(Antonio Lavareda, na revista Veja desta semana)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Reflexão do dia – Antonio Lavareda
(Antonio Lavareda, na revista Veja desta semana)
Merval Pereira:: Recados eleitorais
Mesmo sem assumir a pré-candidatura à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra, tornou-se a referência para a disputa presidencial, e a pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem tem recados importantes tanto para ele quanto para o governo.
No cenário com o deputado federal Ciro Gomes disputando pelo PSB, Serra lidera com 31,8%, mas cai do patamar de 40% que vem mantendo nas últimas pesquisas. Isso quer dizer que a disputa polarizada entre ele e a ministra Dilma Rousseff lhe é benéfica.
Mas há outro ponto importante para a definição do eleitorado: a influência negativa que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso exerce sobre o candidato que lhe seja próximo. Nada menos que 49,3% dos pesquisados disseram que não votariam em um candidato apoiado pelo ex-presidente.
Essa avaliação mostra que, até o momento, o presidente Lula está correto em querer que a eleição venha a ser plebiscitária, com uma comparação entre o seu governo e o do ex-presidente, ao mesmo tempo em que o governador de São Paulo está certo ao querer uma confrontação direta entre ele e a ministrachefe da Casa Civil, sem intermediários.
Serra vive dizendo que nem Lula nem Fernando Henrique são candidatos, e não se lança justamente para evitar ser um alvo direto do presidente Lula, querendo esperar março para, então, se confrontar com Dilma, e não com Lula.
Mas essa demora para decidir quem será seu candidato está claramente prejudicando o PSDB que, embora liderando as pesquisas, vem perdendo espaço político para o governo.
É evidente que dizer, como fez o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, que o governador paulista perdeu cerca de 15 pontos percentuais em um ano é erro estatístico, além de uma avaliação política equivocada.
Quando confrontado apenas com Dilma e a provável candidata do Partido Verde, senadora Marina Silva, o governador José Serra mantém os mesmos 40,8% que tinha em setembro, enquanto Dilma varia pouco acima da margem de erro, com 23,5% (tinha 19,9% em setembro) e a senadora Marina Silva cai para 8,1% (tinha 9,5% em setembro).
Não há na série histórica das pesquisas CNT/Sensus nenhum cenário anterior com apenas os três candidatos, e nem outra com os quatro, incluindo Ciro Gomes.
Portanto, as comparações são indevidas. No cenário polarizado, o governador José Serra continua ganhando no primeiro turno.
O potencial candidato do PSB, Ciro Gomes, se sai bem na pesquisa, mostrando sua força eleitoral, chegando a ficar na frente no cenário em que Aécio Neves é o candidato do PSDB.
Quando ele surge na lista juntamente com Dilma Rousseff, não apenas fica quase em empate técnico com ela — 21,7% para Dilma contra 17,5% para Ciro — como tira votos de Serra, que cai para um patamar de 30%.
Esses números reforçam sua tese de que ter dois candidatos da base governista é a melhor tática para combater a candidatura tucana.
Além do mais, o deputado Ciro Gomes conseguiu uma proeza: sua rejeição junto ao eleitorado recuou nada menos que 15 pontos percentuais, passando a ser um dos menos rejeitados pelo eleitor: de 39,9% dos eleitores em setembro, para 25,3% na nova rodada da CNT/Sensus, ficando atrás apenas de Aécio Neves, que agora tem 22,8%.
Por incrível que possa parecer, Ciro hoje é menos rejeitado do que Serra e Dilma, os dois favoritos, o que mostra que ele é um candidato competitivo quando controla seu temperamento.
O governador Aécio Neves, se continua não sendo individualmente um candidato competitivo, ficando em terceiro lugar quando aparece como o nome tucano, mostra que pode fortalecer uma chapa.
Mas a situação dele é ambígua: quando aparece como vice da chapa de Serra, cenário que era o dos sonhos para os tucanos, mas que ele rejeita formalmente, a chapa do PSDB cresce para 35,8%.
Mas quando aparece na cabeça de chapa, com Ciro Gomes como vice, a dupla recebe 32,4% dos votos, vencendo a chapa Dilma/Temer.
O recente encontro dos dois em Belo Horizonte suscitou uma série de especulações e criou um clima de mal-estar entre os tucanos.
Os números dessa pesquisa podem voltar a criar um clima de tensão partidária dentro do PSDB.
Nada indica, no entanto, que essa dobradinha PSDB/PSB possa se tornar realidade, menos pelo fato de o PSB ser da base governista do que pelas divergências profundas que existem entre o deputado e o grupo paulista do PSDB que comanda o partido, especialmente o ex-presidente Fernando Henrique e o governador José Serra.
Além do mais, se o governador de Minas, em uma chapa puro-sangue tucana, ajuda a consolidar a vantagem do PSDB, não há lógica em tentar fazer uma revolução interna no seu partido para tentar viabilizar uma composição política polêmica dentro do partido.
A favor da tese de Aécio Neves de que a candidatura deveria ser “pós-Lula” e não “anti-Lula”, estão os números da popularidade do presidente da República e sua capacidade de transferir votos para sua candidata, cujo limite é até agora uma incógnita.
O fato é que Dilma Rousseff cresceu bastante no último ano, mas não o suficiente.
Ela atingiu o patamar de 20% que, não por coincidência, é o mesmo índice dos que dizem que votariam no candidato indicado por Lula, e também o índice estimado de apoio do PT entre os eleitores.
A partir daí, ela teria que demonstrar ter vida própria como política, o que até agora não aconteceu. Será preciso verificar se o presidente Lula terá êxito na tarefa de ampliar o eleitorado de Dilma. Há um conjunto de eleitores que se dispõe a votar num candidato apoiado por Lula, mas quer conhece-lo (a) melhor. É aí que está o desafio.
Dora Kramer:: Ciro é preciso
A julgar pelo raciocínio do patrocinador da pesquisa Sensus, o presidente da Confederação Nacional dos Transportes, Clésio Andrade, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso transfere rejeição e o atual, Luiz Inácio da Silva, só transpõe aprovação.
Segundo ele, o pré-candidato do PSDB e governador de São Paulo, José Serra, apresentou redução de 15 pontos porcentuais em seus índices de intenção de votos no último ano porque 49,3% dos eleitores não votam em candidato indicado por FH, e Dilma Rousseff chegou aos 21,7% porque 51,7% votariam por influência do presidente Lula.
Como exercício de sofismo, vale o argumento que, no entanto, fica devendo um acerto com a lógica dos fatos. E estes apontam para explicações mais simples, contidas na própria pesquisa, na realidade cotidiana da campanha eleitoral antecipada, na evidência de que nem Lula nem Fernando Henrique são candidatos e na comezinha constatação de que o eleitorado não é de todo tatibitate.
Serra registrava índices de até 45% quando transitava no ambiente político quase como candidato único, pois desde a derrota em 2002 e a disputa pela legenda do PSDB em 2006 com Geraldo Alckmin que se sabe que o tucano pleitearia a Presidência em 2010.
Um parêntese: na época já era identificado com Fernando Henrique - de quem foi ministro e oficialmente candidato a presidente -, não tendo ocorrido de lá para cá nada que pudesse aumentar (nem diminuir) essa identificação.
Desde o ano passado o presidente Lula vem se dedicando à construção de uma candidatura presidencial, justamente para ocupar o espaço onde a oposição reinava quase absoluta. Conseguiu tirar Dilma dos 2%, 3% iniciais e introduzi-la no patamar dos chamados dois dígitos.
Aí, o presidente da CNT acerta, até porque não há como errar: o crescimento é fruto de transferência, pois Dilma só tem como fonte de votos o apoio de Lula, já que não dispõe de história eleitoral anterior, ao contrário dos demais pretendentes: Serra foi deputado-constituinte, senador, prefeito e é governador de São Paulo; Ciro Gomes é deputado e foi governador do Ceará; Marina Silva é senadora.
A entrada de Ciro e Marina nessa fase preliminar da disputa e a consolidação de Dilma como candidata de Lula obviamente que iriam abalar a preferência de Serra. Ciro na última pesquisa tem 17,5% das preferências e Marina, 5,9%.
