terça-feira, 27 de outubro de 2009

Além da guerra de religiões

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


O atentado que matou no mínimo 130 pessoas e feriu outras 600 domingo em Bagdá, no maior ato terrorista dos últimos dois anos, no momento em que o governo dos Estados Unidos reafirma sua intenção de retirar suas tropas do Iraque após a realização de eleições em janeiro, não poderia ser mais eloquente do pouco avanço obtido nos últimos anos na superação do chamado “conflito de civilizações”, tragicamente explicitado nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

O XX Colóquio da Academia da Latinidade que se realiza nestes dias no Cairo, para debater o fenômeno da retomada da força das religiões em contraponto à possibilidade de paz mundial, dá sequência à série de seminários internacionais iniciados dez anos atrás, quando a Academia foi criada para discutir justamente a questão do multiculturalismo dentro de um mundo já ameaçado pela hegemonia dos Estados Unidos.

Comandada pelo sociólogo e filósofo brasileiro Candido Mendes, seu secretáriogeral, a Academia da Latinidade reúne intelectuais, na maioria de países de origem latina, e se propõe a intermediar as relações do Ocidente com o Oriente, tendo como base o fortalecimento da democracia.

A França está representada nesta conferência, entre outros, pelo filósofo Edgar Morin; a Espanha por Frederico Mayor, ex-diretor-geral da Unesco e presidente da academia, e a Itália pelo filósofo Gianni Vátimo.

O programa Aliança das Civilizações das Nações Unidas, que tem no ex-presidente de Portugal Jorge Sampaio seu alto representante, faz parte desse seminário da Academia, e tem, na parte brasileira, o diplomata José Augusto Lindgren Alves.

A visão do mundo islâmico está representada, entre outros, pelo ex-secretário geral da ONU, o egípcio Boutros Boutros-Ghali, e palestrantes do nível do argelino Mohammed Arkoun, professor em Paris, considerado o maior especialista islâmico atual.

As conferências anteriores se alternaram entre todos os ângulos do problema islâmico. Os seminários foram realizados em locais como Alexandria e Ancara, no Egito, em Istambul, na Turquia, em Baku, no Azerbaijão, e na Jordânia. Por outro lado, houve reuniões no Rio de Janeiro, no Haiti, nos Estados Unidos e em Quito.

A ideia que originou a academia era poder enfrentar o diálogo com o mundo islâmico nas suas diversas vertentes: a do mundo iraniano, o que foi feito na conferência de Teerã (então em evidência com a crise envolvendo o enriquecimento de urânio pelo Irã, que se repete nos dias atuais); no mundo turco, e volta agora ao mundo árabe no Egito.

O sociólogo Candido Mendes lembra que se pensava, ainda ao fim do século passado, que o futuro fosse “o advento de uma modernidade cada vez mais ligada à expressão da tecnologia e da fruição múltipla de seus benefícios”.

Na sua interpretação, o 11 de setembro levou a um clima da guerra de credos onde, “ameaçadas no conflito das culturas, a ocidental e a islâmica se entrincheiraram na radicalidade fundamentalista em que à Al-Qaeda se contrapunha o cristianismo abrigado na Casa Branca de Bush e guarnecido das invasões do Afeganistão ou do Iraque”.

O terrorismo de após a queda das torres de Manhattan exprimiria, na visão de Candido Mendes, “essa confrontação extrema, até o abate dos outros povos, como vingança daquelas culturas expropriadas durante séculos, por uma razão dominadora, e travestida de civilização onipotente”.

Todo o programa, hoje, da Aliança das Civilizações, das Nações Unidas, diz Candido Mendes, ele próprio nomeado pela ONU embaixador para a Aliança das Civilizações, quer entender “as razões profundas dessas rupturas, num contraste assinalado com o que, ainda há uma década, se pensava fosse o universo da paz, vencidos afinal os muros, as guerras frias e o horror de uma hecatombe nuclear”.

Não basta, por outro lado, diz ele, atentarmos ao sentido convencional das “guerras de religião”, “na sequência desse terrorismo quase sacrifical, que leva ao paradoxo de um culto, em várias regiões muçulmanas, de Mohammed Hatta e seus s e q u a z e s , n a q u e d a d o WTC, como executores do castigo de Alá”.

A velha jihad se renovaria em novas violências, adverte Candido Mendes, “de que a Al-Qaeda seria o ator notório”, como parece ter acontecido agora em Bagdá, ou nos atentados de Madri ou de Londres, e da catástrofe de Lockerbee, cujo autor principal, liberado, recebeu triunfal acolhida em Trípoli.

O que importa nesse quadro, analisa o sociólogo brasileiro, é ver “como é que caminha esta pós-laicidade que enfrenta um antiarabismo dos Estados Unidos, da mesma forma que leva o mundo islâmico a ver os direitos humanos como uma ideologia ocidental”.

Para Candido Mendes, no quadro dos Estados religiosos, a partir do Irã, “o clamor por esses direitos desaparece nesta visão da transcendência, que envolve a ordem humana e divina, todo o Estado e a sua vigência”.

Candido Mendes dá especial atenção ao impacto da era Obama, “no inédito de um Império que volta às suas origens pela liberdade do voto, no restabelecimento da responsabilidade cidadã nos jogos de poder”.

O legado da laicidade, talvez perdida, está nessa democracia, diz Candido Mendes, “onde, à margem do absoluto religioso, impõe-se o respeito ao dissenso, à diferença, e ao peso das minorias no quadro de uma vontade política, e transformase na premissa do dificílimo reencontro de um visagrave;-vis das civilizações”.

Candido Mendes tem esperança de que, na busca do entendimento das “guerras de religião”, especialmente depois que ganhou o Prêmio Nobel da Paz, “o universo do medo encontre o atalho da era Obama, contra a eternização do terrorismo e das guerras preemptivas”.

Visão de vanguarda

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Em matéria de preocupação com o aperfeiçoamento dos meios e modos da política no Brasil, o Poder Judiciário - trata-se já de um fato - tem andado muito mais rápido que o Poder Legislativo, em tese o ambiente onde deveria estar presente essa inquietação.

Mas, na prática, os tribunais têm assumido a vanguarda e os partidos têm ficado na retaguarda. Fazem da reforma política um discurso, mas não assumem a ação, a não ser quando é do interesse deles atuar em prol do retrocesso.

Exemplos recentes: as alterações feitas na Lei Eleitoral que criaram entraves para o combate ao uso do caixa 2 nas campanhas eleitorais e a tolerância com o troca-troca de legendas, mesmo depois de a Justiça ter apontado a existência da regra da fidelidade partidária na Constituição.

Agora, vem do Judiciário a iniciativa de abrir o debate sobre o voto obrigatório na seguinte perspectiva: o que seria melhor para a democracia, sua manutenção ou mudança para o voto facultativo?

Para começar a discutir a questão, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Ayres Britto, e a também ministra do Supremo Tribunal Federal e atual presidente da Escola Judiciária Eleitoral, Cármen Lúcia Rocha, reuniram juristas, juízes, desembargadores e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em seminário ontem de manhã.

A intenção foi promover uma troca de ideias, da qual, registre-se, saiu plenamente vencedora a tese do voto obrigatório como exercício de civilidade e aperfeiçoamento democrático, mas já é bem mais do que fazem os políticos, que simplesmente evitam o assunto.

