domingo, 7 de março de 2010

Reflexão do dia – Tancredo Neves

" É tapar o nariz com o lenço e ir ao Colégio Eleitoral, se isso for necessário. Pode ser ruim, mas não ir pode ser péssimo. "

(Tancredo Neves, em junho de 1984, quando sua candidatura indireta à Presidência da República já era fato consumado.)

O IUPERJ vale uma missa? :: Luiz Werneck Vianna

DEU EM PROSA & VERSO / O GLOBO (6/3/2010)

A moderna pós-graduação em Ciências Sociais no Rio de Janeiro nasceu no Museu Nacional e no IUPERJ em fins dos anos 1960. Veio à luz em momento pouco propício – o recrudescimento do regime político autoritário, que culminou com a edição do AI-5, em 1969. Na mesma época, em São Paulo, fundava-se o CEBRAP, centro de pesquisas criado por professores da USP compulsoriamente aposentados, que assim repetiam, pouco tempo depois, o triste destino dos professores da Faculdade Nacional de Filosofia da UFRJ, da Fundação Osvaldo Cruz e do ISEB.

Banidos de seus lugares tradicionais, os cientistas sociais reinventam seus papéis e se tornam criadores de instituições, tal como o CEBRAP e o IUPERJ. Insulados em suas novas agências, sua reação ao regime autoritário se vai realizar a partir de uma intervenção crítica, em que o tema de fundo será o da inquirição das raízes históricas do autoritarismo brasileiro e o do diagnóstico das desigualdades sociais reinantes. Paradoxalmente, esse insulamento dos intelectuais, em meio a um clima de repressão das liberdades civis e públicas, estimulou sua reaparição na esfera pública e no processo de formação da opinião. Ao abrigo das disputas políticas diretas, desvinculados da vida partidária, exercendo a vocação do seu ofício e se expressando como intérprete do interesse geral e não como representante do particularismo de indivíduos e grupos, acabam por conquistar uma espécie de mandato implícito, com respaldo na ciência, para falarem em nome da sociedade.

Daí uma importante mutação quanto aos intelectuais do período pré-64: se, antes, sob a democracia, seus vínculos com as instâncias da sociedade civil, como partidos, sindicatos e a vida associativa, eram, em geral, estabelecidos individualmente, no contexto autoritário se instituem como corpus, apresentando-se com a linguagem da ciência. A constituição dessa nova identidade conhece, então, uma extraordinária difusão, de que a ANPOCS (Associação Nacional da Pós-graduação em Ciências Sociais) e outras instituições são exemplares, congregando, anualmente, cada vez um número maior de filiados.

Nesses corpus, sob controvérsias, sedimentam-se opiniões, diagnósticos que são selecionados pela mídia ou partidos, e eventualmente, dependendo da oportunidade e/ou relevância, canalizados para a esfera pública. Foi assim que, sob o regime ditatorial, a pós-graduação brasileira e os centros de pesquisa isolados, sempre no registro do trabalho científico especializado, estabeleceram suas redes de comunicação com o mundo exterior, mantendo preservada a sua autonomia quanto aos demais atores sociais, principalmente os partidos políticos. Essa não foi, é claro, uma estratégia consciente, embora muito bem sucedida para os fins a que se dispunha, qual seja a de instituir uma agenda razoável para o assentamento da questão democrática e da social.

Assim, pode-se sustentar, sem triunfalismos patéticos, que a história da resistência ao autoritarismo e a da conquista da democracia não pode ser contada desconhecendo o papel desempenhado por essas novas agências de intelectuais, inclusive – e, em certos momentos, principalmente –, pelas instituições de pós-graduação, como é o caso do IUPERJ, que, entre outras características, estimulou a formação e abrigou as primeiras secretarias da ANPOCS.

O IUPERJ começa sua história com foco no tema das instituições políticas democráticas, rejeitando as concepções que as entendiam como formas vazias de conteúdo. Sua ênfase, desde sempre, foi a de que “o substantivo” deveria encontrar canais institucionais livres, a fim de se expressar na esfera pública como demandas a serem realizadas. Com essa orientação, abriu sua agenda para as questões sociais, dedicando-se à pesquisa e à formação especializada dos seus alunos em temas estratégicos à nossa sociedade, tais como sindicatos, violência, profissões, pobreza e marginalidade, raça e gênero. Seus pesquisadores, nessas duas frentes de trabalho, produziram dezenas de trabalhos, publicados pelas principais editoras do país, e participaram da orientação de centenas de pesquisas, para fins de teses de doutorado ou de dissertações de mestrado – um repertório respeitado nacional e internacionalmente. Ademais, conservando seu caráter de instituto orientado para as diferentes linhas de especialização que se afirmam nas Ciências Sociais, o IUPERJ mantém e aprimora a tradição institucional de privilegiar a cultura humanista e o pensamento clássico brasileiro em Ciências Sociais, patente na sua lista de publicações e nas teses defendidas.

Essa é uma história de êxitos e a opinião pública reconhece e valoriza essa instituição. Mas, passados 40 anos, ela se encontra sob o risco iminente de acabar por absoluta falta de recursos para a preservação dos seus quadros de professores e funcionários. O fim tem data marcada, que está próxima. A ironia dessa história, de uma instituição que se apresentou para a sociedade como capaz de ajudá-la a resolver seus problemas, é que, agora, o problema é ela própria.

Luiz Werneck Vianna é
professor-pesquisador do IUPERJ,
ex-presidente da ANPOCS

A hora é agora:: Fernando Henrique Cardoso

DEU EM O GLOBO

Este é o momento de o Brasil avançar e buscar um futuro melhor

Hora de avançar a partir do que conseguimos nestes 25 anos de democracia e de buscar um futuro melhor para todos. As bases para o Brasil preservar seus interesses sem temer o mercado internacional estão dadas. Convém mantê-las. Controle da inflação, pelo sistema de metas, câmbio flutuante, Lei de Responsabilidade Fiscal, autonomia das agências regulatórias são pilares que podem se ajustar às conjunturas, mas não devem ser renegados, e não podem estar sujeitos a intervenções político-partidárias e interesses de facção.

Há, contudo, desafios: o novo governo terá de cuidar de controlar os gastos correntes e de conter a deterioração da balança de pagamentos (sem fechar a economia ou inventar mágicas para aumentar artificialmente a competitividade de nossos produtos).

Perdemos tempo com uma discussão bizantina sobre o tamanho do Estado ou sobre a superioridade das empresas estatais em relação às empresas privadas ou vice-versa.

Ninguém propõe um “Estado mínimo”, nem muito menos o PSDB. Outra coisa é inchar o Estado, com nomeações a granel, e utilizar as empresas públicas para servir a interesses privados ou partidários. A verdadeira ameaça ao desenvolvimento sadio não é privatizar mais, tampouco o PSDB defende isto. Empresas estatais se justificam em áreas para as quais haja desinteresse do capital privado ou necessidade de contrapeso público. Não devem acobertar ganhos políticos escusos nem aumentar o controle partidário sobre a economia. Precisam dispor de sistemas de governança claros e transparentes. A ameaça é continuar a escolher, como o governo atual, quais empresas serão apoiadas com dinheiro do contribuinte (sem que este perceba), criando monopólios, ou quase monopólios, que concentrarão mais ainda a renda nacional.

Os avanços sociais obtidos pelos últimos governos se deram nos marcos da Constituição de 1988. Incluem-se aí a “universalização” do acesso aos serviços de saúde (via SUS) e à escola fundamental (via Fundef), a cobertura assistencial a idosos e deficientes (via Loas), bem como o maior acesso à terra (via programa de reforma agrária).

Além disso, a política continuada de aumento real do salário mínimo a partir de 1994, a extensão de programas sociais a camadas excluídas e a difusão de mecanismos de transferência direta de renda (as bolsas) melhoraram as condições de vida e ampliaram o mercado interno. Tudo isso precisa ser mantido. Caberá ao novo governo reduzir os desperdícios e oferecer serviços de melhor qualidade, mais bem avaliados e com menor clientelismo.

Não se pode elidir uma questão difícil: a expansão dos impostos sustentou os programas sociais.

Atingiu-se um limite que, se ultrapassado, prejudicará o crescimento econômico.

É ilusão pensar que um país possa crescer indefinidamente puxado pelo gasto público financiado por uma carga tributária cada vez maior e pelo consumo privado.

Falta investimento, sobretudo em infraestrutura, e falta poupança doméstica, principalmente pública, para financiá-lo.

Maior poupança pública não virá de maior tributação.

Ao contrário, é preciso começar a reduzir a carga tributária, sobretudo os impostos que recaem sobre a folha de pagamentos, para gerar mais empregos. Para investir mais, tributar menos e dispor de melhor oferta de serviços sociais, não há alternativa senão conter o mau crescimento do gasto. Isso permitirá a redução das taxas de juros e o aumento da poupança pública, como condição para aumentar a taxa de investimento na economia. Sem isso, cedo ou tarde, se recolocarão os impasses no balanço de pagamentos, com a deterioração já perceptível das contas em transações correntes, e na dívida pública, que em termos brutos já ultrapassa 70% do PIB.

Nem só de economia e políticas sociais vive uma nação.

Os escândalos de corrupção continuam desde o mensalão do PT. Há responsabilidades pessoais e políticas a serem cobradas e condenadas. Mas há também desvios institucionais: o sistema eleitoral e partidário está visivelmente desmoralizado. Uma reforma nesta área se impõe. Ela se fará mais facilmente no início do próximo governo e se houver um mínimo de convergência entre as grandes correntes políticas. O PSDB deve liderar esse debate na busca de consenso.

O mesmo se diga da segurança pública. Há avanços no plano federal e em vários estados. A expansão da criminalidade advém do crime organizado e do uso das drogas.

O dia a dia das pessoas é de medo. As famílias e as pessoas precisam de nossa coragem para propor modos mais eficientes de enfrentar o tema.

A despeito da melhoria do sistema jurisdicional e prisional, estamos longe de oferecer segurança jurídica às empresas e, o que mais conta, às pessoas.

Olhando o futuro, falta estratégia e sobram dúvidas: o que faremos no campo da energia?

Onde foi parar o programa do biodiesel?

Que faremos com os êxitos que nossos agricultores e técnicos conseguiram com o etanol?

Que políticas adotar para torna-lo comercializável globalmente?

A discussão sobre as jazidas de petróleo se restringirá à partilha de lucros futuros ou cuidaremos do essencial: a base institucional para lidar com o pré-sal, a busca de tecnologias adequadas e de uma política equilibrada de exploração?

E a “revolução educacional”, que, com as honrosas exceções em um ou outro estado, é apenas objeto de reverência, mas não de ação concreta?

Finalmente: que papel desempenharemos no mundo, o de uma subpotência bélica ou a de um país portador de uma cultura de convivência entre as diferentes raças e culturas, com tolerância e paz, embora cioso de sua segurança?

Tudo isso e muito mais está à espera de um debate político maduro, que à falta de ser conduzido por quem devia fazê-lo, por ter responsabilidades de mando nacional, deve ser feito pela sociedade e pelos partidos.

