sexta-feira, 12 de março de 2010

Reflexão do dia – Raimundo Santos

Fazer o inventário discursivo do sindicalismo camponês praticado pelo PCB constitui exercício útil aos mediadores ativos nas ações rurais ora em curso no país. O presente texto se limita a tecer algumas considerações sobre o pensamento de Caio Prado Jr., Alberto Passos Guimarães e Luiz Werneck Vianna, sendo os dois primeiros clássicos reconhecidos e o terceiro, nome dos mais expressivos do chamado “campo da revolução passiva”, a sugestiva matriz da nossa esquerda histórica.


Raimundo Santos, no artigo “Política e agrarismo no Brasil” Revista Estudos Sociedade e Agricultura, vol 17 n. 1 abril de 2009, - CPDA/UFRRJ

Comparações:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula alardeia sempre que pode que quer fazer uma campanha sucessória plebiscitária, na qual o povo poderá escolher entre"eles" e "nós", referindo-se ao seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mas, se a análise histórica for menos imediatista, o seu mandato até o momento sai-se muito mal na foto no que se refere ao crescimento do PIB, a despeito do alto conceito que Lula tem a respeito de si próprio e de seu governo.

O professor titular de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Reinaldo Gonçalves fez um estudo sobre a evolução da renda no Brasil segundo o mandato presidencial, mostrando a performance da economia brasileira em 120 anos de História da República (1890 a2009), com comparações não apenas a nível interno, entre os períodos,como também em relação à participação na economia mundial.

Em ambos os critérios, o governo Lula pode ser considerado medíocre. A taxa média de crescimento real do PIB brasileiro é, nesse período, de 4,5%, e a taxa do governo Lula é de 3,6%, ficando em 21ºlugar entre 29 governos.

Mesmo que em relação ao governo de seu arquiadversário o crescimento tenha melhorado - o governo Fernando Henrique teve uma média de crescimento do PIB de 2,29% -, a participação média do PIB do Brasil no PIB mundial caiu de 2,93% no governo FHC para 2,74% no governo Lula.

Segundo o trabalho do professor Reinaldo Gonçalves, no conjunto de29 mandatos, o governo Lula (2003-09) tem até o momento a nona taxa mais baixa de crescimento econômico.

O fraco desempenho do governo Lula implica que o país precisaria de20 anos para duplicar o seu PIB, quando a taxa secular é de duplicação do PIB em 16 anos.

No período 1890-2009, a economia mundial cresceu à taxa média anual de 3,14%, o que significa que, ao longo do período analisado, o Brasil tem conseguido avançar no processo de desenvolvimento econômico, com tendência de crescente participação na economia mundial.

Entretanto, Gonçalves ressalta que este processo somente começou nos anos 1920 devido ao fraco desempenho e à instabilidade da economia brasileira no período que vai da proclamação da República até opôs Primeira Grande Guerra. O "salto quântico" de desenvolvimento, de acordo com o professor, é dado pelo presidente Getulio Vargas no entre guerras.

"No período de praticamente meio século que vai de 1930 até 1979, a economia brasileira apresenta taxas de crescimento econômico de longo prazo significativamente elevadas", destaca Reinaldo Gonçalves.

De fato, o país já teve períodos de crescimento de níveis asiáticos: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.

O maior crescimento do PIB foi de 13,97% em 1973, no auge do"milagre econômico", mas taxas de dois dígitos são exceções,aconteceram somente em seis anos.

O resultado, afirma Reinaldo Gonçalves, é que a participação do país no PIB mundial aumentou de menos de 1% no final dos anos 1920 para3,6% em 1980.

Nos últimos 30 anos, no entanto, a economia brasileira tem tido um desempenho relativamente fraco em comparação com o conjunto da economia mundial e, principalmente, com o subconjunto de países em desenvolvimento. De 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 80a 2003, 2%.

Restringindo a análise ao primeiro conjunto, Reinaldo Gonçalves observa "clara tendência" de queda da participação brasileira no PIB mundial a partir de 1980.

Em 2002, esta participação era de 2,81% e, em 2009, era de 2,79%,"próxima daquela observada quase quarenta anos antes, no início dos anos 1970, ressalta Reinaldo Gonçalves.

Na análise do professor de economia da UFRJ, o governo Luiz Inácio Lula da Silva se beneficiou de uma conjuntura extraordinariamente favorável no período de 2003 até meados de 2008, mas o fato é que a crise global teve forte impacto sobre a economia brasileira (queda do PIB de 0,2% em 2009 anunciada ontem), em que pese o discurso do governo"completamente descolado da realidade".

Gonçalves tem uma visão crítica da atuação do governo na crise,atribuindo o PIB negativo a "erros de política de ajuste", como a instabilidade e o nível da taxa de câmbio, nível da taxa de juros e regressividade do estímulo fiscal.
"Ao fim e ao cabo, a evidência mostra que o desempenho da economia brasileira no período 2003-09 é medíocre pelos padrões históricos brasileiros e pelos padrões internacionais", sintetiza. O professor ressalta que no governo Lula "continua ocorrendo o processo de perda de posição relativa do país na economia mundial".

Comparativamente ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, na opinião de Gonçalves, o governo Lula tem desempenho "igualmente medíocre".

Em 2002, último ano do segundo mandato de Fernando Henrique, a participação do Brasil no PIB mundial foi de 2,81%, e, em 2009, a participação brasileira ficou em 2,79%.

O professor Reinaldo Gonçalves atribui à "similaridade de modelos de desenvolvimento e de políticas econômicas" o fraco desempenho dos governos FHC e Lula.

Contrato de risco:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A notícia sobre os desvios de dinheiro na Coope­­­­rativa Habita­­­cional do Sindicato dos Bancários de São Paulo não é novidade, diz o PT em defesa do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, apontado pelo Ministério Público como o responsável por um esquema de desvio de dinheiro dos cooperados.

Realmente, o caso está sob investigação há três anos e ganhou destaque de novo por causa do pedido de quebra do sigilo bancário do tesoureiro que, ainda assim, foi posto pelo PT na organização de suas finanças. Na versão petista, porque não há consistência na denúncia. Trata-se de uma manobra eleitoral urdida pelo PSDB em parceria com o promotor José Carlos Blat, um doidivanas a serviço da oposição.

Ao promotor cabe sustentar sua acusação e embasar com provas o pedido de indiciamento que, já anunciou, pretende fazer ao final do inquérito. Ao acusado e ao partido caberia a apresentação de argumentos consistentes para demonstrar que as acusações são falsas. Inclusive porque se o promotor é irresponsável e usa a função para servir de instrumento político-partidário-eleitoral, não deve ser difícil demonstrar. Nesse caso, o Ministério Público seria o primeiro interessado no desmonte da armadilha.

No lugar disso, o que se vê são ataques que não explicam coisa alguma. A começar pelo fato de o partido escolher como tesoureiro alguém que é alvo de investigação por desvio de recursos.

João Vaccari pode ser inocente? Evidente que sim, mas um mínimo de zelo pela satisfação devida à opinião pública, e até uma precaução partidária, aconselharia a conveniência de uma outra escolha. Deve haver gente no PT tão preparada quanto Vaccari e que não esteja sob investigação.

O partido resolveu assumir o risco e agora tenta administrar o prejuízo jogando a responsabilidade nas eleições. Argumenta que os advogados de defesa garantem que não há uma só prova contra o tesoureiro. Mas há um inquérito, uma suspeita a ser esclarecida.

E para isso não contribui em nada alegar a existência de “armação” eleitoral porque a desqualificação do denunciante não inocentará o denunciado.

A questão é que existem cooperados que pagaram pela construção de seus imóveis e não os receberam; há a denúncia de um rombo de milhões; há, segundo o promotor, indícios de que houve desvio de recursos da Bancoop para financiar campanhas eleitorais.

