O Estado de S. Paulo
A realidade é mais complicada do que nos
zaps que Bolsonaro recebe dos seus aspones
O presidente repetiu no debate o argumento
da alienada fala sobre a fome do País: “Já viu alguém pedindo um pão?”. Para
Bolsonaro, o Auxílio Brasil, de R$ 600, supera confortavelmente a linha da
extrema pobreza. Esta, de US$ 1,90 por dia, giraria ao redor de R$ 10 diários,
enquanto o Auxílio seria de R$ 20 por dia. Há quatro erros aí:
1. A linha de extrema pobreza é, na
verdade, menor do que Bolsonaro pensa. Ela não é de US$ 1,90 por dia, mas de
US$ 1,90 “PPC”: uma medida ajustada por poder de compra com base em pesquisas
que comparam o custo de vida entre países.
Do Banco Mundial, é usada no Brasil pelo
IBGE. É quase uma outra moeda, e no seu câmbio o valor está mais próximo de R$
6 por dia. Quem está abaixo desta linha, portanto, vive com mais privações do
que na linha imaginada por Bolsonaro;
2. O valor do Auxílio nem sempre supera a
linha da extrema pobreza. A linha é de um consumo por pessoa, e o Auxílio é
pago por família.
Em uma família com pais e três crianças, a
média é de R$ 120 (R$ 600 por cinco). É, então, possível que uma família no
Auxílio esteja na extrema pobreza. Enquanto o Bolsa Família e o auxílio
emergencial pagavam valores maiores para famílias maiores, o Auxílio seguiu um
valor único – para facilitar o marketing. É um dos seus pontos fracos. A
desproporcionalidade faz com que o valor seja baixo em famílias vulneráveis, e
alto, em outros casos;
3. Bolsonaro complementa que basta, para
quem está fora do Auxílio, pedir para entrar, porque não haveria fila. É falso.
Câmara e Senado aprovaram o fim das filas. O presidente vetou o avanço, e assim
o governo nega o benefício mesmo a quem satisfaz seus critérios;