A despeito da existência de várias propostas de emendas constitucionais no Congresso em favor da extinção do voto obrigatório desde os anos 1990, o Legislativo não examina a questão nem a inclui em nenhuma das sugestões de reforma política que são constantemente apresentadas, discutidas e reduzidas a um ou outro ponto que atenda aos interesses imediatos de suas excelências.

A contar pelas opiniões expostas pelo ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira, o sociólogo Enrico Cursino, o jurista Fábio Konder Comparato, o jornalista Alexandre Garcia, sob a mediação do reitor da UnB, José Geraldo de Souza Júnior, o Congresso não precisaria ter receio de enfrentar o tema.

Todos eles - até quem, como Aristides Junqueira, aponta o voto facultativo como o "ideal" a ser atingido - foram unânimes em considerar a obrigatoriedade como um fator essencial de educação cívica em país de democracia jovem como o Brasil.

É o pensamento preponderante também no mundo político, cuja motivação é bem diferente da que justifica o pensamento dos debatedores do seminário. Estes temem que haja um retrocesso democrático com o desinteresse pela política que poderia resultar do fim do voto obrigatório.

Já aqueles, os políticos, apostam na obrigatoriedade como forma de assegurar sua reserva de mercado: propaganda eleitoral paga pelos cofres públicos e eleitorado garantido.

A repetição das velhas regras que lhes asseguram a sobrevivência sem que para isso precisem fazer nenhum esforço de correção de procedimentos é o que mantém a reforma política em banho-maria.

Do debate de ontem de manhã sobrou uma evidência e surgiu uma proposta. A evidência esteve no fato de nenhum dos debatedores comprovar o caráter didático do voto obrigatório, dado que as relações entre representantes e representados não melhoraram da redemocratização para cá.
Ao contrário, deterioraram-se.

A sugestão foi apresentada pelo jurista Fábio Comparato: a realização de um plebiscito sobre voto obrigatório ou facultativo.

Mediante a entrega à iniciativa popular da prerrogativa, hoje exclusiva do Congresso, de convocação de plebiscitos e referendos. A fim de que, como argumenta Comparato, o mandante (o povo) não seja sempre refém da vontade do mandatário (o Congresso).

Depende

Quando convém, a ministra Dilma Rousseff recorre à questão de gênero para se dizer vítima de "preconceito contra a mulher", assumindo deliberadamente uma atitude frágil.

Fez isso agora, ao apontar machismo nas críticas ao uso da máquina pública para promoção de sua pré-candidatura à Presidência.

Quando quer, porém, Dilma menospreza as diferenças.

Faz isso sempre que ironiza a "meiguice" de seus companheiros de governo, para se defender dos que a acusam de ser brusca no trato.

Muito mais

A subtração de uma frase subtraiu também sentido da nota intitulada Mais que isso, no artigo de domingo último. Na íntegra, o texto era o seguinte: Policiais que não socorrem uma pessoa agonizante e se apropriam do produto de um assalto não são "vagabundos" como qualificou o governador do Rio, Sérgio Cabral.

São cúmplices de assassinato e ladrões.

Os empregos verdes

José Pastore
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tenho acompanhado a grande discussão sobre as medidas para a limpeza do planeta, de olho no que vai acontecer com a oferta de empregos. Até o momento, vinha lendo as previsões das organizações mais ligadas ao mundo do trabalho, dentre elas, a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Os trabalhos que li nesse campo me convenceram que as medidas para reduzir o CO2 e criar um ambiente mais limpo serão bastante benéficas para a geração de empregos ao longo dos próximos 20 anos. Dentre eles, tem especial destaque o Green Jobs: Towards Decent Work in a Sustainable, Low-Carbon World, publicado pela ONU e pela OIT em 2008. Só para a implantação de fontes de energia renováveis, o estudo registra que 2,3 milhões de empregos já foram gerados e muitos mais virão.

A eliminação dos combustíveis poluentes e o reaparelhamento dos veículos de transporte abrem, igualmente, imensas oportunidades de emprego, na medida em que isso envolve uma revolução nas tecnologias de produção de carros, ônibus, aviões, etc. A reforma dos edifícios, da mesma forma, tende a gerar milhões de empregos para que casas e prédios venham a ser poupadores de energia e usuários de fontes limpas. Só para a União Europeia, prevê-se mais de 2 milhões de empregos até 2030!

Na agricultura e no reflorestamento, então, nem se fala. Hoje 1,3 bilhão de pessoas que trabalham nessas atividades terão de passar por profundas transformações. Os números projetados para novos empregos são colossais.

Esse meu entusiasmo, porém, acaba de tomar uma ducha de água fria ao ler o documento do The Property and Environment Research Center, Seven Myths about Green Jobs, Bozeman, Montana, 2009. O relatório critica severamente a metodologia utilizada pela literatura sobre os empregos verdes, inclusive o citado estudo da ONU e da OIT, assim como contesta frontalmente as decisões tomadas pelo presidente Barack Obama ao alocar bilhões de dólares em programas de novas energias com a esperança de desaquecer o planeta e criar milhões de empregos.

Os seus autores afirmam que as projeções são exageradas, sendo, muitas delas, baseadas em mitos, em modelos muito pobres e em pressupostos irrealistas.

A crítica é dura. Quando examinada com cuidado, dizem os autores, a literatura sobre a explosão dos empregos verdes está repleta de contradições, terminologia vaga, ciência duvidosa e um completo desprezo pelos princípios básicos da economia.

Para ilustrar o forte ataque, selecionei alguns dos seus argumentos. Um deles diz respeito à desconsideração da possibilidade de aperfeiçoamento das tecnologias atuais. Os autores ponderam que essas tecnologias podem muito bem ser modificadas ao longo dos próximos anos, dispensando, assim, a introdução de outras.

Uma outra crítica se refere à desconsideração do custo de oportunidade dos imensos recursos que terão de ser usados para descarbonizar o planeta. É o caso da maioria dos empregos ligados à energia solar e eólica que decorrem de pesados subsídios - que terão de ser pagos pelos contribuintes. Os 50 mil empregos criados nesses campos na Espanha demandaram um investimento (subsidiado) de US$ 38 bilhões, ou seja, a exorbitante quantia de US$ 760 mil por emprego.

Mais. Nos Estados Unidos, a produção de energia produzida pelo vento deverá aumentar 20% até 2030, mas a sua contribuição será de um aumento de apenas 1,1% do total de energia gerada naquele ano, em todo o país. Além disso, trata-se de uma energia pouco confiável uma vez que os ventos são inconstantes e eletricidade produzida não pode ser estocada.

E assim o estudo vai dissecando previsão por previsão, tornando todas muito incertas.

É claro que a monumental tarefa de desaquecer a Terra vai demandar muito trabalho, criando muitos empregos. Mas, ao que parece, estamos longe de poder quantificá-los com precisão e muito menos de antecipar o tipo de qualificação que vão requerer - sem falar nos postos de trabalho (atuais) que serão destruídos em decorrência da própria limpeza do planeta.