Denúncias dessa natureza não se enfrentam com ameaças de processos nem com evasivas, muito menos com mentiras. Em entrevista, João Vaccari Neto falou, mas não se explicou. Limitou-se a informar que houve um “desequilíbrio financeiro” na cooperativa e responsabilizou os cooperados pelos danos. Não é isso o que os prejudicados alegam na Justiça.

Sobre a suspeita de desvio para o caixa 2 do PT, Vaccari foi sucinto: “Não há caixa 2 no PT.” Não foi isso que disse o presidente Lula ao justificar o mensalão.

Malabares

Era difícil, mas o chanceler Celso Amorim conseguiu piorar o péssimo efeito das declarações do presidente Lula em defesa da ditadura castrista. Deu um jeito de responsabilizar os Estados Unidos pela morte, prisão e tortura dos dissidentes cubanos.

“Muito simples: a receita (para acabar com as greves de fome) é pôr fim ao embargo comercial”, disse.

Por esse raciocínio, mal comparando, o embargo ao regime de segregação racial da África do Sul não teria sido o responsável pelo fim e sim a causa do apartheid.

Pelo que se depreende da tese do chanceler, acabar com a ditadura, instituir um regime em que todos sejam livres para se expressar, fazer política e divergir, nem pensar. Não é aí, na visão dele, que reside o principal.

É possível que não seja proposital, mas se o governo Lula não se deu conta convém perceber que desse jeito o Brasil entra na rota da chacota internacional.

Com a gentil contribuição da candidata a presidente, Dilma Rousseff, cuja declaração a respeito – “não critico (Lula) nem que a vaca tussa” – revela sofisticada elaboração no que tange à questão democrática no mundo.

Devagar com a louça

Esbravejar contra a aprovação na Câmara da emenda que reduz a receita do Rio em decorrência da exploração de petróleo não vai fazer o governador Sérgio Cabral ganhar a parada no Congresso.

Tampouco será a previsão de que “o Rio vai quebrar”, ou a desqualificação da decisão dos deputados – “um deboche” –, que sensibilizará o Senado, agora encarregado de examinar a emenda que altera o sistema de distribuição dos royalties.

O governador confiou na influência do presidente Lula sobre sua base parlamentar, ignorou o peso dos interesses de outros estados e, sobretudo, desconsiderou o fato de que quando há dinheiro em jogo a regra é outra. Nesses casos, o caminho não é a força. É o jeito de articular politicamente a melhor solução.

Ficha limpa:: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Fruto da mobilização cidadã, justamente indignada com o nosso atual sistema político-partidário, criador de reiteradas denúncias de corrupção na administração da coisa pública, o Congresso Nacional vai colocar em sua pauta de votação o projeto já apelidado Ficha Limpa.

Antes de deter-me na pertinência dessa proposta, chamo a atenção para um dado que a muitos passa despercebido: trata-se da consequência de uma iniciativa popular, por meio de uma conquista da Constituição de 1988, que amealhou mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas, principalmente pela internet.

Essa mobilização, aliás, não apenas demonstra a força dessa nova forma de comunicação, mas sua utilidade nas causas da cidadania, que será cada vez mais decisiva, num futuro próximo, alterando substancialmente as formas tradicionais do fazer político.

Um dos aspectos centrais da postura da esquerda democrática é o seu comprometimento não apenas com o fim da desigualdade social - um dos aspectos mais relevantes de nossa formação histórica - nos marcos do Estado democrático de direito, mas também o combate sistemático a todo tipo de corrupção.

Trata-se de um combate não apenas policial e legal, mas político: deve-se combater a corrupção por ser uma forma insidiosa de ameaça ao próprio processo democrático por conta de sua capacidade de indução ao crime, por meio do desvio de recursos públicos e do desvirtuamento do funcionalismo público e dos agentes do Estado.

Não é coincidência que temos visto, no Brasil, a corrupção mais deslavada ao mesmo tempo que os ataques mais desabridos aos princípios democráticos.

E mais: tem-se notado que a descrença na política como instrumento de mobilização, organização e transformação social vem crescendo como consequência das constantes denúncias de malversação de verbas públicas e escândalos patrocinados, de forma direta ou indireta, pela atual forma de escolha dos representantes dos Legislativos por meio de lista aberta e voto proporcional.

Este sistema político-eleitoral permite que os mandatários busquem ocupar a máquina pública ou intermediar operações entre empresas, na prestação de serviços ao Estado, com o concurso do "caixa 2", por meio de superfaturamento das obras públicas ou pelo desvio puro e simples do dinheiro público.

Uma das formas de enfrentar esse estado de coisas é tornar inelegível quem tenha sido condenado pela justiça. Assim, tais cargos não serviriam, como hoje acontece, para quem queira fugir a responder na Justiça por seus malfeitos.

Mas tal medida deverá ser fruto da Lei, garantindo-se o preceito constitucional de preservação da privacidade, para que se evite culpabilizar alguém fora do correto processo legal.

No entanto, por mais que seja importante a lei que institua a "ficha limpa", nada substitui o voto consciente e comprometido com a causa da democracia do cidadão-eleitor na escolha dos melhores representantes para dirigir a "res publica".

Roberto Freire é presidente do PPS

Beth Carvalho e Zeca - Ainda é tempo pra ser feliz

Hora de temas à mesa:: Washington Novaes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

À medida em que se aproxima a campanha eleitoral, mais evidente se torna que o eleitorado e o País precisam de uma nova pauta de discussões, para decidir sobre os nossos rumos. Uma pauta que fuja aos limites em que se tem concentrado até aqui - quem fez mais, o atual governo ou o anterior? - e busque resposta para graves questões que estão no cotidiano. A mais urgente é saber como se pretende mudar o quadro social, enfrentar a pobreza extrema e a miséria que ainda abrangem parte importante da população, embora, segundo relatório da ONU, 1,5 milhão de famílias tenham conseguido sair da pobreza extrema no campo - 4 milhões no País todo (Estado, 27/2).

Não será fácil. O próprio relatório menciona que uma nova estratégia terá de passar pelos espinhosos temas da reforma agrária e da reforma tributária. Porque a concentração de propriedades continua forte - 2,4 milhões de pequenas propriedades detêm 2,5% do "território agrícola", enquanto 47 mil grandes detêm 43%. Quanto à reforma tributária, evidencia-se a necessidade diante da informação de que as camadas mais pobres da população têm 46% de sua renda destinada ao pagamento de impostos indiretos (como o ICMS, principalmente, embutido em alimentos, roupas e outros bens essenciais), enquanto nos grupos de maior renda esse índice é de 16%. Algumas das consequências desse cenário: 37,5% das residências sofrem com "insegurança alimentar" (55% no Nordeste, 24% no Sul), quase 2% das crianças padecem de desnutrição, 21% dos brasileiros são anêmicos.

Esses dados podem ser complementados com a visão exposta em texto recente - Uma outra gestão é inevitável - dos professores Ignacy Sachs (consultor de desenvolvimento sustentável em muitos países), Carlos Lopes (subsecretário-geral da ONU) e Ladislau Dowbor (professor no Departamento de Pós-Graduação da PUC-SP). "O futuro chegou", dizem eles. "Trata-se de uma crise civilizatória." E perguntam: qual é o mínimo necessário para evitar a catástrofe e assegurar uma vida digna e sustentável, o que exige também reduzir as desigualdades, assegurar trabalho digno e corrigir prioridades? Seus números também são muito fortes: no Brasil, os 20% de maior renda na população detêm 82,7% do total, enquanto os dois terços mais pobres têm apenas 6%; em 1970, a renda média dos 20% mais ricos equivalia a 70 vezes à dos 20% mais pobres; em 1989, chegou a 140 vezes.

