segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira

No mundo de hoje – marcado pela vida líquida, pela movimentação frenética de mercadorias, capitais, pessoas e informações, pelas redes globais e pela financeirização que fizeram o mercado confrontar com sucesso os Estados nacionais, pela corrosão da política instituída – os fluxos do poder são menos relevantes do que o poder dos fluxos, como escreveu certa vez Manuel Castells. Não importa tanto o que os governantes dizem e fazem, nem suas promessas, mas sim os movimentos e as ações que estão em volta deles, a percepção que se tem do que fazem. Importa menos o que fala o poder e mais o que se diz a respeito das falas do poder. Nesse contexto, presidentes podem, na melhor das hipóteses, atuar como coordenadores de apoios e decisões. Se tiverem talento e molejo político, animam o conjunto. Se não tiverem, convertem-se em figurantes inconvenientes e terminam por ser deletados.

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* Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e Coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Unesp. ‘A falta que faz uma bem compreendida hegemonia’, O Estado de S. Paulo, 27/8/2016.

Dilma estuda senadores para o confronto final

• Presidente afastada pesquisou trajetórias e discursos de adversários

Parlamentares da base do governo Temer se reuniram e disseram que o tom do debate no Senado será dado pela petista. ‘Se houver provocação, responderemos à altura’, afirmou o tucano Aécio Neves

A presidente afastada, Dilma Rousseff, fará hoje sua defesa no processo de impeachment em julgamento no Senado com um discurso emocional, no qual lembrará a luta que travou contra a ditadura e fará um apelo para que os senadores não permitam um “golpe” no país. Segundo aliados, ela não pretende partir para o ataque, mas se preparou para eventuais confrontos. Dilma, que se encontrou ontem com Lula no Palácio da Alvorada, estudou a trajetória política dos senadores e como cada um deles se manifestou até aqui sobre o impeachment. O presidente interino, Michel Temer, recebeu aliados para monitorar os votos, inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros. Parlamentares da base também se reuniram e disseram que o tom do debate será dado por Dilma: “Se houver provocação, responderemos à altura”, avisou o senador tucano Aécio Neves.

Aliados de Temer dizem estar preparados para não cair em provocações

• Presidente interino passou o dia recebendo senadores para monitorar votos

Júnia Gama e Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- A base aliada do presidente interino, Michel Temer, amarrou ontem o discurso e fechou os últimos preparativos para enfrentar a presidente afastada, Dilma Rousseff, na sessão em que ela se defenderá no processo de impeachment no Senado. Apesar de terem definido que o tom das perguntas na sessão será respeitoso, os senadores da base afirmam que, caso a petista parta para o ataque, haverá resposta.

No Jaburu, Temer recebeu senadores cujo voto já é conhecido a favor do impeachment e também o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Segundo relatos, apesar do gesto pró-Temer na véspera da ida de Dilma ao Senado, Renan manteve o mistério sobre seu voto. Ele resiste a declarar sua posição, mas, nos últimos dias, passou a dar sinais de que estaria preparando terreno para se posicionar a favor do impeachment, com os embates que travou com o PT.

Temer passou o dia recebendo aliados e senadores, informalmente, para monitorar os votos. As últimas articulações são para garantir o apoio de dois indecisos no PDT: Telmário Mota (RR) e Acir Gurgacz (RO). Ao GLOBO, Telmário admitiu que está reavaliando seu voto contra o impeachment por se considerar traído pelo PT nas coligações municipais em Roraima. Já Gurgacz, reservadamente, já sinalizou a Temer que votará pelo impeachment.

Sem mandato, Dilma poderá ser alvo da Lava-Jato

• Presidente afastada foi citada 11 vezes em delações; investigadores dizem, porém, que ainda não há provas

Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo

-SÃO PAULO- Se perder o mandato, a presidente afastada Dilma Rousseff corre o risco de integrar a lista dos investigados pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Dilma já foi citada por pelo menos quatro delatores: Alberto Yousseff, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Delcídio Amaral. Só os dois primeiros a citaram nominalmente 11 vezes nos 190 termos de depoimentos prestados.

