• Manifestações convocados em dez cidades servirão também para avaliar o poder de mobilização dos organizadores
Leticia Fernandes e Renato Onofre
Tiago Dantas, Silvia Amorim e Gustavo Goulart – O Globo
RIO - Com a realização dos 17 protestos contrários à Copa do Mundo que foram convocados para acontecer hoje em diversas cidades do país, governos e manifestantes terão o primeiro teste de fogo — ou de forças — relacionado ao evento. De um lado, os descontentes precisarão mostrar capacidade de mobilizar o país e levar às ruas uma nova versão do clamor ouvido no ano passado.
Do outro lado, as forças de segurança precisarão provar que estão treinadas e prontas para evitar distúrbios de grande porte.
Segundo convocações feitas pela internet, haverá manifestações em pelo menos dez das 12 cidades-sede. Estão na lista São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba e Manaus. Ao que tudo indica, São Paulo será a mais afetada, com cinco protestos, e seus organizadores já alertam para o “maior congestionamento do ano”.
Às 6h30m, metalúrgicos convocados por grupos ligados à Força Sindical tentarão fechar vias das zonas Sul, Leste e Oeste. Simultaneamente, a Frente Resistência Urbana, formada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Movimento Popular por Moradia (MPM) e Movimento Lutas Populares (MLP), buscará fechar outras seis artérias. Nenhuma divulgada.
Ao meio-dia, estudantes da USP protestarão na reitoria, e às 14h, os professores municipais, que já estão em greve, marcharão rumo à prefeitura.
O principal ato contra o Mundial está agendado para as 17h. O Comitê Popular da Copa de São Paulo vai às ruas com 11 reivindicações. Entre elas: a realocação de famílias removidas por conta de obras da Copa, a realização de projetos de mobilidade que atendam não só aos torcedores e a implementação do passe livre. Esse ato que, segundo os organizadores deve reunir 15 mil pessoas, teve adesão do Movimento Passe Livre (MPL), o mesmo dos primeiros protestos de 2013.
Ato no Rio às 16h, na Central
A prefeitura de São Paulo informou que colocará em prática um plano operacional de contingência para situações emergenciais e que fará um acompanhamento mais intensivo das regiões afetada pelas manifestações. A PM afirmou, por sua vez, que está preparada, mas não detalhou plano alegando estratégia.
No Rio, o protesto contra a Copa acontece às 16h na Central do Brasil, no Centro, e a ideia de seus organizadores é juntar jovens insatisfeitos e trabalhadores que estão em greve. Rodoviários e professores agendaram para hoje assembleias para decidir se aderem ou não à manifestação.
Membro da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), Thiago Ávila diz que os protestos de hoje serão apenas “um gostinho” do que está por vir e que eventos maiores estão agendados para o início do Mundial. Já o grupo Juntos!, que também articula manifestações, espera contribuir, sozinho, com 10 mil pessoas em todo país.
— A ideia é fazer o maior ato unificado nacional desde junho, provavelmente na casa de centenas de milhares de pessoas no país todo — diz Thiago Aguiar, estudante de Sociologia da USP e membro do Juntos!.
Assim como em São Paulo, a PM do Rio informou que seu planejamento é estratégico e que não fala sobre ele. A corporação reconhece a importância das manifestações, mas diz que, se houver atos de vandalismo, fará detenções. O grupo Habeas Corpus RJ, formado por advogados voluntários, informou via Facebook que estará no Centro hoje.
Em Brasília, os Centros de Comando e Controle, criados para garantir a segurança de eventos relacionados à Copa, informam que estarão em pleno funcionamento e que poderão entrar em ação a qualquer momento. Segundo a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, as forças de segurança do governo federal e dos estados trocam informações sistematicamente e estão prontas.