Para eles, mudar esse panorama exige mais democracia, mais transparência nos negócios públicos, abertura das tecnologias de informação, interatividade nas relações do governo com a sociedade. E isso passa por muitos caminhos, que incluem o "resgate da dimensão pública do Estado"; a possibilidade de avaliar resultados econômicos pela contribuição para um "desenvolvimento justo e ambientalmente sustentável"; ocupação intensiva de mão de obra, para assegurar renda básica a toda a população; redução da jornada de trabalho; mudanças na intermediação financeira, com taxação sobre transações especulativas, nova lógica tributária, taxação de grandes fortunas, imposto sobre herança; repensar a lógica orçamentária, inclusive para que se tenha uma alocação de recursos mais produtiva em termos sociais e ambientais; e - tema que anda no centro da polêmica - "democratização da comunicação".

Seja o que for que se pense sobre cada um desses temas, é indispensável que eles cheguem à mesa de discussão na campanha eleitoral. O mundo continua mergulhado em crise grave, que exigirá mudanças radicais. Vai-se continuar pelo caminho de transferir na crise recursos para o sistema financeiro - fala-se até em US$ 15 trilhões, ante US$ 21 bilhões nos programas de ajuda a países pobres - sem que se resolvam problemas como os do desemprego, da pobreza, da especulação nos mercados cambial, de ações, de alimentos? O Brasil não tem como fugir a essas questões, por sua inserção no quadro internacional. Então, a sociedade precisa saber o que se pretende fazer.

O correspondente deste jornal Jamil Chade mostrou há poucas semanas (18/2) o quanto a recessão econômica contribuiu para que os países mais ricos não cumprissem seus compromissos de aumentar a ajuda aos mais pobres. A promessa era de que chegariam a 0,51% do seu produto bruto anual este ano. Mas ficarão longe disso. E pode-se acrescentar que já nos compromissos que assumiram na Agenda 21 global, em 1992, esses países se haviam comprometido a passar a ajuda de 0,36% do produto bruto para 0,70%, de modo a completar, na época, US$ 120 bilhões anuais; hoje, estamos com um sexto desse valor. Só Grã-Bretanha, Irlanda, Espanha e Bélgica foram além do compromisso atual.

E o quadro poderá agravar-se ainda mais, a julgar pelos relatórios que a ONU está divulgando sobre a situação dos alimentos e da fome no mundo, já que o preço dos produtos dobrou entre 2002 e 2008; mesmo descontada a inflação, o aumento real foi de 64%, com efeitos dramáticos nos segmentos mais pobres de cada país e, principalmente, nas nações de menor renda. Mesmo que se consigam algumas soluções, elas não poderão concentrar-se no campo da produção e do consumo. A Organização para a Alimentação e a Agricultura, da ONU, prevê, por exemplo, que para atender à demanda de carne no mundo a produção terá de passar dos 228 milhões de toneladas/ano atuais para 463 milhões; com isso, a população bovina iria de 1,5 bilhão de cabeças para 2,6 bilhões; a de ovelhas e cabras, de 1,7 bilhão para 2,7 bilhões. Como se fará isso sem uma sobrecarga ainda maior nos recursos naturais, cujo uso já está uns 30% além da capacidade de reposição do planeta?

As questões estão todas entrelaçadas, das que envolvem a macroeconomia aos dramas da pobreza. O eleitorado precisa saber o que cada candidato tem a dizer.

Washington Novaes é jornalista

Em conferência, Lula volta a atacar imprensa

DEU EM O GLOBO

Presidente diz que editoriais dão voz a ‘falsos democratas’

No discurso de abertura da 2 Conferência Nacional de Cultura, ontem à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar a imprensa.

Dessa vez, afirmou que os editoriais dos jornais refletem opiniões de "falsos democratas", que se consideram "a única voz pensante do mundo".

O presidente aconselhou os participantes da conferência a acompanhar de perto o noticiário político em época de eleições:

— Comecem a prestar atenção no noticiário. Política e eleição também é cultura, sobretudo o resultado. Prestem muita atenção, fiquem atentos aos editoriais dos jornais. De vez em quando é bom ler para a gente ver o comportamento dos falsos democratas, que dizem que são democratas, mas acham que seus editoriais são a única voz pensante do mundo — afirmou Lula.

Em seguida, Lula também sugeriu a quem estava no Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília, a também avaliar os editoriais de 1953, quando se debatia a criação da Petrobras. O presidente disse que, já naquela época, a imprensa era contra a criação da estatal, alegando que não havia petróleo no Brasil.

Comentário do Blog
Seria interessante aconselhar aos brasileiros a lerem o que Lula disse sobre democracia, direitos humanos e vários outros assuntos entre sua eleição para presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição para presidente da República em 2002.
E sobre o que depois de eleito ele passou a dizer sobre os mesmos assuntos. Sem esquecer dos fatos de Cuba e do Irã, Venezuela, etc.

Verdes reagem aos ataques de Juca

DEU EM O GLOBO

Maria Lima

Os verdes saíram ontem em defesa da senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do PV a presidente, atacada pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, que se licenciou do partido. Na coluna Panorama Político do GLOBO, ontem, Juca disse que se licenciou do PV por discordar da candidatura presidencial de Marina.

Saiu atirando: “Não posso dormir ministro e acordar na oposição”, disse, insinuando que ela estaria se aliando à oposição.

E ainda criticou “o conservadorismo comportamental da Marina”.

Em resposta, o vereador e presidente do PV no Rio, Alfredo Sirkis, disse que Juca Ferreira foi escalado pela ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, para bater em Marina e que isso seria o preço pago por ele para continuar ministro.

Segundo Sirkis, o ministro Juca Ferreira primeiro foi contra a filiação de Marina ao PV, depois foi contra sua candidatura a presidente, e agora deixou o partido porque não conseguiu o que queria para ficar bem com o governo.

— É uma velha tática stalinista.

Como a ministra Dilma não quis aparecer batendo na Marina, escalou o Juca, que é uma pessoa próxima e companheiro de partido, para bater em seu lugar — disse Sirkis.

E o momento escolhido, para Sirkis, tem uma razão de ser: foi uma tática diversionista para desviar o foco da polêmica cubana.

— Por que ontem e agora? Por causa do perrengue cubano que o presidente Lula e Dilma enfrentam. Querem desviar o foco dessa imensa mancada que está deixando a população mundial indignada. Além das declarações desastradas do Lula, a ministra, como ex-guerrilheira, tem sido incapaz de se demarcar em relação a esse enorme absurdo que foi comparar os cubanos em greve de fome com os bandidos paulistas — disse Sirkis.

Para o vereador do PV, a declaração dada ao GLOBO de que “não queria dormir ministro e acordar na oposição” foi quase honesta. Para ser completamente honesta, disse, ele teria que dizer que “não queria dormir ministro e acordar não-ministro”.

— Sua decisão de romper com o PV e atacar Marina foi para poder dormir ministro, acordar ministro e poder sonhar que continuará acordando ministro até o final de 2014. O preço de apoiar Dilma foi se prestar a esse tipo de papel — disse Sirkis.

Sobre a declaração de Juca Ferreira, de que Marina estaria se aliando à direita, Sirkis disse que é “uma piada”:

— É muita cara de pau! A Marina está correndo sozinha, enquanto o Juca está aliado a Dilma, do PT, que está se aliando aos grandes bancos, ao agronegócio, ao PMDB de Jader Barbalho, Renan Calheiros, Sarney, os expoentes das oligarquias coronelistas mais tradicionais. Esses agora vão conseguir, do PT, o diploma de esquerda! E vêm acusar a gente de se aliar à direita? Isso é surrealista! — rebateu.

