Correio Braziliense
No início de 1964, as forças políticas
conservadoras estavam descontentes com o presidente João Goulart por propor
reformas sociais que o Brasil, havia séculos, se negava a fazer. Os
norte-americanos não estavam satisfeitos porque temiam o Brasil assumir posição
de não alinhado na guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética. E o povo
brasileiro estava descontente com a instabilidade social, a indisciplina e a
polarização política, a inflação, a recessão, o desemprego, sucessivas greves,
mobilizações, confrontos nas ruas, impasses e falta de rumo no parlamento.
Havia um quadro propício à vitória de candidatos da oposição nas eleições de
1966, mas as Forças Armadas, com sua desconfiança permanente em relação aos
civis e sua vocação para intervir na política, destituiu o presidente,
interrompeu a democracia, prendeu líderes de esquerda e cassou direitos dos
democratas de direita, suspendeu o funcionamento autônomo das instituições e
aboliu liberdade acadêmica e de imprensa durante 21 anos.
Quase 60 anos depois, é possível dizer que o golpe de 1964 foi o maior de diversos erros históricos e oportunidades perdidas pelo Brasil no século 20. Se tivéssemos esperado as eleições de 1966 e as seguintes impedidas, teríamos enfrentado a crise conjuntural e encontrado rumos para superar nossos problemas estruturais.