domingo, 5 de fevereiro de 2023

Entrevista | Barbara Walter: ‘Os cidadãos não podem ficar à parte e esperar que a democracia sobreviva sozinha’

Referência em estudos de extremismo, Barbara Walter diz que declínio da democracia começou com ascensão das redes sociais e dos algoritmos e que instituições e sociedade civil fortes contêm arroubos autoritários

Por Thayz Guimarães / O Globo

À medida que as democracias recuam e os cidadãos se tornam mais polarizados, as guerras civis se tornarão ainda mais generalizadas e durarão mais do que no passado. Esta é a premissa do novo livro da cientista política Barbara Walter, “Como as guerras civis começam — e como impedi-las” (Zahar), que vem sendo comparado pela crítica ao best-seller “Como as democracias morrem”, de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky.

Em entrevista ao GLOBO, Walter, que é professora de Assuntos Internacionais na Escola de Política e Estratégia Global da Universidade da Califórnia e uma referência internacional nos estudos sobre violência política e terrorismo, falou sobre o declínio das democracias em todo o mundo, mídias sociais, algoritmos, ascenção da extrema direita, Donald TrumpJair Bolsonaro e a cartilha seguida por eles, e também indicou caminhos para as sociedades fugirem das armadilhas antidemocráticas.

Alessandro Janoni* - As diferenças das peças do mosaico no eleitorado

O Globo

É urgente a compreensão dos vetores de composição da opinião pública para diagnóstico dos pontos de ruptura

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, propôs um pacote antigolpismo que vai da criação de guarda nacional no Distrito Federal à aplicação de multas contra redes sociais e a leis mais duras no combate a atos antidemocráticos, como os que ocorreram em Brasília em 8 de janeiro. Vigiar e punir, como ensina o filósofo.

No entanto a principal vacina, o ministro já tinha aplicado nas primeiras declarações depois do episódio. Dino se preocupou em não generalizar o perfil dos envolvidos e deixou claro que se tratava de um grupo minoritário, não representativo de eleitores de Jair Bolsonaro (PL).

A fidelidade ao ex-presidente alcança em média 15% dos brasileiros, segundo escala elaborada pelo Datafolha. É um estrato que adere à maioria das pautas reacionárias ostentadas pelo bolsonarismo radical. Em percentual, parece pouco, mas, projetando sobre o eleitorado, o contingente totaliza cerca de 20 milhões de pessoas.

Luiz Carlos Azedo - Três fatos, o rastro e a motivação dos golpistas

Correio Braziliense

Bolsonaristas exibiram músculos suficientes para abrir uma CPI no Senado sobre os fatos ocorridos em 8 de janeiro, com propósito de intimidar o ministro Alexandre de Moraes

A denúncia do senador Marcos Do Val (Podemos-ES) de que teria se reunido, na Granja do Torto ou no Palácio do Alvorada, com o presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira, que está preso, para tratar de uma operação de inteligência na qual gravaria uma conversa comprometedora com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, a fim de afastá-lo das funções, parece um conto de carochinha, mas não é. Três episódios são objetivos para justificar uma grande investigação: primeiro, a troca de mensagens por celular entre Do Val e Silveira; segundo, o encontro com Bolsonaro e Silveira; terceiro, o relato feito do Do Val ao ministro Moraes, na sede do próprio Supremo.

Dorrit Harazim - Haja paciência!

O Globo

A sanha da extrema direita em brecar o governo Lula 3 já deu sinais suficientes de que rondará Brasília enquanto não for cortada sua raiz

 ‘Nossa época é essencialmente trágica, por isso recusamo-nos a ver nela a tragédia. Mas o cataclismo já aconteceu; estamos entre ruínas, começamos a reconstruir pequenas casas, refazer pequenas esperanças. O trabalho é árduo: o caminho para o futuro não será tranquilo. Apesar de tudo, damos a volta, arrastamo-nos sobre as pedras. Só nos resta viver, não importa quantos céus tenham caído.’ Assim começa o primeiro parágrafo do clássico de D. H. Lawrence “O amante de Lady Chatterley”, lançado em 1928 e proibido até 1960. A obra tratava de sexo e traição de modo explícito demais para a época, mas poderia servir para retratar o estado atual da nação brasileira. São muitos os céus que caíram e não param de cair sobre o país.

