Quantidade de pleitos não garante qualidade da democracia global
O Globo
Este ano baterá todos os recordes eleitorais
no mundo, mas há risco de maior corrosão democrática
Por uma conjunção de calendários, este ano
baterá todos os recordes eleitorais. Cerca de 2 bilhões, quase metade da
população adulta do planeta, tomarão parte em votações em mais de 60 países de
todos os continentes em 2024. Provavelmente só em 2048 o mundo voltará ter
tantas disputas eleitorais. Até dezembro, haverá eleição no país mais poderoso
(Estados Unidos) e no mais populoso (Índia). No Brasil, a disputa é pelas
prefeituras e câmaras municipais. Na Indonésia, estão em jogo Presidência e
Congresso. Na União Europeia, vagas no Parlamento. Haverá eleições em países
com maioria muçulmana (Paquistão), católica (México) e anglicana (Reino Unido).
Mesmo disputas em países pequenos podem ter importância global, como a ocorrida
ontem em Taiwan, um desafio à influência da China.
Se, na quantidade, o ano parece a festa da democracia, em qualidade 2024 é menos vistoso. Os pleitos na Rússia, na Venezuela e no Irã demonstram que depositar o voto na urna é um passo imprescindível, mas insuficiente para um país ser democrático. Quando a oposição é perseguida, presa e impedida de participar, a eleição se transforma em mero teatro. Mesmo quando há alguma competição, a saúde da democracia não está garantida.