sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Opinião do dia: ACM Neto

"É preciso manter a consistência. Não dá para alterar a campanha ao sabor das pesquisas".

ACM Neto, prefeito de Salvador, ao lado de Aécio em Itabuna (BA), 18 de setembro de 2014

Costa diz que houve propina na compra de Pasadena

• Dilma afirma que ex-diretor trabalhou no governo FH

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa disse a investigadores da Operação Lava-Jato que houve pagamento de propina na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, pela estatal. A informação foi divulgada ontem pelo "Jornal Nacional", da TV Globo. Segundo a reportagem, Costa teria admitido que ele mesmo recebeu R$ 1,5 milhão de propina pela compra da refinaria. O processo de aquisição da refinaria é investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Ministério Público Federal.

Os interrogatórios de Paulo Roberto Costa começaram em 29 de agosto na Superintendência da Polícia Federal no Paraná. Segundo a reportagem do "Jornal Nacional", as revelações foram feitas a um delegado, a um procurador e a um escrivão. Os depoimentos foram gravados em vídeo, anotados e criptografados para evitar o acesso de pessoas que não participam da investigação.

A compra da refinaria de Pasadena é um dos objetos de investigação das CPIs do Congresso. A presidente da Petrobras, Graça Foster, já declarou que hoje a aquisição pode ser considerada um mau negócio. As declarações de Paulo Roberto divulgadas pelo "JN" teriam ocorrido no processo de delação premiada, comandado pelo MPF.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem sido informado de todo o conteúdo da apuração. Parte do material da delação premiada será repassado ao Supremo Tribunal Federal porque Paulo Roberto Costa denunciou parlamentares. Segundo Costa, um grupo de políticos seria beneficiado pelo esquema de pagamento de propinas a partir de contratos da Petrobras com grandes empreiteiras. Caberá ao ministro Teori Zavascki decidir se será aberta investigação contra os políticos que têm direito a foro no STF.

Dilma tenta dividir desgaste
Candidata à reeleição, a presidente Dilma Roussef tentou, ontem, dividir o desgaste do escândalo de corrupção na Petrobras com a oposição, lembrando que o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa foi diretor da Gaspetro, subsidiária da Petrobras, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

- Você (repórter) está dizendo que ele trabalhou dez anos lá. Ele trabalhou 30 (anos). Antes (de ser diretor de Abastecimento da Petrobras), ele foi diretor da Gaspetro no governo FH, foi diretor da Região Sul de Exploração e Prospecção - afirmou Dilma, em entrevista ao "Jornal da Record".

A Gaspetro é uma subsidiária da Petrobras para exploração do gás natural.

A presidente voltou a defender seu governo afirmando que esse escândalo na Petrobras só foi descoberto por causa de investigação feita pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal. Em delação premiada, Paulo Roberto Costa afirmou que havia um esquema de desvio de dinheiro na empresa com pagamento de propina para integrantes do governo, integrantes da base aliada no Congresso e governadores.

- Achar casos de corrupção não é algo simples, tanto que não houve indícios antes. A Polícia Federal chegou a ele através da investigação dos doleiros - disse a presidente, em referência à Operação Lava-Jato.

Testemunha liga tesoureiro do PT a doleiro

• Advogado diz que Vaccari frequentava empresa usada por doleiro e tratava de fundos de pensão

Jailton de Carvalho – O Globo

CURITIBA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e a contadora Meire Poza não foram os únicos a delatar relações suspeitas de políticos com o doleiro Alberto Youssef e com empreiteiras que têm contratos com a maior estatal brasileira. Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos principais auxiliares de Youssef, afirmou que vários políticos frequentavam a GFD Investimentos, uma das empresas criadas pelo doleiro para movimentar dinheiro supostamente ilegal.

Ele disse também que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, costumava frequentar a CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais. A empresa está em nome de Cláudio Augusto Mente, mas teria sido usada por Youssef para lavar o dinheiro recebido do mensalão do PT pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010.

Segundo a testemunha, Vaccari fazia contatos diretamente com Cláudio Mente, um dos sócios de Janene na CSA Project, e não com Youssef. Seriam encontros para tratar de negócios com fundos de pensão. As reuniões teriam ocorrido entre 2005 e 2006. De acordo com a revista "Veja", Vaccari já tinha sido citado por Paulo Roberto Costa na lista dos que beneficiados por esquema de corrupção na Petrobras.

O testemunho de Carlos Costa é considerado fundamental para desvendar parte das relações de Youssef com políticos e empreiteiras contratadas pela Petrobras. Carlos Costa era administrador da GFD e, nessa condição, acompanhou boa parte da movimentação financeira e dos contatos políticos e empresariais de Youssef.

André Vargas e luiz Argôlo são citados
Entre os políticos, Costa delatou os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SDD-BA). Ele apontou ainda Youssef como sócio de donos da UTC, construtora criada por ex-diretores da OAS, em vários empreendimentos.

Preso em 17 de março, Costa estava detido até a última segunda-feira. Ele só foi solto porque decidiu colaborar com as investigações e delatar para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal como operava parte da máquina usada por Youssef para movimentar dinheiro.

Ao todo, Carlos Costa prestou 10 depoimentos e deve voltar a dar mais explicações aos investigadores. Na terça-feira, depois de deixar a prisão, ele retornou para São Paulo, onde mora. Num dos depoimentos, o ex-administrador disse que a GFD pagou um helicóptero para Argôlo. O deputado já é alvo de uma investigação determinada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Carlos Costa relatou também detalhes da relação de Youssef com algumas empreiteiras que têm contratos com a Petrobras. Num dos interrogatórios, ele disse que Camargo Corrêa, Mendes Júnior, OAS e Sanko Sider fizeram pagamentos diretos à GFD por serviços fictícios de consultoria.

Segundo ele, Youssef dizia que os contratos eram uma forma de dar aparência legal a comissões recebidas da6s empresas. A GFD não teria prestado qualquer serviço às empreiteiras. Desde o início do escândalo, as empresas vêm negando irregularidades em transações com a GFD e a MO, outra empresa usada por Youssef para movimentar parte de dinheiro. A Sanko Sider, que vende tubulações, também contratou os serviços das empresas de fachada do doleiro.

Colaboração pode reduzir um sexto da pena
Procurado pelo GLOBO, o advogado Rodrigo Castor Mattos negou que Carlos Costa tenha feito delação premiada. Segundo ele, o ex-administrador apenas decidiu colaborar. A delação implicaria no ressarcimento a danos causados aos cofres públicos, e o ex-administrador não teria condições de honrar compromissos desta natureza. Com a colaboração, ele pode ter redução de um sexto da pena, caso seja condenado. Se fizesse delação, a punição poderia ser reduzida em dois terços. Mattos disse ainda que Carlos Costa era administrador, mas não partilhava as receitas da GFD com Youssef.

- Desde 2011 e 2012, ele dizia que não concordava com aqueles negócios (supostamente ilegais) e que vinha tentando sair da empresa - afirmou Mattos.

Por intermédio da assessoria de imprensa do PT, Vaccari disse que, de fato, esteve na CSA para conversar com Cláudio Mente. Segundo ele, os dois são amigos. O PT sustenta que Cláudio Mente é consultor financeiro e que, no período em que se davam os encontros, entre 2005 e 2006, Vaccari era sindicalista e não tesoureiro do partido. Vaccari sustenta ainda que nunca fez qualquer negócio com Mente.

Em nota, a assessoria do PT diz que Vaccari "repudia as inverdades que estão sendo veiculadas e que são baseadas apenas no depoimento de um advogado que afirmou que provavelmente ele trataria de questões relacionadas à empresa CSA".

André Vargas e Luiz Argôlo não retornaram as ligações do GLOBO. Hoje, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, deverá interrogar novamente a contadora Meire Poza. Ela deverá depor como testemunha de acusação no processo em que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, é acusado de destruir provas sobre supostas ligações dele com Youssef e a lavagem de dinheiro de empreiteiras e campanhas eleitorais. Meire, que mora em São Paulo, será interrogada por videoconferência.

Ontem, depois de se manter calado na CPMI da Petrobras, Costa foi levado de volta para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele deverá permanecer preso para prestar novos depoimentos e apresentar ou indicar onde as provas das acusações que fez contra políticos podem ser obtidas. Ele já teria citado mais de 25 políticos ligados a desvios na Petrobras.

Paulo Roberto Costa foi indicado para a diretoria da Petrobras pelo PP em 2004 e permaneceu no cargo até 2012. Em 29 de agosto, depois de forte pressão da família, o ex-diretor decidiu fazer um acordo de delação premiada e contar o que sabe sobre supostas fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Antes do primeiro depoimento, ele convidou Youssef, até então seu colega de cela, para também fazer acordo de delação.

Youssef recusou e, desde então, os dois estão em celas separadas. Para o Ministério Público Federal, a delação do doleiro é uma questão de tempo. Ele também está sob pressão da família. Quatro dos cinco advogados que o defendem, já se manifestaram a favor da delação. Semana passada, Antônio Figueiredo Basto, advogado de Youssef, disse, pela primeira vez, que não descartava acordo com o Ministério Público.

Figueiredo é o único dos advogados do doleiro que se opõe à delação. Diz também que Youssef não quer acordo. Mas, ainda assim, se mudar de ideia teria o direito de seguir caminho parecido com o de Paulo Roberto Costa e, com isso, receber eventuais benefícios da Justiça. Na terça-feira, Basto acrescentou outro motivo a favor da delação:

- Ele (Youssef) está cercado de delatores.