Elio Gaspari - A rede Americanas foi depenada

O Globo

Bem remunerados, diretores venderam R$ 244 milhões em ações da empresa no segundo semestre de 2022. A discussão sabia-não-sabia irá para os tribunais, a menos que ocorra uma trégua simulada

Com todo mundo brigando com todo mundo, é possível que a encrenca da rede varejista Americanas caminhe para uma falsa trégua. Seguiria o ensinamento do grande sambista Morengueira em seu “Piston de Gafieira”:

“Quem está fora não entra

Quem está dentro não sai.”

Apareceu um rombo estimado em mais de R$ 40 bilhões e, salvo o executivo Sérgio Rial, que ficou alguns dias à frente da empresa, tocou o alarme e afastou-se do cargo, ninguém sabia de nada.

O trio de grandes acionistas (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles) informaram que “jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia”. A auditora PwC e os bancos que davam crédito à rede nunca tocaram o sino. Os responsáveis diretos pela administração da empresa ao longo dos últimos anos estão calados. Ninguém sabia de nada, mas o espeto vai também para fornecedores de mercadorias.

Eliane Cantanhêde - Não se salvam todos

O Estado de S. Paulo.

Generais antes tão admirados agora correm o risco de virar alvo e sofrer quebra de sigilo

Entre mortos e feridos, não se salvaram todos na investida do ex-presidente Jair Bolsonaro para usurpar a imagem das Forças Armadas, triturar biografias e embolar nomes de militares das mais altas patentes com os de gente da estirpe de um Daniel Silveira e de um Marcos do Val, golpistas de chanchada.

O que faziam no time desses tipos, e de figurinhas religiosas carimbadas, o general Augusto Heleno, o almirante Flávio Rocha e o tenente-coronel Mauro Cid? Alunos “nota 10” nas academias militares, desprezaram o próprio brilho e deslizaram para um pântano perigoso, ao lado dos generais Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Paulo Sérgio Nogueira.

Uns mais, como Heleno e Braga Netto, outro menos, como Ramos e Paulo Sérgio, entram no alvo de investigações e suspeitas sobre conluios nada a ver com o “Deus, Pátria e Família” que atraiu milhões de pessoas, jogou milhares em torno de quartéis e justificou o vandalismo nos três Poderes. Rocha escapa.

Celso Rocha de Barros -Marcos do Val entregou Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Não será difícil perceber que a imagem final do quebra-cabeça será do ex-presidente tentando um golpe

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) entregou à revista Veja conversas com o ex-deputado Daniel Silveira, de dezembro do ano passado. Nas conversas, Silveira lhe propõe participar de um golpe de Estado, coordenado por Jair Bolsonaro (PL) e mais quatro "pessoas muito importantes e relevantes", "cinco estrelas".

A tarefa de Marcos do Val seria tentar gravar uma conversa com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Silveira afirma que "escutas utilizadas pelas operações especiais" e "veículo receptor" já estariam disponíveis para a execução do plano.

Vinicius Torres Freire - O plano Lula para endividados

Folha de S. Paulo

Programa talvez comece em março, mas ainda há dúvidas sobre como vai funcionar

Na semana que vem, Luiz Inácio Lula da Silva deve receber um projeto do Desenrola, o programa que tem como objetivo diminuir o valor de dívidas de pessoas inadimplentes, "negativadas" ou, como se dizia em tempos incorretos, "com o nome sujo na praça".

Como pode funcionar? Falta saber de detalhes práticos, ainda indefinidos ou sobre os quais gente do governo e de bancos não fala.

O programa vai permitir que endividados renegociem seus débitos, por sua conta? Não é bem assim.

