adequação entre fins e meios, penso que a história demonstrou de forma cabal a inadequação de um modelo que prescinde da democracia e de qualquer mecanismo de mercado para alcançar os objetivos postos pelo movimento socialista nos séculos XIX e XX.

• Por que no Brasil ainda predomina a noção de que a esquerda se resume ao Partido dos Trabalhadores?

Porque, por diversas razões, nas últimas décadas o PT conseguiu constituir-se na força eleitoralmente mais importante da esquerda brasileira. As potenciais alternativas não conseguiram, até o momento, formular um projeto claro e convincente para os eleitores.

• O senhor acredita que o governo Michel Temer deixará algum legado?

O principal legado do governo Temer é a manutenção do calendário eleitoral. É claro que a reversão do quadro econômico é relevante, mas as limitações da recuperação que vivemos ficam cada vez mais evidentes. Nesse aspecto, o governo tinha uma agenda de reformas que só conseguiu executar de forma parcial, uma vez que superava em muito sua capacidade de realização. O governo se mostrou vulnerável no que se refere às acusações de corrupção e teve que se submeter ao veto de boa parte de sua base de apoio no Congresso Nacional em diversas votações importantes para sua agenda. Mesmo assim, numa conjuntura em que a questão central fosse a consolidação da estabilidade econômica, seu desempenho em termos de popularidade e de expectativas eleitorais poderia ter sido diferente.

• Quais serão os maiores desafios para o próximo presidente do Brasil?

O novo presidente terá tarefas árduas pela frente. Terá que dar resposta às demandas dos eleitores por equidade e segurança, sem descuidar da recuperação econômica, pré-condição necessária para essas respostas. Para tanto, precisará empenhar-se numa agenda de profundas reformas do estado, a começar pela reforma da Previdência. Todas as questões são complexas e da eleição deve resultar um Congresso Nacional ainda mais fragmentado que o atual. Ou seja, o problema é grande e só poderá ser enfrentado por meio da construção de acordos amplos entre os diversos partidos.

Cristian Klein: Entre o antigo e o novo regime

- Valor Econômico

Ciro precisa de discurso cristalino para desbancar PT

A corrida presidencial de 2018 é a mais aberta da história, mas há muita sujeira e dissimulação no cenário e a definição, em resumo, depende da resposta a quatro perguntas. Bolsonaro (PSL) manterá seu patamar ou desidratará? Sem Lula, quanto dos 20% de identificação partidária e do potencial de transferência do líder máximo o candidato do PT conseguirá converter em intenção de voto? Alckmin (PSDB) vai decolar a ponto de se tornar competitivo? Ciro (PDT) e Marina (Rede) terão fôlego para chegar ao segundo turno? O resto é secundário.

Meirelles (MDB), Maia (DEM), Manuela (PCdoB), Amoêdo (Novo), Alvaro (Pode), Afif (PSD), Aldo (SD), Rabello (PSC), Rocha (PRB), Boulos (Psol) ou marcam posição ou tentam inflar balão de ensaio pronto para se esvaziar diante das evidências. Vide a natimorta candidatura de Temer, que sempre esteve mais para a primeira do que para a segunda hipótese. O mais impopular presidente desde a redemocratização empurrou até não dar mais a lorota de que concorreria, para não se transformar na irrelevância do mandatário de um governo que já acabou.

Temer abriu espaço ao ex-ministro da Fazenda, mas Henrique Meirelles e Rodrigo Maia são expoentes do governismo e de um Executivo e Legislativo no momento em que o clima de opinião é contra o establishment. Meirelles terá que explicar o que fez e o que não fez e provar não ser um candidato de si mesmo - a despeito de uma eleição em que riqueza pessoal e poder de autofinanciamento darão vantagens competitivas. O sistema político brasileiro está mais para uma casta nobiliárquica, ligada à tradição - como a França do Antigo Regime -, do que uma classe aberta ao poder da grana, ao estilo da nobreza britânica à mesma época. É preciso convencer a velha confederação de caciques estaduais do MDB de que o homem do mercado também é bom de voto.

Bruno Boghossian: DNA liberal

- Folha de S. Paulo

Influência do Planalto na redução do diesel revela peso da bandeira do ajuste

A redução do preço do diesel pela Petrobras revela o peso da bandeira do ajuste econômico liberal em momentos de estresse. Michel Temer aplicou o DNA do mercado à gestão da companhia, mas deixou impressões digitais políticas sobre a decisão anunciada pela empresa para conter a greve de caminhoneiros que se espalhou pelo país.

A Petrobras reconquistou a confiança de investidores ao adotar práticas da iniciativa privada, priorizar a recuperação de suas finanças e se desvencilhar de interferências constantes do governo. A intervenção temporária sobre o diesel, porém, expõe a inevitável tendência da estatal de agir como estatal em situações críticas.

Ainda que o Planalto se vanglorie de ter livrado a economia das amarras impostas por Dilma Rousseff, as pressões políticas e eleitorais voltam a atar alguns desses nós.

Ricardo Noblat: De volta, o fantasma do congelamento de preços

- Blog do Noblat | Veja

É mais fácil Temer cair do que o presidente da Petrobras mudar de opinião

É o que dá brincar de capitalismo moderno e não se preparar para lidar com suas consequências.