Beth Carvalho - VouFestejar (Com a Bateria da Mangueira)

Serra e o ''rebolation'' lulista::Gaudêncio Torquato

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A possibilidade de um guerreiro ser derrotado está em suas próprias mãos, porém a alternativa de vencer o inimigo é propiciada pelo próprio inimigo. A lição tática, de autoria do general Sun Tzu, leva a um beco sem saída: uma pessoa pode até saber como conquistar o adversário sem, porém, ter a capacidade de fazê-lo. José Serra, governador do Estado mais poderoso da Federação, encontra-se nesse embaraçoso espaço. Seu perfil agrega contundentes armas para vencer uma batalha: larga experiência política, capacidade administrativa, urnas eleitorais sempre fartas de votos, militância plena de episódios vibrantes, traços que marcam as lutas nos bastiões da esquerda, enfim, uma alentada história de sucesso que deverá ser posta ao crivo público num dos mais disputados pleitos de nossa contemporaneidade. Mas os olhos de Serra parecem embaçados por densa fumaça pré-eleitoral, que o tem deixado entre a cruz e a caldeirinha, na dúvida entre manter a tática defensiva, prevenindo-se contra a derrota, ou ir logo à ofensiva e, assim, evitar aproximação do adversário. Hesitar, como se sabe, é um grave erro na guerra. Guerreiro bom vence combates não cometendo erros.

Se perfil fosse arma mortal na arena dos pleitos, José Serra, paulistano da Mooca, filho de calabrês que vendia frutas no Mercado Municipal, candidato a presidente da República, seria eleito. Trata-se de uma gorda biografia política e administrativa à disposição dos eleitores, eis que coleciona experiências como secretário de Estado, deputado, senador, prefeito, governador e candidato a presidente da República, cargo este que disputou com o atual mandatário, tendo obtido, no segundo turno, 33 milhões de votos, em 2002, contra 53 milhões de Lula. Não é um neófito. Sua trajetória é longa. O País muito deve ao constituinte de 1988 que mais emendas aprovou (130 das 208 apresentadas), tendo sido ainda o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), de outros impactantes projetos e relator da comissão que reformulou o sistema tributário. A política, porém, nem sempre é medida pela régua de coisas bem feitas, mas por dobras das circunstâncias. O destino reservou a esse homem público a condição de enfrentar uma adversária que tende a galgar alto patamar eleitoral por conta de ventos extremamente favoráveis. E quando o vento sopra para um lado, reza o ditado, não há montanha capaz de detê-lo.

O que o governador paulista representa na paisagem institucional? Ele preenche os requisitos da boa política: planejamento, organização, gestão fiscal eficaz, expansão dos investimentos, rígido controle de despesas. A identidade reúne mãos fortes para controlar, atitudes enérgicas para cobrar e visão sistêmica para acompanhar e avaliar o conjunto. É um governante duro. Por isso, algumas decisões, fruto do modelo de gerir, provocam reações negativas, como se pode ouvir de setores produtivos queixosos diante da ávida política tributária de seu governo. Ou de contribuintes indignados com pedágios sequenciais que oneram as viagens pelo interior do Estado. Mas, de um modo geral, Serra é bem avaliado pela população, que o considera um administrador do naipe de Franco Montoro e Mário Covas, considerados ícones dos tucanos no capítulo da seriedade administrativa. Fosse esse o escopo a ser posto na balança eleitoral, seria mais fácil para ele ser bem-sucedido na arena da disputa. O governador, porém, corre o risco de ser vítima do "rebolation" político que as massas dançam em todos os cantos do território. Essa mescla de axé com pimenta eleitoral é tocada há muito tempo pelos tambores do presidente Luiz Inácio e sua trupe, que perambulam pelo País vendendo bordões, fazendo graça com imagens populares, sob o painel catártico de programas de impacto popular. Gigantesca estrutura de consolação social foi montada para operar a equação: grana no bolso, comida no fogão, estômago cheio e urnas jorrando votos. Moços e velhos, homens e mulheres, convidados ao banquete do lulismo, mentalizam o V da vitória. E ele, que conhece como ninguém a alma do povo, faz o delírio da galera quando, por exemplo, arremata a peroração recitando os quatro elementos para ganhar uma campanha: casa, carro, computador e uma mulher bonita. Deixa implícito que três foram plantados e colhidos na roça dele.

Não haverá, portanto, comparação entre Serra e outros candidatos. Nem mesmo a história de um menino pobre que dormia na sala da pequena casa de apenas um quarto e ajudava o pai a vender frutas causará comoção. Luiz Inácio apropriou-se do roteiro. Ademais, o "rebolation" lulista quer fazer a comparação entre os tempos tucanos e os atuais. O jeitão professoral do governador não ajuda. Não passa emoção. Apesar da sólida argumentação que fundamenta seus pontos de vista, ele parece o mestre que não gosta de ser contrariado. A índole serrista é pouco afeita ao chiste. Sua comunicação é descendente, dele para os outros. Projeta a estampa de São Paulo, Estado com a maior força eleitoral e poderio econômico. Ao lado da imagem de fortaleza inexpugnável, São Paulo passa também a ideia de cadeira presidencial perpétua. Posição bastante questionada.

Os elementos que poderiam diferenciar valores, capacidades e qualidades de cada candidato serão deixados em segundo plano. Se dessem o tom da campanha, Dilma seria ofuscada. Mas o artifício de driblar perfis deverá ser usado pelo PT. Como os tucanos conseguirão enfrentar mensagens subliminares que deverão elevar o Brasil às alturas de Shangri-lá? Mostrando os rombos nas áreas da saúde, segurança pública e educação? Ora, tal discurso corre o perigo de ser inócuo. Lembrar que Serra foi um bom ministro da Saúde? Para aguentar o tranco o filho de calabrês vai ter de surpreender. Superar-se. Coisa que, aliás, conseguiu, nos idos de 1960, quando foi ator principal de uma peça dirigida por José Celso Martinez Corrêa. Nome da peça: Vento Forte para um Papagaio Subir. O tucano precisará muito desse vento. Para subir e para vencer.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação

O risco Serra:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A disputa dentro do PMDB para a indicação do candidato a vice-presidente na chapa oficial tem lances internos, mas se desenrola também no plano externo.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles — insuflado pelo própio presidente Lula, que quer vê-lo como companheiro de chapa da ministra Dilma Rousseff não apenas para mandar uma mensagem tranquilizadora para o mercado financeiro, mas também para se contrapor ao candidato tucano, o governador José Serra — vem mandando sinais aos investidores internacionais sobre “o risco Serra”.

Ele não se refere ao candidato da oposição diretamente, mas sempre que está no exterior — e tem estado com frequência — aproveita os encontros com investidores para ressaltar que, embora muitos no Brasil ainda insistam em querer mudanças na economia, o governo manterá o tripé que resume seu projeto de estabilidade econômica: controle da inflação, equilíbrio fiscal e câmbio flutuante.

A insinuação de que é possível uma mudança de política em caso de vitória da oposição, e a garantia de que um eventual governo Dilma será de continuidade, faz parte do trabalho de Meirelles para vir a ser escolhido como vice na chapa oficial.

A agora já célebre entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, à “Veja”, afirmando que, vitorioso, seu partido mexeria “na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação”, variáveis que “continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes”, serve de pretexto para esse trabalho de sapa da candidatura tucana.

E as críticas permanentes do governador José Serra à política de juros do Banco Central, e à desvalorização do dólar, dão credibilidade à ideia de que pode haver mudanças na política econômica com uma vitória do PSDB.

Paradoxalmente, o risco Lula de 2002 passou a ser o risco Serra em 2010, e a política econômica do tucanato, que foi seguida à risca por Lula no governo, agora se transforma em patrimônio petista, ameaçado por uma eventual vitória de Serra.

Quem tem feito um trabalho permanente de desmontar essas bombas que Meirelles tem deixado pelo caminho junto aos investidores internacionais é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique, que tem grande trânsito junto à comunidade financeira internacional.

Armínio não tem delegação de Serra para tal, nem faz isso como uma tarefa. Simplesmente é consultado a toda hora, aqui e no exterior, sobre o que pode acontecer.

No plano interno, o principal instrumento que o PMDB tem para impor a candidatura do seu presidente, Michel Temer, é a comissão criada para elaborar uma proposta de governo “mais moderada”.

Um dos membros da comissão é Delfim Netto, uma sinalização de que o PMDB não quer surpresas no rumo da economia. Outros são o ex-ministro Mangabeira Unger, que defendeu a candidatura própria do partido, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se bateu contra a criação da Comissão da Verdade nos termos em que o Programa Nacional de Direitos Humanos inicialmente colocava, solidarizandose com os militares.

Também os ruralistas, cujo maior contingente na Câmara está na bancada do PMDB, reagiram contra a proposta de retardar a retomada da posse de terras invadidas contida no documento que representava a tentativa de alas radicais do PT de assumir uma agenda mais à esquerda.

O deputado federal Reinhold Stephanes é um ministro da Agricultura extremamente conservador, e tem comprado muita briga dentro do governo contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e contra o MST.

Em qualquer dos casos, o PMDB entra na chapa oficial como uma garantia de estabilidade, e contraponto à ala radical do PT.

Estão tentando substituir o papel fisiológico que tem dominado o partido nos últimos anos pelo de garantidor da democracia, uma volta às origens do antigo MDB.

Um papel à procura de atores à altura.

Ao negar que pretenda se afastar do governo para atuar mais livremente na campanha da ministra Dilma Rousseff entre agosto e setembro, o presidente Lula fez vários comentários, disse até que seria uma “irresponsabilidade” fazer isso.

Mas soltou uma frase, em meio a muitas, que revela bem seu pensamento sobre o assunto.

“Achar que eu me afastando posso ajudar mais um candidato do que estando na Presidência seria diminuir o mandato. Se fosse assim, quem não tivesse mandato teria mais força política do que eu que tenho.” Ora, para bom entendedor o presidente está simplesmente dizendo que não se licencia, pelo momento, porque na Presidência tem mais força política para ajudar Dilma do que se se licenciasse.

E, mais que isso, que considera que pode usar essa força política na tarefa de fazer decolar sua candidata, como aliás está fazendo dia sim, outro também.

A popularidade alta e a incapacidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de controlálo estão fazendo com que o presidente Lula perca a noção dos limites éticos que o cargo deveria impor. Ele não apenas faz, mas diz que faz e explica por quê.

A condenação de Cesare Battisti a dois anos por usar documentos falsos, pena transformada em trabalhos comunitários sem a restrição de liberdade, é a saída anunciada desde o primeiro dia para que o presidente Lula não assine sua extradição para a Itália.

O tratado assinado entre Brasil e Itália prevê que um preso condenado pode não ser extraditado enquanto cumpre a pena no Brasil.

Assim, Lula teria uma justificativa para não extraditar o terrorista italiano sem ferir a legislação internacional que o Brasil assinou, dentro do que o Supremo Tribunal federal exigiu.

Battisti ficará em liberdade nos próximos dois anos, e ao futuro presidente caberá a decisão de extraditá-lo.

O caso Ciro:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva já sabe como tirar o deputado Ciro Gomes do caminho de sua candidata a presidente, Dilma Rousseff, mas o PT ainda não descobriu como se livrar da possibilidade de ter Ciro como candidato ao governo de São Paulo.

Não por implicância ou mal querer, mas por um misto de autoestima e instinto de sobrevivência. O sentimento é mais agudo, claro, entre os petistas de São Paulo.

Na última vez em que estiveram reunidos com o deputado do PSB, em 24 de fevereiro, dirigentes do PT paulista receberam-no com todas as honras. Ciro ouviu os elogios, agradeceu muito e disse que continuava candidato a presidente.