Ontem, o juiz Moro decidiu mandar Renê Luiz Pereira, um dos réus da Lava-Jato acusado de tráfico de drogas e lavagem, para o presídio federal de Catanduvas.

Suborno chegava a 3% do lucro das empresas nos negócios com a estatal

• Ganho ia até 20% do valor dos contratos por causa de combinação prévia de preços

- O Globo

CURITIBA - Na série de depoimentos que vem prestando na condição de delator, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fez uma revelação que surpreendeu os investigadores. Segundo eles, Costa disse que a propina paga pela estrutura da corrupção gira em torno de 3% sobre o lucro das empresas e não sobre o valor global dos contratos entre essas empresas e a Petrobras.

Costa disse ainda que o lucro das empresas que executam obras ou prestam serviços para a estatal fica entre 18% e 20% em cada contrato. Nesses valores estariam embutidos os gastos com a propina para políticos e para os intermediários dos contratos entre as empresas e a Petrobras. Para os investigadores do caso, a propina incluída no lucro seria uma espécie de refinamento da corrupção.

As empresas conseguiam pagar a propina e, ao mesmo tempo, obter altos lucros porque, como disse Paulo Roberto Costa, o setor estaria cartelizado. As empresas faziam combinações prévias de preços e, com isso, podiam ampliar as margens de lucros sem sofrer contestações. O superfaturamento, prática comum em casos de corrupção em obras públicas, estaria sendo minimizado porque é mais fácil de ser identificado pelos órgãos de fiscalização.

- O problema não é mais o superfaturamento de tubos e outros equipamentos. Isso teria sido ultrapassado. O problema estaria na combinação de preços - informou um investigador.

Dilma lidera no 1º turno, mas empata com Marina no 2º

• Empate no segundo turno acirra disputa entre a presidente e sua principal rival

• Rejeição a Marina fica maior do que a de tucano após vinte dias seguidos de ataques dos seus adversários

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO: Com o desgaste sofrido por Marina Silva (PSB) --e apesar de um esboço de reação de Aécio Neves (PSDB)--, a presidente Dilma Rousseff (PT) se fortaleceu mais um pouco na corrida eleitoral.

A dianteira de Dilma sobre Marina no primeiro turno agora é nítida, mostra a nova pesquisa Datafolha para presidente. O que até a semana passada ainda era um empate técnico se transformou numa inédita vantagem de sete pontos: 37% a 30%.

No teste de segundo turno, a tendência é parecida. A dianteira de Marina sobre Dilma nunca foi tão baixa: 46% a 44%, um empate técnico. No fim de agosto, a vantagem da candidata do PSB era de dez pontos (50% a 40%).

Nos últimos 20 dias, Marina Silva tem sido alvo de ataques constantes disparados de duas frentes.

Por cima, ela sofre um bombardeio de críticas e acusações promovidas pela propaganda de Dilma. Entre outras coisas, Marina foi comparada com presidentes que não terminaram o mandato, acusada de ser aliada dos banqueiros e de desprezar a camada pré-sal do petróleo.

Líder desde o início da série de pesquisas, Dilma sente-se ameaçada por Marina principalmente na provável disputa de um segundo turno.

Por baixo, a ex-senadora é atingida por torpedos diários lançados por Aécio.

Autor de acusações diretas e indiretas no horário eleitoral e nas entrevistas, o tucano era favorito para disputar um segundo turno com Dilma até o dia em que Eduardo Campos, morto num acidente aéreo, foi substituído por Marina no PSB.

Os ataques simultâneos não provocaram uma queda abrupta da ex-ministra do Meio Ambiente. Mas, conforme o histórico de pesquisas, parecem estar sendo eficientes para minar sua candidatura aos poucos.

As curvas das intenções de voto suscitam duas dúvidas.

Primeira: caso Dilma e Aécio mantenham os ataques, a campanha de Marina continuará se desidratando ou, com o tempo, a eficiência dos disparos tende a diminuir?

Segunda: na hipótese de Marina continuar perdendo força, o ritmo de sua queda será suficiente para uma ultrapassagem de Aécio?

A diferença entre Marina e Aécio chegou a 20 pontos no início de setembro. Hoje, a vantagem ainda pode ser considerara grande, mas é quase metade do que já foi: 13 pontos (30% a 17%).

O dado mais eloquente do enfraquecimento de Marina é o aumento de sua rejeição. Pela primeira vez, a taxa dos que dizem que não votariam nela de jeito nenhum (22%) está acima da de Aécio (21%).

A diferença está dentro da margem de erro, dois pontos para mais ou para menos. Mas é preocupante para a pessebista considerando-se que sua taxa cresce de forma acelerada, enquanto a de Aécio se mantém estável. Há um mês, só 11% rejeitavam Marina.

A pesquisa feita na quarta e nesta quinta (18) com 5.340 entrevistas mostra ainda que Dilma passou liderar nas cinco regiões do país.

No Nordeste, no Norte e no Sul, de forma isolada. No Centro-oeste, a petista está agora numericamente à frente de Marina. No Sudeste, tem menos pontos, mas numa situação de empate técnico.

Marina perdeu votos em diversos segmentos. Ela recuou 4 pontos no Sudeste, 4 entre as mulheres, 4 entre os católicos, 5 junto aos moradores de cidades médias (200 mil a 500 mil habitantes) e 6 entre os eleitores de 25 a 34 anos.

O levantamento do Datafolha foi encomendado pela Folha em parceria com a TV Globo.


Correios entregam panfletos de Dilma em SP sem registro de controle

• Estatal comandada por petistas abre ‘exceção’ e deixa de exigir chancela para auditar quantidade de material distribuído

Andreza Matais e Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo

Os Correios abriram uma exceção para o PT e distribuíram em São Paulo panfletos da presidente Dilma Rousseff sem chancela ou comprovante de que houve postagem oficial. A estampa, prevista em norma da própria estatal, serve para demonstrar que houve pagamento para o envio, de forma regular, da propaganda eleitoral. Sem ela, é difícil atestar que a quantidade de material distribuído corresponde ao que foi contratado pelo partido. O número declarado de panfletos distribuídos sem chancela dos Correios foi de 4,8 milhões.

A exceção para os petistas foi aberta a partir de um comunicado interno dos Correios em São Paulo, no qual a empresa autoriza, em caráter “excepcional”, a postagem dos folders na modalidade de mala postal domiciliária (MPD). A Diretoria Regional Metropolitana, responsável pelo aval, atribui a medida a um problema na impressão dos quase 5 milhões de peças. O órgão é chefiado por Wilson Abadio de Oliveira, afilhado político do vice-presidente da República, o peemedebista Michel Temer.

“Está autorizada, em caráter excepcional, na AGF (agência franqueada) Santa Cruz, a postagem de 4.812.787 folders da candidata às eleições 2014 Dilma Vana Rousseff”, diz o documento “Correios Informa” do dia 3 de setembro. “Devido a erro de produção gráfica, não foi confeccionada a respectiva chancela”, acrescenta o comunicado.

Documento dos próprios Correios determina, como “requisito mínimo”, que cada santinho enviado pela mala direta domiciliária deve ter a chancela, com a descrição do nome e do CNPJ do candidato. Também deve constar o ano das eleições e a origem da postagem, entre outras inscrições.

Os santinhos foram remetidos para a Grande São Paulo e cidades do interior até o dia 12 de setembro, com mensagens regionalizadas. “Ela já faz mais por Campinas”, dizem os folhetos distribuídos na cidade, apresentando uma sorridente Dilma, ao lado de Temer e Lula.

O impresso destaca realizações em programas federais como o Mais Médicos e o Brasil Sorridente. “Mais cuidados, mais investimentos, mais futuro. Campinas pode sempre contar comigo”, diz Dilma na propaganda.
A presidente aparece em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o que levou o PT a determinar um reforço da campanha no Estado.

Justiça Eleitoral. A distribuição dos panfletos regionalizados sem estampa oficial fez parte dos carteiros se rebelar, ameaçando não entregá-los. Além disso, motivou denúncia das entidades que os representam à Justiça Eleitoral, que cobrou explicações à estatal.

Carteiros informaram que, ao questionarem seus chefes sobre os panfletos de Dilma, enviados em caixas aos setores dos Correios, foram orientados pelos gestores dos centros de distribuição a entregá-los como estavam.

O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos (Sintect-ACS) em Campinas enviou carta ao diretor regional dos Correios no interior paulista, Divinomar Oliveira da Silva, filiado ao PT, cobrando esclarecimentos e providências urgentes quanto à distribuição.

“Ao contrário do que acontece com outros candidatos nas campanhas eleitorais, esse material da candidata Dilma está sendo distribuído aos carteiros sem qualquer chancela ou anotação que demonstre o pagamento por sua postagem, levando-nos a crer numa irregularidade eleitoral”, reclamaram os carteiros por escrito, ameaçando enviar representação ao Tribunal Superior Eleitoral.

“No mínimo, é estranho o que ocorreu, por se tratar de uma candidata e do volume de material enviado. Os carteiros estão acostumados a fazer a entrega de material com chancela. Como você vai ter controle de que estão entregando 4 milhões ou dez milhões. É como entregar uma carta sem o selo”, disse o coordenador-geral da entidade, Luís Aparecido de Moraes.

A estatal disse que o pagamento foi à vista, com a emissão de recibos, e que a autorização “excepcional” está prevista em suas normas.

Controle. Os Correios são controlados pelo PT desde dezembro de 2010, com a nomeação por Dilma do sindicalista Wagner Pinheiro para a presidência da empresa. Ex-presidente da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás, Pinheiro é filiado ao PT do Rio De Janeiro. O partido assumiu o controle da empresa após a crise postal daquele ano, tirando a cadeira do PMDB. Com Pinheiro no comando, a empresa virou feudo do PT.

