Lewandowski não comenta processo; Dirceu se cerca de petistas e Genoino
ofende imprensa; Jefferson não vota
Roberto Kaz, Leandra Lima, Thiago Herdy, Marcia Abos e Thais Britto
RIO e SÃO PAULO - Para quem olhasse de longe, o pequeno alvoroço - com
pedidos de autógrafo, foto, beijo e abraço - poderia dar a impressão de que
havia, ali no meio, uma estrela do rock. Para quem olhasse de perto, uma
palavrinha, ao fim de cada elogio gritado ("Parabéns!", "Sou sua
fã") mostraria que não: "ministro". A celebridade em questão era
ele mesmo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, relator do
mensalão, que votou às 11h15min no Clube Monte Líbano, na Lagoa, onde fica 17ª
Zona Eleitoral do Rio. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, e réus do
mensalão também chamaram a atenção dos eleitores ontem.
Barbosa aguardou por um minuto na fila, antes de votar. Foi o tempo para que
surgisse um grupo de tietes entre 50 e 80 anos. A primeira a se aproximar foi a
professora aposentada Leonor Carvalho, que após pedir o combo
abraço/foto/autógrafo, parabenizou o ministro "pela honestidade e pelo
belo trabalho".
- Quero que meus filhos (advogados) sejam assim que nem ele: dureza.
Leonor estava com a tia, Altair Masplê, que diz ver o julgamento todos os
dias, como novela:
- Acho ele excepcional.
Perguntado pela imprensa se estava se habituando à vida de estrela, o
ministro desconversou:
- As pessoas me acompanham há muito tempo. Não sou estrela. É carinho -
disse Barbosa, ao lado de um segurança e de um motorista.
O supervisor da 17ª Zona, Luiz Henrique Leão Vieira, de 49 anos, tirou uma
foto com o ministro, e postou no Facebook. Escreveu: "Esse me dá orgulho
de ser brasileiro!!".
- Hoje ele é "o" cara - disse Vieira.
"segundo turno é sempre bom"
Nos quinze minutos em que ficou no local, Barbosa não negou um único pedido
de foto. Disse que seu voto atual é secreto. Perguntado se gostaria que
houvesse segundo turno na cidade, disse:
- Segundo turno é sempre bom.
Perguntado onde iria comemorar seu aniversário - por coincidência, ontem -
respondeu que já o havia feito, na noite anterior, com a família (seu filho
Felipe, de 26 anos, mora no Rio).
A advogada Claudia Beauclair se emocionou e mandou mensagem aos filhos:
"Uau!!! Votei, e quem estava na minha seção? O meu herói! O ministro
Joaquim Barbosa!!! Tirei foto com ele num gesto de tietagem explícita!!!"
Eleitor em São Paulo, o revisor do processo, o ministro do STF Ricardo
Lewandowski disse estar com a consciência tranquila quanto a seus votos - ele
foi o único dos quatro ministros que já votaram a absolver os petistas José
Dirceu e José Genoino da acusação de corrupção ativa. O ministro pediu esquema
de segurança e entrou pelos fundos do colégio onde vota, no Brooklin, na zona
sul de São Paulo.
- Estou com a consciência absolutamente tranquila, cumpri meu dever.
Críticas fazem parte do processo democrático - disse.
Dois dos principais réus do mensalão tiveram reações diferentes ao votar, em
São Paulo. Logo cedo, o ex-presidente do PT José Genoino perdeu o controle e
xingou jornalistas. Já o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu trocou de
domicílio eleitoral e cercou-se de militantes. Esta semana, deve ser concluída
no Supremo parte do processo que diz respeito a Genoino e Dirceu.
Antes de votar, Genoino respondeu a perguntas de jornalistas gritando. A
irritação o fez ir embora de seu colégio eleitoral, no Butantã, zona oeste de
São Paulo, sem votar. Meia hora depois, voltou e votou.
- Vocês são urubus que torturam a alma humana. Não podem ficar aqui. Não
falo com urubus. Vocês fazem igual aos torturadores da ditadura. Só que agora
não têm pau de arara, têm a caneta - gritou, com as mãos trêmulas.
Pizzolato "sob efeito de remédios"
Sob o aplauso da militância petista e cercado por seguranças, Dirceu votou
no fim da tarde no Bosque da Saúde, região sul da capital paulista. Ele trocou
o domicílio eleitoral para evitar ser hostilizado. O novo local fica numa
região de classe média-baixa, reduto petista, segundo assessores. O ex-ministro
foi cercado por militantes que cantavam mensagens de apoio. Seguranças e
aliados empurraram jornalistas.
Já João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, votou em Osasco, na Grande São
Paulo. Entrou e saiu rapidamente da sala de votação, sem dar declarações. Cunha
era candidato a prefeito pelo PT na cidade, mas desistiu após ser condenado por
corrupção e peculato.
Também já condenado (corrupção passiva, peculato e lavagem), o ex-diretor de
Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato votou na Escola Municipal
Cícero Pena, em Copacabana, no Rio. Apático, entrou e saiu sem chamar atenção
dos eleitores, que não o reconheceram.
- Ele não está em condições de falar, está sob efeito de remédios- disse uma
mulher que o acompanhava.
Aguardado na 3ª Zona Eleitoral, em Botafogo, no Rio, o ex-deputado Roberto
Jefferson, também réu e com condenações por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, não votou. Segundo sua assessoria, o presidente do PTB não se sentiu
bem durante a semana e, após alguns dias com febre, resolveu ficar em casa, em
Levy Gasparian.
Fonte: O Globo