Note-se que dos quatro nomes - Dilma, Serra, Ciro e Marina - apenas a ministra da Casa Civil é candidata assumida e virtualmente confirmada.
Os outros três são ainda hipóteses, cada qual em seu respectivo grau de certeza ou incerteza.
Acreditar que a queda na posição de José Serra seja devida à rejeição de FH é ignorar a entrada em cena dos demais concorrentes e imaginar que seus cerca de 24% possíveis eleitores estivessem até então vivendo em outra galáxia.
Como estavam mesmo por aqui, integrando o cordão dos indecisos ou engordando artificialmente os índices de Serra, evidente que os votos se dividiram por causa da existência de novas opções.
Outra constatação decorrente da pesquisa: se a eleição fosse hoje, Lula precisaria de Ciro Gomes como candidato a presidente e não a governador de São Paulo. Sem ele, Serra bate Dilma por 40, 5% a 23,5%.
QUARTEL DE ABRANTES
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares é um sujeito injustiçado por seus pares.
Dedicou a vida ao partido, organizou um amplo esquema de financiamento à formação da maioria governista no Congresso, foi para o sacrifício de boca fechada, mas é o único dos envolvidos no processo da "organização criminosa", em curso no Supremo Tribunal Federal, a ser mantido no estaleiro.
Os demais mensaleiros foram todos anistiados pelo partido, que agora recebe vários deles de volta à direção nacional, sob a invocação do lema de que é hora de "tocar a vida para frente" sem remoer culpas já arquivadas nos escaninhos do passado.
Partidariamente falando, Delúbio paga a conta sozinho. Enquanto os companheiros são vistos como "bons" para dirigir nacionalmente o PT - sem que se ouça uma só palavra sobre exigência de mudanças de métodos -, o ex-tesoureiro teve seu pedido de refiliação ignorado sem passar por nenhum exame, alegadamente para não criar "constrangimento".
Se, como alega o PT, todos são inocentes até serem julgados e têm os mesmos direitos dos outros filiados, seria de se perguntar o que Delúbio tem de diferente para não ser merecedor do mesmo perdão. Seria, se a resposta não fosse tão óbvia.
Como em tudo o mais, aqui também a preocupação do PT é com o simbolismo, com a aparência, muito mais do que com a essência das coisas. Delúbio virou símbolo, quase um sinônimo daquele escândalo. Daí ser uma fonte de "constrangimento".
O fato de ter agido sob as ordens de uns e prestado serviços a outros, entre os que retornam, passa aos registros na condição de pormenor.
Os tucanos lucrariam com a saída de Ciro
Diferentemente do que gostariam os petistas, tendência, segundo pesquisa, é de que os votos do deputado migrassem para Serra, e não para Dilma
Izabelle Torres
A capacidade de o deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP) se aliar tanto com parte da oposição como com petistas tem confundido o governo. Temendo que a candidatura do parlamentar tire votos da ministra Dilma Rousseff, o próprio presidente Lula tem se empenhado em tirá-lo da disputa presidencial. Para isso, ofereceu um palanque para ele na disputa pelo governo de São Paulo. Ontem, no entanto, as articulações governistas foram surpreendidas com dados da pesquisa CNT/Sensus. Os números mostram que, diferentemente do que previam, os eleitores de Ciro não migrariam para a candidata governista, mas para a opção tucana.
Apesar de ser desafeto do governador de São Paulo, José Serra, a saída de Ciro da disputa garantiria liderança folgada ao ex-ministro da Saúde. De acordo com a sondagem, Serra pularia de 31,8% para 40,5% na preferência do eleitorado se o socialista desistisse da disputa. Enquanto isso, a ministra Dilma seria beneficiada com um pequeno acréscimo de votos, de 21,7% para 23,5%. “A análise mostra que os votos de Ciro não migram para o PT. A grande maioria seria repassada para a candidatura do PSDB”, afirma Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus.
O cenário já tinha sido comentado pelo presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), com o presidente Lula. No início do ano, Campos levou uma pesquisa ao presidente mostrando tal tendência. Com o reforço nessa sinalização, os tucanos já começam a fazer o trabalho, antes desempenhado pelo governo, de tentar barrar a candidatura do socialista. “Não consideramos a possibilidade de o Ciro sair candidato. Acho que ele deve mesmo se lançar ao governo de São Paulo. Mas não tememos a opção dele. A única certeza é que ele provocaria um segundo turno e um candidato nosso estaria necessariamente na disputa até o fim”, analisa o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
Facetas
Enquanto pode, Ciro faz jogo duplo. Transferiu o título eleitoral para São Paulo numa demonstração de simpatia à ideia do presidente de lançá-lo governador. Ao mesmo tempo, sai em campanha pelo país, buscando apoio no curto espaço que a polarização entre PT e PSDB deixou, e costura uma possível aliança com Aécio Neves. “Ele está chacoalhando o coqueiro para ver se cai um coco. Está buscando espaço entre os poucos que restam”, avalia o deputado federal Márcio França (PSB-SP).
Até março, o deputado do Ceará continuará transitando entre o melhor dos dois mundos. Aparecerá ao lado de Lula, como homem fiel ao presidente mais popular que o Brasil já teve, e não despertará antipatia no eleitorado petista. Na outra via, ampliará contatos com setores do PSDB que não simpatizam com Serra. O discurso será a despolarização das eleições. Sua candidatura teria a bandeira da renovação com garantia de continuidade.
“Ele está chacoalhando o coqueiro para ver se cai um coco. Está buscando espaço entre os poucos que restam”
(Márcio França, deputado federal PSB-SP, sobre Ciro Gomes)
Raymundo Costa:: Ao sabor da conjuntura
Justiça seja feita, desde junho passado, pelo menos, Aécio Neves defende que a decisão do PSDB sobre o candidato tucano a presidente deve se dar em dezembro, mais tardar no início de janeiro de 2010. Nesse sentido, o governador mineiro tem sido coerente, como mostra a coletânea de discursos e entrevistas que concedeu no período. O mesmo não se pode dizer sobre o que Aécio pensa fazer no governo e qual é precisamente sua opinião sobre o governo Lula.
O discurso de Aécio é genérico, algumas vezes contraditório e quase sempre escorregadiço. A crítica econômica é simplificada. O discurso recorrente de Aécio, nesses seis meses, defende a conclusão das reformas "que ficaram pela metade, como a previdenciária e a tributária, e as que nem sequer foram ainda debatidas em profundidade, como a trabalhista ou a política".
Dizer que o Estado petista é "ineficiente" é uma generalidade, mesmo quando o governador aponta para sua causa mais provável: o aumento de cerca de 27% do PIB, nos últimos sete anos, enquanto os gastos correntes do governo cresceram quase 80%. "Uma conta que não fecha", repete Aécio.
O governador de Minas fez o melhor esboço do que seria seu eventual governo num encontro recente com empresários de São Paulo. Para Aécio, "a gestão mais complexa em um governo" não é a administrativa e muito menos a econômico-financeira. "É certamente a gestão política".
As gestões administrativa e econômico-financeiro (consideradas o forte de José Serra, o adversário que Aécio tenta desbancar no PSDB), na opinião do governador, podem ser partilhadas e a autoridade, delegada. O mesmo não se poderia dizer da gestão política (considerada o forte de Aécio, que se apresenta ao PSDB como o candidato com maior poder de articulação, entre os tucanos). "A autoridade do chefe do Poder Executivo é indelegável", disse Aécio aos empresários.
A gestão política é a viga mestre do discurso "pós Lula" que Aécio desenhou há mais de seis meses, mas só agora tenta dar substância. Basicamente, a formação de consensos no governo. "Só a partir deles conseguiremos avançar"
Nessa lógica, Aécio limita-se ao lugar comum segundo o qual o atual governo não fez mudanças em matéria econômica e financeira e perdeu "oportunidades num ciclo expansivo da economia mundial". O discurso é bem coordenado. Aécio reconhece que na gestão petista "ocorreu uma distensão à medida que os movimentos sociais e sindicais praticamente se incorporaram ao governo ou foram por ele cooptados".