Para evitar crise com PT, Dilma não divulgará programa

• Há divergências com PT sobre temas como economia e leis trabalhistas

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Para evitar crises e cobranças, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, desistiu de divulgar um documento único com suas propostas para um segundo mandato. Pesou na decisão a experiência de sua adversária Marina Silva (PSB), que sofreu desgaste ao ter seu programa de governo dissecado, e também a necessidade de lipoaspirar o trabalho produzido por 29 grupos setoriais, formados por integrantes do PT, do próprio governo e de movimentos sociais.

Tradicionalmente, as teses defendidas pelo PT são mais ousadas e mais à esquerda do que as do governo. São especialmente sensíveis áreas como a política econômica, a pauta LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), a reforma previdenciária e mudanças nas leis trabalhistas.

A direção do PT e a coordenação da campanha negam que tenha havido recuo e afirmam que, desde o início, a intenção era divulgar as propostas aos poucos, na propaganda na televisão, em atos políticos e em entrevistas à imprensa. Essa, no entanto, não era a dinâmica em curso. Ao registrar sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral, Dilma protocolou um documento genérico, que foi aprofundado em reuniões dos grupos setoriais. Esse material estava sendo compilado pela coordenação da campanha e passaria pelo crivo da candidata, antes de ser divulgado.

"Desde o início da campanha, 29 grupos setoriais vêm debatendo um conjunto de propostas - todas elas encaminhadas à coordenação. Constituem um rico repositório de ideias, que não conflitam nem tampouco caracterizam a construção de um novo programa distinto do já apresentado (ao TSE)", afirma nota divulgada pela coordenação da campanha.

Saias-justas pesaram
Um exemplo de saia-justa que pesou para não divulgar um documento detalhado foi a declaração de Dilma, em entrevista, a favor da criminalização da homofobia. A campanha resistia em colocar esse item no papel, para não se indispor com setores de igrejas evangélicas e católica. Mas temia que a ausência da proposta soasse como recuo e gerasse cobranças do movimento LGBT.

Esse tema é especialmente caro porque foi um dos principais pontos de desgaste de Marina. Um dia após a divulgação de seu programa de governo, a candidata do PSB retirou do texto o apoio à aprovação de projetos e emendas constitucionais que garantem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e à articulação, no Congresso, para a votação do projeto que criminaliza a homofobia.

Outra dificuldade é a área econômica. Em momento de baixo crescimento e críticas do empresariado, a avaliação na campanha é que defender no programa a política atual geraria desgaste, por mais que Dilma credite as dificuldades à crise internacional. Por outro lado, propor mudanças seria interpretado como autocrítica.

Quanto ao PT, entre as propostas aprovadas nos grupos setoriais estava a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. O governo é contra, porque acha que isso reduziria a competitividade da indústria nacional no exterior. Também foi sugerido o fim do fator previdenciário, outro item que não passa pelo crivo do Planalto.

No início do ano, o PT divulgou uma proposta de diretrizes de programa de governo que incluía a regulação da mídia, revisão da Lei de Anistia e financiamento público de campanhas eleitorais. Os três temas, polêmicos, ficaram de fora do programa de governo protocolado pela candidata no TSE.

No sul da Bahia, Aécio pede ajuda para 'tirar PT do poder'

• Apoiado pelo candidato a governador Paulo Souto, tucano enfatiza "discurso da virada" e diz que "ninguém ganha eleição de véspera"

Mário Bittencourt – Folha de S. Paulo

ITABUNA (BA) - Ao lado do candidato ao governo da Bahia Paulo Souto (DEM), que lidera as pesquisas de intenção de voto, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) pediu, num comício na quinta-feira (18) em Itabuna, no sul do Estado, ajuda "para tirar o PT do poder no Brasil".

"Você vai ganhar a eleição na Bahia, Paulo, mas me ajude a fazer a obra completa, me ajude a tirar o PT do poder no Brasil", afirmou o tucano --que procurou reforçar o "discurso da virada" em relação ao seu desempenho na corrida eleitoral.

Segundo pesquisa Ibope divulgada nesta semana, Aécio subiu de 15% para 19% nas intenções de voto em relação à semana anterior. A presidente Dilma Rousseff (PT) tem 36%, e Marina Silva (PSB), 30%.

"A minha palavra hoje tem um sentido especial: ninguém ganha eleição de véspera. A eleição se decidirá no dia 5 de outubro, quando todo brasileiro se levantar e se encaminhar para a urna para dizer o que quer para o seu futuro", disse o tucano.

Em entrevista, Aécio citou o programa Nordeste Forte, que apresentou para a região, defendeu investimentos em turismo e disse estar "extremamente otimista" diante das últimas semanas de campanha antes do primeiro turno.
Além de Paulo Souto, o tucano fez campanha no sul da Bahia ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e do candidato ao Senado Geddel Vieira Lima (PMDB).

De acordo com levantamento do Ibope feito de 6 a 9 de setembro, Souto tem 46% das intenções de voto, ante 24% do petista Rui Costa e 6% de Lídice da Mata (PSB).

Quatro pontos no Ibope transformam campanha de Aécio em micareta

• Em ato em Itabuna, militância tucana vira grupo de foliões, com direito a trio elétrico e cerveja

Débora Bergamasco – O Estado de S. Paulo

ITABUNA (BA) - A campanha do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, programou nesta quinta-feira, 18, uma caminhada pela principal avenida de Itabuna, no interior da Bahia. Logo o ato se transformou em carnaval fora de época, com foliões pulando atrás do trio elétrico Pilequinho, dançando e bebendo cerveja. Ao final, a euforia do tucano e de seus aliados deu lugar ao rescaldo de “feridos”.

Depois de três horas de corpo a corpo, dentro da van com ar condicionado em direção a um heliponto, Aécio puxou a contabilização dos “ferimentos”. “Eu levei uns beliscões aqui que meu Deus do céu! Pelo menos isso já não me dá mais problemas em casa”, brincou. “No começo da campanha, se eu chegasse em casa com um arranhãozinho que fosse, eu tinha que ficar me explicando. Hoje, chego todo arranhando e ela (a mulher, Letícia) fica é com dó de mim. Ela diz: ‘Nossa, hoje foi puxado, né?’”

O bom humor se explicava em parte pela alta de quatro pontos na mais recente pesquisa Ibope, motivo de celebração na propaganda eleitoral. O resultado, no entanto, mantém Aécio em terceiro lugar, distante das adversárias Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), hoje favoritas ao segundo turno.

O ato de campanha foi realizado em parceria com o candidato ao Executivo baiano apoiado pelo PSDB, o ex-governador Paulo Souto (DEM), líder na disputa. Ele também foi um dos “feridos” na “folia de campanha”. “Quando fui entrar no trio, não vi e bati a cabeça”, afirmou, enquanto alisava a careca. O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), que disputa o Senado pela mesma chapa, queixou-se da mesma trapalhada. “Eu também bati minha cabeça e está doendo.”

Aécio provocou o aliado: “É foda ser muito alto, né, Geddel?” O peemedebista respondeu a troça: “É. É foda, sim, você não imagina o quanto é difícil ser grande”, riu, dando soquinhos no tucano.

Na última poltrona da van, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), não achava graça. Ao contrário, estava encolhido e lamentando. “Eu não estou aguentando de tanta dor no meu ombro. Eu estava com uma tipoia até hoje (quinta-feira) cedo e resolvi tirar para participar desse ato, mas não tô suportando, já fiz duas infiltrações”, desabafou. Aécio não aliviou para o aliado: “Ô, meu amigo, você só vai poder sentir dor agora depois de outubro. Até lá, sinto muito, mas preciso de você”.

Sem aula. Mais cedo, por volta das 10h, antes da chegada de Aécio, a militância, os carros de som e o potente trio elétrico Pilequinho se concentraram no início da principal avenida da cidade, em frente ao colégio Divina Providência, onde estudam alunos do ensino fundamental, médio e cursinho pré-vestibular. Os professores não conseguiram competir com o barulho de jingles e fogos de artifício.

Alunos se amontoavam na janela para espiar a multidão que ficou aglomerada por horas na porta da escola. A diretora pedagógica, Silvana Sellmann Moreira, desabafou: “Eu não vou negar. Está atrapalhando e não é só hoje, tem sido sempre assim. É impossível dar aula desse jeito”. Se não é possível superar essa situação, a orientação da diretora é transformá-la em tema de aula. “Tento pedir para os professores deixarem os alunos darem uma olhada e aí, outro dia, tentar incorporar esse momento em alguma aula, falar sobre eleições.”

Quando Aécio chegou, o plano era dar uma entrevista e caminhar entre os populares. Com o tumulto, a ideia foi abortada e o candidato embarcou à bordo do trio elétrico, acompanhado da comitiva política. Como no carnaval, ambulantes vendiam cerveja a quem seguia o Pilequinho. No fim, militantes seguravam uma bandeira em uma mão, e uma cerveja na outra.

Marqueteiro de Aécio diz que críticas ficarão concentradas em Dilma

Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

BELO HORIZONTE - O publicitário da campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, Paulo Vasconcelos, disse ontem que as críticas até as eleições vão se concentrar na presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT). Ele afirmou ainda os ataques petistas a Marina Silva (PSB) estão beneficiando Aécio por tirá-lo da linha de fogo da campanha de Dilma.

