quarta-feira, 16 de julho de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique

Aproveito para renovar a proposta que lhe fiz naquela ocasião: por que não nos juntamos para corrigir o que de malfeito há na vida política brasileira, em vez de jogar pedras uns nos outros? O Brasil se cansou de ataques infundados. O país percebe que seu futuro depende de decisões honestas e corajosas, entre as quais a de evitar que o debate eleitoral se restrinja a baixarias e falsas acusações.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República, em artigo no Observatório Político, 15 de julho de 2014

Câmara aprova urgência para proposta que susta conselhos populares

• Votação do mérito do decreto ficou para quarta-feira

Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - A Câmara aprovou, por 294 votos sim e 54 não, a votação em regime de urgência do decreto legislativo que revoga o decreto da presidente Dilma Rousseff que cria uma superestrutura de conselhos populares no âmbito da administração federal. A urgência teve apoio de maioria dos partidos da base aliada, com exceção do PT e PCdoB. Na oposição, o PSOL também foi contra a votação. Mesmo com a derrota, o governo conseguiu evitar a votação do mérito do decreto, que estava prevista para a noite desta terça-feira. O caso, agora, deve ser analisado nesta quarta-feira, em sessão extraordinária.

Em meados de junho, diante da pressão dos parlamentares, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDN-AL), apelaram para que o governo retirasse o decreto e enviasse a proposta por projeto de lei. O governo não cedeu e ontem, o líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), voltou a defender o decreto presidencial, argumentando que ele possibilita a participação da sociedade e fortalece a democracia direta.

Com o quórum de 348 votantes, Henrique Alves encerrou a votação. Mais cedo, ele informou ao plenário que 414 deputados haviam registrado presença na Casa. O líder do DEM e autor do decreto que susta o decreto de Dilma, deputado Mendonça Filho (PE), fez um apelo para que Henrique aguardasse um pouco mais. Os deputados do PT e PC do B pediram o encerramento da votação.

Na semana passada, Henrique Alves pautou o projeto, mas a oposição, temendo ser derrotada pela obstrução do PT e o baixo quórum, concordou em retirá-lo de pauta. Em plenário, Henrique Alves fez duras críticas ao projeto da presidente Dilma, afirmando que ele cria um quadro de inconstitucionalidade e abre margem para influência político-partidária e ideológica, contrariando as normas constitucionais que versam sobre a democracia participativa. Disse ainda que ele fere o princípio da separação dos Poderes da República.

PT manobra para evitar derrota

André Shalders, Naira Trindade – Correio Braziliense

O esvaziamento causado pela saída dos parlamentares do PT e do PMDB impediu ontem que a Câmara dos Deputados derrubasse o Decreto 8243, do Executivo Federal, que cria a Política Nacional de Participação Social (PNPS). Por volta das 20h de ontem, a Casa chegou a atingir o quórum mínimo de 257 parlamentares necessários para a abertura da Ordem do Dia destinada a votar o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) que afasta os efeitos do Decreto 8243 e a MP 641, voltada para o setor elétrico. A matéria entrará em pauta novamente hoje.

Isolada, a bancada do PT chegou a entrar em obstrução para adiar as decisões, e, logo, foi acompanhada pelo PCdoB. Além de petistas e comunistas, o PSol também trabalhava pela manutenção do decreto. Ao perceberem que acabariam derrotados, petistas deixaram o plenário e impediram a continuidade da sessão. Na prática, a Câmara não votou nem o mérito do PDC, apesar de o plenário ter aprovado, mais cedo, um requerimento de urgência para apreciar a proposta. "O decreto presidencial fortalece e qualifica a democracia. Nós defendemos ele e vamos obstruir a pauta", disse o líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

O PDC é de autoria dos líderes do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), e do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). A proposta é o terceiro item da pauta na sessão de votações prevista para a manhã de hoje, mas mesmo na oposição poucos acreditam que ele chegue a ser votado. Para o líder da oposição, Antônio Imbassahy, o esvaziamento da sessão já significou uma derrota para o governo. "A saída deles consolidou a derrota, porque a maioria era contra o decreto (presidencial)", disse.

Pouco depois da sessão, o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) admitiu que o decreto pode ser apreciado só em agosto. Entre os peemedebistas, o ânimo também é contrário ao projeto. "Eu discordo da forma como foi feito, por meio de um decreto. Esse assunto poderia ser discutido no Brasil, mas por meio de um projeto de lei. Do jeito que veio, sem a participação do Legislativo, foi inoportuno e foi incorreto", afirmou o presidente da Casa.

Domésticas e patrões pagarão menos INSS A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara aprovou, em caráter conclusivo, o projeto que reduz para 6% a alíquota da contribuição previdenciária paga por patrões e empregados domésticos. Atualmente, o índice é de 12% para os empregadores e varia de 8% a 11% para os funcionários, de acordo com o salário. Caso não haja recurso para ser apreciado em plenário, o texto seguirá para sanção presidencial.

Servidores se mobilizam por aumento salarial

Vera Batista – Correio Braziliense

Greves e atos de protestos podem começar a pipocar no país a partir de hoje. Enquanto o Brasil festejava a Copa do Mundo, várias categorias de servidores públicos articulavam formas de externar a insatisfação que não teve espaço para ser exposta durante o torneio. As reclamações incluem pautas como reposição de perdas inflacionárias e melhores condições de trabalho. Hoje, os funcionários do Judiciário no Distrito Federal farão uma paralisação de 24 horas. Eles não descartam a possibilidade de declarar greve por tempo indeterminado.

Os rumos da categoria serão traçados em assembleia às 15h, na Praça dos Tribunais Superiores. "Fomos preteridos em todos os programas de valorização. Somos a única categoria que não teve recomposição de 2006 a 2012", destacou Jailton Mangueira Assis, coordenador-geral do Sindicato dos Servidores da Justiça (Sindjus-DF). Nos cálculos do sindicato, a perda de poder aquisitivo ultrapassa os 40%, no período. Responsável por gerir a folha de pagamento do funcionalismo federal, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, já foi avisada das mobilizações, que devem se intensificar com a proximidade das eleições de outubro.

Em greve há 50 dias, os trabalhadores do IBGE farão amanhã ato público em frente à sede do órgão, no Rio de Janeiro pela reversão de demissões e pela reabertura de negociações com o governo. Participarão da manifestação delegações de funcionários de 19 estados. Em 23 de julho, servidores da Controladoria-Geral da União (CGU) farão protesto diante da sede da entidade, no setor de Autarquias Sul, por melhores condições de trabalho.

"O orçamento da CGU vem caindo a cada ano. Está impossível trabalhar. Até setembro, o órgão não terá mais dinheiro para pagar contas básicas, como água, luz, condomínio. É um desperdício de mão de obra qualificada", disse Rudinei Marques, presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon Sindical).

Aposentados
Os servidores da área de cultura, que suspenderam uma greve antes da Copa, por determinação de liminar obtida na Justiça pelo governo federal, organizam uma caravana rumo a Brasília, em 13 de agosto, para discutir se mantêm a interrupção do movimento.

Ainda hoje, aposentados e pensionistas do setor público e da iniciativa privada devem estabelecer uma agenda de manifestações, em várias capitais, para que duas iniciativas sejam aprovadas antes das eleições de outubro: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 555, que extingue a contribuição previdenciária de servidores inativos, e o Projeto de Lei 4.434, que recupera o valor dos benefícios do INSS com base no número equivalente de salários mínimos da época em que eles foram concedidos.

Além de Brasília, a Frente Nacional em Defesa da PEC 555/2006 e a Confederação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Cobap) marcaram protestos em Belo Horizonte, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Pressão na Esplanada
Veja as categorias do funcionalismo federal com manifestações agendadas

Judiciário
Paralisação de 24 horas em 16 de julho e possibilidade de greve por tempo indeterminado

IBGE
Ato público em 17 de julho pela reversão de demissões e reabertura de negociações com o governo

Controladoria-Geral da União e Tesouro Nacional
Protestos em 23 de julho contra cortes do orçamento

Cultura
Caravana a Brasília, em 13 de agosto, para discutir se mantêm ou não a suspensão da greve

Campos defende Lula e ataca FHC e Aécio

• Campos diz que Aécio representa mudança conservadora

• Candidato do PSB quer implantar passe livre para estudantes, mas ainda não tem detalhes sobre a proposta

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO — O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, afirmou nesta terça-feira que o tucano Aécio Neves representa na eleição deste ano uma opção de mudança conservadora para o país.

— Existem dois projetos de mudança: de um lado, um conservador que já governou o país e, de outro, existe um projeto progressista — disse Campos, ao participar de sabatina promovida pelo jornal Folha de S. Paulo, pela rádio Jovem Pan, pelo portal UOL e pelo SBT, em São Paulo.

O presidenciável também declarou não ter intenção de disputar uma eventual reeleição em 2018 caso saia vitorioso da disputa eleitoral de outubro.