Acompanhe-se o raciocínio de Aécio: "Esta incorporação gerou faixas de forte interesse corporativo dentro do Estado".
Em outras palavras, as relações do governo Lula com ONGs e outros tipos de associações, por meio de financiamentos distintos, tornaram muitas dessas entidades economicamente dependentes do governo. Seria lícito, portanto, pensar que a derrota da candidata do governo nas eleições de 2010 provocaria uma "reação de todo este conjunto corporativo". E isso teria como efeito imediato um "estressamento" das relações com um novo governo de oposição.
É o que Aécio chama de "inconformismo no primeiro momento". Isso porque o governador de Minas, em vez de desmamar ONGs e outros movimentos sociais cooptados pelo governo, prega a gestão política como instrumento de conciliação.
"Ela (a gestão política) não poderá ser uma gestão vertical e tecnocrática, pois isso intensificaria os conflitos de partida, produzindo um quadro de imobilismo e de radicalização", explicou aos empresários. "A importância da gestão política na próxima administração se manifestará na relação com setores da sociedade organizada, com o poder legislativo e com os Estados federados."
Não deixa de ser uma mudança do discurso de fundo, nesse período de seis meses de tentativas para se colocar no páreo da convenção que escolherá o candidato do PSDB. Dias antes, Aécio esgrimia um discurso menos tolerante.
"Temos hoje quase 40 ministérios. Eu falo isso com a autoridade de quem assumiu o governo com 22 secretarias e hoje tem 15. O governo funciona muito melhor", dizia. "O PT tem essa característica do aparelhamento, a meu ver, excessivo da máquina pública em troca de apoios no Congresso. Eu acho que é possível governar o Brasil com um governo mais enxuto e com mais eficiência. Até porque o tamanho do Estado não significa ganho de eficiência e de resultados".
Aécio disse várias vezes que o PSDB deveria primeiro discutir seu projeto para aí sim definir o candidato. O mínimo que ele deve aos tucanos é dizer qual de seus projetos é o que vale .
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Cristian Klein:: Um intrincado quebra-cabeça
O momento atual da política brasileira é o período em que a elite política se mexe para fazer as suas escolhas. Isso é o que dará o rumo das eleições de 2010. Inúmeras articulações são costuradas, a construção das alianças é montada, num processo que, à parte a encomenda de algumas pesquisas de opinião pública, passa ao largo da maioria da população. Num governo representativo, o povo é chamado a dar seu veredito apenas no fim de um longo caminho, depois que muitos já escolheram por ele: governantes, caciques partidários e lobistas (num sentido amplo, de empresários a movimentos sociais) que têm interesse mais direto (e mais ou menos pronunciável) nos resultados da política.
O circo a ser levantado para seduzir o respeitável público, durante a campanha eleitoral, será tão complexo quanto as características institucionais em jogo. Num país como o Brasil, multipartidário e federativo, as escolhas da elite passam por um intrincado quebra-cabeça.
As duas principais dimensões da dinâmica política, os interesses partidários e os regionais, desafiam o encaixe perfeito. As manchetes de ontem de alguns dos principais jornais do país mostram isso. Quase idênticas, revelavam a dificuldade do governo em repetir nos estados a mesma aliança pactuada no plano nacional, especialmente com o PMDB, parceiro de maior peso da coalizão. O próprio presidente Lula já admite a inevitabilidade de haver dois palanques em alguns estados, com o confronto dos partidos que dão sustentação ao projeto nacional – o que pode prejudicar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff.
Os interesses regionais contam e ampliam as etapas de produção no processo de fabricação da vontade popular. Logo, nem sempre tudo emana de alguns iluminados, embora a escolha dos presidenciáveis tenha se dado dessa forma nos últimos anos. A escolha de Dilma foi uma decisão pessoal de Lula, e sua confirmação será apenas referendada pelo PT. Do lado da oposição, o PSDB chegou até a cogitar a realização de prévias, para ampliar o escopo e democratizar o processo de seleção. Mas a decisão está praticamente na cabeça de um homem só, o governador paulista José Serra, que prorroga o quanto pode seu anúncio para ter mais certeza de que entrará para ganhar, sem desperdiçar a reeleição certa ao Palácio dos Bandeirantes.
No entanto, seja feito por um colegiado menor ou maior de líderes, dentro de um contexto institucional mais ou menos complexo, o fato é que o processo de formação da vontade popular numa democracia moderna depende de tantos atores e variáveis que torna a ideia da “volonté générale”, expressa por Rousseau, uma obra de ficção. Foi contra essa idealização da doutrina clássica da democracia que se voltaram autores como Benjamin Constant, Hans Kelsen e Joseph Schumpeter. Os dois primeiros foram mencionados na coluna de ontem.
Mas é o trabalho de Schumpeter que cunha a expressão mais interessante para dessacralizar e desmistificar os pressupostos altamente ideais de Rousseau, de que haveria uma vontade geral do povo, única, genuína, espontânea. Para o austríaco, a era moderna – diferentemente dos tempos dos antigos, dos gregos, da democracia direta – é caracterizada pela vontade manufaturada. A vontade do povo é o produto e não o motor do processo político. As pessoas nem levantam nem decidem temas, mas os temas que conformam seu destino é que são normalmente levantados e decididos por elas.
Por isso, embora a chamada democracia direta tenha servido de ponto de partida para muitos teóricos políticos, afirma Schumpeter, não podemos falar de governo pelo povo, mas sim de governo aprovado pelo povo.
Essa característica seria uma consequência das modernas democracias. E significaria algo ao mesmo tempo vantajoso e perigoso. Vantajoso, porque a formação da vontade popular por um órgão de Estado como o Parlamento, por exemplo, minimizaria o problema da irracionalidade das massas. A decisão por poucos seria mais lógica e conteria um elemento fundamental: a responsabilidade, impossível de se conferir à multidão. O perigo é que, dependendo de como e quem esteja por trás dessa vontade manufaturada, os resultados podem ser catastróficos, pela manipulação dos impulsos e do inconsciente. Uma saída para se reduzir as irracionalidades? O aprendizado que se adquire no curso das decisões repetidas com frequência. Por exemplo, o antídoto de sucessivas eleições.
Esquerda italiana pede extradição de Battisti
Deputado Piero Fassino, ex-ministro da Justiça, afirma que "a esquerda no Brasil não tem informação e visão exata" do caso
Fassino diz que terrorista não foi condenado por suas ideias, mas "por assassinato", e critica argumento de Tarso Genro para aprovar o refúgio
Luciana Coelho
De Genebra
Ex-ministro da Justiça e hoje à frente da principal legenda de esquerda da Itália, o Partido Democrático, o deputado Piero Fassino espera "coerência" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao decidir sobre o futuro do terrorista Cesare Battisti.
E "coerência", afirma o deputado, é seguir o voto do STF (Supremo Tribunal Federal) na última quarta-feira e aprovar a extradição do italiano.
Para esse ex-militante do Partido Comunista italiano, a parcela da esquerda brasileira que vê Battisti como refugiado político interpreta mal os fatos: "Creio que a esquerda no Brasil não tenha uma informação e uma visão exata", afirmou Fassino de Roma durante conversa telefônica com a Folha.
O deputado de 60 anos, membro da comissão de Relações Exteriores da Câmara, não quis comentar de antemão a possibilidade de Lula vetar a extradição amparado por uma justificativa jurídica -delicada, a decisão pode sair só em 2010.
Mas reiterou diversas vezes durante a conversa na sexta-feira que "Battisti não é um homem perseguido por suas ideias políticas". "A Itália é um país democrático, onde todas as ideias são legítimas, de esquerda, de direita. Ele não foi condenado por suas ideias, foi condenado por assassinato."
Prisão perpétua
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1988 por envolvimento na morte de quatro pessoas durante os chamados "anos de chumbo" no país, na década anterior, quando militou no PAC (Proletários Armados pelo Comunismo).
O veredicto só veio após os testemunhos de outros membros do grupo radical terem ligado seu nome aos crimes.
