terça-feira, 4 de setembro de 2012

OPINIÃO DO DIA - Ricardo Lewandowski: ‘o mensalão maculou a República’ (XXXI)

As práticas delituosas dos dirigentes (do Banco Rural) restaram evidenciadas sobretudo pela relação promíscua que a cúpula da instituição financeira mantinha com os corréus Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz - especialmente com o primeiro deles. Marcos Valério agia como uma espécie de agente de negócios e de relações públicas do Banco Rural, encarregando-se de intermediar contatos entre a instituição financeira e alguns setores do governo

Ricardo Lewandowski, ministro do STF, em seu voto no processo do mensalão, 3/9/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Relator e revisor condenam o Rural
FH e Dilma têm primeira crise
PSB atropela PT em Recife
Rio pode ter mais R$ 7 bi para obras
Candidatos são a favor de remoção

FOLHA DE S. PAULO
Em defesa de Lula, Dilma ataca FHC por reeleição
Empréstimos foram 'de pai para filho', diz revisor
Candidatos atacam aliados incômodos em debate na TV
Russomanno e Haddad fugiram de armadilhas.
Parede fina leva governo a cancelar verba para presídio

O ESTADO DE S. PAULO
Ministros condenam cúpula do Banco Rural
Dilma diz que FHC quer ‘reescrever história’
Eleições 2012: No horário eleitoral, Serra diz que cumprirá mandato
Governo quer punir mesmo sem bafômetro
Vale terá de pagar multa de US$ 233 mi
Saúde admite erro no combate à gripe suína

VALOR ECONÔMICO
Governo avalia incentivos para o mercado de capitais
Proposta de Orçamento infla receitas
Barbosa condena os réus do Banco Rural

BRASIL ECONÔMICO
Governo quer elevar volume de exportações para União Europeia
Telefonia móvel se fortalece para a Copa
Meio ambiente terá licenças mais rápidas
Fabricantes de sucos reagem à nova exigência
Tempo de eleição

CORREIO BRAZILIENSE
Classe média sofre mais com Imposto de Renda
Brasil sob ataque
Mensalão: Relator dá sinais de que culpará núcleo político
Transporte: DF deve receber R$1,8 bilhão de recursos do PAC
Racismo: Um basta à intolerância

ESTADO DE MINAS
Vida normal nas universidades só em 2015
Piora situação de Delúbio e Genoino
Batata dobra de preço e puxa a alta da inflação
Defasagem da tabela eleva IR em até 44%

ZERO HORA (RS)
Ganho cai, mas poupança supera outras aplicações
Um furacão chamado Russomanno
Dilma rebate artigo de FH e defende Lula
O peso da Copa na eleição da capital

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
UFPE entre as dez do País
Estado terá R$ 1 bilhão para investir
Ex-dirigentes do Banco Rural são condenados

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

Relator e revisor condenam o Rural

Ex-diretores do banco culpados por empréstimos fictícios ao PT

Segundo Joaquim Barbosa, "grupo criminoso organizado" repassou fraudulentamente R$ 32 milhões ao partido e a Marcos Valério

Depois de divergirem abertamente sobre os crimes atribuídos ao petista João Paulo Cunha, o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski concordaram ontem em praticamente tudo. Ambos votaram pela condenação de ex-dirigentes do Banco Rural por gestão fraudulenta na concessão de empréstimos fictícios ao PT e a agências de publicidade de Marcos Valério. Lewandowski chegou a dizer que, da forma como foram feitos, os empréstimos "se assemelharam mais a negócio de pai para filho".

Voto de Lewandowski aponta elo de Valério com Banco Rural

Para revisor, operador exercia influência junto a setores do governo

Thiago Herdy

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA Ao julgar os ex-dirigentes do Banco Rural, o ministro revisor Ricardo Lewandowski antecipou ontem más notícias para Marcos Valério, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do mensalão. Em seu voto, o ministro já adiantou seu julgamento sobre a relação entre o Rural e Valério, atribuindo a ele o papel de "peça chave para exercer influência junto ao governo federal".

A menção reforça a tese do Ministério Público Federal, de que Valério fazia lobby do banco junto ao governo federal e, em troca, a instituição concedia empréstimos irregulares para alimentar o valerioduto. Esse vínculo é destaque na parte da denúncia do MPF que trata do crime de formação de quadrilha.

- As práticas delituosas dos dirigentes (do Banco Rural) restaram evidenciadas sobretudo pela relação promíscua que a cúpula da instituição financeira mantinha com os corréus Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz - especialmente com o primeiro deles. Marcos Valério agia como uma espécie de agente de negócios e de relações públicas do Banco Rural, encarregando-se de intermediar contatos entre a instituição financeira e alguns setores do governo - afirmou Lewandowski.

Bons contatos, bons serviços

O ministro citou depoimento de Kátia Rabello, ex-dirigente do Rural, no qual ela diz que Valério garantia ter bons contatos com o governo federal e, por isso, estaria apto a "prestar bons serviços" à instituição financeira.

- O relacionamento do Banco Rural com as agências de publicidade capitaneadas por Marcos Valério repassava, de longe, uma relação normal, bancária, porque haviam aí, aparentemente, alguns interesses não muito esclarecidos - disse o revisor.

Para reforçar seu argumento, Lewandowski fez referência a encontro intermediado por Valério entre representantes do Banco Rural e do Banco Central. Ofício enviado pelo Banco Central à CPMI dos Correios, que investigou o mensalão, atesta, inclusive, que Marcos Valério participou da reunião. Segundo informou o Banco Central na época, o encontro seria para tratar do interesse no Rural no processo de liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco.

O revisor citou ainda outra reunião marcada por Valério nos Correios. Ele teria ido tratar do interesse do Rural na movimentação de recursos pela estatal.

- Inexiste no mercado instituição que atue da forma como a aqui observada. Os bancos não são instituições filantrópicas, cobram caro pelos serviços que prestam. Afigura-se evidente que os empréstimos só foram aprovados em virtude da troca de favores existente entre os dirigentes do Banco Rural e Marcos Valério - concluiu Lewandowski.

Marcos Valério e seus sócios já foram condenados por corrupção ativa e peculato. As penas ainda não estão definidas. Valério ainda poderá receber novas penas, se condenado pelas acusações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.

FONTE: O GLOBO

Empréstimos foram 'de pai para filho', diz revisor

O revisor do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, votou ontem pela condenação de Kátia Rabello e José Roberto Salgado, ex-dirigentes do Banco Rural, e disse que os empréstimos ao PT e às empresas de Marcos Valério mais pareciam "doações", "negócio de pai para filho".

Assim como o relator do processo, Joaquim Barbosa, Lewandowski aceitou a tese de fraude. As decisões complicam o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, acusados de formação de quadrilha e corrupção ativa. Para as defesas, Barbosa "cometeu erros".

Tese de fraude em empréstimo ganha força

Relator e revisor condenam dona e ex-vice-presidente do Banco Rural, que entregou dinheiro para Valério e para o PT

Os votos complicam as situações dos petistas José Genoino e Delúbio Soares, que tomaram R$ 3 mi para o partido

Felipe Seligman, Flávio Ferreira, Márcio Falcão, Nádia Guerlenda e Rubens Valente

BRASÍLIA - Ao votarem pela condenação de ex-dirigentes do Banco Rural, relator e revisor do processo do mensalão no Supremo deram respaldo a um ponto central da acusação: o de que os empréstimos ao PT e às empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza eram de fachada.

A condenação complica as situações do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares, que tomaram R$ 3 milhões do Banco Rural para o PT em 2003. Acusados de formação de quadrilha e corrupção ativa, eles aguardam julgamento.

Segundo a acusação, o Rural ajudou a financiar o mensalão ao emprestar para o PT e outros R$ 29 milhões, também em 2003, para empresas de Valério, apontado como o operador do esquema.

O relator Joaquim Barbosa votou pela condenação por gestão fraudulenta de Kátia Rabello, dona do banco, José Roberto Salgado, ex-vice-presidente, e dos executivos Ayanna Tenório e Vinícius Samarane. O revisor, Ricardo Lewandowski, condenou Kátia e Salgado. Completará seu voto amanhã. Os demais devem seguir o voto de ambos.

Em seu voto, Barbosa disse que os réus "em divisão de tarefas típica de uma quadrilha" atuaram "na simulação de empréstimos bancários, bem como utilizaram mecanismos fraudulentos para encobrir o caráter simulado dessas operações de crédito".

Para os ministros e para a acusação, os empréstimos eram de "fachada" porque não seriam pagos. Quando liberava dinheiro, diz a acusação, o banco não cobrava garantias reais nem dívidas anteriormente contraídas.

As operações, diz a acusação, serviam de cortina de fumaça para dissimular o desvio de recursos públicos. Misturado com recursos de contratos que Valério tinha com o setor público, o dinheiro era então redistribuído, por orientação do PT, a parlamentares e partidos.

"Me parece que houve não um empréstimo, mas um negócio de pai para filho", afirmou Lewandowski. Para ele, as transações eram resultado de um "acerto" entre Valério e o Rural, numa relação "promíscua", para que o empresário fizesse "tráfico de influência" junto ao governo. "Alguns empréstimos eram tratados quase como doações."

