Pré-candidatos à Presidência, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) costuram estratégia para isolar Dilma em Minas, São Paulo e Pernambuco.
PSB e tucanos se articulam
Primeiro passo é palanque duplo em Minas para garantir espaço a Eduardo Campos e a Aécio
BRASÍLIA - De olho nos 15,1 milhões de eleitores do segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) deram passos importantes esta semana para acertar palanques duplos no estado, como forma de fortalecer suas prováveis candidaturas na disputa com a presidente Dilma Rousseff ano que vem. Estão articulando também repetir a fórmula em Pernambuco e São Paulo, maior colégio eleitoral, com 31 milhões de eleitores. A ideia é ter candidatos diferentes aos governos estaduais, onde for possível, ou fazer alianças em torno de um nome, mas dividindo o palanque para os dois presidenciáveis. Assim, acreditam, poderão isolar candidatos governistas, com prejuízo para os palanques da presidente Dilma.
De um lado, em Minas, Eduardo Campos tirou do dilmista Walfrido Mares Guia o comando do diretório do PSB no estado e o entregou para o deputado Júlio Delgado, que veste a camisa da candidatura própria e tem ligações com Aécio. Do outro, o pré-candidato tucano mandou de volta para Minas o ex-ministro Pimenta da Veiga para coordenar sua campanha no estado e para criar uma alternativa de nome para a sucessão do governador Antonio Anastasia.
Compromissos também no segundo turno
Júlio Delgado diz que, com a ausência de lideranças fortes em alguns estados, o PSB não descarta a possibilidade de apoiar candidatos de outro partido. Em Minas e São Paulo, onde o PSDB é forte, diz, os dois partidos podem dividir o mesmo palanque: quem não quiser votar em Aécio vota em Eduardo, diz Delgado. O mesmo está sendo trabalhado em Pernambuco e outros estados do Nordeste. E quem for para o segundo turno, afirma, tem o apoio de quem ficar para trás.
- Estamos trabalhando para ter palanque duplo em Minas, São Paulo e Pernambuco, por enquanto. Minha ascensão à presidência do PSB em Minas abre a possibilidade de isso acontecer aqui. Essa máxima do palanque duplo deve valer para esses outros dois colégios eleitorais importantes. O Eduardo está sintonizado e buscando possibilidade de palanques. Ao fazer esse movimento em Minas, ele deixa claro que está buscando alternativas, sabe que Minas é fundamental para seu projeto e que Aécio tem a hegemonia aqui, mas ele também quer ter seu espaçozinho - diz Júlio Delgado. - A situação andou um pouco esta semana, com minha condução à presidência do diretório de Minas. Agora tenho a tarefa de conduzir para andar o resto. Antes, os protagonistas eram Aécio e Anastasia. Agora, os protagonistas são outros. E o PSB e o PSDB vão trabalhar em consonância em busca de um projeto nacional.
Ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, Pimenta da Veiga - como Tasso Jereissati - vem tendo atuação ativa no novo comando do PSDB nacional, no projeto "Aécio Presidente". Pimenta está fechando seu escritório de advocacia em Brasília e voltando para Belo Horizonte para coordenar a campanha presidencial no estado.
- Eu volto para Minas por inteiro. Estou voltando para ajudar a organizar a sucessão aqui, animar a campanha. Aécio precisa ter uma votação forte em Minas, mas não pode ficar só aqui. Eu vou rodar o estado, cuidar das alianças, para que ele fique mais liberado para rodar o país - diz Pimenta da Veiga.
Deixando claro a proximidade dos dois candidatos e a atuação conjunta dos dois partidos em outros estados, e não só em Minas, Pimenta da Veiga afirma:
- Vamos respeitar a candidatura do Eduardo Campos no primeiro turno, para que possamos estar juntos no segundo turno.
Sobre a mudança do comando no PSB mineiro, Pimenta afirma que gostou da escolha de Júlio Delgado - filho de Tarcísio Delgado, peemedebista histórico de sua geração, também identificado com Aécio.
- Esse movimento no PSB não está desagradando nada! - admitiu Pimenta.
- O Pimenta fez política junto com o meu pai e sabe que minha ida para a direção do PSB de Minas é boa para o projeto dos dois: do Aécio e do Eduardo - concorda Júlio Delgado.
Com o enquadramento do PSB de Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), que se elegeu com o apoio de Aécio, é o nome de Eduardo Campos para o governo. Mas Márcio resiste, porque, além das boas relações com Aécio e Campos, tem ligações também com o ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, o candidato petista.
A disputa em Minas, ainda que com o quadro de candidatos indefinido, será uma das mais importantes, não só pelo tamanho do eleitorado, mas pelo embate direto entre Aécio e Dilma. É nesse território, onde o PSB já conquistou também seu espaço, que Eduardo Campos quer garantir um palanque forte - seja de um candidato próprio ou em parceria com o PSDB, aliança que vem sendo repetida há anos.
Nesta negociação entre os dois partidos, existem outras alternativas em discussão para a sucessão de Anastasia: o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro; o vice de Anastasia, Alberto Pinto Coelho (PP); e o presidente da Assembléia Legislativa, Diniz Pinheiro, do PSDB.
- Fizemos todo o acerto de Minas de total acordo com o prefeito Márcio Lacerda. Ele está muito cauteloso, mas com muito interesse em participar do projeto do partido. Gostei da postura dele. O Walfrido preferiu seguir o Lula, e não o PSB. Particularmente, eu acho que ele tinha que tomar o rumo dele, e a gente, o nosso - disse o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, que ainda crê na candidatura de Márcio Lacerda unindo os dois palanques, o de Eduardo Campos e o de Aécio Neves.
O palanque duplo não está descartado nem no Ceará, onde o ex-senador tucano Tasso Jereissati aparece em nova pesquisa do Ibope liderando a disputa pelo governo do estado, com 45% em determinados cenários, enquanto o candidato do governador Cid Gomes, o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, aparece com 4% - Cid continua defendendo a reeleição de Dilma. O eventual palanque de Tasso, no entanto, poderia servir tanto a Aécio quanto a Eduardo Campos, no primeiro turno.
Resolvido o problema de Minas Gerais, Siqueira diz que a única situação pendente agora é o diretório do PSB do Ceará, presidido pelo governador Cid Gomes. Mas, por enquanto, não haverá qualquer intervenção junto aos Ferreira Gomes.
- O Cid e o Ciro têm dado declarações contraditórias. Uma hora apoiam a candidatura de Eduardo, outra hora dão marcha a ré. Estamos tendo uma tolerância, porque todo mundo tem direito a ter opinião. Mas, quando o partido decidir por ampla maioria, eles terão que acompanhar - diz o secretário-geral do PSB.
O diretório do PSB do Amapá, do governador Camilo Capiberibe, que também deu declarações de apoio à reeleição de Dilma, já estaria pacificado. Segundo Siqueira, os pais do governador, o senador João Alberto Capiberibe e a deputada Janete Capiberibe, estiveram em Recife e almoçaram com Eduardo Campos semana passada.
O diretório do Espírito Santo, do governador Renato Casagrande, também é contabilizado como pró-Eduardo, apesar das declarações do presidente do PT, Rui Falcão, de que o governador socialista tinha se comprometido em manter neutralidade. Faz parte, segundo os socialistas, da política de manter boas relações com o governo federal para não prejudicar a gestão dos estados.
Fonte: O Globo