segunda-feira, 22 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Cardeal Raymundo Damasceno: indiferença

Tampouco passará despercebido ao papa o recente contexto político-social protagonizado de maneira intensa pela juventude brasileira. Ainda ecoa em nossos ouvidos o clamor de centenas de milhares de jovens que, enchendo praças e ruas de nosso país, mostraram indignação com estruturas de poder e ações de governo que ferem a vida e desrespeitam a dignidade humana.

As recentes manifestações em nosso país são um sinal de que, diante da situação de sofrimento em que se encontram tantos brasileiros, os jovens não se deixaram contaminar pela cultura do bem-estar que leva à indiferença a respeito dos outros.

Cardeal Raymundo Damasceno Assis, 76, é arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). In “Francisco, a juventude e o Brasil”, Folha de S. Paulo, 21/7/2013.

Medicina em crise: Médicos vão à Justiça contra o governo

O Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou com ação civil pública contra a União para suspender o programa Mais Médicos, lançado há dez dias pelos ministérios da Educação e da Saúde. O conselho contesta a possibilidade de o governo contratar médicos estrangeiros sem que eles tenham de revalidar seus diplomas e comprovar o domínio da língua portuguesa

CFM recorre à Justiça contra o Mais Médicos

Ação civil pública exige que União suspenda programa

André de Souza

BRASÍLIA - O Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou com uma ação civil pública contra a União para suspender o programa Mais Médicos, do governo federal. O Conselho questiona a possibilidade de o governo trazer médicos formados no exterior sem que eles passem pela revalidação do diploma e sem a comprovação de domínio da língua portuguesa. O CFM também prometeu para os próximos dias novas ações judiciais atacando outros pontos do programa.

A ação foi proposta na sexta-feira na Justiça Federal. O CFM pede que, até uma decisão definitiva da Justiça, os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) não sejam obrigados a fazer o registro provisório dos médicos formados no exterior inscritos no Mais Médicos. Para conseguir o registro, defende o CFM, é preciso comprovar a revalidação do diploma e apresentar certificado Celpe/Bras, atestando o domínio da língua portuguesa.

Segundo o CFM, caso isso não seja feito, haverá riscos à saúde da população, principalmente para os mais pobres, moradores das regiões que serão atendidas pelo programa. "O ingresso de médicos estrangeiros no território brasileiro para serem "jogados" nos mais longínquos rincões ou mesmo nas periferias das regiões metropolitanas, sem nenhum controle de sua capacidade técnica, é uma atitude, no mínimo, temerária, para não dizer criminosa".

Segundo o CFM, sem a revalidação do diploma, o governo tem a intenção de permitir o exercício irregular e ilegal da Medicina no país.

Mas a portaria dos ministérios da Saúde e da Educação, publicada em 9 de julho, diz que "será aplicada avaliação para certificar que os médicos intercambistas possuam conhecimentos em língua portuguesa em situações cotidianas da prática médica no Brasil".

Segundo o Ministério da Saúde, os médicos estrangeiros selecionados passarão por capacitação de três semanas em instituições de ensino públicas, antes de começarem o trabalho. Essa fase terá carga horária mínima de 120 horas e abordará a legislação referente ao sistema de saúde brasileiro, ao funcionamento e às atribuições do SUS, além de língua portuguesa.

Outras entidades médicas, como a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e a Associação Médica Brasileira (AMB), fazem forte oposição ao Mais Médicos.

Governo faz mutirão

Ministros e secretários do governo estão rodando o país num esforço para promover o programa Mais Médicos e conseguir a adesão dos gestores municipais. Até amanhã, representantes de três ministérios deverão ter percorrido 11 estados, entre eles São Paulo, Minas, Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco. Estão sendo organizados encontros com prefeitos e secretários municipais de Saúde para tirar dúvidas.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem uma agenda de viagens cheia. Na sexta-feira, ele foi a Salvador. No sábado, estava em Montes Claros, Minas Gerais. Hoje, está previsto ir ao Pará e ao Maranhão. Amanhã, será a vez do Amazonas. Secretários do ministério também já foram ao Ceará e a Minas, e devem ir ainda a Pernambuco e São Paulo.

Balanço do Ministério da Saúde mostra que, até quinta-feira, havia 13.857 médicos inscritos, sendo que 11.147 se formaram no Brasil e 2.710, no exterior. Por nacionalidade, são 12.701 brasileiros e 1.156, estrangeiros.

Fonte: O Globo

Bolsa Família: Justiça arquiva inquérito

Juiz considerou relatório da PF, que concluiu que boatos foram espontâneos

BRASÍLIA - O juiz do 3º Juizado Especial Criminal de Brasília determinou o arquivamento da investigação criminal sobre os boatos envolvendo o programa Bolsa Família, que provocaram uma corrida dos beneficiários às agências da Caixa Econômica Federal (CEF) em maio. O inquérito criminal, conduzido pela Polícia Federal, apurava a autoria dos boatos sobre um possível cancelamento do programa.

O caso provocou repercussão depois que a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, acusou a oposição pelos boatos, provocando reação indignada de líderes de partidos como PSDB, PPS e DEM. O Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios pediu o arquivamento por não verificar "nenhuma comprovação idônea e adequada de que o crime em investigação tenha sido praticado e que a pessoa investigada, ou indicada pela vítima, tenha agido com culpa ou mesmo dolo".

