- Folha de S. Paulo
Até há pouco, Calicute, para mim, era uma cidade na costa oeste da Índia por onde o Fantasma, personagem de Lee Falk nos quadrinhos, às vezes perambulava em sua luta contra falsários, contrabandistas e bandidos em geral, abundantes por aqueles mares. Quase sempre, o Fantasma chegava até lá na sua identidade de Mr. Walker - óculos escuros, capa xadrez e chapéu -, seguido por seu cachorro Capeto.
Várias aventuras tinham a ver com arcas cheias de joias roubadas, que o Fantasma recuperava e devolvia a seus donos. Não desviava nem um anel para sua noiva Diana Palmer.
Mas, agora, Calicute dá nome à operação da Polícia Federal que prendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral - não por causa da fixação do casal Cabral em colares, relógios, brincos, pulseiras e anéis de luxo, mas por Calicute ter sido onde Pedro Álvares Cabral, à frente da mesma frota que nos descobriu em 1500, viu-se em águas de bacalhau, atacado por piratas árabes que tentavam impedi-lo de negociar com o governo local. Sim, é uma ligação tênue, a dos sobrenomes iguais. Mas de uma sofisticação a toda prova.
Aliás, quem dá os nomes às fases dessas operações? Só pode ser um intelectual da polícia, porque eles são surpreendentes, emprestados do latim ou do grego, tirados de títulos de óperas ou de romances clássicos, e só fazem sentido quando se sabe quem é o alvo da busca e apreensão, condução coercitiva ou prisão preventiva naquele dia. Pouco depois, a cada nova fase, os nomes anteriores voltam a ficar incompreensíveis.
Alguns deles: My Way, Erga Omnis, Politeia, Pixuleco (um dos mais famosos), Nessum Dorma, Crátons, Vidas Secas, Catilinárias, Triplo X, Acarajé, Xepa, Aletheia, Vitória de Pirro, Janus, Sepsis, Pripyat, Caça-Fantasmas, Metis, Omertà, muitos mais.
Mas meu favorito continua sendo o Resta Um.