A política de preços realistas da Petrobras é coisa de capitalismo avançado. O congelamento de preços, coisa das antigas.

Era previsível que os sucessivos e necessários reajustes de preços dos combustíveis acabariam produzindo uma crise.

Por que o governo não se preparou para enfrentá-la? Ou, de preferência, abortá-la? Não foi por falta de avisos.

Tem a ver com falta de planejamento – ou seja: gestão incompetente. E com um governo fraco, pelas tabelas.

Mas não só. Também com um Congresso que se comporta como se fosse um simples comentarista da vida nacional.

O ex-presidente José Sarney desfrutou de um falso momento de glória quando congelou preços e salários no governo dele.

Durou pouco, mas o suficiente para que o PMDB elegesse em 1986 todos os governadores de Estado, menos um.

Depois começou a caça aos bois no pasto porque faltou carne, o congelamento acabou, e Sarney foi apedrejado em visita ao Rio.

O presidente Michel Temer levou um susto ao saber que o presidente da Petrobras convocara uma coletiva de imprensa.

Pouco antes, o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, sugerira que o presidente da Petrobras poderia ser trocado.

E um senador do PSDB dissera que, em breve, o presidente da Petrobras nomearia o presidente da República.

O presidente da Petrobras reduziu o preço do diesel e o congelou por 15 dias. O governo suspirou aliviado.

É mais fácil Temer cair do que o presidente da Petrobras ceder às suas pressões para dar pelo não dito o que diz e repete.

Com seus maus augúrios, agosto para Temer chegou em maio. Culpa dele.

Almir Pazzianotto Pinto: A maldição de Adhemar de Barros

- Diário do Poder

Apesar da ser a unidade líder da Federação, o último governador do Estado de São Paulo eleito diretamente à presidência da República foi Jânio Quadros, que não era paulista, mas natural de Campo Grande, hoje capital do Mato Grosso do Sul. O instável político, após vencer o pleito de 3/10/1960 com mais de 5,6 milhões de votos e assumir o governo em 31/1/1961, deixou a Nação atônita e perplexa ao renunciar no dia 25/8. Em lacônica mensagem encaminhada ao Congresso Nacional disse sentir-se esmagado por forças terríveis que “levantam-se contra mim e me intrigam ou difamam, até com a desculpa da colaboração”.

Na Velha República (1889-1930) três ilustres paulistas foram governadores do Estado e presidentes da República: Prudente de Moraes, nascido em Piracicaba (15.11.1894-15.11.1898); Campos Sales, natural de Campinas (15.11.1898-15.11.1902); Rodrigues Alves, filho de Guaratinguetá (15.11.1902-15.11.1906).

Desde 1906 governador algum, nascido em solo paulista, assumiu a presidência pela força do voto. Jânio Quadros foi governador, mas era mato-grossense. Ulysses Guimarães candidatou-se em 1970, foi derrotado e não havia sido governador. Franco Montoro exerceu o governo, mas não disputou a presidência. Adhemar de Barros, Paulo Maluf, Orestes Quércia, Mário Covas, José Serra, Geraldo Alckmin foram governadores e tentaram ostentar a faixa presidencial. Apesar de experientes e poderosos não conseguiram a popularidade necessária para ocuparem o Palácio do Planalto. Lula é pernambucano de Garanhuns, foi presidente, mas não foi governador. Michel Temer jamais ocupou o Palácio dos Bandeirantes. Atingiu a presidência por caminhos transversais. Foi vice-presidente de Dilma Roussef, deposta por crime de responsabilidade.

Míriam Leitão: O pacto da greve

- O Globo

A greve dos caminhoneiros só pôde chegar ao ponto em que chegou com a conivência dos empresários da indústria de transportes. Tanto é verdade que um dos pedidos feitos é de que não houvesse reoneração da contribuição patronal do setor. Todos os outros serão reonerados. O governo pode ceder, nos impostos ou na política de preços, mas não se livra do fato de que o país está vulnerável a essa chantagem.

Na reunião de ontem no Palácio do Planalto, o representante dos grandes empresários de transportes deixou claro que concorda com o movimento e que o alvo é a mudança da política de preços da Petrobras, o repasse da alta do dólar e do petróleo. No Rio, a Petrobras decidiu com autonomia, sem qualquer ingerência, segundo se garante na empresa, a redução do preço do diesel. Um pouco antes da entrevista, o Planalto recebeu uma ligação da companhia informando o que fora decidido. A ação da estatal caiu. No after market dos Estados Unidos, chegou a desabar 11%, depois atenuou um pouco. O governo está preocupado e mobilizado para resolver o problema, porque sabe o efeito exponencial que pode ter.

Caminhões transportam 64% da carga do país e essa parcela tem se mantido nos últimos anos. O país teve décadas, e inúmeros planos de desenvolvimento, planejamentos estratégicos, Pacs, para começar a reverter o rodoviarismo. Nestes dias ficou claro que, além de ser uma irracionalidade ambiental e econômica, a dependência ao setor pode encurralar o governo, desorganizar a economia e transtornar a vida dos consumidores. O país precisa levar a sério o esforço de investir em outros modais.