Outros dois réus da Lava-Jato com negociação de delação premiada em curso afirmaram aos investigadores, nas conversas preliminares, que Dilma sabia que parte dos recursos para a campanha tinha origem no esquema de corrupção na Petrobras. Por enquanto, os investigadores vêem as informações com reservas e adiantam que Dilma só será investigada se forem apresentados documentos que comprovem que ela tinha, de fato, conhecimento de fraudes na estatal. As delações ainda não foram fechadas e nenhum documento foi apresentado.

— Os elementos até agora apresentados são circunstanciais e não trazem materialidade nenhuma contra a presidente. Por força de lei, não aprofundamos nenhuma menção em depoimentos feitos à PGR. Caso ela venha perder o foro por prerrogativa de função, teremos que avaliar se há indícios para abrirmos investigação — afirmou um investigador da forçatarefa ouvido pelo GLOBO.

O ministro Teori Zavascki, responsável pela Lava-Jato, autorizou este mês a investigação de Dilma e Lula por obstrução à Justiça, que inclui a nomeação de Lula para a Casa Civil e a delação do ex-senador Delcídio Amaral, que falou sobre uma articulação para nomear o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo conceder liberdade a empresários presos na Lava-Jato. Também são investigados os ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.

Senadores prometem revide se Dilma falar em ‘golpe’

Aliados de Temer ameaçam reagir caso petista mantenha decisão de atacar legitimidade do impeachment

O depoimento da presidente afastada Dilma Rousseff, marcado para começar às 9 horas de hoje no Senado, voltou a acirrar ânimos de senadores na reta final do julgamento do impeachment, em curso desde quinta-feira. A petista está decidida a tratar o afastamento como “golpe”. Para Cássio Cunha Linha (PSDB-PB), que participou de reunião de aliados de Michel Temer para discutir estratégias, será uma afronta se ela usar o termo na Casa. “É uma afronta à democracia, será uma afronta à presença do ministro Ricardo Lewandowski (presidente do STF). Você não pode admitir um golpe presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal”, disse, em entrevista à Rádio Estadão. Já Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que, “se ela (Dilma) errar no tom, as respostas serão no mesmo tom”

Senado vai receber Dilma em clima de tensão
Senadores a favor e contra o impedimento definitivo da petista falam em evitar que depoimento repita cenas de bate-boca que marcaram sessões anteriores do processo

‘Chamar impeachment de golpe é desserviço’, diz presidente da OAB

• “O STF regrou o processo. É absolutamente democrático”, disse Claudio Lamachia

Coluna do Estadão – O Estado de S. Paulo

O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, que representa quase mil advogados, classifica de “desserviço” a tese de Dilma Rousseff e aliados de que o impeachment é um golpe. “O STF regrou o processo. É absolutamente democrático”. Ele revela que, para a Ordem, tomar a iniciativa de pedir a cassação da petista foi mais difícil do que na época do Collor, quando havia consenso. Porém, definida a posição, “em nenhum momento se pensou em retroceder.” Desta vez, o protagonismo foi menor, diz, porque se optou por não entrar no debate ideológico.

Impeachment X Golpe.
Não tem golpe. O STF regrou o processo. É absolutamente democrático. É um desserviço com o Brasil essa ideia de golpe. Parece que não temos Corte, que não temos regras.

O julgamento.
Qualquer cidadão num processo judicial é analisado pelo conjunto da obra, conjunto probatório, de defesa e também de acusação.

Oposição quer evitar 'vitimizar' petista durante discurso de defesa no Senado

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na véspera do discurso de defesa de Dilma Rousseff no Senado, a presidente afastada disse em telefonema a senadores aliados que está "segura" e que ficará no plenário "até o horário necessário" -47 senadores já se inscreveram para lhe fazer questões.

O ex-presidente Lula chegou no fim da tarde de domingo (28) a Brasília para se reunir com Dilma e acertar detalhes do discurso. Ele foi ao Alvorada jantar com a presidente afastada e aliados, como o presidente do PT, Rui Falcão.