Um pouco de prudência não fará mal aos que projetam melhorias automáticas na oferta de emprego. Vou estudar melhor o tema já que estamos nas vésperas da reunião de Copenhagen (7 a 18 de dezembro de 2009), que tem o objetivo de estabelecer metas para o controle das mudanças do clima.

*José Pastore é professor de relações do trabalho da FEA-USP.

Papel da oposição

Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O Brasil tem governo demais e oposição de menos. O presidente Lula fala e faz o que bem entende sem um contraponto. A oposição tem medo da popularidade do presidente e acha melhor não apontar suas falhas sequenciais. O PSDB se omite em questões importantes, o DEM é temático, o PSB é oficialmente da base, o PV começa a desenhar uma alternativa, o PMDB é governo e sempre será.

O novo ministro do Supremo José Antonio Toffoli não foi escolhido por seu currículo, mas por sua extensa folha de serviços prestados ao PT. Nos Estados Unidos, a juíza Sonia Sotomayor foi sabatinada por uma semana pelo Senado, e os republicanos quiserem saber o sentido de cada ato e declaração dela antes de aprová-la. Aqui, bastou meia dúzia de perguntas dos partidos de oposição, durante uma tarde, e ele foi aprovado. Na posse de Toffoli, lá estava na primeira fila batendo palmas para ele o governador José Serra, que é o nome da oposição que está na frente em todas as pesquisas de intenção de votos.

O anúncio do pré-sal foi montado como um palanque para a candidata Dilma Rousseff, e o projeto de regulação tem uma sucessão de erros, mas lá estava Serra no lançamento, reclamando apenas dos royalties. Cabe à oposição, de qualquer partido, mostrar os equívocos do caminho escolhido que favorece uma empresa de capital aberto, tira transparência do processo de escolha de investidores e não pesa o custo ambiental da exploração.

O PAC das cidades históricas é uma versão empobrecida de um projeto do governo passado, mas lá estava batendo palmas o governador de Minas, Aécio Neves, outro pré-candidato do PSDB.

O presidente deu uma entrevista em que nem Cristo foi poupado. Tudo o que Serra disse foi uma ironia de pouco alcance: "A entrevista é interessante porque mostra o que o presidente é."
Ninguém entendeu. Quando Lula ficou três dias num carnaval fora de hora, em cima de um palanque, com dinheiro público, alegando fiscalizar uma obra, Serra falou algo sobre irrigação nas terras ribeirinhas, e há um movimento de se saber o custo da viagem. Mas a transposição do Rio São Francisco deve ser discutida também por uma série de outros motivos. Teve licença ambiental condicionada a exigências até agora não cumpridas. O rio sofre com assoreamento, esgoto sanitário de inúmeras cidades ribeirinhas, e destruição da mata ciliar. A população não pode ficar na situação de apenas se queixar ao bispo.

O presidente Lula tem atacado o TCU sucessivamente e avisa que vai apresentar uma lista de absurdos que pararam obras importantes. A oposição sabe a lista de absurdos encontrados nas obras do PAC ou fora dele? É melhor que saiba porque o governo informa que está pensando em criar um conselho para que as obras contestadas sejam liberadas em rito sumário.

O governo atrasa a restituição de Imposto de Renda às pessoas físicas; desmoraliza, por erros gerenciais e falta de controle, o programa de avaliação do ensino médio; planeja construir dezenas de termoelétricas a combustível fóssil nos próximos anos; permite que o setor elétrico se transforme em feudo familiar de um aliado; faz ameaças públicas a uma empresa privada; o Rio afunda numa angustiante crise de segurança. Isso para citar alguns eventos recentes sobre os quais os políticos de oposição ou fazem protesto débil ou frases de efeito.

O Bolsa Família é um programa que distribui renda para quem precisa e tem o direito de receber. Mas um dos seus méritos iniciais, quando nasceu como Bolsa Escola em experiências municipais, era não ser uma concessão assistencialista. Está perdendo essa virtude. Seu maior desafio como política pública era ter uma porta de saída, ser uma alavanca para a mobilidade social. O governo não formatou essa porta de saída e o programa começa a perder qualidade. A oposição tem medo de criticar o que está errado no projeto, tem medo de desmascarar o uso político-eleitoral do programa, e de propor avanços. Toda política pública é uma ferramenta. O Bolsa Família pode e deve ser aperfeiçoado, sem ser abandonado.

O mundo está a 42 dias de sua mais crucial negociação internacional: a Cop 15, de Copenhague. O Brasil ainda não tem uma posição porque o governo se perdeu num debate interno ultrapassado sobre o conflito entre crescimento e controle das emissões dos gases de efeito estufa. O maior partido de oposição, o PSDB, trata a questão ambiental e climática como periférica. Tem um ou outro especialista no tema, mas os pré-candidatos passam pelo assunto com a leveza dos desinformados. O DEM concorda com o governo: azar do meio ambiente, e todo o poder aos desmatadores.

Oposição não é apenas para colher assinaturas para CPIs, que abandonará assim que o governo conseguir os postos de presidente e relator; nem é para ficar contra sistematicamente tudo, como ficava o PT. Seu papel é mostrar outros caminhos e escolhas; criticar, fiscalizar, propor. Em regimes parlamentaristas como o da Inglaterra, a oposição tem o bom hábito de montar um shadow cabinet, uma espécie de ministro sombra para cada área. Isso não impediu que a oposição inglesa votasse em leis com as quais concordava, como a legislação contra a mudança climática. Mas permite que a oposição tenha mais profundidade nas críticas e nas avaliações de políticas.

A democracia para ser inteira tem que ter governo e oposição. Há desafios imensos para o país e os partidos que não estão na base parlamentar têm que saber o que dizer sobre eles.

Não porque está se aproximando uma eleição presidencial, mas sim para que se saiba por que são oposição.

Fiscalização já!

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Está ficando demais esse negócio de o presidente da República todo dia, dentro do governo ou falando para o mundo, recriminar fiscalização, investigação e rigor com as obras públicas -o que quer dizer com o uso do meu, do seu e do nosso rico dinheirinho.

Num dia, Lula declara que a imprensa não tem de investigar nem fiscalizar nada, só tem de "informar". Mas informar o quê? Para atender o interesse de quem?

No outro, lá estava Lula fazendo dueto com Dilma contra essas fiscalizações que travam o progresso. Tirava o foco da imprensa e voltava aos de sempre: o TCU e o Ministério Público, que têm justamente o dever de fiscalizar e zelar pelo bem, pelas obras e pelas verbas públicas.

Isso tudo remete a outros passos ou vozes do governo Lula contra qualquer tipo de controle, chegando até a Marina Silva, que, quando ministra do Meio Ambiente, era muito prestigiada fora do governo e do país pela diligência na avaliação ambiental, mas muito criticada dentro do governo e especialmente dentro do Planalto -pela colega Dilma. E eis que Marina saiu do cargo e do PT.

Recuando mais um pouco, encontraremos o empenho do governo em aprovar a Lei da Mordaça, para calar o Ministério Público, ou o projeto proibindo funcionário público de passar informações para a imprensa, ou ainda o tal projeto para cassar registro de jornalistas.

E chegamos à triste trajetória das CPIs, que cumpriram fantástico papel quando os petistas estavam dentro delas investigando os outros, mas estão morrendo de inanição quando são os outros que agora estão dentro tentando, e não conseguindo, fiscalizar o governo do PT e dos seus complexos aliados.