"O DNA da candidatura do PSDB é de oposição ao governo que está aí. O Aécio cresceu nas pesquisas, se posicionou diante dos eleitores e os tucanos historicamente são oposição ao PT. Além disso, trata-se de um governo que tem sido rejeitado por 60%, 70% do eleitorado dependendo do momento. Esse é o mercado de votos a ser trabalhado, o do eleitor que rejeita o governo", disse Vasconcelos ontem ao Valor.

O plano é, segundo ele, seguir a linha de apresentar propostas, fazer críticas ao governo e apresentar Aécio como alternativa mais segura ao PT do que Marina.

A candidata do PSB roubou o segundo lugar de Aécio nas pesquisas pouco depois que assumiu o posto de Eduardo Campos, então candidato no partido e que morreu em agosto.

"Essa linha nos trouxe até aqui e se nos trouxe até aqui é muito pouco diferente a linha que poderá nos levar um pouco mais à frente. Não haverá grandes mudanças, podem ser sutis."

As críticas a Marina que começaram ir ao ar na propaganda tucana no início do mês - que a apontavam como inexperiente e da "turma" do PT - suscitaram discussões no PSDB. A pergunta era se valia a pena atacar mais Marina ou mais Dilma.

Aécio insistiu na mensagem que Marina não tem experiência em cargos executivos e que ela militou durante mais de 20 anos no PT - numa tentativa dos tucanos de minar a simpatia que eleitores anti-PT vinham devotando a ela.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu que o alvo deve ser mesmo a presidente.

Vasconcelos vê que Aécio pode se beneficiar de um efeito colateral dos ataques - bem mais contundentes - que a campanha de Dilma faz a Marina.

"Na pré-campanha, Aécio era combatido de forma virulenta, o que começou com o aeroporto. Isso tudo saiu do radar do PT. O PT direcionou o radar para Marina."

Outro efeito que pode favorecer o tucano, na avaliação do publicitário, é Marina "deixou de ser um mito, a pessoa traumatizada pela morte de Eduardo Campos". E, como candidata, continua ele, passou a expor suas "fragilidades".

Pesquisa Ibope divulgada na terça-feira, mostrou Dilma com 36% das intenções de voto (39% na sondagem anterior), Marina repetiu os 31% e Aécio subiu de 15% para 19%.

"A diferença ainda é grande, mas está na cara que o eleitor está mexido. Marina perdeu 16 pontos percentuais no Paraná, por exemplo, nos últimos dez dias", disse. "Acho que agora o eleitor começa a prestar atenção, raciocinar e Aécio tem vantagem por ter mais tempo de TV, uma campanha mais estruturada e mais propostas", defende ele.

Mas Aécio ainda tem como adversário o fato de ser menos conhecido no país do que Dilma e Marina, diz Vasconcelos. "Aécio entrou na campanha com um índice de desconhecimento beirando os 80%. Isso vem caindo, mas ainda é 50%."

Marina rebate ataques de Dilma

Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

A candidata do PSB à presidência da República, Marina Silva, rebateu nesta noite as declarações de sua adversária do PT, Dilma Rousseff, e disse que também não sabe o que a petista pensa. Mais cedo, a presidente disse que a candidata "muda de opinião com muita facilidade".

Ao chegar a um comício, em uma faculdade de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana de Goiânia, Marina criticou a adversária e lembrou que a candidata ganhou as eleições em 2010 com o compromisso de conter os juros, a inflação e fazer o País crescer. A ex-senadora também ressaltou que, das seis mil creches prometidas por Dilma em 2010, apenas quatrocentas foram construídas em 4 anos. De acordo com ela, é preciso um governo que se esforce para servir a população.

Marina voltou a reclamar dos ataques que vem sofrendo dos adversários e das "mentiras" que vem sendo divulgadas contra ela. "Gostaria que ela apresentasse o seu programa e não se escondesse atrás de fofocas", disse a candidata. Ela chamou de "mensanetes" os adversários que a atacam nas redes sociais.

Marina acusou PT e PSDB de estarem "juntos na mesma artilharia" contra ela. Para a ex-senadora, os seus adversários estão desesperados porque se deram conta de que nesta eleição não haverá mais o "plebiscito" entre os partidos.

Marina condenou a divulgação de que ela, se eleita, promoveria mudanças na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). "Isso não é verdade. É mais uma dessas calúnias que estão sendo feitas", afirmou. Em sua avaliação, existe "um marketing selvagem", mas que seus vocalizadores ainda não se deram conta de que "estão subestimando o discernimento da sociedade brasileira".

''Marimar''
A candidata também condenou o movimento em Goiás que prega o voto no PSB para a presidência e no governador Marconi Perillo, candidato à reeleição pelo PSDB. Ela ressaltou que ninguém esta autorizado a usar seu nome para fazer a articulação política deste gênero e que seu candidato no Estado é Vanderlan Cardoso (PSB).

Em Goiás, Marina lidera as pesquisas de intenção de voto, assim como Perillo. O movimento ''Marimar'' nasceu de uma iniciativa de partidos que apoiam a ex-senadora na esfera nacional e o tucano na esfera estadual.

Aos jornalistas, Marina falou sobre os problemas de segurança que Goiás vem enfrentando e disse que é importante nacionalizar o debate ao invés de deixar o problema para os governadores.

Jose Roberto de Toledo: Marina tem leve favoritismo mas perde o embalo

- O Estado de S. Paulo

Na média Estadão Dados das pesquisas, Dilma Rousseff (PT) mantém-se estável com 36%, Marina Silva (PSB) tem 30%, e Aécio Neves (PSDB) tem 17%. Esses valores já incluem a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (37%, 30%, 17%).

Embora haja trocas de eleitores entre Dilma e Marina, e entre Marina e Aécio, os movimentos não têm sido fortes o suficiente para alterar a projeção de segundo turno. O mais provável é a disputa entre as candidatas do PT e PSB. Pelo menos até agora, a recuperação do tucano limita-se a eleitores que haviam ensaiado voto útil em Marina na esperança de derrotar Dilma logo no primeiro turno e estão voltando para seu candidato preferencial.

Mais do que sinalizar uma virada, essa migração de retorno do eleitor antipetista para o ninho tucano esvazia o momentum da candidatura de Marina. Perder o embalo às vésperas da reta final da campanha nunca é bom. Tem custos psicológicos e financeiros.

Dilma segue com um piso mais alto (36% a 30%), mas um teto mais baixo do que Marina (54% a 65%). Esse limite superior é estimado com base no potencial de voto registrado na pesquisa Ibope desta semana. Ele é a soma dos eleitores que dizem que votariam com certeza com os que poderiam votar em cada uma das candidatas.

O voto em Dilma é mais consolidado: 33% “votariam com certeza” na petista, contra 25% de Marina. Mas o potencial de crescimento da candidata do PSB – a turma do “poderia votar” – é quase o dobro da rival: 40% a 21%. Talvez por isso, Marina aparece numericamente na frente de Dilma nas simulações de segundo turno, mesmo que, tecnicamente, as duas estejam empatadas.

Dilma está convertendo 38% do contingente de eleitores que diz que “poderia votar” nela em intenções de voto no segundo turno contra Marina. A taxa de conversão dos eleitores que dizem que poderiam votar em Marina não é muito maior: 42%. Mas como há mais eleitores que admitem a possibilidade de sufragar a candidata do PSB do que a do PT, Marina acaba convertendo mais eleitores potenciais em votos na simulação de segundo turno.

Mesmo assim, a diferença é pequena e pode mudar rapidamente. Há uma enorme interseção entre o eleitorado potencial de Dilma e o de Marina. Nada menos do que 47% dos eleitores que declaram voto em Dilma no segundo turno admitem que poderiam votar em Marina também. E 24% dos que falam que votarão em Marina no segundo turno admitem que poderiam votar também na petista.

Essa diferença nas proporções é que confere um ligeiro favoritismo à candidata do PSB num eventual segundo turno entre elas. Mas é uma vantagem virtual, que pode desaparecer caso as contradições e fragilidades da candidatura de Marina continuem a ser exploradas pelos adversários. Não seria bom para a candidata do PSB se ela terminasse o segundo turno na descendente e com a rival acelerando. A inércia também existe na opinião pública.

Merval Pereira: A vaca e o brejo

- O Globo

Como não existe almoço de graça, a conta começou a chegar. O resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2013 mostra aumento da desigualdade de renda do trabalho , que estava estagnada em 2011 e 2012, e crescimento do desemprego no país , o que não acontecia desde 2009.

Os críticos da atual política econômica se utilizam de uma definição sarcástica, em linguagem vulgar, para relacionar a crise que vivemos com a sucessão presidencial. Se referindo ao governo Dilma, dizem que "não há dúvida de que a vaca está indo para o brejo. A questão é saber a distância do brejo e a velocidade da vaca ". Isto é, os resultados negativos desses quatro anos de desaceleração econômica são inevitáveis. O que não se sabe é se sua concretização no dia a dia do eleitor se dará a tempo de afetar a possibilidade de reeleição da presidente ou se os efeitos perversos do baixo crescimento dos últimos anos , com inflação em alta, só se farão sentir num próximo governo, talvez com Dilma à frente .

Para o economista Reinaldo Gonçalves , professor da UFRJ, a trajetória de distribuição foi influenciada pela conjuntura internacional favorável entre 2003 e 2008 e, a partir da crise internacional, desacelerou no Peru, interrompeu no Brasil ou re verteu, no Paraguai, a tendência de redução da desigualdade na América Latina, fenômeno praticamente generalizado na região nesse período. O Brasil experimentou melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, já que saiu da 4ª posição no ranking mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.

