• Aécio vai a porta de fábrica e Dilma se reúne com centrais; ambos prometeram garantir empregos e salários
Silvia Amorim, Julianna Granjeia – O Globo
SÃO PAULO - Os dois primeiros colocados na disputa pelo Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidato à reeleição, e o senador Aécio Neves (PSDB) centraram ontem seus esforços em atos com trabalhadores, com a participação das maiores centrais sindicais do país. Pela manhã, o tucano adotou expediente muito usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): discursou na porta de uma fábrica na capital paulista. A seu lado, tinha o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade (SDD) e principal líder da Força Sindical. À noite, também em São Paulo, Dilma recebeu o apoio de cinco centrais sindicais do país e de dissidentes da própria Força.
A divisão política afeta praticamente todas as centrais sindicais nestas eleições. Entre as seis maiores representações dos trabalhadores - Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) -, apenas a CUT, com mais de sete milhões de filiados, é majoritariamente aliada ao PT.
A segunda maior representação dos trabalhadores, a Força Sindical, está dividida. Com mais de cinco milhões de associados, a entidade tem dois de seus principais líderes - Paulinho, o próprio presidente da entidade, Miguel Torres - com Aécio. À noite, porém, um grupo dissidente declarou apoio a Dilma.
Dilma diz que não vai achatar salários
Ao lado dos dirigentes sindicais e de Lula, Dilma voltou a adotar o discurso do "bem contra o mal":
- Eles quebraram o Brasil três vezes, por três vezes eles levaram o Brasil ao Fundo Monetário Internacional. No nosso período de governo Lula, fomos lá e pagamos. Eles levaram a inflação à estratosfera antes de entregar para nós o governo - afirmou Dilma, referindo-se à gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em recado direto aos sindicalistas, Dilma afirmou que não foi eleita para achatar salário nem para tirar direito do trabalhador, em referência a declarações de Aécio a empresários, na qual disse que seria necessário adotar medidas impopulares, se eleito.
- Sabe qual é a medida impopular que ele vai tomar? É acabar com a valorização do salário - afirmou Dilma.
Lula também discursou e ressaltou a "unidade" das centrais sindicais, alfinetando o deputado Paulinho da Força. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, compareceu ao evento representando a dissidência do sindicato que apoia a reeleição de Dilma.
- Esses companheiros, às vezes, são chatos, às vezes, falam mal da gente, reivindicam coisas que não podemos atender; às vezes, ele são duros com a gente, mas pode ter certeza que, em qualquer momento em que os adversários estiverem atacando a gente, eles serão os primeiros a se levantarem para defender nosso governo - afirmou Lula, dirigindo-se aos sindicalistas.
No final do evento, após os discursos, um documento assinado pelos presidentes de CUT, UGT, CTB, NCST, CSB e por Juruna, da Força Sindical, foi entregue a Dilma. No documento, são cobrados novos compromissos do governo com os trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário e diálogo permanente com a classe trabalhadora.
Pela manhã, antes mesmo da confirmação do apoio das centrais a Dilma, Aécio minimizou o ato da presidente realizada à noite e propôs à adversária que ela fizesse campanha nas ruas. Para Aécio, Dilma precisa conferir o desânimo da população:
- Eu estimulo muito que ela vá às ruas, e não apenas nos eventos organizados e programados, que ela vá olhar nos olhos das pessoas, e possa perceber o sentimento do brasileiro, hoje de desânimo - disse Aécio.
O tucano ironizou a vantagem que Dilma diz ter juntos às centrais sindicais:
- Ninguém quer ter monopólio de absolutamente nada, que ela tenha suas interlocuções é legítimo - disse Aécio.
Aécio se compromete com crescimento
Aécio fez um minicomício em frente a uma fábrica na Zona Norte da capital paulista e tirou foto nos braços de trabalhadores, estratégia que marcou Lula ao longo de sua carreira política. Em fila no portão de entrada dos funcionários, o presidenciável - acompanhado do seu candidato a vice, Aloysio Nunes, do governador Geraldo Alckmin e do candidato ao Senado José Serra - apertou as mãos de trabalhadores que chegavam à firma e, ao seu estilo, pediu um voto de confiança:
- Vamos juntos fazer este Brasil crescer - disse o candidato a cada cumprimento.
A visita de Aécio na porta da empresa Voith, fabricante de máquinas e turbinas, foi agendada por Paulinho para fazer um contraponto ao evento que Dilma teria, no início da noite.
Aécio chegou à fábrica antes das 7h: começou a campanha em uma padaria onde os funcionários costumam tomar café. Depois, caminhou cerca de dez minutos até o portão da fábrica. Lá, esperou por mais de meia hora a chegada dos trabalhadores. Com a liberação dos funcionários para o que seria uma assembleia do sindicato da categoria, cerca de cem dos quatro mil empregados da Voith compareceram. Mas não houve reunião para discutir questões da categoria: quem estava em cima do carro de som, em frente à fábrica, eram Paulinho, Aécio e os demais tucanos.
Aécio prometeu crescimento econômico como garantia de empregos, controle da inflação e correção da tabela do Imposto de Renda pelo IPCA. No entanto, evitou comentários sobre uma das principais reivindicações da Força Sindical: o fim do fator previdenciário, criado no governo Fernando Henrique Cardoso.
A primeira greve de funcionários da Voith foi comandado por Paulinho nos anos 1980. Ele é responsável por organizar agendas para aproximar Aécio do setor. Em outras campanhas, o deputado levou Serra à porta de fábricas. Foi a primeira vez nesta campanha que Aécio recorreu a esse expediente.
Já Lula, ex-líder sindical, costuma levar seus candidatos para falar com trabalhadores nas firmas. Na última terça-feira, ele acompanhou o candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, em visita à Ford, em São Bernardo do Campo. Em 2010, Dilma foi pelas mãos do padrinho à fábrica da Mercedes Bens, também no ABC paulista.