Em seguida enumerou suas qualidades como candidato, discorreu sobre sua aptidão para tocar o barco do Brasil, admitiu disputar o governo de São Paulo "se nosso comandante quiser" e deixou nos presentes a nítida impressão de que a escolha de Lula se deve à inexistência de nome melhor no PT para concorrer.

Humilhados, mas obedientes às ordens do chefe, os petistas fizeram-se de desentendidos. Inclusive porque, ao final, metade havia entendido que Ciro será candidato a presidente e metade tinha certeza de que ele será candidato a governador.

Internamente o PT torce para que não seja nenhum dos dois. Em relação a Dilma, o temor ? e verdadeira razão pela qual Lula o convenceu a mudar o domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo ? vai além dos pontos porcentuais que o deputado pode tirar da candidata nas pesquisas.

Trabalha-se no mundo petista com a hipótese nada remota de que Ciro acabe por ajudar a oposição.

Pelo seguinte: como é candidato da ala governista, vai disputar espaço com Dilma para se consolidar como o candidato preferido pelo eleitorado de Lula.

Acredita-se que ele acabe por bater em Dilma ? preservando Lula, óbvio ? com base na conversa do próprio Ciro, que não esconde que se considera muito mais qualificado que ela para a tarefa de representar a continuidade do atual governo.

Mas não é só o jeito de Ciro Gomes o que deixa o PT paulista bem ressabiado. É a falta de discurso adequado e convincente para apresentá-lo ao eleitorado de um Estado onde o partido é hoje a segunda força política depois do PSDB e seria a principal alternativa para quando e se o paulista resolver quebrar a hegemonia tucana.

São os seguintes os números do PT de São Paulo em matéria de eleição para governador: em 1994 o partido obteve entre 14% e 16% dos votos, com José Dirceu; em 1998 foi para 21% com Marta Suplicy; fez 28% dos votos em 2002 com José Genoino e em 2006 alcançou 32% com Aloísio Mercadante. Isso apesar do escândalo dos "aloprados".

Como tem repetido Ciro Gomes para sustentar que o melhor para o PSB é tê-lo como candidato a presidente, "time que não joga não forma torcida".

Pois é exatamente o que argumenta o PT em suas lamentações sobre a prioridade absoluta que o presidente dá à eleição presidencial em detrimento da disputa de São Paulo: a candidatura de Ciro pode, na visão dos petistas, travar o crescimento do partido no Estado.

O presidente Lula, dizem, não leva em conta as dificuldades regionais.

A possibilidade de o PT ficar no mesmo lugar se não tiver candidato é o melhor cenário, porque as projeções apontam para perda de bancadas na Assembleia Legislativa e no Congresso.

Queixas à parte, sentimentos de humilhação também, o PT nem de longe cogita se rebelar contra decisões de Lula. Obedecerá pelo mais objetivo dos motivos: medo e reverência aos 80% de popularidade.

"Se nem os adversários enfrentam o Lula, nós mesmos é que não vamos contestar", diz um petista com assento na direção estadual.

Resta ao partido aguardar. E pelo que disse Ciro Gomes na última reunião, a espera vai até depois do dia 2 de abril. Só a partir daí ele decidirá se mantém a candidatura presidencial ou vira candidato a governador.

Há uma reunião entre ele e Lula marcada para o próximo dia 15, mas o PT aposta que dela não sairá decisão alguma, porque Ciro dirá que precisa ter as cartas do processo todas na mesa para poder se decidir.

Uma antecipação da cena feita por ele aos dirigentes petistas na reunião de 10 dias atrás dava conta de uma mudança radical no panorama.

Ciro disse ao PT que o governador José Serra não será candidato a presidente, que o governador Aécio Neves entrará no lugar e que isso vai obrigar o PT a mudar toda sua estratégia eleitoral. Isso foi antes da última pesquisa mostrando um quase empate entre Serra e Dilma.

Ainda assim, ficou entre os participantes daquele encontro a sensação de que Ciro Gomes nutria, ou nutre, a esperança de vir a ser o ungido por Lula na hipótese da virada.

Com todo o respeito devido pelos petistas a Ciro, tida como delirante.

Jarbas: “Não temos candidato”

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em entrevista ao jornal O Globo, senador afirma que a indefinição de José Serra “debilita” as oposições e atrapalha seu projeto eleitoral em Pernambuco

O prazo para o governador José Serra (PSDB) se declarar candidato à Presidência da República acabou. E a oposição saiu prejudicada nacionalmente. Essa é a conclusão do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), explicitada em entrevista concedida ao jornal O Globo na quarta-feira passada, e publicada na edição de hoje. Sem esconder a irritação com a demora do aliado tucano em assumir a candidatura, Jarbas faz uma avaliação dura da situação das oposições: “Não temos candidato. Temos é uma candidata da base (governista) permanentemente acompanhando (o presidente) Lula em todo tipo de inauguração, lançamento de pedra fundamental, inauguração de obra pela metade”, afirma, referindo-se à presidenciável do PT, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

Na entrevista, Jarbas Vasconcelos reconhece que o clima de indefinição tem interferido inclusive nos seus planos eleitorais em Pernambuco. Embora afirme estar pronto para entrar na disputa pelo governo do Estado, diz que não o fará movido apenas por uma questão provinciana. “Teria que voltar a ser dentro de um projeto nacional em que acredito. Temos sete meses à frente, mas Serra não pode esperar mais. Este não é mais um problema só dele. É problema dos Estados”, afirma.

Jarbas admite que havia certo conforto na situação de Serra enquanto seus índices nas pesquisas giravam em torno de 40%, bem à frente dos adversários. Mas no início de 2010, diante de problemas que, segundo ele, não dependiam do presidenciável tucano – como as enchentes em São Paulo e o mensalão do DEM – Serra deveria ter se antecipado. “Estamos em março e já tivemos dano por causa das indefinições, que não posso mensurar. Se Serra resolvesse isso ontem seria importante para montar palanques pelo país. Ele tem que resolver neste fim de semana, chamar pessoas não só de São Paulo”. Ele adverte ainda sobre as articulações nas oposições para desestabilizar o governador paulista e lançar outra alternativa. “Sei que há focos de resistência que eram uma, duas pessoas, e hoje são mais, está crescendo. Serra não é bobo e vai resolver. E não só a candidatura dele, mas os palanques estaduais”, aposta.

Na entrevista, o senador admite que o crescimento de Dilma nas pesquisas surpreendeu as oposições e o próprio PT, e “atropelou os fatos”. Mas volta a bater forte na ministra, a quem acusa de ser inexperiente e de usar de grosserias para esconder suas “muitas debilidades”. Também repete os ataques a Lula, afirmando que o presidente tem usado seu peso político e prestígio “para entregar o país a uma pessoa que não tem experiência política, eleitoral, administrativa”. Segundo Jarbas, Lula vai ficar como um “irresponsável” na História se Dilma vencer as eleições.

A novidade fica por conta das críticas de Jarbas ao governador mineiro Aécio Neves. Segundo o senador pernambucano, é um erro dos tucanos vincular uma eventual vitória de Serra à presença de Aécio como candidato a vice-presidente. “Em política, é um erro jogar tudo em cima de uma pessoa. Fica parecendo que só se ganha se for com Aécio. Isso pode ser uma debilidade a mais”, diz Jarbas. “Acho Aécio um grande homem público, que tem liderança consolidada, governa o segundo maior colégio eleitoral do país. Respeito suas opções de querer ser candidato ao Senado. Só que os fatos mudaram. E ele poderia mudar!

É jovem, tem 50 anos, poderia deixar esse projeto de lado e ajudar. Seria um gesto de muita sabedoria e muito alcance político de um líder que é”, diz, acrescentando que a vice poderia, inclusive, consolidar o nome do governador mineiro para uma futura candidatura presidencial.

'Estamos sendo atropelados pelos fatos'

DEU EM O GLOBO
ENTREVISTA Jarbas Vasconcelos

Aliado de José Serra, o peemedebista Jarbas Vasconcelos se diz desesperançado com futuro da oposição

Um dos poucos integrantes do PMDB que resistiram a aderir ao governo Lula, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), aliado de primeira hora do PSDB e do governador José Serra, está preocupado e desesperançado com o futuro da oposição, caso persista a demora do grupo para anunciar que o tucano paulista é o adversário da petista Dilma Rousseff na eleição presidencial. “O prazo acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. Essa é a verdade. Não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados”, disse Jarbas ao GLOBO, na quarta-feira, poucas horas depois de Serra passar por Brasília e não fazer o esperado gesto de anunciar sua candidatura. O senador diz que o PSDB devia estar com seu candidato na rua. E vê outro problema na estratégia da oposição: vincular uma eventual vitória de Serra à dobradinha com o tucano Aécio Neves. “Se Aécio recusa, ficará a impressão de que Serra só ganha se for com Aécio. Mas os fatos mudaram, e Aécio poderia mudar também”, diz.

Gerson Camarotti e Maria Lima

O GLOBO: Há uma ansiedade generalizada na oposição. Qual o prazo para Serra se declarar candidato?

JARBAS VASCONCELOS: O prazo de Serra acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. É a verdade, não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados. Isso não são fatores que irão incapacitar uma vitória daqui a sete meses. Havia uma inércia que se justificava até o final do ano. Mas se Dilma teve esse crescimento, é preciso repensar. Ela cresceu mais do que a gente esperava. Se Lula e os dirigentes nacionais do PT se surpreenderam, por que a gente não pode se surpreender? E quem se surpreende tem que tomar uma ação.

A dubiedade de Serra para o público pode atrapalhar?


JARBAS: A persistir, sim. Estamos em março e já tivemos dano por causa das indefinições, que não posso mensurar. Se ele resolvesse isso ontem (quarta-feira passada) seria importante para montar palanques pelo país. Ele tem que resolver neste fim de semana, chamar pessoas não só de São Paulo. A gente está com dois problemas: primeiro a demora, e segundo, um erro estratégico de vincular uma vitória de Serra a uma candidatura do governador de Minas (Aécio Neves) como vice. Ele tem negado essa hipótese reiteradamente.Então, se ele não for vice, fica parecendo que a chapa estará debilitada.Em política, é um erro jogar tudo em cima de uma pessoa. Fica parecendo que só se ganha se for com Aécio. Isso pode ser uma debilidade a mais.

Essa resistência do Aécio é legítima ou atrapalha?

JARBAS: Acho Aécio um grande homem público, que tem liderança consolidada, governa o segundo maior colégio eleitoral do país. Respeito suas opções de querer ser candidato ao Senado. Só que os fatos mudaram. Se os fatos mudaram, ele poderia mudar! É jovem, tem 50 anos, poderia deixar esse projeto de lado e ajudar. Seria um gesto de muita sabedoria e muito alcance político de um líder, que ele é.

Mas como reverter isso?

JARBAS: Aécio poderia chegar e dizer: “Disse que Minas não iria mais tolerar ser vice, optei por ser candidato ao Senado, mas os fatos mudaram, e mesmo tendo dito a companheiros que não queria ser vice, volto atrás pelo meu país”. Seria um gesto de líder. Ele não deixaria de ser líder por voltar atrás. Isso o consolidaria como verdadeiro líder. Com 50 anos, ele pode não só ser senador no futuro, mas presidente do Brasil. Esta é a hora de ele fazer um gesto pelo Brasil. A gente está ameaçado.