Serra já tem cronograma para lançamento de candidatura

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governador deixa posto no fim do mês, mas anúncio de que vai disputar Presidência ficará para depois da Páscoa

Christiane Samarco, BRASÍLIA

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), planeja deixar o posto no fim do mês em cerimônia sóbria e sem grande alarde. Mas essa será apenas a mudança burocrática no Palácio dos Bandeirantes, para atender à formalidade da chamada "desincompatibilização". O verdadeiro lançamento da candidatura de Serra ao Planalto será realizado depois da Semana Santa - até para fugir do dia 29 de março, quando o presidente Lula e sua candidata à Presidência, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), lançam, com pompa, circunstância e barulho, o PAC 2.

Depois de amargar quatro meses de espera pelo anúncio que não veio, a cúpula do PSDB não quer dividir a cena nem a mídia com o PT. Ao contrário, a ideia é esticar o lançamento em mais de uma etapa, para potencializar o ganho político do ingresso do governador na corrida presidencial e compensar o desgaste, virando a página dos protestos por tamanha demora. Serão duas solenidades para Serra brilhar: em São Paulo, a despedida do governo e o anúncio da candidatura de Geraldo Alckmin a governador; e o lançamento nacional em grande estilo, com aliados e tucanos de todo o Brasil reunidos em Brasília, para mostrar unidade do partido em torno do candidato.

Até lá a direção do PSDB vai costurando as alianças nos Estados e tentando contornar a agonia de aliados de peso como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que esta semana desistiu da reunião que ele mesmo havia pedido a Serra. Inconformado com decisão de arrastar por mais três semanas o anúncio oficial da candidatura, Jarbas chegou a divulgar uma nota na quarta-feira, para dizer que não quer conversa até lá. "Pretendo vincular minha eventual candidatura (a governador de Pernambuco) à dele, mas dispenso a audiência. Vou esperar", disse o senador.

As articulações Brasil afora continuam porque o PSDB trabalha para ampliar a aliança nacional e assim potencializar o efeito político do lançamento. Além da presença de todos os candidatos que vão garantir bons palanques a Serra nos Estados, o tucanato quer mostrar que a festa não é particular, mas da aliança.

Depois da crise que atingiu o principal aliado, com o único governador eleito pelo DEM - José Roberto Arruda, do Distrito Federal - na cadeia, o caminho para minimizar o peso do escândalo do "mensalão do DEM" sobre a coligação de Serra é apressar a ampliação da aliança. O ideal é que isso ocorra já a partir do lançamento da candidatura em Brasília.

Para dar cara múltipla à coligação, os tucanos querem não apenas dirigentes do DEM e do PPS compondo a mesa solene da festa em Brasília. O esforço é para que, em torno de Serra, também estejam os presidentes nacionais do PTB, Roberto Jefferson, e do PSC, Vitor Nósseis. O empenho do tucanato para fechar acordo com as duas legendas na campanha presidencial é grande porque a contabilidade política desse apoio é dobrada, com repercussão no palanque eletrônico de Serra e Dilma.

Como o PTB participa do governo Lula e é aliado do PT no Congresso, os articuladores da candidatura de Dilma contam com o tempo de propaganda eleitoral gratuita do partido no rádio e na televisão. Se o PSDB for bem sucedido, os 42 segundos do PTB serão subtraídos do programa do PT e transferidos a Serra. Somados aos segundos que cabem ao PSC, a articulação tucana pode render ao candidato da oposição um minuto a mais em cada bloco de propaganda que irá ao ar, em rede nacional de televisão, totalizando 7m48s, contra 8m21s da coligação de Dilma - sem contar o tempo do PSB, que ainda pode se bandear para a candidatura governista no caso de desistência do deputado Ciro Gomes.

Após críticas, Serra diz que evento foi 'anúncio de entendimento'

DEU EM O GLOBO

Para governador, importante é obra ter "começo, meio e fim"

Pré-candidato tucano reage à provocação de Lula sobre inauguração de maquetes

Serra com estudantes: "Fizemos tantas quantas desde o Descobrimento"

Flávio Freire

SANTOS (SP). Procurando disfarçar o incômodo com os ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador e pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra (PSDB), tentou justificar ontem a ida a um evento, segunda-feira, para apresentação da maquete de uma ponte ligando Santos ao Guarujá, na Baixada Santista, onde o tucano voltou ontem pela quarta vez nas últimas duas semanas. Num discurso de quase uma hora para destacar projetos do governo estadual para a região e atacar o programa do governo federal de revitalização do Porto de Santos, Serra tratou espontaneamente da polêmica, acirrada com a declaração de Lula de que "tem gente inaugurando até maquete":

- O que eu vim aqui fazer outro dia foi o anúncio do entendimento que nós concluímos com as prefeituras de Santos e Guarujá. E as prefeituras, com muita legitimidade, têm suas demandas - disse Serra,que, enquanto citava benefícios da obra, aproveitou para provocar os adversários.

- O importante é obra com começo, meio e fim, e estruturada – disse o tucano, na abertura de um seminário sobre sustentabilidade.

Horas após declaração do presidente Lula, a assessoria de imprensa de Serra disse que o governo de São Paulo não se sentia atingido pelas críticas. Serra, no entanto, encerrou a entrevista de ontem em Santos assim que o assunto entrou em pauta. Disse que não falaria de política,em hipótese alguma.

O governador se apropriou de um dos temas mais recorrentes na região para criticar o governo Lula. Ao comentar o programa de recuperação da área portuária, disse que faltou abrir espaço para a participação de São Paulo no projeto.

- Todos sabem que no início do governo propus ao governo federal que o estado administrasse o porto. Teria sido, sem dúvida, a melhor opção - disse o tucano, destacando a demora para o início das obras de dragagem no canal do porto.

Ao falar sobre a inauguração de escolas técnicas, voltou a ironizar o governo federal.

- Se eu fosse usar imagens como outros usam, eu diria que fizemos tantas quantas (sic) desde o Descobrimento - disse ele, ironizando o bordão do presidente Lula, que volta e meia inclui em seus discurso a premissa "nunca antes neste país".

Justiça autoriza devassa em fundo da cooperativa

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Pedido da Promotoria foi atendido e Justiça paulista ordenou que o Bradesco forneça toda a movimentação bancária de fundo da Bancoop

SÃO PAULO -
A Justiça do Estado de São Paulo ordenou ao Bradesco que forneça toda a movimentação financeira do fundo Fdic-Bancoop relativa ao período compreendido entre 1º de janeiro de 2004 e 25 de maio de 2009, com identificação de respectivos resgates, pagamentos, transferências e outros repasses para contas correntes ou outros fundos de investimento.

Na mesma decisão, a Justiça indeferiu pedido de bloqueio das contas da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e mandou o Ministério Público informar precisamente o que há no inquérito criminal que justifique o pedido de quebra do sigilo bancário e fiscal de João Vaccari Neto tesoureiro do PT e ex-presidente da Bancoop entre 2005 e 2010. A ordem judicial acolhe em parte pedido da 1ª Promotoria Criminal da capital, que investiga supostos desvios e fraudes na Bancoop.

Segundo o promotor José Carlos Blat, que conduz a investigação, houve captação de recursos no fundo Fdic-Bancoop sem a devida anuência dos cooperados em operações sem qualquer transparência. Ao requerer acesso às movimentações do fundo, o promotor afirmou que até mesmo com a quebra do sigilo bancário e fiscal determinada judicialmente em 2009 até a presente data não foi possível analisar a movimentação do referido fundo. Ele quer identificar pessoas físicas e jurídicas que participaram das referidas movimentações desse fundo.

Em entrevista, Blat disse que está diante de uma organização criminosa. Ele calcula que o prejuízo causado pelo esquema pode superar a cifra dos R$ 100 milhões. Diz estar convencido de que parte do dinheiro que teria sido desviado foi destinado a campanhas eleitorais do PT.

