terça-feira, 19 de agosto de 2014

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

Sempre que tive a oportunidade, procurei desqualificar essa valorização da economia nas decisões do quadro político brasileiro imediato. A meu ver, o que ilustra melhor isso são as jornadas de junho de 2013,quando as demandas eram, todas, de outra natureza. Diziam respeito a direitos.

Direitos. E, olhando bem, quando viramos para 2014 e o processo eleitoral se abre, qual é a agenda dos três principais candidatos? A que foi posta nas ruas pelas manifestações de junho. A discussão econômica não está dominando as intervenções públicas desses candidatos. Domina suas intervenções com comunidades de empresários, de homens de negócio, empreendedores. Tem que ser assim mesmo. Agora, quando falam para o grande público,o tema é outro. O tema é o da agenda de junho de 2013, uma agenda de direitos.

Pode parecer uma construção para marcar posição da minha parte, mas eu não estou vendo, neste processo, o tema da economia, tal como está posto pela mídia, como central. Até porque a economia não está vivendo mares catastróficos.

Não é todo eleitorado, mas os eleitores estão dizendo, especialmente os jovens, que não querem participar disso, ou que não estão satisfeitos em participar disso, não estão encantados por esse processo eleitoral. Está claro. E não se deve a razões econômicas, mas a uma insatisfação com as instituições, com a cultura política do país. E, de repente, o que se vê, com a morte do Eduardo, é que não havia tanto motivo para rejeitar. Havia bons candidatos. A política conhece bons personagens. O Eduardo era um deles.

Luiz Werneck Vianna, sociólogo e professor da PUC-Rio. Entrevista no jornal Brasil Econômico, 18 de agosto de 2014

PSB e Marina buscam vice, PT e PSDB preveem 2º turno

• Em discurso, viúva de Campos não comenta cenário nacional. PSB segue na busca de nome para vice

Eduardo Bresciani, Júnia Gama e Sérgio Roxo – O Globo

RECIFE - A despeito de pressões do PSB para que se posicionasse a respeito da sucessão na disputa nacional, a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, deu sinalizações claras ontem, o primeiro dia após o enterro do marido, de que pretende restringir sua atuação, em um primeiro momento, à política em Pernambuco. Em conversas reservadas, Renata tem demonstrado que não pretende assumir um papel mais efetivo na chapa presidencial, como vice de Marina Silva.

Dirigentes do PSB diziam que a definição do vice de Marina passaria por Renata, que teria a vaga caso assim desejasse ou poderia indicar um nome de sua preferência para a função. Sem um posicionamento claro de Marina, o nome mais forte dentro do PSB continua sendo o do deputado Beto Albuquerque (RS).

Pela manhã, Renata participou de evento do PSB local, um ato para reafirmar e reforçar a candidatura de Paulo Câmara (PSB), escolhido por Campos para sucedê-lo no governo. A cúpula socialista esperava que Renata fizesse alguma manifestação a respeito do cenário nacional, mas ela restringiu seu discurso à campanha pernambucana.

Em sua primeira atividade política depois da morte do marido, a viúva de Campos foi econômica nas palavras e evitou fazer qualquer referência à campanha presidencial. Mesmo assim, ouviu boa parte dos cinco mil presentes ao encontro promovido por partidos que compõem a aliança de Paulo Câmara pedirem em coro para que ela assuma o posto de vice de Marina.

- Como participei a vida toda de campanhas, não será diferente nessa. Pelo contrário, tenho a sensação que tenho que participar por dois. Vim porque sei da vontade dele e da importância de eleger Paulo (Câmara), Raul (Henry) e Fernando (Bezerra). Depois de todos esses anos de tanto trabalho, de tantas coisas feitas, de tantas transformações, sabendo que muita coisa ainda precisa ser feita, outras consolidadas, a gente pensava: precisamos garantir essa vitória, pois só assim é possível fazer esse sonho ir adiante. Acho que só depende de nós - disse Renata, durante o seu discurso lido na tela do celular.

"Contem com a gente"
Rodeada pelos filhos, ela falou por cerca de três minutos e assegurou que os candidatos do PSB no estado terão ajuda da família.

- Estou aqui com Duda, João, Pedro, José e Miguel (seus filhos) para dizer ao Paulo (Câmara, candidato do PSB ao governo do PE), ao Raul (Henry, vice na chapa) e ao Fernando (Bezerra, candidato do PSB ao Senado): contem com a gente! - disse Renata, que fazia aniversário ontem.

O encontro, realizado em uma casa de eventos do Recife no final da manhã, havia sido marcado por Campos, antes da tragédia, e tinha objetivo de pedir a intensificação da campanha do PSB local. Depois de sua morte, integrantes da aliança chegaram a questionar a manutenção da candidatura de Paulo Câmara, que não tem apresentado bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto.

- Acho que devem estar pensando: Renata aqui hoje? Eu estava, como estive em tantos momentos, ao lado de Dudu, quando ele pediu para marcar essa reunião. Depois da tragédia, o Sileno (Guedes, presidente do PSB de Pernambuco) me perguntou: "E agora?" Eu disse: "Mantenha tudo como ele queria".

Na única referência ao projeto nacional, Renata citou a frase dita pelo marido na véspera da morte em entrevista ao "Jornal Nacional" e que se transformou num espécie de slogan do PSB para a sucessão presidencial.

- Pode parecer que nosso maior guerreiro não está na luta. Mas seus sonhos estarão sempre vivos em nós. Fica tranquilo, Dudu. Teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil - finalizou, sendo saudada com o grito de "Renata, guerreira do povo brasileiro".

Mais cedo, no mesmo evento, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, citou aos militantes do partido o papel que a viúva de Campos terá dentro da legenda daqui para frente.

- Depois de Arraes, depois de Eduardo, o nosso partido tem uma nova liderança que representa não apenas a alma pernambucana, mas também a alma brasileira. A grande liderança do partido hoje é Renata Campos - discursou Amaral.

Dilma se recusa a comentar atitude petista com mensaleiros

• Dilma alega que, por ser presidente, não pode comentar julgamento do mensalão

Luiza Dame e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - Confrontada com os casos de corrupção no governo envolvendo caciques petistas, a presidente Dilma Rousseff fugiu ontem da resposta, afirmando que não comentaria o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o mensalão. Manteve essa atitude, mesmo quando lembrada que a pergunta se referia ao comportamento do seu partido em relação aos petistas condenados. Ela também admitiu que a situação da Saúde no país não é aceitável. Candidata do PT à reeleição, Dilma foi a terceira entrevistada da série com presidenciáveis do "Jornal Nacional", da "TV Globo".

- Sou presidente da República e não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal Federal, por um motivo muito simples: a Constituição exige dos demais chefes de Poder que respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos - disse a presidente, sendo interrompida pelo apresentador William Bonner, que perguntava sobre a postura do PT, e não sobre o julgamento do mensalão no STF.

O jornalista perguntou a Dilma se o PT não era condescendente com os mensaleiros condenados pelo STF, ao tratá-los com vítimas de uma injustiça e como guerreiros.

- Tenho as minhas opiniões pessoais. Enquanto eu for presidente, não externo opinião a respeito de julgamento do Supremo. E não é a primeira vez que eu respondo isso. Durante o processo inteiro, não manifestei nenhuma opinião sobre o julgamento. Respeito o julgamento - disse Dilma, sendo interrompida pelo jornalista, que perguntava novamente sobre a postura do PT. - Eu não vou tomar posição que me coloque em confronto, conflito. Aceitando ou não, eu respeito a decisão da Suprema Corte. Isso não é uma questão subjetiva. Para exercer o cargo, eu tenho de fazer isso.

Dilma: estruturação dos órgãos de controle
Antes de chegar a esse ponto, a presidente disse que os três governos petista - o seu e os dois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - foram os que mais combateram a corrupção, estruturando os órgãos de fiscalização, como a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU).

- Tivemos uma relação muito respeitosa com o Ministério Público. Nenhum procurador-geral da República foi chamado, no meu governo e no do presidente Lula, de engavetador-geral da República, porque escolhemos com absoluta isenção os procuradores - disse, referindo-se ao apelido do chefe do Ministério Público nos governos tucanos.

A presidente defendeu seu auxiliares afastados por denúncia de corrupção, dizendo que "nem todas as denúncias de escândalo resultaram na constatação de que a pessoa tinha que ser punida, e muitos foram posteriormente inocentados". Segundo Dilma, que concedeu a entrevista no Palácio da Alvorada, alguns saíram do governo porque "é muito difícil resistir à pressão da família ou à apresentação da pessoas como tendo cometido um crime".

Dilma não concordou com a análise de que, ao fazer uma troca de ministros por pessoas do mesmo partido partido, está trocando "seis por meia dúzia", como disse Bonner. Ela lembrou que foi criticada por ter trocado César Borges por Paulo Sérgio Passos, ambos do PR. Borges foi dos Transportes para Portos, e Passos entrou no seu lugar.

- São pessoas que escolhi nas quais confio. Os partidos podem fazer exigências, mas considero que ambos são pessoas íntegras e competentes. São pessoas da minha confiança. Troquei porque tinha confiança nessas pessoas.