Luiz Carlos Azedo: Quando o mercado não resolve

- Correio Braziliense

A greve dos caminhoneiros tem um componente externo, a alta do dólar e seu impacto nos preços do petróleo, e outro interno, a crise política e ética, que fragilizou muito o governo

A greve dos caminhoneiros — na verdade, um grande locaute das empresas de transportes e distribuidoras, muito mais do que apenas dos avulsos — pegou o governo de calça curta. Em três dias, pôs em colapso o abastecimento de combustível, com grande especulação de preços nos postos de gasolina, e parte da frota de ônibus de transporte urbano nas garagens das principais cidades do país. Particularmente grave, ontem, foi o desabastecimento dos aeroportos, sem querosene para os aviões em alguns estados e no Distrito Federal. No começo da noite, o presidente de Petrobras, Pedro Parente, anunciou a redução de 10% no preço do diesel, por 15 dias, para que possa haver uma negociação entre as partes envolvidas.

Parente é apontado como o grande pivô da crise, por causa da política de preços da Petrobras, que acompanha o mercado internacional, dolarizado. Na entrevista coletiva de ontem, afirmou que a iniciativa de reduzir o preço do diesel foi da diretoria da empresa, diante do caos no sistema de transportes do país, mas garantiu que a política de preços da estatal não será alterada. O fato é que o mercado não foi capaz de se regular no setor; o impacto na política de preços gerou uma crise grave, que tensiona as relações da Petrobras com o governo e não terá uma solução técnica desvinculada de ampla negociação política. Um fator de desestabilização do governo às vésperas do processo eleitoral.

O presidente da Petrobras, porém, é um experiente executivo do setor público e sabe como a banda toca nessas horas. O recuo tático dele foi providencial, porque a primeira cabeça a rolar na crise seria a dele; e, com isso, todo o esforço para pôr a Petrobras nos eixos poderia ir por água abaixo. A paralisação é nacional, a própria Petrobras foi duramente atingida, pois o bloqueio das estradas e da saída de caminhões-tanque das refinarias já ameaçam a própria produção da empresa, que será interrompida se a greve continuar. Segundo a Petrobras, o preço do diesel deve cair 1,54% nas refinarias. A Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP) avalia que o preço médio do diesel nas bombas já acumula alta de cerca de 8% no ano, ou seja, muito acima da inflação acumulada no período, de 0,92%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nas negociações com os caminhoneiros, conduzidas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, não se chegou a uma solução razoável. As medidas adotadas pelo governo, inicialmente para reduzir o preço do diesel, no qual os impostos representam 50%, não foram suficientes para baixar os valores na bomba. O governo precisa de contrapartidas no Orçamento da União para deixar de coletar os tributos federais; a parte do leão dos impostos cobrados, porém, corresponde aos governos estaduais, por causa do ICMS. É preciso um acordo com os governadores, o que toma tempo.

Apesar de enfraquecido, o governo negocia com um porrete na mão, pois o juiz Marcelo Pinheiro, da 16ª Vara Federal do Distrito Federal, concedeu reintegração de posse de seis rodovias federais (BR-040, BR-050, BR-060, BR-070, BR-080 e BR-251) bloqueadas pelos caminhoneiros. Determinou a imediata liberação do tráfego, autorizando “medidas indispensáveis ao resguardo da ordem e, principalmente, para segurança das pessoas afetadas com o movimento paredista”. Pinheiro autorizou o uso de força policial “para assegurar que, durante a intimação dos requeridos e desobstrução das rodovias, não sejam praticados atos ilícitos ou depredatórios”. A ação foi impetrada pela União contra a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam).

Celso Ming: A alta dos combustíveis

- O Estado de S.Paulo

Como sempre acontece nas casas em que é preciso pagar uma conta graúda, todos gritam, fazem confusão e quase ninguém tem razão.

A gritaria dos caminhoneiros contra a conta do óleo diesel conseguiu que a Petrobrás anunciasse redução do preço do combustível em 10% por 15 dias. Mas vai na direção equivocada de que o governo ou a estatal devem assumir tal carga, como se a empresa fosse a causa do aumento dos preços internacionais do petróleo e da alta do dólar, responsáveis pelo esticão de 8,2% nos preços do óleo diesel em seis meses.

O argumento de que os preços ao varejo têm de ser previsíveis, como está nos comunicados da associação dos caminhoneiros, não guarda relação com a prática da economia. Os preços do tomate, do chuchu, da batatinha, da alface, de todos os grãos e das carnes variam todos os dias. As cotações das commodities mudam até mesmo ao longo do dia. As tarifas das passagens aéreas ou dos táxis regidos por aplicativos podem mudar a qualquer momento. Os mais importantes preços do dinheiro, o câmbio e os juros, também.

Enfim, os principais preços da economia não garantem a pretendida previsibilidade, nem no atacado, nem no varejo. Exigi-la para os combustíveis é ignorar a realidade. Na maioria dos países do Ocidente, os preços dos combustíveis são fixados pelas companhias de petróleo e podem, sim, mudar todos os dias. É assim nos Estados Unidos, no Canadá e em quase todos os países da Europa. O maior problema dos preços dos combustíveis no Brasil não é a periodicidade dos reajustes, que pode ser diária, mas a altíssima carga tributária sobre os preços no varejo.

