- O Globo
Sempre que uma crise política parece
insolúvel no Brasil, surge a proposta de adotar o parlamentarismo e, mais
recentemente, o semipresidencialismo, projetos que retiram do presidente
poderes que seriam compartilhados, em maior ou menor grau, com o Congresso.
Para que João Goulart pudesse assumir a
Presidência da República, seu direito por ter sido eleito vice-presidente na
chapa do renunciante presidente Jânio Quadros, foi preciso criar às pressas um
regime parlamentarista, rejeitado anos depois pelas urnas plebiscitárias, que
majoritariamente aprovaram a volta do presidencialismo.
Com a fraqueza institucional do governo Temer, e, hoje, de Bolsonaro, o
Congresso vem ganhando força numa espécie de “parlamentarismo branco”, que dá
poderes crescentes à Câmara e ao Senado. Michel Temer convivia bem com essa
situação, que conhecia de perto por ter sido presidente da Câmara por duas
vezes.
Bolsonaro entregou-se ao Centrão por absoluta necessidade de sobrevivência
política, mas procura a todo momento reforçar o poder presidencial, que sente
sabotado não apenas pelo Congresso, mas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e
pelos órgãos de fiscalização e controle, que tenta aparelhar com seus adeptos.