O bloco sobre corrupção foi interrompido pela jornalista Patrícia Poeta, que fez uma pergunta sobre Saúde. A jornalista lembrou que o setor está entre as principais preocupações dos brasileiros e perguntou se, em doze anos de governo petista, não seria possível deixar a Saúde nos trilhos. Dilma fez uma explanação sobre as etapas do Mais Médicos - um dos carros-chefe do seu governo. Patrícia perguntou então se Dilma considera "minimamente razoável" a situação da Saúde, uma vez que as pessoas enfrentem filas e são atendidas em macas.

- Não acho (minimamente razoável). Até porque o Brasil precisa também de uma reforma federativa, porque há responsabilidades federais, estaduais e municipais. Assumimos, no caso do Mais Médicos, como uma responsabilidade federal, porque temos mais recursos. Mas resolvemos o problema dos 50 milhões de brasileiros (que passaram a ter atendimento) e dos 14 mil médicos. Temos de melhorar a Saúde, não tenho dúvida - disse.

Dilma foi interrompida para falar da economia brasileira. Confrontada sobre o índice da inflação, no teto da meta, a baixa projeção de crescimento do país este ano e os dados do superávit primário (economia para pagar juros da dívida pública), Dilma manteve o discurso de que o país enfrentou a crise internacional sem desempregar e arrochar salários.

- Primeiro, enfrentamos a crise, pela primeira vez no Brasil, não desempregando, não arrochando os salários, não aumentando tributos. Pelo contrário, diminuímos, desoneramos a folha (de salários das empresas), reduzimos a incidência de tributos sobre a cesta básica. Enfrentamos a crise também sem demitir. E qual era o padrão anterior? - disse Dilma, mostrando irritação com números negativos apontados pelos entrevistadores:

- Não sei de onde são os seus dados. Temos duas coisas: melhoria prevista no segundo semestre. Tem uma coisa em economia que são os índices antecedentes e os índices que evidenciam como está a situação atual. Todos esses índices indicam uma recuperação no segundo semestre vis-à-vis o primeiro semestre. Se não olhar para o retrovisor e o que está acontecendo hoje, ela está a zero por cento. Estamos superando a dificuldade de superar uma crise sem demitir, gerando emprego e renda.

No minuto final, Dilma pediu que todos acreditem no Brasil e não sejam pessimistas, acusação que sempre faz à oposição.

- Fui eleita para dar continuidade ao governo Lula. Ao mesmo tempo, preparamos o Brasil para um novo ciclo de crescimento: moderno, mais produtivo, mais competitivo. Criamos as condições para o Brasil dar um salto (...) Eu acredito no Brasil. Mais do que nunca, todos nós precisamos acreditar no Brasil e diminuir o pessimismo - encerrou a presidente, lembrando a frase de Eduardo Campos na mesma sabatina do JN, um dia antes de morrer em acidente aéreo: "Não vamos desistir do Brasil".

Presidente admite que saúde no país não é razoável

• Ao "JN", Dilma se recusou a comentar defesa do PT a condenados no mensalão

• Entrevista teve clima tenso e, em mais de um momento, presidente discutiu com os apresentadores

Mariana Haubert e Andreia Sadi - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em uma entrevista tensa ao "Jornal Nacional", na qual discutiu com os apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta, a presidente Dilma Rousseff admitiu nesta segunda-feira (18) que, após 12 anos de governo PT, a situação da saúde pública no país não pode ser considerada minimamente razoável.

Dilma afirmou que os primeiros passos para enfrentar o problema foram dados com a contratação de médicos cubanos para atuação na assistência básica, por meio do programa Mais Médicos.

"A senhora diria aqui aos telespectadores, que enfrentam filas e filas, que a saúde do país, hoje, é minimamente razoável depois de 12 anos?", questionou Poeta.

"Não, não acho", respondeu Dilma. Antes de mudar de assunto, ela finalizou: "Nós temos que melhorar a saúde, eu não tenho dúvida".

Dilma foi interrompida pela dupla da bancada do "Jornal Nacional" sempre que desviava do assunto central. Um desses momentos foi quando Bonner questionou a presidente sobre a reação de solidariedade do PT com condenados no mensalão.

A petista disse que não comentaria decisões do Supremo Tribunal Federal. O entrevistador insistiu: "Candidata, a pergunta que eu fiz é sobre a postura do seu partido". Ela se limitou a dizer que não iria emitir opinião porque ocupa a Presidência.

Os vários casos de corrupção que vieram à tona durante o governo petista foram lembrados pelos apresentadores, que perguntaram à presidente como fazer para que um futuro governo consiga combater o problema. Dilma lembrou que, em alguns casos, comprovou-se que o suspeito não teve conduta irregular.

A presidente foi questionada sobre os fracos resultados na área econômica. A petista afirmou que o Brasil conseguiu combater a crise internacional sem aumentar os índices de desemprego.

Neste momento, Bonner interrompeu a candidata e reiterou que os dados econômicos são negativos para o país. Dilma, então, rebateu: não sei de onde que estão seus dados".

Sem tempo para concluir sua fala, Dilma encerrou a entrevista pedindo voto para "o Brasil seguir mudando" e que "queremos continuar a ser um país de classe média".

Dilma: não faço observação sobre julgamentos do STF

• Questionada sobre escândalos de corrupção, candidata se defende e diz que nem todas acusações foram comprovação de crime

Carla Araújo – O Estado de S. Paulo

A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff, disse há pouco, durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, que seu governo não foi complacente com a corrupção. Questionada sobre a dificuldade de formar desde o início de seu governo uma equipe "honesta", Dilma afirmou que foram os governos do PT os que mais investiram em mecanismo de combate à corrupção. "A Polícia Federal no meu governo e no governo Lula ganhou imensa autonomia para investigar, punir e prender", disse.

Dilma destacou ainda a atuação do Ministério Publico e disse que o governo petista tem uma "situação muito respeitosa" com o MP. "No nosso governo nenhum procurador foi chamado de "engavetador geral da República", disse, referindo-se ao procurador-geral do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Geraldo Brindeiro.

A presidente ressaltou que apesar do número elevado de denúncias de corrupção no seu governo, como elencou o apresentador do Jornal Nacional, nem todas resultaram em comprovação de crime. "Muitos daqueles que foram (acusados) pela mídia como tendo praticado atos indevidos foram posteriormente inocentados", afirmou. "Nem todas as denúncias de escândalo resultaram na constatação de punição e condenação."

Questionada sobre a pressão dos partidos para manter espaço após trocas de membros acusados de corrupção, Dilma afirmou que os "partidos podem fazer exigências (de indicações) e eu só aceito quando são íntegros e competentes". "Recentemente fui muito criticada por ter substituído Cesar Borges (no Ministério dos Transportes) pelo Paulo Sérgio", lembrou. "Os dois são pessoas que escolhi, que eu confio."

Mensalão. A presidente não quis comentar as condenações de integrantes do PT no processo do mensalão. Segundo Dilma, como atual presidente da República, não é adequado questionar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). "Não faço observação sobre julgamentos do Supremo por um motivo simples, a constituição exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de poder, que respeitemos e consideremos a importância da autonomia do Supremo", afirmou.

Sobre a atuação do seu partido no caso, que tratou os condenados "como guerreiros", Dilma esquivou-se. "Tenho minhas opiniões pessoais", disse. "Não vou tomar posição que me coloque em confronto; respeito a decisão da Suprema Corte", reforçou.

A entrevista com a presidente Dilma, que aconteceria no dia 13, foi cancelada por conta da morte do então candidato do PSB Eduardo Campos. Da mesma forma, Pastor Everaldo (PSC) também teve sua participação adiada da semana que vem para amanhã. Aécio Neves (PSDB) já participou do programa, no dia 12, assim como o próprio Campos, que concedeu entrevista na véspera do acidente que culminou com sua morte. Assim que o PSB oficializar a escolha de Marina Silva como substituta de Campos, a TV Globo deve convidá-la para comparecer a bancada do Jornal Nacional. A data ainda não foi escolhida, mas deve ser na semana que vem.

Goldman: Alvo da campanha deve continuar sendo o PT

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

Para Alberto Goldman, coordenador de campanha de Aécio Neves no Estado de São Paulo, a campanha eleitoral tucana tem que seguir com foco exclusivo no PT. "Nossa campanha vai continuar sendo da mesma forma de oposição. Nosso adversário é Dilma. O centro da campanha é o PT, o nosso adversário real e concreto é o PT", afirmou.

Diante do potencial de votos demonstrado por Marina Silva (PSB) na primeira pesquisa após a morte de Eduardo Campos, integrantes da campanha do PSDB já começam a fazer acenos para uma possível aliança no segundo turno. "Marina é uma potencial aliada nossa no segundo turno. Assim como nós somos um potencial aliado dela no segundo turno. De uma certa forma somos, com características diferentes, oposição ao governo que está aí. Aliás, Eduardo Campos sempre deixou isso muito claro. O tempo inteiro ele tinha formulação de política econômica e institucional muito semelhantes às nossas", ressaltou Goldman.