INDICIAMENTO

O promotor declarou que, ao fim de sua investigação, vai requerer à polícia o indiciamento criminal de Vaccari e de outros ex-dirigentes da Bancoop para depois oferecer denúncia à Justiça. O promotor afirma que já apurou ocorrência de estelionato, apropriação indébita, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Essa decisão judicial é positiva, declarou o criminalista Luiz Flávio Borges DUrso, que defende Vaccari. O bloqueio das contas da Bancoop seria um desastre porque tornaria impossível o cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta firmado pela cooperativa com o Ministério Público. DUrso alega que também recebeu com tranquilidade a determinação de abertura de dados do Fdic-Bancoop. É bom até para mostrar a lisura e a transparência de todas as operações procedidas.

O advogado não se opôs à abertura de dados de Vaccari, mas protestou contra a extensão da devassa solicitada por Blat. As contas de Vaccari são limpas, não há temor nenhum na quebra do sigilo. Mas como é um medida excepcional o Ministério Público deve indicar exatamente o momento e a situação que investiga.

Serra: obra importante tem começo, meio e fim

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Governador responde ao presidente Lula, que alfinetou o paulista ao dizer que tinha político inaugurando até maquete. Tucanos e petistas têm se acusado mutuamente de inaugurar obras inacabadas

SANTOS (SP) Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter ironizado indiretamente o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por ter apresentado a maquete do projeto de uma ponte no litoral paulista, o tucano afirmou que foi à região anunciar um entendimento entre municípios para iniciar a obra.

O que eu vim fazer aqui outro dia foi o anúncio do entendimento que nós concluímos com as Prefeituras de Santos e do Guarujá. As prefeituras com muita legitimidade têm as suas demandas, declarou o governador durante palestra em seminário sobre crescimento e sustentabilidade na Baixada Santista.

Na terça-feira, Serra esteve no local para anunciar o investimento de R$ 700 milhões na ponte que ligará as duas cidades a obra ainda não foi licitada e deve demorar dois anos para ficar pronta. Na ocasião, foi apresentada uma maquete do projeto. No dia seguinte, Lula ironizou Serra ao dizer que tem político inaugurando até maquete.

Com a proximidade da eleição presidencial, tucanos e petistas têm acusado uns aos outros de inaugurar obras inacabadas. O importante é uma obra com começo, meio e fim. Estruturada, completou Serra em seu discurso, sem citar o governo federal. Com o objetivo de atingir a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do governo à Presidência, integrantes do PSDB escolheram como alvo o PAC, dizendo que o programa é um compilado de obras que não saíram do papel.

Serra aproveitou o seminário em Santos para questionar o governo federal por não ter passado a administração do porto para o Estado. Foi feito recentemente um plano de expansão do porto, do qual o Estado não participou. Nenhum problema. Estamos dispostos a cooperar, mas é importante também dizer que temos observações a esse respeito, afirmou o governador.

O tucano citou também a questão da dragagem do porto. Não estamos pegando no pé por causa do atraso na dragagem, que só agora está recomeçando. Mas, enfim, há muitas questões que ficam dando volta, disse Serra.

O governador falou durante 50 minutos no seminário, do qual participaram secretários de Estado e prefeitos da região. Ele citou os principais investimentos do Estado nas cidades da região e, ao falar sobre o ensino técnico, aproveitou para, desta vez, ironizar Lula. Se fosse usar imagens como outros usam, eu diria que fizemos tantas quantas desde o descobrimento, observou. No fim, disse que não faria comentários sobre política.

CAMPANHA

O ex-governador e presidente do PMDB paulista Orestes Quércia disse ontem que o cenário eleitoral está favorável a José Serra. O cenário está bom para o Serra. Quando ele sair para a campanha vai se fortalecer, ele tem realizações para mostrar. Campanha são os 60 dias na televisão, disse, referindo-se ao período do horário eleitoral gratuito, que começa em agosto.

Divergindo da executiva nacional, o PMDB paulista apoia a candidatura Serra, em oposição à pré-candidata do PT, a ministra Dilma Rousseff. Sozinha, Dilma não tem significado político eleitoral, disse o ex-governador, referindo-se ao fato de a pré-candidatura da ministra estar sendo reforçada pelas constantes aparições ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Brasília-DF ::Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Com Norma Moura
Soberba, guerra e paz

A soberba costuma pôr tudo a perder. Em política internacional, então, nem se fala. A história está recheada de exemplos. Ontem, por exemplo, o presidente Lula resolveu esnobar a posse do presidente do Chile, Sebastián Pinera. Não foi por medo de terremoto, mas porque é um líder conservador. Preferiu se reunir com os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, porém, estava lá. O presidente do Peru, Alan García, também.

Em contrapartida, Lula se prepara para visitar o Irã, cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, desafia a comunidade internacional com seu programa nuclear. Ambos se encontraram no Brasil, ano passado. O resultado da visita deixou Lula numa posição isolada no Conselho de Segurança da ONU. Lula critica as sanções internacionais contra o Irã. Nós não queremos que se repita no Irã o que houve no Iraque. Isso não é prudente para o Irã, não é prudente para o mundo, disse, ao rechaçar o apelo da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, para que o Brasil apoiasse novas sanções contra o regime dos aiatolás.

Lula afirma que o impasse em relação ao Irã e o complicado processo de paz no Oriente Médio, região para a qual viajará nesta semana, são uma prova da incapacidade das potências mundiais. Quem decidiu que Estados Unidos, França, Inglaterra, China e Rússia representam as aspirações coletivas do nosso planeta, a nova geopolítica, a nova ordem global com nações que eram pobres ontem, mas que hoje estão no meio de um processo de extraordinário crescimento econômico?, desafia.

Qualquer aluno do ensino médio sabe que essas potências ocupam cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da ONU porque ganharam a 2ª Guerra Mundial contra a Alemanha, a Itália e o Japão, vitória na qual o Brasil foi sócio minoritário. Em parte porque o presidente Getúlio Vargas flertou com o Eixo.

Guzanos

Nada gerou mais protestos mundo afora do que as declarações de Lula contra os presos políticos de Cuba em greve de fome, os quais tratou como criminosos comuns. Ontem, o jornalista cubano Guillermo Fariñas em greve de fome há 16 dias pela libertação de 26 presos políticos foi internado no Hospital de Santa Clara, em Cuba, entre a vida e a morte. Não seria melhor o Brasil oferecer asilo e negociar com Rául Castro a libertação desses guzanos, como são chamados pelo regime cubano os opositores?

Veto

O governo tentará derrubar, no Senado, a partilha Robin Hood dos royalties de petróleo aprovada pela Câmara. Se não conseguir, será vetada pelo presidente Lula, que pretende salvar o acordo feito com o governador Sérgio Cabral, do PMDB, para manter a participação especial do Rio de Janeiro. Se o veto for derrubado no Congresso, o Rio perderá bilhões em royalties de petróleo e ficará no sal. Para o governo, porém, não será o fim do mundo. Já conseguiu o que queria: o novo modelo de regulação, a criação da Petro-sal, a capitalização da Petrobras e a criação do Fundo Social. Quem resolveu incluir os royalties no projeto foi o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), do Rio Grande do Norte.

Madeireiros

Em um ano de operação, a Arco de Fogo, da Polícia Federal no Maranhão, foi responsável pela redução de 88% do desmatamento na Amazônia, caindo da média anual de 100 km² para cerca de12km² de área devastada

Barrado

O líder do PMDB, senador Renan Calheiros (foto), liderou ontem a obstrução à votação da medida provisória que abre crédito de R$ 6 bilhões para a Caixa Econômica Federal após um bate-boca com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), no qual exigiu a renegociação das dívidas dos agricultores do semiárido nordestino. Barrado no almoço da cúpula da legenda com o presidente Lula, Renan deu o troco. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não liberar a grana, não tem votação. Bem ao estilo do falecido senador Antônio Carlos Magalhães (DEM).