— Não tenho nenhum projeto de disputar a reeleição. Não vou ser eleito pensando em reeleição.

O PSB já apresentara no passado proposta de prorrogação do mandato presidencial para cinco anos e o fim do mecanismo da reeleição.

Na sabatina desta terça-feira, o presidenciável voltou a se colocar como único candidato capaz de preservar as conquistas dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva:

— O Brasil não aguenta mais essa disputa em que o PT diz que o PSDB não fez nada pelo Brasil, e isso não é verdade. E o PSDB diz que o PT é um partido cheio de corrupto que não fez nada pelo Brasil, o que é outra inverdade.

Questionado sobre a sua estratégia de poupar de ataques Lula, de quem foi ministro, e centralizar as críticas na gestão da presidente Dilma Rousseff, Campos alegou que não pode debater com quem não é candidato.

— Se o PT tivesse escolhido o presidente Lula como candidato a presidente, nós, eu e Marina (Silva), estaríamos aqui discutindo com ele com a maior a tranquilidade do mundo.

Mas, para o candidato do PSB, Lula teve um desempenho superior ao de sua sucessora.

— Agora dizer que o governo Lula não foi muito melhor do que esse governo de Dilma seria negar a realidade — declarou Campos.

O presidenciável foi cobrado também a se manifestar sobre o escândalo do mensalão:

— É semelhante ao que eu acho sobre o escândalo da compra de votos no Congresso da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Acho isso horror — resumiu.

Na avaliação dele, o mensalão é um assunto que não permite mais discussão porque já foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF):

— Sempre defendi a mais dura apuração desse processo.

O candidato do PSB tentou se distanciar do escândalo, apesar de fazer parte do ministério de Lula quando o mensalão veio à tona, em 2005, afirmando que tinha divergências com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

— Ele foi contra a minha nomeação para o ministério de Ciência e Tecnologia, em 2004 — alegou.

Ainda durante a sabatina, Campos falou sobre a sua proposta de campanha de implantar o passe livre no sistema de transporte para estudantes.

— Tem muito estudante pobre que precisa ter passe livre. Aí a gente tem que fazer escolhas. Entre subsidiar os juros para as grandes empresas e arrumar a passagem para o estudante da periferia chegar à escola, nós vamos optar pela educação integral e pelo passe livre — afirmou.

Ao final do encontro, ao ser questionado sobre custos e detalhes do projeto, o candidato disse que a proposta ainda está sendo estudada.

— O governo federal sob a nossa liderança terá solidariedade com as prefeituras e com os governos estaduais para implantação do passe livre. Agora, o detalhamento disso estará no programa de governo — concluiu ele.

Campos compara mensalão à aprovação da emenda da reeleição

• Candidato do PSB diz que o escândalo ocorrido no governo Lula é um "horror" tanto quanto votação que permitiu segundo mandato

Isadora Peron, Ana Fernandes e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, comparou nesta terça feira, 15, o escândalo do mensalão do governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva ao da compra de votos para a reeleição no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. "Acho os dois casos um horror", disse Campos, durante sabatina organizada pelo jornal Folha de S. Paulo, pelo portal UOL, pela rádio Jovem Pan e pelo SBT.

Campos era ministro do governo Lula quando o esquema do mensalão foi revelado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB), em junho de 2005. Um mês depois, voltou à Câmara dos Deputados para defender o governo das acusações da oposição.

O candidato disse que sempre defendeu a apuração do caso e fez questão de ressaltar que não fazia parte do grupo político do ex-ministro José Dirceu, então chefe da Casa Civil, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. "Depois que a Suprema Corte do País julgou que houve crime, não tem mais o que ficar discutindo."

Questionado sobre sua boa relação com Lula, o candidato fez questão de diferenciar o embate neste pleito, dizendo que sua adversária é a presidente Dilma Rousseff. E criticou a gestão da petista, dizendo que ela fez uma gestão pior do que seu antecessor. "O País quer mudar e vai tirar Dilma (da Presidência)."

Campos disse disse estar "tranquilo" com a posição de sua campanha nas pesquisas até agora. "Estou tranquilo de que estamos fazendo o que a sociedade espera do nosso campo político", disse. Para o candidato, sua chapa com a ex-ministra Marina Silva na vice é a opção "progressista" nas eleições deste ano.

"O que o Brasil não aguenta mais é essa disputa em dizer que o PSDB não fez nada pelo Brasil e o PSDB dizer que no PT só tem corruptos e que o partido não fez nada pelo Brasil", afirmou Campos. Mas evitou a classificação de "terceira via". "Não somos terceira via, somos a via para tocar o Brasil em frente."

Na entrevista, o candidato repetiu ser contrário à reeleição e favorável a um mandato de cinco anos. Segundo ele, se for eleito, deixaria de se candidatar pela segunda vez. "Não tenho pretensão de ser candidato à reeleição."

Dilma é a primeira a entregar o país pior do que recebeu, diz Campos

Gabriela Terenzi, José Marques – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em sabatina promovida pela Folha, UOL, Jovem Pan e SBT nesta terça-feira (15), o candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB) afirmou que a presidente Dilma Rousseff (PT) é a "primeira que entrega o país pior do que recebeu".

"Ela não teve capacidade política de entender a importância histórica dela nesse momento. Que era de preservar as conquistas sociais alcançadas pelo país. E ela que se dizia a gerente, a desenvolvimentista, vai entregar o menor crescimento. Disse que iria reduzir os juros e entrega os juros altos", disse o ex-governador de Pernambuco.

"Sinceramente, ela vai ficar reconhecida por entregar o país pior do que recebeu. Itamar Franco entregou melhor, Fernando Henrique Cardoso e Lula também."

Na plateia do Teatro Folha estavam presentes a candidata à vice-presidência Marina Silva (PSB) e o candidato a vice-governador de São Paulo Márcio França (PSB).

Na entrevista conduzida pelos jornalistas Ricardo Balthazar (Folha), Josias de Souza (UOL), Kennedy Alencar (SBT) e Patrick Santos (Jovem Pan), Campos frisou que não quer ser um crítico de oportunidade e elogiou conquistas das gestões de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT).

"O que não dá é essa disputa em que o PT diz que o PSDB não fez nada e o PSDB disse que o PT só fez corrupção", disse.

O pessebista, porém, tentou se desvincular do governo Dilma. O PSB rompeu com o governo federal no final de 2013.

"Nós discutimos candidatura própria em 2010. Os apelos do presidente Lula nos levaram a apoiar Dilma em 2010. Mas nós colocamos com muita clareza desde o início de 2011 nossas críticas à presidente", afirmou.

O ex-governador foi questionado acerca do trabalho dos ministros do PSB que ocuparam cargos em ministérios até o rompimento da aliança.

Como exemplo, foi citado o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, cuja pasta era responsável pela obra de transposição do Rio São Francisco. Em discursos no Nordeste, Campos frequentemente afirma que Dilma não entregou o que prometeu na região e cita a obra.

"A responsabilidade política é dela. Se fosse só essa obra, o ministro teria uma responsabilidade maior, mas estou falando de várias obras aqui", respondeu o ex-governador.

Lula
Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, o pessebista evitou criticar a gestão do então presidente.

"Quem é o candidato do PT à Presidência? Se o PT estivesse disputando com o presidente Lula, eu e a Marina [Silva] estaríamos exercendo o papel democrático de exigir", afirmou.

Ele classificou o mensalão como "um horror", mas aproveitou o momento para criticar também o PSDB: "É a mesma coisa sobre a compra de voto no governo FHC".

"Todos aqui sabem que tinha divergências explícitas com José Dirceu. Agora, eu participava de um governo que foi construído legitimamente, que acertou ao ter humildade em continuar com a política macroeconômico de FHC", completou.

Reeleição
Campos afirmou que defende uma reforma política com mandato de cinco anos, com coincidência entre eleições, e o fim da reeleição.

Questionado se, caso eleito, disputaria por um novo mandato, o pessebista disse que não tem projeto de competir pela reeleição e abdicaria dela um em prol de uma "pauta renovadora" na política.

O candidato é o primeiro entre os três principais a afirmar que poderia acabar com o segundo mandato dos eleitos para o Executivo ainda nos próximos quatro anos.

Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, o senador e candidato Aécio Neves (PSDB) também defendeu o fim da reeleição, mas colocou dúvidas em relação à possibilidade de mudar a legislação em um primeiro mandato.

Alianças táticas
O candidato afirmou que o partido que preside teve que fazer "alianças táticas" para firmar a candidatura e que "não é destruindo o que existe" que haverá mudança na política tradicional.

"Pra chegar vivo aqui, não imagine que foi fácil. Nós tivemos que fazer alianças táticas. A nossa união com Marina foi parte de todo um processo de sobrevivência", disse.

O ex-governador pernambucano foi questionado sobre tentativas de alianças feitas antes da entrada da ex-senadora Marina Silva, atual candidata a vice-presidente na chapa de Campos, no PSB. Foram lembradas conversas com o PDT de Carlos Lupi e com o PTB. Campos disse que houve autocrítica sobre esse momento após os protestos de junho em várias cidades do país.