Carlos Alberto Sardenberg: Piorou

- O Globo

Percepção de recuperação para valer depende de muitos fatores em suspenso, como quem será o próximo presidente

Não deu nos jornais, mas aparece nas conversas triviais. A gente aqui em São Paulo está com a impressão de que o trânsito tem melhorado nas últimas semanas. Não é boa notícia. Se as pessoas estão circulando menos, para o serviço, compras e diversão, é sinal de que a economia anda mais devagar que os carros. Não tem nada a ver com a crise dos combustíveis dos últimos dias. Isso vai piorar o sentimento, mas a coisa vem de antes.

Estava cogitando dessa hipótese quando saiu ontem o Índice de Confiança do Consumidor, da FGV, mostrando que os brasileiros estão de fato mais desconfiados com o que vem pela frente. O índice, feito à base de entrevistas pessoais, pede que o consumidor avalie sua situação atual e as perspectivas para os próximos meses. O dado de maio — apurado antes do movimento dos caminhoneiros — foi curioso. As pessoas acharam que as coisas até melhoraram um pouco nos últimos dois meses, mas se mostraram bem menos animadas em relação ao futuro.

Em números: o Índice de Situação Atual subiu para 77,2 pontos; o de Expectativas caiu forte, para 94,2, o menor desde setembro de 2017. Foi o segundo mês seguido de queda nesse indicador, depois de uma sequência positiva.

Repararam que a avaliação do presente é pior que a expectativa? Isso é normal. Parece que o brasileiro é sempre otimista, ou seja, acha que o futuro será melhor que o presente. Continua assim, mas dois meses atrás havia mais confiança para a frente.

Zeina Latif: O gradualismo e os jovens

- O Estado de S.Paulo

Os jovens têm pressa e precisam ter perspectiva, em qualquer lugar do mundo

Apesar dos esforços do Ministério da Fazenda para sanear as contas públicas e reduzir o risco fiscal no futuro, como na regra do teto, a estratégia de ajuste fiscal tem sido gradualista. Como consequência, não é possível afastar tempestivamente o risco de insolvência, que poderá ameaçar a estabilidade econômica recentemente conquistada.

O gradualismo não decorre de erro de diagnóstico ou falta de empenho da equipe econômica, mas sim da rigidez orçamentária. Os gastos obrigatórios comprometem, desde 2015, praticamente toda a receita líquida do governo federal. Em 2017, estes equivaleram a 101% da receita líquida, sendo 53% despendidos com a Previdência.

Não basta, portanto, a austeridade do Executivo para fazer o ajuste fiscal. O Congresso precisa ser parceiro na empreitada, aprovando reformas estruturais que reduzam o engessamento do orçamento. Não tem havido apoio para cortar gastos e, para piorar, muitas vezes o Congresso impõe derrotas ao governo, sem se preocupar de onde virá o dinheiro. O próximo presidente precisará ter muita habilidade política.

O gradualismo é mais palatável politicamente, mas implica muitos riscos. Os países ficam mais vulneráveis ao humor dos investidores e às condições de liquidez internacional.

A experiência argentina recente é exemplo disso. O governo Macri não conseguiu reduzir o déficit público (4,8% do PIB), comprometendo, assim, o ambiente econômico. O financiamento inflacionário do déficit (em 1,5% do PIB, segundo o FMI) pressiona a inflação, o que é particularmente grave em uma economia tão dolarizada. Corrói-se a credibilidade do Banco Central, que também não foi suficientemente zeloso. As contas externas são também afetadas pelo déficit público e pela inflação elevada que valoriza o peso argentino em termos reais. Estrago completo, especialmente para um país que deu calote na dívida no passado não tão remoto.

A situação brasileira é menos complexa no curto prazo, pois o governo Temer conseguiu reduzir a inflação e os fundamentos externos são sólidos. Os desafios do próximo presidente, no entanto, não serão muito diferentes daqueles enfrentados por Macri. O Brasil necessita urgentemente de reformas para consolidar a recuperação da economia e dar conta das consequências do envelhecimento do País.

Vinicius Torres Freire: Batida de caminhão na crise nacional

- Folha de S. Paulo

Tumulto detonado pelo preço de combustíveis é um laboratório do que está por vir

Bastou uma greve de caminhoneiros de três dias para que ficasse explícito o emaranhado de crises brasileiras.

É um laboratório do que está por vir em 2019, ano em que começa o conflito aberto em um país de cobertores curtos e de reis nus, de lideranças políticas com vergonhas expostas.

Um conflito que seria de natureza privada, no fundo, imediatamente explodiu no colo de um governo falido. A reação da elite política à crise ressaltou seu oportunismo limítrofe.

Caminhoneiros e transportadores em geral se queixam no fundo de que não conseguem repassar o aumento do custo de combustíveis, do diesel, para seus preços, os fretes. Por quê?

Além de problemas nos contratos do setor, persiste um problema evidente desde 2015: há caminhoneiros e caminhões sobrando. Houve superinvestimento em capital, facilitado pelo crédito subsidiado no governo anterior, problema agravado por, vejam só, melhorias logísticas.

Em conversas informais, caminhoneiros dizem que está duro negociar aumento de frete, que indústria, agropecuaristas e empresas negociantes de commodities alegam que a crise estreitou as margens delas também.