Ou seja, fiscalização é como pimenta nos olhos: é ótimo, mas só nos olhos dos outros. E fica pairando uma pergunta no ar: afinal, o que tanto Lula e o seu governo temem?

PMDB no paraíso

Fernando de Barros e Silva
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Não haverá mais verticalização nas eleições do ano que vem. Isso significa que um mesmo partido poderá estar com o PT na esfera federal e com o PSDB nos Estados que bem entender, ou vice-versa. O PMDB continua sendo o exemplo mais didático de como, na política brasileira, é possível ser fiel a Jesus e a Judas ao mesmo tempo.

Se o contrato de gaveta que assinou há dias com o PT vingar, o PMDB de Michel Temer estará associado à candidatura de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, em São Paulo, se a aliança local for adiante, o PMDB de Orestes Quércia estará com o PSDB, apoiando o candidato ao governo de José Serra -eventualmente, o próprio Serra.

Assim, às terças, quintas e sábados, dias de campanha na TV para presidente e deputado federal, o PMDB estará exaltando os feitos do governo Lula. Às segundas, quartas e sextas, dias reservados a candidatos a governador, senador e deputado estadual, o mesmo PMDB estará dizendo que a experiência tucana em São Paulo é um sucesso e o PT representa apenas o retrocesso.

Há quem defenda que esse tipo de liberdade de alianças evita o engessamento artificial do sistema político num país de fato tão heterogêneo. Talvez sim, mas é também uma situação que, multiplicada território afora, vem exprimir a debilidade programática e/ou ideológica dos partidos brasileiros. E não é à toa que o PMDB aparece como grande beneficiário de um arranjo legal que lhe permite coligar-se ao poder central (a Lula, no caso) sem nenhum impedimento para suas várias conveniências regionais.

O maior pecado do sistema eleitoral tem sido a constante mudança das regras do jogo. Pior: ao cabo de tantas voltas e reviravoltas nos últimos anos, o ativismo judiciário terminou por consagrar uma fórmula que serve aos interesses tanto do governo (que pôs o PMDB no bolso) como do PMDB, que continua como sempre esteve nos últimos 25 anos, desde José Sarney: no poder e na oposição ao mesmo tempo.

Por pobrismo e renúncia à mudança, Freire dá 4,5 ao governo Lula

Por: Valéria de Oliveira
DEU NO PORTAL DO PPS


O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que o governo Lula não seria aprovado se dependesse da nota dele: 4,5 foi a escolhida quando os jornalistas que participaram do programa Roda Viva, da TV Cultura, lhe pediram para atribuir-lhe uma de zero a 10. Essa pontuação se deve, por um lado, às melhorias no salário mínimo, aposentadoria e em alguns indicadores sociais. Por outro, “porque Lula não era para melhorar, mas para mudar”. Em vez disso, manteve a política econômica que privilegia os banqueiros e tratou o problema da pobreza com um instrumento do coronelismo, o Bolsa Família.

“Eu não sonho em ver todo o Brasil recebendo Bolsa Família, não. Quero um projeto de desenvolvimento e geração de empregos no Nordeste; não de manutenção do pobrismo, que me possibilitasse ser eleito sempre, porque o pobre está lá para me dar votos”. Apenas com programas de transferência de renda, disse Freire, o Nordeste continua a ser um bolsão de pobreza, porque ele não muda a realidade.

Serra

Ao ser perguntado se, num eventual governo Serra, o Bolsa Família acabaria, o presidente do PPS disse que não é o alter ego do governador de São Paulo que, se eleito presidente, “não faria o meu governo”. Afirmou que os pontos comuns entre o PPS e o governador são a opção por novos paradigmas de desenvolvimento após a crise; investimento em energias do futuro, que não façam o mundo padecer com o carbono e aposta na sociedade do conhecimento, dentre outros. A respeito da definição da candidatura tucana, Freire disse não acreditar que seja necessária uma precipitação, mas acrescentou que não defende que a escolha se dê apenas em março do próximo ano.

Ao falar de economia, Roberto Freire disse que, com um cenário internacional favorável, enquanto China e Índia disputavam a dianteira do crescimento, o Brasil dividia com o Haiti “a rabeira” dos índices. Agora, salientou, o presidente Lula reclama das ações do TCU (Tribunal de Contas da União) e das leis ambientais porque “está cada vez mais claro que este governo é incompetente para investir; se não fossem nossas estatais, estaríamos numa tragédia completa por causa da má gestão (governamental), porque não se tem projeto”.

MST

O PPS não apóia a criminalização dos movimentos sociais, disse Freire, ao ser questionado sobre o MST. Entretanto, ressalvou, “não considera que o MST esteja acima da lei e que possa usar dinheiro público sem prestar contas à sociedade”. Quando foi consultado se considerava que o movimento é de esquerda, aquiesceu, mas lembrou que, ao destruir pesquisas, conforme o MST já fez, pratica “o pior obscurantismo, lembra a queima de livros e de pessoas pela inquisição”, na Idade Média. “Quando penso na esquerda, me vem a imagem do iluminismo, as figuras de Giordano Bruno, de Galileu Galilei; não a de Torquemada”.

O partido, afirmou, é favorável tanto à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a organização quanto àquela instalada com o objetivo de apurar irregularidades na Petrobras. “As CPIs são vistas sempre como instrumentos da oposição; aí o governo investe na paralisação delas. Está errado. Quem perde é a sociedade”.

Esquerda

Especificamente sobre a definição de esquerda no mundo atual, questão que os jornalistas lhe pediram insistentemente, Freire disse que ela passa, por exemplo, pela defesa da globalização da imigração. “Integrar o capital é fácil, mas e o trabalho?”, ponderou. Ao responder quais governos considerava de esquerda no mundo, afirmou: “Pensava que o de Lula ia ser. O PT é de esquerda, mas o governo do PT não é”, declarou. Segundo Freire, é possível ser de esquerda e empreender um governo conservador.

Ao analisar a decisão de parte do PMDB de apoiar a candidatura da ministra Dilma Roussef, o ex-senador - um dos fundadores do MDB - disse que o partido jogou fora sua história. “Já há algum tempo (a legenda) não tem força para lançar um candidato a presidente”, afirmou. Acaba optando pelo apoio ao “governo de plantão”. O partido tornou-se importante, nas eleições, pelo seu tempo de TV.

A persistir a tendência de vitória do governador José Serra, avalia Freire, o PMDB, que não está unido, pode mudar na convenção e apoiar a candidatura oposicionista. “Como definir desde já? Eles (PT e PMDB) estão com dificuldades nos estados”, lembrou. O jantar que selou a parceria, comentou, foi um “factóide” porque aqueles que dele participaram já eram comensais do governo.

O jornalista da Carta Capital Gilberto Nascimento disse que Freire recebia jeton de empresas públicas de São Paulo mesmo morando em Recife. O ex-senador respondeu: “Não moro em Recife, mas em São Paulo e Brasília; e trabalho. Nunca faltei a uma reunião em três anos. Sou um homem comum e decente. Alguém pode não concordar com o que eu penso, mas creio que é uma honra para essas empresas que eu participe delas; tenho 40 anos de vida pública e sempre tentaram achar alguma coisa contra mim. Não acharam e vieram com essa”. Freire acrescentou que o deputado cassado José Dirceu teve de se retratar por ter afirmado que ele não trabalhava nos conselhos dos quais participa. “Eu disse que iria processá-lo; ele se retratou”.