Urânio

Lula tem esperança de que consiga negociar um acordo com o Irã para o Brasil produzir o urânio enriquecido acima de 20% de que o seu programa nuclear necessita para supostos fins científicos. A Eletronuclear tem condições técnicas de receber o urânio enriquecido abaixo de 20% em troca de combustível nuclear para uso científico, pois tem quatro reatores desse tipo. A proposta da Agência Internacional de Energia Nuclear é que o Irã embarque 70% do urânio enriquecido em troca de combustível nuclear para seu reator científico. Turquia, Brasil e Japão poderiam fornecer o combustível.

Em campo/ O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), participa hoje da inauguração da rede de internet sem fio do Instituto Inhotim, em Minas. O projeto da rede wireless é resultado de uma parceria entre o instituto e a Embratel.

Lados/ Cada um no seu quadrado. Esse foi o recado do delegado da PF Marcos Ferreira dos Santos, responsável pela segurança do governador afastado e preso José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), ao advogado Nélio Machado. Ao visitar seu cliente na PF, o advogado não gostou de ter a porta que havia fechado para falar com Arruda aberta duas vezes pelo delegado. Machado ameaçou representar contra a autoridade.

Dilmasia

Resposta rápida do governador de Minas, Aécio Neves, ao ser indagado sobre a preferência de alguns prefeitos mineiros que apoiam o tucano Anastasia e a petista Dilma Rousseff em detrimento de Serra: Acho uma bobagem. Aqueles que estiveram conosco, vão estar empenhados também na eleição do nosso partido, na eleição do governador José Serra.

Na reta final, Serra engorda caixa de SP

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Governador lança três programas de parcelamento de impostos para obter R$ 900 milhões extras para o ano eleitoral

Governo pretende não só reforçar o cardápio de obras como garantir verba para a concessão de empréstimos para a iniciativa privada

Catia Seabra
Da Reportagem Local

Atrás de recursos que ampliem sua capacidade de investimentos, o governo de São Paulo acaba de lançar três programas de parcelamento de impostos devidos ao Estado. Com as medidas, o governo Serra busca engordar o caixa em pelo menos R$ 900 milhões adicionais -não previstos no Orçamento- até o fim deste ano eleitoral.

Editado no mês passado, um decreto permite o parcelamento, em até dez prestações, das dívidas de ICMS nas importações ou nas operações de substituição tributária (quando a indústria inclui no preço do produto o imposto incidente em todas as demais etapas da produção sob o compromisso de pagar o tributo ao Estado, mas não o faz).

Lançado no dia 2, outro decreto possibilita o parcelamento, em até 11 vezes, da dívida do contribuinte que se valeu da guerra fiscal - buscando incentivos concedidos, ilegalmente, por outros Estados - para pagar menos ICMS ao Estado de São Paulo.

O contribuinte que optar pelo pagamento em uma única parcela poderá ser beneficiado com desconto de 75% sobre a multa e deságio de 60% dos juros. Nos parcelamentos, a multa sofrerá redução de 60%.

Outro decreto -de 4 de março- prevê a repactuação da dívida do contribuinte que aderiu ao PPI (Programa de Parcelamento Incentivado), de julho de 2007, mas deixou de pagar.

Segundo cálculos do governo, o estoque dessas dívidas chega a R$ 3 bilhões, mas a expectativa é que a adesão aos programas garanta uma receita extra de R$ 900 milhões.Além desses, o governo calcula arrecadar R$ 3,4 bilhões extras no ano eleitoral de 2010.

Desse total, R$ 1,2 bilhão não está registrado no Orçamento e poderá engordar a previsão dos investimentos.

Empréstimo

Ao lançar mão dessa engenharia, o governo Serra pretende não só reforçar o cardápio de obras em ano eleitoral como garantir musculatura para a concessão de empréstimos.

Na segunda-feira, por exemplo, Serra anuncia uma linha de crédito de até R$ 1 bilhão para compra de equipamentos que reduzam a emissão de gás carbônico no Estado.

A linha de crédito será anunciada durante seminário sobre economia verde. Interessado em dividir essa bandeira com a ex-ministra e pré-candidata do PV, Marina Silva, Serra apresentará as condições de financiamento e a lista de equipamentos passíveis de compra.

Segundo o presidente da Nossa Caixa Desenvolvimento, Milton Luiz de Melo Santos, a linha de crédito contemplará equipamentos que permitam a adaptação à nova lei ambiental.

Na área do agronegócio, por exemplo, haverá financiamento para compra de equipamento que permita a substituição de diesel por biodiesel e de gasolina por etanol.

O limite da linha é o capital da agência: R$ 1 bilhão. O volume de recursos vai depender da demanda por empréstimos.

TICO TICO NO FUBÁ - FILARMÔNICA DE BERLIM

Lula teve em 2009 primeiro PIB negativo desde Collor

DEU EM O GLOBO

Recessão mostra que não houve marolinha. Investimento caiu 9,9%

A economia brasileira registrou queda de 0,2% em 2009, no primeiro resultado negativo para o Produto interno Bruto (PIB) desde 1992,quando o pais amargou uma das piores recessões da história, após o fracasso do Plano Collor. O resultado, divulgado ontem pelo IBGE,mostrou que a crise global não foi apenas uma "marolinha", como chegou a prever o presidente Lula em outubro de 2008. Mas o recuo do PIB também ficou bem abaixo do que previam os analistas no início do ano passado. Eles chegaram a apostar em retração de 3%. Já no investimento houve grande queda: 9,9%. Pelo sexto ano, o consumo das famílias impulsionou a economia.

A recessão da marolinha

A CONTA DA CRISE

Abalo global faz PIB cair 0,2% em 2009, no 1º recuo desde 92. Mas economia tem forte alta no último tri

Cássia Almeida, Henrique Gomes Batista, Fabiana Ribeiro e Mariana Schreiber

A economia andou para trás em 2009. Mas o reflexo aqui da pior crise mundial desde o colapso de 1929 foi bem menor que o esperado. A queda de 0,2% frente a2008, quando o país crescera 5,1%, conforme divulgou ontem o IBGE, foi até considerada um bom resultado diante das previsões do início de 2009,de retração de até 3% do Produto Interno Bruto (PIB,conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). Pouco antes, no fim de 2008, auge das turbulências globais, o presidente Lula afirmara que a crise, se chegasse ao Brasil, seria "uma marolinha". Mas o resultado do PIB de2009 foi o primeiro negativo desde 1992, último ano do governo Collor.

Ficou em R$3,143 trilhões o tamanho da economia brasileira. A renda percapita, o valor total da economia dividida pela população caiu1,2%,para R$16.414, na primeira retração desde 2003.Apesar de soma de bens e serviços ter caído no ano, no quarto trimestre o país já estava crescendo a pleno vapor. A alta foi de 2%frente ao terceiro trimestre, o que indica expansão anualizada de 8,2%.Contra o mesmo trimestre de 2008, a alta foi de 4,3%.

- Considerando a dimensão da crise mundial, esse desempenho não é,de todo, uma má notícia. No quarto trimestre de 2009, a economia já superava em 0,7% o nível registrado no terceiro trimestre de 2008 (antes dos efeitos da crise global), constituindo-se assim em novo patamar máximo de produção -afirmou Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV)

Mesmo com a estagnação vivida em 2009, as famílias brasileiras sentiram pouco a crise, comparando com outros momentos da história recente, de acordo com os números das contas nacionais. O consumo das famílias avançou 4,1%no ano, depois de já ter subido 7% em 2008, na sexta alta seguida. E os serviços, que representam quase 70% da economia, cresceram 2,6%.

-O crescimento do consumo das famílias foi impulsionado pela expansão da massa salarial e também pelo aumento do crédito. Além disso, as desonerações feitas pelo governo (em eletrodomésticos, em materiais de construção e em automóveis) e a atuação dos bancos públicos ajudaram -disse a gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.