"Que bom se a presidente tivesse humildade pra assumir os compromissos que ela fez lá em junho", criticou.

Recentemente, o presidenciável criticou caciques do PMDB em palanque e tenta se viabilizar como uma alternativa às candidaturas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). No entanto, o PSB é aliado de candidatos do PSDB, PMDB e PT nos estados.

"Não é destruindo o que existe [que a renovação será feita]. O novo não surge do nada, surge do que existe", afirmou. Segundo ele, mudanças na política não são feitas nos palanques dos estados, mas na "disputa ao planalto" e com "coerência nas alianças".

PPS cobra recuperação do dinheiro desviado no mensalão

Fausto Macedo - Agência Estado

O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), cobrou nesta terça-feira, 15, que a Advocacia-Geral da União (AGU) acelere suas ações para recuperar o dinheiro público desviado no esquema criminoso do mensalão, montado no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O argumento central do parlamentar é a nova denúncia da Procuradoria da República contra o doleiro Alberto Youssef, acusado por lavar pelo menos R$ 1,16 milhão do mensalão. Youssef é alvo da Operação Lava Jato.

Segundo a Procuradoria, Youssef lavou parte do dinheiro que teria sido destinado ao deputado José Janene, líder do PP na Câmara na época em que os operadores do mensalão distribuíram dinheiro para aliados do governo. Janene morreu em setembro de 2010.

"Já se passaram quase 10 anos, a quadrilha já foi condenada e presa e, no entanto, a AGU, apesar de ter iniciado processos, não conseguiu recuperar nenhum tostão", adverte Rubens Bueno. "Agora o Ministério Público Federal aponta um novo duto de lavagem desse dinheiro e espero que os advogados do Estado brasileiro passem a atuar em conjunto com os procuradores e a Justiça para recuperar esse dinheiro."

Segundo a denúncia da Procuradoria da República, o doleiro lavou pelo menos R$ 1,16 milhão de um total de R$ 4,1 milhões repassados pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão, ao então deputado federal José Janene (PR).

A lavagem do dinheiro do Mensalão consistiu no repasse de recursos para uma empresa de Londrina, no Paraná.

Para o deputado Rubens Bueno, que é membro titular da CPMI da Petrobras, é provável que esse tipo de esquema não tenha encerrado com o fim do mensalão. "Pelo que estamos apurando até agora na CPMI da Petrobras já dá para perceber que parte dos recursos de contratos superfaturados eram transferidos para empresas como a Sanko Sider e MO Consultoria, esta pertencente ao doleiro Youssef. Para aprofundar a investigação, temos que quebrar, urgentemente, os sigilos bancário, fiscal e telefônico dessas e de outras empresas", defendeu o líder do PPS na Câmara.

A Sanko Sider nega ter recebido valores ilícitos. "Somos uma empresa com 18 anos de mercado, um nome e uma marca a zelar. Confiamos na Justiça e nas investigações que comprovarão nossa lisura."

Dilma inicia campanha com a CUT 'como nos velhos tempos'

• Comício de abertura no dia 31 de julho em São Paulo lembrará as origens do PT

Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO — A CUT será a anfitriã do primeiro grande comício da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, no dia 31 deste mês, em São Paulo. Na semana seguinte, Dilma fará outro evento para reunir as centrais sindicais UGT, CGTB, UST e CTB. Os petistas esperam levar também a esse segundo comício a “ala dilmista” da Força Sindical, segunda maior central do país cujo comando apoia o tucano Aécio Neves.

A ideia, ao fazer um ato de largada com os sindicatos, é aproximar a campanha petista de sua origem e tentar garantir uma “onda vermelha”, antes do começo da propaganda eleitoral de televisão.

Dilma evita corpo a corpo
A campanha da presidente, no entanto, deve ser marcada por poucos eventos de rua. Os seus coordenadores estimam que, além desses dois comícios, serão realizados mais cinco ou seis e que, dificilmente, Dilma fará caminhadas nas grandes cidades.

A presidente foi convidada para participar de evento do gênero nesta sexta-feira, em São Paulo, com o candidato do PT ao governo, Alexandre Padilha, mas não irá. A justificativa, que será repetida durante toda a campanha, é que, “por questão de segurança”, a presidente não pode se expor dessa forma em público.

A campanha priorizará as gravações para a TV e vídeos curtos de Dilma para serem divulgados em sites, blogs, e redes sociais, principalmente. Além da questão de segurança e da falta de tempo — já que a presidente tem de governar e pedir votos ao mesmo tempo — para a realização de comícios, o PT quer evitar saias-justas nos estados onde há conflitos regionais. No Rio, não se decidiu ainda o que fazer. Possivelmente, disse um integrante da coordenação, a solução será fazer eventos que reúnam artistas e intelectuais num palanque, como em 2010, em vez de se reunir com os candidatos ao Palácio da Guanabara.

O fato de Lula estar disposto a rodar o país fazendo campanha também pesa na decisão de fazer poucos comícios com Dilma. A estratégia será fazer o ex-presidente subir no maior número de palanques possível, priorizando os dos candidatos do PT. No Rio, afirmou um dirigente, poderá haver, no mesmo dia, um ato de campanha de Dilma com movimentos sociais, e de Lula com Lindbergh Farias (PT), senador que concorrer ao governo.

Em reunião da coordenação, segunda-feira, o núcleo político fez uma avaliação da Copa do Mundo e do sucesso de sua realização no Brasil.

— Foi o fracasso total da torcida contra e dos agourentos — disse um integrante.

A Copa, porém, deixará de ser central no debate político, concluíram os dirigentes. A partir de agora, a tônica será a economia e as propostas de governo.

O presidente do PT, Rui Falcão, negou que o ex-ministro Franklin Martins deixará a campanha e disse que o post que ele publicou no site “Muda Mais”, com críticas à CBF, não foi motivo de estresse entre os integrantes da coordenação.

— Faz parte de qualquer campanha a divergência de ideias. Todo mundo pode divergir, eu, a presidente Dilma, qualquer um. Isso não significa crise, tensão, fogo amigo. Não causou desunião, nem o afastamento de ninguém — disse Falcão.

Lula fala nas redes sociais
O presidente do PT afirmou que o episódio foi superado e que não haverá, por iniciativa do partido, nenhum tipo de filtro ou controle nos textos publicados nos sites da campanha.

— Não tem censura, não existe controle de conteúdo. Isso seria contrário à vida dos sites — afirmou o presidente.

A campanha de Dilma usou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas redes sociais e no WhatsApp, para criticar o discurso apartidário adotado por grupos que foram às ruas protestar no ano passado e durante a Copa do Mundo.

— Se a gente quiser mudar a política, só tem um jeito: é entrando nela. Porque, negando ela, tudo vai ficar pior — afirmou o ex-presidente em vídeo gravado pelo Instituto Lula.

O ex-presidente citou o início da sua formação sindical quando, aos 23 anos, também negava a representação partidária. Para Lula, a “desgraça de quem não gosta de política” é ser governado por “aqueles que eles acham que são ladrões”:

— A desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta. Então, fica na rua protestando, dizendo que nada vale a pena, que está tudo errado, que ninguém presta. E não faço nada, e não entro para disputar o jogo. Não coloco a minha cara. Não vou eu ser candidato para provar que sou capaz de fazer melhor do que aqueles que eu critico, a política continua a mesma. Então, eu digo para a juventude: a desgraça de quem não gosta de política é (ser) governada por quem gosta. E se quem gosta for sempre a minoria, significa que a maioria bem intencionada, a maioria que nega tudo, é sempre governada por aqueles que eles acham que são ladrões, por aqueles que eles acham que são espertos.

(Colaborou Renato Onofre).

Juízes para a Democracia condenam ‘repressão às mobilizações populares’

Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Juízes para a democracia condenam a “intensificação da repressão estatal às mobilizações populares”. Em nota da entidade que os representa, os magistrados repudiam “a prisão de manifestantes antecedente à prática de fato pelo qual possam ser responsabilizados, a prisão de advogados que lhes assistem, de educadores por posicionamento filosófico-ideológico, de jornalistas-documentaristas de manifestações, a detenção de pessoas a pretexto de testemunharem a execução da ordem judicial de prisão e a exposição de pessoas presas temporariamente”.

A Associação Juízes para a Democracia é uma entidade “não governamental e sem fins corporativos, que tem por finalidade estatutária o respeito absoluto e incondicional aos valores próprios do Estado Democrático de Direito”.

A nota é subscrita pelo juiz André Augusto Salvador Bezerra, presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia. Os magistrados avaliam que “a prisão temporária sem individualização de condutas e sem explicitação dos fatos que a legitima viola a lei na qual se fundamenta”.