Parlamentares de partidos como o PSDB, DEM e PP, por sua vez, se reuniram para definir uma estratégia. A ideia é priorizar o embate sobre aspectos técnicos que circundam o impeachment e tratar Dilma com tom respeitoso.

Mas ninguém garante que esse roteiro seguirá sem desvio. "É a presidente quem vai dar o tom", resumiu o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Receita aponta desvio e tira isenção do Instituto Lula

Receita Federal pune Instituto Lula em milhões por 'desvio de finalidade'

Julio Wiziack - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Receita Federal decidiu suspender a isenção tributária do Instituto Lula do período de 2011 a 2014 por "desvios de finalidade" e cobrar imposto de renda e contribuições sociais, além de multa milionária.

O fisco encerrou a investigação aberta em dezembro do ano passado sobre a entidade, fundada em 2011 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um comunicado será enviado ao instituto nesta semana informando das cobranças.

A conta final está sendo fechada, mas deve ficar entre R$ 8 milhões e R$ 12 milhões, segundo apurou a Folha.

A investigação sigilosa considerou as declarações entregues pelo instituto à Receita Federal.

PT prepara-se para inédita contração

Por Ricardo Mendonça e Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - Um antigo colaborador do PT, conhecedor das entranhas do partido, recorre a uma expressão bélica e dramática para sintetizar o que entende ser o principal desafio da legenda para o próximo período: "O importante agora é fazer uma retirada organizada das tropas", afirma. "Não deixar que isso se transforme em debandada. O PT deve recuar, se reorganizar e, após um certo prazo, voltar a campo. Isso é retirada organizada. Os rivais querem debandada, com mil divisões, exposição pública de brigas internas e até cassação do registro do partido."

No PT, a lista de infortúnios graúdos e inéditos nunca foi tão opulenta. Além da provável confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, há a delicada situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há meses na mira da Lava-Jato, o que poderá torná-lo inelegível; a prisão de alguns de seus mais importantes ex-dirigentes, como José Dirceu e o ex-tesoureiro João Vaccari; a rejeição recorde nas ruas; a perda de influência no âmbito da esquerda; a expectativa de revés sem precedentes nas urnas.

Justiça Eleitoral notificará Paes e Pedro Paulo sobre vídeo polêmico

• Prefeito sugeriu a mulher ‘trepar muito’ em imóvel entregue pelo governo

Marco Stamm - O Globo

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio vai notificar, hoje ou amanhã, o prefeito Eduardo Paes e o candidato Pedro Paulo, ambos do PMDB, para que identifiquem a data e o local onde foi gravado o vídeo que tem causado revolta nas redes sociais. Nele, Paes aparece entregando um apartamento a uma mulher e dizendo que ela “vai trepar muito” no quarto da nova residência. Após a notificação, eles terão 48 horas para responder às perguntas.

Para o TRE, o problema não é o comportamento do prefeito ou do seu candidato à sucessão. Segundo o juiz Marcello Rubioli, responsável pela fiscalização da propaganda eleitoral, desde 2 de junho as inaugurações públicas estão proibidas, assim como a presença de candidatos em eventos desse tipo. Se a entrega do imóvel exibida no vídeo aconteceu a partir dessa data, Pedro Paulo, que aparece nas imagens, pode ter o registro da candidatura cassado e ficar inelegível por oito anos. Já Paes, além de ficar inelegível pelo mesmo período, pode pagar multa e responder por improbidade administrativa, por uso da máquina pública.

Procurados, nem Pedro Paulo nem o prefeito quiseram falar.

Chega ao fim um ciclo perverso - Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Esta semana o Brasil se reencontra com seu destino.

Encerrada a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o país terá de enfrentar o duro percurso da reconstrução. Esta segunda (29) é dia de forte simbolismo, com a presidente afastada apresentando, no Senado, a sua defesa na acusação de crime de responsabilidade por violação de leis que regulam o uso do dinheiro público. Seria o momento – ainda que tardio – para a presidente dar as devidas explicações aos brasileiros.