O juiz acolheu o pedido de arquivamento, considerando as conclusões obtidas pela investigação da Polícia Federal. Semana passada, a PF concluiu que não houve responsáveis pelo boato. Em nota, a PF disse que não há ocorrências que possam configurar crime ou contravenção penal. E concluiu que o ruído foi espontâneo, a partir de uma decisão da CEF de antecipar o pagamento dos benefícios sem comunicar aos interessados. Segundo a PF, não se pode afirmar que tenha sido causado por apenas uma pessoa ou grupo.

A decisão da Justiça destaca o relatório final produzido pela PF, no qual conclui pela "inexistência" de elementos capazes de delimitar autoria e materialidade do suposto fato delitivo: "Segundo a polícia, não seria possível identificar um ponto de origem das notícias anônimas vinculadas ao benefício Bolsa Família divulgadas entre 18 e 19 de maio".

O juiz também negou o pedido da PF para que fosse decretado segredo de Justiça, pois alegou não haver motivos para sigilo. Ele permitiu acesso ao processo ao líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), e à diretoria jurídica da Caixa.

Fonte: O Globo

Veto de fundo estadual opõe PMDB a Dilma

Presidente da Câmara e líder do partido usaram Twitter para antecipar mais um round do embate com o PT; canetada da presidente pode ser derrubada

A votação do veto da presidente Dilma Rousseff a artigo do projeto que regulamenta regras de repasse ao Fundo de Participação dos Estados (FPE) já foi marcada para o início de agosto, assim que os parlamentares voltarem do recesso, e será um novo round do embate entre o governo petista e o PMDB.

Dirigentes do partido, incluindo o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o líder da bancada na Casa, Eduardo Cunha (RJ),usaram as redes sociais para dar o tom de enfrentamento com o Palácio do Planalto.

Alves avisou que a insatisfação generalizada com o veto indica que os parlamentares devem impor sua vontade perante a "caneta" da presidente e derrubar o veto. "Há uma tendência forte que sim (para derrubada)", avaliou o peemedebista.

No Twitter, Alves fez questão de registrar publicamente que o assunto ganhará destaque no Congresso. "Presidente Dilma veta partes importantes do projeto aprovado, pelo Congresso, do FPE. Decisão volta ao Parlamento. Hora de diálogo. Executivo e Legislativo", publicou.

Embora a derrubada de vetos seja apreciada em sessão conjunta do Congresso, Henrique Alves incluiu o assunto entre os destaques da pauta da Câmara do próximo mês, junto com o projeto que trata do uso dos recursos dos royalties para educação e saúde e o novo Código de Processo Civil.

Ao Estado,Alves afirmou ontem que adotará "posição de equilíbrio" na discussão sobre o FPE e disse que se oferecerá para mediar o impasse entre governo e Parlamento. "Nessa ma-téria ponderaria diálogo importante com o Executivo."

Na última semana, a presidente sancionou a nova lei de redistribuição de recursos do FPE e vetou a parte do texto que obrigava o governo federal a suprir o fundo com recursos que deixariam de entrar no caixa de municípios e Estados todas as vezes que a União fizesse políticas de desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Como o IPI vem sendo utilizado para estimular setores da economia, a arrecadação diminui e, por consequência, o repasse também.

"A União tinha e tem todo o direito de desonerar e a gente apóia essa política. Só que deveria fazer a desoneração dentro da sua capacidade de renúncia de arrecadação e não na parte de Estados e municípios", defendeu o líder do PMDB também no Twitter.

Adaptação. Cunha, que já havia passado a semana condenando o veto de Dilma, voltou à carga na rede social neste final de semana. Disse que Estados e municípios "não têm mais para onde correrem". Disse, ainda, que a derrubada do veto "não causará qualquer prejuízo na arrecadação da União". "Basta adaptarem as desonerações." Segundo o líder do PMDB, o objetivo dos parlamentares não é prejudicar o Orçamento da União. "Na realidade o que se quer é que cada um pague a sua conta", justificou. Chamado nos bastidores de "principal líder da oposição", Cunha disse que a postura do PMDB será de coerência e não de confronto com o Planalto. "Não tem qualquer conotação de rebeldia. E não é nada contra o governo, apenas um entendimento de uma bancada que tem o maior número de prefeitos do País."

Regra nova. Vetos presidenciais voltarão a ser apreciados sistematicamente no Congresso a partir de agosto. Os parlamentares aprovaram neste mês uma resolução que estabelece a apreciação, a cada 30 dias, dos vetos ocorridos a partir de i.° de julho de 2013.

Além da questão dos vetos, outros temas já geraram embates entre lideranças do PMDB e a articulação política do governo neste ano. Um dos pontos mais polêmicos foi a votação da Medida Provisória dos Portos.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também virou protagonista do confronto ao se recusar a apreciar duas MPs (a que reduzia as tarifas de luz e a que desonerava os setores varejista e da construção civil) por falta de prazo, o que provocou atrito direto com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT).