No conjunto dos países que mostram melhores resultados quanto à redução da desigualdade, o Brasil ocupou, enquanto esse processo esteve em curso, a 3ª posição, atrás da Venezuela (projeto de orientação socialista) e do Peru (projeto liberal), o que, para Gonçalves, demonstra que os programas sociais não encontraram barre ir as ideológicas à sua execução. Na redução da desigualdade de renda brasileira de 2001 a 2009, o fator fundamental foi que a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou apenas 1,5% ao ano, e a dos 10% mais pobres , 6,8% por ano , o que era motivo de orgulho para os técnicos do governo .

A pior a em 2013 se deveu ao fato de que o aumento na renda dos 10% mais ricos ocorreu com mais velocidade do que entre os 10% mais pobres. Os rendimentos dos que ganham em média R$ 11.758 cresceram 6,3%, enquanto os com renda inferior a um salário mínimo avançaram 3,5%. A Pnad mostra que o índice de Gini — indicador usado pela ONU para medir a desigualdade de renda nos países, e que quanto mais próximo de 0 indica melhor distribuição de renda — se mantinha estagnado desde 2011, tendo subido ligeiramente em 2013, após avanços continuados nos anos anteriores .

Para Gonçalves , não ser á surpresa se , no futuro próximo, ocorrer o aumento dos índices de desigualdade da renda no Brasil. Ele elenca uma série de razões para isso acontecer: a distribuição da renda foi incipiente no século XXI na América Latina; a redução da desigualdade se refere, em grande medida, aos rendimentos recebidos pela classe trabalhadora e não ao capital; não há registro de mudanças , nem mesmo incipientes , na distribuição funcional da renda (salários , lucros , juro s e aluguéis); na ausência de mudanças na distribuição da riqueza e da renda (distribuição funcional), o poder econômico e o poder político continuam extraordinariamente concentrados e, de modo geral, alimentam sistemas políticos patrimonialistas, nepotistas e corruptos e geram subdesenvolvimento social e institucional em muitos países.

Gonçalves analisa as trajetórias de redução da desigualdade da renda na América Latina e constata que seguiram a "linha de menor resistência ". Segundo ele, a queda vinha sendo determinada, em grande medida, pela in ter ação dos seguintes fatores: transferências públicas de assistência social; política de salário mínimo; crescimento econômico; expansão do mercado de trabalho, num contexto internacional favorável até 2008. Na fase descendente da economia mundial pós-2008, o Brasil se tornou vulnerável aos efeitos da situação econômica externa, que um dia o ex-presidente Lula classificou de "m ar olinha", por uma razão, segundo Gonçalves: "Não há registro, pelo menos no Brasil, de mudanças estruturais ".

Dora Kramer: Gato por lebre

- O Estado de S. Paulo

A eleição presidencial ainda está para entrar na fase da reta quase final para o primeiro turno de votação e o PMDB já ocupa espaço no noticiário com pose de fiador da estabilidade política, garantidor da boa governança.

"Sem o PMDB não se governa", disseram nesta semana em entrevistas distintas o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, e o candidato a vice na chapa do PSB, Beto Albuquerque. Tangenciaram a realidade e afirmaram ambos uma meia-verdade.

Caso seja sobre apoio institucional que falaram, Itamar Franco não o teve e governou. Fernando Henrique Cardoso, tampouco. Contou com uma ala do partido, mas teve oposição ferrenha de outra.

Mas, também podemos examinar a questão pelo aspecto do peso do partido nas decisões de governo. Quando aderiu ao PT de corpo e alma, na reeleição de Luiz Inácio da Silva, em 2006, recebeu do então presidente tratamento social e político de luxo, mas jamais dividiu verdadeiramente o poder com o PT.

No ato de adesão, apresentou uma carta-compromisso com sete pontos "exigidos" pelo partido, entre os quais crescimento do PIB acima de 5%, reformas política e tributária e redução dos gastos públicos.

Ninguém se emocionou com as exigências nem as comprou pelo valor de face. O PMDB continuou onde estava sem dar um pio a despeito de contrariado sobre os itens que considerava indispensáveis à boa governança.

Veio o governo Dilma Rousseff e com ele a explicitação do racha do partido em função da contrariedade extrema com o Palácio do Planalto. Motivo: o PMDB conquistou a vice-Presidência, cinco ministérios e logo percebeu que, de concreto, havia recebido uma casa de reuniões com vista para o lago Paranoá (o Palácio do Jaburu, residência do vice) e nada mais.

Segundo relatos dos peemedebistas, eles nunca tiveram poder real nos ministérios nem influência de fato.

Situação corroborada por Michel Temer em recente entrevista, ao falar sobre o papel do ministro Edison Lobão no Ministério de Minas e Energia: "Formalmente ele é o responsável pelo setor, mas na realidade não tem o controle geral".

Ora, se é assim, de onde vem a ideia de que "não se governa sem o PMDB?" Governa-se. Tanto se governa mal quanto se governa bem.

A questão é outra e não diz respeito à qualidade de administração das políticas públicas no Poder Executivo. Tem a ver, isto sim, com o menor ou maior grau de resguardo que o partido é capaz de dar ao Palácio do Planalto no Legislativo e, a depender da extensão e da longevidade das ligações de integrantes da cúpula, até no Poder Judiciário.

O PMDB é importante porque tem poder local. Prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores, bancadas amplas que lhe garantem o comando do Legislativo, tempo de televisão em períodos eleitorais e disposição de negociar (ou não) esses ativos. Oferece proteção em troca da renovação dos instrumentos desse tipo de sobrevivência.

A isso dá o nome de governabilidade. Mas quem não nasceu ontem não é obrigado a acreditar.

Tempo do onça. Numa curiosa sequência, Luiz Inácio da Silva, José Sarney e João Pedro Stedile trataram Marina como "dona" naquele sentido pejorativo que certos homens de antigamente chamavam de "dona Maria" qualquer mulher ao volante.

No sábado passado, Lula disse que nunca falou mal de "dona Marina" e acrescentou: "Dona Marina não precisa contar inverdades a meu respeito para chorar". Na segunda-feira, Stédile ameaçou: "A dona Marina que não invente de botar as mãos na Petrobrás que estaremos aqui todos os dias (em protesto na sede da empresa)". Na quarta, Sarney, por sua vez, afirmou: "Com essa cara de santinha, ninguém é mais radical e raivosa que dona Marina".

Um jeito rudimentar, antiquado e mal-educado de demonstrar menosprezo.

Eliane Cantanhêde: É bom, mas é ruim

- Folha de S. Paulo

Na contramão das estatais e dos órgãos de governo, o IBGE resistiu ao aparelhamento e às ingerências indevidas e continua dando valiosas contribuições para a compreensão do país e para detectar o ritmo dos avanços nas mais diferentes áreas. Doa a quem doer.

Em plena campanha eleitoral, ao largo de palanques partidários e troca de ataques, o IBGE deu duas das piores notícias não só para a presidente Dilma, mas principalmente para a candidata Dilma. O Brasil entrou em recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. E, depois de anos de queda, a Pnad de 2013 mostra que a desigualdade social parou de cair.

São dois golpes para Dilma. Um, o pibinho devagar quase parando, ratifica a crítica generalizada de que a política econômica dos últimos quatro anos deu errado. Outro, a desigualdade estacionada, enfraquece muito o discurso petista. Lula deve estar arrancando os cabelos.

O IBGE, porém, é um copo meio cheio, meio vazio. Se contém motivos de ataque contra Dilma, inclui também argumentos de defesa.

Exemplos. A oposição pode dizer que o desemprego subiu (e deve subir mais em 2014). Mas Dilma pode alegar que, apesar disso, a renda aumentou. A oposição pode dizer que há 13 milhões de analfabetos no país. Mas Dilma pode rebater dizendo que, apesar disso, eles continuam diminuindo. A oposição pode dizer que 43% das residências até hoje não têm esgoto, outra grande tragédia. Mas Dilma pode alegar que, apesar disso, houve uma redução acentuada no total. Ou, ao contrário: Dilma se elogiar, a oposição retrucar.

Ou seja, a Pnad contém dados para todos os gostos e ângulos. O que importa é que o IBGE resistiu à pressão do Planalto, via senadores amigões, e continua cumprindo seu papel de pesquisar, divulgar, analisar e, assim, contribuir para o entendimento e o planejamento do país, seja quem for o (a) presidente. O IBGE é nosso! Como a Petrobras um dia foi.

Maria Cristina Fernandes: As encrencas do condomínio

• Desejar mudança não é suficiente para renovar a política

- Valor Econômico

"Não é uma questão constitucional, é sanitária".

"Trabalhei a vida inteira para comprar um apartamento. Ele que trabalhe para comprar o seu".

"Quem paga o condomínio sou eu. Ele vai descontar do salário dele para pagar?"

Essas mensagens foram enviadas para Marcio Rachkorsky que, há um mês, comentou, em sua coluna na 'Folha de S.Paulo' e na rádio CBN, sobre o uso, por zeladores e empregados domésticos das áreas comuns dos condomínios.

Advogado de condomínios há 20 anos, Rachkorsky conhece as convenções que restringem o uso de áreas comuns aos moradores. E argumentava que zeladores, seus familiares e empregados domésticos, quando moradores, poderiam usufruir dos mesmos direitos. As normas internas dos condomínios, cansou de explicar, têm valor desde que não confrontem a Constituição.

Visitantes não se encaixam nas convenções de condomínios mas não se veem crianças com a Constituição debaixo do braço para fazer valer o direito de levar primos e amigos à piscina.