Mas o italiano nega envolvimento e afirma não ter tido o direito de se defender (ele foi julgado "in absentia").
Foragido primeiro na França e, desde 2004, no Brasil, Battisti alega ser um perseguido político. Embora esteja preso desde 2007 no país por forjar seus documentos, ganhou no início deste ano status de refugiado por determinação do ministro Tarso Genro (Justiça) -depois revogado pelo STF.
"O ato do Supremo brasileiro é um ato justo, que reconhece que o processo na Itália foi regular e que Battisti foi condenado não por um ato político, mas por um crime gravíssimo", afirma Fassino, que lembra ter pedido "todos os dias" à França, em vão, pela extradição.
"Eles avaliaram de outra maneira, e, creio eu, erraram."
Consenso
A decisão de Paris e depois a de Tarso Genro parecem ter mexido com os brios italianos.A frase do líder do PD sobre a chancela ao veredicto da Justiça na Itália ecoa declarações de ministros em Roma a jornais locais e o que a Folha tem ouvido nos últimos dias de representantes do governo, da oposição e também do promotor que obteve a condenação do terrorista, Armando Spataro.
"A ideologia política de Battisti e de quem ele assassinou não justificam o assassinato, isso é claro", afirma Fassino. "Este ato do STF foi um ato de justiça que vai acabar com algumas especulações."
Tamanha afinação entre governo e oposição como se vê no caso Battisti -o deputado fala em "consenso total"- é raríssima na Itália, um país marcado por uma política extremamente polarizada e no qual a própria esquerda é fragmentada.
Mas os discursos dos últimos dias saíram em coro, a ponto de Lula, quando passou pelo país na semana passada, ter ouvido os mesmos pedidos do premiê Silvio Berlusconi, de direita, e do ex-premiê Massimo D"Alema, um socialista e colega de longa data do presidente.
As gestões de Roma, que incluem um enviado especial a Brasília, têm sido constantes.
Fassino conta que ele também reitera frequentemente os pedidos ao presidente brasileiro, a quem chama de amigo. "Já o encontrei mil vezes. Em todos esses anos, e muitas vezes em cada ocasião, pedimos uma decisão clara e correta."
Decepção
A opção do Supremo de passar ao presidente Lula a palavra final e desobrigar-se do ônus político esfriou parte do entusiasmo com que os italianos receberam o primeiro voto, pela extradição, e o substituiu por cautela e novas pressões.
"Cada vez [que conversamos] Lula declarou estar esperando a decisão da corte. Agora eu espero que tome uma decisão coerente", diz o deputado.
Mas para Fassino, apesar da proeminência adquirida pelo caso, ele é um problema "de Justiça", não político. "Não se pode permitir que um homem que matou outro se considere um perseguido político quando na verdade é um assassino."
O líder esquerdista também minimiza a justificativa de Tarso Genro para o refúgio, embora repita que "qualquer um pode verificar que na Itália há liberdade ideológica".
"[As declarações] não são um problema italiano, são um problema brasileiro. Não devemos prejulgar cada palavra de um ministro", diz ele. "Só queremos que Battisti esteja aqui para cumprir sua pena."
"O Brasil deveria se envergonhar"
Marcelo Ninio
O Brasil deveria se envergonhar de receber um ditador que nega o Holocausto e prega a destruição de Israel. É a opinião do cientista político israelense Efraim Inbar, da Universidade Bar Ilan. Para ele, o governo brasileiro é ingênuo ao pensar que pode ter influência positiva sobre Ahmadinejad.
FOLHA - Brasil pode ter papel relevante no Oriente Médio?
EFRAIM INBAR - O Brasil primeiro tem que se concentrar nos seus problemas internos, que são muitos, antes de querer resolver os problemas dos outros. Uma visita como essa causa danos, porque dá legitimidade a um ditador que nega o Holocausto e quer destruir o Estado de Israel. É uma vergonha que um país como o Brasil, democrático, promova essa visita. O governo brasileiro daria o mesmo tratamento a Hitler? Se não me engano, o Brasil lutou contra o Hitler na Segunda Guerra Mundial.
FOLHA - É o mesmo que apoiar Hitler?
INBAR - Não exatamente, mas há uma grande semelhança entre o discurso de Hitler e o perigo que ele representava para o mundo e o Irã de hoje.
FOLHA - O Brasil pode ajudar no diálogo com Teerã?
INBAR - [risos] Não me parece que Ahmadinejad esteja disposto a fazer concessões. O apoio de um país importante como o Brasil só fortalece os radicais no mundo. É o que os brasileiros querem?
FOLHA - O governo brasileiro acredita que isolar o Irã é pior.
INBAR - É uma visão ingênua. O Irã se beneficia dela e ganha tempo para produzir a bomba [atômica].
FOLHA - Como a relação com o Irã pode afetar a imagem internacional do Brasil?
INBAR - Certamente não ajuda. O que o Brasil quer, ser líder do mundo muçulmano? Fazer parte do opressivo mundo árabe? Melhor seria tentar garantir um lugar entre os países democráticos e desenvolvidos. Que tipo de ponte o Brasil pretende fazer? Entre assassinos e pessoas civilizadas? Não vejo isso como um ideal tão nobre.
Lula criticado por legitimar Ahmadinejad
Brasil defende direito do Irã a programa nuclear e tem apoio para vaga no Conselho de Segurança da ONU
A recepção ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, rendeu críticas ao presidente Lula nos meios diplomático e acadêmico na Europa e nos Estados Unidos. Para analistas, a visita dá legitimidade a Ahmadinejad, no momento em que ele é pressionado pela comunidade internacional a permitir o monitoramento do programa nuclear iraniano, e após uma reeleição marcada por fraudes. Lula reuniu-se com ele por cerca de três horas e, na saída, defendeu o direito de o governo iraniano desenvolver programa nuclear para uso pacífico. "O Brasil sonha com um Oriente Médio livre de armas nucleares", disse. Ahmadinejad discursou em apoio à pretensão brasileira de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. O iraniano, que enfrentou constrangimento e protestos na visita ao Congresso, cancelou palestra em faculdade por falta de segurança.
Risco para Lula, chance para Ahmadinejad
Para mídia e analistas internacionais, visita pode afetar influência do presidente e ajudar iraniano a legitimar governo
Gilberto Scofield Jr.
Correspondente
WASHINGTON. A decisão do Brasil de apoiar as pretensões nucleares do Irã — aliada às críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito aos Estados Unidos, à maneira como o país vem lidando com a questão hondurenha e até à postura pouco crítica a abusos do governo de Hugo Chávez nos terrenos da liberdade de imprensa e direitos humanos — pode prejudicar a relação entre o Brasil e os EUA e atrapalhar as pretensões da política externa brasileira de consolidar o país como grande líder global e regional.
A opinião é de analistas das relações entre os EUA e o Brasil, que vem sendo acusado de perder o equilíbrio e a sensatez na sua ânsia de “agradar a todos os países”. Segundo a mídia internacional, a visita pode atrapalhar a influência internacional de Lula ao mesmo tempo em que oferece a Ahmadinejad a chance de legitimar seu governo, tão criticado internacionalmente por causa de seu controverso programa nuclear e ligação com grupos terroristas.
A visita também provocou protestos no Peru, onde mais de cem pessoas da comunidade judaica local se concentraram em frente à embaixada brasileira e entregaram à representação uma carta expressando “mal-estar” e “preocupação” com o encontro.
Entre os jornais, o “New York Times” afirmou que o encontro mostrava as ambições do Brasil de ganhar um papel de destaque na diplomacia internacional. O jornal ressalvou, no entanto, que a ocasião também despertou críticas entre parlamentares americanos e ex-diplomatas brasileiros, para os quais o encontro poderia legitimar o governo Ahmadinejad.
O deputado democrata americano Eliot L. Engel, que preside o subcomitê de América Latina da Câmara de Representantes, disse que o convite do Brasil ao presidente iraniano foi um “grave erro”.