Os ministros disseram que o banco cometeu fraude ao fazer uma classificação irreal dos riscos, violando normas do sistema financeiro. E citaram auditorias do Banco Central e laudos da Polícia Federal que afirmam que o Rural deixou de informar o real risco das operações.

O BC e a PF apontaram que os empréstimos eram renovados sem pagamento, outra evidência de fraudes, segundo os ministros.

Para ilustrar a tese, eles citaram o caso do mensalão mineiro, que envolveu o PSDB de Minas Gerais e também está no STF, no qual uma dívida original de R$ 13 milhões de uma empresa de Marcos Valério com o Rural foi quitada por R$ 2 milhões.

Barbosa também disse que os réus ligados ao Rural praticaram lavagem de dinheiro nas operações sob julgamento, adiantando que deverá condená-los por esse crime. A previsão é que a acusação de lavagem seja o próximo tema a entrar na pauta.

Os empréstimos do Rural são a segunda fonte de recursos do mensalão, conforme a denúncia. Há uma semana, o STF reconheceu que o esquema também usou recursos públicos Fundo Visanet, controlado pelo Banco do Brasil.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ministros condenam cúpula do Banco Rural

Relator e revisor do processo do mensalão no STF concluíram que empréstimos ao PT foram fictícios

A cúpula do Banco Rural foi condenada pelos ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, relator e revisor do processo do mensalão no STF, por conceder empréstimos considerados fictícios e irregulares ao PT e às empresas do operador do mensalão, Marcos Valério. A ex-presidente do banco Kátia Rabello e o ex-vice José Roberto Salgado foram condenados por gestão fraudulenta de instituição financeira. Com o voto coincidente dos ministros, a tendência é que os demais integrantes do tribunal julguem pela condenação dos réus. Barbosa condenou também Vinícius Samarane e Ayanna Tenório, de quem o revisor só analisará as condutas amanhã. A pena pelo crime de gestão fraudulenta varia de 3 a 12 anos de reclusão. O relator do processo também deve condenar os dirigentes do Rural por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Ministros condenam cúpula do Rural

Relator e revisor entenderam que dirigentes e ex-dirigentes do banco concederam empréstimos "fictícios" ao PT e a Marcos Valério

Felipe Recondo, Ricardo Brito, Eduardo Bresciani e Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - A cúpula do Banco Rural foi condenada pelo relator e pelo revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal por conceder empréstimos considerados fictícios e irregulares ao PT e às empresas do chamado "operador do mensalão", o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

A ex-presidente do banco Kátia Rabello e o ex-vice José Roberto Salgado foram condenados pelos ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski, revisor, por gestão fraudulenta de instituição financeira.

Com o voto coincidente dos ministros, dificilmente os outros dirigentes do Banco Rural se livrarão da condenação pelos demais integrantes do tribunal.

Barbosa votou também pela condenação de Vinícius Samarane e Ayanna Tenório, de quem o revisor só analisará as condutas amanhã. Samarane continua como dirigente da instituição, enquanto Ayanna saiu em 2006.

A pena pelo crime de gestão fraudulenta varia de 3 a 12 anos de reclusão. Mas a pena imposta à cúpula do banco poderá ser maior. O relator do processo adiantou que deve também condenar os dirigentes do Rural por outros dois crimes: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O julgamento será retomado amanhã, com o voto da ministra Rosa Weber.

Dissimulação. Os dirigentes concederam e renovaram empréstimos à época que os ministros consideraram simulados às empresas de Marcos Valério e ao PT no valor total de R$ 32 milhões. As operações de crédito, de acordo com Joaquim Barbosa, serviram para dissimular a origem dos recursos públicos que alimentaram o mensalão.

O banco ainda contribuiu, conforme o ministro, para distribuir os recursos, pois parlamentares sacavam o dinheiro nas agências do Rural, e buscou dissimular a existência do esquema ao deixar de informar os órgãos de controle, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Banco Central.

Para não comprometer suas contas, o Rural classificava o nível de risco dos empréstimos de forma "deliberadamente equivocada" e "artificiosa", conforme Lewandowski.

Nem os sócios de Marcos Valério, nem o ex-presidente do PT e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares teriam patrimônio para arcar com os empréstimos. Valério e seus sócios, disse Lewandowski, não teriam patrimônio para arcar com um décimo dos R$ 29 milhões que receberam.

Na semana passada, os minitros condenaram Marcos Valério, seus sócios, João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato e absolveram Luiz Gushiken.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um novo enredo - Merval Pereira

O ministro Ricardo Lewandowski abriu seu voto renegando a percepção de muitos de que não leva em conta os indícios e conexões dos fatos para construir sua convicção, atendo-se apenas à "verdade processual".

Ao tratar da responsabilidade dos dirigentes do Banco Rural, ele fez questão de ressaltar que votaria seguindo o relator Joaquim Barbosa porque, além de provas dos autos como relatórios internos do próprio banco e do Banco Central, havia muitos indícios demonstrando que os empréstimos ao PT e à agência publicitária SPM&B foram feitos com normas mínimas de segurança, revelando serem "de pai para filho", fora dos padrões normais dos bancos.

Aqui, abro um parêntesis para comentar a análise do advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado. Bastos lamentou com repórteres que os ministros estejam dando tanta importância aos relatórios internos do próprio banco; segundo ele, é "normal" que ao final a diretoria decida a conveniência ou não de empréstimos desse tipo. Assim, admite implicitamente o caráter "político" dos empréstimos. Voltando ao voto do revisor, os indícios não levaram Lewandowski a se convencer de que, como acusa o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e endossa Joaquim Barbosa, os empréstimos foram fictícios, para encobrir o dinheiro desviado dos cofres públicos que foi distribuído por Marcos Valério a petistas e políticos aliados.

Para Lewandowski, houve gestão fraudulenta sim, mas para agradar o empresário que os diretores do Banco Rural consideravam que teria influência no governo petista, e poderia abrir as portas para bons negócios futuros. Pode estar aí a explicação do voto do revisor, que até agora não conseguiu ver nexo entre o desvio do dinheiro público e o mensalão. Ele está criando um novo enredo, não se sabe com que fim.

Ao condenar o diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, por desvio do fundo Visanet para a conta de Valério, o ministro Lewandowski tratou o assunto como se fosse um crime isolado, um mero trambique entre Pizzolato e Valério, sem nada a ver com o dinheiro que o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, recebeu do mesmo Valério, aceitando a tese da defesa de que o mandante do dinheiro fora o tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Chegou a entusiasmar o advogado Márcio Thomaz Bastos, que considerou seu voto a vitória da tese do caixa 2 eleitoral. Uma maioria de 9 ministros não aceitou a tese do revisor, à qual apenas o ministro Dias Toffoli aderiu. Já agora, ao condenar o Banco Rural por gestão fraudulenta para agradar a um empresário que teria bom trânsito com o PT, o ministro Lewandowski está entrando por outra senda, diferente da explorada pelo relator, mas que vai dar igualmente no conluio de um empresário corrupto com o partido do governo. Se o dinheiro que Valério distribuiu para o PT e seus aliados era do "empréstimo" do Rural, pelo menos Delúbio Soares e José Genoino, que o assinaram, teriam cometido peculato, pois para isso não é necessário fazer nenhum ato ilegal, mas apenas sugerir a possibilidade. E não é necessário que o dinheiro seja público ou privado. Mas eles não estão acusados desse crime. Vai ser difícil então inocentá-los da acusação de corrupção ativa.

Provavelmente, Lewandowski vai dizer que havia dinheiro legal e ilegal na distribuição feita por Valério. Mas se o empréstimo do PT foi real, por que o dinheiro distribuído aos políticos, por ordem de Delúbio, tinha que sair do bolso de Valério, através da SMP&B? E por que só foi pago muitos anos depois de tomado?

Entender que os empréstimos eram verdadeiros, mas dados através de métodos fraudulentos, torna a história mais complicada e menos verossímil que a do procurador-geral da República, assumida pelo relator Joaquim Barbosa. Resta ver para onde a maioria do plenário do Supremo seguirá desta vez.

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o único político da oposição que consegue tirar o ex-presidente Lula do sério. A cada artigo mensal com críticas ao PT e a Lula, o ex-presidente sai de seus cuidados para atacar o inimigo íntimo. Desta vez, colocou a a presidente Dilma em situação delicada, exigindo dela um posicionamento oficial, quando deveria ter sido ele a se defender dos ataques de Fernando Henrique. Dilma voltou a comportar-se como subordinada de Lula. A hieraquia petista falou mais alto.

FONTE: O GLOBO

Três balizas - Tereza Cruvinel

"Se a coerência imperar, como é da práxis judiciária, o resultado final deve ser massacrante"

As premissas fixadas pelos ministros do Supremo durante a apreciação do item 3, e os votos dados ontem pelo relator e pelo revisor na análise do item 5, condenando os dirigentes do Banco Rural por gestão fraudulenta, instalaram o pessimismo entre os réus e seus advogados: se a coerência imperar, como é da práxis judiciária, o resultado final deve ser massacrante. Formou-se uma maioria, unificada por este revisionismo. O revisor, que absolveu João Paulo, formou com ela ontem, mas isso pode não ser definitivo.