“A custódia com base em eventos futuros e incertos denota cerceamento da liberdade antecedente a prática de qualquer ilícito, viola os princípios constitucionais de liberdade de expressão e reunião e coloca o poder Judiciário em situação de subalternidade e auxílio à arbitrariedade policial, quando seu papel é o de garantidor de direitos.”

Os juízes para a democracia entendem que “a prisão indiscriminada de advogados, sob o fundamento de associação criminosa aos seus clientes, viola prerrogativa de atividade essencial para a Justiça”.

“Ainda que advogados tenham sido sequestrados e torturados durante a ditadura empresarial-militar de 1964 não se tem registro de que algum tribunal, mesmo manietado pelo regime, tenha tido a ousadia de decretar prisões em razão de exercício profissional”, alerta André Bezerra.

Ele alerta que a Constituição, em seu artigo 133, impõe que o advogado é indispensável à administração da Justiça, “sendo inviolável por seus atos e manifestações”.

“No âmbito de sua atividade profissional, ainda que no seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.”

Para a Associação Juízes para a Democracia, o Judiciário não pode ser instrumentalizado para a supressão de direitos da sociedade. “Pelo contrário, à atividade jurisdicional é constitucionalmente atribuída independência perante os demais poderes do Estado para assegurar os direitos democráticos dos cidadãos.”

A entidade “pugna pela liberdade de expressão e reunião, repudia prisões antecedente a fatos que as justifique, bem como prisões sem individualização de conduta ou destituída de provas, e conclama pela garantia dos valores constitucionais, cuja asseguramento é papel do Judiciário”.

Campanha de Dilma dá prioridade a eventos fechados

• Com popularidade em baixa, presidente vai participar de comícios com diferentes grupos sindicalistas no começo da disputa

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O comitê da reeleição decidiu blindar a presidente Dilma Rousseff da campanha de rua nessa largada da disputa. Com a popularidade em baixa, Dilma participará mais de eventos fechados e de meia dúzia de comícios, mas seu primeiro compromisso de campanha será com sindicalistas, em São Paulo. Para "vender" a imagem da presidente que está "ao lado do povo", Dilma vai vestir o figurino de candidata na plenária da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no próximo dia 31, organizada sob medida para enaltecer os feitos do governo.

A estratégia de aproximação com os movimentos sociais não para aí. No dia 7 de agosto, Dilma receberá o apoio de dirigentes de cinco centrais num megaencontro marcado para o Ginásio da Portuguesa. Até um grupo da Força Sindical, entidade que aderiu à campanha do candidato do PSDB, Aécio Neves, reforçará o coro pró-Dilma. O ato reunirá, ainda,

dirigentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), da Conlutas, da Nova Central e da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Irritada com a rede de intrigas e o fogo "amigo" que tomaram conta do núcleo de sua campanha, Dilma pediu ao presidente do PT, Rui Falcão, que acalme o partido e abafe as divergências na equipe. A ordem é investir na divulgação de números positivos do governo e polarizar cada vez mais a disputa com Aécio.

Na eleição de 2010, a então candidata do PT teve apoio quase unânime de todas as centrais. Nos últimos tempos, porém, a presidente sedistanciou dos movimentos sociais e enfrentou protestos. O temor do comitê da reeleição é que Aécio e o candidato do PSB, Eduardo Campos, ganhem espaço nesse terreno, que tradicionalmente sempre foi fiel ao PT.

Coordenador da campanha, Falcão procurou amenizar, nesta terça, 15, a queda de braço no comitê da reeleição, que já preocupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a semana passada há tensão e mal estar no Palácio do Planalto e no comitê com o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação de Lula e responsável pelo monitoramento das redes sociais na equipe de Dilma. Motivo: o site "Muda Mais", sob a responsabilidade de Franklin, publicou no dia 9 um post com fortes críticas ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin.

Dilma não gostou e o comitê foi alvo de rumores de que Franklin -- em rota de colisão com o marqueteiro João Santana -- entregaria o cargo, o que não ocorreu. Na prática, Franklin e Santana têm várias discordâncias sobre como conduzir a comunicação da campanha. "Houve uma divergência momentânea, totalmente superada", afirmou Falcão. "Ter ideias diferentes faz parte de qualquer campanha. Isso não significa crise. Temos todos uma relação de respeito, sem estresse". O presidente do PT negou que, a partir de agora, as publicações do site "Muda Mais" tenham de passar pelo seu crivo ou pela análise de Dilma. "O Muda Mais não tem autocensura nem é controlado pelo PT", insistiu Falcão.

FHC para Lula: o Brasil se cansou de ataques infundados

- Observador Político

Lula insiste em dizer que houve corrupção “escondida” no meu governo. Cita comumente dois episódios em sua assertiva: o caso SIVAM e a compra de votos na aprovação da emenda da reeleição, assuntos ocorridos há quase duas décadas, e que foram esmiuçados e devidamente esclarecidos na época. Eis o resumo deles:

a)O Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) foi aprovado durante o governo Itamar Franco, em 1993, através do Conselho de Defesa Nacional. Desse Conselho, então Ministro da Fazenda, eu não participava. Em 1994, o governo contratou a empresa norte-americana Raytheon para executá-lo. Em 1995, já no meu governo, gravações de conversas telefônicas, previamente autorizadas pela Justiça, mostravam o suposto envolvimento de um assessor presidencial efetuando tráfico de influência na implantação do SIVAM. Trazido à tona pela Revista Isto É, o caso se tornou notório, causando crise política. Injuriado, o Ministro da Aeronáutica pediu demissão. A investigação do caso foi exaustiva no Executivo, através de Comissão de Sindicância interna da Presidência, Comissão de Inquérito do Itamaraty e Procuradoria Geral da República. Sindicância da Polícia Federal não comprovou a suspeita inicial. O TCU instaurou 16 procedimentos, incluindo 6 auditorias, tendo em dezembro de 1996 considerados “regulares os procedimentos adotados pelo Ministério da Aeronáutica”. No Senado, relatório de avaliação, finalizado em fevereiro de 1996, não apontou irregularidades. Na Câmara dos Deputados, uma CPI se completou sem comprovar nada ligado à corrupção. Os detalhes dessa história foram por mim relatados em meu livro “A Arte da Política (A história que vivi)”, nas páginas 270 a 276. (ver abaixo)

b)A Emenda Constitucional nº 16, que permite a reeleição dos chefes de Executivo no Brasil, foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1997. Na Câmara dos Deputados, o primeiro escrutínio se realizou em 28 de janeiro de 1997, mostrando 336 votos a favor, 17 contra, com 6 abstenções; no segundo turno, o resultado foi de 369 a favor, 111 contra, com 5 abstenções. O quorum mínimo para aprovação de PEC, de três quintos, exige 308 votos. Era larga, portanto, a margem de aprovação. Em 13 de maio, antes da votação no Senado, o jornal Folha de S Paulo publicou trechos de gravações indicando que cinco deputados federais do Acre – Ronivon Santiago, João Maia, Zila Bezerra, Osmir Lima e Chicão Brígido – teriam recebido R$ 200 mil cada um para votar a favor da reeleição. Nenhum era do PSDB. Um misterioso “Senhor X”, que mais tarde se soube ser o ex-deputado acreano Narciso Mendes, teria gravado as fitas. A matéria diz que um dos deputados se referiu ao Ministro das Comunicações, Sergio Motta e aos governadores do Acre e do Amazonas (pois a reeleição caberia também para governadores e prefeitos). O Congresso abriu sindicância para apurar os fatos. Em 21 de maio os deputados Ronivon Santiago e João Maia renunciaram aos seus mandatos. A CCJ abriu processo por quebra de decoro parlamentar contra os demais deputados, não encontrando, porém, provas para encaminhar a cassação. Nenhum outro deputado sofreu processo investigatório. Não houve acusação formal ao Ministro Sérgio Mota que, mesmo assim, espontaneamente foi depor na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Ninguém mais do governo precisou se manifestar. Em meu livro, já citado, esmiúço essa história entre as páginas 284 a 305. (ver abaixo)

Falando à imprensa no último dia 02 de julho, Lula avançou suas declarações habituais, arrolando outros dois casos para atingir minha honra. O primeiro deles é insignificante: trata-se da revogação, feita por mim, de um Decreto que instituíra uma inoperante comissão de fiscalização pública. Em seu lugar, criamos o Conselho de Ética, que até hoje funciona. Ou seja, meu governo aperfeiçoou o controle da conduta dos funcionários públicos.

O segundo, mais evidenciado, se referia à “pasta rosa”, uma lista de supostas doações de campanha efetuadas pelo Banco Econômico, referente às eleições ocorridas em 1990. O documento foi encontrado após a intervenção federal no Banco, em agosto de 1995, e continha o nome de 49 políticos, supostamente financiados de forma irregular. Entre eles se encontravam ACM, José Sarney, Renan Calheiros, Benito Gama. O presidente do Banco, Ângelo Calmon de Sá, acabou indiciado, por outros motivos, pela Polícia Federal. Em fevereiro de 1996, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, pediu o arquivamento do inquérito sobre as doações irregulares por falta de provas.