A professora de ciências políticas internacionais da Universidade George Washington, Cynthia McClintock, afirma que, com a declaração de Lula ontem, o Brasil ajuda a legitimar as demandas de Ahmadinejad, colocando o país numa situação “não exatamente positiva”, já que Lula não pressionou o presidente iraniano em nada: do monitoramento internacional de seu projeto nuclear, a sua polêmica reeleição ou as violações de direitos humanos no país.
— É uma vitória iraniana importante ter Lula como aliado em sua política de enfrentamento dos EUA e da União Europeia — diz ela.
O “L.A. Times” afirmou que Lula poderia perder influência internacional ao receber o iraniano, que, segundo o texto, procura novas oportunidades econômicas diante das ameaças de sanção por parte de países desenvolvidos.
Com o título “Lula assume riscos ao dar as boasvindas a Ahmadinejad no Brasil”, o jornal diz que o governo americano e analistas temem que o encontro poderia sinalizar uma aprovação implícita do Brasil à resistência do Irã em desistir do programa nuclear.
Para Eric Farnsworth, ex-funcionário do governo Bill Clinton e vice-presidente do Conselho das Américas, em Washington, a visita de Ahmadinejad, assim como a defesa de Lula a Chávez, podem ter servido como um balde de água fria nos planos do presidente Barack Obama de usar o presidente brasileiro como uma espécie de procurador na América Latina: — Afinal, quem quer um país tão próximo do Irã, um pária internacional, sentado no Conselho de Segurança da ONU? O jornal israelense “Haaretz” afirma que a visita oferecia uma oportunidade a Lula para impulsionar sua influência internacional e a Ahmadinejad para conseguir a “tão necessária legitimidade política” para seu governo.
Para alguns meios, aproximação não tem riscos Já a agência de notícias britânica Reuters disse, citando analistas, que “apesar de controversa, sua visita (de Lula) não deve criar dores de cabeça ao país, contanto que o governo seja cauteloso e o líder iraniano se abstenha de suas polêmicas declarações em solo brasileiro”.
Na França, o site da revista “L’Express” publicou ontem um artigo destacando que presidente iraniano, isolado internacionalmente, viajou à América Latina para buscar apoio de dirigentes de esquerda.
Houve repercussão também na Alemanha. À rádio estatal Deutsche Welle, o cientista político Thomas Fatheuer, da Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde, levantou a possibilidade de que o Brasil dê início a uma cooperação econômica e atômica com o Irã, mas ressalvou que Lula consegue uma aproximação com o Irã sem que a sua política sofra qualquer tipo de efeito negativo.
Já a revista “Stern” diz que o Brasil está se transformando em um importante “negociador da paz” no Oriente Médio, tendo recebido, em um curto período, o presidente de Israel, Shimon Peres, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e agora Ahmadinejad
Persona non grata: Em nota, PPS repudia visita de Ahmadinejad ao Brasil
Essa cena é mais um triste episódio da política externa do presidente Lula.
Por: redação
O PPS repudiou, nesta segunda-feira (23/11), por meio de nota assinada pelo presidente, Roberto Freire, a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil. O texto diz que o líder iraniano "se notabiliza por uma postura intolerante com a comunidade internacional e com os países imediatamente envolvidos no conflito (no Oriente Médio), notadamente com Israel".
A nota afirma que, ao receber Ahmadinejad, o governo do presidente Lula descredencia-se como mediador do conflito no Oriente Médio, posição que parece querer assumir, conforme acrescenta o texto. O PPS condena também o fato de o presidente do Irã negar o holocausto e a violência que praticada contra seus opositores na política interna, como na repressão às manifestações contra as fraudes nas eleições nas quais Ahmadinejad foi reeleito.
No final, o PPS diz que a visita é "mais um triste episódio da política externa do presidente Lula, que se tornou célebre por ostentar um viés abertamente ideológico, que subordina os interesses nacionais às suas preferências partidárias e pessoais". Leia a íntegra abaixo.
Mahmoud Ahmadinejad: persona non grata
O Partido Popular Socialista – PPS – manifesta de público seu repúdio à visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil e reafirma sua preocupação com os descaminhos de nossa política externa.
O governo Lula, ao receber Ahmadinejad no Brasil, em vez de habilitar-se, como parece pretender fazer, descredencia-se como um mediador do conflito no Oriente Médio, pois esse líder se notabiliza por uma postura intolerante com a comunidade internacional e com os países imediatamente envolvidos no conflito, notadamente com Israel. E não pode haver mediação sem que as partes queiram dialogar.
Nas questões internas do Irã, também irrompe-se a truculência de Ahmadinejad. O mundo não esquecerá as dezenas de pessoas feridas e mortas nas manifestações contras as fraudes nas eleições que renovaram o seu mandato. A violência ficou marcada nas cenas que correram o planeta, a mais chocante delas foi a da morte da jovem Neda Soltani, de 16 anos, covardemente assassinada pela polícia.
O atual Presidente do Irã, repetidas vezes, ofende a memória da humanidade, gravada fortemente pelo horror, ao negar o holocausto do qual foram vítimas mais de 6 milhões de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial; advoga ele até mesmo o fim do Estado judeu no Oriente Médio, na contramão de todas as conquistas do humanismo e da civilidade.
Para agravar essa postura de pária da comunidade internacional, o Irã insiste em desenvolver um programa de nuclear fora do controle internacional, o que tem elevado o nível de tensão numa região já bastante conflagrada
Este é mais um triste episódio da política externa do presidente Lula, que se tornou célebre por ostentar um viés abertamente ideológico, que subordina os interesses nacionais às suas preferências partidárias e pessoais, transformando a movimentação do país no complexo cenário internacional em subsidiária de causas menores e moralmente indefensáveis.
Roberto Freire
Presidente
Brasília, 23 de November de 2009.
No Rio, Light agora tem apagão todo dia
Um defeito num cabo subterrâneo da Light deixou parte da Zona Sul sem luz. Cerca de 12 mil clientes de Ipanema, Leblon e Lagoa ficaram pelo menos 6 horas às escuras. A companhia disse que foi preciso suspender o serviço para "garantir a segurança" da rede e dos usuários. Desde o apagão, têm sido registradas interrupções parciais em vários bairros do Rio.
Ipanema, Lagoa e Leblon foram os bairros mais afetados; Light detectou defeito em cabo subterrâneo de energia
Natanael Damasceno
Um defeito em um dos cabos de energia da rede subterrânea da Light voltou a deixar parte da Zona Sul sem luz em menos de dez dias. Dessa vez, os bairros mais afetados foram Ipanema, Lagoa e Leblon, a região mais nobre da cidade.
Segundo a própria empresa, cerca de 12 mil clientes — entre edifícios residenciais, bares, restaurantes, supermercado e postos de gasolina — ficaram oito horas sem energia.
A Light normalizou o fornecimento às 23h50m e informou, por meio de nota, que interrompera a distribuição de energia na região para “garantir a segurança” da rede e dos usuários. No penúltimo sábado, outro defeito em cabos teria deixado sem luz várias ruas na região.
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) deslocou agentes para os 28 cruzamentos cujos sinais deixaram de funcionar. Guardas municipais foram colocados para orientar o trânsito nas áreas afetadas.
Além da Zona Sul, outros bairros sofreram com a falta de energia ao longo do dia. Na Barra da Tijuca, um problema em outro cabo de energia, ocorrido no início da madrugada, deixou os moradores da região próxima à Avenida do Canal de Marapendi sem energia até o início da manhã. Segundo a Light, um cabo queimou na mesma caixa subterrânea que apresentou problemas no sábado.
Também tiveram problemas de abastecimento durante o dia bairros como Tijuca, Campo Grande, Anchieta e Recreio dos Bandeirantes. Segundo a Light, neste caso, os problemas foram causados por motivos diversos e resolvidos ao longo do dia. A Avenida Pedro II, em São Cristóvão, foi interditada na altura da Rua São Cristóvão, por causa do estouro de um transformador, que acabou pegando fogo.