No julgamento do item 3, foram afetadas três premissas que historicamente sempre orientaram as decisões do STF. A exigência de ato de ofício (favorecimento concedido em troca da propina) para a condenação por corrupção passiva foi dispensada no caso do deputado João Paulo, mas sempre era observada como pedra angular. Sustentou, por exemplo, a absolvição de Collor em 1994. Agora, para a maioria dos ministros, basta ter o recebimento da vantagem indevida para a condenação. Mantida esta premissa, é razoável supor que, no próximo item, de número 6, todos os deputados e ex-deputados que receberam recursos do valerioduto por ordem de Delúbio Soares sejam condenados por corrupção passiva. Entre eles há três petistas (Paulo Rocha, João Magno e Professor Luizinho) que, supostamente, não cobrariam propina para apoiar o governo do próprio partido. A defesa de Paulo Rocha, por exemplo, apresentou um rol de notas fiscais que corresponderiam a dívidas de campanha pagas com o dinheiro recebido.

Não se nota, porém, entre os ministros, a menor abertura à alegação de que os recursos tinham esta finalidade, devendo prevalecer o primado da vantagem indevida, dispensada a contrapartida, o ato de ofício. A premissa certamente valerá para os petistas; para os sete políticos do PL e do PP; para Roberto Jefferson, do PTB; e para os funcionários que, mesmo tendo ido ao banco a mando de seus chefes, acabaram acusados de corrupção passiva. É verdade que nem todos sacadores foram processados, a exemplo da própria mulher de João Paulo. E como ao polo passivo corresponde o polo ativo, dispensado o ato de ofício devem também ser condenados por corrupção ativa os réus Delúbio, Genoino, Dirceu e, mais uma vez, Marcos Valério.

Caiu também por terra a relativização das provas colhidas em inquérito policial ou CPI. O mais atingido por isso pode ser Dirceu. Embora inexistam provas materiais contra ele, há quem tenha afirmado, na CPI dos Correios, que ele sabia das traficâncias da dupla Valério-Delúbio. E, por fim, uma dúvida quanto a uma velha máxima, a de que as declarações do corréu só podem ser consideradas quando ele mesmo se incrimina. Os ministros absolveram Luis Gushinken alegando ausência de provas. Desconsideraram a afirmação de um corréu, Henrique Pizzolato, de que recebeu ordens do então ministro da Secom para suas ações no Banco do Brasil. A pergunta que fica: as acusações de Roberto Jefferson contra José Dirceu terão valor ou também serão desconsideradas? O procurador, já se sabe, deu-lhes crédito.

Não por acaso, na montagem do plano de trabalho, o relator Joaquim Barbosa deixou como último item o que envolve Dirceu e a acusação de formação de quadrilha. O próprio procurador-geral reconheceu a fragilidade de provas contra o ex-ministro. Já a tipificação do crime não é juridicamente pacífica. Não era, pois como disse o ministro Marco Aurélio, está havendo "uma virada importante" no Supremo. Uma virada que permitiu até ao ministro Luiz Fux afirmar, para espanto dos constitucionalistas, que cabe ao acusado provar sua inocência, contrariando o artigo segundo o qual o ônus da prova cabe ao acusador.

Está decidido (I)

A defesa de João Paulo Cunha apresentará recurso contra a condenação por lavagem de dinheiro, com base no artigo 33 do regimento do Supremo, que admite a reconsideração quando pelo menos quatro ministros divergem da maioria. Foi o caso. O advogado Alberto Toron está cuidando do recurso.

Está decidido (II)

A Secretaria de Assuntos Jurídicos do Gabinete Civil e a Advocacia-Geral da União (AGU) já trabalham no esboço do projeto de lei de greve para o funcionalismo público. Trata-se de lei complementar prevista pelo artigo 37, que ninguém nunca ousou propor ou fazer tramitar, em função da forte oposição dos sindicatos da categoria. O texto fixará condições para o exercício do direito de greve, assegurando, sobretudo, o atendimento às necessidades da população e da segurança nacional. Operações-padrão com exibição de armas e abandono das fronteiras, como fez a Polícia Federal, serão tratadas como abuso.

Dilma, Lula e FH

A dura resposta que deu ontem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deve ter tido, para a presidente Dilma, um gosto de jiló, para usar a imagem do ministro Ayres Brito ao falar em condenações. Não consta, nos relatos palacianos, que Lula tenha feito qualquer gestão para obter a manifestação de defesa. Dilma teria avaliado que a hora recomendava, em função do antagonismo nascente entre petistas lulistas e dilmistas. Se ficasse calada, estaria dando pretexto a mais intrigas e especulações.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

FH e Dilma têm primeira crise

A boa relação entre Dilma e FH parece ter acabado. Em reação a artigo de domingo do antecessor, que critica a gestão Lula, ela, em nota, atacou o governo do tucano.

Dilma rebate FH e defende Lula

Em resposta a artigo, presidente destaca "herança bendita" de "um exemplo de estadista"

Luiza Damé

BRASÍLIA A lua de mel entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece ter chegado ao fim. Ontem, ao sair em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma rebateu, de forma dura, críticas feitas por Fernando Henrique em seu artigo mensal, publicado no último domingo no GLOBO e no jornal "O Estado de S. Paulo". Em nota oficial, a presidente disse que recebeu de Lula uma herança bendita. "Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", afirmou Dilma, em referência direta ao governo do tucano, que precisou recorrer ao Fundo Monetário Internacional e enfrentou racionamento de energia. A presidente destacou ainda que "Lula é um exemplo de estadista".

Fernando Henrique abriu seu artigo afirmando que a presidente "recebeu uma herança pesada de seu antecessor". Contemporizou, dizendo que nem Lula nem Dilma são responsáveis "pela maré negativa da economia internacional", mas apontou a "crise moral" como um dos principais problemas dos governos petistas. Lembrou que, no primeiro ano de Dilma, caíram oito ministros, "sete dos quais por suspeitas de corrupção", e ligados a Lula. Citou o mensalão, aliviando Dilma, mas responsabilizando o PT.

Nota fez referência à reeleição

Em tom duro, Dilma fez referência à aprovação da emenda da reeleição, no governo Fernando Henrique, beneficiando o próprio tucano, e chamou Lula de estadista e democrata: "Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse". A presidente destacou que, com Lula, o Brasil se tornou mais respeitado no exterior, "graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional".

Embora as críticas de Fernando Henrique estejam mais focadas no governo Lula, sobraram farpas para Dilma. E numa área que é cara à presidente: o setor energético. "O que mais pesa como herança é a desorientação da política energética", escreveu o ex-presidente. Dilma foi ministra de Minas e Energia, além de presidente do Conselho Administrativo da Petrobras no governo Lula, e costuma ser apresentada como a mulher que organizou o sistema elétrico no país. Por isso, a resposta sobre não ter recebido o "país do apagão".

Na nota, Dilma disse que foi "citada de modo incorreto pelo ex-presidente" e, por isso, pretendia "recolocar os fatos em seus devidos lugares". Segundo ela, Lula deixou-lhe "uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes". Dilma afirmou ter recebido "um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes".

Por fim, Dilma afirma que "não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a História". Para a presidente, "o passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento". A presidente diz ter aprendido com os erros e os acertos de todas as administrações anteriores, mas que governa "com os olhos no futuro".

FONTE: O GLOBO

Dilma critica FHC para defender Lula

Em nota oficial divulgada pelo Planalto, presidente rebate as acusações do tucano, que, em artigo, acusou o sucessor dele de deixar uma "herança pesada"

Juliana Braga

O clima amistoso que imperava na relação entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá sinais de que chegou ao fim. Em dura nota publicada ontem, Dilma rebate as críticas de FHC, destacando as principais crises do antecessor do PT no Palácio do Planalto. No domingo, Fernando Henrique atacou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e o classificou como "herança pesada" para Dilma.

Em seu artigo publicados nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, FHC se refere às quedas de ministros como "crise moral". "Pode-se alegar que quem nomeia ministros deve saber o que faz", disse. "No entanto, como o antecessor jogou papel eleitoral decisivo, seria difícil recusar de plano seus afilhados", completou. Ele atribuiu à "obsessão por formar maiorias hegemônicas, enfermidade petista incurável", o fato de terem relevado as suspeitas contra os ministros que caíram.

Em outro trecho, critica a política energética, tema que Dilma, ex-ministra de Minas e Energia na gestão Lula, conhece com profundidade. "Calemos sobre as usinas movidas "a fio d"água", cuja eletricidade para viabilizar o empreendimento terá de ser vendida como se a produção fosse firme o ano inteiro e não sazonal. Foi preciso substituir o companheiro que dirigia a Petrobras para que o país descobrisse o que o mercado já sabia, havendo reduzido quase pela metade o valor da empresa", alfinetou.