Para entender o jeitão da coisa, considere-se a seguinte hipótese genérica. Bancos, varejistas e empresas de água, luz, telefone ou internet, por exemplo, têm dívidas atrasadas a receber de seus clientes (três quartos das dívidas atrasadas estão fora dos bancos, diz o governo).

Muniz Sodré* - O crime pede respeito

Folha de S. Paulo

Invasora detida em Brasília queixou-se: "Estão nos tratando como presos"

São numerosos os dados sobre pessoas com antecedentes criminais nos atos terroristas. Só o acampamento em Brasília registrou 73 delitos (lesões corporais, furtos) em dois meses. Não será por acaso que, em atentados ultradireitistas nos EUA, se registrem indivíduos com gravames penais. Entre trumpistas e seus êmulos brasileiros medeia um oceano de coincidências significativas tecidas pela relação íntima entre política e crime, traço essencial do fascismo.

Bruno Boghossian - O pesadelo do primeiro ano

Folha de S. Paulo

Embate público com o Banco Central é reação política a risco prolongado na economia

Quando ainda estava em campanha, Lula reconhecia que a economia daria trabalho na largada de um novo mandato. As contas do governo teriam que passar por ajustes, os ministros precisariam cavar resultados, e a atividade levaria alguns meses para reagir. Sentado na cadeira, o presidente percebeu que essa janela de tempo pode ser mais longa.

O petista passou a conviver com o pesadelo de atravessar todo o primeiro ano de governo num cenário de baixo crescimento e mercado de trabalho desaquecido. Auxiliares consideram que essa é a maior ameaça à popularidade de um presidente que chegou ao poder com uma promessa de recuperação econômica.

Cristovam Buarque* - O Brasil condenado pelo negacionismo político

Blog do Noblat / Metrópoles

Negar a tragédia social é uma forma de genocídio tão grave quanto ignorar a epidemia

A economia de um país não caminha por muito tempo sobre uma sociedade sem justiça social; tanto quanto a justiça social não caminha sobre economia ineficiente. A negação da necessidade de sociedade justa e a negação da necessidade de economia eficiente são dois negacionismos que condenam o Brasil a surtos de crescimento sem sustentabilidade social, ou surtos de avanços sociais sem sustentabilidade econômica.

A história do último século oscilou entre políticas econômicas sem sensibilidade social e políticas sociais sem conhecimento das regras da economia. Tivemos milagres econômicos que logo esbarraram na desigualdade como a riqueza se distribuía, na falta de educação de base, no transporte público caótico, na sua saúde e moradia precárias. Também tivemos momentos de políticas sociais que esbarram na falta de eficiência econômica levando a inflação, juros altos, endividamento, depredação ecológica.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Carnaval promete ser o melhor dos últimos anos

O Globo

Prefeituras precisam oferecer infraestrutura compatível com a volta dos desfiles e blocos às ruas

Não é difícil imaginar o êxtase que deverá tomar conta das cidades brasileiras nas duas próximas semanas, depois de inéditos dois anos de fantasias guardadas, instrumentos musicais silenciados e euforia represada pela pandemia. Nada mais previsível do que levar ao pé da letra os versos do samba-enredo da União da Ilha: É hoje o dia da alegria / E a tristeza nem pode pensar em chegar.

A história mostra que, no ano seguinte à tragédia da Gripe Espanhola, o país viveu o maior carnaval de todos os tempos. O roteiro que ora se anuncia não parece diferente. Cidades como Rio, Salvador, Recife, Olinda, São Paulo e Belo Horizonte, onde o carnaval de rua é forte, tentam controlar o desfile de blocos. Apesar da contenção, a previsão é de números superlativos. No Rio, a prefeitura autorizou 445 desfiles de 402 blocos no período entre 21 de janeiro e 26 de fevereiro, o domingo seguinte à Quarta-Feira de Cinzas. Entre eles, sete megablocos — como Cordão da Bola Preta, Bloco da Anitta e Monobloco —, maior número já registrado no carnaval de rua do Rio. Os cortejos atraem milhões num único dia.

Poesia | O Cão sem plumas - João Cabral de Melo Neto

 

Música | Alceu Valença - Estação da Luz