"O que nos preocupa mais é chegar a um segundo turno numa boa condição, imaginando, lógico, que nós cheguemos. Agora, se for a Marina a chegar, nós somos de um campo que de certa forma quer a mesma coisa: tirar o PT do governo", acrescentou o coordenador. "Ainda que não esteja na chapa com a gente, ela tem uma visão da mudança que tem que ser feita no País". Em 2010, Marina ficou em terceiro lugar na disputa presidencial com cerca de 20 milhões de votos. Naquela ocasião, ela não declarou apoio a nenhum dos candidatos.

Goldman também minimizou fato de Aécio Neves não conseguir avançar nas pesquisas, permanecendo nos 20% de intenção de votos. "Não tem nada de diferente do que a gente imaginava num momento em que os grandes veículos de comunicação ainda não estavam vinculados ao processo eleitoral. A maioria da população ainda nem sabe que vai ter eleição. Vai saber quando começarem os programas de rádio e televisão". A propaganda eleitoral gratuita começa a ser vinculada em rede nacional de rádio e TB nesta terça-feira.

Aécio diz que 'experiência' fará diferença na campanha

• PSDB lançará dúvidas sobre capacidade gerencial de Marina Silva, que aparece empatada com ele em pesquisa

- Folha de S. Paulo

RIO, BRASÍLIA, SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), testou nesta segunda (18) o discurso que usará para tentar ganhar pontos sobre Marina Silva, que apareceu um ponto à frente do tucano na pesquisa Datafolha.

Seguindo a estratégia traçada pelos analistas de sua equipe, Aécio ressaltou a "experiência política e de gestão" como trunfos na corrida presidencial. Como mostrou a Folha no domingo (17), os tucanos pretendem explorar "dúvidas" sobre a capacidade gerencial de Marina.

"Nossa experiência política, inclusive de gestão, será muito importante para que o Brasil encontre um novo caminho de crescimento econômico", disse o tucano durante visita a uma UPP na favela Dona Marta, no Rio.

Internamente, as cúpulas do PT e do PSDB apostam que haverá um desgaste da imagem de Marina quando ela passar pelo "escrutínio público" e tiver de explicar seu projeto. "Até agora Marina não teve que responder sobre nada", disse um dirigente da campanha de Aécio. "O que ela pensa sobre saúde? Como vai lidar com o nó na economia? São questões que vão surgir e sobre as quais ela ainda não falou", concluiu.

PT e PSDB apostam que a queda virá quando Marina for confrontada com suas teses --que chamam de "fundamentalistas"-- no campo ambiental, moral e religioso, após a comoção pela trágica morte de Eduardo Campos.

Os dois lados, porém, descartam ataques diretos. Acreditam que Marina será naturalmente forçada a sair da "zona de conforto" em entrevistas, sabatinas e debates.

PT e PSDB reconhecem que a pesquisa foi ruim para suas candidaturas. No PSDB, é real o receio de perder o lugar na reta final para a ambientalista, e Dilma sabe que terá de enfrentar um segundo turno.

Mas os dois lados destacam pontos positivos. Entre os dilmistas, foi comemorada a recuperação da avaliação do governo. Entre os tucanos, foi visto com alívio a certeza do segundo turno e o fato de Aécio não ter perdido pontos.

Entre os assessores de Marina, a avaliação foi positiva: o porta-voz da Rede, Walter Feldman, disse que via a pesquisa "com muita humildade", mas que o resultado era "bastante expressivo".

Ex-líder de Dilma, senador diz que votará no PSDB

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) criticou à gestão da petista e declarou voto no candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.

"Na minha avaliação, temos que mudar o rumo econômico que o Brasil está tomando. A gente tinha duas opções de voto, o Aécio e o Eduardo [Campos]. Hoje perdemos uma. Eu não quero influenciar ninguém, mas vou declarar o meu. Vou votar no Aécio".

A declaração foi feita em palestra em Roraima, na quarta (13), dia da morte de Campos. O áudio foi divulgado na internet.

Apesar de integrar o partido de Michel Temer (PMDB), candidato a vice de Dilma, Jucá disse que o governo do PT "falha ao pender para a linha ideológica" e adota um modelo econômico que dá certo na "Albânia e no Cazaquistão", mas não no Brasil.

"A Dilma tem um discurso socialista e a prática dela é socialista [...]", disse Jucá.

TV começa com terceira via mais forte que em 2010

• Marina tem a preferência de 21% dos entrevistados, segundo Datafolha; há 4 anos, no início da propaganda, taxa era de 10%

Daniel Bramatti - O Estado de S. Paulo

A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra que Marina Silva chega à etapa decisiva da campanha - a da propaganda eleitoral no rádio e na TV - com o dobro de intenções de votos em relação ao que tinha, nesta mesma época, na disputa de 2010.

Em um levantamento feito em meio à comoção provocada pela morte de Eduardo Campos, titular da chapa do PSB até quarta-feira, Marina foi a opção preferida de 21% dos entrevistados pelo Datafolha. Ela ficou em situação de empate técnico com o tucano Aécio Neves (20%) e atrás da presidente Dilma Rousseff (36%), candidata à reeleição pelo PT.

Em 2010, Marina tinha, às vésperas do início do horário eleitoral, 10% das intenções de votos, segundo o Datafolha. Dilma, que naquele ano concorreu pela primeira vez, aparecia com 41%, cinco ponto porcentuais a mais que agora. E o então candidato do PSDB, José Serra, tinha 33%, 13 pontos a mais que Aécio atualmente.

Com seus parcos 1min23s de tempo, Marina praticamente não saiu do lugar no primeiro mês da campanha televisiva: em meados de setembro, tinha 11% das preferências. Só cresceu na reta final e teve, no primeiro turno, 17,7% dos votos totais, ou 19,3% dos válidos (excluídos os brancos e nulos).
Agora, Marina terá 2min3s de tempo de exposição no horário eleitoral, 40 segundos a mais que em 2010. Além disso, terá, a cada dia, uma inserção de 30 segundos exibida ao longo da programação normal das emissoras. Dilma, por sua vez, poderá exibir entre cinco a seis inserções diárias.

Disparidade. A campanha de Aécio Neves enfrentará um desafio na televisão: além de chegar a essa etapa da campanha com desempenho inferior ao de Serra nesta mesma época, ele terá o menor tempo de propaganda de um candidato tucano desde que Fernando Henrique Cardoso venceu sua primeira eleição, em 1994.

Serão 4min35s no horário eleitoral fixo e de duas a três inserções de 30 segundos a cada dia para que Aécio tente se mostrar como alternativa de poder. Em 2010, Serra teve 7min18s. Chegou ao segundo turno, mas perdeu para Dilma na rodada final.

A primeira pesquisa feita após a morte de Campos praticamente acaba com o suspense em torno da realização ou não de um segundo turno. Dilma, com seus 36%, tem 11 pontos porcentuais a menos que a soma dos adversários. Para vencer na primeira rodada, seria necessário obter maioria absoluta dos votos.

Em eventual segundo turno, segundo a pesquisa, Dilma venceria Aécio por 47% a 39%. Mas teria apenas 43%, contra 47%, se a disputa fosse com Marina. Isso configura uma situação de empate técnico, mas no limite da margem de erro - em termos estatísticos, o resultado mais provável seria a vitória da agora candidata do PSB.

Se isso acontecer, será uma ruptura em uma tendência: desde as eleições de 1998: quem começa o horário eleitoral na frente acaba vencendo a eleição.

A dúvida despertada pela pesquisa Datafolha é se o resultado de Marina é excepcional, provocado pela súbita exposição midiática que teve após o acidente que mudou de forma abrupta os rumos da sucessão.

"A cautela recomenda esperar ao menos mais duas ou três rodadas de pesquisas para ver se esse cenário se confirma", disse o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. "O início do horário eleitoral gratuito e a volta da disputa sem o efeito da comoção vão testar os limites de Marina."

Marina deve ganhar parte do voto evangélico, dizem religiosos

• Igrejas acreditam que Dilma e pastor Everaldo podem perder eleitores

Renato Onofre – O Globo

SÃO PAULO - A volta do nome da ex-senadora Marina Silva (PSB) ao protagonismo da disputa eleitoral deve alterar os rumos do voto evangélico nas eleições de outubro. As principais lideranças evangélicas avaliam que, ao herdar a vaga do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em acidente aéreo na última quarta-feira em Santos, Marina pode tirar votos da presidente Dilma Rousseff (PT) e do Pastor Everaldo (PSC), considerados, internamente, como os principais candidatos dos eleitores evangélicos.

A tendência apontada por líderes evangélicos, no entanto, não apareceu na primeira pesquisa divulgada, ontem, pelo Instituto DataFolha. A consulta feita com o nome da ex-senadora no lugar de Campos mostra que nenhum dos três presidenciáveis - Dilma, Pastor Everaldo e o senador Aécio Neves (PSDB) - perdeu voto entre os evangélicos.

Em julho, a presidente tinha 34% das intenções de votos entre os eleitores que se declaram pentecostais e, hoje, 32%. Já entre os não pentecostais, variou de 31% para 30% no mesmo período. Pastor Everaldo repetiu o mesmo desempenho entre os pentecostais (9%) e caiu cinco pontos entre os não pentecostais. Aécio manteve a mesma proporção entre julho e agora (15% das intenções entre os pentecostais e 22% entre os que se declaram não pentecostais).