Participaram da entrevista os jornalistas Eliane Cantanhede, da Folha de São Paulo; Cláudio Araújo, editor de O Estado de São Paulo; Guilherme Bruno, do portal IG, e Gilberto Nascimento, da Revista Carta Capital. O apresentador e mediador do Roda Viva é o jornalista Heródoto Barbeiro.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Múcio: PT prometeu dinheiro ao PTB em 2003

DEU EM O GLOBO

Em depoimento, ex-ministro nega mensalão, mas diz que petistas se comprometeram a ajudar a financiar campanha

BRASÍLIA. O ex-ministro das Relações Institucionais e atual conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio confirmou, em depoimento ontem à juíza Pollyana Kelly Martins Alves, da 12ª Vara Federal do Distrito Federal, que em 2003 PT e PTB fecharam uma aliança na qual petistas teriam se comprometido a apoiar financeiramente o aliado nas eleições municipais do ano seguinte. Múcio prestou depoimento como testemunha de defesa de cinco réus no processo do mensalão — o presidente do PTB, Roberto Jefferson; o publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão; José Janene, ex-líder do PP; Pedro Henry, também ex-líder do PP; e Emerson Palmieri, ex-1º secretário do PTB.

— Foi um almoço na sede do PT, onde alguém perguntou “quanto vocês acham que precisam para bancar a eleição (municipal)”. A orientação do partido era a de que, quanto mais aliados tivéssemos no PT, melhor estaríamos. (O PT) trabalharia para que o acordo fosse mantido. A ideia era que fizéssemos uma parceria para a próxima eleição. Precisávamos de parceria, precisávamos de dinheiro para que a campanha fosse tocada — afirmou Múcio.

Múcio: apresentei Delúbio a Roberto Jefferson

De acordo com o ex-ministro, foi ele quem apresentou o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para o presidente do PTB na época, deputado Roberto Jefferson.

— Logo que assumi a liderança do partido fui procurado pelo Delúbio para apresentálo ao Roberto. Fui eu quem apresentei — contou.

Múcio negou, no entanto, que seu partido tenha recebido dinheiro do governo — o chamado mensalão, denunciado por Roberto Jefferson — para votar favoravelmente aos projetos do Palácio do Planalto. Segundo Múcio, as votações favoráveis ocorreram porque o partido era aliado ao governo, e não por compensação financeira.

— Em hipótese nenhuma.

Nós votávamos absolutamente favorável ao governo. Governo e PTB tinham uma indiscutível parceria.

José Múcio admitiu que tinha conhecimento do mensalão, mas disse que isso ocorreu por causa das notícias divulgadas à época, que mancharam a imagem do Congresso.

— O Brasil todo tem (conhecimento).

Foi um episódio que maculou o conceito do Legislativo.

Foi um ano negro para a democracia. Eu era líder do PTB, o partido de onde partiu a denúncia — disse.

O canto da sereia ameaça o PSDB

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A menos de um ano da eleição, os tucanos demonstram que pouco ou quase nada aprenderam com as eleições de 2002 e 2006. Serra e Geraldo Alckmin, respectivamente, ainda sentem o sabor do pão que o PSDB amassou nas duas ocasiões. O partido corre o risco de repetir os mesmos erros na sucessão do presidente Lula, em 2010.

Como em 2006, o PSDB tem um nome com maioria na opinião pública, o governador de São Paulo, José Serra. Não há pesquisa que o tucano não lidere e que não bata, com folga, a candidata do governo, nas simulações de segundo turno.

Com a popularidade nas nuvens, é evidente que o presidente Lula pode fazer chover e eleger a ministra Dilma Rousseff. Mas risco é parte do jogo. O problema do PSDB é que o partido sofre do mal crônico da contemporização.

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) anuncia todos os dias que é candidato a presidente da República, mas isso não o faz de fato candidato. Dilma nunca disse com todas as letras que é candidata. Alguém tem dúvidas de que ela será candidata?

Serra não diz que é candidato, mas o presidente Lula e o PT só o tratam como o adversário a ser batido nas eleições de 2010. É bobagem, portanto, a pressão do PSDB e aliados para que Serra se declare candidato. É uma falsa questão.

A discussão sobre a candidatura Serra mal encobre as pendências que o PSDB não consegue resolver. Esse é o caso de Minas Gerais, um problema que aumenta, em vez de diminuir, a cada soluço do governador Aécio Neves.

É evidente que os mineiros gostariam de ver um conterrâneo na Presidência da República, mas o próprio Aécio fez e faz campanha para tal. Ao esticar a corda, o governador arrisca-se a minar as chances, em Minas Gerais, de qualquer candidato do PSDB que não seja ele mesmo. Uma animosidade que hoje não encontra respaldo nas pesquisas.

Tanto em 2002 como em 2006, Aécio tratou da própria eleição e deixou o candidato presidencial tucano entregue à própria sorte, em Minas Gerais. Agora pode ir além e criar um clima de animosidade contra Serra.

Pelo menos desta vez o Ceará se mostra disposto a seguir o candidato do PSDB, seja ele Serra ou Aécio, muito embora a preferência do senador Tasso Jereissati, o cacique tucano local, recaia sobre o governador de Minas.

Em 2002, Tasso saudou a candidatura Serra na convenção do PSDB, levantando-lhe os braços, mas depois apoiou formalmente Ciro Gomes, então no PPS, para presidente. Tasso disse à cúpula tucana que, em 2010, não ficará contra o partido.

Nenhum tucano põe em dúvida a capacidade de Tasso para ajudar seu candidato, se decidir efetivamente disputar o governo do Estado, conforme anunciou no último domingo, aparentemente, no calor da convenção estadual do PSDB. Tasso já governou o Ceará por três vezes. Só tentará a quarta "no sacrifício". Com Serra candidato a presidente, seria uma prova indiscutível da "unidade" tucana.

Aécio estica a corda como fez Geraldo Alckmin em 2006. Serra quer decidir em março, no último minuto do prazo previsto na lei para que deixe o cargo para se candidatar a presidente. Aécio sairá de qualquer jeito, pois no mínimo será candidato ao Senado. No braço de ferro, não tem muito a perder.

Para José Serra, não tem sentido algum antecipar um processo que é longo e desgastante.

Antes de outubro, tem a propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão, que começa em agosto do próximo ano, e antes do "horário eleitoral" tem as convenções nacionais partidárias, em junho.

Isso vale para todos. A partir de abril, os candidatos ficarão legalmente a descoberto para fazer campanha. A legislação é severa com o "candidato" que antecipa o processo eleitoral.

Dilma, por exemplo, ainda não é formalmente candidata, por isso aproveita-se de uma zona cinzenta para avançar na opinião pública. Depois de março, a situação será diferente.

Aécio tem dificuldades para descer do palanque. Em jantar, semana passada, com Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Guerra, o governador foi mais acessível em relação a José Serra, mas nem quer ouvir falar na candidatura a vice numa chapa puro sangue do PSDB.