O PMDB também não se entende com o governo sobre o plebiscito para reforma política e a redução do número de ministérios. Ao jornal Zero Hora, o vice-presidente da República, Michel Temer, disse considerar "razoável" diminuir as 39 pastas no governo Dilma. Cunha já coletou assinaturas para iniciar a tramitação de uma proposta que extingue 14 ministérios.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos assume acordos por palanques

Discretamente, Campos almoça e janta com políticos e empresários para alavancar candidatura à Presidência; PSB quer candidatos em 12 Estados

Angela Lacerda

RECIFE - A dois meses do prazo final para filiações partidárias, o PSB intensifica negociações e contatos na busca de alcançar sua meta em 2014: lançar candidatura própria ao governo de 12 Estados e viabilizar alianças para uma eventual candidatura do governador de Pernambuco e presidente nacional do partido, Eduardo Campos, à Presidência da República.

Sem alarde, Campos recebe políticos e empresários, para o almoço ou jantar. O governador já recebeu, por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab por duas vezes e recentemente conversou com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Além de criar as condições para um voo solo de Campos, o PSB faz acordos para eleger maior número de governadores e aumentar a bancada.

"No momento, estamos trabalhando com menos holofotes, nos bastidores, e aprendendo com as ruas, dialogando com várias áreas: universidade, agricultura, indústria, movimentos sociais", afirmou o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), para quem, depois das manifestações das ruas e da queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff, "o jogo está zerado" Ele avalia que "muita gente que estava agarrada na taça do "já ganhou" (reeleição da presidente) está repensando."

"Deu uma desarrumada geral no Planalto, há um novo cenário e um quadro novo a ser prospectado", destacou o líder.

Campos mantém uma rotina de conversas com membros da Executiva Nacional do partido, que articulam a formação de palanques, pelo menos uma vez por semana. "Onde o Eduardo não pode ir, alguém de nós vai", disse Albuquerque.

Era digital. Antes marcado pelo "é possível fazer mais", o discurso do presidenciável Eduardo Campos foi acrescido de um novo mantra. depois do recado das ruas: "governo digital". G governador tem pregado a necessidade de um "governo digital" rápido e ágil em. substituição ao ultrapassado "governo analógico", Na prática, já busca dotar o governo de Pernambuco de ferramentas que criem maior interação com a sociedade e com as redes.

Uma proposta de "governo virtual" está sendo estudada por especialistas, Na semana passada, o governador afirmou que "quem não acompanhar as mudanças reivindicadas pela sociedade nas ruas será substituído pelo voto direto nas próximas eleições".

Vidraça. As cobranças das ruas fizeram o governador mudar algumas práticas. Depois de a oposição anunciar que vai"investigar os gastos de mais de R$ 5 milhões com viagens aéreas custeadas pelo Estado, Eduardo Campos anunciou a decisão de dar mais transparência às informações. Publicou um decreto estadual determinando que dados sobre os voos (custos e passageiros) de autoridades devem constar na internet.

Flerte antigo com Kassab

O diálogo entre Gilberto Kassab e Eduardo Campos começou em 2011. Quando o ex-prefeito de SP articulava a criação do PSD, chegou-se a cogitar no melo político a possibilidade de fusão do novo partido com o PSB de Campos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Resolução do PT cobra mudanças no governo

Documento do partido sugere reforma ministerial e ajustes na área econômica

Petistas criticam política de alianças de Dilma; texto será submetido à direção executiva da sigla

Catia Seabra Gabriela Guerreiro

BRASÍLIA - Em documento discutido anteontem em reunião de seu diretório nacional, o PT defende a reforma ministerial e ajustes na política econômica entre as prioridades do governo Dilma Rousseff para o segundo semestre.

A Folha teve acesso ao texto, que ainda depende da aprovação do comando executivo petista. Dilma seria homenageada no evento em que o documento foi discutido, mas cancelou sua ida na véspera para participar de reunião sobre a visita do papa.

A resolução prevê a continuidade dos protestos que mobilizaram o país em junho até 2014, ano da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. O partido entende que "nada indica que haverá refluxo das manifestações principalmente em ano eleitoral".

Numa prova de apreensão com a disputa do ano que vem, o comando do PT admite a realização de dois turnos na disputa pela Presidência.

"Sabemos ter pela frente um período de intensa luta política e ideológica, incluindo aí dois turnos de eleições presidenciais, para governo, Senado, deputados federais e estaduais", diz o texto, que será aprovado na próxima reunião da Executiva Nacional e ainda poderá sofrer modificações.

No documento, a cúpula do PT cobra a reaproximação dos movimentos sociais e mobiliza sua militância para recuperar a credibilidade da sigla e das instituições políticas, com a participação no "Grito dos Excluídos" no dia 7 de Setembro e nas organizações programadas para a segunda jornada de lutas da juventude", em agosto.

Os manifestantes que foram às ruas em junho rejeitaram a participação de partidos políticos. "As manifestações instalam e abrem já, aqui e agora, a disputa pelo futuro do Brasil. Por isto exigem novo tempo para o governo Dilma, para o PT e para os partidos aliados", diz o documento.

O texto afirma que os protestos mostram que há um "esgotamento e deterioração" de parte das atuais instituições políticas, o que inclui as alianças firmadas pelo PT desde o governo Lula.