- Ainda é cedo para avaliar o peso da Marina Silva entre os evangélicos, mas a gente vê com bons olhos o retorno dela ao protagonismo eleitoral. Havia uma tendência a apoiar o Pastor Everaldo, que defende publicamente nossa agenda, mas a volta da Marina à disputa tem que ser analisada. Ela tem uma identificação natural dentro da comunidade evangélica com o seu nome, mas há questões pendentes diante das quais ela deve se posicionar - afirmou o presidente do Conselho Político das Assembleias de Deus, pastor Léliss Washigton Marinho.

Marina é evangélica praticante ligada à Assembleia de Deus.

Visões de Campos e sua vice em jogo na formação da nova chapa

• De fontes de energia ao casamento gay, aliados tinham posições divergentes

Raphael Kapa e Luciano Abreu – O Globo

Agronegócio
Em 2012, quando o Código Florestal foi aprovado, Marina afirmou que o texto representava um "grande retrocesso" e enfrentou um embate sobre as fronteiras agrícolas com líderes do agronegócio. Durante seu governo em Pernambuco, Eduardo Campos, ao mesmo tempo em que estimulava o agronegócio, formava políticas de inclusão de pequenos agricultores.

Economia
Em discursos, Eduardo Campos e Marina Silva pregavam a austeridade e o tripé econômico, que foi base da política econômica brasileira entre 1998 e 2006. No entanto, o discurso de austeridade da ambientalista muitas vezes encontrava contrariedade nas falas desenvolvimentistas do pernambucano. O pragmatismo de Eduardo Campos é apontado por analistas como um dos aspectos que não se adequam ao perfil de Marina. Um exemplo disso é a questão da independência do Banco Central. Ambos defendiam que a instituição deveria ser independente, porém o pernambucano acreditava que era necessário consolidar esta autonomia através de uma lei.

Fator previdenciário
Marina Silva, visando à política de austeridade, afirmou, em 2010, que vetaria qualquer lei que extinguisse ou revisse o fator previdenciário criado por FH, que dificulta a aposentadoria precoce. Eduardo Campos, por sua vez, acreditava que esta medida não deveria ser continuada e argumentava a favor da revisão. Em sua última entrevista exibida, Campos afirmou que era necessário uma reforma na previdência para que se "criasse uma previdência sustentável, que não fizesse ações isoladas, como foi exatamente a engenhoca do fator previdenciário".

Energia
Apesar de ter evitado tocar no tema em suas últimas semanas, Campos fizera falas entusiastas sobre a energia nuclear, condenada por Marina Silva. Ainda assim, a questão é vista de forma favorável por setores do PSB nas discussões sobre "energia limpa". Para os marineiros, somente a eólica, a solar e a produzida a partir da biomassa entrariam neste segmento.

Casamento gay
Em sabatina, Eduardo Campos declarou ser favorável ao casamento civil homoafetivo. O apoio dele, no entanto, não encontra ressonância nas posições de Marina. Em seu blog, ela afirmou ser favorável à "união de bens", mas contra o casamento, por entendê-lo como sacramento.

Alianças estaduais
A afinidade entre as posições defendidas por Campos e Marina deverão ser colocadas em prática nos palanques estaduais consolidados pelo pernambucano, que terão que ser defendidos pela ex-senadora. Como cabeça de chapa, Marina terá que expandir sua presença e fazer campanhas nos estados em cujas alianças ela discordava. O caso mais emblemático é o de São Paulo, onde ela resistia em dividir o palanque com o candidato à reeleição ao governo do estado Geraldo Alckmin, cujo vice é o socialista Márcio França (PSB), desafeto de Marina. As imagens de Marina foram limitadas às candidaturas estaduais majoritárias apoiadas pela Rede Sustentabilidade, grupo defendido por ela.

Marina terá sua própria ‘Carta ao Povo Brasileiro’

• PSB prepara documento com diretrizes econômicas, que deverá manter os compromissos da campanha de Eduardo Campos e será anunciado junto com a oficialização da chapa

Sonia Filgueiras – Brasil Econômico

O PSB deverá apresentar após a reunião da Executiva Nacional, amanhã, sua versão de uma "Carta ao Povo Brasileiro", na qual estabelecerá suas diretrizes para um eventual futuro governo, em especial na área econômica. A declaração deverá será acompanhada da oficialização de Marina Silva como candidata à Presidência, decisão praticamente consolidada. O partido está debatendo os termos do texto cujo objetivo principal é tentar manter os votos amealhados por Marina nas pesquisas mais recentes e ganhar apoios entre os atores econômicos. A disposição dos integrantes da legenda mais ligados a Eduardo Campos é reafirmar seus compromissos econômicos gerais e, ao mesmo tempo, reforçar a credibilidade junto ao mercado, de forma a manter os novos eleitores catados pelas pesquisas.

Entre os princípios defendidos por Campos estão o controle dos gastos públicos, o combate à inflação, a autonomia de atuação ao Banco Central e o desenvolvimento econômico. Mas os detalhes — que dizem muito sobre o que virá pela frente — ainda estão indefinidos. Por exemplo, a meta de superávit fiscal. Embora tenha posições críticas em relação ao agronegócio, Marina tem como conselheiros economistas respeitados de linha mais liberal, como Eduardo Gianetti da Fonseca. Ontem, durante evento em São Paulo, o economista defendeu um "choque crível de credibilidade" por parte do próximo governo. Ele também criticou o controle de preços de curto prazo, referindo-se ao represamento de preços administrados pelo atual governo, e defendeu o tripé econômico clássico que combina metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. "As três pernas do tripé estão absolutamente fragilizadas", disse.

Sobre o nível dos gastos públicos, o economista afirmou que existe margem para "um pouquinho" de ajuste fiscal no curto prazo. "O Estado brasileiro não cabe dentro do PIB brasileiro", disse, sem entrar em detalhes. Como contraponto, Gianetti afirmou que , apesar do quadro difícil, a situação econômica brasileira "é ruim, mas não é desastrosa" e sua capacidade de reação "é forte". "Temos plena condição de retomar em 2015 a tendência de crescimento", completou. Mas, durante sua apresentação, Gianetti frisou que falava em caráter pessoal, e não como assessor da campanha do PSB. "Muito do baixo crescimento econômico que vemos hoje está relacionado com a piora das expectativas.

Seria útil que Marina e o PSB esclarecessem seu programa econômico, ainda pouco claro", diz o economista Gesner Oliveira, sócio-diretor da GO Associados. "Marina tende a dar um estilo próprio ao programa, mas não acredito em mudanças profundas em relação às linhas gerais. A questão é que essas linhas estão ainda indefinidas", completa Oliveira. O cientista político e professor da Escola de Administração da FGV-SP, Claudio Gonçalves Couto, também espera que o PSB defina com mais clareza suas posições, mas avalia que o perfil econômico não mudará. "Os economistas de um e de outro (referindo-se a Eduardo Campos e Marina) já vinham dialogando há tempos, a aproximação já está dada".

Para Couto, a atuação econômica de um eventual governo Marina seria um meio termo: "Semelhante ao que se viu no primeiro ano do governo Lula, durante a gestão de Antônio Palocci na Fazenda — algo intermediário entre a condução atual, de Guido Mantega, e a realizada pela dupla Pedro Malan e Gustavo Franco na gestão FHC". Para Couto, o que pode mudar é a capacidade de arrecadação da chapa, com o impulso que ganhou nas pesquisas após a trágica morte de Campos. O cientista políticos acrescenta que Marina tem condições de atrair uma fatia dos atores econômicos inclinados a apoiar tanto Dilma quanto Aécio Neves, com exceção do agronegócio. "Nesse caso não me parece haver conciliação possível, mas o agronegócio não chega a eleger ou deseleger ninguém", arremata . com Reuters

Partidos fazem homenagem a Campos na estreia do horário eleitoral no rádio

• PSB apresenta depoimentos de ex-governador, morto em acidente aéreo; Lula repete frase de pernambucano e diz que não desistirá do Brasil; Aécio afirma que tinha 'sonhos parecidos' com os dele

Wladimir D'Andrade e José Roberto Castro - Agência Estado

SÃO PAULO - Os três principais partidos que disputam a Presidência usaram parte do primeiro programa do horário eleitoral no rádio, na manhã desta terça-feira, 19, para homenagear o ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo na semana passada. O PSB, legenda do pernambucano, apresentou depoimentos de Campos e o nome de Marina Silva, que deve assumir a chapa, foi citado apenas uma vez.

O programa da coligação Unidos pelo Brasil, liderada pelo PSB, ressaltou o sentimento de mudança deflagrado pelas manifestações de junho do ano passado. A coligação conta com 2 min03s, o menor tempo na comparação com a candidata do PT, Dilma Rousseff (11min24s), e com o candidato do PSDB, Aécio Neves (4min35s).