Ainda soa no ouvido do governador de Minas o canto da sereia que navega em mares lulistas: no PSDB, não é a vez dele, Aécio Neves; e se Aécio for candidato a vice de Serra, corre o risco de sofrer uma derrota, sendo ainda muito jovem e com a perspectiva de ganhar a Presidência, em eleições futuras.

FHC acha vital, um fator decisivo na eleição, Aécio disputar ao lado de Serra. O governador de São Paulo, por seu turno, não se mexerá enquanto não for decidida a questão do vice (problema, aliás, que também envolve a candidatura Dilma).

Visto de hoje, Serra acertou na estratégia de se candidatar a presidente na eleição de 2002, que tornou seu nome nacionalmente conhecido; acertou em 2004, ao se candidatar a prefeito; em 2006, ao se candidatar ao governo e em 2008, ao apostar na aliança PSDB-DEM para a prefeitura de São Paulo.

Falta a seus aliados acreditar na estratégia.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Rituais vazios

José Arthur Giannotti
DEU NA FOLHA DE S. PAULO / +MAIS!

Esvaziamento dos discursos políticos é fenômeno universal que transforma líderes em profetas

Sabe-se que a política possui seus rituais.

Os soberanos, os príncipes e os chefes de Estado demarcam seus respectivos territórios formalizando certas condutas que distinguem os que mandam e os que obedecem.Nas democracias contemporâneas os chefes procuram mostrar que atuam no mesmo plano de seus subordinados, mas não é por isso que sub-repticiamente deixam de marcar as diferenças.

No que nos concerne, que se observem em particular as roupas do presidente Lula, que quase não repete um terno e se cobre de chapéus segundo as circunstâncias.Se usa um chapéu do Exército na viagem inspetora-eleitoral às obras do rio São Francisco, é porque pretende sinalizar que todo o esforço da transposição das águas se faz mediante a colaboração militar, portanto, sob seu comando formal.Tudo nele simboliza, ao mesmo tempo, proximidade com o eleitor e distância nos modos de seu ser.

No entanto, quanto mais o discurso político se esvazia de sentido, tanto mais essa sinalização do poder se converte num ritual vazio.

O fenômeno é universal, com a exceção notável dos EUA. Note-se, por exemplo, o que Sarkozy [presidente francês] diz a cada momento. Não lhe interessa se o que diz à tarde contradiz o que foi dito pela manhã, importa que seja ele quem enuncia a situação a ser trazida para o nível do discurso.

Não sabe de nada

Entre nós, como nos inclinamos a ser a caricatura do mundo, esse esvaziamento do discurso de nossos "grandes caciques" é flagrante.

Ninguém acredita, nem ele mesmo, que o presidente do Senado, José Sarney, não sabia das irregularidades cometidas durante suas gestões. Mas assim mesmo ele declara não saber de nada, e todos nós terminamos sabendo de tudo como se não soubéssemos de nada.

Vale tão só o ritual do falar purgante.

O presidente Lula, desde a crise do mensalão, é mestre nesse purgar pelo discurso vazio.

Nesta semana, a imprensa anuncia que a defesa do ex-deputado Roberto Jefferson voltou a pedir que o Supremo Tribunal Federal inclua o presidente Lula entre as testemunhas do processo do mensalão. Obviamente, o presidente usará de suas prerrogativas de responder por escrito, reafirmará sua ignorância do caso e tudo continuará como está.

Mas os advogados cumprirão a tarefa de dar uma conotação política ao processo, oferecendo uma oportunidade ao presidente de repor o testemunho no plano da indefinição conveniente a seus propósitos.

A fala desse poder mente, pretende ser verdadeira, mas todos sabem que ela é mentirosa. Isso porque as palavras não estão valendo pelo que denominam, mas, antes de tudo, porque simbolizam a chefia que, exibindo-se como fazedor, está além da verdade e da mentira. Desde os filósofos gregos sabe-se que o discurso político se desdobra no nível da retórica; pretende antes convencer do que falar a verdade.

Mas não é por isso que deixa de se revestir com o manto do verdadeiro, pois somente assim, imaginando que estão no verdadeiro, as pessoas podem agir de forma coletiva, assumindo um mesmo paradigma. Mas, se o paradigma da verdade e do interesse verdadeiro deixam de operar, o que a fala inconsequente simboliza?

Como esse discurso retórico pode ainda ter efeito quando as pessoas deixam de acreditar no que estão dizendo e ouvindo?

Marginais

Tudo parece indicar que a fala da chefia não pretende se responsabilizar pelo que está sendo feito. O que faz é o chefe, este e não outro, e, se suas frases são contraditórias, isso vem demonstrar que o feito resulta tão só dele, de seu ser, não de suas palavras, vale dizer, das determinadas opções que foi obrigado a dizer.

A ação política deixa então de ser coletiva para se tornar um dom a ser recebido por aqueles que acreditam. Estes sabem que o benefício não pode ser generalizado, mas, graças à mediação da chefia, podem se apropriar das margens do que os poderosos já possuem.

Não pedem igualdade, apenas participação, ainda que seja pela margem. Participam do jogo político reafirmando sua condição de marginais, contentando-se com os restos de um sistema produtivo que alimenta uma sociedade de consumo.

Pierre Clastres, em seu estudo sobre os guaranis, nos conta que, no fim da tarde, o chefe se levantava e começava a discursar ao léu, sem eira nem beira.

Os índios continuavam ocupados em suas tarefas cotidianas, mas, entre eles e o divino, um elo estava sendo tramado.

Como Clastres estava com a cabeça no ser e tempo, de Heidegger, ele dizia que o chefe guarani falava do ser.

Na política atual os "caciques" estão se tornando profetas do vazio. E como o nada, assim como o ser, não tem outra determinação a não ser ele mesmo, pode aparecer como a tela onde projetamos todas as nossas carências como se elas já estivessem sendo resolvidas.

Lula configura o outro do desastre do ensino brasileiro, do aparelhamento do Estado, o outro da derrocada de nossas infraestruturas, o outro da falência de nossas instituições políticas, o outro além do bem e do mal.

E também o outro dos velhos caciques, que agora sobrevivem tão só mediante essa alteridade comprometida.

Ele e seus companheiros tingem e cobrem a política brasileira com seu manto de verdade falsa, ocultando assim o debate que seria preciso fazer sobre os gargalos atuais que atrasam nosso desenvolvimento. E com a falta de diálogo, eles continuam decidindo como querem e como lhes convém.

Essa política tem resultado em notável inclusão social, mas acompanhada de forte enervamento de nossas jovens instituições democráticas. Como evitá-la?

José Arthur Giannotti é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

Na banda estreita da História

Wilson Figueiredo
Jornalista
DEU EM OPINIÃO & NOTICIA


Em situação muito parecida com este ponto morto em que a sucessão presidencial derrapa por falta de candidatos legalmente respaldados e o presidente se empenha em adiantar o impontual relógio da História, o observador político dos Diários Associados advertiu em sua coluna no O Jornal que, se o Brasil continuasse a ser alimentado com palavras que nada significavam, deixaria de observá-lo. Não há registro de que o Brasil tenha tomado conhecimento da ameaça de Mozart Monteiro (patrono da galeria dos mozarlescos, elaborada por Manuel Bandeira), que continuou a observar a situação do mesmo jeito e a produzir crônicas políticas.