Alianças

Mesmo sem citar o PMDB, principal aliado do governo, o documento cobra o rompimento com parceiros chamados de "conservadores".

"Vitoriosos nas eleições de 2002, mas sem condições de formar uma maioria parlamentar de esquerda, o PT e o governo tiveram de executar uma política de reformas baseada em alianças cujos parceiros não se dispunham, nem se dispõem, a romper com os limites da institucionalidade conservadora", diz a resolução.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), reclama da atuação dos aliados, inclusive o PMDB.

O PT e Dilma viram governistas barrarem dois dos "cinco pactos" divulgados no mês passado como resposta às ruas: o plebiscito sobre a reforma política com efeito nas eleições de 2014 e a destinação de 100% dos royalties do petróleo para educação.

O documento cobra ainda que Dilma faça um balanço de dez anos das ações do governo contra à corrupção, assim como o lançamento de um plano de combate ao crime.

Fonte: Folha de S. Paulo

Rede de Marina consegue validar 100 mil assinaturas em cartórios

SÃO PAULO - A Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva trabalha para criar, conseguiu validar em cartórios eleitorais 100 mil assinaturas de apoio, um quinto das cerca de 500 mil de que precisa para sair do papel.

Coordenadores da sigla afirmam que já foram coletadas 800 mil assinaturas, mas muitas acabam descartadas por problemas nas informações fornecidas pelos eleitores.

A Rede estima que conseguirá dar entrada no Tribunal Superior Eleitoral, com 500 mil assinaturas validadas, em meados de agosto.

Para que Marina consiga disputar a Presidência em 2014, o partido precisa ser formalizado até outubro, um ano antes das eleições.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma tenta conter 'volta Lula' no PT

O Palácio do Planalto articulou com a cúpula do PT a movimentação do Diretório Nacional do partido no sentido de enfraquecer internamente o deputado federal Cândido Vaccarezza (SP). O objetivo principal era frear o crescente sentimento petista de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cena eleitoral em 2014.

Ex-líder do governo Lula, posto que manteve com a presidente Dilma Rousseff até ser defenestrado em março de 2012, Vaccarezza, como dizem seus correligionários, é o mais pemedebista dos petistas. Se por um lado é pragmático ao extremo e afeito aos acordos que destravam nós políticos e regimentais no Congresso, por outro encampa as críticas que o PMDB faz contra Dilma com muita facilidade. Em suma: acha seu governo fraco, na política e na gestão.

A forma como levar adiante a reforma política foi mais uma de suas discordâncias com o governo que, dada a conjuntura de manifestações e a popularidade ladeira abaixo de Dilma, considerou sua posição anti-plebiscito e pró-referendo uma afronta.

Ocorre que o próprio Lula tinha avalizado o caminho escolhido por Vaccarezza para a reforma, mediante votações no Congresso a serem submetidas posteriormente a um referendo popular. Na avaliação que fizeram em conjunto, tanto o prazo para viabilizar um plebiscito já para 2014 era inviável quanto a falta de apoio na base, submetida de forma unilateral e sem consulta prévia com o tal pacto pela reforma política.

Foi então que, em um jogo combinado, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), muito próximo a Vaccarezza e também contra o plebiscito, nomeou o petista para coordenar os trabalhos da comissão da reforma política. No alto de seus 42 anos de mandato ininterruptos, fez, claro, seu cálculo político. Nomear Vaccarezza significava desestabilizar o PT, a quem atribui o vazamento de informações sobre seu voo para o Rio em avião da FAB com familiares para a final da Copa das Confederações. Afinal, o nome natural da bancada petista era o de Henrique Fontana, que se dedica ao tema desde 2011, como presidente da comissão especial da Câmara.

A partir daí, houve vários outros movimentos dentro do PT para reagir, e marcar posição, sobre o caso, todos eles presentes na reunião do diretório nacional sábado. A Mensagem ao Partido, corrente de Fontana que tem o deputado Paulo Teixeira (SP) como candidato a presidente da legenda, reuniu assinaturas e soltou uma nota contra Vaccarezza. Tentou ainda, no encontro de sábado, sem sucesso, destituí-lo da comissão.

O objetivo era angariar apoio interno e tentar retomar o protagonismo perdido na bancada, hoje controlada pela corrente Construindo Um Novo Brasil (CNB), a mesma de Vaccarezza, do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR), e do líder da bancada, José Guimarães (CE).

Para bloquear esse movimento, Guimarães também soltou uma nota dizendo que as ideias de Vaccarezza não representam a da bancada e que o nome petista na comissão da reforma política era o de Ricardo Berzoini (SP), da CNB, já que Fontana desistira de participar. A nota teve apoio de Rui Falcão, presidente do PT e candidato à reeleição pela CNB. O cálculo político foi justamente o de anular o movimento da Mensagem e de Paulo Teixeira, ainda que isso custasse sacrificar Vaccarezza e contrariar parte da CNB que não queria vê-lo sendo atacado. São, como ele, defensores do "volta, Lula". Em outra manobra para enfraquecer a Mensagem, a CNB também cuidou de, no sábado, flexibilizar regras de filiação partidária aprovadas no último Congresso Nacional do PT.