O PT deixou a parte final do programa para homenagear Campos e foi apresentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Pedi a Dilma para encerrar o programa dizendo palavras em homenagem a Eduardo Campos", disse o petista. Amigo do ex-governador, Lula afirmou ter relação de "afeto de pai e filho" com Campos, que foi ministro no governo Lula. O ex-presidente lembrou ainda de uma das últimas frases do ex-governador de Pernambuco e disse que não desistirá do Brasil.

"Sua luta sempre foi e vai continuar sendo nossa luta", afirmou o ex-presidente.

Já no início do programa, o PSDB falou sobre Campos. Aécio procurou destacar o vínculo que tinha com o ex-governador e contou ter conhecido Campos durante o movimento das Diretas Já, quando cada um acompanhava seu respectivo avô, Tancredo Neves e Miguel Arraes. O programa do tucano afirmou ainda que os dois tinham sonhos parecidos para o Brasil.

Gestão. O PSDB usou o restante do programa para mostrar uma entrevista com Aécio, que usava as respostas para fazer críticas ao governo federal. Ele afirmou que "hoje o Brasil está pior que há quatro anos". "O problema não é o Brasil, mas a forma como ele é governado e quando o governo vira problema, tudo vira problema", afirmou.

Última dos três presidenciáveis a aparecer - a ordem é definida por sorteio -, Dilma foi apresentada pela coligação como uma candidata experiente. O programa ressaltou a atuação da presidente Dilma durante a crise internacional e afirmou que ela, a cada dia, ganha experiência. "O Brasil sabe que Dilma está cada vez mais experiente", disse o locutor.

Dilma ressaltou as oportunidades proporcionadas pelo País às mulheres ao responder pergunta de uma criança sobre ser presidente. "Não é fácil ser presidente, são muitos compromissos e responsabilidades. Mas é bom demais saber que pode mudar a história do País e a vida de muita gente", disse.

A presidente fez sua primeira participação no programa com a promessa de realizar uma campanha propositiva. "Quero renovar o compromisso de fazer uma campanha de alto nível", afirmou Dilma, na sua primeira fala. De acordo com ela, a campanha faz parte de uma "luta incessante" que o PT está fazendo para transformar Brasil em um país mais justo para seus cidadãos.

Campanha de Marina só espera por nome do vice

- Zero Hora (RS)

Durante reunião em Recife, o presidente do PSB, Roberto Amaral, disse ontem que a mulher de Eduardo Campos, Renata,é a grande liderança do partido, hoje. Se não aceitar participar da chapa de Marina, a viúva deverá avalizar nome da legenda

A definição do vice na chapa de Marina Silva é o último passo do PSB para assegurar a participação da sigla na corrida presidencial após a morte de Eduardo Campos na quarta-feira passada. A viúva do ex-governador de Pernambuco, Renata Campos, é cotada, mas o deputado federal Beto Albuquerque (RS) está entre os favoritos para a vaga.

A intenção da cúpula do PSB é resolver o impasse hoje, após a missa de sétimo dia de Campos. A cerimônia ocorrerá na Catedral de Brasília. Amanhã, a candidatura de Marina será oficializada em encontro da executiva da legenda, também em Brasília.

Até lá, o PSB espera encaminhar à candidata uma espécie de "inventário" de campanha. O documento vai listar os acordos políticos firmados por Campos e até os dados das finanças da coligação, que reúne ainda PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Nos Estados, a morte do ex-governador gerou incerteza sobre as alianças costuradas por ele, principalmente com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio. O PSB quer assegurar a manutenção dos acertos e recebeu sinal positivo de Marina. Por outro lado, o presidente da sigla, Roberto Amaral, prometeu a ela que não precisará permanecer no partido caso seja eleita. A ex-senadora trabalha para criar a Rede Sustentabilidade, que não foi reconhecida pela Justiça Eleitoral no ano passado.

É por isso que a escolha do vice é fundamental para os socialistas, que buscam alguém que represente o partido e Campos na chapa. Ontem, em reunião em Recife, Amaral ressaltou a importância da viúva:

– A grande liderança do partido, hoje, é Renata Campos. Peço que Renata esteja sempre conosco.

O encontro, um dia após o sepultamento do marido, foi convocado pela própria Renata para mostrar a manutenção do projeto de Campos de eleger Paulo Câmara como seu sucessor em Pernambuco. Vestida com uma blusa amarela e usando um adesivo com o rosto de Campos no peito, a mulher foi recebida com gritos de "Renata, vice" e "Guerreira". Mais cedo, o único irmão de Campos, Antônio Campos, disse que a cunhada "ainda resiste" à ideia de ser vice.

Filiada ao PSB desde 1991, Renata é auditora do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE). De acordo com a legislação, para concorrer ela deveria ter se afastado do trabalho desde o início de julho, mas esteve em licença-maternidade e férias nos últimos meses. Sob comprovação de que não exerceu suas atividades no tribunal, Renata estaria liberada para disputar a eleição.

'Tenho que participar da campanha por dois', diz Renata

• Em discurso, viúva de Campos não comenta cenário nacional. PSB segue na busca de nome para vice

Eduardo Bresciani, Júnia Gama e Sérgio Roxo – O Globo

RECIFE - A despeito de pressões do PSB para que se posicionasse a respeito da sucessão na disputa nacional, a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, deu sinalizações claras ontem, o primeiro dia após o enterro do marido, de que pretende restringir sua atuação, em um primeiro momento, à política em Pernambuco. Em conversas reservadas, Renata tem demonstrado que não pretende assumir um papel mais efetivo na chapa presidencial, como vice de Marina Silva.

Dirigentes do PSB diziam que a definição do vice de Marina passaria por Renata, que teria a vaga caso assim desejasse ou poderia indicar um nome de sua preferência para a função. Sem um posicionamento claro de Marina, o nome mais forte dentro do PSB continua sendo o do deputado Beto Albuquerque (RS).

Pela manhã, Renata participou de evento do PSB local, um ato para reafirmar e reforçar a candidatura de Paulo Câmara (PSB), escolhido por Campos para sucedê-lo no governo. A cúpula socialista esperava que Renata fizesse alguma manifestação a respeito do cenário nacional, mas ela restringiu seu discurso à campanha pernambucana.

Em sua primeira atividade política depois da morte do marido, a viúva de Campos foi econômica nas palavras e evitou fazer qualquer referência à campanha presidencial. Mesmo assim, ouviu boa parte dos cinco mil presentes ao encontro promovido por partidos que compõem a aliança de Paulo Câmara pedirem em coro para que ela assuma o posto de vice de Marina.

- Como participei a vida toda de campanhas, não será diferente nessa. Pelo contrário, tenho a sensação que tenho que participar por dois. Vim porque sei da vontade dele e da importância de eleger Paulo (Câmara), Raul (Henry) e Fernando (Bezerra). Depois de todos esses anos de tanto trabalho, de tantas coisas feitas, de tantas transformações, sabendo que muita coisa ainda precisa ser feita, outras consolidadas, a gente pensava: precisamos garantir essa vitória, pois só assim é possível fazer esse sonho ir adiante. Acho que só depende de nós - disse Renata, durante o seu discurso lido na tela do celular.

"Contem com a gente"
Rodeada pelos filhos, ela falou por cerca de três minutos e assegurou que os candidatos do PSB no estado terão ajuda da família.

- Estou aqui com Duda, João, Pedro, José e Miguel (seus filhos) para dizer ao Paulo (Câmara, candidato do PSB ao governo do PE), ao Raul (Henry, vice na chapa) e ao Fernando (Bezerra, candidato do PSB ao Senado): contem com a gente! - disse Renata, que fazia aniversário ontem.

O encontro, realizado em uma casa de eventos do Recife no final da manhã, havia sido marcado por Campos, antes da tragédia, e tinha objetivo de pedir a intensificação da campanha do PSB local. Depois de sua morte, integrantes da aliança chegaram a questionar a manutenção da candidatura de Paulo Câmara, que não tem apresentado bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto.

- Acho que devem estar pensando: Renata aqui hoje? Eu estava, como estive em tantos momentos, ao lado de Dudu, quando ele pediu para marcar essa reunião. Depois da tragédia, o Sileno (Guedes, presidente do PSB de Pernambuco) me perguntou: "E agora?" Eu disse: "Mantenha tudo como ele queria".

Na única referência ao projeto nacional, Renata citou a frase dita pelo marido na véspera da morte em entrevista ao "Jornal Nacional" e que se transformou num espécie de slogan do PSB para a sucessão presidencial.

- Pode parecer que nosso maior guerreiro não está na luta. Mas seus sonhos estarão sempre vivos em nós. Fica tranquilo, Dudu. Teremos a sua coragem para mudar o Brasil. Não desistiremos do Brasil - finalizou, sendo saudada com o grito de "Renata, guerreira do povo brasileiro".

Mais cedo, no mesmo evento, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, citou aos militantes do partido o papel que a viúva de Campos terá dentro da legenda daqui para frente.

- Depois de Arraes, depois de Eduardo, o nosso partido tem uma nova liderança que representa não apenas a alma pernambucana, mas também a alma brasileira. A grande liderança do partido hoje é Renata Campos - discursou Amaral.