A explicação para o ano perdido veio da indústria. A atividade recuou 5,5%, numa queda que não era vista desde 1990, ano do confisco do Plano Collor. Na agricultura, outro dado negativo. As chuvas agravaram a situação do campo, que já sofria com a queda das exportações com crise mundial, fazendo a produção do setor cair 5,2%, o pior resultado desde1986. Na conta dos investimentos, a retração também foi a maior em 19anos. O recuo chegou 9,9%. Mas, assim como puxou a economia para baixo no ano, o investimento levantou o país no último trimestre. A expansão de 6,6% frente ao terceiro trimestre é a maior desde o quarto trimestre de 2005, lembra o economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea):

- E é bem mais alta do que a observada no ciclo recente de expansão entre 2006 e 2008.

Na indústria, o mesmo movimento. O crescimento frente ao terceiro trimestre foi de 4%, indicando recuperação forte, que rebateu no resto da economia, fazendo o PIB avançar 2%. Embalado no bom ritmo dos últimos meses de 2009, o país deve crescer 6% este ano, prevêem analistas.

Outro movimento na economia brasileira que foi diferente do que se via até2008 foi a contribuição da demanda externa (exportações menos importações). Ela foi positiva pela primeira vez desde 2003. Sem isso, o PIB teria caído 0,3%. Assim, a demanda interna ficou negativa devido principalmente a um acúmulo de estoques no fim de 2008. Sem esses estoques, o PIB poderia ter crescido mais de 1%.

Entre os setores econômicos, a intermediação financeira ocupou o primeiro lugar entre as maiores altas. Subiu 6,5%. Rebeca, do IBGE,explica que o corte na taxa básica de juros em 2009, que baixou de13,7% ao ano para 8,75%,foi um dos principais responsáveis pelo bom resultado. Além disso,afirma, o setor de seguros, que está nesse grupo de atividade,manteve-se em alta mesmo durante a crise.

A queda de 0,2% do PIB em 2009 não fez o Brasil perder posições no ranking das maiores economias mundiais. O país permaneceu como a nona economia do mundo no ano passado.

A economia brasileira em 2009:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Se houve uma queda no vazio durante 6 meses, a retomada a partir do 2º trimestre de 2009 foi ainda mais rápida

A divulgação do PIB de 2009 pelo IBGE nos permite avaliar de forma mais completa o comportamento da economia durante a cise mundial. Além disso, fornece boas pistas para projetarmos os resultados do último ano do mandato do presidente Lula.

Vamos começar lembrando o passado. O ano se iniciou sob o impacto de uma contração brutal do PIB no último trimestre do ano anterior.

Entre outubro e dezembro de 2008, tivemos uma redução de 14% anuais -ou 3,5% ante o trimestre anterior- na geração de riquezas no Brasil. Não por outra razão vivíamos -sociedade e governo- um pesadelo para o qual não estávamos preparados. Eu mesmo -calejado que sou por mais de 40 anos de atividade profissional- fiquei muito assustado e pessimista com o futuro. Recuperei um pouco de meu sangue-frio ao me lembrar de uma frase dita por um grande e sábio amigo meu: "Não aposte contra o capitalismo, pois você vai quebrar a cara".

Nos primeiros três meses de 2009, o pânico continuou e o PIB se contraiu a uma taxa anualizada de 3,6%. Embora bem menor, continuava a retração da economia. Nos seis meses decorridos desde a quebra do banco Lehman Brothers, a queda do PIB brasileiro havia chegado a uma taxa anualizada de mais de 11%. Se usarmos o consumidor como referência sobre o comportamento do brasileiro naqueles terríveis dias, vamos encontrar -embora mitigado- o mesmo cenário de crise. As vendas do varejo, que vinham crescendo a uma taxa anual de 10%, passaram a se contrair a uma taxa anual de quase 5% ao ano.

No caso dos empresários, o susto foi ainda maior. A redução dos gastos com máquinas e equipamentos foi de mais de 40% anualizados entre o terceiro trimestre de 2008 e os primeiros três meses de 2009. O aumento rápido dos estoques e a redução do crédito bancário levaram a uma quase paralisação da produção em muitos setores e à demissão de funcionários.

Mas os números do IBGE deixam claro que, se houve uma queda no vazio durante o período de seis meses, a recuperação a partir do segundo trimestre foi ainda mais rápida.As vendas ao varejo voltaram a crescer a taxas da ordem de 12% ao ano a partir de setembro e hoje já são em valor mais de 5% superiores ao que prevalecia antes da crise.

Também está nas estatísticas do PIB a prova de que os empresários retomaram de maneira bem mais lenta seus investimentos. A partir do segundo semestre do ano passado, os gastos com investimentos cresceram rapidamente, mas ainda estão bem abaixo do nível que prevalecia antes da crise. Se considerarmos a demanda privada total, que inclui os gastos com consumo e exportações, os números do IBGE mostram que estávamos no fim de 2009 exatamente no nível anterior à crise.

Por fim, o papel das importações continua a crescer na matriz de oferta de bens no Brasil, o que contribui para ancorar a inflação no segmento de bens industriais e intermediários em um momento de demanda acelerada, ainda que apenas temporariamente.

Para 2010, a equipe de economistas da Quest prevê crescimento de 6%, com inflação crescente e superior ao centro da meta. Nos próximos meses, o Banco Central terá a difícil tarefa de controlá-la sem destruir o otimismo de nossos empresários.

Luiz Carlos Mendonça de Barros , 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Dentro do zero:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

É a primeira vez que há um resultado negativo no PIB desde o começo da série em 1996; o primeiro negativo em duas décadas. O Brasil é duro na queda, custa a ter recessão, mas não tem autonomia de voo: o crescimento não se mantém. Sustentar o crescimento é o nosso desafio. OPIB do quarto trimestre anualizado aponta 8,4%, mas o Brasil não pode crescer tanto.
Para a China essa taxa é de crescimento baixo. Foi o que ela teve no mau ano de 2009, mas para o Brasil faltam taxas de poupança e de investimento para segurar um crescimento neste ritmo, sem produzir um enorme déficit na conta de transações correntes e alta da inflação.

A equipe econômica do Itaú Unibanco foi a que acertou na mosca a previsão do que ia acontecer: -0,2% no PIB de 2009; 2% de crescimento do quarto trimestre em relação ao terceiro. No texto enviado ontem para seus investidores, o banco alerta que como o crescimento anualizado está em 8,4%, o país terá que reduzir o ritmo para chegar no final do ano numa taxa de 6%, que é a previsão do banco.

O número tem um carregamento estatístico de 2,7%. Esse fenômeno acontece porque a base de comparação é baixa. É mais ou menos assim:como o ano de 2009 começou em queda e se recuperou, mesmo se ficasse na prática estagnado em 2010, a comparação da média de um ano contra a média do ano anterior daria 2,7%. Então é praticamente impossível o país não crescer este ano.

Em 2009, a indústria caiu 5,5% apesar de todas as transferências que recebeu em termos de redução de impostos e empréstimos subsidiados.A agricultura teve queda de 5,2% porque teve quebra de safra. O setor de serviços cresceu 2,6%. O comércio, de varejo e atacado, caiu. O resultado positivo se deve em parte ao setor financeiro, que cresce mesmo na crise. Desta vez, subiu 6,5%. Serviços de informação foi outro subsetor que cresceu 4,9%, e a administração pública, que também entra em serviços, aumentou 3,2%.

A participação da administração pública no PIB subiu de 15,7% para16,7%. Já a participação da administração pública no setor de serviços foi de 23,5% para 24,3%. O que explica essa alta é, em grande parte, o aumento da contratação de funcionários públicos.