O que é uma ameaça?

JARBAS: Lula é Lula, e Dilma é Dilma. Lula não se dobra, Lula dobra o PT. O PT vai dobrar Dilma.Qual a história que ela tem dentro do PT? O PT não colocou Lula no canto da parede porque Lula é Lula. E Dilma é Dilma com sua insignificância.

Lula se responsabilizará por Dilma na Presidência?

JARBAS: Vou dizer uma coisa dura: considero irresponsabilidade, insanidade de Lula isso que ele está fazendo com o país com a apresentação de Dilma. Usar sua força, seu prestígio, sua capacidade de comunicação para entregar o país a uma pessoa que não tem experiência política, eleitoral, administrativa. Lula vai ficar como um irresponsável perante a História se ela lograr êxito, ganhar a eleição e governar.

Porque nunca foi testada?

JARBAS: Vai ser uma incógnita, uma interrogação. O que acontecerá ao Brasil se Dilma ganhar? Uma coisa é Lula meter os pés, dar coices em cima do PT, relevar o PT. Dilma vai fazer isso? Qual a sua experiência com esses movimentos sociais? Era uma mulher que gritava, grosseira, mas grande parte da grosseria dela, da sua má educação, é para esconder suas deficiências. Assumiu a fama de durona para esconder suas debilidades, que não são poucas.

Na oposição, com a demora na definição, há um movimento para desestabilizar a candidatura Serra, lançar alternativa...

JARBAS: É compreensível! Não dá é para demorar mais. Sei que há focos de resistência que eram uma, duas pessoas, e hoje são mais, está crescendo. Serra não é nenhum bobo. Ao contrário, está percebendo e vai resolver. E não só a candidatura dele, mas os palanques estaduais.

O senhor seria candidato ao governo de Pernambuco?

JARBAS: Sempre admiti ir para o front em Pernambuco, ser candidato. Mas não posso ser candidato apenas por uma questão provinciana. Teria que voltar a ser dentro de um projeto nacional em que acredito. Temos sete meses à frente, mas Serra não pode esperar mais. Este não é mais um problema só dele. É problema dos estados.

Está na hora de juntar a tropa e dar ordem de comando?

JARBAS: Sim. E a ordem tem que ser de Serra. A possibilidade de desistir é zero. Jamais Serra abandonaria o barco.

No fim do ano passado, o senhor defendia que Serra podia ter mais tempo...

JARBAS: Serra estava surgindo com 40%. Aí entrou 2010, aconteceram problemas que independeram de Serra, do PSDB, as enchentes de São Paulo. O mensalão do DEM estourou no fim do ano e se agrava com a prisão do governador. Há um conjunto de fatos negativos. Serra deveria ter se definido em janeiro.

Por que janeiro?

JARBAS: Primeiro porque reanima. Dilma tem candidatura consolidada. Deveria ter um comitê que não fosse só de pessoas de São Paulo, mas de pessoas que possam ver os palanques nos estados. Ficamos sem saber que rumo tomar. Lula em plena campanha eleitoral, com a omissão da Justiça Eleitoral. Lula acha que pode tudo, que está acima do bem e do mal, até de Deus. Acha que nada pega nele.

E a oposição continua sem candidato...

JARBAS: Vou fazer essa leitura compreensiva: nós não temos candidato. Temos é uma candidata da base permanentemente acompanhando Lula em todo tipo de inauguração, lançamento de pedra fundamental, inauguração de obra pela metade.

Serra está sendo purista?

JARBAS: Entramos em março, e Serra está com excesso de cuidado, de prurido ao não se lançar. Do outro lado, há um governo que quer ganhar de qualquer jeito. O que Lula está fazendo não tem limites.

O que a oposição vai fazer?

JARBAS: A gente tem que enfrentar mesmo com debilidades. A oposição está debilitada? Está. Está desarticulada? Está. Isso é de hoje? Estamos desarticulados há alguns anos. Nessa legislatura tivemos zero de articulação na Câmara e no Senado.

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Com Norma Moura

Sem regresso


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), cobrou da cúpula do DEM o documento interno no qual uma ala legenda faz uma avaliação pessimista de suas possibilidades eleitorais e defende a candidatura de Aécio Neves. Rodrigo Maia, presidente da legenda, reiterou o apoio do partido ao governador paulista, embora tenha sinalizado para Aécio que a troca de guarda não seria um problema. Serra não jogará a toalha. A não ser que ocorra um dilúvio em São Paulo, será candidato a presidente da República, mesmo sem Aécio na vice.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o grande ausente nas comemorações dos 100 anos de Tancredo Neves, defende o nome do senador Tasso Jereissatti para vice. O ex-governador do Ceará, grande colégio eleitoral do Nordeste, daria outro sotaque à chapa tucana e evitaria uma catástrofe eleitoral na região. O problema é que o DEM quer a vice e oferece os nomes do senador José Agripino (RN) e de Kátia Abreu (CE).

A relação com o DEM, depois do agastamento com Aécio, é o maior problema de Serra. A legenda está desmotivada com a candidatura e enfraquecida por causa da crise que levou o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, à prisão e o vice, Paulo Octávio, à renúncia. Ambos deixaram a legenda. O prefeito Gilberto Kassab, em São Paulo, amarga o desgaste provocado pelas enchentes. Em alguns estados, democratas e tucanos não se entendem. É o caso de Goiás, onde o senador Demostenes Torres (DEM) e o deputado Ronaldo Caiado (DEM) articulam uma chapa contra o senador Marconi Perilo (PSDB), que tenta voltar ao governo do estado e é o favorito na disputa.

Maquiavel

A licença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se engajar na candidatura de Dilma Rousseff, desmentida pelo próprio e por seus principais assessores, de fato foi discutida na reunião que traçou a estratégia de campanha da petista, da qual também participaram o ex-prefeito Fernando Pimentel e o marqueteiro João Santana. Lula desconversa, mas o vazamento amarrou de vez a aliança com o presidente da Câmara, Michel Temer, do PMDB-SP, que pleiteia a vice de Dilma, e o presidente do Senado, José Sarney, do PMDB-AP, que assumiria a Presidência da República em plena campanha eleitoral.

Dobradinha

O governador da Paraíba, José Maranhão, do PMDB, escolheu o vice para concorrer à reeleição. Será o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego (PSB). O peemedebista assumiu o cargo com a cassação do tucano Cássio Cunha Lima por abuso do poder econômico.

Trapézio/ A política do Brasil para o Oriente Médio está cada vez mais agressiva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu passar uma noite na cidade de Belém, na Cisjordânia, em vez de pernoitar em Jerusalém, para conhecer os territórios ocupados por Israel, durante sua visita ao Oriente Médio, prevista para ter inicio no dia 14 deste mês. É a primeira vez que Lula visita Israel e a Palestina nos oito anos de mandato.

Balão/ Na tentativa de pressionar o PT por uma rápida solução da briga interna entre Geraldo Magela e Agnelo Queiroz, o PCdoB, tradicional aliado dos petistas no DF, começou a testar a receptividade ao nome do advogado Messias de Souza para candidato a governador. Messias é candidato a deputado federal, em dobradinha com o jornalista Carlos Apolinário Rebelo e o cantor Marcelo Sena, líder do grupo Coisa Nossa.

Veto/ Com a provável derrota na votação do projeto de partilha dos royalties do pré-sal, como já admite até o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), o governo se prepara para reverter no Senado o estrago da emenda Ibsen Pinheiro. O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que anda muito bem com o presidente Lula, deve ser o relator do projeto na Casa.

Desabou/ O governador licenciado do DF, José Roberto Arruda, já esperava a manutenção de sua prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas não a decisão da Câmara de aprovar seu processo de impeachment.

Purgatório

O deputado federal Augusto Carvalho, do PPS-DF, saiu do inferno astral para o purgatório das urnas. O ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, relator do escândalo do GDF, informou ao STF, por ofício, que o parlamentar não foi indiciado no inquérito nº 650/DF pelo Ministério Público Federal, nem mencionado nas decisões do relator ou mesmo objeto delas. “Não foi alcançado pelas medidas de busca e apreensão deferidas, bem como não foi alvo de quebra de sigilo bancário e fiscal e não sofreu quaisquer outras medidas constritivas determinadas por este Tribunal.”

Cadastro

Relatora da CPI da Criança e do Adolescente Desaparecidos, a deputada Andréa Zito (PSDB-RJ) desancou o novo Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. Elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em conjunto com o Ministério da Justiça, segundo ela, é uma maquiagem sobre um cadastro que já existia há mais de 10 anos, e que registrou, em 2009, apenas 117 crianças e adolescentes desaparecidos no país inteiro.

Sumiço

Segundo a CPI da Criança e do Adolecente, as organizações sociais que lidam com desaparecidos falam no desaparecimento anual de 40 mil crianças e adolescentes.

Gemadas

Está na mesa do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a lista de indicação dos novos quatro estrelas do Exército: os generais de divisão combatentes Lúcio Mário de Barros Góes, Túlio Cherem, Adriano Pereira Junior e João Carlos Vilela Morgero. Aguardam uma canetada do presidente Lula para a promoção a general de Exército.

A viagem da transição

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Documento inédito revela detalhes da visita a chefes de Estado feita por Tancredo Neves em 1985

SÃO PAULO - A velha agenda ficou entre os guardados do embaixador e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero por um quarto de século. Nela, o diplomata registrou, em letra de mão caprichada, um capítulo conturbado da história brasileira.

No dia 23 de janeiro de 1985, Tancredo Neves, recém-eleito presidente, partiu em avião de carreira do Aeroporto do Galeão para o exterior. Com ele, uma discreta comitiva, integrada, entre outros, por Ricupero, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, a primeira-dama, d. Risoleta, e seu neto, Aécio Neves. A ditadura militar agonizava, mas elementos da linha-dura do regime - que o general Ernesto Geisel chamara de "sinceros, porém radicais" - ainda resistiam à Nova República.

"A viagem tinha o sentido de uma sagração para desestimular qualquer tipo de golpe", lembra Ricupero. O périplo de 15 dias viria a ser, nas palavras do ex-chanceler Celso Lafer, o "momento presidencial de Tancredo", no qual se pode vislumbrar o que teria sido a sua presidência.

O 'Aliás' traz, com exclusividade, trechos de Diário de Bordo: A Viagem Presidencial de Tancredo (Imprensa Oficial), que Ricupero lança este mês, no centenário do político mineiro.

Entre eles, a inusitada conversa no Vaticano com um assessor do Papa, indícios da doença nos EUA, pequenas gafes do recém-eleito e o passo decisivo rumo à aproximação do Brasil com a Argentina.

Ivan Marsiglia

SURPRESA NA SANTA SÉ

Cumprimos esta manhã o programa no Vaticano. O único aspecto inesperado foi a longa duração da audiência a sós com o papa, das 11h32 às 12h15, bem mais do que os 15 minutos previstos. (...) Fomos, em seguida, recebidos pelo cardeal Casaroli, o secretário de Estado, homem miúdo, de ar inteligente.