Luiz Werneck Vianna: Sobrenatural de Almeida e a sucessão presidencial

- O Estado de S. Paulo

O inesperado bateu à nossa porta com a morte do candidato à sucessão presidencial Eduardo Campos, que, pela qualidade política de seus movimentos iniciais, já se fazia reconhecer como uma promissora liderança nacional. O enredo de uma competição eleitoral até então fria e acompanhada com distância quase irônica pela população, com os principais candidatos atentos a uma agenda em boa parte comum, se complica ao se perder uma parte importante do script. Atores serão substituídos e papéis principais, no desenho original do seu texto previstos para serem desempenhados por quem se ajustava a eles, por história pessoal e physique du rôle, correm o risco de se tornar postiços e inverossímeis com novo elenco.

Mas - outra complicação - quem escolhe o novo elenco e quem detém poder de veto nessa escolha? A família de Eduardo Campos, por meio do seu irmão e também dirigente do seu partido, o PSB, Antonio Campos, já se pronunciou publicamente a favor de Marina Silva, indicada como candidata a vice na chapa partidária. A coligação que abrigava Eduardo fará o mesmo? E o PSB, com alas refratárias a Marina, que a aceitaram por persuasão do seu líder partidário, estarão propensas, de corpo e alma - como a circunstância exige -, a caminhar nessa direção? As respostas, a esta altura, certamente já devem ser conhecidas pelo leitor.

A decisão, mesmo que positiva, como é de esperar, não virá sem problemas porque, como se sabe, a pretensão de Marina é formar seu próprio partido, com a designação pós-moderna de Rede Sustentabilidade. Nos cálculos do PSB, por sua vez, a campanha eleitoral em curso deveria prestar-se aos objetivos de expansão dos seus quadros e da sua projeção política no cenário nacional, e certamente não se prestará ao papel de barriga de aluguel. A aliança com Marina, sem estar guarnecida pela presença de Eduardo, do seu prestígio e da sua candidatura presidencial, pode ser vista como de alto risco para sua identidade partidária. Risco ainda maior, porém, seria não apresentar candidato algum, ou um nome que discrepe abertamente das linhas estratégicas traçadas por quem foi sua maior liderança.

Somente na aparência tais questões afetam apenas o PSB e as expectativas políticas de Marina quanto à formação do partido Rede. Elas incidem decisivamente sobre os rumos da sucessão presidencial e nos remetem ao reino metafísico do Sobrenatural de Almeida, expressão com que o dramaturgo e bissexto cronista esportivo Nelson Rodrigues caracterizava resultados imprevistos, pela ação imponderável do destino, nas disputas futebolísticas. O enredo conhecido em que ela se travaria era o de uma competição eleitoral entre três forças, Dilma Rousseff, candidata favorita à reeleição, Aécio Neves, como segunda força, e Eduardo Campos, que, embora turbinado pela aliança com a Rede de Marina, mantinha seu foco no horizonte de 2018 e no fortalecimento do seu partido, com remotas possibilidades de vitória por falta de raízes nos maiores colégios eleitorais do País. Eduardo Campos era o fiador da possibilidade de o desenlace da sucessão não transcorrer no primeiro turno, insondáveis as inclinações do seu partido num eventual segundo turno.

No cenário que se esboça com tintas fortes à nossa frente, com Marina Silva à testa da candidatura do PSB, com a sucessão dramatizada pela tragédia que vitimou Eduardo Campos, linhas de campanha e estratégias eleitorais foram condenadas ao anacronismo, com a Nação na expectativa, diante da dramaturgia levada a público na missa campal em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, com a reunião dos chefes de fila da classe política brasileira. Nesse dia, de fato, com os sinos a rebate se precipitou, em meio ao luto, o começo da disputa presidencial, quando, para todos os efeitos e independentemente das intenções de muitos, Marina foi tacitamente ungida como a candidata da terceira via do projeto de Eduardo.

Se houver o chamado recall, mesmo que parcial, da votação de Marina em 2010 - quase 20 milhões de votos - e se a parcela do eleitorado até então propensa a anular o voto como forma de protesto se deixar seduzir pelo estilo não convencional da candidata, o tabuleiro muda radicalmente de figura: Aécio, nessa hipótese, poderia ceder seu lugar a ela no segundo turno e, reviravolta ainda mais rocambolesca, a própria situação de favorita de Dilma pode vir a ser ameaçada. O PT, se esse rumo se afirmar, persistirá fiel à sua candidatura, assumindo os riscos letais de perder o poder, especialmente nas circunstâncias adversas em que seus vínculos com os movimentos sociais se esgarçam, tal como demonstrado nas grandes manifestações de junho de 2013, ou, em última instância, reage a ele, desembainhando, afinal, o nome de Lula?

Tantas vezes se disse, o Brasil não é para principiantes - mudanças podem vir quando ninguém espera mais por elas. Está aí: a agenda da campanha presidencial, tal como foi concebida originalmente, caso vingue a candidatura Marina, não poderá escapar de mutações que abriguem temas como "uma nova sociedade" e "uma nova política", ao lado da pauta arquiconhecida da inflação e da gestão administrativa. O imaterial cobra por reconhecimento do seu espaço e isso, numa sociedade que vive ciclos ininterruptos de modernização econômica desde os anos 1930 - e se viciou nas controvérsias sobre ela -, pode, sem favor, ser considerado como uma ruptura com um script desgastado e sem vida.

Pela ação do fortuito, uma eleição que parecia condenada à mesmice e ao desalento quanto à política pode, agora, começar uma nova história e, quem sabe, sob a bandeira inspirada que nos ficou de um dos temas de Eduardo: "Não vamos desistir do Brasil".

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-Rio, Departamento de Ciências Sociais.

Merval Pereira: Foi dada a largada

- O Globo

A presidente Dilma dormiu um dia com a possibilidade de vencer a eleição no primeiro turno, ou sendo a favorita para o segundo, e acordou ontem com o segundo turno praticamente selado e a possibilidade de perdê-lo para Marina Silva, que não estava no páreo e se transformou do dia para a noite na favorita da eleição presidencial.

Será preciso, no entanto, depurar essas intenções de votos no tempo para saber o quanto de emoção elas contêm, e o que restará ao final. A menos que estejamos diante de um fenômeno eleitoral que será movido pela comoção até a boca de urna, não é plausível que a votação de 2010 seja o piso de Marina, e que daqui para frente ela só faça crescer na preferência popular.

É verdade que ela já chegou a 27% em uma pesquisa anterior, mas não ter alcançado patamar semelhante diante da exposição a que foi submetida nos últimos dias pode significar que tenha alcançado seu limite. O ex-governador Eduardo Campos não era uma figura nacional, e o fato de sua trágica e prematura morte tê-lo transformado em tal não resiste a 45 dias de uma campanha eleitoral acirrada como a que veremos a partir de hoje.

Por enquanto, Marina reconquistou seus eleitores tradicionais: basicamente os jovens, que saíram às ruas em 2013 e estão desiludidos com os políticos tradicionais, e os moradores das grandes e médias cidades. Ou a classe média "iluminista" e a garotada das redes sociais, numa definição sucinta usada na última eleição.

Mesmo sendo uma política experiente, com dois mandatos de senadora e atuação no Ministério de Lula, consegue manter uma postura que a afasta da imagem do político tradicional, além de se identificar com um terceiro grupo eleitoral, os evangélicos, de fundamental importância para sua votação como apontado na pesquisa sobre religiões realizada pela equipe do professor Cesar Romero Jacob da PUC do Rio de Janeiro.

Mas, a partir do documento que o PSB vai apresentar a ela, começarão também as dificuldades para Marina. Ela, que não tomou o avião fatídico para não se encontrar em Santos com Márcio França, o candidato a vice de Alckmin, como fará agora campanha em São Paulo? Como serão suas relações com os representantes do agronegócio e do que chama de "velha política" que estavam fechados com Campos e com os quais agora ela terá que conviver?

O fato de, num primeiro momento, Marina não ter tirado votos nem de Dilma nem de Aécio mostra que seus adversários estão consolidados em suas posições, e, no entanto, o crescimento de todos os três candidatos vai depender dos votos que conseguirão tirar dos concorrentes. Marina pode ganhar mais votos de Dilma do que de Aécio no primeiro turno; Aécio pode tirar votos de Marina nesses setores que a estão apoiando hoje sem grandes convergências, que existiam com Eduardo Campos. E Dilma pode recuperar votos que perdeu em setores importantes da classe média se conseguir manter a percepção de melhora de seu governo, que superou o índice mínimo de 35% de ótimo e bom, passando de 32% para 37%.

Tudo indica que a melhoria está ligada à percepção menos pessimista sobre a economia do país, pois a inflação de alimentos deu uma trégua, embora continue próxima do teto da meta na medição anual. O problema de Dilma é que a economia dá sinais de que piorará nos próximos meses, havendo forte possibilidade de o 2º turno ser em meio a uma recessão.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, respirou aliviado com o resultado da pesquisa Datafolha, pois não perdeu seus votos, embora tenha ganhado uma adversária mais competitiva. Ele pretende basear sua propaganda no rádio e televisão na experiência de gestor, para contrastar com a inexperiência de Marina Silva no comando de governos.