Apesar de ter feito ressalvas em seu artigo, isentando a presidente de responsabilidade sobre a tal "herança pesada", Dilma não poupou FHC e subiu o tom. "Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", rebateu, referindo-se ao empréstimo contraído perante o Fundo Monetário Internacional e à crise energética de 2001, quando brasileiros tiveram de reduzir o consumo para evitar um colapso.

A presidente também destacou os programas sociais de Lula e a ampliação ao acesso à educação. "Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes", pontuou. Referindo-se a Lula, alfinetou ainda a mudança na Constituição que permitiu Fernando Henrique concorrer ao segundo mandato. "Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista", disse.

Por fim, Dilma afirmou que "não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos anos é uma tentativa menor de reescrever a história". "O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento", defendeu. Para concluir, disse que aprendeu com "os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações" que a antecederam, mas que governa "com os olhos no futuro".

Desde que a presidente Dilma assumiu, os dois mantinham uma boa relação. A atual chefe do Executivo convidou FHC para o almoço que ofereceu ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quando ele esteve no Brasil. Na instalação da Comissão da Verdade, o ex-presidente fez elogios à Dilma. A discussão repercutiu no Twitter. Os termos "Lula" e "FHC" chegaram à lista dos mais comentados, e petistas e tucanos saíram em defesa de seus correligionários, retuitando o artigo ou a nota.

"Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão" (Dilma Rousseff, presidente da República, em nota oficial)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Dilma diz que FHC quer ‘reescrever história’

Presidente rebate críticas do artigo "Herança Pesada", publicado domingo no "Estado", e afirma que FHC tem ressentimento

A presidente Dilma Rousseff reagiu ontem ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso intitulado "Herança Pesada", publicado no domingo pelo Estado, no qual ele afirma que Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma crise moral no País e cita o escândalo do mensalão. Em nota oficial, cujo teor foi mostrado para Lula antes da divulgação, Dilma afirmou que recebeu uma "herança bendita" e não "um país sob intervenção do FMI". Num tom duro, disse ela que "Lula é um exemplo de estadista" e "um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse"- referência à emenda que permitiu a reeleição e FHC, em 1998.

Dilma reage a artigo e diz que FHC quer "reescrever história" com "ressentimento"

Tânia Monteiro, Lisandra Paraguassu, Vera Rosa

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff reagiu ontem ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso intitulado "Herança Pesada", publicado no domingo pelo Estado, no qual ele afirma que Luiz Inácio Lula da Silva, seu sucessor, promoveu uma "crise moral" no País por causa do mensalão.

Em nota oficial, cujo teor foi mostrado a Lula antes da divulgação, Dilma afirmou que recebeu uma "herança bendita" e não "um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", numa referência à dívida com o Fundo Monetário Internacional deixada pelo tucano e ao período de racionamento de energia na gestão do adversário político.

Num tom duro, a presidente partiu para o confronto dizendo que não reconhecer os avanços que o País obteve nos últimos dez anos "é uma tentativa de menor de reescrever a história". "O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento", disse.

Afirmou, ainda, que "Lula é um exemplo de estadista" e "um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse", em referência à aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC, em 1998.

Coordenação. A reação de Dilma fez parte de uma ação coordenada com Lula. Ao tomar conhecimento do artigo de Fernando Henrique, o ex-presidente teria soltado um palavrão. "Eu é que me f... com a herança maldita que recebi dele", teria dito Lula.

Embora Lula não tenha pedido para Dilma redigir a nota, ele foi informado de seu teor ontem pela manhã, em conversa telefônica com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e aprovou o conteúdo duro do texto.

A nota foi uma forma, segundo fontes do Planalto, de mostrar sintonia entre os dois, dizer que ambos estão do mesmo lado. O que mais teria irritado Lula e Dilma foi o fato de FHC falar em "crise moral" do governo, citar o escândalo do mensalão e bater na tecla da falta de eficiência da administração petista, que demitiu oito ministros "nem bem completado um ano de governo (...) por suspeitas de corrupção".

No Planalto, a avaliação é a de que, ao agir assim, FHC cumpre uma estratégia eleitoral para tentar grudar o escândalo do mensalão em Lula e no PT. O objetivo seria ajudar o PSDB nas eleições municipais, principalmente em São Paulo, onde o candidato tucano José Serra enfrenta dificuldades. Ele divide tecnicamente a segunda posição nas pesquisas com Fernando Haddad (PT).

Até a publicação do artigo de Fernando Henrique, no domingo, a relação entre Dilma e ele era muito boa. Em maio, FHC esteve no Palácio do Planalto, a convite de Dilma, para a instalação da Comissão da Verdade.

Lula também estava lá. Em janeiro do ano passado, FHC participou de almoço com o presidente norte-americano, Barack Obama. Também no ano passado, em junho, Dilma mandou carta cumprimentando FHC pelos 80 anos e chamando- o de "acadêmico inovador", "político habilidoso", "ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação". A carta provocou ciúmes no PT.

Ainda no fim do ano passado, Dilma convidou Fernando Henrique para um jantar com o grupo The Elders, no Palácio da Alvorada, do qual o ex-presidente faz parte. Recentemente, Fernando Henrique chegou a defender Dilma dos grevistas, antes mesmo que Lula o fizesse.

Desde domingo, porém, quando leu o artigo, a presidente se sentiu atingida. Além de citar a crise moral do governo, FHC falou em falta de eficiência. Dilma queria responder o ex-presidente no mesmo dia, mas foi aconselhada a deixar a atitude para segunda-feira, pois teria mais repercussão.

Em conversas reservadas, Dilma disse que Fernando Henrique "passou muito do limite". Na resposta, ela fez questão de ressaltar que precisava "recolocar os fatos em seus devidos lugares". Em nenhum momento, porém, citou o mensalão.

Dois trechos do artigo de Fernando Henrique aborreceram particularmente Dilma. O primeiro, quando ele diz que "é pesada como chumbo a herança desse estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais sensíveis para o futuro da Nação". Mais adiante, quando o ex-presidente ataca afirma que "o que mais pesa como herança é a desorientação da política energética. Calemos sobre as usinas movidas "a fio d"água", cuja eletricidade para viabilizar o empreendimento terá de ser vendida como se a produção fosse firme o ano inteiro, e não sazonal" . Dilma foi ministra das Minas e Energia e sempre comandou diretamente este setor, com mão de ferro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em defesa de Lula, Dilma ataca FHC por reeleição

Presidente rebate artigo no qual tucano diz que ela recebeu "herança pesada"

A presidente Dilma Rousseff rompeu ontem o clima amistoso com o antecessor Fernando Henrique Cardoso e rebateu, em nota, as críticas feitas no final de semana pelo tucano ao ex-presidente Lula e ao PT.

"[Lula é] um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse", disse em referência à mudança feita pelo Congresso que deu a FHC o direito de concorrer a um segundo mandato.

Dilma defende Lula e diz que FHC tenta reescrever história

Presidente afirma ter recebido "herança bendita", não país sob ameaça de apagão

Na declaração, que rompe clima amistoso, Dilma também critica alteração que permitiu 2º mandato a tucano

Flávia Foreque e Natuza Nery

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff rompeu ontem o clima amistoso com o antecessor Fernando Henrique Cardoso e, em nota, rebateu as críticas feitas pelo tucano ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT.

Em artigo publicado anteontem nos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo", FHC chamou de "herança pesada" o legado deixado por Lula para a sucessora.

Dilma respondeu em uma nota inusual em sua gestão, afirmando que o tucano, ao não reconhecer avanços da gestão do PT, tenta reescrever a história.

"O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento", disse Dilma.

Na nota ela afirma ter recebido do antecessor uma "herança bendita". "Não recebi um país sob intervenção do FMI [Fundo Monetário Internacional] ou sob a ameaça de apagão", numa referência ao discurso do PT sobre como Lula recebeu o governo das mãos de FHC em 2003.

E foi além. Disse que Lula é "exemplo de democrata" que "não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse."

A presidente se refere aos rumores de que Lula tentaria alterar a Constituição para ter um terceiro mandato e à mudança feita pelo Congresso, patrocinada por FHC em 1997, que garantiu ao tucano o direito de concorrer a um segundo mandato.

Relação

A nota destoa do clima amigável demonstrado entre o tucano, que governou o país entre 1995 e 2002, e a presidente, que assumiu em 2011 após oito anos de gestão Lula (2003-2010).

Em junho do ano passado, por exemplo, Dilma chamou FHC de "político habilidoso" e "arquiteto" do fim da hiperinflação. Meses depois, FHC chamou Dilma de "generosa" quando recebeu dela carta elogiosa pelos seus 80 anos.

Já no artigo de anteontem, FHC apontou como falhas da gestão Lula a "desorientação da política energética", em especial a gestão da Petrobras, e o atraso em projetos de grande impacto, como a transposição do rio São Francisco. Também falou de "crise moral", citando o escândalo do mensalão e a troca de ministros egressos do governo Lula, sob suspeita de corrupção.

"Houve mesmo busca de hegemonia a peso de ouro alheio", afirmou FHC sobre o mensalão.

O tucano também fez críticas ao PT ao atribuir à legenda parte da responsabilidade pelas demissões de ministros.