O partido ainda aprovou resolução com críticas ao conservadorismo dos aliados por serem contrários ao plebiscito. O texto ainda não havia sido divulgado até às 21h de ontem, mas de acordo com um petista que participou da sua elaboração, fala de apoio à reeleição de Dilma e da necessidade de recompor a base.

Assim, todo o barulho parece ter surtido mais efeitos no jogo interno petista na medida em que antecipou a tensão da disputa de novembro. Para fora, o aparente objetivo de todos, descartar Vacarezza, não foi alcançado. Com respaldo do PMDB, continuará a coordenar os trabalhos da comissão da reforma política, embora diga que também defenderá o plebiscito. Na quarta-feira, lança portal para colher sugestões de internautas. No mesmo dia, está prevista a retomada da agenda de comemorações dos dez anos do PT no poder. Lula e Dilma estarão juntos em Salvador.

Fonte: Valor Econômico

Vida política e estado democrático de direito - Raimundo Santos

Dimensão da civilização brasileira, a vida política se ativa à medida que seus protagonistas se diversifiquem na esfera pública. O primeiro Império teve durante sua “revolução de 1848” conservadora protestos e rebeliões sociais dissidentes da ordem social restritiva; o segundo foi agitado pelas controvérsias e mobilização eleitoral da Campanha Abolicionista (Nabuco, 1885). No começo do século XX, eclodiram vários movimentos, cada um a sua maneira expressando a diferenciação do país (greves operárias, pregação civilista, levantes da juventude militar, Semana da Arte Moderna, Coluna Prestes).

Em 1930, uma coligação de elites de oligarquias agrárias ligadas ao mercado interno tomaram o poder lideradas por Getúlio Vargas. Em aliança com setores médios de extração urbana, Getúlio iria dar curso à ampliação do Estado brasileiro (Vianna, 1976), abrindo-o aos agentes econômicos sua estrutura e serviços. Getúlio desencadeou um processo modernizador que levaria ao industrialismo ao tempo que modulou a área operário-sindical mediante revolução corporativa e interditara no mundo rural qualquer movimento vindo de baixo.

Vargas deparou-se com oposições, como a da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma articulação frentista que atuaria até 1935. A partir de 1943, ano do Congresso dos Escritores, emergiram formações em defesa da democratização do país, sendo exemplos a União Democrática Nacional (UDN) e os Comitês de Ação, criados por militantes comunistas como lugar de aproximação entre correntes partidárias, grupos sociais e entidades sindicais, como testemunha um deles, Manuel Batista Cavalcante (cf. Cavalcante, 1983).

Após a destituição de Vargas, o governo transitório do Presidente do Supremo Tribunal Federal José Linhares, no seu curto tempo (29 de outubro de 1945 a 1º de fevereiro de 1946) agiria visando estabilizar a redemocratização então posta num quadro instável (cf. Prado Jr., 1945 in Iumatti, 2007). “1945” também foi o ano de mobilizações em todo o país para eleger os constituintes da Carta de 1946. Eleito o general Dutra presidente da república no final de 1945, seu governo (1946-51) será autoritário. O retorno de Getúlio Vargas pelo voto, empossado na Presidência da República em janeiro de 1951), abre uma fase de dinamismo político. Entretanto, Getúlio governará sob dura oposição da UDN e viverá crises que o levariam ao suicídio no dia 25 de agosto de 1954.

Na sequência, crescem convergências em época de eleição presidencial, posse e governo heterogêneo de Juscelino Kubitschek. Começava ali propriamente a formação de uma frente única nacional e democrática, logo posta à prova durante o governo reformista do João Goulart. Ela será derrotada em 31 de março de 1964, quando os militares destituíram Jango e violaram a Constituição de 1946, pondo fim à breve tentativa de revolução burguesa no Brasil. O 31 de Março era mais do que um golpe de Estado, pois significara, como diziam os pecebistas, uma alteração profunda na “forma de dominação estatal” (cf. PCB, 1965). A partir de maio desse ano, o PCB passaria a usar a noção “regime de 1964” como parâmetro para pensar o caminho da resistência democrática (para os pecebistas, as liberdades eram o centro das atividades oposicionistas, ibid).

Instalado o novo regime no começo de abril de 1964, a seguir, em 1965, ele perderia as eleições para governador em Minas Gerais e na Guanabara, derrota que já sinalizava dificuldades para ir adiante. Esse ano seguinte ao 31 de Março era o ano em que correntes políticas se articulavam para criar o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1967, surgiu a Frente Ampla com o objetivo de aproximar lideranças que haviam tido atitudes divergentes no contexto que levara ao 31 de Março -- Carlos Lacerda, Juscelino e Jango --, mas logo seria ilegalizada.

Nos anos 1966, 1967 e 1968, o regime viu diante de si oposição advinda de ambientes da cultura (intelectualidade, teatro, literatura, cinema, jornalistas etc.) e dos estudantes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e da UNE que se mobilizariam até a passeata dos 100 mil, quando foi baixado o Ato Institucional n. 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968.