Réquiem para um sonho - Ricardo Noblat

- O Globo

“Somos o resultado de nossas escolhas e de nossas decisões” Aristóteles, filósofo grego

Candidatos do PT às eleições municipais de outubro descartaram o vermelho e diminuíram o tamanho da estrela do partido no seu material de propaganda, na tentativa de evitar uma sangria de votos. Haverá símbolo maior do fim de um sonho que pareceu tão generoso no seu início? Sem falar da impossibilidade de Lula circular livremente por aí. Em breve, talvez acabe impedido pela Justiça de circular.

DESTINO IGUAL pode estar reservado para a presidente Dilma Rousseff. Enclausurada no Palácio da Alvorada há 111 dias, visitada durante esse período apenas por ex-auxiliares e poucos amigos, desprezada pelo PT, que foi obrigado a engoli-la, mas que afinal a regurgitou, ela irá, hoje, ao Senado para defender-se dos crimes que lhe imputam. As chances de sair dali absolvida são quase nulas.

Temer, carência e reforma - José Roberto de Toledo

• Com o último capítulo do processo de impeachment de Dilma, o governo do PMDB tem motivos para estar aliviado, mas não para comemorar

- O Estado de S. Paulo

A economia encontra sinais do que pode ser o fundo do poço – uma condição necessária para escalá-lo –, o processo de impeachment de Dilma Rousseff chega ao seu último capítulo, a Lava Jato se enrola, e Michel Temer deve enfim ser reconhecido como chefe de Estado em um evento internacional. O governo do PMDB tem motivos para estar aliviado, mas não para comemorar. A contradição entre o que deve fazer e o que consegue realizar está só começando.

Ainda que timidamente, vários índices de confiança do consumidor voltaram a apontar para cima em agosto. O que guarda maior relação com a popularidade presidencial, o INEC do Ibope/CNI, cresceu marginalmente em relação a julho e 3,1% em comparação a um ano atrás. É pouco e ainda inconsistente. Desde a reeleição de Dilma, o INEC não sobe por três meses consecutivos. Setembro colocará à prova Henrique Meirelles e sua equipe econômica.

Dilma, foi a economia que definiu seu destino, querida! – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

No dia em que Dilma Rousseff estará no Senado fazendo sua defesa no julgamento do impeachment, lembro uma entrevista que fiz com a então ministra da Casa Civil. Era setembro de 2009.

Foi manchete da Folha. Já candidata de Lula para 2010, disse: "A tese do Estado mínimo faliu". Definiu o governo petista como nacionalista e estatizante. Só não gostou de ser chamada de intervencionista.

Um economista de ponta me ligou. "Você tirou da Dilma o que ela pensa de economia. Se for eleita, será muito ruim para o país." Relatei o receio a um amigo de Lula. "Não tem esse risco. Ele vai vigiar e controlar o governo dela".

O preço do impeachment - Marcos Nobre

• O Grande Ajuste se reduziu ao aperto de um ou outro parafuso

- Valor Econômico

Quanto mais próximo e certo foi se tornando o cadafalso de Dilma Rousseff, tanto mais o Grande Ajuste de Temer foi se resumindo ao aperto de um ou outro parafuso. Ficou clara a diferença entre quem torceu pelo impeachment do Grande Ajuste e quem o executou. Em nome do resultado, a torcida abriu mão até mesmo do controle antidoping. E aí ficou sem poder reclamar de jogadores que não conseguem mostrar no governo o mesmo desempenho que tiveram quando se tratava apenas de derrubar o governo anterior.

Quem executou o impeachment queria obviamente se proteger da Lava-Jato. Mas também entrou em uma disputa de novo tipo, que tornou obsoletas regras e padrões de formação de governo observados nas últimas duas décadas. Nos governos liderados por PT e PSDB, o agora chamado Centrão sempre teve de se contentar com as migalhas que lhe eram jogadas pelo alto clero da política congressual. O alto clero controlava o financiamento e a distribuição de cargos e de verbas. Não apenas as cúpulas estimulavam a competição entre os de baixo, dividindo para reinar. Também detinham informações de conjunto, acesso direto a financiadores de campanha, uma visão mais ampla dos recursos de governo disponíveis, elementos inacessíveis aos integrantes do baixo clero congressual.