O Palácio do Planalto interpretou o artigo de FHC como uma tentativa de explorar uma divisão entre Dilma e Lula. Na avaliação interna, ou o governo respondia ou subscreveria as críticas do tucano. O PT gostou do gesto.

Segundo a Folha apurou com interlocutores do ex-presidente, Dilma telefonou a Lula e disse ter ficado irritada com o artigo de FHC.

Antes de saber que a sucessora divulgaria nota, Lula se preparava para responder. Só desistiu ao ser informado dos planos de Dilma, a quem agradeceu depois.

A presidente afirmou ter sido "citada de modo incorreto" por FHC. Nos seis parágrafos que compõem a nota, Dilma intercalou elogios a Lula e alfinetadas no tucano.

A presidente afirmou ter recebido um país "mais justo e menos desigual" e elogiou as "posições firmes" de Lula na política externa.

Em resposta, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que o PT "vai muito mal nestas eleições" e que "o ex-presidente Lula está correndo atrás do prejuízo." A Folha não conseguiu falar ontem com FHC.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ibope: afilhado de Campos lidera em Recife com 33%

Campanha de petista atribui problemas ao mensalão e espera Lula

Letícia Lins

RECIFE O candidato do PSB, Geraldo Júlio, assumiu a liderança da corrida pela prefeitura de Recife e pela primeira vez aparece como vencedor num eventual segundo turno, como mostra a quarta rodada de pesquisa Ibope, divulgada ontem. O socialista tem 33% das intenções de voto, 28 pontos a mais do que na primeira apuração, feita em julho. O senador Humberto Costa (PT), que liderava a primeira enquete com 40%, perdeu 15 pontos e agora está com 25%. Os números foram divulgados pela TV Globo, que encomendou a pesquisa com o jornal "Folha de Pernambuco". De acordo com o Ibope, Geraldo Júlio teria, ainda, 44% dos votos num segundo turno, contra 39% do petista. A ascensão do socialista também se refletiu na pesquisa DataFolha/TV Globo, na semana passada, em que ele havia subido 22 pontos, empatando em 29% com Humberto Costa.

Em julho, o socialista aparecia com 5% no Ibope. Subiu depois para 12% (em 3 de agosto), 16% (16 de agosto)e chegou agora a 33%. Duas semanas após a divulgação na TV de suas propostas de governo e da presença do governador Eduardo Campos (PSB) - seu padrinho político, come popularidade que chega a 71%, segundo o Ibope - nos programas do partido, e passou a liderar.

Humberto Costa estava à frente na primeira avaliação do Ibope, com 40%. Caiu para 35%, depois para 32% e está agora com 25%. Na TV, sequer cita o prefeito do Recife, João da Costa, de seu partido. A expectativa do PT, agora, é a presença de Lula em Recife, prevista para o próximo dia 13.

Coordenador financeiro da campanha do petista, o ex-deputado Dílson Peixoto disse, em entrevista à CBN, que o mensalão atrapalha:

- Estamos pagando um preço alto com o julgamento do mensalão. Quando acontece um problema com qualquer partido é Fulano de Tal. Quando ocorre conosco é o PT.

Campos apareceu ontem no programa eleitoral de seu candidato: "Escolhi um goleador, um artilheiro, alguém que sabe comandar tarefas, formar equipe, liderar e que só larga o trabalho quando termina". Humberto Costa afirmou que tem 30 dias para reverter as pesquisas, enquanto Geraldo Júlio atribuiu a ascensão às suas propostas.

A pesquisa revelou a queda de Mendonça Filho (DEM), que, em julho, tinha 20% e estava em segundo. Já o ex-verde e hoje tucano Daniel Coelho subiu de 9% para 15%. Votos em branco e nulos somaram 8%. A pesquisa, feita entre 31 de agosto e 1º de setembro, ouviu 805 pessoas e foi registrada no TRE sob o número 00094/2012.A margem de erro é de 3 pontos.

FONTE: O GLOBO

Em Recife, PT municipal pede socorro a Lula para reverter situação

João Domingos

O PT do Recife decidiu pedir socorro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois da divulgação da pesquisa do Ibope que registrou o vertiginoso crescimento do candidato do PSB, Geraldo Júlio, e a queda do senador petista Humberto Costa. A presença de Lula no Recife passou a ser exigida com urgência.

A assessoria do ex-presidente informou que ele não deverá fazer nenhuma viagem nesta semana. Mas, no Recife, há uma intensa movimentação nos bastidores da campanha de Humberto Costa para que Lula desembarque na cidade até a próxima semana para se encontrar com o senador. Para o deputado José Nobre Guimarães (CE), um dos coordenadores do grupo que cuida das eleições municipais no PT nacional, a situação no Recife preocupa, apesar da confiança numa virada pró-Humberto Costa, pois resta ainda mais de um mês para a eleição. "Recife é um dos nossos alvos estratégicos e vencer a eleição lá é muito importante."

Humberto Costa tornou-se candidato graças a uma intervenção feita pelo PT nacional no diretório local do partido. O atual prefeito, João da Costa (PT), foi acusado de fraudar a convenção que o escolheu candidato à reeleição.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'O PT vai mal nestas eleições', afirma Guerra

Denise Madueño, Eugênia Lopes

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), atribuiu às dificuldades eleitorais do PT a reação da presidente Dilma Rousseff ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no domingo, no Estado. O PT comemorou a nota de Dilma, pois a associação de programas adotados por ela com a política econômica do ex-presidente FHC sempre incomodou os petistas. "A situação é clara. O PT vai muito mal nestas eleições. O ex-presidente Lula está correndo atrás do prejuízo e a presidente deixa claro que não tem nada a ver com esse prejuízo", diz Guerra, em nota. Para ele, Dilma adotou comportamento bem distinto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Apesar de ter demitido quase metade dos ministros, de ter chacoalhado a Petrobrás, ela (Dilma) faz de conta que não houve nada, que os ministros que vieram do governo passado eram bons e as práticas de antes eram limpas, e que foi a força da gravidade que a fez mudar a diretoria da Petrobrás, não a constatação de que a empresa ia e continua muito mal. Nós entendemos a presidente. O importante é que a senhora trabalhe direito e não fique só nas palavras."

As manifestações de consideração e apreço de Dilma com FHC sempre causaram irritação aos petistas. "A presidente mostrou que tem um lado e é de Lula. A nota é para deixar claro que o projeto dela de desenvolvimento do Brasil é o mesmo do presidente Lula e não o de Fernando Henrique", disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). "O ex-presidente FHC tentou desconstruir Lula e obrigou a presidente a se posicionar, a um mês da eleição."

Ex-presidente do PT, José Dirceu usou pontos citados por FHC para rebater as críticas do artigo. "O ex-presidente tucano fala grosso e se assanha no que pretende ser um "julgamento" dos dois mandatos de Lula. Mas as pesquisas e as urnas continuam não lhe dando razão. Faz críticas totalmente sem sentido e autoridade."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em BH, Aécio contesta peso de Lula

Senador considera que se candidatura petista crescer um pouco será pelo capital político do partido em BH e não devido ao apoio do ex-presidente

Bertha Maakaroun

Marcio Lacerda fez corpo a corpo na Região do Barreiro na companhia do governador Antonio Anastasia e do senador Aécio Neves

O senador Aécio Neves (PSDB) procurou minimizar ontem o peso político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o eleitorado de BH. Depois de considerar "natural" que a candidatura do PT "cresça um pouco mais", Aécio atribuiu essa possibilidade não à presença do cacique petista na campanha de Patrus Ananias, mas a "um patamar de votos" que a legenda teria na cidade. "Lula é especial, meu amigo inclusive. Mas acredito que, na hora de decidir o voto, o mineiro tem tradição secular de construir o seu destino, de buscar as suas opções. Isso as pesquisas estão refletindo", argumentou.

Mesmo sem citar nominalmente ministros que estiveram na capital, como o da Saúde, Alexandre Padilha, e a da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, Aécio afirmou: "Por mais que ministros de estado e outras lideranças venham a BH, e serão sempre por nós muito bem recebidos, a decisão caberá ao eleitor mineiro. Como ocorreu em relação ao governador Anastasia, onde essas mesmas lideranças nacionais aqui vieram pedir voto ao nosso adversário e o Anastasia venceu a eleição no primeiro turno", observou Aécio Neves.

O governador Antonio Anastasia (PSDB) rebateu também a crítica de Lula durante comício na Praça da Estação, de que o estado estaria quebrado. "Vou me limitar a informar que há menos de um mês a agência internacional Standard & Poors, a mais respeitada do mundo, analisou as finanças de Minas e subiu a nossa avaliação", disse, repetindo o que Aécio havia dito anteontem.

As declarações do presidente nacional do PT, Rui Falcão, de que o partido percebe sinais de um eventual rompimento com o PSB para as eleições presidenciais de 2014, foram negadas pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB). "Não acho que seja verdade. Ele está procurando acirrar a militância do PT aqui, em Recife, em Fortaleza e em outros lugares contra o PSB. Mas isso é de certa forma terrorismo político, que acho que não cola, pois, até onde sei, o PSB tem compromisso com a presidente Dilma, o que ficou claro no encontro que os governadores do Nordeste tiveram com ela recentemente", ponderou.