O presidente eleito adotou, no início da conversa, temas e tons que naturalmente imaginara que seriam do agrado de um cardeal idoso, dos mais poderosos da Cúria romana: "Eminência, viemos aqui, minha mulher, minha comitiva e eu, trazer ao Santo Padre a comovida expressão dos sentimentos mais sinceros da devoção e da filial obediência do povo brasileiro. Nossa população é muito sofrida e ainda numerosos brasileiros vivem em estado de lamentável pobreza (...). São os atributos de fervorosa fé católica e de viva religiosidade que explicam a resignação com que a população brasileira suporta a adversidade e o sofrimento".

O velho cardeal secretário de Estado ouviu tudo com atenção e, na mesma nota de unção e formalismo, replicou usando palavras parecidas, mas se encaminhando a uma conclusão bem diferente: "Senhor presidente, tenho a certeza de que o Santo Padre terá acolhido com grande alegria esse fervoroso testemunho (...). Mas é preciso nunca esquecer que a fé profunda, a religiosidade são sempre admiráveis, mas não bastam. É necessário igualmente agir para mudar a situação, para melhorar as condições de vida do povo, não só resignar-se. É preciso realizar a reforma agrária e as demais reformas sociais aconselháveis."

Senti que dr. Tancredo não esperava esse tipo de resposta.

MITTERRAND EM BIARRITZ

À noite não saí e, no hotel, Paulo Tarso me contou que a visita a Mitterrand correu bem. (...) O presidente francês teria expressado sua preocupação com a possibilidade de um desenlace sangrento no Chile e seu interesse numa solução negociada na América Central (...)

Tancredo teria dito que o encontro com Mitterrand representava um dia importante em sua vida. Sempre com muita chuva, o grupo retornou a Roma após 1 da madrugada.

EUFEMISMOS LUSITANOS

Às 20h45 saímos para o Palácio Nacional de Sintra, onde o primeiro-ministro ofereceu um jantar para cem pessoas dispostas em várias mesas (...) À sobremesa, Mário Soares embarcou num longo improviso sobre o reencontro do Brasil e de Portugal na democracia.

Carregou um pouco nas tintas, insistindo em evocar, de maneira incisiva, em relação ao Brasil e à América Latina, as "ditaduras militares e retrógradas" e creio, em certo momento, "sanguinárias" (...)

Tancredo preferiu também lançar-se a um improviso de extrema fluência, muito bem torneado (...) Na substância, deixou sem comentário todos ou quase todos os conceitos levantados por Mário Soares, exceto o tema da luta pela democracia, que feriu em nota mais moderada e tradicional (refere-se aos regimes "autoritários", não às ditaduras; não fala em repressão, vítimas ou mártires, mas só em "esforços e sacrifícios"; a ideia básica é que o bravo exemplo português inspirou a luta dos políticos no Brasil) (...)

Embalado pelo ritmo embriagador da cascata vertiginosa de palavras, Tancredo deu duas escorregadelas. A primeira foi dizer que, se os portugueses consolidaram a democracia após 1974, por que não o conseguiríamos nós, povo "mais jovem, de mais fibra, mais dinâmico?" Na segunda, Tancredo evoca os quatro impérios portugueses: o metropolitano, o brasileiro, o asiático perdido nas brumas do tempo e o africano, "que lhe foi usurpado".

Murmúrios de aprovação nas mesas, mas também o receio de que exagerara na dose.

MINUETO EM MADRI

Paulo Tarso contou-nos que o encontro com Felipe González fora, até aqui, o ponto alto da viagem. O primeiro-ministro espanhol os impressionou pela qualidade política e intelectual e também pela extrema naturalidade, perto da qual Mitterrand teria parecido um tanto paternalista (...) Diz Paulo que, ao contrário de Portugal, onde o presidente Ramalho Eanes e o primeiro-ministro Mário Soares se hostilizam, em Madri o relacionamento do rei e de González é de harmoniosa complementação.

O rei suscitava às vezes temas mais espinhosos (o enorme desequilíbrio no comércio bilateral com o Brasil, por exemplo), apenas para dar ao ministro a oportunidade de elegantemente descartá-los, alegando não querer incomodar o presidente eleito, mas sem deixar de registrar a mensagem (...)

No jantar com o rei e a rainha, ficaram todos encantados com a simplicidade do casal real, cujas filhas serviram os salgadinhos e o café.

MISTÉRIO EM WASHINGTON

Seguimos viagem para Washington no avião oficial que serve ao vice-presidente norte-americano, na época George Bush pai. Fiquei na cabine principal, ao lado de Paulo Tarso e Aécio, em frente de Tancredo, sentado numa mesa, tendo, do outro lado, Motley (Tony Motley, nascido no Rio de Janeiro, que fala português fluente e fora embaixador dos EUA no Brasil) e nosso embaixador em Washington, Sérgio Corrêa da Costa.

Pude observar o presidente eleito, que se refugiou numa leitura absorvente, primeiro do Washington Post (como a imensa maioria dos brasileiros de sua geração, o dr. Tancredo se sentia muito mais à vontade com o francês do que o inglês; lia inglês com dificuldade) (...)

Felizmente, logo veio alguém em seu socorro, trazendo-lhe a sinopse de notícias do Brasil, que leu e releu como quem interpreta um texto bíblico - confirmando que ou estava muito cansado da viagem ou pouco disposto a conversar.

Só no hotel tivemos a explicação desse comportamento atípico. Na viagem entre Lisboa e Nova York, o dr. Tancredo havia perdido a obturação de um dente, o que lhe dificultava comer ou conversar (...) A embaixada em Washington teve de desencavar um dentista americano que veio várias vezes ao hotel para reparar o estrago. Ao menos essa foi a explicação que nos foi fornecida a nós da comitiva.

Muito mais tarde, após a morte do presidente eleito, o jornalista Carlos Castello Branco escreveu em sua coluna ter ouvido do ministro Leitão de Abreu, então chefe da Casa Civil de Figueiredo, que já em Washington Tancredo passara mal da doença que o haveria de levar, tendo sido necessário chamar um médico ao hotel.

Houve, em seguida, versões mais elaboradas, uma delas a de que teria sido necessário até um internamento de emergência num hospital oficial da capital americana para a realização de exames. Permaneci o tempo todo no hotel e nada vi pessoalmente que permita dar crédito a qualquer dessas versões.

REAGAN E A DITADURA CHILENA

Quarenta minutos após o breakfast, saímos para a Casa Branca (...) Reagan estava vestido elegantemente de marrom dos pés à cabeça, ostentando boas cores (devido talvez ao rouge e à maquiagem de ator que continua a usar).

A conversa teve início com a observação do presidente americano de que ele e Tancredo faziam anos no mesmo mês de fevereiro, o que foi corrigido pelo visitante (cujo aniversário é no dia 4 de março), tendo alguém notado que os signos respectivos eram vizinhos, Aquário e Peixes (...)

(O secretário de Estado George) Shultz propôs, em seguida, os temas da América Central e do Chile (...) Reagan se confessou desapontado com Pinochet, que ele acreditava ter pretendido sinceramente restabelecer a democracia, mas havia mudado de posição (...)

Os americanos explicaram que estão engajados no Chile num esforço de quiet diplomacy. O objetivo é persuadir a oposição moderada a se unir em torno de um programa de ação, mas deixando à margem a esquerda marxista a fim de não antagonizar os militares. Como já havia feito antes, durante o dia, Tancredo reafirmou que, no momento da luta contra a ditadura, a aliança com as esquerdas é inevitável, mas que ela se desfaz, também naturalmente, após a vitória.

Fez nesse ponto uma observação pertinente: "Enquanto durar a luta para por fim à ditadura, o aconselhável seria dividir os militares e não a oposição" (como, insinuou, procuravam fazer os americanos).

HERMANOS, AHORA SI!

Abrindo a conversa, Alfonsín disse que a Argentina recebera com alegria a vitória de Tancredo, a que atribuía significado continental (...) O presidente argentino entregou a Tancredo uma pasta com documentos sobre reuniões de desarmamento, revelando já seu nítido interesse de elevar a prioridade do tratamento da questão na relação bilateral brasileiro-argentina.

Com efeito, após a morte de Tancredo e já sob a presidência de Sarney, um dos desenvolvimentos de consequências mais significativas da diplomacia entre os dois vizinhos foi o processo para gerar e consolidar entre eles o mínimo de confiança e transparência em relação a seus respectivos e rivais programas secretos para obter a bomba atômica.

Esse esforço frutificaria, em parte sob os governos Sarney e Alfonsín, em parte durante os governos que se seguiram, na decisão do Brasil e da Argentina de desmantelarem seus programas nucleares militares (...). Foi um dos passos mais importantes e positivos da evolução das relações bilaterais entre a Argentina e o Brasil, com implicações construtivas para a paz e o desarmamento no mundo.

O PT e o centenário de Tancredo – Ruy Fabiano

DEU NO BLOG DO NOBLAT

A ausência do PT nas celebrações, promovidas pelo Senado na quarta-feira, pelo centenário de Tancredo Neves, guarda coerência com a história do partido.

Embora hoje sustente o contrário, o PT foi beneficiário, mas não protagonista (em alguns momentos, nem coadjuvante) do processo de redemocratização.

Chegou a combater algumas de suas iniciativas, como a candidatura do próprio Tancredo Neves à Presidência pelo colégio eleitoral, em 1984. Além de não apoiá-lo – considerando que tanto fazia elegê-lo como a Paulo Maluf -, expulsou três de seus deputados (Beth Mendes, José Eudes e Airton Soares) que decidiram sufragá-lo.

Quando da promulgação da Constituição de 88, anunciou que não a assinaria, por achá-la conservadora. E só o fez, sob protesto, por instâncias de Ulysses Guimarães, que pedia uma chance para aquele momento que se inaugurava.

Mesmo na campanha das diretas – e isso é fato histórico -, não estava na sua gênese. Incorporou-se à campanha quando já estava nas ruas e atraía multidões.

Não obstante, todas essas iniciativas, de que manteve asséptica distância, o beneficiaram, deram-lhe visibilidade. Mas o partido sustentava que não lhe era conveniente manter proximidade de políticos tradicionais, como Franco Montoro, Leonel Brizola, Tancredo Neves ou Ulysses Guimarães. Considerava-os, sem distinção ideológica, farinhas do mesmo saco.

A política deles era promíscua, enquanto a do PT guiava-se por paradigmas de pureza. Lula desdenhava do trabalhismo varguista, de Brizola, considerando-o superado e de índole pelega. O seu era diferente, moderno, distanciado do Estado.

Recusou alianças e manteve-se, até chegar ao poder, numa redoma de impenetrável sacralidade. Recusou todas as frentes oposicionistas que se armaram para enfraquecer o último governo militar, do general João Figueiredo, o que suscitou suspeitas de que agia sob a inspiração do estrategista do regime, general Golbery.

O partido esteve na linha de frente do impeachment de Collor, mas recusou integrar o governo Itamar, expulsando Luiza Erundina, por tê-lo aceito.

Expulsaria mais tarde, em 1996, o deputado Eduardo Jorge, por ter votado a favor da CPMF, que o partido então combatia, mas que Lula, na Presidência, considerou imprescindível para governar o país. Só não expulsou os mensaleiros e aloprados.

A primeira aliança admitida foi com Leonel Brizola, que, embora com muito mais bagagem e história, se submeteu a ser vice na chapa de Lula, em 1998.

Na eleição anterior, o PT recusara convite de Fernando Henrique para figurar na sua chapa como vice, o que lhe abriria espaço para sucedê-lo e consolidar uma aliança progressista que dizia desejar. Preferiu, porém, combater o Plano Real, empurrar o PSDB para uma aliança conservadora com o PFL e continuar marchando sozinho, contra tudo e todos.

