Correio Braziliense
Moro, Ciro, Doria e Tebet não parecem dispostos
a um entendimento, embora, isoladamente, não consigam romper a polarização Lula
(PT) x Bolsonaro (PL)
Cerca de dois anos e meio após o golpe de
Estado de 1964, que destituiu o presidente João Goulart, o político que havia
defendido aquela intervenção militar desde a eleição do presidente Getúlio
Vargas, em 1950, o ex-governador da então Guanabara Carlos Lacerda fez uma
surpreendente autocrítica e convocou seus antigos inimigos a se unirem contra
os militares. Lançada em 28 de outubro de 1966, a Frente Ampla reuniria também
os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, para restaurar a
democracia.
Lacerda havia sido alijado do centro das
decisões do governo do marechal Castelo Branco. Tentou, sem êxito, estruturar
um novo partido, uma vez que a grande maioria da sua legenda, a União
Democrática Nacional (UDN), principal base de apoio do governo no Congresso,
ingressou no novo partido situacionista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena).
Os deputados da Guanabara fiéis à orientação de Lacerda, entretanto,
ingressaram no oposicionista Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em julho
de 1966. As negociações de Lacerda com Juscelino, cassado em junho de 1964 e
exilado em Lisboa, avançaram com relativa facilidade, pois ambos haviam apoiado
o golpe de Estado; porém, com o ex-presidente Goulart, foram mais difíceis.
A tensão entre os militares e os principais
líderes políticos que apoiaram o golpe crescia. Em 3 de outubro, o Congresso
elegera o marechal Artur da Costa e Silva à Presidência da República, que, nove
dias depois, cassaria os mandatos de seis parlamentares, entre eles Doutel de
Andrade, um dos articuladores da Frente Ampla. O arenista Adauto Lúcio Cardoso,
presidente da Câmara dos Deputados, reagiu, afirmando que a decisão sobre as
cassações de mandatos era competência da Câmara. Em resposta, no dia 21, o
governo prendeu Doutel e fechou o Congresso.
A Frente Ampla foi finalmente lançada por
Lacerda, em 28 de outubro de 1966, por meio de um manifesto dirigido ao povo
brasileiro e publicado no jornal carioca Tribuna da Imprensa. Em 19 de novembro
de 1966, na Declaração de Lisboa, Lacerda e Kubitschek anunciaram que suas
divergências estavam superadas e integrariam uma frente ampla de oposição ao
regime. Dez meses depois, Lacerda firmou, em Montevidéu, uma nota conjunta com
Goulart, na qual a Frente Ampla era caracterizada como um “instrumento capaz de
atender… ao anseio popular pela restauração das liberdades públicas e
individuais”.
Comícios foram realizados em São Paulo
(Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), em dezembro de 1967,
e no Paraná (Londrina e Maringá), no início de abril de 1968. Simultaneamente,
houve grandes manifestações estudantis em todo o país, em protesto contra a
violência policial que, em fins de março, no Rio de Janeiro, resultara na morte
do estudante Edson Luís de Lima Souto. As atividades da Frente Ampla, porém,
foram proibidas, em 5 de abril, por intermédio da Portaria nº 117 do Ministério
da Justiça. Em 13 de dezembro, com a edição do Ato Institucional nº 5, houve o
definitivo fechamento do regime.