Samba - Aécio e Anastasia participaram ontem, ao lado de Marcio Lacerda, de ato de campanha no Barreiro, onde visitaram as obras do Hospital Metropolitano. O prefeito justificou o atraso nas obras pela falência de uma das empresas vencedoras da concorrência e respondeu às críticas dos adversários pela demora na conclusão. "O importante é que vai ser entregue. Houve um pequeno atraso motivado por uma empresa que faliu, mas a obra está a todo vapor, com 150 operários. Já a partir de dezembro a segunda empresa que fará a finalização entra em paralelo com a que está trabalhando agora", informou.

Depois da visita ao hospital, Lacerda, Anastasia e Aécio fizeram corpo a corpo na Avenida Sinfrônio Brochado, onde cerca de 200 militantes o aguardavam. Lacerda chegou a sambar, ao lado vice, Délio Malheiros (PV), com eleitores.

Jingle - Lacerda comentou a decisão liminar da Justiça Eleitoral que suspendeu o jingle de sua campanha por repetir melodia já usada pela Prefeitura de Belo Horizonte. "É uma liminar que o juiz concedeu, contrariando decisões de outros dois juízes, também em nível de liminar. Vamos apelar, já mudamos o jingle, mas deixa o "Marcio trabalhar" continuará", afirmouw.

Debate - Foi tenso o debate entre os candidatos a prefeito de BH, ontem à noite, no Centro Universitário UNA. O prefeito Marcio Lacerda (PSB), que disputa a reeleição, foi o principal alvo dos adversários e reclamou dos ataques. O maior crítico não foi o candidato do PT, Patrus Ananias, que polariza a disputa com o socialista, mas Tadeu Martins (PPL). As torcidas dos candidatos ficaram exaltadas e foram contidas pelos coordenadores do debate, que ameaçaram retirar do auditório quem continuasse interrompendo e atacando a fala do adversário.

FONTE: ESTADO DE MINAS

DEM perde força na corrida em Fortaleza

Governistas sobem em pesquisa e ameaçam Moroni Torgan

Maria Lima

BRASÍLIa Sem padrinho para sustentar sua liderança nas pesquisas de intenção de votos, o ex-deputado Moroni Torgan, esperança de vitória para o DEM no Nordeste, está sendo ameaçado pelo rápido crescimento dos dois candidatos governistas Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT), na disputa pela prefeitura de Fortaleza. O petista cresceu após explorar apoio de Lula. Líderes da base que já davam a eleição como perdida, por causa do racha entre PT e PSB, agora apostam na polarização dos nomes do governador Cid Gomes (PSB) e da prefeita Luiziane Lins (PT).

Na pesquisa Datafolha/TV Globo do final da semana, Moroni, que chegou a ter 35% das intenções de votos, ainda está com uma boa vantagem mas vem perdendo pontos e caiu para 25%. Roberto Cláudio ganhou 11 pontos, saltando dos 5% para 16%; e Elmano de Freitas ganhou 12 pontos, pulando de 3% para 15%, passando de quinto colocado para a terceiro na disputa.

No caso do candidato petista, seu crescimento após duas semanas de campanha na TV é atribuído à vinculação maciça ao ex-presidente Lula, e não à prefeita, que tem rejeição superando a casa dos 70%.

- Elmano mostra Lula 24 horas por dia conversando com ele e dizendo como tem que governar. Lula neutraliza a rejeição de Luiziane. Elmano e Roberto Cláudio devem ir para o segundo turno - avalia o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), que apoia a candidatura do PSB.

A pesquisa Ibope de 30 de agosto repete o DataFolha. Comparando com a pesquisa dos dias 9 e 11, Torgan perdeu sete pontos percentuais, caindo de 31% para 24%. Roberto Cláudio dobrou sua intenção de voto, que foi de 8% para 16%. E Elmano ganhou oito pontos, foi de 6% para 14%.

Empate em Porto Alegre

Em Porto Alegre, pesquisa do Ibope divulgada no último sábado dá empate técnico entre a comunista Manuela D"Ávila (PCdoB) e o atual prefeito José Fortunati (PDT), com 37% e 35% das intenções de voto, respectivamente. Em terceiro, aparece o petista Adão Villaverde, com 5%. Roberto Robaina (PSOL) está com 1%. Os demais candidatos, Wambert di Lorenzo (PSDB), Érico Corrêa (PSTU) e Jocelin Azambuja (PSL), não pontuaram. Votos em branco ou nulos são 5% e não sabem ou não responderam, 15%. Num segundo turno, o Ibope mostra vantagem, dentro da margem de erro, da deputada: 42% contra 39% das intenções de voto. Brancos e nulos são 6% e não sabem ou não responderam, 12%.

FONTE: O GLOBO

Serra vai à TV dizer que não deixará Prefeitura

Em queda nas pesquisas, tucano aborda renúncia em 2006 na propaganda eleitoral

Isadora Peron

Depois da queda nas pesquisas de intenção de voto e do crescimento da rejeição à sua candidatura a prefeito de São Paulo, o tucano José Serra justificou na TV a saída da Prefeitura em 2006, um ano e três meses após a posse, para disputar o governo do Estado. "Vou ficar o mandato inteiro", afirmou. O depoimento tomou quase 30% do tempo a que tem direito: foram 2 minutos e 10 segundos de explicação.

Na propaganda, Serra diz que vem sendo constantemente questionado nas ruas sobre a renúncia e que compreende as dúvidas dos eleitores. Segundo o tucano, ele teve de concorrer ao governo estadual em 2006 para não deixar o PT vencer as eleições: "O governador (Geraldo) Alckmin não podia mais se reeleger, e o Estado estava ameaçado de cair nas mãos do PT, jogando fora a recuperação que vinha desde os tempos do (Mario) Covas".

No depoimento, ele também critica a gestão de sua antecessora, a petista Marta Suplicy (2001-2004). "Em 2005, quando assumi, encontrei a Prefeitura falida", diz, destacando que foi o responsável por colocar as "finanças em ordem".

A saída da Prefeitura já havia sido abordada indiretamente na primeira peça na TV, há duas semanas, quando Serra explicou por que gostaria de ser prefeito de novo. Após o mau desempenho nas recentes pesquisas - de acordo com o último levantamento Ibope, o tucano está tecnicamente empatado, em 2.º lugar, com Fernando Haddad (PT) -, dirigentes do PSDB começaram a cobrar abordagem mais direta do tema no horário eleitoral.

O programa de ontem também exibiu depoimento de Alckmin sobre a importância da parceria entre Estado e Prefeitura. Associar a imagem de Serra à do governador é outra forma de tentar reduzir a rejeição do candidato. No rádio, os dois últimos programas foram dedicados a um bate-papo entre os dois tucanos.

Discurso. Há alguns dias, o tucano deu sinais de que adotaria esse tom de discurso na propaganda eleitoral. Na sexta-feira, em entrevista à TV Estadão, Serra já havia afirmado que não abandonaria o mandato em 2014, nem para concorrer à Presidência. "Eu não vou de novo para presidente porque já fui duas vezes. Tem muita coisa para ser feita em São Paulo."

Anteontem, o tucano relatou que eleitores habituados a votar nele diziam que, desta vez, não pretendiam repetir a escolha por avaliar que o tucano não ficaria no cargo até 2016. Segundo Serra, o tema "se espalhou inclusive nos bairros onde a gente sempre ganha".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Partidos de cofre cheio

Previsão de verbas para o Fundo Partidário é recorde e pode ser ainda maior se a prática dos últimos anos se repetir

Leandro Kleber

Com dificuldades de arrecadação de dinheiro para tocar a campanha deste ano, os partidos políticos deverão ter verba recorde do Fundo Partidário em 2013. De acordo com a proposta orçamentária encaminhada pelo governo ao Congresso Nacional, na semana passada, as legendas terão R$ 232 milhões do fundo para custear despesas como manutenção de sedes, propaganda, campanhas e com as fundações ligadas às agremiações políticas. É o maior valor já proposto pelo Poder Executivo em uma peça orçamentária.

O montante, porém, pode aumentar. Os parlamentares devem apresentar emendas para adicionar recursos ao fundo durante a tramitação do projeto no Congresso. Pelo menos essa foi a prática dos últimos dois anos. Antes, a dotação original prevista não costumava ser alterada, mesmo que minimamente. A mudança ocorreu quando os partidos se mostraram endividados, por causa dos gastos nas eleições de 2010. Em 2011 e 2012, os deputados e senadores incharam o montante calculado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em, exatamente, R$ 100 milhões em cada exercício.

Agora, eles poderão repetir a dose, beneficiando a todos os partidos. Um dinheiro extra que poderá compensar a perda de receita decorrente do novo rateio dos recursos dos partidos determinado pelo TSE, no fim de junho, graças à criação do PSD. Mas já há quem se apresse em dizer que é contra qualquer adicional ao fundo. "Não há motivos para aumentá-lo, principalmente, no momento em que vivemos uma crise econômica. Votarei contra qualquer aumento, porque considero a ideia descabida", garantiu o deputado paulista Roberto Freire, presidente do PPS.