Com essa nova “revolução institucional” (era como Florestan se referia ao pós-AI-5, cf. Fernandes, 1975), os dirigentes do establisment mergulharam o país na fase mais negra da ditadura. Entretanto, por meio da política -- e de forma pacífica --, a resistência seguiria buscando os que discordavam (total ou parcialmente, a um ou mais aspectos) da orientação econômica do regime, e os que denunciavam a repressão do Estado policial do AI-5.

Nos anos de chumbo, não obstante os obstáculos, prosseguiria o trabalho de estruturação de uma frente democrática ao redor do MDB. Seu ponto alto foi a anticandidatura de Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho, da Associação Brasileira da Imprensa (ABI), às eleições indiretas para presidente da república em 1973. A peregrinação dos anticandidatos em defesa das liberdades se estenderá a muitos pontos do país. A frente única do MDB protagonizava uma verdadeira guerra de posições gramsciana, em condições sumamente adversas.

Começava o “degelo” da sociedade civil (Cardoso, 1973-74; 1975). De sua movimentação parecia, a algumas áreas intelectuais, estar emergindo um novo protagonista nacional. Subiam à surperficie outras ativações oposicionistas vindas, novamente da esfera cultural, do variado associativismo de classe média, urbano, operário-sindical (na região do ABC paulista) e sindical-rural.

Da anistia de 1979 em diante, a frente emedebista continuará induzindo dinamismo à vida política. Iria animar as ruas e o país com as “Diretas Já!”. Derrotado este movimento, uma larga concertação elegerá Tancredo-Sarney no Colégio Eleitoral em 1985, por fim derrotando o regime de 1964.

Em relação ao governo do Presidente Sarney, que teve aspectos positivos, como a remoção do entulho autoritário, e outros muito criticados, principalmente na economia e na área social, registramos apenas que mobilizações de diversos tipos pressionaram o seu governo heterogêneo. A Constituinte de 1987 espelhou na redação da Carta Cidadã as resistências da frente emedebista e de outros partidos e correntes de oposição, e foi extensa em matéria de direitos e combate às desigualdades, expressando as várias dimensões da vida nacional.

Este mesmo padrão de convergência para agir, com fins políticos dirigidos ao conjunto da sociedade, seguiria nas mobilizações político-partidárias, de ambientes transclassistas e dos “Caras pintadas” que exigiram o impeachment do presidente Collor de Melo, vivendo momento de vida politica ativa. Dai em diante, segue a história mais recente e próxima de todos nós.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não atenta para o sentido dessa longa trajetória, especialmente a do tempo contemporâneo, quando protagonistas convergentes desenvolveram atividades associadas à conquista, preservação, recuperação, alargamento e institucionalização constitucional das liberdades democráticas, ativando a vida política. Em momentos difíceis, como no tempo do MDB, partido sem economia, como disse um sociólogo, e longe das benesses governamentais, muito contribuiu para acrisolar entre nós uma cultura de valores democráticos, marcante em consideráves ambientes do seu tempo e viva até hoje.

Tampouco reconhece que a política e os partidos podem se ampliar cada vez mais sob Estado democrático de direito; aliás, terreno no qual o PT tornou-se socialmente forte e por demais competitivo nas eleições. Lula fez má escolha quando abandonou os referênciais característicos da sua base sociopartidária originária (interesses de trabalhadores e de variados contingentes organizáveis) e vem tentando impôr ao país, em nome do social, imaginário autorreferido à sua própria figura.

Não é questão menor o fato de o PT ser um partido sem teoria, como já foi observado. Sua ideia do “nós e “eles” tem sido fator eleitoral decisivo, notadamente na campanha da sua reeleição. As pregações do ex-presidente da ideia de divisão do país ao meio vem se naturalizando no seu campo de influência (popular, partidário, em entidades, inclusive entre intelectuais). A pretensão autojustificada de homongenizar a sociedade (representação exclusiva dos pobres, demonização das privatizações tucanas, menosprezo pela política e pelo Congresso, insistência no controle da imprensa) expressa relação ambígua com a democracia política e descompromisso com o Estado democrático de direito.

O regime de 1964, fazendo alusão apenas neste ponto do relacionamento com o mundo político, enganou-se quanto à eficácia da política. Tudo fez para esvaziar os partidos mediante cassações de mandato, suspensão de direitos políticos e restrições a suas movimentações e às competências do Congresso, reprimindo as correntes de esquerda. Dizia que iria limpar o país da corrupção, lançando esta segunda (depois da subversão) acusação persecutória às forças derrotadas em 1964. Os dirigentes do regime recusaram-se a ver que a vida política vinha se ativando seguindo a complexidade do país, e que ela reagira às tentativas de modelação da sociedade em diversos momentos, na Era Vargas por exemplo, e por certo estava resistindo ao seu autoritarismo. Não acreditavam que o mundo político, combalido no tempo pós-64, mais tarde viria a derrotá-los.

Agora na Era Lula, a cooptação assumiu nível desconhecido, incorporando, como já foi dito, tudo que era vivo ao governo. Os dois governos do presidente Lula aprofundaram o enfraquecimento da classe política, sendo o Mensalão exemplo maior da busca apolítica de controle dos partidos e do Congresso.

