Perda de mais um ministro amplia isolamento do presidente e agrava crise política
Aguirre Talento e Marco Grillo | O Globo
BRASÍLIA - O ex-juiz federal Sergio Moro anunciou nesta sexta-feira seu pedido de demissão do cargo de ministro da Justiça governo do presidente Jair Bolsonaro após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, seu nome de confiança na corporação. A troca, segundo Moro, seria uma interferrência política na PF sem uma causa que fosse aceitável.
— O presidente queria uma pessoa que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações de inteligência, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar essas informações, disse Moro.
— O presidente também informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal e que a troca seria oportuna nesse sentido. Também nao é uma razão que justifique, pelo contrário até gera preocupação
Moro disse que Bolsonaro afirmou a ele que o objetivo da troca no comando da Polícia Federal era, sim, interferir politicamente na instituição. Segundo o ministro da Justiça, o presidente “sinalizou que tinha preocupações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF)”, em referência às investigações em curso sobre fake news e os atos antidemocráticos do último fim de semana. Ainda de acordo com Moro, Bolsonaro afirmou que precisa de delegados na PF com quem ele possa ter contato, inclusive tendo acesso a relatórios de inteligência.
– Falei com presidente que seria interferência política, e ele disse que seria mesmo. Presidente me disse mais de uma vez expressamente que queria ter uma pessoa do conato dele, que ele pudesse ligar, ter informações, colher relatórios de inteligência. Seja diretor, seja superintendente, não é papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. Imagina se durante a própria Lava-Jato, ministro ou diretor-geral, ou a presidente Dilma ou o ex presidente Luiz (Lula) ficassem ligando para o superintendente…. Autonomia da PF é valor fundamental. Grande problema não é quem entra, mas por que alguém entrar. Eu fico na dúvida se vai conseguir dizer não (a Bolsonaro) em relação a outros temas.
Moro destacou na entrevista que foi prometido carta branca a ele.
— Foi me prometido na ocasião carta branca para nomear todos os assessores, inclusive o superintendente da Polícia Federal - disse, lembrando do convite feito por Bolsonaro.