Metade dos missivistas era de furiosos. A ira era pródiga de argumentos. O que aconteceria com a piscina e a academia de ginástica se todos os empregados moradores resolvessem usá-los? Não se levantavam dúvidas sobre o tempo de espera da bicicleta ergométrica, frequentemente jogada às traças, se todos os condôminos resolvessem usá-la ao mesmo tempo.

Os condôminos incomodam os zeladores de madrugada com mais frequência do que estes requisitam o salão de festas para o aniversário de seu filho. E não há sinais de que esta equação vá mudar.

A gente diferenciada deve continuar longe dos salões dos condomínios da mesma maneira que os empregados continuam a evitar os elevadores sociais a despeito da plaquinha com a lei federal que, há quase 20 anos, lembra seus usuários de que seu uso é sujeito à multa por discriminação de raça, cor, origem, condição social, idade, deficiência ou doença não contagiosa.

Rachorsky frequenta centenas de condomínios e sente-se confortável para dizer que elevadores destinados a prestadores de serviço, como pintores ou encanadores, que portam equipamentos, continuam a ser usados preferencialmente pelas empregadas.

Nem a PEC das domésticas, que lhes estendeu, com um atraso secular, direitos dos demais trabalhadores, quebrou a barreira do elevador. Babás intimidam-se menos que cozinheiras, provavelmente porque se fazem acompanhar dos herdeiros.

Nos condomínios que frequenta, Rachorsky não vê diferenças de comportamento por faixa etária dos moradores. Casais mais jovens não são, necessariamente, mais tolerantes. A chamada nova classe média também não. Não se diferenciam comportamentos entre aqueles que pagam condomínio de R$ 1,5 mil ou R$ 200.

Na pesquisa qualitativa do advogado também não se diferenciam regiões do país. Além de São Paulo, onde está concentrada sua atuação, dá consultorias a condomínios de Belo Horizonte e Salvador. Reprisa-se de norte a sul, a legendária reunião de condomínio do filme "Som ao Redor", de Kléber Mendonça. Na cena, a sorte do porteiro, flagrado em cochilo pelo celular do filho adolescente de um condômino, é agravada pelo depoimento de moradora que recebe sua 'Veja' fora do plástico.

As brigas de condomínio estão cada vez mais judicializadas. Correspondem a um quinto das ações que tramitam no tribunal de pequenas causas de São Paulo. No Rio, a frequência de reuniões de condomínio não ultrapassa 15% de moradores, quórum que triplica se o tema em questão for, por exemplo, o sorteio de vagas de garagem.

Ninguém é obrigado a frequentar reuniões nem tampouco a votar suas deliberações, ao contrário do que acontece com as eleições. Mas reuniões de condomínio com quórum baixo e inflação de ações judiciais entre vizinhos não são um problema paroquial. São sintomas desta assembleia ampliada que se reúne no dia 5 de outubro em todo o país.

É grande a responsabilidade dos eleitos num país em que 70% dos votantes querem mudança. Ainda mais porque uma parcela ainda maior se recusa a participar das assembleias que mais diretamente afetam o cotidiano de sua vizinhança. Não há nada de novo nessa política.

O missivista que contesta Rachkorsky dizendo que o filho do zelador, para usar uma piscina, tem que esperar o pai comprar um apartamento provavelmente se encaixa naquela categoria de entrevistados nos quais o Datafolha se baseou para dizer que, de 2010 para 2014, cresceu o eleitorado de direita no país.

O pêndulo moveu-se do equilíbrio de quatro anos atrás. A afirmação "boa parte da pobreza está ligada à preguiça de pessoas que não querem trabalhar" alcançou a concordância de 37% dos brasileiros, cinco pontos percentuais a mais que em 2010.

Já a assertiva "boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida", que arrebanhava 65% quatro anos atrás, hoje tem a concordância de 58% dos brasileiros.

O Datafolha detectou neste segmento de eleitores que relacionam pobreza com oportunidade e a desvinculam da preguiça, Dilma Rousseff com 41% dos votos, Marina Silva, com 33%, e Aécio Neves, com 8%.

Marina diz que a 'nova política' será feita pelos bons, estejam estes nos partidos nas universidades ou nas empresas. Sugere que o caráter e a boa vontade dos mediadores sobrepujam em importância os interesses.

Como ex-empregada doméstica de uma família que virou cabo eleitoral de sua candidatura em Rio Branco, não parece haver dúvidas de que Marina, como candidata a síndica, simpatiza com os interesses do zelador. Que uma parte expressiva dos condôminos perfilados a seu lado não compartilhe dos mesmos valores e, principalmente, dos mesmos interesses, é apenas uma parte das encrencas da candidata que se encaminha como finalista das assembleias de outubro.

Nelson Motta: O terceiro turno

• ‘No dia seguinte à posse de Marina ou Aécio, começariam as greves, as badernas, as avenidas das grandes cidades bloqueadas diariamente por manifestações de sindicatos’

- O Globo

Apesar de detestar Lula e o PT e considerar desastroso o governo Dilma, meu tio Paulão, de 90 anos, que votou em todas as eleições desde 1942 e se diz um velho cínico e pragmático, embora pela idade esteja dispensado, está na firme disposição de votar em Dilma:

— No dia seguinte à posse da Marina ou do Aécio, começariam as greves, as badernas, as avenidas das grandes cidades bloqueadas diariamente por manifestações de sindicatos, o Stédile já disse que vai botar o MST na rua todo dia, a CUT já está preparando os ônibus e os lanches, o Gilberto Carvalho agora vai ter todo o seu tempo para cobrar dos “movimentos sociais” por todas as ajudas que lhes deu para infernizar a vida e inviabilizar o governo dos “usurpadores da causa popular e lacaios do capital internacional”.

— Menos, tio, menos, nem a Luciana Genro fala assim, há o Congresso, o Judiciário, a mídia, uma nova correlação de forças…

— Como você pode ser tão ingênuo com quase 70 anos? Você ainda duvida que eles são capazes de tudo pelo poder? Eles chamam esse vale-tudo de “luta politica” e vale até votar contra o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Constituição de 88. Se fizeram essa escrotice pelo partido, imagine o que não farão para não perder as suas boquinhas e bocadas? Só em cargos de confiança serão 25 mil na rua da amargura e você acha que esse pessoal vai chorar em casa e procurar trabalho?

— Calma, tio, você está meio paranoico, parece o Mário Amato dizendo que 800 mil empresários iam fugir do Brasil se o Lula fosse eleito em 1989, o Collor dizendo que o Lula ia sequestrar as poupanças, o Lula dizendo que o Alckmin ia privatizar a Petrobras…

— Se, em vez de tentar desconstruir a Marina, ou culpar o Aécio por tudo de ruim da era FH, o João Santana fizesse um filme de terror mostrando o inferno que será a vida dos brasileiros com o PT na oposição, como uma fera ferida, movido a ódio e rancor, sabotando todas as iniciativas do governo no Congresso, paralisando a administração, denunciando tudo e todos, parando o país …

Soltou uma gargalhada sinistra:

— Ia ser Dilma no primeiro turno!

Luiz Carlos Mendonça de Barros: O que nos dizem as pesquisas


  • "Nova classe média" encontra-se hoje em uma encruzilhada entre o lado emocional e o bolso

- Folha de S. Paulo

Os mercados financeiros no Brasil refletem hoje, de forma quase neurótica, as expectativas eleitorais de investidores e especuladores. Como esta questão não faz parte da agenda em que a maioria dos analistas ganhou seus diplomas, o resultado é um vaivém desordenado de lucros e prejuízos. A figura do cientista político passou a ser endeusada, embora recentemente tenha perdido um pouco de seu brilho, dada a dificuldade de entender o eleitor brasileiro neste final de corrida eleitoral.

Não sou especialista em eleições, mas na missão de acompanhar a economia do Brasil tenho seguido a evolução de uma parte importante da sociedade, chamada de forma simplista pela mídia de a "nova classe média", e que pode definir o resultado da eleição presidencial.

Esse grupo, que ao longo dos anos Lula passou a viver na economia formal, representa no universo confuso de eleitores de hoje uma parcela importante. Segundo meus cálculos, esses novos consumidores devem representar cerca de 20% da população e cerca de 12% do universo de pessoas que deverão votar em outubro e novembro.

Esse pessoal encontra-se hoje em uma encruzilhada entre o seu lado emocional e o seu bolso. De um lado tem consciência de que foi nos anos Lula que sua vida mudou de forma radical. Basta analisar os gráficos de dados de consumo naquele período de ouro para entender esse sentimento. De outro sente que, nos últimos quatro anos, sua ascensão social perdeu fôlego e problemas que não existiam antes em suas vidas apareceram no dia a dia da família. A inflação e o sufoco de fechar as contas no fim do mês são dois exemplos simbólicos dessa agenda negativa.

De certa forma é o futuro que os preocupa, e não as lembranças sobre o passado tão exitoso que vivenciaram. Em linguagem de economista, eles não questionam o estoque de bem-estar de hoje --embora reconheçam que ele existe--, mas as dúvidas sobre a continuidade dessa melhoria em suas vidas.

Este é um ponto fundamental --se verdadeiro como penso ser-- e que tem criado problemas para as campanhas eleitorais dos principais candidatos. No grupo que critica a situação econômica atual, falta a visão de que, até agora, esses eleitores não estão sofrendo de forma direta o impacto da desaceleração econômica. O melhor exemplo disto é a situação do mercado de trabalho. O pleno emprego ainda existe, apesar de problemas pontuais, como é o caso do setor automobilístico principalmente.

Mesmo no quadro medíocre de hoje da economia, ainda estamos vivendo a criação de cerca de 500 mil empregos formais neste ano.