O aumento rápido e imprevisível de custos, devido à nova política de preços da Petrobras, agrava o problema, decerto. A alta carga de impostos facilita uma curiosa coalizão. Caminhoneiros e associações empresariais, várias delas contratadoras de fretes, pedem menos tributos. Todos se juntam contra a Petrobras.

*José Serra: Um SUS para a segurança pública

- O Estado de S.Paulo

Investimento em inteligência, informação e planejamento é a resposta ao crime

Os elevados índices de criminalidade são uma das maiores preocupações atuais dos brasileiros. Embora a sensação de insegurança não se esgote na efetiva prevalência dos delitos – um importante fator psicossocial também influencia na percepção da violência –, é inegável que o problema é gravíssimo. No caso dos homicídios, a média brasileira se aproxima de 30 mortes ao ano por 100 mil habitantes, três vezes o limite aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera epidêmicos níveis superiores a 10 por 100 mil habitantes/ano.

Preocupam o poder do crime organizado e a extrema violência e audácia dos criminosos. Não é por menos que, em 2016, 437 policiais foram assassinados no Brasil, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Estado do Rio de Janeiro, no mesmo ano, foram mortos 2,3 policiais por mil, um índice inaceitável sob qualquer perspectiva. Recentemente tivemos o episódio de um ataque a mães e alunos de uma escola de crianças, em Suzano, que, felizmente, não teve mortos e feridos entre as vítimas. Culminou com a morte do agressor.

De fato, o problema da segurança vem se revelando um desafio à própria democracia no Brasil. Na esteira do recrudescimento da violência cresce a tentação de ideias de cunho autoritário, que propagam a falsa noção de que existiria incompatibilidade entre a repressão ao crime e as garantias individuais – o mais fundamental pressuposto do Estado Democrático.

Para complicar ainda mais, setores da esquerda, embora minoritários, ainda mantêm resquícios das confusas elucubrações marcusianas dos anos 60 e 70, que viam a criminalidade como uma variante da luta de classes e, espantosamente, um repositório de virtudes emancipatórias. Felizmente, também na esquerda o crime é cada vez mais visto como o que realmente é: uma expressão da barbárie, uma ameaça à vida e à civilização.

Preço não faz acordo: Editorial | Folha de S. Paulo

Com governo premido por greve, Petrobras anuncia barateamento temporário do diesel

Não é surpresa, ainda mais em ano eleitoral, que políticos se rendam à pressão de uma greve de caminhoneiros e saiam em busca de medidas emergenciais para conter a alta dos preços dos combustíveis.

O risco, que se deve evitar a todo custo, é uma recaída no controle populista de preços, que, aliado a gestão irresponsável e corrupção, levou a Petrobras à breca —a estatal ficou no vermelho por quatro anos consecutivos, até 2017.

Nos últimos meses, o petróleo passou por valorização aguda. Desde meados do ano passado, o barril saltou de US$ 45 para quase US$ 80 nos mercados internacionais —em razão de maior consumo, contenção da oferta por parte da Opep (cartel que reúne alguns dos grandes países produtores) e tensões geopolíticas.

O problema foi agravado pela alta do dólar nos últimos meses. Como a política da Petrobras agora é repassar aos preços tais variações, tem-se no momento o pior dos mundos para o consumidor.

Em menos de um ano, a gasolina e o óleo diesel encareceram em mais de 50% —a alta do segundo desencadeou o movimento dos caminhoneiros autônomos, que já causa desabastecimento.

Com o Palácio do Planalto sob pressão, a Petrobras anunciou nesta quarta (23) uma redução de 10% do diesel nas refinarias por 15 dias, alegando que assim se facilita a negociação com os grevistas.

Ganha-se tempo, mas as alternativas permanecem poucas.

Problema dos impostos também é a burocracia: Editorial | O Globo

Não bastasse o peso da carga tributária, a administração dos gravames é custosa para as empresas e ainda serve de barreira aos empreendedores

A burocracia brasileira prejudica diariamente a população e empresas, isso não é novidade. O Banco Mundial avalia periodicamente a qualidade do ambiente de vários países para se fazerem negócios, por meio da pesquisa “Doing Business”, e nela esta constatação das pessoas e empresários é expressa em índices. E tradicionalmente o Brasil aparece mal situado em vários desses rankings.

Os economistas Marcelo Curado e Thiago Curado, na série “Desafios da Nação”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), calcularam, com base no trabalho do Banco Mundial, indicadores para situar o Brasil em relação às melhores práticas internacionais em quesitos relacionados ao negócios: abrir empresa, registro de propriedade, execução de contratos etc.

No índice geral, de zero a 100, o Brasil ficou com 56,2, abaixo dos outros países do Brics, com exceção da Índia, que obteve 55,2, num empate técnico (Rússia, 73; China, 63,7; África do Sul, 63,6). Faz todo sentido o Brasil ter a avaliação mais baixa (32,8) no item “pagamento de impostos”.

Embora nada seja desconhecido, o problema do peso da carga tributária — cerca de 35% do PIB, a maior no bloco dos emergentes — , junto com a espessa burocracia em torno dos impostos, é tão sério que o poder público precisaria enfrentá-lo logo.

