Cid sai e precipita reforma
• Titular da Educação deixa pasta após ultimato do PMDB; baixa deve antecipar troca de ministros
Luiza Damé, Isabel Braga, Catarina Alencastro e Simone Iglesias – O Globo
Caos político
BRASÍLIA - A ida do agora ex-ministro da Educação Cid Gomes à Câmara para explicar uma declaração sua de que há na Casa achacadores virou confronto e bate-boca com os parlamentares da base. O resultado: a queda do ministro da Educação, com apenas dois meses e 18 dias no cargo, depois de um xeque-mate de peemedebistas, que pediram a demissão do ministro. A primeira baixa na equipe da presidente Dilma Rousseff desencadeia uma inevitável reforma ministerial em seu governo, medida vista como indispensável para a superação da crise política que marca o início do seu segundo mandato. O secretário executivo Luiz Cláudio Costa assumirá interinamente o cargo de ministro da Educação.
No confronto entre Cid e o PMDB de Eduardo Cunha (RJ), o partido, que cobra maior participação no ministério, saiu fortalecido. Em meio ao clima beligerante entre o ministro e o presidente da Câmara, peemedebistas mandaram um recado a Dilma: ou ele ou nós, exigindo a demissão de Cid. Cunha disse que a saída do ministro não significa que o governo esteja refém do partido.
- Não aceito essa pecha, porque todos os partidos pediram a demissão dele. Não existe estar refém de quem quer que seja, o PMDB não pediu a demissão para ocupar o cargo dele, pediu foi respeito ao Parlamento. A decisão da presidente está correta, porque demonstra respeito ao Poder Legislativo - afirmou.
Tão logo Dilma aceitou a demissão, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante ,telefonou para Cunha para informar sobre a saída de Cid. O deputado então espalhou a informação pela Câmara. Pouco depois saiu a confirmação oficial do Planalto.
Especulações incluem Mercadante
Com a saída de Cid, voltaram a circular no Palácio do Planalto especulações de que Mercadante, fragilizado no cargo, poderia voltar ao MEC. Essa mudança agradaria ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de ver o ministro da Defesa, Jaques Wagner, na Casa Civil. Depois da demissão de Cid, Wagner esteve com a presidente. Fontes do Planalto, porém, negam essa mexida.
Dilma vem resistindo à mudança porque Mercadante é seu ministro mais próximo e considerado "imexível". Uma solução caseira seria a volta de José Henrique Paim Filho, que saiu do MEC para dar lugar a Cid e foi indicado por Dilma para uma diretoria do BNDES. À presidente já chegaram ideias de substituir o ministro das Relações Institucionais (SRI), Pepe Vargas, por um nome do PMDB - Eliseu Padilha (Aviação Civil) ou o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves -, ou pelo atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB), que já comandou a pasta no governo Lula.
Peemedebistas, no entanto, dizem que não querem este ministério porque ele não tem autonomia. Tudo depende da vontade de negociação de Dilma. No governo, fala-se num arranjo: entregar ao PMDB a Integração Nacional, cobiçada pelos peemedebistas na reforma de dezembro, desde que o partido aceite também a SRI. O PP comanda a Integração, mas a legenda ficou enfraquecida pela Operação Lava-Jato, que atingiu o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), e quase metade da bancada de deputados. Para não tirar o PP totalmente do governo, a sugestão que chegou a Dilma é que ela dê uma pasta menor, como Portos ou Pesca, que estão com o PMDB. Apesar de a reforma ter que passar pelos peemedebistas, a fórmula não é considerada fácil. Há um grupo que defende a ida de Henrique Alves para o Turismo, ocupando o cargo de Vinícius Lages, afilhado de Renan. No partido do vice-presidente Michel Temer há muita insatisfação com os rumos da gestão Dilma e com o acúmulo de crises políticas geradas pelo governo.
Cid Gomes foi à Câmara, convocado pelos deputados, para explicar declaração sua sobre a existência de "300, 400 deputados que defendem o quanto pior melhor, e aproveitam um governo fragilizado para "achacarem mais". Diante de uma plateia conflagrada de mais de 300 deputados, o ministro reafirmou o que disse, provocando a ira dos parlamentares. Deputados de seu partido, o PROS, da base e também da oposição acreditam que o ministro partiu para o ataque para manter o ativo eleitoral no Ceará. O próprio ministro disse na tribuna que voltaria à sua cidade, Sobral, de cabeça erguida.
Cid Gomes chegou à Câmara acompanhado de uma comitiva de políticos cearenses, entre eles o governador do estado, Camilo Santana. Cunha logo mostrou que aquela claque o incomodava e pediu que quem não fosse deputado ou credenciado, deixasse o plenário. Deputados estaduais e vereadores reclamaram, mas foram para as galerias. Cunha se irritou e mandou esvaziar a galeria.
- Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação, ou então larguem o osso! Saiam do governo! Vão para a oposição! Isso será mais claro para o povo brasileiro - afirmou Cid.
Depois, em fala dirigida a Cunha, atacou:
- Fui acusado de mal-educado. Pois muito bem, eu prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque.
Houve reações dos deputados, que pediam que ele classe a boca. Cunha deu a palavra aos líderes, entre ele o do PMDB, Leonardo "Picciani (RJ), que pediu a demissão do ministro.
Cid deixou o plenário da Câmara antes do fim da sessão, logo depois que o deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), da tribuna, o chamou de palhaço. Em rápida audiência com a presidente, entregou o cargo.
- A minha declaração e a forma como eu coloquei a minha posição na Câmara, é óbvio que criam dificuldades para a base do governo e, portanto, eu não quis criar nenhum constrangimento e pedi demissão em caráter irrevogável - disse o ex-ministro. ( Colaborou Júnia Gama)
Bate-boca
Troca de farpas no plenário
Cid Gomes
"Eu fui para o Hospital Sírio-Libanês e lá permaneci com muito sacrifício, longe da minha família, longe dos meus filhos. Qual não foi minha surpresa, Sras. e Srs. deputados, quando soube que estaria chegando lá uma comissão de deputados para verificar se eu estava doente. Eu peço a esta Casa que examine quem custeou as despesas desses deputados que foram lá".
Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
"Gostaria de dizer, claro e textualmente, que o requerimento que foi mandado à Comissão foi feito sem ônus para a Casa, a expensas dos parlamentares, porque esta Casa se dá ao respeito"
Cid Gomes
"Eu fui, Sras. e Srs. deputados, acusado de mal-educado. Pois muito bem, eu prefiro ser acusado por ele (Cunha) de mal-educado do que ser como ele, acusado de achaque".
Leonardo Picciani (PMDB-RJ)
"Esse cidadão não vai vir aqui debochar da cara dos representantes da população brasileira!"
André Moura (PSC-SE)
"Não tem moral, dignidade e honradez para continuar Ministro da Educação".
Cid Gomes
Quem não tem moral é V.Exa.
Sergio Zveiter (PSD-RJ)
"Para mim, esse cidadão está agindo premeditadamente, provavelmente porque quer pular fora do barco, que, como está vendo, está prestes a afundar e não tem coragem de ir a quem ele deveria ir. É um palhaço!"
Cid Gomes
Vossa excelência me respeite!