Usuários criticam também a falta de informações Com os transtornos esquentando ainda mais o dia ensolarado, os consumidores não pouparam a empresa. O advogado Marcelo Araújo, de 37 anos, morador de Ipanema, reclamou: — Você telefona e não consegue uma posição. Somos consumidores e pagamos as contas em dia, mas não conseguimos uma resposta da empresa. Dizem apenas que o problema será resolvido dentro de 72 horas ou, ainda pior, que não há uma previsão.
É de uma ineficiência inacreditável
Em 10 estados, o que Lula não quer
Base governista deve ter palanques duplos de Norte a Sul; desafio de Dutra será unificá-los
Maria Lima BRASÍLIA e SÃO PAULO
O ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra (SE) deve ser eleito presidente nacional do PT no primeiro turno e pretende anunciar, amanhã, pontos de sua política para tentar pacificar os conflitos entre aliados nos estados. Para as eleições de 2010, cuja prioridade do PT será tentar eleger a ministra Dilma Rousseff sucessora do presidente Lula, Dutra tem o desafio de desarmar palanques duplos da base governista em pelo menos dez estados, inclusive no Rio.
Dutra, porém, diz considerar que apenas três estados são dados como caso perdido na tentativa de unificar PT e aliados em torno da candidatura de Dilma: Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Confirmada sua eleição hoje ou amanhã, Dutra iniciará imediatamente as conversas com os petistas que trabalham para ter candidatura própria em confronto com o PMDB, como é o caso do Rio. Ele fará um balanço do resultado do Processo de Eleição Direta do PT (PED), já dando o tom de sua estratégia, avalizada pelo presidente Lula e pela ministra Dilma.
No Rio, prioridade é aliança com PMDB
Dutra promete partir para o enfrentamento com o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que quer se lançar pré-candidato ao governo pelo PT, para preservar o apoio à reeleição do governador Sérgio Cabral, e o consequente palanque forte do PMDB para Dilma no estado.
Terá a missão também de convencer o PMDB do contrário, casos do Pará e Minas Gerais, por exemplo.
Esta semana, caso se confirme sua eleição, Dutra planeja conversar com as forças derrotadas. A ideia do grupo é não repetir o bloco fechado de 2001, quando o ex-ministro José Dirceu venceu no primeiro turno, com mais de 52% das forças agregadas, e que depois resultou no escândalo do mensalão.
— A composição interna é estatutária e o número de cargos é proporcional aos votos. O que tenho dito, no entanto, é que todas as correntes apresentem seus melhores quadros.
Minha intenção é construir uma executiva o mais representativa possível.
Se eu realmente vencer, não serei da tendência A ou B — disse.
O segundo colocado na disputa para o comando do PT, deputado Jose Eduardo Cardozo (PT-SP), refuta a tese de que a vitória de Dutra fortalece a ideia das não candidaturas próprias nos estados em que o PT disputa com partidos aliados.
— O Dutra é apoiado por pessoas que acham que em São Paulo o PT deve ter candidato próprio, como a Marta Suplicy, por exemplo, ou o Fernando Pimentel, em Minas Gerais. Há um conjunto de situações, as mais diversificadas, que nos leva a crer que mesmo com a eleição de Dutra não haverá uma situação uniforme em relação a não ter palanques duplos nos estados — disse Cardozo.
Para Cardozo, o presidente Lula acertou ao admitir que em alguns estados não será possível evitar palanques duplos: — O presidente Lula falou muito bem sobre isso. Temos que buscar ao máximo a unidade das forças políticas, mas nem sempre isso é possível.
Teremos que conviver com essas situações — disse.
Até o inicio da noite de ontem, só pouco mais de 41% dos votos tinham sido contados. Com o avanço da apuração, crescia a vantagem de Dutra, candidato da corrente majoritária e apoiado pelas grandes estrelas do governo petista: ele liderava em 22 estados e tinha 53% dos votos, contra 19,6% de Cardozo, que liderava em Pernambuco e Rio Grande do Sul .
No Rio, eleição no PT deve ir para 2o- turno
Luiz Sérgio lidera a disputa; Casula e Bismarck, que defendem candidatura própria, disputam vaga para concorrer
Flávio Tabak e Maiá Menezes
Com 60% dos votos apurados, a eleição para a presidência do PT no Rio deve ser decidida no segundo turno. O primeiro colocado é o deputado federal Luiz Sérgio, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que atingiu 40% dos votos. Bismarck Alcantara e Lourival Casula, com aproximadamente 23% cada um, disputam o segundo lugar. Os dois são apoiados pelo précandidato ao governo do estado e prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.
Luiz Sérgio reconheceu ontem que deve disputar o segundo turno. Segundo ele, a eleição será apertada. O PT deve divulgar ainda hoje, até o meio-dia, o resultado.
— Acho que terei entre 43% e 45% dos votos. Essa questão (segundo turno) está dentro do nosso planejamento e temos que esperar baixar a poeira.
O mais provável é que eu vá disputar a presidência com o Casula — disse o deputado.
A principal disputa dentro do PT fluminense é a decisão sobre a candidatura própria ao governo do estado no ano que vem. Luiz Sérgio é apoiado pelo atual presidente, Alberto Cantalice. Ambos defendem a aliança com o PMDB para apoiar a reeleição do governador do Rio, Sérgio Cabral.
Lindberg rebateu ontem as afirmações do ex-senador José Eduardo Dutra, favorito para ser eleito presidente nacional da legenda. Para Dutra, o PT deve caminhar junto com Cabral no Rio, garantindo o apoio do PMDB no estado para a candidatura da ministra Dilma Rousseff pela Presidência.
Cantalice reafirma defesa da candidatura nacional O prefeito de Nova Iguaçu também já calcula quantos delegados do partido votarão pela candidatura própria na convenção do PT em 2010.
— Qual é o critério para poder ter palanque duplo num estado e não ter no outro? Respeito o presidente Dutra, é a opinião dele, mas os delegados decidem. Estou muito otimista e acho que não tem mais clima para intervenção . O Casula está muito bem posicionado para ganhar no segundo turno, não sei como o Luiz Sérgio buscaria a diferença. Volto a dizer: para a Dilma, não há nada melhor do que ter o palanque triplo no Rio: o meu, o do Cabral e o do Garotinho.
Estimo que 55% dos delegados votarão a favor da candidatura própria na convenção — prevê Lindberg.
De acordo com resultados preliminares colhidos pelo prefeito, Luiz Sérgio ficaria em primeiro lugar com 39% dos votos, e Casula, com 26%.
Do outro lado da disputa, Cantalice diz que o palanque duplo no Rio trará problemas para uma candidatura nacional à Presidência da República: — Nós vamos continuar nosso discurso em defesa do projeto nacional.
Sensus: Serra mantém liderança, mas diferença para Dilma diminui
DEU EM O GLOBO
Pesquisa mostra que dobradinha de tucanos também venceria petista hoje
BRASÍLIA. O governador de São Paulo, o tucano José Serra, mantém a liderança nas intenções de voto para a Presidência da República em 2010, e hoje venceria a disputa com a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil), principalmente se tivesse como candidato a vice o governador de Minas, Aécio Neves.
Os dados são de pesquisa do Instituto Sensus, feita de 16 a 20 de novembro, para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), e divulgada ontem.
No primeiro cenário, Serra teria 31,8% dos votos, contra 21,7% de Dilma, 17,5% de Ciro Gomes (PSB) e 5,9% de Marina Silva (PV). Num eventual segundo turno, Serra hoje venceria Dilma por 46,8% a 28,2%.
A pesquisa CNT/Sensus constatou que uma dobradinha formada pelos tucanos Serra e Aécio Neves, governador de Minas, teria 35,8% das intenções de voto, seguida da chapa Dilma-Michel Temer (PMDB-SP), com 23,9%. No cenário em que Aécio é o candidato a presidente, e Serra seu vice, a chapa tucana mantém a liderança, com 31%, contra 22,6% da dupla Dilma-Temer.
Na eventualidade de uma chapa Aécio-Ciro Gomes, eles venceriam no primeiro turno, com 32,4%, contra 26,6% da chapa Dilma-Temer. Num cenário sem Ciro, Serra fica com 40,5%; Dilma, com 23,5%; e Marina, 8,1%.