O mundo brasileiro dos impostos é feito de areia movediça, pois nunca está imóvel. Mostra a reportagem do GLOBO que, por dia, são criadas 32 normas tributárias para empresas. Há, hoje, uma regra tributária para cada 550 habitantes, bem mais que os 780 de há dez anos. Nas três últimas décadas criaram-se 377 mil normas neste campo.

Greve desafia a política de preços livres de combustíveis: Editorial | Valor Econômico

Um governo fraco e impopular, mas com ambições de fazer um sucessor e a proximidade de eleições favoreceram a insatisfação do setor de transportes de cargas com o reajuste dos preços dos combustíveis e nutriram uma crise séria. Os primeiros sinais de que a fórmula de correções quase diárias dos preços poderia estar provocando mal-estar e trazendo prejuízos políticos ao governo partiu do presidente Michel Temer, que encomendou estudos ao ministro de Minas, Moreira Franco, sobre possíveis medidas pra barateá-los (Valor, 10 de maio). Manifestações dos caminhoneiros se iniciaram 12 dias depois, com bloqueio de estradas, e tornaram a questão "urgente", com riscos de desabastecimento graves caso os bloqueios de estradas perdurem.

Outro político com pretensões de chegar ao Planalto, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, correu para fechar um acordo para reduzir a Cide, imposto sobre combustíveis. O Ministério da Fazenda resistiu e aceitou a ideia a partir do momento em que a Câmara aprovar o projeto de reoneração de vários setores da economia. A discussão assim chegou perto de onde não deveria: redução de impostos para um grupo, sob pressão, em troca do fim da desoneração para outros.

Como o governo é presa da pressão de grupos, há espaço para decisões demagógicas. Uma das primeiras ideias foi a de mudar o sistema de reajustes diários da Petrobras, algo que, se fosse adiante ao sabor do acaso, de sopetão, levaria a estatal de volta ao inferno nos mercados. A intervenção traria o fantasma recente do controle feito no governo de Dilma Rousseff, que trouxe perda na distribuição de combustíveis à Petrobras de R$ 80 bilhões em um par de anos e contribuiu para arruinar mais a empresa, superendividada e vítima da maior roubalheira de sua história.

Procura-se uma fórmula mágica para um problema: a alta internacional dos preços combustíveis. A Petrobras os repassa ao mercado doméstico, onde o diesel subiu 21% desde julho de 2017. A tendência no mercado externo ainda é de aumento das cotações.

A greve dos caminhoneiros: Editorial | O Estado de S. Paulo

A eliminação temporária da cobrança da Cide (conhecida como imposto do combustível) sobre o diesel traz algum alívio para os caminhoneiros, há dias em greve nacional contra as sucessivas altas do preço do combustível. Mas não resolve o problema principal dos grevistas, impõe novas dificuldades ao programa de ajuste fiscal do governo e sua concretização está condicionada a uma decisão responsável de um Congresso cujas atitudes com frequência beiram a irresponsabilidade.

Em meio a protestos de caminhoneiros que alcançaram pelo menos 24 Estados, o governo concordou em zerar a Cide sobre o diesel, mas condicionou a medida à aprovação, pelo Congresso, do projeto que acaba com a desoneração da folha de pagamentos de diversos setores.

A desoneração foi adotada pelo desastroso governo de Dilma Rousseff com o alegado objetivo de estimular os setores beneficiados, mas seus resultados foram pouco notáveis do ponto de vista do crescimento. Do ponto de vista fiscal, porém, comprimiu ainda mais uma receita que já caía em razão da recessão deixada pela administração lulopetista. Para manter o déficit primário relativamente controlado e dentro da meta de R$ 159 bilhões neste ano, o governo propôs a retirada da desoneração de 53 dos 56 setores que haviam sido beneficiados pelo governo Dilma. Entendimentos entre o Planalto e o Congresso haviam elevado o número de setores beneficiados para cerca de 20, o que reduziria fortemente a receita adicional esperada. Agora, com a eliminação da Cide, a receita líquida adicional tende a ser ainda menor, tornando mais penoso o ajuste paulatino das contas da União.

Pela manutenção do rumo: Editorial | O Estado de S. Paulo

No momento em que candidatos à esquerda e à direita mobilizam as atenções com propostas simples – e em geral erradas – para problemas complexos, trazendo profunda inquietação sobre o resultado da eleição presidencial, é alentador que as forças do centro democrático estejam se organizando para levar ao eleitor propostas que expressem seu compromisso com o reformismo e com a responsabilidade fiscal.

O nome mais recente a se oferecer para levar adiante essa bandeira – que não é apenas do atual governo, mas sim de todos os brasileiros ajuizados – é o do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, apresentado pelo presidente Michel Temer como pré-candidato do MDB à Presidência. Meirelles pretende usar como trunfo seus bons resultados à frente da equipe econômica de Temer, que conseguiu debelar, em prazo curtíssimo, a imensa crise legada pela administração irresponsável da presidente cassada Dilma Rousseff.

O País saiu de uma recessão de quase 8% em dois anos, com queda de 9% na produção industrial, inflação de 9,3% e taxa de juros de 14,25% em maio de 2016 para uma retomada do crescimento que pode superar 2% neste ano, com aumento de 3% na produção industrial, inflação sob controle – menos de 3% – e juros básicos em nível civilizado (6,5%). A retomada da economia ainda está muito aquém da capacidade e do potencial do Brasil, mas, quando se olha o passado recente, a sensação é de alívio.