Na capital baiana a manifestação foi convocada pelo Comitê Popular da Copa, Intersindical, Conlutas, Movimento Sem Teto, Atitude Quilombola e o Circulo Palmarino. A concentração para o início da passeata será na Praça da Piedade, no Centro da cidade, a partir das 17 horas. De lá as pessoas seguirão rumo à Arena Fonte Nova, onde ocorrem os jogos da Copa do Mundo. Conforme os organizadores o ato é em repúdio “ao investimento exorbitante do Governo Federal" no Mundial.
Os participantes foram convocados a percorrer as ruas com cruzes e velas acesas “em reverência aos nove operários que morreram durante as obras da Copa”.
A assessoria da Secretaria de Segurança Pública do Estado, informou que a Polícia Militar vai acompanhar a manifestação para garantir o direito das pessoas a protestar. Mas vai coibir atos de vandalismo contra equipamentos públicos e privados. A PM não informa como será o esquema de segurança que pretende montar para a manifestação nem o número de homens a ser utilizado.
Já o presidente do Sindicato dos Lojistas do Estado da Bahia (Sindilojas) Paulo Motta disse que a orientação é manter o comércio aberto, confiando de um lado no bom senso dos manifestante e no outro das autoridades policiais.
Em Recife
Em Pernambuco, diversas organizações sociais também decidiram protestar hoje contra as obras de mobilidade e a construção da Arena Pernambuco. O ato está marcado para acontecer às 15h em Camaragibe, onde mais de 200 famílias foram desapropriadas para dar lugar às obras de ampliação do Terminal Integrado de Camaragibe e do Ramal da Copa.
Entre as razões para a manifestação, o grupo elencou três temas principais: as remoções, o conflito criado entre os comerciantes do Centro pela incerteza da realização da Fifa Fan Fest e a denúncia do mal funcionamento das obras viárias, que deveriam ter melhorado o transporte na Região Metropolitana do Recife. O investimento de recursos públicos na Arena Pernambuco e a cessão de terreno para a Cidade da Copa também devem ser questionados.
Em Porto Alegre
Em Porto Alegre, os organizadores do Dia Internacional de Lutas contra a Copa do Mundo marcaram protestos em três locais diferentes. Às 17h, as organizações estudantis lideradas pela Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel) se reúnem em frente à Faculdade de Educação, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), para iniciar uma caminhada em direção ao centro da cidade. No mesmo horário, as centrais sindicais envolvidas com o dia de luta – entre elas o Sindicato dos Professores do Estado (Cpers) e o Sindicato dos Municipários (Simpa) – se reúnem na Esquina Democrática para um ato de apoio ao Comitê Popular da Copa, principal organização que representa a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa no Rio Grande do Sul. Os cerca de 20 mil municipários aproveitam o dia de protesto para realizar uma paralisação de 24 horas por melhores salários. Às 9h, a categoria faz uma manifestação em frente à prefeitura.
O ponto de convergência será a partir das 18h em frente à prefeitura de Porto Alegre, onde o Bloco de Lutas pelo Transporte Público e a Central Sindical e Polular (CSP/Conlutas) realizam um ato de protesto. Ali, os manifestantes devem se concentrar até por volta de 19h, quando iniciam uma caminhada pelas ruas centrais da cidade. É possível que a manifestação tenha como destino o Palácio Piratini – sede do governo do Estado.
A principal palavra de ordem é “Copa Sem Povo: Tô na Rua de Novo”. O ato foi organizado em uma assembleia realizada na noite de terça-feira na sede do Simpa. Segundo Matheus Gomes, da Juventude do PSTU e integrante do Bloco de Lutas, a mobilização é uma forma de registrar a “indignação contra as injustiças da Copa”.
A Brigada Militar promete acompanhar de perto os manifestantes, mas afirmou que só vai intervir se houver risco ao patrimônio e aos próprios integrantes do ato. Prédios públicos como o Tribunal de Justiça, que já foi atacado por vândalos em 2013, e o Palácio Piratini, serão isolados. A cúpula da corporação se reuniu na quarta-feira à noite com o governador, mas a pauta do encontro – que não estava na agenda – não foi informada.