Os números mostram queda das intenções de voto em Serra e o crescimento de Dilma. Na pesquisa anterior, em setembro, Serra tinha 40,1% e Dilma, 19,9%.
Ciro não estava nessa lista.
A popularidade e a aprovação do governo do presidente Lula cresceram. Segundo a pesquisa, a popularidade de Lula foi de 65,4%, em setembro para 70%. E 78,9% aprovam o desempenho de Lula; 14,6% desaprovam. O Sensus entrevistou dois mil eleitores em 24 estados. A margem de erro é de três pontos. A pesquisa mediu a influência de Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: 16% rejeitariam um nome indicado por Lula e 49,3% afirmaram que não votariam num candidato indicado pelo ex-presidente
Após divulgação de pesquisa, José Serra evita falar de política
estadao.com.br
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), inaugurou nesta segunda-feira, 23, as obras de prolongamento da Linha 2 - Verde do Metrô até o bairro de Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista. Ele evitou falar sobre política durante a cerimônia, mas ressaltou sua parceria com o DEM. Na pesquisa CNT/Sensus divulgada sobre as eleições presidenciais de 2010, as intenções de voto para o governador, um dos principais nomes do PSDB na disputa, caíram nas simulações para primeiro e segundo turno, enquanto que sua principal adversária, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve aumento nas intenções de voto.
Serra não quis comentar o resultado da última edição da pesquisa da CNT/Sensus, divulgada nesta segunda-feira. O levantamento mostra que as intenções de votos para o governador nas eleições à Presidência da República em 2010 caíram 15 pontos porcentuais, para 31,8%. Em dezembro de 2008, Serra tinha 46,5% das intenções de voto na mesma pesquisa. A pré-candidata do PT à sucessão no Palácio do Planalto, a ministra Dilma Rousseff, que tinha 10,4% das intenções de voto em dezembro do ano passado, tem agora 21,7%.
Em seu discurso sobre a obra, Serra enalteceu a parceria entre o Estado e a Prefeitura e manteve a mesma linha durante breve entrevista. Questionado se estaria de volta ao local em 2012 para a inauguração de toda a linha, o governador foi lacônico: "Deus é quem sabe". Perguntado se quem saberia a resposta não seria o eleitor, Serra retrucou: "A essa altura do campeonato, só Deus".
De acordo com o governador, a primeira fase do prolongamento da Linha 2 -Verde será entregue em 2010. A conclusão de todo o projeto está prevista para 2012. O custo do empreendimento será de R$ 2,8 bilhões. Desse total, o Estado custeará R$ 1,8 bilhão, e a Prefeitura, R$ 1 bilhão. Durante discurso para a população presente na cerimônia, promovida no bairro Parque São Lucas, na região sudeste da cidade, o governador errou o nome do bairro onde discursava, cumprimentando "os moradores do Ipiranga". Alguns populares corrigiram aos gritos o governador, que justificou o engano. "Antigamente, tudo fazia parte da mesma região."
José Serra cai e adversários sobem em 2º turno, diz pesquisa
Leonardo Goy - Agencia Estado
BRASÍLIA - Os cenários para segundo turno da eleição presidencial, feitos pela CNT/Sensus, confirmam tendência de queda do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e de alta dos seus principais adversários. No primeiro cenário de segundo turno, contra a potencial candidata do governo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Serra ainda venceria a disputa com boa vantagem, com 46,8%, ante 28,2% da ministra. Porém, na pesquisa feita em setembro, a situação de Serra era mais confortável: ele tinha 49,9%, contra 25% de Dilma.
Em um segundo cenário de disputa entre Dilma e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), a ministra passou dos 35,8% da pesquisa de setembro para 36,6% neste mês. Aécio subiu dos 26% de setembro para 27,9%. Em um terceiro cenário de disputa entre Serra e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a vantagem de Serra diminuiu sensivelmente. Em setembro, o governador paulista tinha 51,5% das intenções de voto e, agora, tem 44,1%. No entanto, Ciro Gomes subiu de 16,7% para 27,2%. Em cenário inédito contrapondo Ciro e Dilma, o deputado venceria a disputa com 35,1% das intenções de voto, enquanto Dilma teria 31,5%.
CNT/Sensus aponta queda na diferença entre Serra e Dilma
Leonardo Goy, da Agência Estado
BRASÍLIA - Os diferentes cenários de primeiro turno elaborados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) com o Instituto Sensus, mostram tendência de crescimento da potencial candidata do governo à Presidência da República, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Isso ocorre ao mesmo tempo em que o principal candidato da oposição, o governador de São Paulo, José Serra, tem um comportamento entre estagnação e queda, principalmente quando se compara a pesquisa divulgada hoje com as de dezembro do ano passado.
Na primeira lista apresentada pela CNT/Sensus aos entrevistados, Serra aparece na frente de Dilma para primeiro turno, com 31,8% de intenções de voto, seguido pela ministra, com 21,7%. Em terceiro lugar, aparece o deputado federal Ciro Gomes (PSB-SP), com 17,5%. A senadora Marina Silva (PV-AC) tem 5,9% e vem em quarto lugar.
O diretor do Sensus, Ricardo Guedes, observou que, mesmo sendo essa lista inédita, é possível notar que Serra perdeu cerca de 15 pontos porcentuais em intenções de voto em primeiro turno, quando se compara esta lista com cenários elaborados em dezembro do ano passado. Segundo Guedes, em dezembro de 2008, Serra tinha 46,5% de intenções de voto, enquanto Dilma tinha 10,4% e a ex-senadora Heloisa Helena (PSOL) - que na época era uma potencial candidata - tinha 12,5%.
Num segundo cenário elaborado pela CNT/Sensus, Ciro Gomes venceria o primeiro turno numa disputa sem Serra. Ciro teria 25% das intenções de voto, contra 21,3% de Dilma, e 14,7% do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que neste caso seria o presidenciável tucano. A senador Marina Silva aparece em quarto lugar, com 7,3%.
Em terceira lista, sem Ciro, Serra aparece com 40,5% de intenções de voto, porcentual praticamente idêntico aos 40,1% da pesquisa feita em setembro deste ano. Já Dilma subiria de 19,9% em setembro para 23,5% agora. Marina, que tinha 9,5% em setembro, recuou para 8,1%.
Num quarto cenário, com Aécio no lugar de Serra, e sem Ciro na disputa, Dilma Rousseff fica na frente em primeiro turno, com 27,9%, ante 25,6% registrados em setembro. Aécio, por sua vez, subiria de 19,5% para 20,7% e Marina Silva cairia de 11,2% para 10,4%.
Parlamentares brasileiros protestam contra visita de Ahmadinejad
Parlamentares protestaram nesta segunda-feira contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, à sede do Legislativo brasileiro. Os deputados Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) e Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) estenderam faixas dentro do plenário da Casa com os dizeres: "Holocausto nunca mais" e "Ninguém pode apagar a história" antes do iraniano ingressar no local.
Os parlamentares também levaram para o Congresso sobreviventes da Segunda Guerra que viveram em campos de concentração nazistas. De cadeira de rodas, aos 84 anos, o presidente da Associação de Sobreviventes do Nazismo, Ben Abrahan, segurou uma das faixas contrária à presença de Ahmadinejad no Brasil.
"Passei cinco anos e meio no campo de concentração nazista. Vi as câmaras de gás e as chaminés dos crematórios expelindo fumaça preta e senti nas minhas narinas o cheiro de carne queimada. E agora vem esse homem que nega o Holocausto e é recebido como chefe de Estado pelo nosso governo do Brasil?", questionou.
Nascido na Polônia, Abrahan se naturalizou brasileiro depois da guerra. Ao lembrar do conflito, o sobrevivente disse que passou cinco anos e meio no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.
Para o deputado Itagiba, a visita do presidente do Irã ao Brasil "envergonha" o povo brasileiro. "A visita do presidente do Irã causa vergonha ao Brasil porque foi o Brasil quem deu um grande passo para que existisse o Estado de Israel. Nada contra o povo iraniano porque ele também está sendo massacrado, teve suas eleições fraudadas e tem os seus direitos humanos desrespeitados", disse o parlamentar.