Tem sido assim há anos, desde quando estourou o escândalo do mensalão. Aliás, em nenhum momento Lula explicou de forma detalhada os acontecimentos que levaram ao maior escândalo de corrupção da história republicana, caracterizando-o, na época, como um simples problema de caixa 2, ocorrido às suas costas. Noutro dia, no exterior, chegou até a dizer que os principais envolvidos nem eram pessoas de sua confiança. Omitiu-se por completo.

Para se defender, Lula ataca. Jamais se explica, sempre acusa. Acostumado a atirar pedras, Lula é incapaz da autocrítica. Quando deveria, de forma rigorosa, abominar a prática da corrupção, ele tenta distrair a opinião pública jogando culpa nos outros. Ora, a grandeza de um líder está em assumir a responsabilidade, por si e por sua equipe, dos possíveis erros cometidos, buscando corrigi-los e superá-los, não em levantar suspeitas sobre outrem com o claro objetivo de se esquivar de seus compromissos éticos e políticos.

Ainda recentemente, quando em viagem para Johanesburgo, ao conversarmos sobre o mensalão, disse-lhe que deveria virar esta página, já julgada pela Suprema Corte. Mas não, Lula insiste em continuar distorcendo fatos para dizer que todos fizeram algo parecido. Eu não caio nessa cilada.

Aproveito para renovar a proposta que lhe fiz naquela ocasião: por que não nos juntamos para corrigir o que de malfeito há na vida política brasileira, em vez de jogar pedras uns nos outros? O Brasil se cansou de ataques infundados. O país percebe que seu futuro depende de decisões honestas e corajosas, entre as quais a de evitar que o debate eleitoral se restrinja a baixarias e falsas acusações.

Merval Pereira: Oposição ou dissidência?

- O Globo

Criticar até não poder mais o governo da presidente Dilma, para marcar uma posição oposicionista, mas poupar o ex-presidente Lula, para não perder os votos de petistas desiludidos com o governo, pode estar dando uma caráter dúbio à candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, mas ele está convencido de que esta é a estratégia mais adequada.

Foi bastante explícito sobre isso numa declaração à revista “Piauí”, quando afirmou que não criticava Lula porque esperava que muitos eleitores do PT o escolhessem como alternativa a Dilma.

Ontem, em debate promovido por “Folha de S. Paulo”, UOL e rádio Jovem Pan, insistiu em que discutir com Lula era uma armadilha em que o PSDB está caindo:

“Você acha que eu vou entrar nessa do PSDB, de ficar debatendo com o Lula?”, indagou. “Nós vamos ficar fazendo debate com quem não é candidato?”.

Por trás dessa tentativa de dar um ar estratégico à sua postura, o que Campos esconde é o objetivo de ser trocado por Dilma como candidato petista à Presidência, situação semelhante à que acontece hoje em São Paulo, onde o candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, está sendo “cristianizado” em favor do candidato do PMDB, Paulo Skaf.

A diferença, além de que Dilma está na liderança nas pesquisas, e Padilha não consegue decolar, é que o presidente licenciado da Fiesp não quer se confundir com o PT nem com Dilma, embora evidentemente não renegue eventuais votos de petistas dissidentes.

Já Campos gostaria de ser ligado a Lula para dar efetividade a seu plano de se transformar na terceira via da eleição presidencial, mas, ligando-se indiretamente a Lula, tem perdido o caráter de oposição, papel que deixou para o candidato do PSDB Aécio Neves, para ser quase um dissidente. Opor-se ao PT e a Dilma, mas aspirar a ser um herdeiro presuntivo do lulismo, pode ser uma tarefa excessivamente sutil para o eleitorado.

A tentativa de quebra da polarização entre PT e PSDB na disputa presidencial é estudada pelo cientista político da PUC-Rio Cesar Romero Jacob, que é cético quanto ao êxito dessa empreitada, pois, desde a redemocratização, não há repetição de uma terceira via solidamente implantada no território, que é onde, segundo sua definição, faz-se a política, com máquina, militância, uma ação no plano do territorial.

A terceira via tem sido questão muito episódica, lembra Romero Jacob.

Em cada eleição houve uma preponderância: Brizola era bem votado no Rio e no Rio Grande do Sul. Enéas, no entorno metropolitano. Ciro Gomes era centrado no Nordeste. Garotinho, no Rio e nos territórios evangélicos.

Desta vez, quem aparece nesse papel é Campos, porque a exsenadora Marina Silva, a candidata da terceira
via de 2010, apesar da excelente votação que teve (20% dos votos) não conseguiu organizar seu partido a tempo de concorrer e entrou no PSB como candidata a vice.

De maneira indireta, ela confirma a tese de Romero Jacob de que os candidatos da terceira via sofrem de uma espécie de maldição que pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais.

Ninguém emplacou na eleição seguinte. Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%. Em 1998, foi vice de Lula e terminou a carreira política sendo derrotado para senador. Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e, em 2002, candidatou-se a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas, em 2006, candidatou- se a deputado federal. Garotinho tenta retomar o protagonismo e disputa o governo do estado,
depois de ter sido deputado federal.

Isso se deve, segundo o cientista político, ao peso de São Paulo no jogo eleitoral: o estado tem um terço do PIB nacional e um quarto do eleitorado, e os partidos solidamente implantados em São Paulo são o PSDB e o PT, o que, para ele, condiciona o resto.

Por isso, Campos resistiu à oposição de Marina e decidiu participar da coligação para a reeleição do governador Geraldo Alckmin em São Paulo. E também por isso o candidato do PSDB Aécio Neves escolheu o senador Aloysio Nunes Ferreira para seu vice, um paulista para trabalhar o eleitorado do estado e não deixar que a chapa “Edualdo” (uma associação de Eduardo com Geraldo) tenha vida fácil.

Dora Kramer: Cada pingo com seu i

- O Estado de S. Paulo

Graças à existência de um fator chamado massa crítica a presidente Dilma Rousseff pode comemorar a realização de uma Copa do Mundo muito bem-sucedida, mesmo tendo o Brasil levado uma lavada histórica dentro de campo e fora dele o governo deixado de cumprir boa parte dos compromissos assumidos em relação ao "legado" de infraestrutura.

Expectativa lá embaixo, resultado lá no alto.

Houve improvisos, houve atrasos, houve superfaturamento e isso está demonstrado nos números, seja pela quantidade de obras que ficaram pelo caminho ou que ainda não foram entregues, seja pelos custos muito superiores aos previstos. Tudo isso foi apontado e o conjunto da ópera não autorizava ninguém a fazer uma previsão otimista.

Saiu tudo muitíssimo melhor que a encomenda? Ótimo. A ninguém satisfaria hoje contabilizar desastres e lamentar episódios que pudessem nos transformar em objeto de vergonha mundial. O sentimento de regozijo é compartilhado como se pode constatar em todos os veículos de comunicação.

Não há, portanto, razão para a presidente da República dizer, como se fosse marechal de espada em punho diante do batalhão, que derrotou os "pessimistas".

Não houve derrotados porque ninguém estava disputando coisa alguma; nem havia pessimistas, mas uma imprensa, no Brasil e no mundo, acompanhando os preparativos com olhos realistas e espírito crítico aguçado. Como deve ser. Diferente ocorreu na área da imprensa esportiva onde, salvo as exceções de praxe, imperou o otimismo. Cronistas mais experientes mantiveram-se com o regulamentar pé atrás. Mas, no geral, o tom foi de submissão aos ditames do "comando".

A convocação do time aceita sem contestações e o mantra "já estamos com a taça na mão", agora analisado como sinal de prepotência, abraçado com naturalidade. De que adiantou mesmo tanto otimismo? Não se construiu nada com ele. Só uma expectativa lá no alto para um resultado lá embaixo.

Nem por isso é cabível dizer que houve "derrota dos otimistas". Não disputavam. Talvez tenham apenas se intimidado de ir contra corrente e, assim, passarem a integrar o índex dos "pessimistas" aos quais parecia haver certa obrigação de fazer um contraponto.

Tudo normal se a gente entender que a benevolência do elogio não garante êxito nem tampouco o exercício da crítica contundente significa aposta no fracasso.

Contraste. O estado de espírito da presidente Dilma Rousseff em ambientes fechados é muito diferente daquele exibido quando exposta ao público. Que o digam os sorrisos durante a cerimônia do balanço da Copa em contraposição ao semblante fechado no Maracanã. Em nada parecia a representante de um País cuja alegria da população era celebrada como um dos trunfos dessa Copa.

Gente bronzeada. Você conhece alguém que já foi "pesquisado" sobre intenção de voto? A pergunta é recorrente, decerto pela dimensão reduzida da amostragem em relação ao universo ao nosso lado.
Já a pesquisa sobre o grau de satisfação dos visitantes estrangeiros com a Copa é de facílima constatação. Não só pelo amplamente noticiado, mas pelas histórias que cada um tem para contar comprovando a aprovação de 95% sobre a hospitalidade brasileira apontada na pesquisa do Datafolha.