O fato de que Marina trouxe para dentro do cenário eleitoral um contingente de eleitores que se recusavam a votar (redução dos votos nulos, e em branco e abstenção) é festejado pelo PSDB, que considera possível atraí-los a partir de um maior conhecimento de seu candidato, que hoje é o mais desconhecido dos três.

Dora Kramer: Páreo duro

- O Estado de S. Paulo

A primeira pesquisa do instituto Datafolha com a inclusão do nome de Marina Silva em substituição ao de Eduardo Campos como titular da chapa presidencial do PSB não surpreendeu.

Ao contrário: correspondeu perfeitamente à expectativa de que a ex-senadora alcançasse o candidato do PSDB, Aécio Neves, em termos de intenções de votos. A leitura fria dos números não autoriza dizer que o resultado seja reflexo da comoção nacional decorrente da morte trágica do ex-governador de Pernambuco.

Quando perdeu a condição legal de se candidatar porque não conseguiu registrar seu partido no prazo permitido por lei, Marina aparecia com 27% nas pesquisas de opinião. Como vice não havia ainda conseguido transferir esse capital para seu companheiro de chapa, cujo índice estava no patamar de 8%.

Demonstração clara de que é no mínimo questionável a influência do vice na incorporação de votos. Na realidade, ninguém vota em vice. No momento em que a ex-senadora passa à condição de herdeira da candidatura, nada mais natural que recupere boa parte de seu patrimônio pessoal.

Está escrito na pesquisa: nem a presidente Dilma nem o senador Aécio perdem um ponto porcentual sequer. Ela fica com os 36% anteriores e ele com os 20% registrados na penúltima consulta. Marina pontua 21%. De onde saem esses votos? Os números indicam que das categorias "outros", "brancos/nulos" e "não sabe".

Na consulta de quinze dias atrás, esse conjunto somava 35% dos pesquisados. Na pesquisa atual o índice cai para 13%. Diferença: 22%. Um ponto porcentual a menos que o índice de intenção de votos registrado para Marina Silva. Matematicamente ao menos parece que temos uma evidência.

Os eleitores de Dilma e Aécio ficam onde estavam. Os de Marina despertam. Criam um novo interesse pela eleição, o que é ótimo para o processo como um todo, tende a aumentar a quantidade de votos válidos e, com isso, a participação do eleitorado.

Mas, esse é o primeiro momento e há muitas variáveis daqui em diante a serem consideradas antes de se estabelecer um cenário de resultado confiável. A mais importante delas: como vai se comportar o eleitorado diante de uma candidatura de Marina Silva não mais como uma "outsider", mas como uma possibilidade concreta de presidente?

Outra: qual a posição da candidata será de franca oposição ao governo? E os adversários, PT e PSDB, partirão para o ataque? Menos ou mais agressivo? Qual a calibragem de maneira a mostrá-la menos preparada para governar, mas sem transformá-la em vítima das grandes e tradicionais forças políticas?

São questões a serem resolvidas nos próximos dias, aí sim, considerado o fator comoção. O ambiente tende a se normalizar e, nele, há dificuldades para Marina.

A relação tensa com o PSB no tocante às alianças regionais cujo fiador era Eduardo Campos, o financiamento de campanha e até um dado importante - surpreendente - da pesquisa; a melhora em seis pontos porcentuais na avaliação positiva do governo da presidente Dilma.

Em suma, a eleição que antes era difícil para dois candidatos, agora é difícil para três.

'Medômetro'. No ranking informal - troca de impressões, ainda sob o impacto da morte de Eduardo Campos - de executivos de grandes bancos o tucano Aécio Neves segue em primeiro lugar nas preferências. Marina Silva fica na segunda posição e o receio maior continua sendo em relação à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Como esperado, a resistência à candidatura do PSB aumenta no setor de agronegócio, onde é difícil a quebra do gelo entre outros fatores por ausência de disposição de parte a parte. O papel de mediador era feito por Campos, que conseguiu algum avanço na sabatina da Confederação Nacional da Agricultura, há duas semanas.

Na ocasião, porém, a plateia recebeu com frieza explícita a então candidata a vice.

Eliane Cantanhêde:Tempo corre contra Marina

- Folha de S. Paulo

O Datafolha reflete um momento específico: é o primeiro imediatamente depois da morte de Eduardo Campos e antes dos programas de TV. Muita água vai rolar.]

Mesmo assim, todas as campanhas, ainda tontas pela tragédia, vão ter de se recompor com base nesses dados. E Aécio Neves se vê, subitamente, "ensanduichado" entre Dilma Rousseff, a favorita, e Marina Silva, a grande novidade.

Dilma teve a pior notícia: a vitória no primeiro turno evaporou, e ela está num empate técnico com Marina num eventual segundo turno entre as duas. Mas Dilma não perdeu um só ponto para a nova adversária, e candidatos à reeleição dependem até mais da avaliação de governo e dos índices de rejeição do que de intenções de voto. O ótimo/bom do governo subiu de 32% para 38%, e o ruim/péssimo caiu de 29% para 23%.

Marina teve as melhor notícia: já larga com 21%, em meio a enorme exibição na mídia e gerando expectativa de vitória final. Mas a excepcionalidade do momento passa, e ela tem as piores condições. Seu partido não é seu; PSB e Rede têm uma relação complicada; os arranjos estaduais estão em suspense; setores que se encantavam com Campos não se encantam com ela; setores que se encantavam com ela desencantaram-se. Não será uma campanha fácil. O tempo corre contra Marina.

E Aécio? Respira aliviado por não perder capital para Marina, mas está estacionado em 20% e espremido entre as fortes condições de Dilma (tempo de TV, palanques estaduais, imagens de obras de governo) e os ventos favoráveis a Marina (foco das atenções, o bom "recall" de 2010 e a ansiedade por uma terceira via).

E mais: Dilma pode bater em Aécio, Aécio pode atacar Dilma, Marina pode dizer poucas e boas contra os dois. Mas Dilma e Aécio não podem mirar Marina agora, porque teria efeito bumerangue.

Em ascensão, ela está livre para voar sem os estilingues dos adversários. Mas cuidado com os "aliados"!

Raymundo Costa: Os novos desafios de Marina Silva

• O que antes parecia certo e seguro não é mais na sucessão

- Valor Econômico

Uma das máximas preferidas dos congressistas diz que duas coisas movem a política: o fato novo e o fato consumado. Os dois se juntaram na atual conjuntura e mudaram verdades estabelecidas. O que antes parecia seguro e certo, como a criação do Rede Sustentabilidade após a eleição, por exemplo, pode não ser mais, se a ex-senadora Marina Silva se eleger presidente da República pela legenda do PSB, embora ela diga exatamente o contrário. Desde a morte prematura e trágica de Eduardo Campos, a política segue sua dinâmica e lógica próprias - a começar pela confirmação de Marina Silva como candidata de um partido em que planejava ficar por uma curta temporada.

A terceira via, aparentemente prestes a sucumbir à polarização entre PT e PSDB, ganhou uma base mais sólida para se expressar. Não é por acaso que Marina Silva entrou na corrida já em segundo lugar, sem no entanto tirar votos da presidente Dilma Rousseff e do senador Aécio Neves, os outros dois principais candidatos a presidente. Marina cresceu entre os insatisfeitos com a política e no ruído das ruas de junho de 2013. Ainda é pouco para ganhar a eleição, mas o suficiente para virar de ponta cabeça o quadro sucessório.

O cenário atual ainda está muito contaminado pela tragédia pessoal de Campos e sua família. Para uma avaliação mais precisa dos desdobramentos eleitorais dos novos fatos é necessário esperar a entrevista de Marina ao "Jornal Nacional" da TV Globo, para um público de 40 milhões de espectadores, e o andamento do horário gratuito de televisão, quando a emoção, aos poucos, será substituída por avaliações de mérito da candidata, em relação sobretudo ao outro desafiante, o senador tucano Aécio Neves.

Num primeiro momento, Marina parece depositária natural do apoio emocionado de parte do eleitorado. Mas é impossível dimensionar qual a força desse fenômeno e sua extensão no tempo. Seja como for, os comitês de Dilma e Aécio preparam mudanças e um reposicionamento na campanha. A campanha de Dilma, particularmente, aposta na destruição mútua de Aécio e Marina, em consequência de uma disputa sangrenta pelo segundo lugar. Algo como aconteceu em 2002, quando a campanha de José Serra (PSDB) atacou virulentamente a candidatura de Ciro Gomes, à época no PPS, mas chegou sem gás ao segundo turno.

Os sinais até agora emitidos pela campanha de Aécio apontam para uma disputa de nível. O candidato do PSDB pretende questionar a experiência administrativa da candidata do PSB. O jogo em armação no PT parece mais duro. A campanha de Dilma pretende exigir que Marina diga o que pensa fazer com Belo Monte, por exemplo, e os projetos para a cadeia produtiva do petróleo. Legítimo, se não for uma discussão para disseminar preconceitos, como dizer que Marina é contrária ao desenvolvimento do país. Antes da morte de Campos, o presidente do PT, Rui Falcão, já dizia que sua vice Marina teria que explicar por que ficou neutra no segundo turno da eleição presidencial de 2010.