Além de visitar o Congresso, Ahmadinejad se reuniu nesta segunda-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Itamaraty. Manifestantes favoráveis e contrários à visita do presidente do Irã tomaram a frente do Palácio durante reunião entre os dois chefes de Estado. Houve um pequeno tumulto entre os cerca de cem manifestantes, contidos pelos funcionários da Presidência da República. É a primeira visita de um presidente iraniano ao Brasil em cerca 50 anos.
Depois da chegada do polêmico Ahmadinejad, a polícia reforçou a segurança na região, inclusive com a presença da cavalaria. O grupo contrário à presença do presidente iraniano questiona as posições de Ahmadinejad contra os direitos dos homossexuais e das mulheres e sua rejeição ao Holocausto e a Israel. Eles portavam faixas com dizeres como "negar o Holocausto é crime" e "você acha que o programa nuclear é para fins pacíficos?".
Os favoráveis, em menor número, demonstraram apoio à política externa brasileira, contra o imperialismo e o sionismo.
El reto de Bersani de enderezar Italia
Tras muchos (demasiados) meses, por fin, el mayor partido de la oposición italiana, el Partido Democrático, tiene un secretario en la persona de Pierluigi Bersani. Sin embargo, este resultado se ha obtenido con una destacada disminución del número de electores respecto a las anteriores "primarias", el singular mecanismo (de un solo partido) previsto en los complicados estatutos del PD para escoger a su líder.
Por otra parte, la desafección de los electores es un dato constante en esta oposición que, frente a Berlusconi, lleva años olvidándose de intervenir para resolver el conflicto de intereses y no ha conseguido apasionar a la población con su programa. Además, la caída del 30% en el número de votantes en las primarias internas del PD ha ido acompañada del descenso en las últimas elecciones europeas y administrativas de 2009 y en las generales de 2008, que reinstauraron a Berlusconi en el gobierno del país.
La victoria de Bersani en el PD es la victoria del ala que depende de D'Alema, descendiente directo del viejo Partido Comunista. A él se ha opuesto siempre Walter Veltroni, procedente del mismo ámbito, en una lucha eterna por la primacía en la izquierda que ha pasado por diversas vicisitudes.
En esta ocasión, los dos adversarios se habían colocado, D'Alema en apoyo de Bersani y Veltroni en apoyo del católico Franceschini, que hace unos meses le sustituyó de forma provisional en la dirección del PD cuando Veltroni tuvo que dimitir como secretario por la derrota en las últimas elecciones administrativas y europeas, en las que descendió al 26% de los votos.
Las trayectorias políticas de D'Alema y Veltroni han sido a menudo paralelas: ambos dirigieron L'Unità, el diario del PCI fundado por Antonio Gramsci; ambos fueron secretarios del PDS (Demócratas de Izquierda), el partido nacido de la evolución del PCI, y al que Veltroni llevó al mínimo histórico del 17%. Cuando Veltroni fue elegido secretario del PD, en realidad no tenía más programa que el eslogan de Obama, "Yes we can", traducido inútilmente como "Si può fare ("Se puede hacer").
Pero D'Alema fue también presidente del Consejo, y Veltroni fue, durante dos mandatos, alcalde de Roma. D'Alema es apreciado por sus colegas y temido por sus adversarios, que son muchos, porque no goza precisamente de un carácter integrador. A él se debe la elección de Romano Prodi para dirigir El Olivo, la coalición que reagrupaba a las diversas corrientes del centro-izquierda y que venció en dos ocasiones a Berlusconi.
La victoria de Bersani y la reafirmación del ala de D'Alema ponen en crisis al ala católica del PD, y uno de sus representantes más visibles, Francesco Rutelli, está pensando en una miniescisión que traslade a 25 parlamentarios al partido católico por excelencia, la UDC de Pierferdinando Casini. De ese modo, Rutelli completará una de las trayectorias más largas de la política italiana, que comenzó como secretario del partido más anticlerical, el Partido Radical, y seguramente culmine ahora en la UDC, uno de los partidos más conservadores del Parlamento.
Este pequeño fallo parece beneficioso, porque contribuirá a aclarar el ánimo y las perspectivas del PD, que, de ese modo, quizá podría atraer a ese 10% de electores laicos que hasta ahora han tenido escasa representación entre, por un lado, la izquierda tradicional de Refundación Comunista de Paolo Ferrero e Izquierda y Libertad de Niki Vendola, y, por otro, el Partido Radical de Marco Pannella y Emma Bonino.
Con la reafirmación de Bersani, la corriente de D'Alema vuelve a controlar los destinos de la alternativa a Berlusconi en uno de los momentos más difíciles para Italia, en plena crisis económica y, sobre todo, moral. En efecto, el electorado italiano, en su conjunto, ha sufrido un doble golpe directo.
Cuando la opinión pública todavía no había tenido tiempo de absorber el escándalo de que Berlusconi, primer ministro y fundador del PDL, frecuente la compañía de menores y prostitutas, llegó el escándalo de Piero Marrazzo, gobernador de la región del Lazio (la región de Roma) y afiliado al PD, sometido al chantaje de cuatro carabinieri que le sorprendieron y le filmaron en situación de intimidad con un transexual.
Además, en este segundo escándalo se incluye un tercero más inquietante: el de las fuerzas del orden que, en vez de proteger la intimidad de un miembro de las instituciones, le hacen chantaje y tratan de vender a la prensa el vídeo rodado durante la irrupción en la vivienda privada en la que se desarrollaba el insólito espectáculo. Y luego se ha sabido que fue el propio Silvio Berlusconi quien advirtió a Marrazzo que circulaba entre los editores un vídeo comprometedor para él y le dio las indicaciones necesarias para encontrar a quien lo había puesto a la venta y pedirle que retirase la "mercancía" del mercado, en vez de invitarle a denunciar el chantaje.
¡Y pensar que Marrazzo había sido elegido para limpiar las calles del fenómeno de la prostitución! El escándalo con luces rojas del gobernador del Lazio estalló dos días después de que los jueces de Campania expulsaran de la región a la presidenta del Consejo regional, Sandra Lonardo, esposa del eurodiputado del PDL Clemente Mastella, por malversación, y tres días después de que en la región de Lombardía se detuviera a otros representantes del PDL, cercanos al gobernador Formigoni. En los últimos días ha habido otras detenciones de miembros del PD en Toscana por construcciones ilegales.
El panorama político italiano se manifiesta así de desolador y casi desesperanzador para los ciudadanos honrados, que ya no encuentran, en esta turbia democracia, ningún asidero al que confiar las aspiraciones de un país normal.
El sistema está podrido. Falta la cultura de la verdad y la legalidad. Prevalece la hipocresía de ir a la iglesia a ponerse una alianza en el dedo, frecuentar el amor mercenario y después salir a la calle a apoyar a la familia, o la lucha contra la prostitución, o contra los derechos de las parejas de hecho y los homosexuales. Es una hipocresía que viene de lejos, de la educación bienpensante y clerical que atribuía al político de turno la liberación de los pecados, en primer lugar la prostitución y la corrupción, para luego descubrir que el político de turno es el primer consumidor de ellos. Un asunto viejo que confirma que la Segunda República conserva la peor parte de la primera y es capaz de ocultar, con el control de la información, todo lo que no agrada al poder.
Un país que rechaza a la inmigración sin comprobar previamente quién tiene derecho de refugiado, que niega los derechos de los inmigrantes, que no acepta la regulación de las parejas de hecho, que niega los derechos a los homosexuales y los persigue, que elude abordar el uso de la píldora abortiva RU486 -que se vende en Francia desde hace decenios y en las farmacias españolas-, mientras los periódicos muestran los ríos de cocaína que inundan los edificios del poder, las mafias que se apoderan de las instituciones, los vicios privados que corren bajo las públicas virtudes, es un país en el que hay demasiadas cosas que no funcionan y demasiada corrupción instalada. El reto definitivo es si Bersani será capaz de enderezar la nave a la deriva de Italia.