Mais uma vez a questão do estoque e do fluxo deve ser levada em consideração. A criação de vagas é menor do que a necessária para acomodar todos os jovens novos entrantes no mercado de trabalho, mas o número de pessoas sem colocação é ainda muito pequeno quando comparado com o estoque de empregados.

Não encontramos nos discursos dos três principais candidatos a presidente um tratamento correto dessa situação. A presidente Dilma, de certa forma, chove no molhado ao apresentar o passado de obras e sua continuidade no futuro. Não responde assim às angústias do eleitor assustado com a perda de velocidade de sua ascensão social.

O candidato do PSDB está fora do radar desse grupo na medida em que não reconhece formalmente os ganhos dos anos Lula. Além disto, responde aos anseios de continuidade no mundo da economia formal e da sociedade de consumo, com promessas de mudanças radicais em relação ao passado.

Foi o ex-governador Eduardo Campos, antes do terrível acidente que tirou sua vida, quem mais chegou perto do discurso que me parece adequado a esse grupo. Elogios ao período Lula e advertência de que o governo Dilma está destruindo o arcabouço econômico que gerou a sua ascensão e a entrada na sociedade do consumo.

Marina mudou o discurso e se aproximou da mensagem tucana, embora com uma história de vida diferente o que a aproxima dos novos consumidores.

Por isso, o voto desse número grande de eleitores ainda está bastante indefinido e no aguardo do discurso adequado.

Câmara de Deputados - Mais do mesmo

• Futura Câmara de Deputados deve ter renovação de apenas 35%, mas fragmentação partidária será maior

Diego Viana – Valor Econômico – Eu & Fim de Semana

SÃO PAULO - Enquanto pesquisas para os principais cargos do Poder Executivo são divulgadas quase diariamente e acompanhadas com avidez, pouco se veem projeções para a composição do Poder Legislativo. Mas o Instituto Análise acaba de realizar um levantamento que prevê quais candidatos, entre os 7.138 inscritos em todo o Brasil, conseguirão se eleger e quais ficarão para trás. A projeção foi feita graças à regularidade na formação das bancadas ao longo do tempo. A taxa de acerto esperada pelos realizadores da pesquisa fica entre 80% e 90%, segundo Gerson Jorio, responsável pela condução do levantamento.

A renovação da Câmara dos Deputados projetada é de cerca de 35%, em linha com a média das eleições anteriores. Dos 391 atuais deputados que buscam se reeleger, uma ampla maioria deverá conseguir, muito provavelmente acima de 70%. Segundo o instituto, a votação de um deputado tende a variar muito pouco em relação à eleição anterior, porque os mecanismos que determinam o sucesso eleitoral para o Legislativo já estão estabelecidos. Como resultado, os novos deputados deverão ser cerca de 180.

Entre os 391 candidatos à reeleição, um que provavelmente será bem-sucedido é o parlamentar do PR-SP Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca, que durante seu mandato chegou a manifestar desilusão com a política. Em 2010, o palhaço foi o candidato com a maior votação entre os postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados em todas as unidades da Federação, com 1,35 milhão de votos. Um deputado que abre vaga para a entrada de um novo parlamentar pelo Estado do Rio de Janeiro é o outrora craque do futebol Romário, do PSB, que concorre não à reeleição, mas ao Senado. Somando as 122 vagas abertas por deputados que não buscam a reeleição, como Romário, com aqueles que não conseguirão novo mandato, a análise chega aos 35% de taxa de renovação.

Figuras que garantiram polêmicas e manchetes ao longo dos últimos quatro anos deverão confirmar a perenidade de suas cadeiras em Brasília. O psolista Jean Wyllys, do Rio, está cotado para conseguir a vaga novamente, assim como seu correligionário paulista Ivan Valente. Do lado oposto das brigas em torno de direitos humanos vivenciadas ao longo do governo de Dilma Rousseff, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e o ex-militar Jair Bolsonaro (PP-RJ) também prosseguem na carreira parlamentar.

Outras projeções do Instituto Análise são o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez, candidato pelo PT-SP, o tucano paulista Bruno Covas, neto do governador Mario Covas, e os também herdeiros políticos Rodrigo Maia (DEM-RJ, filho do ex-prefeito carioca Cesar Maia e ex-líder do PFL na Câmara), Carlos Daudt Brizola (PDT-RJ, ex-ministro do Trabalho e neto de Leonel Brizola) e Clarissa Garotinho (PR-RJ, filha dos ex-governadores fluminenses Anthony e Rosinha Garotinho). A ex-governadora tucana do Rio Grande do Sul Yeda Crusius também aparece na lista.

"Todo mundo gosta de se perguntar sobre a renovação do Legislativo, mas gosto de brincar dizendo que mudam os nomes, mas as pessoas são as mesmas", diz o sociólogo Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise e colunista do Valor. "Nominalmente, há mudanças, mas a estrutura partidária segue preservada." Portanto, o PMDB fluminense deve seguir forte, elegendo 7 deputados, assim como o PSDB paulista, que pode conseguir 11, e o PT do mesmo Estado, 16. Em Pernambuco, Estado do candidato à Presidência Eduardo Campos - que morreu no mês passado -, seu PSB pode obter 5 das 24 cadeiras, mas passar em branco no Estado natal de Marina Silva, o Acre, que elegeria 3 petistas.

Duas dificuldades que apareceram para os pesquisadores foram a Lei da Ficha Limpa e a criação de novos partidos entre 2010 e 2014, sobretudo o PSD de Gilberto Kassab. A Ficha Limpa pode dificultar os cálculos da transferência de votos em coligações, se candidaturas bem colocadas na análise forem, de fato, indeferidas, como pode ocorrer com o ex-governador de São Paulo Paulo Maluf (PP) e a ex-governadora do Distrito Federal Jacqueline Roriz (PMN).

Com os novos partidos, surge a dificuldade de avaliar até que ponto os candidatos arrastarão para o novo partido a votação que tiveram na legenda de que participavam anteriormente. Na estimativa do Instituto Análise, portanto, o PSD surge com uma bancada de 41 deputados, já sendo o quarto maior da Câmara. O PROS figura com 13 nomes, mesmo número atribuído à bancada do Partido Solidariedade.

Com o PSD, chegam a um mandato o candidato a vice-presidente Índio da Costa (RJ) em 2010 e o ex-goleiro gremista Danrlei Hinterholz (RS). O PROS emplaca nomes como Miro Teixeira (RJ), que foi ministro das Comunicações nos governos Fernando Henrique e Lula. Paulinho da Força, fundador do Solidariedade, consegue uma vaga por São Paulo, segundo o Instituto Análise.

Seja qual for o vencedor na corrida presidencial, o quadro que se apresenta, a partir dos dados do instituto, é de dificuldade para a formação de uma maioria coesa e eficaz, com capacidade para fazer avançar a pauta de reformas consideradas necessárias para destravar o desenvolvimento do Brasil. A maior bancada, do PT, terá apenas 91 deputados, para uma maioria simples - aquela que permite vencer votações comuns sem necessidade de atrair votos de oposição - de 257 deputados e uma maioria qualificada (necessária para aprovar emendas constitucionais, com dois terços dos votos da Casa), de 342 nomes.

O sistema eleitoral brasileiro é construído de tal modo, segundo o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, que mudanças radicais na composição do Congresso de uma legislatura para a seguinte são muito improváveis. "Não existe nenhum motivo para que o próximo Congresso seja diferente do atual. Ele continua se elegendo pelos mesmos mecanismos, o recrutamento dos candidatos é o mesmo, os partidos não inovaram e nenhuma bandeira legislativa foi levantada, como seria a reforma política, por exemplo."

Entretanto, Almeida chama a atenção para uma tendência de maior diversidade ou fragmentação na representação partidária na Câmara dos Deputados. O número de "partidos efetivos", índice que mede o grau de fragmentação dos partidos que estão presentes no Parlamento, deverá passar de 10,4 para 11,7, segundo a projeção. Ou seja, o ocupante do Palácio do Planalto a partir de janeiro terá que negociar com mais partidos para formar sua maioria, o que implica custos maiores de transação.

Esse cenário tornará mais difícil a vida do vencedor da disputa de outubro, seja a presidente Dilma Rousseff, sejam seus rivais diretos, Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB). A tarefa mais difícil seria provavelmente a de Marina, cujo partido deverá contar com apenas 28 dos 513 deputados, o que fará dele apenas a sétima maior bancada. Some-se a isso o fato de que a candidata se juntou à agremiação há apenas cerca de um ano, para disputar a Vice-Presidência, e foi alçada à posição de titular da candidatura com a morte de Campos. Nada garante que sua relação com os correligionários será harmoniosa no momento em que for necessário montar a maioria para governar e distribuir os cargos entre os partidos aliados.

"Marina diz que pretende instituir um novo método de formação de maiorias, governando com os melhores de cada partido", diz Melo. "Mas entre o que um ator político fala e o que de fato ocorre há uma distância muito grande. Até hoje não entendi o que ela quis dizer com isso e como ela vai fazer."

Melo cita também as especulações em torno de um possível realinhamento partidário que Marina terá que operar, caso seja eleita. "Mas em que consistiria esse realinhamento? Ela vai propor a criação de novos partidos? Vai tentar atrair dos partidos consolidados os quadros desses novos partidos?" Líderes políticos, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), já afirmaram que os partidos não vão querer liberar seus melhores quadros para o governo Marina, lembra o cientista político.