O economista Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, lembra que os dados do quarto trimestre mostram claramente que a economia estava crescendo no final de 2009 acima do que sua estrutura suporta.

O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, lembra que a inflação pelo IPCA acumulada em dois meses de 2010 foi igual à taxa prevista pelo relatório de inflação do Banco Central, em dezembro, para o trimestre inteiro. Ou seja, o BC achava que aconteceria no trimestre o que aconteceu em apenas dois meses.

- Nos IGPs, simplesmente houve uma reversão completa. O que era a deflação do ano passado virou a inflação de dois meses.

A inflação está subindo, e o déficit externo, crescendo. Hora de se preocupar, de fato. Ou de enfrentar problemas que nos impedem decrescer acima de um determinado nível sem voltar a enfrentar os velhos dilemas: déficit externo e inflação. E esse é um dos piores resultados de 2009, o Brasil andou para trás em termos das condições decrescimento sustentado. A participação dos investimentos no PIB caiu de18,7% para 16,7%; a taxa de poupança foi de 18% para 14,6%.

Mas o melhor retrato da natureza do crescimento brasileiro está no gráfico abaixo, de desempenho do PIB acumulado em quatro trimestres desde 1996. Parece uma montanha-russa.
O país resiste a cair abaixo de zero. Teve uma pequena recessão que chegou a 0,8% em 1999, que no entanto fechou o ano no resultado positivo, de 0,3%; e teve outra agora que chegou a -1% no começo de 2009, mas fechou o ano em -0,2%. O primeiro baque foi na crise cambial, que na Coreia, por exemplo,provocou recessão de 5%. O segundo, na crise global, que derrubou o México e a Rússia em 7%. Nosso negativo é pequeno, o país levanta, dá a volta por cima, mas não se sustenta e volta a cair. Impressionante é que o melhor número da série foi o terceiro trimestre de 2008, 6,6%. Na véspera de despencar. Foi um grande tombo o da crise, mas já começamos a subir a rampa. O que mais incomoda é a incapacidade de manter o ritmo de crescimento.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
Clique o link abaixo

O PIB da marolinha::Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Este é o PIB da marolinha, obtido no ano de maior crise financeira global desde os anos 30.

Nas circunstâncias, uma queda da renda de apenas 0,2% em 2009 não foi mau resultado. Apesar de ter ficado abaixo do nadinha, foi o sexto melhor desempenho do Grupo dos 20 (G-20), como observou ontem a BBC (veja, também, o Confira).

Como já se esperava, o ponto alto de 2009 é o quarto trimestre, que determinou o tamanho do embalo com que a produção de riqueza em 2010 vai sendo empurrada: crescimento de 2,0% em relação ao trimestre anterior.

O ponto mais insatisfatório do ano passado foi o comportamento persistentemente fraco do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), que correspondeu a apenas 18,7% do PIB, o mais baixo dos últimos três anos.

Também desta vez, a maior parte do investimento (41%) correspondeu à construção civil, que apenas marginalmente pode ser entendida como aumento de capacidade de produção. Além disso, é difícil avaliar a qualidade dos outros itens que compõem o mix dos investimentos.

Investimento no comércio, por exemplo, multiplicará menos riqueza do que investimento na infraestrutura. Também não temos ideia do tempo de maturação do investimento médio a cada momento no Brasil: dois anos? Quem sabe, três; ou não seria mais? E seria muito bom que se soubesse a quantas anda o investimento em tecnologia da informação, um fator que vem multiplicando renda no mundo.

O avanço relativamente baixo do investimento pode fazer falta dentro de mais alguns meses, à medida que o consumo interno continuar seguindo na frente do aumento da capacidade de produção.

Para este ano, não dá para divergir das projeções disponíveis. A perspectiva é mesmo de que a atividade econômica do Brasil cresça em torno dos 6%. E, mais uma vez, será um desempenho vigoroso quando comparado com o que está acontecendo nos países de alta e média renda.

Não dá para acompanhar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que insiste em afirmar que essa velocidade é sustentável. Ela está sendo construída sobre um avanço forte demais do consumo das famílias (crescimento no quarto trimestre de 7,7% quando comparado com o quarto trimestre de 2008). Esse avanço, por sua vez, tem a ver com o aumento em torno de 17% das despesas correntes do governo federal.

Lá na frente alguém terá de pisar nos freios e não será apenas o Banco Central. As importações estão crescendo mais de 30% neste ano e o rombo nas contas externas (Contas Correntes do Balanço de Pagamentos) saltará em 2010 para alguma coisa próxima dos US$ 50 bilhões, ou 3,0% do PIB, tendendo a passar para US$ 60 bilhões em 2011 (3,5% do PIB). Qualquer estudante de Macroeconomia sabe que déficit em Conta Corrente significa excesso de consumo.


Por enquanto esse déficit está sendo satisfatoriamente financiado com investimentos externos.


Mas pode chegar o dia em que a qualidade desse financiamento se deteriorará. Antes disso, será preciso reequilibrar as finanças do setor público (inclusive as dos Estados e municípios), e não apenas puxar pelos juros.

Confira

PIB PELO MUNDO

Índice de crescimento em 2009

Em porcentagem


China 8,7
Índia 6,1
Peru 0,9
Brasil -0,2
Suíça -1,5
Chile -1,7
França -2,2
EUA -2,4
Canadá -2,6
Espanha -3,6
Zona do Euro -4,0
Reino Unido -4,8
Suécia -4,9
Japão -5,0
Itália -5,0
Alemanha -5,0
México -6,5
Romênia -7,2
Rússia -7,9

Crescimento sem investimentos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2009 caiu 0,2% (1,2%, no conceito per capita), resultado que se pode ter como aceitável no contexto da crise internacional, embora três outros países emergentes tenham apresentado resultados positivos: a China, 8,7%; a Índia, 6,1%; e o Peru, 0,9%. Trata-se, no entanto, do pior resultado desde 1993.

O que deve ser destacado é como o Brasil conseguiu esse resultado sem seguir a receita keynesiana (prioridade aos investimentos), mas privilegiando o consumo das famílias e do governo, e sem que a indústria acompanhasse o aumento da demanda doméstica. Enquanto o consumo das famílias cresceu 4,1 % e o da administração pública, 3,7%, a indústria de transformação teve queda de 7%. O crescimento do consumo foi favorecido pela expansão do crédito, pela melhoria dos rendimentos (especialmente do salário mínimo) e por um maior déficit orçamentário. Este, no entanto, se deveu mais ao aumento das despesas de custeio do que dos investimentos.

A Formação Bruta de Capital Fixo, que em volume cresceu 13,4% em 2008, apresentou redução de 9,9% no ano passado, representando apenas 16,7% do PIB, ante 18,7% no ano anterior, o que se explica pela queda da taxa de poupança ? de 18%, em 2008, para 14,6%, no ano passado.
Redução concentrada no setor público, que deu preferência aos gastos correntes, apesar de toda a publicidade em torno do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujos investimentos, por razões eleitoreiras, aumentaram apenas no final do ano.

Numa análise setorial se destacam as instituições financeiras, que apresentaram crescimento de 6,5% num ano de crise do sistema financeiro. Cumpre notar que a construção civil sofreu queda de 6,3%.

Embora o governo tivesse praticado uma política de incentivos fiscais, os impostos líquidos sobre os produtos tiveram recuo de apenas 0,8%.

Uma análise das Contas Nacionais em 2009 não pode deixar de assinalar a dinâmica que o crescimento apresentou. O PIB trimestral, que havia acusado queda de 0,9% no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, cresceu 1,4% no segundo, 1,7% no terceiro e 2,8% no quarto, indicando uma recuperação constante ao longo do ano, que se está mantendo também neste ano, e com um carry over positivo sobre os próximos meses, prenunciando, pois, um ano de 2010 muito próspero, mas que poderá favorecer tensões inflacionárias.