Faces perversas do autoritarismo no Brasil - Murillo de Aragão

• Em educação cívica voltada para os direitos e deveres da cidadania ainda engatinhamos

- O Estado de S. Paulo

Apesar dos mais de 30 anos de redemocratização, ainda vivemos sob o império do autoritarismo. O chocante é que muitos dos que o praticam não se consideram autoritários. Essa é uma questão complexa que envolve interpretação e comportamento, além das regras existentes. Envolve também a precária educação cívica dos brasileiros, que não têm ideia de seus direitos e deveres.

Nosso autoritarismo tem raízes profundas no Brasil colônia, onde o caráter subalterno de nossa gente era transversal às classes - desde a senzala, passando pela casa-grande, até os paços do reino. Cada um esmagando o menor com o abuso de poder e de autoridade.

A PEC 241 e a crise fiscal brasileira - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

A discussão sobre o novo regime fiscal e as saídas para o estrangulamento financeiro do setor público brasileiro foi instalada, na semana passada, na comissão especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016. A iniciativa do governo liderado por Michel Temer visa estabelecer um teto para a expansão das despesas primárias, em que são excluídas apenas os gastos financeiros, que dependem da evolução da dívida pública e das condições para seu financiamento.

O objetivo é recuperar minimamente o equilíbrio fiscal e lançar as bases para a retomada do desenvolvimento, superando a grave recessão e o monumental desemprego que afetam o conjunto da sociedade. Para tanto, as despesas primárias dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e, ainda, de órgãos como Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas da União (TCU) não poderão, inicialmente por dez anos, crescer a cada exercício mais do que o IPCA, índice que mede a inflação. A expectativa é a de que durante esse período a receita cresça acima da inflação, produzindo o ajuste necessário.

Pelo conjunto da obra - Celso Ming

• Dilma está sendo alijada da Presidência pelas opções equivocadas e pelos graves erros que cometeu

- O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma tem razão quando afirmou na sua Mensagem ao Senado Federal e ao Povo Brasileiro, divulgada dia 16, que está sendo afastada do governo “pelo conjunto da obra”.

Ela não está sendo condenada – e cassada por dez anos – apenas porque pedalou à vontade na administração das contas públicas e porque incorreu em crime de responsabilidade, apontado pela Constituição e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Ela está sendo alijada da Presidência pelas opções equivocadas e pelos graves erros que cometeu.

Nem ela nem a administração que conduziu foram vítimas da crise global, como sempre afirmou, para tentar justificar o desastre. Foi vítima dela própria, na medida em que produziu diagnósticos distorcidos e sérias falhas de pilotagem da política econômica.

Brasil troca presidente, PIB cai e Selic fica estável - Angela Bittencourt

• Mercado minimiza risco de maior inflação no mundo

- Valor Econômico

O Brasil muda de presidente, a taxa Selic fica inalterada pela nona reunião consecutiva do Comitê de Política Monetária (Copom) e a economia, após cinco trimestres de queda, pode exibir sinais de esperança de saída da crise, principalmente na indústria e nos investimentos, mas ainda não trará o Produto Interno Bruto (PIB) ao terreno positivo. Esse é o roteiro seguido por boa parte do mercado financeiro nesta semana que encerra agosto e coloca o último trimestre de 2016 na antessala.

A soma de resultados do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, do desempenho do PIB no 2º trimestre e da decisão do Copom é candidata à âncora de ocasião da economia brasileira se o cenário externo estiver próximo de uma guinada em razão de um aumento de juro pelo Federal Reserve - o banco central dos Estados Unidos. Âncora efetiva será a emenda à Constituição que estabelece um teto para despesas públicas - ainda a ser aprovada no Congresso Nacional.