Em documento interno, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, chama a atenção para um aspecto pouco considerado até agora: um partido novo e forte pode estar nascendo na política brasileira, sem a necessidade do escrutínio da Justiça eleitoral. Marina, como é de conhecimento público, não conseguiu registrar o Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição de 2014. À época, alguns pequenos partidos ofereceram legenda para abrigar sua candidatura a presidente da República. Seria até uma solução natural - outra das leis que regem a política -, mas Marina surpreendeu e preferiu se associar a Campos no PSB.

O movimento da ex-ministra de Lula implicava a renúncia explícita de sua candidatura presidencial, já ocupada por Campos. Era um acerto temporário. Em nenhum momento Marina e seus aliados abdicaram da criação do Rede Sustentabilidade. Na realidade, como diz o documento de Saulo, "ficou muito claro que abriram mão da candidatura a presidente para não abrir mão de criar o novo partido, recheado de ideias e conceitos políticos inovadores", no futuro.

Em todo esse processo, o Rede jamais abriu mão de suas teses e valores, pelo que nunca restou dúvida de que se tratava de uma aliança pragmática, mas transitória. Mas com Marina cabeça de chapa o Rede "deixa para trás a condição de hóspede e assume a condição de morador permanente no seu novo espaço político", diz Saulo.

O secretário-geral pessedista acredita que a força da candidatura de Marina vai obrigar o velho PSB a se renovar, "abrigando os postulados defendidos pelos sonháticos". O desafio de Marina será juntar o capital de Eduardo Campos com o seu próprio, agora em valorização. A convicção de Saulo vem do fato de que a legislação para a criação de novos partidos mudou. Ao contrário do que aconteceu com o PSD, o Pros e o Solidariedade, novos partidos agora nascem sem tempo de televisão e recursos do fundo partidário, a que só terão direito por conquista eleitoral.

Mudança significativa no comitê eleitoral da presidente Dilma Rousseff: o presidente do PT, Rui Falcão, venceu a queda de braço que mantinha com o superpoderoso ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) sobre os assuntos da campanha à reeleição. Depois de uma conversa classificada de "dura" entre os dois com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro passou a cuidar exclusivamente de assuntos de governo. Mercadante ainda deve participar de reuniões da coordenação, periodicamente realizadas no Palácio da Alvorada. Mas deixou de lado a operação propriamente dita de assuntos da campanha. A gota d'água, aparentemente, foi a costura para o financiamento de algumas campanhas estaduais do PMDB, feitas sem o conhecimento do vice-presidente Michel Temer. Candidatos que estavam de fora da lista dos beneficiados, como Eunício Oliveira, protestaram. Temer, que estava licenciado da presidência do PMDB, reassumiu o cargo.

Ricardo Noblat: Quem conspira contra Marina

- O Globo

Está em curso uma segunda tentativa, da última quarta-feira para cá, de inviabilizar a indicação de Marina Silva pelo PSB para substituir Eduardo Campos como candidata a presidente da República. E como a anterior, o responsável pela tentativa é Roberto Amaral, presidente em exercício do PSB, estreitamente ligado a Lula, a Dilma e ao PT, e favorável a que o partido se mantenha formalmente neutro na eleição presidencial.

- Esse Amaral, homem, só me cria problemas - disse-me Eduardo Campos em Brasília, no segundo semestre do ano passado, antes mesmo de Marina ingressar no PSB.

- E por que o senhor dá tanta força a ele? - insisti.

- Não dou. Mas ele está no partido há muito tempo. É líder da facção mais antiga do partido. Meu avô, Arraes, gostava dele - desculpou-se Eduardo.

Foi na quarta-feira que caiu perto de Santos, em São Paulo, o jatinho que conduzia Eduardo, quatro assessores e dois pilotos. Naquele mesmo dia, Amaral, que foi ministro do governo Lula e uma vez se disse favorável a que o Brasil construísse sua bomba atômica, partiu para cima da candidatura natural de Marina, vice de Eduardo. Plantou onde pôde a notícia de que haveria dificuldade para emplacar o nome de Marina. E que o partido nada decidiria por enquanto.

A família de Campos, antes mesmo do enterro do corpo dele, entrou em cena para socorrer Marina. Primeiro foi o único irmão de Eduardo que distribuiu nota dizendo que a família apoiava o nome de Marina para candidata a presidente. Em seguida, foi a própria viúva, Renata Campos, que acolheu Marina no Recife e fez questão de mantê-la ao seu lado durante o velório do marido. Nem por isso, Amaral desistiu do seu intento.

Aproveitou o protagonismo conquistado por Renata nos últimos dias para vender por aí a ideia de que o PSB quer vê-la na chapa de Marina Silva como candidata a vice. De resto, Marina estaria obrigada a desfilar nos estados ao lado de políticos dos quais prefere manter distância. E a dar um jeito de pagar as despesas de campanha de pequenos partidos que apoiavam a eleição de Eduardo. Amaral assumiu a presidência do PSB para ajudar ao PT - essa é que é a verdade.

Renata não quer ser candidata a vice de Marina. Foi convidada por Marina para ser. Disse não. Está pronta para ajudar Marina, assim como Paulo Câmara, candidato do PSB ao governo de Pernambuco. Mas se dedicará daqui para frente, e durante o tempo necessário, a criar seus cinco filhos, um deles bebê de 7 meses.

No mais, Marina precisa de um vice com perfil político, capaz de compensar suas deficiências nessa área. Não seria o caso de Renata.

Luiz Carlos Azedo: O novo cenário

• O realinhamento de forças políticas no processo eleitoral sempre tende a ser mais acentuado quando o candidato favorito é ultrapassado por um dos concorrentes

- Correio Braziliense

O dado mais importante da pesquisa Datafolha divulgada ontem não foi o empate técnico entre Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), com ligeira vantagem de um ponto para a primeira, mas a perda de favoritismo da presidente Dilma Rousseff, que ficou atrás da ex-vice de Eduardo Campos na simulação de segundo turno por uma diferença de quatro pontos, ou seja, no limite da margem de erro.

Em tese, esse resultado pode desencadear um novo alinhamento de forças já no primeiro turno. A ameaça de “cristianização” de Dilma Rousseff sempre existiu entre os aliados e partidários do próprio PT, por diversos motivos. Os principais são o péssimo relacionamento com os aliados, o alijamento de lideranças importantes do PT do governo e o excessivo intervencionismo econômico.

O movimento “Volta, Lula!” era uma expressão dessas insatisfações, mas foi contido pelo próprio ex-presidente da República, que rechaçou a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto no lugar de Dilma. Ainda mais porque a criatura ganhou vida própria e bateu o pé contra o retorno do criador ao poder.

Toda vez que a possibilidade de segundo turno aparece nas pesquisas, a expectativa de um novo mandato de Dilma no Palácio do Planalto, ao contrário do que seria natural, funciona como elemento desagregador de setores da própria base. Agora, a situação é mais delicada porque o Datafolha revelou a possibilidade de Dilma perder a eleição.

Voto útil
Eduardo Campos sempre apostou na “cristianização” de Dilma, pois há setores da base do governo e até mesmo do PT que prefeririam a eleição do socialista, e não a permanência da presidente da República no poder por mais quatro anos. Acreditava que, para chegar ao segundo turno, faria uma arrancada avassaladora, que implodiria a base governista.

O mesmo raciocínio vale para o tucano Aécio Neves, que também tem grande trânsito em setores da base do governo. Com a vantagem de Marina , o fenômeno pode ocorrer ainda no primeiro turno, a favor dele, acredita.

O realinhamento de forças políticas no processo eleitoral sempre tende a ser mais acentuado quando o candidato favorito é ultrapassado por um dos concorrentes, ainda mais a sete semanas da eleição. Antes mesmo do segundo turno, nesses casos, ocorre um fenômeno semelhante ao “voto útil”.

Pesquisas
Esses cenários, porém, merecem o devido desconto em razão de a pesquisa Datafolha ter sido realizada no calor dos acontecimentos trágicos que afastaram da disputa o ex-governador de Pernambuco. Muitos analistas relativizam os resultados da pesquisa do Datafolha nos últimos dias 14 e 15.

Houve a superexposição de Marina na mídia, beneficiada pela forte comoção causada pela morte de Eduardo Campos. Dilma, principalmente, e Aécio terão mais tempo no horário eleitoral, o que deixa a candidata do PSB em desvantagem. Também farão diferença as estruturas de poder e os recursos mobilizados por cada candidato.

O PT, porém, sentiu o golpe. Lula ainda tentou remover a candidatura de Marina Silva, mas o tiro saiu pela culatra, principalmente por causa da forte reação de Ana Arraes, Renata Campos e Antônio Campos, mãe, esposa e irmão do ex-governador pernambucano, respectivamente.

A reação de Aécio Neves foi mais cautelosa. A entrada de Marina Silva foi vista pelo candidato do PSDB como um fato positivo porque garante o segundo turno da eleição. O novo cenário eleitoral, porém, ainda está sendo avaliado. Talvez os tucanos tenham que mudar de estratégia para garantir a presença do ex-governador de Minas no segundo turno.