Crises freqüentam apenas a banda estreita da história oral. A história oficial é destinada ao consumo escolar e seu negócio é ensinar que reformas são a melhor maneira de manter à mão o que pedia para ser mudado antes que fosse tarde. Nunca é tarde. No Brasil as urnas não davam a última palavra e era sagrado o direito de duvidar do resultado de eleição.Os políticos investiam pesado no atraso.O presidente Lula deve ao princípio da maioria absoluta um monumento de mármore italiano. Mas não entendeu. Pois nem ele próprio duvidou quando se viu eleito. Apalpou-se até se convencer de que estava a salvo, e demorou a se soltar. Este presidente que não cala é o produto quase final dos anteriores. Suspeita-se de que ainda falta o Lula definitivo.

Já no primeiro mandato de Lula, quando as práticas do mensalão ainda estavam sendo testadas, faltou uma voz para ativar o princípio formulado por Machado de Assis, que denunciou o equívoco de se dizer que a ocasião faz o ladrão. Pode ter feito, mas, desde então, passou a valer o ponto de vista de que a ocasião se reservava exclusivamente para o furto. Pelo modo machadeano de ver, o ladrão já nasce feito. O que varia é a oportunidade, de acordo com as circunstâncias. O mensalão se encarregou de demonstrar que Machado estava com a razão (melhor, que ela estava com ele). O pessoal do negócio parlamentar financiado pela caixa 2 legalizou o procedimento no Congresso Nacional. O sofá foi retirado mas a má fama ficou. E Lula aceitou fazer o papel de Pilatos no Credo.

O tempo passou, os índices que medem as ilusões de felicidade se arredondaram e, tudo indica, o presidente se dispôs a operar no futuro porque o Brasil (no seu modo de ver) cansou-se do atraso, debitado à conta dos governos anteriores, e Lula se convenceu mesmo de que, depois dele, o passado será arquivado. Os presidentes para trás passaram a retratos na parede. Os brasileiros cansaram-se de carregar o passado e já desanimavam de esperar pelo futuro desde que, antes de morrer por aqui, Stephen Zweig vinculou o Brasil ao futuro num livro infelizmente mais citado do que lido.

O título era favorável, mas foi usado como escudo dos céticos para puxar a opinião para baixo. A descoberta do futuro pelo presidente Lula (ou alguém por ele) deve-se à leitura das Confissões de Santo Agostinho às escondidas.Voltou as costas aos governos anteriores e passou a operar na nova dimensão. Foi ao encontro do futuro com uma intimidade imprudente. De braços abertos.

Lula já está na próxima década, embora seus mandatos se encerrem com o decênio. Não tem tempo a perder nem muito a fazer, exceto regar a eleição com seu verbo incontinente. Já fez reserva de mercado até 2014, quando espera estar de volta por apego à reincidência. Até lá, a classe média será reforçada por um certo ressentimento de quem perdeu a vez mas, por merecimento, espera alcançar mais poder político. O futuro é para todos. O pequeno burguês também aposta no futuro imediato.

O Brasil pode contar com a classe média em 2014, quando - e se - Lula se confirmar candidato.Tudo estará mais para surpresas do que para certezas. Até lá, sem dúvida, o próprio Lula já se sentirá em algum ponto do passado. Se quiser detalhes, pergunte a qualquer ex-presidente. Tudo bem se ficar por aí. E, sem sair do PAC, lance enquanto é tempo um programa para reescrever, segundo seu modo de ver e entender, toda a Historia do Brasil, de cabo a rabo, e se reserve um lugar de destaque. O terceiro mandato de Lula, por intermédio da democracia, claro, pode necessitar de acelerar a História quando o futuro tiver deixado para trás seus dois mandatos presidenciais e hipóteses alternativas.

Lidar com o futuro tem vantagens, já que, a longo prazo, estaremos todos, candidatos ou eleitores, pelo menos, politicamente mortos. Para falar claro e sem rodeios, quando o petróleo do pré-sal correr solto por aqui, nem todos os que se alvoroçam com a hipótese poderão comemorar ao câmbio político do dia. Quem sobreviver estará condenados a outras conseqüências que, por enquanto, não passam de hipóteses dependurados em incógnitas.

Lula não será o mesmo, por mais lépido que esteja graças ao elixir do pré-sal, dentro de 15 anos e se a democracia resistir sem fissuras a tanto tempo.

Não é apenas o futuro que é inesgotável. O passado não tem pressa e pode esperar. O fato conclusivo é que, como se fosse o famoso salame que Stalin recomendava ser comido em fatias finas para não se engasgar, a História serve também para dar aos incautos a impressão de se repetir.

Para completar o quadro, continua faltando apenas uma oposição que encontre os caminhos naturais que a levem, senão ao poder, pelo menos à certeza de que é possível pelo voto, mas espanque de vez os atalhos que, em português ou qualquer língua em que a democracia se faça entender, são conhecidos pelo nome genérico de golpe de Estado. A oposição terá que renascer das cinzas ornitológicas da social-democracia, ainda a tempo de adiar as reformas que são o motor insubstituível da História do Brasil.

No dia em que forem feitas, a distância entre os futuro e o passado ficará mais curta do que parece a olho nu.

A SOMBRA.

Panorama Político :: Ilimar Franco
DEU EM O GLOBO

Em entrevista a uma emissora de televisão no Ceará, domingo à noite, o presidente do PPS, Roberto Freire, defendeu que a campanha do PSDB para presidente em 2010 se distancie do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pergunta vai e vem sobre as eleições e Freire sai em defesa da candidatura José Serra, afirmando: "A política econômica de FH não é a do PSDB.

Não vamos associar isso ao programa de José Serra, por favor!".

Para Marina, crítica a Dilma não é preconceito contra mulheres

Sérgio Dávila
De Washington
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


A senadora Marina Silva, pré-candidata do PV à Presidência, refutou a afirmação da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de que as críticas que sofre por viajar pelo país para inaugurar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) revelam preconceito da oposição contra as mulheres.

Marina Silva, que está desde ontem em Washington para uma série de eventos sobre meio ambiente, não aceita a tese da ex-companheira de partido. "No meu entendimento, não tem nada a ver com preconceito contra ser mulher, tem a ver com o uso correto dos recursos públicos e da gestão pública, para não direcionar para essa ou aquela candidatura", disse ela em encontro com jornalistas brasileiros.

Para a senadora, as viagens de Dilma caracterizam campanha. "Não se deve extrapolar as coisas", disse. "Há um incômodo muito grande na sociedade de que o legítimo direito que o Executivo tem de acompanhar obras possa estar ganhando qualificação de campanha."

Marina afirmou que a recente viagem da ministra com o presidente Lula à região do vale do São Francisco, numa caravana, pode ser caracterizada como campanha. "Os atos falhos têm falado mais do que o que a gente pode dizer."

Tais viagens levaram a oposição a entrar com ação na Justiça Eleitoral contra Dilma e Lula, alegando que há antecipação da campanha. Anteontem, Dilma disse que a crítica revela o preconceito da oposição contra as mulheres. "Eu posso ir para a cozinha, cozinhar os projetos por quatro anos. Agora, na hora de servir, não posso nem ver?", questionou a ministra.