Ao finalmente se eleger, em 2002, incorporou-se ao “mesmo saco” das farinhas que execrara. Buscou alianças conservadoras com o PMDB, PL (hoje, PRB, do vice José Alencar), PTB et caterva.

Criticava o neoliberalismo dos tucanos, mas buscara o seu vice no Partido Liberal. Criticava a política monetarista do Banco Central, mas escolheu um banqueiro tucano, Henrique Meirelles, para presidi-lo.

Condenava a política assistencialista da Bolsa Educação e dos vale-gás e vale-alimentação, mas incorporou-as sob o rótulo Bolsa Família, que se transformaria no carro-chefe de seus dois governos.

Lula depois esclareceria, algo que antes não se percebera: que era (é) uma “metamorfose ambulante”. Mas, embora mostre sintonia com o que há de mais condenável nas tradições políticas nacionais, insiste em que refundou o Brasil, idéia que, sob o bordão “nunca antes neste país”, permeia a quase totalidade de seus discursos.

Ao revogar tudo o que se fez, de Cabral (o Pedro Alvarez, não o Sérgio) a FHC, não há mesmo por que celebrar o centenário de Tancredo, algo que, para os petistas, equivale a uma peça de ficção.

O Brasil petista começa com Lula e prossegue com Dilma. Apossa-se do que de bom produziu o Brasil anterior, sonegando-lhe a autoria, e atribui o que há de ruim, inclusive o produzido sob sua égide, aos antepassados. Vale-se do desconhecimento que o povo tem da história, recente e remota, para convencê-lo de sua encenação.

Pior: consegue.

Ruy Fabiano é jornalista

“Romper paradigmas leva tempo”

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
ENTREVISTA » LUIZA PONTUAL – DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Mesmo com os avanços, as mulheres ainda encontram dificuldades para ocupar mais espaços na política. Quando exercem um mandato, querem se equiparar aos homens e, às vezes, não privilegiam projetos que fomentem políticas de gênero. É o que avalia a professora Luiza Pontual, doutora em Ciência Política, que estuda o tema.

JORNAL DO COMMERCIO – Como a senhora avalia a representatividade da mulher na política de uma forma geral?

LUIZA PONTUAL – O aperfeiçoamento das instituições tem contribuído muito para a ampliação da participação da mulher. Estamos em um momento importante porque estamos vivendo 25 anos seguidos de democracia, de igualdade de oportunidades. É um momento especial porque ajuda nessa luta da mulher por mais espaços. Hoje, inclusive, temos a divisão das tarefas domésticas, o que não ocorria antes com facilidade. Os homens assumem a tarefa de cuidar da casa e dos filhos, liberando as mulheres para o trabalho. Assim, sobra mais tempo para a mulher se envolver na política.

JC – A senhora considera ainda reduzido o número de mulheres que são eleitas para cargos no Legislativo ou já é significativo?

LUIZA PONTUAL – Como a sociedade ainda é extremamente machista, o homem está no centro de tudo. Agora, a mulher começa a ter mais espaço. A própria mulher, muitas vezes, é machista. Romper paradigmas é lento. Temos muito o que avançar. Hoje, há uma necessidade de ter alguém (no Legislativo) que tenha a experiência que a mulher tem no cotidiano. O próprio fato de ser mãe é um ponto importante. A mulher não é feliz se um filho não está feliz. A mulher tem a capacidade de sair mais dela, de olhar o outro. Tem a capacidade de juntar, unir, negociar, que são habilidades da política. Essas qualidades a mulher tem no seu dia a dia. A mulher consegue se desdobrar em muitas. O quadro mostra que está havendo um avanço.

JC – O que verificamos na atuação das mulheres no interior é que as vereadoras quase não apresentam projetos que beneficiem políticas de gênero. Por que isso ocorre?

LUIZA PONTUAL – É a ideia de igualdade, que camufla a de subordinação. Para que possam ser respeitada, querem parecer com um homem. É uma forma de se afirmar. Até que ela assuma essa política voltada para a mulher, leva tempo. Quando isso acontece, muitas vezes, há um preconceito. Leva um tempo para se romper preconceito e tradição.

JC – É significativo o fato de identificarmos que, no interior, a representatividade das mulheres nas câmaras está crescendo?

LUIZA PONTUAL – É um avanço, sem dúvida. Começamos a superar os preconceitos. Muitas mulheres entram na carreira política depois que criam os filhos, ficam mais soltas, têm mais espaço para seus projetos pessoais. Na área urbana, como no Grande Recife, a mulher tem mais tarefa e menos tempo para a política. Também temos a ideologia do individualismo, que é mais forte aqui do que no interior. No interior, a capacidade de ver o coletivo é mais forte. Ninguém quer cuidar do coletivo nas grandes cidades.

Indecisão crônica:: Roberto Romano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /ALIÁS

Com um nome conhecido desde 63, oposição ainda vacila em lançar logo a candidatura

Nossa cultura se caracteriza pela aceleração do tempo e o controle do espaço. Desde a invenção da imprensa a economia, a ciência e a técnica seguem o ritmo rápido de ação e planejamento. Cidadãos e líderes buscam dominar o relógio para atingir o poder e mantê-lo. Não só Benjamin Franklin enunciou tal realidade, vital na política. As lições sobre o tema foram formuladas pelos gregos, pioneiros das eleições na história, com a teoria do kayrós, o tempo oportuno. Se um peixe desliza pelo rio e eu o desejo, devo preparar a lança para apanhá-lo no átimo certo. Um segundo antes, ou depois, perdi o almoço. O mesmo, diz a mesma sabedoria, ocorre nas eleições. Maquiavel, "homem prudentíssimo" (no juízo de Spinoza) fornece provas desse imperativo. Se alguém deseja vencer, precisa dominar o calendário.

Nas eleições, a hegemonia exige máquinas partidárias unidas. A demora na reunião de recursos físicos e humanos anuncia desastres. Os concorrentes, se movidos pela prudência, unificam os batalhões antes da luta. Se existe disciplina coesa, o número dos aderentes aumenta. Caso contrário, eles debandam. A política, diz Botero, teórico da razão de Estado (1589), é arte de ampliar a reputação. Luta pelo candidato quem o imagina vencedor, o abandona quem teme sua derrota. Simultaneamente, vêm a estratégia e as táticas de campanha, em cenários realistas. Assim se garante força de ataque e defesa contra os concorrentes. Mas nenhuma estratégia ideal substitui a coesão da campanha.

O domínio do tempo afiança o controle do espaço. Para vencer, um partido ou coalizão precisam dominar o todo territorial e a maioria de suas partes. Não basta ter o apoio de algumas regiões: urge abranger a maioria das cidades, nelas garantir comitês de apoio. Também importa fazer com que o elo entre lideranças e bases seja o mais rápido e fluente possível. A maioria dos apoiadores deve encampar todas as batalhas, não a deste ou daquele setor dirigente. O excesso de caciques pode afugentar tribos inteiras. Se alguns caciques desejarem tudo para si, sem partilhar as oportunidades de atingir o poder, todos perdem.

A candidatura de Dilma Rousseff goza de imunidades excepcionais (inclusive no TSE) para fazer sua campanha. Ela possui recursos humanos e financeiros numerosos e conta com uma eficaz assessoria de marketing. A dupla Duda Mendonça e João Santana ostenta vistoso currículo, quando se trata de fazer o eleitorado aceitar fantasias e promessas. Há mais de um ano a postulante ao Planalto faz comícios pelo Brasil, seguindo os passos do presidente. Suas aparições (e desaparecimentos, quando convocada a prestar contas no Congresso) são regidas pela batuta de Santana. Sua estratégia política está armada desde longa data, incluindo alianças que lhe permitem chegar aos rincões do País. No controle espacial o PMDB tem relevância. A militância, ressabiada desde o mensalão, retorna às ruas com ímpeto, dada a esperança do programa que ruma para a esquerda.

A oposição esbanja tempo, não o controla. E seu espaço encolhe na mesma ordem. Com um nome conhecido desde 1963 em todos os recantos do Brasil, ela chega tarde ao lançamento da candidatura. Não existe, em termos públicos, estratégia de campanha, com um agravante: Dilma conta com o PMDB nacional e a oposição tem promessas de apoio do PMDB paulista. Falta unidade de comando, os dirigentes tucanos e democratas não chegam ao consenso. Líderes como Aécio Neves, essenciais em qualquer hipótese, até hoje estranharam José Serra e seus aliados. Desconfiança idêntica ocorreu no sentido Serra-Aécio. Com a indecisão de nomes e programas, vem o vazio no imaginário do eleitorado. Os oposicionistas perdem a reputação de vitoriosos, o que prejudica a máquina publicitária, da qual não se tem notícia sequer dos operadores. Cronologia e território fogem das mãos oposicionistas. O escândalo de Brasília veio no minuto certo para ser aproveitado pelo marketing da campanha governamental.

Nada, no tempo e no espaço, é irreversível. A política também se define como arte de vencer limitações, surpreendendo o adversário. E tucanos sabem fazer política, quando querem e podem. Mas não é a primeira vez que eles ameaçam jogar uma vitória pela janela, devido aos seus desentendimentos. Basta recordar a primeira eleição de Luiz Inácio da Silva: as quebras no comando do PSDB repercutiram imediatamente nos eleitores. Coisa pior veio com a candidatura Alckmin. Ele foi hipnotizado pela retórica publicitária adversa, como nas acusações de privatismo. O candidato colocou Lula em apuros, mas o boné da Petrobrás na sua cabeça mostrou falta de poder no ataque, por ausência de uma agressiva estratégia e coesão partidária. Os Bourbons, na França, eram conhecidos por nunca esquecer ou perdoar, pois jamais aprendiam. Seriam os oposicionistas do Brasil os seus herdeiros?

Filósofo, professor de ética e filosofia na Unicamp. Autor, entre outros livros, de O Caldeirão de Medeia (Perspectiva)

PSDB dará a Serra mais palanques próprios do que PT terá para Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na maior parte dos Estados, caráter plebiscitário que petistas querem imprimir à eleição dependerá de aliados

Silvia Amorim

O PSDB vai romper neste ano uma tradição do PT de lançar nas eleições estaduais mais candidatos a governador do que o adversário. Em 2010, serão os tucanos que terão mais palanques próprios nas disputas estaduais. A montagem desse tabuleiro eleitoral também mostra que a eleição do "nós contra eles" pregada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa federal não se dará na prática na maioria dos Estados.

As negociações ainda estão em andamento, mas as possibilidades de duelo direto entre candidatos a governador tucanos e petistas já podem ser medidas. Ele acontecerá, em pelo menos, dez Estados e no Distrito Federal, com o risco de não ocorrer nos maiores colégios eleitorais do País - São Paulo e Minas Gerais. Isso significa que, na maioria das unidades federativas, o caráter plebiscitário que o PT quer dar à eleição ficará restrito ao discurso de terceiros.

No cenário mais otimista, os petistas contarão, no máximo, com 13 nomes do partido para governador neste ano - apenas 9 estão confirmados por enquanto (AC, BA, DF, MS, PA, RS, SC, SE e RO). O PSDB tem representantes garantidos em 14 Estados (AC, AP, AL, ES, GO, MG, PA, PR, PI, RO, RR, SP, TO e CE), podendo chegar a 19. As duas legendas governam cinco Estados cada uma.