Convocadas pelos jovens, as passeatas de junho tiveram o seu ponto alto no dia 20, quando mobilizaram mais de um milhão e meio de manifestantes em muitas cidades, sendo o contingente mais volumoso o do Rio de Janeiro. Nesse dia se concretizava seu protesto de opinião pública com profundo impacto na vida nacional, lembrando a narrativa de O Manifesto Comunista quando diz que no curso transformador da revolução burguesa: “Tudo que é solido se desmancha no ar”. As passeatas de junho vieram mostrar o quão dissociada está a sociedade do seu Estado perfilado na Constituição de 1988. A Carta de Ulisses Guimarães não teve ainda implementados instrumentos de aproximação da democratização social à democracia política.

Logo após a passeata de 20 de junho, um dos jovens de São Paulo disse com clareza que, a partir dali, caberia à sociedade lutar, ela própria, para resolver os seus problemas, como se veria, à sequência daquele memorável dia, na presença de diversos setores sociais com demandas as mais variadas nas ruas e nas mídias.

As jornadas juvenis de junho também erosionaram aquilo que, após mais de 10 anos, parecia inamovível, quando as coisas, até então, estavam sob domínio do establisment governamental, inclusive já ganha a eleição presidencial de 2014 por antecipação. Tudo vinha se parecendo com uma sedimentação sólida da base sociopartidária e do stablisment.

De repente, os protagonistas do establisment viram-se ante outro curso, real, mas incompreensível para suas balizas ideológicas. Interpelados pelos acontecimentos de junho, eram levados pelos fatos a mover-se (como numa circunstância de revolução passiva, teorizada por Gramsci). Se fossem adeptos do Estado democrático de direito, essa era hora de fazer política como tal, olhando – conscientemente -- para a realidade, como a tradição da nossa esquerda clássica do tempo contemporâneo{1}.

Como se postam fora desse estilo de agir segundo previsão e perspectiva, revelaram-se impossibilitados de interpretar as passeatas de junho. Procuraram, por assim dizer, trocar os fatos e seguir com seu pragmatismo, até ali bastante exitoso. Ensaiaram conduzi-los, sabendo duvidosos os movimentos, operando no plano da sagacidade e dos apelos ao imaginário do social, entendidos por eles como política. A rigor, não fazem política (seus métodos dela se dissociam em não poucos pontos), agem com o olhar posto na sua reprodução continuada (gestos seus indicam que não aceitam a alternância no poder com tranquilidade).

Assim, a questão perigosa do momento subsequente ao dia 20 de junho e ainda hoje são as posturas do principal ator, o governo com seu enorme poder. A Presidente da República atua como se estivesse em campanha, recorrendo a meios que, desde o começo, introduzem mais instabilidade à situação. Abalada pelo dia 20, anunciou medidas emergenciais em um pacto de cima para baixo com os governadores e prefeitos das capitais. E lançou a ideia da Constituinte exclusiva para a reforma política sem prévio conhecimento dos executivos chamados a Brasília. Recuou da Constituinte exclusiva, proclamou um plebiscito, voltou à Constituinte e agora quer novamente o plebiscito, com essas operações buscando tornar-se defensora autorreferida do “ouvir o povo” e da consulta popular que estaria sendo recusada pelos partidos e pelo Congresso.

Não se sabe o que ainda virá desse campo que quer transformar a reforma política na questão mais importante do presente visando confinar a baixa representatividade nos partidos e no Congresso. Evitando ser parte do que ruiu naquele dia, a Presidência da República apresenta fórmulas a uma reforma política vocacionada a beneficiar os grandes partidos e às máquinas partidárias, a liquidar os pequenos partidos, especialmente os de esquerda, e a criar entraves para os novos partidos (em particular, a Rede da ex-senadora Marina da Silva). Nesta movimentação também busca conservar a hegemonia petista, até aqui sustentada na aliança principal com o PMDB. Se tem como certa sua reprodução em 2014, como a tinha pouco tempo atrás, agora se esquece do “DNA político” daquele partido antigamente chamado de MDB.

A mística personalista, a tática das alianças de conveniência e da campanha eleitoral como ação midiática estão trincados. Resta ao estabilisment navegar em águas turvas guiados por uma ideologia corporativizada, estranhamente diversa da originariamente calcada na defesa de interesses de trabalhadores e de outros contigentes sociais, de um tempo para cá transformada em um imaginário de base social dispersa.

De onde virá racionalidade que sobrepasse esse mar encapelado? E que, à sequência da eleição de 2014, encaminhe o país a viver uma fase de transição a um momento de pleno Estado democrático de direito sem veleidades messiânicas pairando sobre a vida nacional? A situação atual é boa, pois consideráveis contingentes das classes médias e grande parte da opinião pública, se já há algum tempo se ressentiam, em dias de junho abriram dissidência mais clara com o sistema da Era Lula.

Para surpresa dos partidários da antipolítica, essa racionalidade poderá vir do interior do mundo político ora interpelado pelos acontecimentos de junho.

De onde mais?

Com habitat no terreno do Estado democrático de direito, correntes desse mundo político reativado apresentam no Congresso soluções positivas aos reclamos das ruas e também estão em andamento iniciativas de partidos da oposição dirigidas à eleição presidencial, reações sujeitas à avaliação, agora em 2013 e sobremaneira em 2014. A vida política se amplia sob o Estado democrático de direito ao mesmo tempo que este se estende a toda a sociedade e a todos os territórios se temos um país com uma vida politica bem ativa.