No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir que essa recuperação seja mantida, a começar pelas reformas que ficaram pendentes – e que não foram aprovadas em razão da erosão do apoio parlamentar ao governo de Temer, depois que o presidente se viu bombardeado por denúncias repletas de escândalo e carentes de provas. A principal reforma, como se sabe, é a da Previdência, sem a qual o funcionamento da máquina do Estado ficará severamente comprometido.

Tibieza tucana: Editorial | Folha de S. Paulo

Não são poucas as incertezas a rondar a candidatura de Geraldo Alckmin

Em sabatina realizada por Folha, UOL e SBT nesta quarta (23), o pré-candidato Geraldo Alckmin deixou transparecer parte da estratégia que deverá adotar em sua campanha ao Palácio do Planalto.

O tucano se apresenta como um postulante experiente, com realizações a mostrar no governo paulista, para o qual foi eleito três vezes —deixou o comando do estado em abril, para disputar a Presidência. Cita, entre outros aspectos, as boas estradas, concedidas à iniciativa privada, e a notável redução de índices de homicídios.

Apoiador da agenda de reformas liberais iniciadas pelo governo Michel Temer (MDB), propõe um regime único para a Previdência Social e promete eliminar o déficit das contas do governo em menos de dois anos. A recompensa seria o crescimento econômico, que neste ano anda abaixo do previsto.

Quanto aos percentuais minguados que tem obtido nas pesquisas de intenção de votos, minimiza a importância dos resultados com o argumento de que o pleito ainda não mobiliza os eleitores.

Se a tese é razoável, não são poucas as incertezas a rondar sua candidatura —a começar pelo tema inescapável da corrupção.

Alckmin critica teto de gastos, mas nega que, eleito, revogará medida

Por Fernando Exman, Ricardo Mendonça e Fernando Taquari | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Pré-candidato à Presidência pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin criticou ontem as regras para cumprimento do teto de gastos públicos, mecanismo criado em 2016 pelo governo Michel Temer. Minutos depois das críticas, o tucano negou que pretenda revogar o dispositivo caso seja eleito presidente. Afirmou que o objetivo da legislação é correto, mas que os aumentos de gastos com pessoal acabam prejudicando o custeio e o investimento.
A fala crítica ao teto de gastos ocorreu durante a Marcha de Prefeitos, em Brasília. "Mas que teto é esse? Esse teto vai acabar com o investimento", discursou Alckmin aos mandatários, acrescentando que a iniciativa não é razoável. "Não foi concebido corretamente e não foi cumprido adequadamente", afirmou o ex-governador.

A ponderação, minutos depois, foi feita em entrevista coletiva. "A solução vai ser o Brasil voltar a crescer, melhorar a arrecadação e reduzir despesas", disse. Em seguida, repetiu a promessa de zerar o déficit primário em dois anos. E ainda sugeriu que poderá manter Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, caso vença a eleição. "Gosto do Ilan Goldfajn. É uma boa proposta mantê-lo [no cargo]", disse.

Em resposta ao tucano, o pré-candidato do MDB a presidente, Henrique Meirelles, defendeu o dispositivo adotado durante sua gestão no Ministério da Fazenda. "O teto de gastos era absolutamente necessário", afirmou o emedebista, destacando que a medida foi essencial para restaurar a confiança no Brasil. "É um equívoco grande do [ex] governador", declarou.

O ensaio de crítica de Alckmin à política econômica do governo Temer no período da tarde, em Brasília, contrasta com o comportamento demonstrado pela manhã em São Paulo durante uma sabatina promovida pelo portal Uol em parceria com o jornal "Folha de S.Paulo" e o SBT.

Após a sabatina, a reportagem do Valor perguntou a Alckmin se ele tinha alguma crítica ou se poderia apontar alguma divergência em relação às opções econômicas adotadas por Temer. O tucano não citou nenhum ponto de discordância. Disse apenas que era hora de falar sobre o futuro. Durante o evento, ele havia defendido teses e medidas que foram encampadas pelo governo, como a reforma trabalhista e a reforma da Previdência.

Tucano e Bolsonaro trocam acusações

Por Fernando Exman e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Os dois mais bem colocados candidatos de direita e centro-direita na corrida presidencial, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), foram ontem para o enfrentamento e trocaram acusações.

Em sabatina em São Paulo promovida pelo portal UOL em parceria com o jornal "Folha de S. Paulo" e o SBT, Alckmin afirmou que quem anda para trás é caranguejo. "O Brasil não vai regredir. O Bolsonaro e o PT são a mesma coisa, é o atraso. Ele votou igual ao PT em toda as pautas econômicas", afirmou no evento, depois colocando a declaração em sua conta no Twitter.

Por meio da rede social, Bolsonaro rebateu a acusação de que ele seria igual ao PT porque seus votos no Legislativo mostrariam uma posição corporativista. O pré-candidato do PSL lembrou as acusações de que o PSDB teria pago propina a deputados para aprovar a emenda que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1998. "Geraldo Alckmin me rotula de atrasado por meus votos do passado. Um dos que mais me orgulha foi o contra a reeleição de FHC. Não aceitei propina do seu partido PSDB", escreveu. "Sr. Alckmin, estou aguardando alguém da sua laia me chamar de corrupto", continuou.