INVERSÃO DE PAPÉIS

Historicamente o PT sempre lançou candidatos a governo estadual em quase todo o País. Mas, desde a vitória de Lula, o número de candidatos petistas na corrida estadual vem reduzindo a cada eleição. Em 2002, foram 24. Quatro anos depois, nas eleições de 2006, foram 18. Agora, não ultrapassarão 13.

Já os tucanos têm ampliado a cada pleito sua participação direta na disputa estadual. Em 2002, lançaram 9 candidatos. Na eleição seguinte, esse número quase dobrou (17). Neste ano, o PSDB poderá levar aos palanques nos Estados até 19 tucanos, que, além de brigar pelo governo, ajudarão na campanha do governador José Serra, virtual candidato a presidente.

"Estamos lançando candidatos para ganhar e não para marcar posição", afirmou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). "Em 1994, quando tivemos candidatos em quase todos os Estados, elegemos apenas dois. Em 2006, elegemos um maior número e tínhamos menos candidatos."

"O PSDB investiu nessa formação de palanques estaduais. É um trabalho que está sendo feito desde o ano passado com vistas à eleição presidencial e o Senado", disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

PROJETO NACIONAL

O número reduzido de candidaturas do PT neste ano está diretamente ligado à ordem do Palácio do Planalto de não comprar briga nos Estados com aliados. Em troca de apoio à pré-candidata do PT à Presidência da República, ministra Dilma Rousseff, a legenda tem sacrificado seus quadros.

O exemplo mais emblemático é o Rio de Janeiro, onde, depois de muita briga, o PT tirou seu candidato de campo - o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias - para apoiar a reeleição de Sérgio Cabral (PMDB). Mas, em nome do projeto nacional, essa situação pode se configurar também em São Paulo e Minas Gerais. Nos dois Estados, petistas têm nome próprio para comandar o palanque de Dilma, mas podem fechar com aliados.

Na terra da ministra, há grandes chances de o candidato ser o colega de ministério Hélio Costa (Comunicações), do PMDB, em detrimento dos petistas Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, e Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social. Em São Paulo, o plano A é que o candidato seja o deputado Ciro Gomes (PSB) ante o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

FORTALECIMENTO

No PSDB, o aumento de candidatos é considerado resultado do fortalecimento da legenda fora do eixo Sul-Sudeste. O plano é estabelecer ao menos 9 palanques próprios no Norte e Nordeste, onde está a maior fragilidade eleitoral dos tucanos.

Petistas consideram artificial o crescimento dos tucanos. "As alianças dos adversários encolheram. Aí tem que lançar candidato mesmo", disse Vaccarezza. "O PT com Lula e sua popularidade não mostrou viabilidade eleitoral para formar bons palanques", reagiu Guerra.

Para o senador, o PT "está furado" em Estados importantes.

Serra contra Serra:: Janio de Freitas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura à Presidência

A primeira resposta à expectativa criada pela tática de José Serra, de manter-se por tanto tempo como uma incógnita, não lhe é favorável. O desenrolar das circunstâncias políticas criou-lhe mais embaraços do que as vantagens esperadas por sua permanência, com aparências apáticas, no governo paulista. Nem as ocorrências em seu território de responsabilidades governamentais o pouparam, criando-lhe mais situações de desgaste do que colhendo reflexos eleitorais de seus pequenos eventos administrativos e políticos.

O principal efeito positivo da permanência de Serra no poder falhou de todo: sua exposição, favorecida pela condição de governador, ficou muito aquém do conveniente ao candidato. E, no entanto, era arma de grande importância, talvez fosse mesmo decisiva, para mantê-lo na altitude que as pesquisas lhe davam, enquanto Lula e Dilma Rousseff sairiam pelos caminhos pedregosos à cata de grãos percentuais. Mas não foi a exposição, em si, que falhou, nem, muito menos, jornais e TV que não corresponderam a estímulos. A falha foi do próprio Serra, carente da criação de atrações para câmeras e notícias.

Nisso até chegou ao cúmulo. Nas várias semanas de calamidade fluvial dentro de São Paulo, oportunidade extraordinária -sem se considerar o dever- para juntar-se ao prefeito e demonstrar a capacidade de iniciativa ágil e eficaz esperada de um governante e de um candidato, Serra sumiu. Do ponto de vista da população, não só a paulista, não foi governante nem candidato. E não é preciso falar-se das péssimas notícias que têm vindo da sensível área de educação, de crianças sentadas no chão por falta de cadeiras e mesas à greve de professores.

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura de José Serra à Presidência. Só lhe permitiu protelar até ao limite a decisão entre ser candidato a presidente ou à reeleição. O que, para uma psicologia hamletiana, seria mesmo o fundamental.

A dinâmica da política poderia trazer compensações para Serra, mas não o fez. Ou só o fará, segundo a opinião dominante, caso Aécio Neves se conforme com a candidatura a vice. A julgar pelo ambiente em Minas a esse respeito, exposto em editorial de "O Estado de Minas" no gênero dos que só saem raramente, a decisão nem cabe mais a Aécio Neves, apenas.

Extravasou do âmbito político para o da emocionalidade, com algumas razões coerentes.Mas nessa historiada de vice cabe outra hipótese: crer que Serra deseje, de fato, a candidatura de Aécio é uma dedução de jornalistas, que a ele transferiram o que se sabe, no máximo, ser desejo de alguns outros peessedebistas. A Aécio não conviria uma vice sem luz própria, para brilho exclusivo de Serra, nem conviria ficar como figura secundária em esperável candidatura de Serra à reeleição presidencial. Serra, por certo, sabe disso, como sabe que a ninguém é conveniente um vice com brilho.

Não sendo Aécio, quem quer que entre como vice de Serra já chega desvalorizado ao lugar, tamanha tem sido a caracterização do governador mineiro, inclusive no PSDB, como indispensável às possibilidades de Serra. É outro, e grave, efeito da tática de Serra de manter-se por tanto tempo como incógnita. E dentre todos os efeitos ainda há o que sobressai aos olhos do eleitorado: a queda forte nas pesquisas contra a subida forte de Dilma Rousseff, já os dois, considerada a margem de erro, em situação de empate técnico.Se candidato, José Serra terá muito trabalho para reverter os males de sua tática até aqui.

No PSDB, campanha ainda está sendo estruturada

DEU EM O GLOBO

Sérgio Guerra, Jutahy, Matarazzo, Graeff, Aloysio Nunes e Gonzalez são alguns dos nomes já certos do lado tucano

SÃO PAULO. No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, a ordem é manter silêncio sobre as estratégias e a equipe que comandará a campanha do governador José Serra (PSDB) à Presidência.

Mas líderes do PSDB, até numa tentativa de pressionar Serra a anunciar logo sua candidatura, já confirmam nomes que deverão estar à frente da campanha. Tucanos do comando do partido admitem, porém, que o PSDB ainda está muito longe de montar estrutura tão grande como a já preparada pelo PT para a candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) é um dos que estarão na articulação, ao lado do deputado Jutahy Magalhães (BA) e de Andrea Matarazzo, este hoje um dos mais próximos do governador.

Também muito influentes junto a Serra, o secretário Aloysio Nunes Ferreira e o vice Alberto Goldmann terão papel importante, mas ainda não definido.

Presidente do PSDB municipal e secretário de Relações Institucionais do estado, José Henrique Reis Lobo será o coordenador da campanha de Serra. Já foi coordenador de três campanhas tucanas de sucesso: a de Alckmin ao governo do estado em 2002 e as de Serra em 2004 (para prefeito de São Paulo) e em 2006 (para governador). Em 2008, interveio na guerra entre a ala do PSDB que estava com Alckmin e a que apoiava a candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM) à reeleição.

— A saída do secretário José Henrique Reis Lobo do governo foi o maior sinal de que o PSDB e o governador José Serra estão pavimentando a campanha — diz o deputado Vaz de Lima (PSDB-SP), líder do governo na Assembleia Legislativa.


Para o programa de governo, o cientista político Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique, será um dos coordenadores. Graeff coordena o escritório do governo paulista em Brasília.

Os economistas Geraldo Biazotto e José Roberto Affonso são os nomes cotados para elaborar o programa de governo para a área econômica. Para aprofundar propostas para a saúde, o secretário do prefeito Gilberto Kassab, Januário Montone, que foi secretário de Serra no Ministério da Saúde, e seu atual secretário na área, Luis Roberto Barradas Barata, são os principais nomes.

A interlocução com os empresários, apostam os tucanos em São Paulo, deverá ser feita por Clóvis Carvalho, exministro de Fernando Henrique e secretário de Kassab.

No comando da propaganda para a TV deverá ficar o publicitário Luiz Gonzalez, da agência Lua Branca, embora este sofra resistência de parte do PSDB.

Marina lança pré-campanha de Gabeira e critica Lula

DEU EM O GLBO

Em evento do PV no Rio, senadora afirma que existe "um certo extrapolar" nas inaugurações do presidente

Cássio Bruno

Um dia depois de lançar sua pré-campanha à Presidência da República, a senadora Marina Silva (PV-AC) oficializou ontem, durante um evento do partido no Rio, a pré-candidatura do deputado federal Fernando Gabeira ao governo do estado. Foi o primeiro dia em que o parlamentar participou da extensa agenda de Marina no estado, iniciada quinta-feira.

Após o encontro, a senadora criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vai inaugurar amanhã obras na favela da Rocinha e visitará o Complexo Petroquímico de Itaboraí.

— Acho que há um certo extrapolar entre a função pública de inaugurar e o candidato que está concorrendo a uma disputa eleitoral. É preciso ter respeito pela legislação — afirmou Marina Silva, referindo-se à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também pré-candidata à Presidência.

Em clima de convenção, Marina apresentou Gabeira como “o futuro governador do Rio”. A senadora lembrou quando era filiada ao PT e declarou apoio ao deputado, em 2008, para a sua campanha a prefeito.

Marina afirmou, no entanto, que não fará desta campanha um “armagedon eleitoral”: — O eleitor pode desintoxicar os políticos. Não vale tudo para chegar ao poder. Mas se estão pensando que a nossa campanha será samba de uma nota só, é porque eles não conhecem a nossa sinfonia.

Parlamentar ataca Sérgio Cabral Em seu discurso, Gabeira atacou seu adversário, o governador Sérgio Cabral (PMDB). O deputado lembrou das recentes enchentes no estado e das mortes provocadas por deslizamentos de terra em Angra dos Reis.

— Ele assinou um decreto permitindo novas construções em áreas de proteção ambiental — disse o deputado.

O parlamentar criticou ainda as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs): — Se for contar o número de pessoas (policiais) que deverão ocupar todos morros do Rio, seria preciso contratar o exército chinês. Por isso, temos de pensar um pouco mais sobre o assunto.

A assessoria do governador informou que ele não iria comentar as críticas.

Ontem, o PV reuniu 150 précandidatos a deputado estadual e federal, além de dirigentes.

Na noite anterior, num encontro da executiva, o tema foi o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), pré-candidato ao Senado.

Os verdes ainda resistem ao democrata na coligação PV/PSDB/DEM/PPS.

— Estamos com medo dos adversários usarem os problemas dele (Cesar Maia) com a Cidade da Música na eleição e, com isso, prejudicar o Gabeira.