Para Almeida, Marina poderia precisar recorrer a seu projeto de fundar o Rede Sustentabilidade para conseguir montar sua maioria e evitar o risco de operar com um Congresso majoritariamente hostil. "Ela teria que montar o seu Rede pegando deputados de todos os outros partidos." Naturalmente, essa atitude iria de encontro ao propósito original do Rede Sustentabilidade, que se propunha a introduzir novas práticas e novos rostos na política. "Não tem jeito. Ela tem que operar dentro de um sistema que já funciona. Os sistemas têm uma inércia gigante."

Quanto a Dilma, assim como em seu primeiro mandato, ela assumiria o segundo à frente do maior partido da Câmara, com estimados 91 deputados, e coligado com o segundo maior partido, o PMDB, com seus 67, entre outros partidos da base. Embora a coalizão não seja mais tão confortável quanto parecia ser a supercoalizão que a elegeu em 2010, ainda assim é uma ampla maioria. Por outro lado, a grande base aliada de que dispunha não garantiu tranquilidade à presidente em sua relação com o Legislativo, deixando uma dúvida sobre o que seria necessário para obter essa tranquilidade no segundo mandato.

"A reeleição da presidente Dilma nos colocaria numa situação nova, que chamo de 'presidencialismo de coalizão 4.0'", analisa Melo. A progressão dos tipos de presidencialismo de coalizão em seu olhar segue a regra das relações que se podem estabelecer entre o Executivo e o Legislativo à medida que um partido vai se mantendo no governo.

Na primeira versão, um presidente que entra tendo desalojado um partido rival tem à disposição grande número de cargos públicos para distribuir entre seus aliados, conseguindo formar maioria e ter governabilidade. "No início, o presidente tem lua de mel com o Congresso, que o protege, porque tem interesse nesses cargos. Com isso, forma-se uma maioria e até se conseguem reformas. Fernando Henrique e Lula fizeram isso", diz Melo.

Em seguida, o "presidencialismo de coalizão 2.0" se apresenta ao ocorrer a reeleição: a negociação para a governabilidade já tinha sido feita, os partidos da base aliada querem repactuar. "Só que os inúmeros cargos já foram distribuídos e começam a aparecer as crises", porque as joias da coroa têm de entrar na negociação, a começar pelos postos em empresas estatais. "A situação é acalmada quando se tira espaço de quem perdeu um pouco e se dá espaço a quem ganhou", observa Melo.

A vitória de Dilma em 2010 introduziu o "presidencialismo de coalizão 3.0": não mais simplesmente a reeleição, mas a sucessão sem alternância. Tudo foi distribuído e há cerca de 400 deputados na base de apoio ao governo, querendo ainda mais espaço na gestão. "O Congresso começa a não aprovar algumas medidas provisórias, a derrubar vetos presidenciais e outras coisas complicadas. Por quê? O PMDB não está contente com seis ministérios. O PT não abre mão de 14; o PTB reclama porque não tem o espaço que pretendia; o PSD também quer um ministério..."

"Chega-se à situação de 39 ministérios e ninguém está satisfeito. Acresce-se a isso uma crise econômica: o país não cresce e, com limitações fiscais, faltam recursos para distribuir aos grupos de poder. Resultado? O Congresso começa a aprovar CPIs contra o governo", afirma Melo. Com a reeleição de alguém que sucedeu a um aliado, o mesmo problema persiste. "Dilma não teve lua de mel com o Congresso, como tiveram Fernando Henrique e Lula. Seu primeiro ano foi de demissão de ministros, o que denota um colapso da distribuição dos cargos e um conflito com o Congresso", afirma Melo. "Mas se ela não teve lua de mel no primeiro mandato por que teria no segundo?"

Segundo Almeida, o espaço para reduzir os conflitos entre a presidente e o Poder Legislativo existe, mas está vinculado ao estilo pessoal de negociação da chefe do governo. "Isso vai depender de ela proceder de uma maneira diferente com o mundo político e os parlamentares em particular", diz. "Agradar a esses políticos não é só uma questão de verbas e cargos. A política tem outras moedas de troca", conclui, citando a participação em comitivas presidenciais, visitas aos Estados das bancadas, fotografias em inaugurações de obras e outros agrados. "Tudo isso é relevante para que o mundo político esteja ao seu lado."

Do ponto de vista da composição parlamentar, porém, Almeida vê um aumento no custo das negociações do Executivo com o Legislativo como resultado da fragmentação parlamentar ampliada. "Isso seria ainda mais um motivo para que ela mudasse o estilo pessoal de negociação, recebesse os deputados no Palácio do Planalto, ouvisse suas demandas." A hipótese de que Dilma tentasse governar com maioria menos ampla, dado o custo elevado de manutenção da coalizão formada em 2010, é considerada improvável. Segundo Almeida, o sistema político brasileiro, ao conferir um valor desproporcional ao tempo de TV no cálculo político dos partidos, faz que a base de apoio aos governos, no nível federal como também nos Estados, seja montada com o pensamento voltado não para as necessidades de governar, mas para as alianças que serão montadas no período eleitoral seguinte.

O custo disso está na governabilidade. As coalizões se tornam tão heterogêneas que dificultam a vida dos presidentes e governadores, como ocorreu durante o governo de Dilma até agora. "O caso clássico foi a votação do Código Florestal. A base de apoio do governo era tão ampla que tinha gente dentro que era radicalmente a favor e gente que era radicalmente contra", lembra Almeida.

Já o tucano Aécio Neves, caso consiga ultrapassar suas adversárias e vencer a eleição, assumirá o governo com um partido cuja bancada está enfraquecida (deve eleger, segundo a projeção, 51 deputados) e enfrentando um adversário visceral que é o maior partido da Casa, o PT. "Aécio não teria nenhuma dificuldade em atrair o PMDB e outros partidos para seu governo, mas o preço a pagar certamente seria alto, já que ele começa de posição inferior", nota Melo. "É uma situação diferente da de Fernando Henrique, que assumiu em 1995 com uma bancada considerável, somando PSDB e PFL. Os custos de negociação com esses partidos vão ser maiores, simplesmente."

Ainda assim, o tucano poderá contar com uma vantagem que não está ao alcance de sua adversária petista: o retorno ao "presidencialismo de coalizão 1.0". Com isso, todos os cargos desejados por partidos que poderiam compor a base aliada estarão disponíveis para distribuir. "Mas é bom frisar que isso ocorreria dentro da mesma lógica, do mesmo jogo. Seria o mesmo tipo de coalizão que temos no governo Dilma, e toda a renovação seria pura e simplesmente o fruto da alternância de poder", decreta o cientista político.

De acordo com Almeida, outra vantagem que poderia favorecer a montagem de novo governo tucano seria a proximidade de articuladores políticos qualificados e coesos, isto é, um "lastro partidário", algo que partidos como PSDB e PT possuem, mas falta à campanha de Marina Silva. "Apesar de todas as derrotas do PSDB, o partido possui bons negociadores políticos, como o PT, pessoas afinadas com o pensamento do partido, articuladas e com socialização política comum", na descrição de Almeida. "Já Marina tem excelentes políticos ao seu lado, mas alguns com cabeça de tucano, como Walter Feldman, outros com cabeça de petista, como Mauricio Rands, e outros com cabeça de PSB, como Beto Albuquerque. Isso não dá o mesmo lastro", afirma.

Apesar das reviravoltas ocorridas na eleição presidencial desde que Marina se tornou candidata, a aposta entre os especialistas em política brasileira é de que o impacto do desempenho dos candidatos a presidente sobre a composição do Congresso que sairá das urnas no mês que vem seja ínfimo. Segundo os dados do Instituto Análise, por exemplo, o voto em legendas não passa de 5% do total, e fatores locais são mais decisivos do que os nacionais. Além disso, Melo, do Insper, enfatiza o vínculo muitas vezes fraco entre os partidos e seus candidatos: "Há distância muito grande entre os candidatos e os partidos. O candidato se elege por seu partido, mas poucas vezes existe um compromisso com o programa partidário".

"Existe relativa autonomia entre as eleições majoritárias e as proporcionais", afirma Almeida, dando como exemplo o PT, que comanda o governo há 12 anos, mas tem apenas 20% dos deputados em Brasília. O partido vem, porém, aumentando sua representação parlamentar quase constantemente desde a redemocratização. O PMDB, ao contrário, não tem candidato presidencial há muito tempo, mas continua sendo uma peça central na política brasileira, graças à sua força em municípios e Estados.

Em razão dessa autonomia, nem a perda de ímpeto da candidatura de Aécio deverá ter efeitos significativos sobre a bancada do PSDB - que dos 70 deputados em 2003 chega a 51 em 2015, conforme o levantamento - nem a ascensão de Marina deverá catapultar a bancada do PSB, que elege 28 nomes na projeção do Instituto Análise. Um efeito das dificuldades que os tucanos enfrentam nas eleições majoritárias nacionais se reflete naqueles 122 deputados que não buscam a reeleição. Segundo Almeida, há deputados federais, sobretudo no Estado de São Paulo, que preferem concorrer à Assembleia Legislativa estadual. Em Brasília, esses deputados correm o risco de ficar isolados, não ser recebidos por nenhum ministro e não conseguir entrar em comissões. "Já em São Paulo, certamente as secretarias de governo vão recebê-los e eles podem até mesmo conseguir um cargo nelas."

Os dados do Instituto Análise consistem em projeção estatística, reunindo uma série de variáveis sobre os candidatos, os partidos e as coligações à qual se soma a série histórica, a partir dos dados coletados nas eleições realizadas no Brasil entre 2000 e 2012. Para as eleições de 2014, foram analisadas as chances de cada um dos 7.138 candidatos em todo o país. O levantamento tratou apenas da Câmara dos Deputados, deixando de lado o Senado, por questões de metodologia.