A minha veio da Austrália. Um grupo de 10 jovens, cujas impressões bem resumidas são as seguintes: paisagem impecável, comida esplêndida e variada (só detestaram goiabada, mas adoraram churrascarias rodízio), povo de primeira no quesito amabilidade, moças lindas e rapazes "muito abusados".

No dia da final, vestidos com a camisa da Austrália, verde-amarela como a do Brasil, foram hostilizados por argentinos e, se antes estranhavam a torcida contra, saíram daqui entendendo perfeitamente a razão da pinimba.

Fernando Rodrigues: Padrão pós-Copa

- Folha de S. Paulo

O futebol volta à vida real nesta quarta-feira (16). O Campeonato Brasileiro será retomado. Os jornais publicarão depois as estatísticas dos estádios, todos com menos público do que na Copa. Os os jogos são às 22h por determinação da TV patrocinadora do evento.

Haverá uma certa ressaca. Dilma Rousseff sabe disso. Resolveu então começar a semana reunindo mais de 15 ministros para martelar que esta foi a Copa das Copas. O slogan é um jogo de palavras um pouco infantil e ingênuo. No século 21, Copa é igual a computador: sempre haverá um melhor e mais atraente a cada quatro anos. Só que numa campanha eleitoral, às vezes ganha quem ocupa espaços, sintetizando ideias e repetindo uma versão "ad nauseam".

O problema é a realidade. A do futebol é uma delas. Assisti a cinco jogos da Copa do Mundo no estádio Mané Garrincha, em Brasília. É uma edificação melhor do que eram as arenas pré-Copa? Claro que sim. Custou R$ 1,4 bilhão (valor oficial). Mas o acabamento é de quinta categoria. Vi várias portas quebradas nos banheiros --não por vandalismo. O material é de péssima qualidade. Havia exemplos por todos os lados.

No aeroporto de Brasília, o piso na segunda-feira à noite pós-Copa já estava imundo. O local continua em obras. Durante o torneio houve a preocupação de lustrar o que era possível. Agora, nos guichês das companhias aéreas já há menos gente trabalhando. Padrão pós-maquiagem.

É evidente que alguma coisa ficará do torneio hospedado pelo Brasil. Estádios novos, algumas obras de mobilidade urbana, aeroportos quase prontos. E a memória dos brasileiros do mês de semiférias coletivas no país, com vários feriados sucessivos para que tudo pudesse funcionar.

Para efeito eleitoral, o impacto ainda está para ser apurado. Dilma tenta faturar enquanto pode. Faz parte. Só não está claro o quanto os brasileiros vão comprar dessa versão tão edulcorada sobre a Copa das Copas.

Rosângela Bittar: Sangria de votos

• O PT ainda vê recuperação via esquema tático

- Valor Econômico

Considerando apenas três Estados, dos mais importantes, cujo arranjo eleitoral foi mal resolvido, evidencia-se para o PT a necessidade de aplicar, em todos eles, um bom esquema tático para suprir o mau planejamento estratégico na fase preliminar. O Partido dos Trabalhadores não demonstrou competência nesse quesito, até o momento, e deixou que se avolumassem seus problemas em região onde habita parte substantiva do eleitorado.

A opção preferencial de Lula, no comando de fato do seu partido desde a primeira candidatura vitoriosa, foi segurar o poder federal da forma possível, com qualquer tipo de aliança, da extrema direita à extrema esquerda, deixando que nos Estados a natureza política, incontrolável em se tratando das forças regionais, determinasse as associações como quisesse.

Ainda há, presentes no cenário de hoje, testemunhas conhecidas de um jantar organizado por amigos de Lula, na fase preparatória das eleições de 2002, somente para que anunciasse, na sala apinhada de políticos e jornalistas, que sem alianças a torto e a direito não seria mais candidato a nada, o PT que se virasse e resolvesse se queria perder ou ganhar.

Contrariando os seus próprios desígnios, o ex-presidente, certamente acreditando que o poder federal já estava bem seguro, resolveu fazer o contrário do que mandava e adotou, em 2014, a estratégia de dar força às chapas petistas em confronto com aliados nos Estados. Certamente não contava com a astúcia do PMDB, partido que Lula esperou segui-lo como carneirinho. O PT acabou ficando mais isolado do que imaginava e agora não dá mais para refazer o caminho, terá que ir à frente com um plano tático competente para o próximo período da campanha.

No Rio, o PT pagou para ver e quase ficou a ver. O candidato Lindbergh Farias (PT) apostou na desgraça eleitoral que parecia ter encontrado morada junto ao ex-governador Sergio Cabral e imaginou que fosse fácil ocupar integralmente o espaço. Provou-se que a equação Rio era muito mais complexa que a baixa popularidade de Cabral e o acampamento de manifestantes em frente ao apartamento em que morava. O PT perdeu o PMDB para o candidato Aécio Neves e terá em sua chapa, como candidato ao Senado, um representante do candidato Eduardo Campos, o ex-jogador Romário (PSB), tendo que fazer contorcionismo real para definir-se com alguma nitidez diante do eleitorado.

No Paraná, o PT tem uma candidata forte, Gleisi Hoffmann, nutrida no esquema eleitoral de primeiro mundo da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, e tem também um candidato aliado mais forte ainda no PMDB, Roberto Requião. Será uma humilhação para o partido ter que entregar ao PMDB a candidatura Gleisi Hoffmann (PT), que perdeu muito de sua possibilidade de ir ao segundo turno com o lançamento do candidato próprio do PMDB. Mais provável presença no segundo turno, para disputar com o governador Beto Richa (PSDB), candidato à reeleição, não é impossível, mas difícil, que Requião e Gleisi se enfrentem na segunda etapa. Se isto vier a ocorrer, não se imagina possível a transferência dos votos do atual governador para a candidata petista. Situação ruim por todos os lados.

Em São Paulo ocorreu um fenômeno parecido com o do Paraná, envolvendo também PT e PMDB. Formulador das soluções, o ex-presidente Lula optou por lançar um candidato-poste do PT, Alexandre Padilha, que vinha de uma gestão apagada no Ministério da Saúde. Lula tentou, claramente, repetir o fenômeno Fernando Haddad, que egresso de uma gestão igualmente pálida no Ministério das Educação foi o poste eleito prefeito da capital paulista por obra de Lula.

O ex-presidente confiou, e ainda confia, na sua estrela, mas até agora Padilha não decolou. Sua candidatura foi ferida de morte com o lançamento do candidato do PMDB, Paulo Skaf, ao governo, catapultado pela poderosa máquina da Fiesp, que presidiu e de onde armou durante anos seu lançamento eleitoral.

O problema para o PT é que Skaf, tendo em vista a baixa aceitação do petismo em São Paulo, não quer se identificar com a candidatura Dilma. Nesse caso o inverso constitui um drama maior ainda: Skaf está muito mais à direita do que o PT gostaria de ter na sua aliança, e se for para o segundo turno terá que apoiá-lo no confronto com o candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB).

Skaf tem sua candidatura ancorada em um símbolo entre os adversários históricos do PT, a Fiesp, com quem os movimentos sociais liderados pelo Partido dos Trabalhadores sempre duelaram.

A presidente Dilma terá ainda uma semana de agenda presidencial, com a cúpula dos Brics, e a partir do dia 20 mergulhará na campanha eleitoral. Nos últimos dias, a equipe que trabalha para a reeleição registrou a necessidade de uma recuperação tática, usando para isso o período que vai de agora até o início da propaganda na TV. Para isso, procurou por um negociador, alguém que pusesse o guizo no pescoço do Skaf, do Requião, e de Pezão, numa tentativa de inserir a presidente candidata à reeleição no suposto sucesso que as pesquisas apontam para esse PMDB até agora alforriado. Ontem, o vice-presidente Michel Temer, candidato à reeleição na chapa de Dilma, anunciou que reassumirá hoje a presidência nacional do PMDB, exatamente para tentar evitar riscos para o PT, como os que já correu na convenção nacional que por pouco quase derrubava a aliança. Temer passará, assim, a ter participação em todas as decisões do partido durante o período da campanha. Poderá funcionar como uma barreira às decisões antipetistas que poderiam esvaziar de votos a chapa de que participa.

O PT e o governo dedicam-se, ainda a esta altura, a fazer carga contra a candidatura de Eduardo Campos (PSB). O argumento principal é que a candidatura já se desfez, e ele deveria abrir logo a possibilidade de reintegrar-se ao projeto petista para que Dilma Rousseff volte a ter chances de vitória em primeiro turno. Para o PT, com a propaganda intensa na TV, a candidata à reeleição passará logo dos 40%, e as pesquisas semanais mostrarão que o passe para o poder ficará mais caro. Eduardo Campos, porém, parece estar mouco ao canto de sedução.

