Por Marta Watanabe, Ligia Guimarães e Marina Falcão - Valor Econômico
SÃO PAULO E RECIFE - A economia brasileira, em recessão há dois anos, pode ter chegado ao "fundo do poço". Relatos de empresários e associações do setor produtivo ouvidos pelo Valormostram que boa parte das empresas já se ajustou e há sinais de melhora da confiança, o que pode levar ao início de um ciclo de recuperação econômica a partir do segundo semestre.
Os empresários, porém, ainda demonstram cautela para retomar os investimentos e esperam medidas mais concretas do governo. Aguarda-se uma definição melhor do cenário político, além de estabilidade cambial, redução dos juros e maior disposição dos bancos para emprestar. Quase todos os segmentos reclamam de problemas de crédito, seja pelo custo ou pela escassez.
"A confiança só não melhorou mais por causa das incertezas na esfera política", diz Flávio Rocha, presidente da rede de lojas Riachuelo. Para ele, houve 100% de acerto na escolha da equipe econômica. "É a volta do protagonismo da livre iniciativa, superando o protagonismo do Estado. É uma mudança ideológica", afirmou o empresário.
Rocha acredita que o "fundo do poço" foi em abril, quando uma sondagem com 600 executivos de compras apontou queda de 10,8% das vendas na comparação anual. Em maio, a retração caiu para 7%, em junho para 6% e tudo indica, pelo levantamento preliminar, que o número voltará a ficar positivo em agosto.
Indicadores de confiança dos empresários começam também a melhorar. "Após acomodar em torno de 70 pontos desde setembro passado, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) dá sinais de descolamento. Por enquanto, a melhora é concentrada nas expectativas", diz Aloisio Campelo, superintendente Adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre/FGV.
No caso do consumidor, explica Campelo, os resultados ainda são dúbios. "Claro que a melhora na ponta abre uma brecha para a interpretação de 'recuperação'. Mas uma leitura honesta do gráfico não permite muito otimismo por enquanto", observa.