Faremos um consulta jurídica para saber se podemos ter coligações separadas para o Senado — disse um dirigente.

Minha Amada Imortal - Nona sinfonia de Beethoven

Prestes: 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Morto em 7 de março de 1990, aos 93 anos, Luís Carlos Prestes ainda hoje é admirado pelos seus feitos e coragem, e também por seus erros e acertos

Paulo Augusto

Quando Luís Carlos Prestes morreu, há exatos 20 anos, o mundo com ideais comunistas – com o qual ele sonhava – estava em plena derrocada. O Muro de Berlim já tinha sido derrubado e a União Soviética estava em contagem regressiva para o seu fim. No Brasil, o homem que um dia fora chamado de “Cavaleiro da Esperança” – alcunha recebida durante a Coluna Prestes – se encontrava afastado do velho Partidão, o PCB, e o País estava prestes a empossar seu primeiro presidente eleito pelo voto direto em 30 anos, Fernando Collor. A realidade naquele 7 de março de 1990 era muito diferente do que um dia sonhara o gaúcho de Porto Alegre, nascido no distante ano de 1898. Sua trajetória, no entanto, ficou perenemente registrada na história brasileira do século 20.

“Prestes foi um dos maiores brasileiros do século 20. Teve uma dimensão que comporta erros e acertos e foi um homem que participou ativamente dos grandes movimentos que ajudaram a construir a história do Brasil”, destaca o presidente nacional do PPS e ex-presidente do Partido Comunista Brasileiro, Roberto Freire.

Entre os principais acertos do líder comunista, na visão de Freire, está justamente o primeiro episódio que transformou Prestes numa lenda, a Coluna Prestes. “Era o início de sua trajetória, um período em que o País precisava superar as limitações da República Velha e que sua atuação foi muito importante”, opina. Ao longo de dois anos, os então militares Luís Carlos Prestes e Miguel Costa lideraram uma incrível marcha por mais de 24 mil quilômetros tentando conquistar apoio da população a se engajarem em lutas contra a política vigente, em busca do voto secreto e a defesa do ensino público, entre outras exigências.

“Prestes era um homem de idealismo. Não se pode julgar como bom ou mau por conta de sua ideologia. Ele teve uma grande importância na história do Brasil, especialmente por conta de sua Coluna”, avalia o ex-senador pelo PSD em Pernambuco, Jarbas Maranhão. Hoje com 93 anos, Maranhão foi colega de Prestes na Assembleia Constituinte de 1946.

Prestes tinha menos de 30 anos quando liderou a marcha pelo País e, naquele momento, ainda não carregava consigo o ideário comunista, conforme afirmou em entrevista exibida em 1986 – quatro anos antes de sua morte –, no programa Roda Viva, da TV Cultura. “Fizemos a marcha sem conhecer comunismo ou a União Soviética, mas precisávamos mudar aquela situação. Foi importante, mas ela não iria mudar nada. Só encontrei uma explicação lógica para mudar a situação depois, através do marxismo e leninismo”, contou.

Já com a “inspiração marxista”, Prestes liderou outro episódio marcante, na década seguinte – este, por muitos considerado o seu maior equívoco: a Intentona Comunista. “Em 1935 ocorreu um equívoco que eu não diria ter sido de Prestes, e sim do PCB. Não se chega ao socialismo tomando quartéis. Ali, abortou-se o grande movimento popular que surgia”, pondera o atual secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro.

A Intentona Comunista foi o nome dado à tentativa do Partido Comunista, em nome da Aliança Libertadora Nacional (ALN) – organização criada com o intuito de lutar contra o que seria uma “influência fascista” no Brasil –, de derrubar o governo de Getúlio Vargas. Foi na organização deste episódio que Prestes conheceu sua primeira companheira, a alemã comunista Olga Benário, com quem teve sua primeira filha, Anita Leocádia Prestes. Olga foi morta num campo de concentração nazista, em 1942.

Vivendo clandestinamente, depois preso, Luís Carlos Prestes foi anistiado em 1945. Com a volta à legalidade do PCB, seu maior líder foi eleito senador e participa da Assembleia Nacional Constituinte em 1946. Mesmo sem concordar com a maioria dos termos da Carta, o comunista a assinou.

ROMPIMENTO

A fase final da vida de Luís Carlos Prestes, pós-ditadura militar, foi marcada pelo afastamento do ex-líder comunista de suas origens. Para Prestes, o PCB já não era mais o mesmo. O militante aproximou-se do PDT de Leonel Brizola e o apoiou na eleição presidencial de 1989, mesmo com o PCB tendo candidato, Roberto Freire. “O que está aí, PCB, PCdoB, MR-8, não tem nada a ver com marxismo. Trata-se de uma podridão oportunista”, chegou a dizer, durante a entrevista ao Roda Viva.

“Hoje eu vejo o afastamento de Prestes do partido de uma maneira mais madura. Ele fez uma opção, ao meu ver, equivocada. Mas ele deixou um legado de combatividade e defesa de uma sociedade mais justa”, diz Pinheiro. Roberto Freire acredita que, mesmo quando errou, “Prestes errou com dignidade”. “Independente desses equívocos, Prestes é uma pessoa que faz falta ao Brasil. Lembrar Prestes pode fazer as pessoas pensarem que o Brasil pode ser um País melhor”, diz.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
Clique o link abaixo

Jogados ao deus-dará:: José de Souza Martins*

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Moradores de rua são uma modalidade extrema e dramática de desempregado, com pouca chance de ressurreição

SÃO PAULO - Os sumários dados preliminares do novo censo decenal dos moradores de rua da cidade de São Paulo, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, confirma que o problema se agrava. Se no ano de 2000 havia 8.706 moradores de rua, agora eles são 13 mil, 49,3% mais. Seu número cresceu dez vezes mais do que o número de habitantes da cidade.

A notícia vem acompanhada da crítica, necessária, mas insuficiente, ao número desproporcional de vagas nos albergues. No período, no entanto, o número de vagas nos albergues dobrou, mesmo que com redução no último ano. Mais da metade dessa população dorme na rua. Mas, nos albergues sobram vagas. Por várias razões, há moradores de rua que preferem ficar na rua.

Entre outras, a de que os albergues não são lugares de moradia. Mesmo os mantidos por entidades religiosas, como as católicas, as evangélicas e as espíritas, são lugares em que as pessoas podem tomar banho, jantar, dormir e tomar o café da manhã, devendo deixá-los em seguida para buscar uma nova vaga no final da tarde.

O morador de rua é uma modalidade extrema e dramática de desempregado. O censo entre eles realizado, em 2000, mostrou que apenas 31,9% não trabalham, 54,1% são ambulantes, 24,9% vivem de esmolas e apenas 1,2% não têm renda alguma. Muitos trabalham na coleta para reciclagem dos abundantes resíduos urbanos do centro da cidade, a mais forte razão para ficarem naquela área. São trabalhadores, mal pagos até pela cidade que de seu trabalho de limpeza se beneficia. Antes de se tornarem moradores de rua, apenas 3,3% não trabalhavam, 36,6% tinham ocupações de baixa classe média (uns poucos tinham curso superior), 19,9% vinham da construção civil e apenas 4,3% vinham de ocupações agrícolas. Portanto, uma população cultural e ocupacionalmente urbana.

Numa época em que eram dramáticas as condições de desenraizamento ocupacional dos trabalhadores rurais, momento da expansão da população dos chamados boias-frias, no Sudeste, e clandestinos, no Nordeste, não foi propriamente entre eles que se recrutaram os moradores de rua. Mas eu não deixaria de levar em conta a acentuada imigração sazonal desses trabalhadores rurais precários e instáveis para grandes cidades como São Paulo e Rio como um dos fatores da crescente população de moradores de rua, um terço dos quais originários da própria cidade de São Paulo.

Os migrantes temporários, morando em condições precaríssimas em favelas e cortiços, barateiam acentuadamente a mão de obra justamente nos setores cujo desemprego está na origem dos moradores de rua. Uma espécie de tsunami social, em que os vagalhões da precarização do trabalho na agricultura transferem populações temporárias para as cidades, que, ao se submeterem a salários ínfimos, acabam provocando desemprego permanente nas ocupações já mal remuneradas do mercado de trabalho urbano, nas funções menos qualificadas e mais vulneráveis. Reforça essa suposição o dado de que, dos moradores de rua de São Paulo, do ano 2000, 74,8% provinham de 2 anos ou mais de emprego estável, 26,2% de 10 anos ou mais de emprego e 8,9% de 20 anos ou mais. Expressões de uma rotação da mão de obra e consequente descarte do estável pelo precário, como é comum em diversas ocupações, especialmente na construção civil, que está na origem de um quinto dos moradores de rua.

A onda atinge seletivamente suas vítimas. Uma grande parte desses moradores, 39,5%, tinha 41 ou mais anos de idade, a idade crítica nas relações de emprego, o que se confirma pelo fato de que 83,6% deles eram do sexo masculino, justamente os mais atingidos pela idade no desemprego precoce. Um estudo de Maria Antonieta da Costa Vieira mostrou que os moradores de rua são majoritariamente homens que vivem sem família, com idade média de 44 anos, sendo grande o contingente de idosos. Nasceram em outros Estados 65% deles, mas vivem há muitos anos na cidade de São Paulo. Um número significativo é doente.

O insuficiente serviço de albergues estimula outra seletividade. É maior a proporção de homens que dormem nos albergues do que a de mulheres, que na maioria dormem na rua. É maior a proporção de brancos que a de negros. Há mais brancos morando nas ruas do que negros, se não juntarmos aos negros (nem aos brancos) os pardos. Portanto, a distribuição desigual da injustiça social se multiplica na perversidade de uma diferenciação social na qual se supõe que já não há lugar para diferenciações.

Num outro plano, a crise social se desdobra e se multiplica no abismo que separa o morador de rua da sociedade da qual se origina. A socióloga belga Marie-Ghislaine Stofells, que fez sua pós-graduação na Universidade de São Paulo, sob orientação do professor Lúcio Kowarick, aqui realizou uma das mais importantes pesquisas sobre moradores de rua, de que resultou o livro Os Mendigos na Cidade de São Paulo, publicado em 1977. No período mais repressivo do regime militar, Marie-Ghislaine decidiu morar na rua para fazer seu trabalho. Estrangeira e culta, foi presa mais de uma vez, suspeitíssima de atividades subversivas. Colheu precioso material sobre o drama dessa população. Na rua, as pessoas passam por três etapas: a da defesa, a da revolta, a da resignação. Sociologicamente, a conversão do cidadão em morador de rua impõe-lhe um processo de progressiva dessocialização, de perda de suas referências sociais e, finalmente, seu conformismo com o modo de vida anômalo da rua, a exclusão por renúncia.

Agora, seu número aumentou, sobretudo, em decorrência de outro efeito da onda: a desorganização da família e o apelo ao álcool e à droga. Pode-se dizer que a inclusão das vítimas da crise do trabalho no mundo da rua constitui uma forma de morte social, em que é pequena a possibilidade da ressurreição. Há muita hipocrisia e muito oportunismo na redução do problema do morador de rua à questão do número de vagas nos albergues noturnos. É reduzir a tragédia de uma vida ao drama de uma noite, que nem por isso é menos real e menos doloroso.

*Professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, autor de A Sociabilidade do Homem Simples (Contexto)