A
distensão entre o governo, o Congresso e o STF começou quando Bolsonaro
entendeu os riscos da sua postura anterior
Thiago Bronzatto, Laryssa Borges, Marcela Mattos | Revista Veja
Não
bastasse a crise econômica e sanitária decorrente da pandemia de Covid-19, o
Brasil enfrentou recentemente um sério risco de ruptura institucional.
Contrariado com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que usurpariam
competências do presidente da República e teriam o objetivo de desestabilizar o
seu governo, Jair Bolsonaro radicalizou o discurso, redobrou a aposta no
confronto e — com base numa interpretação capenga da Constituição — cogitou
usar as Forças Armadas para intervir no Poder Judiciário. As ameaças eram
feitas à luz do dia. Em abril, Bolsonaro participou de uma manifestação em
frente ao Quartel-General do Exército que pedia, entre outras coisas, o
fechamento do Supremo e do Congresso. Em maio, o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, general Augusto Heleno, divulgou nota a fim de alertar sobre
“consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” caso a Justiça
determinasse o confisco do celular do presidente, o que não ocorreu. Sob a
alegação de ser vítima de uma conspirata destinada a derrubá-lo do cargo,
Bolsonaro, apoiado pelos ministros militares, revidava com a insinuação de um
golpe.
“Foi
um momento em que estivemos muito perto da ruptura institucional”, admitiu a
VEJA um dos principais auxiliares do presidente. Para sorte do país, o momento,
agora, é outro. Premido pelas circunstâncias, Bolsonaro deixou de lado o
radicalismo e substituiu a estratégia do confronto pela negociação política,
aquela que ele, como candidato, dizia repudiar. O resultado, por enquanto, é
positivo: o cenário de instabilidade de meses atrás deu lugar à retomada do
diálogo entre as autoridades dos três poderes, o que abre espaço para que elas
possam finalmente concentrar energia nas demandas mais urgentes do país, da
recuperação econômica ao combate da desigualdade social, passando pela
modernização do Estado. “Sem a política, não há como fazer nada. Se fica um com
birra para cá e o outro com birra para lá, sem conversar, o Brasil perde
muito”, afirma o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos mais experientes
parlamentares do país, que até ontem se alinhava com a oposição. Desde o início
de seu mandato, Bolsonaro nunca fez tanta política como agora. Nos últimos
dias, ele escolheu um nome para o cargo de ministro do Supremo que agrada tanto
a integrantes da Corte quanto a congressistas, inclusive do PT. Por meio de
aliados, Bolsonaro também reuniu numa mesma mesa o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, que ficaram
praticamente um ano inteiro trocando provocações e impropérios em público.