A cultura do remendo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Criar e renovar remendos fiscais e tributários são algumas das principais funções dos políticos federais, quando têm de cuidar das finanças da União. O trabalho começa geralmente no Executivo, envolve os parlamentares e se encerra na formatação final do Orçamento. O ritual foi cumprido mais uma vez, na quarta-feira passada, quando o Senado aprovou o restabelecimento da DRU, a Desvinculação de Receitas da União, para dar ao governo um pouco mais de liberdade – e, supõe-se, de eficiência – no manejo de verbas no próximo ano. Cada renovação é trabalhosa, porque a DRU depende de emenda à Constituição, com duas votações na Câmara e duas no Senado. Além disso, as condições são sempre rediscutidas e alguma novidade é sempre imposta na negociação política. Mas o miolo do problema, a irracionalidade das vinculações constitucionais, nunca é atacado diretamente. As normas irracionais são suspensas parcialmente, e apenas por algum tempo – desta vez, até o fim de 2023.

Ineficiência municipal – Editorial / Folha de S. Paulo

Ao cotejar os recursos disponíveis e os resultados obtidos nas áreas de educação, saúde e saneamento básico, o Ranking de Eficiência dos Municípios - Folha (REM-F), lançado neste domingo (28), joga luz sobre a precariedade da maioria dessas administrações.

Dentre 5.281 prefeituras avaliadas (95% do total existente no país), nada menos que 3.991 mostram aproveitamento insatisfatório das verbas que obtêm por meio de arrecadação própria e transferências dos Estados e da União.

A má qualidade dos serviços prestados não passa despercebida pela população. No caso mais problemático, o atendimento em saúde é avaliado como ruim ou péssimo por 52% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha; em saneamento (44%) e ensino (41%), as taxas de reprovação superam com folga as de aprovação.

Caminho certo – Editorial / O Globo

• As vantagens do modelo são inequívocas, pela eficiência da iniciativa privada e pelas experiências positivas

O Rio de Janeiro, o segundo estado mais desenvolvido da Federação, atende à sua população com uma rede de distribuição de água e captação (e tratamento) de esgoto em que demandas crônicas postergam — indefinidamente, a se manter o atual modelo de gestão, praticamente todo estatizado — as metas de universalizar tais serviços. Se no abastecimento de água tratada a situação parece mais confortável, ainda que não ideal, com 89,3% das residências cobertas, na questão relativa à coleta e ao tratamento final de dejetos o quadro é desolador. Mesmo à luz de projeções mais modestas, como o Pacto pelo Saneamento, lançado pelo governo fluminense em 2011, que previa tratar 80% do esgoto do estado até 2018, a universalização ainda soa como quimera. A dois anos do prazo, apenas 64,2% da população dispõem de serviços de coleta de esgoto; por sua vez, o benefício do tratamento dos dejetos só alcança a parcela de 34,6%.

Alta de juros pelo Fed torna mais urgente ajuste no Brasil – Editorial / Valor Econômico

Em pronunciamentos feitos na última sexta-feira no mais prestigiado encontro de especialistas em política monetária do mundo, em Jackson Hole, os dois principais dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) reforçaram as indicações de que a alta dos juros americanos está a caminho.

No Brasil, a reação foi imediata. O juros negociados em mercado subiram, chegando aos maiores percentuais desde o começo de julho. O dólar teve a mais forte alta dos últimos dez pregões. Esse é mais um lembrete de que as condições financeiras extremamente relaxadas no mundo são temporárias - e que, em breve, deverá acabar o período de calmaria que permitiria ao Brasil aprovar, sem maiores crises e atropelos, o ajuste fiscal e outras reformas.

A versão do futuro - Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

Nem tudo era uma borboleta amarela. O pavão ainda não abrira o seu "arco-íris de plumas". E Copacabana se domesticou para se salvar das pragas — "Ai de ti, Copacabana" — que ele lhe rogou. Entre uma e outra dessas crônicas, as mais bem destiladas da língua, Rubem Braga se debruçava também sobre o dia a dia e escrevia sobre ele para pagar o aluguel.

Uma caixa com três livros, "Rubem Braga – Crônicas", recém-lançada pela Autêntica, compõe-se desse material, publicado em jornais e revistas dos anos 40 até sua morte, em 1990, e dividido por assunto: música popular, artes plásticas e política, um para cada volume. Para os mais jovens, que só conhecem o passado pela ótica do presente, o mais surpreendente será o sobre política.

Os Poemas – Mario Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

Paulinho da Viola - 50 anos (Aldir Blanc & Cristóvão Bastos)