O tucano voltou então às redes sociais: "Bolsonaro se irritou quando revelei que vota com o PT em pautas econômicas há décadas, inclusive contra o Plano Real. Em resposta, fugiu do assunto. Fez acusações irresponsáveis ao meu partido, de forma grosseira". Na sequência, compartilhou denúncias sobre o patrimônio do adversário e o uso de auxílio-moradia. "Nos meus mais de 40 anos de vida pública, não enriqueci, tampouco recebi benefícios indevidos. Tenho trabalho para mostrar", escreveu.

A troca de acusações também chegou à marcha que a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) promove em Brasília com a presença de pré-candidatos a presidente e prefeitos de todo o país. Perguntado por jornalistas se havia recebido alguma proposta para votar em favor da reeleição, Bolsonaro afirmou que "só faltou alguém ir no microfone e anunciar". No mesmo evento, o ex-governador paulista também voltou a tocar no assunto. "Se recebeu alguma proposta, tinha o dever de ter denunciado", sublinhou.

Alckmin cobra tucanos e diz que cunhado é 'simpatizante do PSDB'

Presidenciável diz que Justiça tem que ser cumprida no caso Azeredo e que Aécio não será candidato

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Sob pressão, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, subiu o tom na crítica a correligionários encrencados com a Justiça e defendeu o cunhado Adhemar Ribeiro, acusado de operar para ele caixa dois. "É casado com uma banqueira e simpatizante do PSDB", respondeu.

Em sabatina realizada pela Folha, UOL e SBT nesta quarta-feira (23), Alckmin ainda fez o discurso de defesa contra acusações de caixa dois que era cobrado por sua equipe em resposta à Lava Jato.

O tucano disse que a Justiça deve ser cumprida no caso do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, de seu partido, condenado no mensalão mineiro e considerado foragido.

Afirmou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), réu no Supremo, não será candidato, tema que segundo o mineiro será decidido e anunciado em seu estado.

Disse que o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) “vai se explicar”. E cobrou esclarecimentos sobre supostos recursos não declarados mantidos no exterior por Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador do PSDB.

“O PSDB não é imune a críticas. Não passamos a mão na cabeça de ninguém”, realçou. “A Justiça se faz para todos. Aliás, acaba de ser feita.”

Alckmin e Meirelles divergem sobre teto de gastos

Ex-ministro defende medida aprovada pelo governo Temer e tucano diz que regra inibe investimentos federais

Renan Truffi, F.F e Vera Rosa | O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, criticou ontem a regra do teto de gastos aprovada na gestão Michel Temer. A emenda constitucional que impede, por um período de 20 anos, o governo federal de efetuar despesas acima da inflação do ano anterior, foi apoiada pelo partido do presidenciável tucano.

“Você está limitado em custeio, investimento e pessoal. O teto de gastos vai acabar com o investimento, que é o mais importante. Não foi concebido corretamente”, disse. Alckmin, no entanto, recuou quando questionado por jornalistas se pretende derrubar a norma no Congresso, se eleito.

“Não tem razão para mexer, o objetivo do teto de gastos está correto. A solução vai ser o Brasil voltar a crescer”, disse o tucano, ao participar da Marcha em Defesa dos Municípios, realizada ontem em Brasília. Também participaram do evento os précandidatos à Presidência Henrique Meirelles (MDB), Rodrigo Maia (DEM) e Guilherme Afif Domingos (PSD).

Em sua participação, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a crítica de Alckmin era “um equívoco”, e que os eleitores brasileiros estão “descrentes de panaceias e soluções mágicas”. “O risco existe, os populistas estão presentes”, afirmou.

O ex-ministro minimizou resistências a seu nome no MDB, como manifestado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), em entrevista ao Estado. “É normal que haja diferenças de opinião. Já temos o apoio de um grande número de diretórios do MDB, o suficiente para dar uma base de trabalho para a convenção.”

O presidente da Câmara e pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia (RJ), defendeu no evento a revisão da Lei de Improbidade Administrativa para ser votada ainda em 2018. Maia instituiu no início do ano um grupo de trabalho na Câmara para propor mudanças legais, liderado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Mauro Campbell.

“Quando a proposta estiver pronta, nós vamos votar. Nossa intenção não é flexibilizar, é garantir mais segurança jurídica. Nenhum de nós quer tirar nada da lei de improbidade, queremos é uma lei mais clara, com tipos menos abertos, onde cada juiz não tem o direito de dar a decisão da forma que quer.”

PT. Condenado e preso na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT, foi representado pela presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Ela leu uma carta com propostas e compromissos de Lula, parcialmente redigida pelo ex-presidente. A leitura da carta provocou reações na plateia. Parte do auditório aplaudiu enquanto uma parcela significativa dos presentes virou as costas e abandonou o ambiente. Mesmo sem Lula, o PT planeja iniciar uma mobilização nacional no próximo domingo e lançar a pré-candidatura em 9 de julho, em Belo Horizonte (MG).

Roberta Sá e Gilberto Gil - Afogamento

Joaquim Cardozo: Chuva de caju

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Teresa ou Maria.