O Globo
Matar e desmatar são verbos que têm uma
forte relação entre si. Na verdade, a violenta tarefa de desmatar predispõe o
ser humano a matar.
Uso o verbo desmatar num sentido mais amplo
de devastação da natureza. Pensadores alemães, com diferentes trajetórias e
visões políticas, chegaram a conclusões semelhantes ao analisar o país no fim
da Segunda Guerra.
Martin Heidegger afirmava que, ao transformar
o mundo num objeto de inescrupulosa dominação sobre a natureza, o sujeito
humano acabava se concebendo como uma coisa entre coisas.
Num outro ponto do espectro ideológico,
Theodor Adorno e Max Horkheimer, em “Dialética do esclarecimento”, argumentavam
que a violência que se impõe à natureza acaba se voltando contra a própria
natureza interna do ser humano.
Ambos queriam explicar, entre outras
coisas, as atrocidades do nazismo.
Durante todo este período do governo Bolsonaro, matar e desmatar sempre estiveram no centro de nossa crítica. Animais queimados, árvores derrubadas e índios dizimados e amedrontados por garimpeiros e desmatadores foram apenas um lado da moeda.