Luiz Carlos Azedo: Uma opção estratégica

• O Brasil se distancia dos Estados Unidos e da União Europeia para se aproximar politicamente da Rússia e da China. Perdeu o "complexo de vira-latas", dirão os porta-vozes do governo, mas entra numa briga de cachorro grande

- Correio Braziliense

O Brasil assinou ontem um acordo com a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul — os demais integrantes dos Brics — para a criação do chamado Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com sede em Xangai, cujo objetivo será o financiamento de projetos de infraestrutura em países emergentes. É um contraponto ao Banco Mundial e o coroamento de uma guinada na política externa brasileira iniciada no governo Lula. O NBD terá o capital inicial de US$ 50 bilhões, divididos igualmente entre os membros fundadores.

Além da intensificação das trocas comerciais já existentes, o acordo abre uma nova possibilidade de financiamento para as grandes empreiteiras brasileiras que atuam no exterior, principalmente na África, e para a ampliação das exportações de commodities agrícolas e de minérios. A Índia terá o direito de indicar o primeiro presidente e, a Rússia, o presidente do Conselho de Governadores. O presidente do Conselho de Administração será um brasileiro. A África do Sul sediará o Centro Regional Africano do banco. Haverá rotatividade na presidência da instituição.

O Brasil se distancia ainda mais dos Estados Unidos e da União Europeia para se aproximar politicamente da Rússia e da China. Perdeu o "complexo de vira-latas", dirão os porta-vozes do Palácio do Planalto, mas entra numa briga de cachorro grande: a queda de braço da Rússia com os países da Otan (Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França, principalmente) por áreas de influência no Leste Europeu e a forte concorrência entre os EUA e a China pelo controle dos mercados afro-asiáticos.

Índia e África do Sul são importantes, mas não protagonizam a grande política mundial, atuam como coadjuvantes. Têm, porém, indiscutível peso regional e são players do Hemisfério Sul. O Brasil até agora não havia conseguido chegar a acordos com a Rússia e a China em relação a questões importantes para nossa diplomacia brasileira. Como a indicação de um nome de consenso para presidir o Banco Mundial ou a reestruturação do Conselho de Segurança da ONU, com a entrada do Brasil e da Índia no restrito grupo de países com poder de veto sobre decisões da guerra e da paz no mundo.

Aposta de risco
A presidente Dilma Rousseff fez uma aposta de risco ao aprofundar essa estratégia diplomática, que se sustenta nas contradições Norte-Sul. O acrônimo Bric foi uma criação do economista Jim O"Neil, do Goldman Sachs, num um estudo de 2001 intitulado "Building better global economic Brics". Ele acreditava que Brasil, Rússia, Índia e China, as chamadas potências emergentes, teriam um papel proeminente no desenvolvimento da economia mundial.

O"Neil excluiu a Coreia do Sul e o México desse conjunto por considerar esses países desenvolvidos e plenamente integrados à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), criada em 1948 para gerir a reconstrução europeia (o Plano Marshall), sob os princípios da democracia e da economia de mercado.

O que o economista do Goldman Sachs não previu foi que o líder russo Vladimir Putin agarraria a tese com unhas e dentes para tirar a Rússia do isolamento e formar um novo bloco geopolítico, para o qual foi fundamental a inclusão da África do Sul, cuja economia nem de longe se equipara às dos demais integrantes do grupo. O país de Nelson Mandela, porém, tem um papel estratégico para o reposicionamento da África nas relações Norte-Sul.

Em tese, a formação do banco e a criação do fundo de estabilização de US$ 100 bilhões também são uma vitória da diplomacia brasileira. O novo presidente chinês, Xi Jinping, aderiu ao projeto. Com isso, foram criadas instituições de socorro aos países parceiros em caso de turbulências financeiras à margem do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impõe rigoroso controle de contas públicas e outras exigências para liberar recursos.

Agora, quando governos da América Latina, da África e da Ásia estiverem com problemas temporários no balanço de pagamentos, poderão pedir recursos e recebê-los em dólares; em contrapartida, fornecerão sua moeda aos países contribuintes. Ou seja, a China, responsável por US$ 41 bilhões; o Brasil, a Índia e a Rússia, por US$ 18 bilhões cada; e a África do Sul, que entrou com US$ 5 bilhões.

Essa estratégia brasileira, porém, é objeto de grande polêmica nos nossos meios financeiros, empresariais e diplomáticos, pois distancia o Brasil dos Estados Unidos e da União Europeia. Ainda mais porque o Mercosul, para esses críticos, virou um entrave ao comércio do Brasil com os países desenvolvidos e à própria integração econômica latino-americana.

O recrudescimento dessas críticas decorre do fato de que as economias mais desenvolvidas começam a sair da crise global, enquanto os Brics enfrentam um cenário de baixo crescimento, com exceção da China. Mesmo assim, o gigante asiático, que é a segunda economia do mundo, reduziu o ritmo. Além disso, tornou-se um voraz concorrente da nossa indústria.

Elio Gaspari: Na TV, Dilma terá bons roteiros

• O problema surgirá nos debates, sobretudo se houver segundo turno, com tempos iguais para os dois candidatos

- O Globo

As últimas falas da doutora Dilma, listando realizações num estilo que despreza o fim das sentenças e o encadeamento dos raciocínios, indicam que, durante a propaganda gratuita de televisão, ela estará blindada. Conseguirá despejar uma enciclopédia de números capaz de mostrar os aspectos exitosos de sua administração. Na TV essas informações serão arrumadas por João Santana, e seus efeitos especiais — os 11 minutos e 48 segundos diários, contra 4 minutos 31 segundos e meio de Aécio Neves, e 1 minuto e 49 segundos de Eduardo Campos — farão sensível diferença. Isso no primeiro turno.

Se houver segundo turno, cada candidato terá o mesmo tempo. Pior: nele o debate pesará muito mais, pois será um mano a mano, sem candidatos fazendo perguntas teatrais. Pior ainda: os dois principais adversários da doutora falam com clareza, enquanto ela se perde em estatísticas. Aécio Neves exagera nos adjetivos grandiloquentes. Eduardo Campos, nos adjetivos fáceis. Mesmo assim fazem mais sentido que ela. Sempre vale lembrar que na primeira campanha de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos, o marqueteiro James Carville proibiu-o de pronunciar a palavra “infraestrutura”. Na campanha brasileira pode-se acrescentar que “centro da meta" pode ser a marca do pênalti.

Até hoje, as propostas concretas de Aécio Neves e Eduardo Campos somam benignas platitudes. Aécio quer a “introdução de um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais e de estímulo a toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos”.

Campos quer passe livre em transportes públicos para todos os estudantes. Tudo bem. Passe livre para a garotada da Escola Britânica do Rio? Lá a mensalidade vai a cerca de R$ 4.500. Será que eles precisam? Se é o caso de se prometer gratuidades, porque não entregá-las só a quem pedir? Já a doutora oferece como novidade um Brasil sem burocracia. Logo ela, que tem 25 ministérios e 15 comissários com status de ministros. Ao contrário dos outros dois, a doutora tem o que mostrar e o êxito da Copa lustrou-lhe a imagem de gerentona. (Registre-se o surgimento de uma piada macabra: o novo 7 x 1: sete por cento de inflação e 1 por cento de crescimento. Pelo andar da carruagem, vem aí um 6 x 1.)

Não se pode saber até que ponto as tensões registradas no comissariado da campanha derivam de maus números chegados ao Planalto ou da simples autofagia petista. A doutora já sofreu um processo de corrosão com o “Volta Lula”, não precisa de outro.

A temática oferecida pelas falas de Dilma sugere que sua campanha depende muito das obras e pompas do marqueteiro João Santana e de sua capacidade de administrar o capital do tempo na televisão. Essa tática poderá ser eficiente num primeiro turno. Depois, a eleição será outra. Pelas ansiedades que se percebem no comissariado, usando-se um verbo criado pela psicóloga Maria Regina Brandão, há o risco de o PT “panicar”, como panicou a turma da Granja Comary. Um PT “panicado” seria uma reedição da velha técnica de “partir pra cima”, radicalizando o que for possível radicalizar.

Elio Gaspari é jornalista

José Nêumanne: Felipão, o professor de gestão de Dilma

- O Estado de S. Paulo

Dilma Rousseff disse, em 1.º de julho de 2013, que seu governo tinha o "padrão Felipão", em resposta a uma pergunta sobre se seus ministros tinham "padrão Fifa". Referia-se ao ex-técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari após reunião ministerial depois da vitória sobre a Espanha por 3 a 0 no Maracanã, onde ela seria vaiada várias vezes domingo, na final da Copa, antes e ao entregar a taça ao capitão alemão, Philipp Lahm. A comparação havia sido feita na temporada de protestos nas ruas em que o povo exigiu "padrão Fifa" para a gestão pública federal, nada exemplar. Apesar de ter escolhido o treinador como modelo, ela não foi entregar a Copa das Confederações ao time que ele treinou. Um ano e 13 dias depois, tendo o mesmo time sofrido hecatombes inéditas nos jogos finais da "Copa das Copas", ela o relegou ao ostracismo para se refugiar no verso de um samba de Paulo Vanzolini ("levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima") e na criatividade ("a derrota é a mãe de todas as vitórias").