O PT foi a sigla mais bem contemplada com recursos do fundo este ano. De acordo com o TSE, o partido recebeu pouco mais de R$ 33 milhões até agosto; seguido do PMDB, com R$ 30 milhões; e PSDB, com quase R$ 24 milhões. O PSD, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, só ganhou R$ 405 mil, um dos menos beneficiados entre as 30 agremiações registradas. Mas o novo partido, que recebia a cota mínima de pouco mais de R$ 40 mil por mês, passará a receber, mensalmente, cerca de R$ 1 milhão. Siglas que "perderam" parlamentares para o PSD terão bloqueio de parte dos repasses nos próximos meses.

Quanto mais, melhor

O fundo partidário é constituído por recursos do Orçamento da União, multas, penalidades e doações. O dinheiro alivia as contas das siglas, apesar de muitas negarem que tenham dívidas. As agremiações usam o dinheiro para pagar pessoal e serviços de assessoria, além de bancar as estruturas estaduais e as fundações vinculadas às legendas. O tesoureiro do DEM, Romero Azevedo, avalia que o aumento do valor do fundo partidário "é bom para todo mundo". Segundo ele, o partido foi surpreendido com a decisão de junho do TSE, que obrigou os partidos a devolver recursos para que o tribunal fizesse uma redistribuição das cotas, levando em conta a entrada do PSD no espectro político-partidário. "Foi uma adequação. Teremos que devolver até 30% do que foi repassado "a mais" em julho e agosto. Essa é uma devolução inédita, que nos pegou de surpresa", reclamou.

Pelas regras, 5% do total do fundo são distribuídos, de maneira igual, a todos os partidos aptos que tenham estatutos registrados no TSE. O restante(95%) é distribuído proporcionalmente de acordo com os votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. O relator-geral do Orçamento da União de 2013, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e o relator da receita, deputado Cláudio Puty (PT-PA), não foram encontrados para falar se irão propor o aumento. Outros integrantes da Comissão Mista de Orçamento, procurados pelo Correio, evitaram falar sobre o assunto.

"Teremos que devolver até 30% do que foi repassado "a mais" em julho e agosto. Essa é uma devolução inédita, que nos pegou de surpresa" (Romero Azevedo, tesoureiro do DEM, sobre a redistribuição do dinheiro dos partidos com a criação do PSD).

Para dividir

Ano Valor do fundo partidário proposto noprojeto do Orçamento

2005 R$ 114 milhões
2006 R$ 130 milhões
2007 R$ 144 milhões
2008 R$ 194 milhões
2009 R$ 211 milhões
2010 R$ 200 milhões
2011 R$ 201 milhões*
2012 R$ 224 milhões*
2013 R$ 232 milhões
Fonte: Orçamento Brasil

*Os parlamentares aprovaram acréscimo de R$ 100 milhões aos valores mencionados acima

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Na cabeceira da pista - Dora Kramer

Gostar, o governador Eduardo Campos tem certeza absoluta de que o ex-presidente Lula não gostou de vê-lo lançar um candidato do PSB para tentar tirar a prefeitura de Recife das mãos do PT.

Mas, daí a dizer que a disputa levou os dois à antessala do rompimento político, o governador de Pernambuco já acha que é um exagero proposital fomentado por uma geração de petistas - na sua maioria paulistas - aflitos com os efeitos da fadiga de material materializada na situação nada promissora dos candidatos do PT às prefeituras das capitais.

Das 26 onde haverá eleição (Brasília não tem prefeito) as pesquisas indicam o PT com alguma folga na dianteira apenas em Goiânia.

No Recife perde o primeiro lugar para um candidato que Eduardo Campos tirou do zero, em São Paulo briga por uma vaga no segundo turno, em Minas fica distante do prefeito apoiado por Aécio Neves e, em dois dos cinco Estados que governa, Bahia e Sergipe, o PT é espectador da liderança do DEM nas respectivas capitais.

Eduardo Campos reconhece a si e ao seu partido (PSB) como um alvo preferencial dos petistas que, na opinião dele, "insuflam" Lula e tentam aprofundar uma cizânia que ao pernambucano não interessa no momento.

No oficial, tanto ele quanto seus correligionários não perdem uma chance de dizer e repetir apoio "fechado" à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

É uma posição de prudência. Coisa de quem tem consciência da desproporção entre a estrutura do PSB e a, no dizer de um aliado do governador, "briga de cachorro grande" desde muito posta no horizonte entre PT e PSDB.

Obviamente Campos não quer comprar confusão com Dilma nem com Lula, mas digamos que por ora manifeste mais simpatia pela presidente que pelo antecessor nas avaliações internas do PSB e nas conversas com petistas mais agastados com o alimento ao atrito originado da direção nacional, leia-se, São Paulo.

Por essas análises, o comando petista estaria levando o ex-presidente Lula a um acirramento que, a depender do desenrolar dos acontecimentos - vale dizer, do resultado das eleições, do curso da economia e da desconstrução ou reconstrução das relações entre PT e PSB - poderia levar o partido de Eduardo Campos a confirmar o que hoje é só uma hipótese. Ainda remota.

A frase síntese e intencionalmente enigmática foi dita recentemente pelo governador de Pernambuco numa roda restrita: "É preciso o PT ter muito juízo em relação ao que pretende fazer com o PSB, porque a depender disso pode haver movimentos pós-eleitorais que venham a ganhar força".

Entre eles se inclui aproximação maior com forças de fora do campo governista. Para quê? Não se fala abertamente, mas subentende-se uma mensagem relacionada à eleição presidencial de 2014.

Não necessariamente automática, mas indicativa do início de um processo de ocupação de um espaço aberto no esgotamento da dicotomia entre PT e PSDB a respeito do qual o eleitorado dá notícia por meio do desempenho de Celso Russomanno em São Paulo.

Colateral. Queira o bom senso que a surpresa geral e dos petistas em particular, com o rigor e a independência dos ministros indicados para o Supremo nos governos Lula/Dilma não tenha o poder de incluir o critério de fidelidade ao Planalto no processo de escolha dos futuros integrantes da Corte.

Se assim for, aumentará o interesse e a vigilância da opinião pública pelas sabatinas aos quais são submetidos os indicados no Congresso.

Note-se. No artigo que publica sempre no primeiro domingo do mês, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso incorporou ao seu vocabulário o "presidenta" como gosta, aos subordinados impõe e dos simpatizantes recebe a deferência de ser chamada a presidente Dilma Rousseff.

Dos tucanos é o único a prestar-lhe essa homenagem.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O pós-mensalão - Eliane Cantanhêde

Quem está no banco dos réus do mensalão é o PT, mas quem cai nas eleições de São Paulo é o candidato do PSDB, José Serra.

Isso só comprova que as eleições municipais, apesar de começarem a armar o jogo da sucessão presidencial, têm dinâmica própria, bem diferente da nacional. O que vale é a percepção do eleitor sobre quem é mais capaz de enfrentar o touro à unha: a saúde, a segurança, o transporte público.

O crescimento do petista Fernando Haddad não é surpresa, e o que deixa os analistas assanhados são a estabilidade de Celso Russomanno, do improvável PRB, e a queda de Serra, do imperial PSDB.

Até aqui, Russomanno surfou em duas ondas: primeiro, no desconhecimento de Haddad; depois, na rejeição de Serra. Ainda não se sabe até onde irá seu fôlego, se ele vai ou não morrer na praia.

Segundo Mauro Paulino, do Datafolha, 1/3 dos fiéis eleitores do PT que votaram em Marta Suplicy em todas as três últimas eleições para a prefeitura (2000, 2004 e 2008) hoje declaram intenção de voto em Russomanno. Corresponde a dez de seus pontos nas pesquisas e tende a voltar ao leito natural do PT, principalmente com a presença e a engenharia de Marta, que tem força ímpar na periferia e, enfim, mergulha na campanha de Haddad.

Muita água ainda vai rolar na eleição e convém resistir ao "adivinhômetro", mas já há constatações. Uma é que o abraço em Paulo Maluf fez muito menos mal a Haddad do que a aliança com Gilberto Kassab está fazendo a Serra. Outra é que Haddad é muito forte tanto para ser prefeito quanto para ser uma volta por cima do PT.

Nada como uma cara nova, uma família bem arrumada, um discurso diferente e um padrinho forte justamente quando o julgamento do mensalão encerra uma era e uma geração e começa outras. Inclusive no PT. Tomara que, dessa vez, para melhor.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT e PSDB temem que já seja tarde - Raymundo Costa

Esta é a semana decisiva para o candidato do PRB a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno. É possível que ele seja atacado até pelo PSDB, apesar do acordo de não agressão celebrado pelas duas legendas. Os comitês de José Serra (PSDB) e do ex-ministro Fernando Haddad (PT) têm boas notícias sobre seus candidatos. Os três estão em aparente empate técnico. Por isso todos reconhecem, embora não digam em público, que talvez já seja tarde demais para a virada: faltam apenas 33 dias para a eleição

Em 1988 foi assim: a oposição bateu o tempo inteiro em Luiz Eduardo Greenhalgh, vice na chapa de Luiza Erundina. Advogado de presos políticos era visto como um radical no meio militar e conservador, que ainda dispunha de grande influência naquele primeiro ano de governo civil. A oposição centrou fogo em Greenhalgh e esqueceu de Erundina. Quando se deu conta do erro cometido, não dispunha mais de tempo para reagir: a candidata já havia consolidado sua eleição, a primeira de um projeto do PT na capital industrial do país.