Duelo de personalidades

Janaína Figueiredo
Enviada especial • Montevidéu
DEU EM O GLOBO

Mujica não consegue evitar 2º turno no Uruguai e analistas preveem luta dura com Lacalle

Depois de ter fracassado em sua tentativa de eleger-se no primeiro turno, realizado domingo passado, o ex-guerrilheiro tupamaro José “Pepe” Mujica iniciou ontem a segunda etapa da campanha eleitoral uruguaia que, segundo afirmaram analistas locais, se transformará num plebiscito entre dois modelos de país, defendidos por dois candidatos de perfis e personalidades totalmente diferentes. Pouco depois de confirmado o cenário mais temido pela Frente Ampla, a coalizão esquerdista no governo desde 2005, o ex-presidente e candidato à Presidência do tradicional Partido Nacional Luis Alberto Lacalle (1990-95) iniciou a batalha final, que promete ser intensa.

— Somos paz, certeza, segurança e equilíbrio. Uma única bandeira nos identifica, ela nos cobre e nos iguala — declarou o candidato, que segundo dados oficiais obteve 28,94% dos votos, bem abaixo dos 48,16% alcançados por Mujica.

A estratégia de Lacalle será construir uma imagem de candidato de todos os uruguaios e não apenas dos setores vinculados a seu partido. Para isso, o ex-presidente deverá superar o preconceito de muitos eleitores, que o consideram o candidato da direita neoliberal e conservadora. O candidato esquerdista partiu de uma base de apoio mais ampla, mas nesta segunda e última etapa da eleição Lacalle contará com grande parte dos votos do Partido Colorado, que ficou em terceiro lugar, com 16,9%. Mujica tem uma clara vantagem, mas os analistas políticos uruguaios não se atrevem a antecipar um resultado do segundo turno, marcada para 29 de novembro.

— Será uma campanha difícil — ressaltou Ignacio Zuaznábar, diretor da empresa de consultoria Equipos Mori.

Na Câmara dos Deputados, o resultado está pendente por uma cadeira: cada lado está com 49 assentos.

Se conseguir mais um, a Frente Ampla conseguirá preservar a maioria parlamentar conquistada nas eleições de 2004. Já o Senado pode ficar partido em metades iguais.

Embora o partido do governo tenha se consolidado como a principal força política do país, pela primeira vez, desde sua criação, em 1971, a Frente Ampla não só interrompeu seu processo de contínuo crescimento em matéria de número de eleitores, como recuou (no primeiro turno das presidenciais de 2004, o presidente Tabaré Vázquez foi eleito com 50,45%).

— Nas últimas três décadas, a Frente cresceu, em média, um ponto percentual por ano. Nesta eleição, tivemos um claro retrocesso — afirmou Luis Eduardo González, da empresa de consultoria Cifra.

Vázquez mais ativo no segundo turno

Nos próximos 30 dias, Mujica e Lacalle serão protagonistas de uma campanha que deverá centrar-se em suas personalidades, trajetórias e planos de governo. Os partidos não deverão ter tanto peso como os candidatos, explicaram analistas locais. O ex-guerrilheiro tupamaro tentará mostrar-se como a continuidade do governo Vázquez, que tem mais de 60% de apoio popular, e para isso seus assessores defendem a necessidade de dar mais espaço na campanha ao ex-ministro da Economia Danilo Astori, companheiro de chapa de Mujica. De perfil bem mais moderado, Astori foi o candidato de Vázquez na eleição interna do partido, mas acabou derrotado pelo ex-guerrilheiro e, sobretudo, pela força de seu Movimento de Participação Popular (MPP).

Na noite de domingo, o candidato a vice da Frente Ampla admitiu que o segundo turno será um plebiscito entre dois projetos de país.

— A verdade é que não vejo com que comparar este projeto nacional, porque somente a esquerda tem um projeto nacional — alfinetou Astori.

A estratégia do governo também incluirá novos gestos de apoio do presidente a seu candidato, já que na primeira etapa de campanha Mujica e Vázquez estiveram bastante distanciados. O comando de campanha da Frente Ampla cogita, ainda, a possibilidade de antecipar as medidas que seriam adotadas por Mujica em seus primeiros cem dias de governo, além do nome de ministroschave num futuro Gabinete.

— Até agora não sabemos nada sobre suas equipes e medidas de governo — disse a analista Rosário Queirolo.

Lacalle tentará reforçar uma imagem de estadista, homem que transmite confiança à população e, sobretudo, aos empresários, mercados e governos estrangeiros. A insegurança nas ruas é uma das principais preocupações dos uruguaios e o ex-presidente já prometeu um governo “com autoridade para fazer o que deve ser feito”.

“Não vejo com que comparar este projeto nacional, porque somente a esquerda tem um projeto nacional”
(Danilo Astori, candidato a vice de Mujica)

“Somos paz, certeza, segurança e equilíbrio. Uma única bandeira nos identifica, ela nos cobre e nos iguala”
(Luis Alberto Lacalle, candidato do Partido Nacional)

Dois modelos de país

DEU EM O GLOBO

POLÍTICA EXTERNA

MUJICA: O candidato da Frente Ampla defende a permanência do Uruguai no Mercosul e o fortalecimento da relação bilateral com seus principais sócios na região, Brasil e Argentina.

LACALLE: O candidato do Partido Nacional critica duramente o Mercosul, criado durante sua Presidência (1990-1995). Segundo ele, o bloco mudou de rumo e acabou se transformando num péssimo negócio para o Uruguai. Lacalle questiona a dependência de seu país em relação ao Brasil e à Argentina, que, segundo ele, não defendem os interesses de seu país.

DIREITOS HUMANOS

MUJICA: Defendeu a anulação da Lei de Caducidade e considera fundamental continuar avançando nas investigações sobre crimes da ditadura.

LACALLE: O ex-presidente se opôs à anulação da Lei de Caducidade e considera que o Uruguai deve olhar para frente, deixando o passado para trás. Para ele, rever o que aconteceu durante a ditadura não ajuda o país a consolidar seu crescimento.

PAPEL DO ESTADO

MUJICA: Defende um Estado muito presente na economia e nas relações trabalhistas. Mujica defendeu a Lei de Relações Trabalhistas, aprovada durante o atual governo, que estabelece regras de negociações entre trabalhadores e empresários.

LACALLE: Foi contrário à Lei de Relações Trabalhistas, muito questionada pelo setor privado, e acredita que as negociações devem ser entre trabalhadores e empresários, com uma mínima intervenção estatal.

SISTEMA TRIBUTÁRIO

MUJICA: Pretende manter a lei aprovada pelo governo Vázquez que criou o polêmico Imposto à Renda Física (IRPF). Com este novo tributo, o Estado obteve recursos para melhorar suas políticas sociais nas áreas de saúde e educação. O imposto (cuja alíquota depende da renda do cidadão) afetou as classes média e média alta. Médicos e advogados reagiram contra.

LACALLE: O ex-presidente assegurou que, caso conquiste um segundo mandato, desmontará o sistema tributário criado pela Frente Ampla e substituirá o IRPF por outros tributos.

Fabiana Cozza e Banda Mantiqueira | Com Que Roupa?/Noel Rosa

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