O Globo
O enredo do governo do presidente Bolsonaro
parece ter sido escrito por um roteirista bêbado que, farto de ganhar a vida
com trabalhos medíocres, resolveu, no meio do caminho, ter um ataque de
sincericídio e reescrever a história como ela é, e não como a encomendaram.
Quando colocou com destaque aquele que seria um dos principais ministros do
governo, o general Augusto Heleno, cantando “se gritar pega Centrão, não fica
um, meu irmão”, sabia que era mentira, mas engoliu. Do meio para o fim, contou
a verdade, e o senador Ciro Nogueira acabou nomeado ministro-chefe da Casa
Civil, o ponto nevrálgico de um governo.
O general desapareceu do mapa, talvez envergonhado pelo papel que desempenhou
na campanha presidencial. A Casa Civil, aliás, já era ocupada por um general da
reserva, Luiz Eduardo Ramos, que também assumiu o governo para acabar com as
negociatas políticas e terminou sendo responsável por elas.
Não devia ser tão flexível quanto a relação com o Centrão exige, pois não seria
desembarcado do governo sem a menor complacência por Bolsonaro. Soube pelos
jornais que sairia da Casa Civil e sentiu-se “atropelado por um trem”. Mas,
como “um manda, e o outro obedece”, deve se satisfazer com uma sobra qualquer
no governo.