Dilma não atuou na seleção nem a treinou. Não é também dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas não resiste a recorrer ao dito esporte bretão para parecer simpática. Nascida em Minas, comemorou a conquista da Libertadores da América pelo Atlético Mineiro em 2013 em redes sociais. "Congratulo (sic) com toda a torcida do Atlético pela conquista do título. Eu sou torcedora do Atlético e, quando criança, ia com meu pai a muitos jogos do Galo no Mineirão", postou. Não faltou quem nos mesmos veículos lembrasse que 1) como nasceu em 1947, tinha 18 anos e, portanto, não era criança quando o estádio foi inaugurado; e 2) que o pai morrera em 1962, três anos antes de sua inauguração.

Consta que Clio, a deusa da história, é irônica. Pelo visto, os deuses do futebol também. Em 8 de julho o estádio foi palco da derrota mais humilhante que o Brasil sofreu na história, ao perder de 7 a 1 na semifinal da Copa. Dela o técnico saiu como padrão de incompetência, e não de excelência.

Nenhum torcedor dotado do mínimo de bom senso teria apostado pesado no time de Scolari na Copa: ganhou da Croácia com a ajuda do juiz, empatou com o México contando com muita sorte e ao vencer Camarões passou para as oitavas de final contra o Chile, e não contra a Holanda, por absurdos erros do árbitro, que anulou dois gols legítimos dos mexicanos no jogo de estreia contra os africanos. A trave nos últimos segundos da prorrogação e no último pênalti carimbou o passaporte para as quartas de final contra a Colômbia, que nunca foi páreo para a canarinha nos melhores momentos dela e nos piores desta. O Brasil ficou entre os quatro melhores com a ajuda da sorte e de apito amigo.

Mas na véspera da semifinal contra a temida Alemanha a presidente resolveu apostar todas as fichas de chefe de governo e de Estado e de candidata à reeleição no "padrão Felipão" de excelente gestão. A página oficial da Presidência da República na internet, usada na campanha eleitoral com uma sem-cerimônia só comparável à do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao desconhecer o fato, divulgou sua "conversa" com internautas sobre a Copa. Chamou os adversários de "urubus", condenou o "pessimismo indevido" de um sujeito oculto chamado imprensa, vulgo "mídia golpista", e adotou como mascote de palanque o craque Neymar, cuja dor, ao ser atingido por um jogador do time que fora menos violento do que o Brasil no jogo, segundo ela, "feriu o coração de todos os brasileiros".

Para completar, sem se dignar a explicar o significado do gesto nem da expressão, copiou do astro do Barcelona o "é tóis", paródia criada por ele para o "é nóis" dos corintianos, com a letra T formada pelos braços e pelo cotovelo. E enquanto a torcida lhe fazia eco gritando o nome do ídolo ferido, os alemães impingiram à seleção mais campeã das Copas a pior goleada em semifinais do torneio.

Felipão, fiel a seu padrão de embromation, mal consumado o desastre elogiou o próprio trabalho, lembrando que seu "grupo" - sua "família", ou seja, as vítimas de suas doses patéticas de autoajuda - foi o primeiro a chegar a uma semifinal desde a Copa em que ele mesmo treinou o time campeão, em 2002, há 12 anos. O auxiliar técnico Carlos Alberto Parreira comprometeu o respeitável currículo de campeão mundial de 1994 lendo na entrevista a carta de uma fã que elogiou a preparação do time de um esporte cujos fundamentos ela própria dizia desconhecer.

Antes de o "padrão Felipão" ser submetido a outro vexame na disputa pelo terceiro lugar contra a Holanda na arena Mané Garrincha, com o nome de um gênio do tempo em que nosso futebol tinha cara e vergonha, os bombeiros do Planalto correram para salvar a chefe do incêndio. Descalçaram-lhe as chuteiras e ela pôs de novo o capacete de chefe de obras, para jogar espuma sobre a tentativa canhestra de barganhar o sucesso da seleção por votos na eleição. Apelaram até para o óbvio: "Futebol e política não se misturam". 

Fez-se isso com desleixo idêntico ao de estropiarem a frase de Nelson Rodrigues "a pátria em chuteiras" por outra, que só adquiriu nexo após o vexame: "a pátria de chuteiras". Dilma e seu professor (assim os pupilos chamam seus técnicos) usaram pátria, hino e bandeira para chutar a realidade para escanteio.

Dilma ainda contribuiu para o besteirol de político ignorante em esporte ao atribuir o chamado mineiratsen à exportação dos melhores jogadores nacionais para o exterior. O uso da palavra exportação, cabível para médicos cubanos, mas não para nossos craques, omite as evidências de que a seleção atuou em nível similar ao dos campeonatos locais por absoluta incapacidade de dirigentes que se recusam a aprender como se joga nos mercados que hoje vencem. E de governantes que perdoam as dívidas monstruosas acumuladas por estes bancando papagaios de pirata para ganhar votos, perdendo o pudor e as Copas.

José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor

Miriam Leitão: Balanço sem palanque

- O Globo

A população recebeu bem. Os prazos das obras não foram cumpridos. O país encantou os turistas. Os serviços estavam muito caros, como hotéis, passagens aéreas e restaurantes. Não houve caos aéreo, mas nem todos os aeroportos ficaram prontos e as viagens de negócios foram praticamente suspensas. Ferrovias novas não há. O trânsito foi ajudado por feriados que prejudicaram a economia.

O balanço que a presidente Dilma fez tinha endereço eleitoral. Uma avaliação mais realistapermite aprender com o que não funcionou para que o Brasil se prepare para receber grandes eventos internacionais. Temos as Olimpíadas pela frente e, de novo, as obras estão muito atrasadas e de algumas conquistas já desistimos, como a limpeza da Baía de Guanabara.

A infraestrutura de tecnologia de comunicação continua deficiente. Precisamos melhorar muito nessa área e não pelos eventos, é por nós mesmos. A simpatia natural do povo brasileiro — reconhecido por todos como o ponto alto da Copa — pode ser aperfeiçoada com melhor ensino das línguas inglesa e espanhola para quem vai lidar diretamente com o público.

Não foi a Copa das copas. Isso é refrão de marqueteiro. É melhor avaliar o que deu certo, o que deu errado. Os alertas feitos pela imprensa não eram torcida contra. Toda imprensa livre tem o dever de fazer os alertas. Quem não gosta de imprensa livre pode ver como funciona na China, em Cuba, na Coreia do Norte. É o paraíso do governante, e a morte da notícia. Tudo filtrado, controlado, vigiado.

O Brasil não quer isso, por mais que o governo passe o tempo todo culpando a imprensa por qualquer fato que o desagrade.

Houve acidentes no Itaquerão durante a construção. Com mortes. O estádio que abriu o evento ficou pronto no último minuto, mas a imagem externa da abertura era deprimente porque não houve tempo para o trabalho do lado de fora. Um viaduto caiu em Belo Horizonte e também houve morte.

Ainda não se sabe o que será feito com certos estádios em locais onde não há tradição de futebol. Há um trabalho para fazer nesse pós-Copa para dar utilidade a essas obras caríssimas.

Houve dias de trânsito muito pesado, mas a mobilidade urbana foi ajudada por excessivos feriados. A suspensão de aulas e atividades produtivas não é apenas um prejuízo econômico, mostra que só se evita o pior se o país parar. Um grande evento tem que caber no país.

A conta dos feriados está batendo nos números já fracos da economia brasileira.

Os preços extorsivos cobrados por muitos hotéis e restaurantes, além de passagens aéreas, foram um tiro no pé. Ganha-se num mês, mas o risco é apequenar o principal legado da Copa, que é incentivar o turismo estrangeiro. Se o país fica com fama de caro, isso afasta o turismo potencial que nasce desse contato. Foi um erro dos empresários e falta de visão de negócios de longo prazo. Claro que se sabia que haveria maior demanda por esses serviços durante um mês, mas cobrar preços excessivos reduz atratividade no turismo.

Os jogos foram emocionantes, até aqueles dos quais não se esperava muito, e isso ajudou a consolidar a ideia de uma boa Copa. Fica a certeza de que é preciso renovar o futebol brasileiro, para melhorar o desempenho em campo e eliminar o desconforto de ter certas figuras nefastas no comando do esporte. O Cafu sendo barrado por José Maria Marin no vestiário, no dia da nossa maior tristeza, mostra a inversão de valores. O que cada um deles fez pelo Brasil? Basta comparar.

O melhor balanço é aquele que é feito longe dos palanques, e ele mostrará os pontos fortes e as lições do evento. Em todos os campos. l