A semana dos ataques a Celso Russomanno começa agora e as campanhas dizem que têm farto material disponível. Aliás, essa é outra prova de que a oposição não esperava muito de sua candidatura, do contrário "as denúncias já estariam nas ruas". Elas sem dúvida ocorrerão, mas a torcida é que a eleição de 2012 não comece como terminou a de 2010, com um discurso religioso que ultrapassou os limites do bem senso. A discussão religiosa pode ser boa. A má discussão é que deve ser combatida. E o veneno já pode ser sentido em um ou outro discurso.

A 33 dias da eleição, PT e PSDB temam enfrentar a Haddad

As pesquisas diárias feitas pelos candidatos do PT e do PSDB dizem - a notícia é dos respectivos comitês - que Haddad continua crescendo, mas não na velocidade esperada pelo PT. O partido, no entanto, tem um canhão guardado no paiol do segundo turno: Dilma Rousseff.

Em São Paulo, Dilma já demonstrou que sua rejeição é inferior à de Lula. Basta comparar as eleições de 2006 e 2010. Na primeira, Geraldo Alckmin colocou uma frente superior a 3 milhões de votos sobre Lula: em 2010, Serra nem conseguiu chegar à casa do milhão.

Das últimas eleições em São Paulo, esta é a que, sem dúvidas, reserva mais surpresas. Russomanno, evidentemente, pode perder a eleição. Ela não estava mesmo nos cálculos de ninguém. Talvez apenas em seus sonhos mais secretos

Quando Russomanno rondava 6% de intenção de votos, o deputado estadual Rui Falcão, presidente nacional do PT, especulava com amigos sobre o futuro das eleições. Sobre o candidato do PRB, costumava brincar, mais ou menos nesses termos. "Como sempre, ele sairá na frente. Como sempre, terminará a disputa entre os últimos colocados".

Não era só o presidente do PT que estava convencido de que Russomanno não chegaria a lugar algum. Atualmente, com algum esforço, pode-se dizer que, mesmo perdendo a eleição, Celso Russomanno tornou-se um político maior que era em São Paulo.

O presidente do PT estava convencido da mesma coisa que todos os outros principais candidatos estavam pensando: o candidato do PRB jogaria como nunca e perderia como sempre. Falcão, particularmente, achava que a entrada de Lula faria Haddad decolar e Russomanno se liquefazer.

Não estava propriamente errado, como mostra o "sprint" do ex-ministro da reta final, quando Lula, com a voz um pouco melhor, entrou com mais determinação na campanha. Havia - e ainda há - dúvidas sobre o efetivo empenho de Marta Suplicy na campanha - no fim de semana passado ela cumpriu tudo o que prometeu a Lula, que foi até a senadora pedir o apoio a Haddad como, semanas antes, fora confraternizar na casa de Paulo Maluf.

É cedo para prever quem será o novo prefeito de São Paulo, embora falte pouco mais de mês para a eleição. O PT, por exemplo, ainda não atingiu o patamar que costuma alcançar na cidade, até os adversários já sabem, baseados em suas próprias pesquisas. As sondagens de Serra mostram que a promessa de não abandonar a prefeitura, feita em 2004, continua sendo devastadora para sua campanha.

O curioso é que isso não ocorreu em 2006, quando Serra largou a prefeitura para disputar o governo do Estado no lugar de Alckmin. Mas influiu bastante na eleição presidencial de 2010, quando ele novamente voltou a deixar um cargo público com pouco mais de dois anos de eleição. E a promessa que fizera fora a de que não deixaria a Prefeitura de São Paulo para disputar o Palácio do Planalto.

Mas alguma coisa acontece em São Paulo que não está claro para os candidatos, conforme eles próprios reconhecem. No programa de ontem à noite Serra tentou dar uma explicação para sua atitude, disse que as pessoas pediam na ruas. Uma explicação que não esconde a surpresa. A doença de Lula pode ter atrapalhado os planos do PT, que esperava estar melhor nas pesquisas. Mas Haddad pelo menos se moveu e dá a impressão de que encontrou a trilha do segundo turno. Resta saber se terá tempo de chegar até lá.

Falcão aparentemente estava certo com relação a Lula e Haddad, mas errou feito na avaliação sobre Russomanno. Ele e a maioria dos políticos de São Paulo, a começar pelo mais experiente deles, o tucano José Serra, até o noviço Gabriel Chalita (PMDB). Ninguém foi capaz de prever o inusitado crescimento de Celso Russomanno. O pior não é isso. O pior é que a disparada do candidato de PRB ainda agora deixa intrigados seus adversários. Há muita especulação e pouca certeza sobre a sorte da eleição.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O PT, de réu a vítima – O Estado de S. Paulo / Editorial

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, notório homem de confiança de Lula, perdeu uma excelente oportunidade de manter a boca fechada na última sexta-feira, em São Paulo, durante a solenidade de posse da nova diretoria da Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT: "Não vão destruir a imagem do PT", garantiu, referindo-se ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal, em consequência do qual os petistas começam a lamber suas feridas. "A ilusão de quem apostava muito no mensalão para destruir a imagem do partido não vai se verificar" (sic), prometeu aos jornalistas.

Na verdade, Gilberto Carvalho estava apenas fazendo eco ao coro lulopetista que, inspirado no princípio de que em política a melhor defesa é sempre o ataque, historicamente marcou a ação do PT nos episódios mais agudos de sua trajetória tanto como oposição quanto, na última década, como situação no plano federal. De fato, nos últimos dias o tema "destruição do PT" marcou manifestações públicas de suas principais lideranças. Lula, em comício em Belo Horizonte, onde tenta juntar os cacos da desastrada campanha pela prefeitura local, atacou seus adversários do PSDB e do PSB: "Faz parte da cabeça deles tentar destruir o PT". O chefão da companheirada, como se vê, continua julgando os outros por si, pois desde os primórdios de sua militância sindical pautou sua ação pelo objetivo de destruir os "inimigos", antes apenas "os patrões", depois todas as perversas "elites".

De qualquer modo, o que parece claro é a mudança de tom dos petistas diante do curso que está tomando o julgamento da Ação Penal 470. Agora pode pegar mal falar em "farsa do mensalão", antigo refrão predileto de Lula, porque pode haver quem deduza que os ministros da Suprema Corte estão sendo acusados de farsantes. É melhor, então, fazer o papel de herói-vítima, neste momento em que o julgamento do mensalão e a campanha municipal tendem a se imbricar e, inevitável e crescentemente, pautar a agenda política. E é com esse espírito que Lula subiu ao palanque em Belo Horizonte, construindo mais uma esmerada peça do seu repertório de autoglorificação: "Se morreu, enterra, vai embora e acabou", disse, referindo-se à sua doença. "Mas eu não podia viver sem fazer discurso. Estou feliz de estar aqui fazendo meu primeiro comício e dizendo para meus amigos que eu voltei e para meus inimigos que estou vivo e que meus adversários vão me ver muito tempo fazendo comício." Para quem não pode "viver sem fazer discurso", Lula demonstrou que está em grande forma: "O PT não é Lula, não é Dilma, não é Pimentel, não é Patrus. O PT é cada um de vocês". E uma multidão de 5 mil pessoas aplaudiu em delírio.

Mas o ministro Gilberto Carvalho exagerou. Sem poder contar com a "indulgência plenária" que beneficia o Grande Chefe escorado no lastro de enorme apoio popular, Carvalho tem a responsabilidade de ser ministro de Estado, o que, para dizer o mínimo, confere peso diferenciado a suas afirmações. Deveria, por essa razão, tomar mais cuidado ao desenvolver em público argumentos sub-reptícios como o que usou durante o evento da CUT para minimizar a importância da repercussão do julgamento do mensalão sobre a imagem do PT e de Lula, e consequentemente sobre as eleições municipais: "O povo conhece o governo Lula desde 2003 e, postos na balança esses problemas, o saldo é que a vida do povo melhorou".

Em português claro, o que Gilberto Carvalho quis dizer é que probidade, honestidade, escrúpulos na gestão da coisa pública são valores irrelevantes diante da evidência - que ninguém nega - de que houve efetivamente uma melhora no padrão de vida de contingentes importantes da população brasileira em função dos programas sociais nos quais Lula concentrou a ação governamental ao longo de seus dois mandatos na Presidência da República. Do que Gilberto Carvalho disse, pode-se depreender que, se o povo está satisfeito, os governantes podem meter a mão à vontade na coisa pública, subtraindo da população, por um lado, os benefícios que lhe concedem, por outro. É a típica pregação demagógica e populista que mergulhou o País no reino das aparências, do pão e circo.