O terreno, aqui neste país, tem sua maior riqueza não só no bom lugar nas economias mundiais, mas nas nossas diversidades socioculturais, das esferas estatais e de governos (federal, municipais e estaduais), da extensa malha de sociabilidade (ONGs, voluntariado e assim por diante) e das mídias. Estas diversidades indicam que este momento é momento da política compromissada com a democracia política e da aceitação do Estado democrático de direito sem reservas.

{1}O PCB, mesmo com debilidade teórica, desde 1958 buscou compreender a circunstância para orientar suas ações.

Referênciais bibliográficas

Cavalcante, Manuel Batista. Memórias, inéditas, Campina Grande, 1983.
Cardoso, Fernando Henrique. Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.
Fernandes, Florestan. A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975
Iumatti, Paulo T. Diários de Caio Prado Júnior: 1945. São Paulo: Brasiliense, 2007.
Nabuco, Joaquim. Discursos de Joaquim Nabuco. Recife – Eleições de 1884. Rio de Janeiro: Tipografia de G. Leuzin & Filhos, 1885.
PCB, Resolução política do Comitê Central do PCB, Rio de Janeiro, 1965.
Vianna, Luiz Werneck. Sindicato e liberalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

Raimundo Santos é professor da UFRRJ e autor do livro Agraristas políticos brasileiros. Brasília: Nead/Fundação Astrojildo Pereira, 2007.

O legado de Armênio, agora - Luiz Sérgio Henriquez

O título remete à serenidade e, indiretamente, à ideia de revolução e luta pelas liberdades, e o livro em si fala de um personagem que, nascido em 1918, nos dá a honra de ser seu contemporâneo, depois de ter acompanhado parte conspícua das batalhas pela democracia segundo a ótica de um pequeno, mas importante, partido da esquerda contemporânea. Refiro-me ao relato de Sandro Vaia sobre a vida de um comunista singular (Armênio Guedes - sereno guerreiro da liberdade, Barcarolla, 2013), cuja leitura convida simultaneamente a uma reavaliação do passado e a uma posição no presente - esta última sempre tão difícil de tomar, se é que, como diz o filósofo, a ave da sabedoria só levanta voo ao escurecer e, por isso, estamos humanamente condenados a travar os combates do dia com uma consciência tão só parcial e muitas vezes enganosa.

O partido, naturalmente, é o PCB, criado no significativo ano de 1922, prenhe de acontecimentos que assinalariam a modernidade brasileira. Entre seus quixotescos fundadores, Astrojildo Pereira, intelectual fora dos padrões convencionais, admirador e estudioso arguto de Machado de Assis - paixão que o acompanharia pela vida afora e muitas vezes o salvaria da aridez sectária tanto na política quanto na literatura. Armênio chegaria ao "partido" - assim entre aspas, como se fosse "o" partido por antonomásia e todos os demais não passassem de ficção ou figuras casuais - em circunstância diversa e posterior, por ocasião da mobilização antifascista que também iria abalar internamente o Estado Novo e propiciar, logo em seguida à redemocratização de 1945, o curto período de legalidade do PCB.

Astrojildo e Armênio se cruzariam na história partidária, já então profundamente marcada por um traço específico do nosso país - a admissão da ala esquerda do tenentismo, simbolizada na figura de Luís Carlos Prestes -, bem como por uma característica generalizada dos velhos partidos comunistas - a adesão à União Soviética e ao corpo doutrinário que daí se irradiava para os demais partidos "irmãos", o "marxismo-leninismo".

Tempos de ferro e fogo, de clandestinidade, prisões e exílios. E também de enrijecimento dogmático, de cisões e excomunhões estrepitosas, como, para dar o exemplo canônico, as que acompanharam a denúncia dos crimes de Stalin e do seu sistema de poder, no já distante ano de 1956.

Prestes e Armênio - uma visão que tendia a soluções militares, marcada por uma assimilação positivista do marxismo, e outra que tendia a valorizar a política e os recursos da democracia, em cujo cerne estão a dissuasão, e não a força, o consenso, e não a coerção. O mais tradicional e moderado dos partidos da esquerda chegaria cindido a 1964. "No embate entre Jango e seu mais feroz opositor, o governador Carlos Lacerda, da UDN, Prestes achava que o PCB podia ficar no meio da briga e sair ganhando o poder que sobraria depois da mortal briga entre os dois lados." Armênio e muitos outros, ao contrário, tiveram consciência imediata do alcance histórico da derrota e do salto de qualidade que o capitalismo iria conhecer entre nós, na sequência dos idos de março de 1964.

Debilitado pelas sucessivas cisões de quadros que iriam fazer a luta armada - Marighella, Gorender, Mário Alves -, o velho PCB, apesar de tudo, acharia forças para prestar um último e decisivo serviço à democracia brasileira, ao tornar-se "linha auxiliar do MDB" e apostar na crescente discrepância entre o arbítrio do regime dos atos institucionais e o resíduo de legalidade que se manifestava na competição eleitoral e no movimento associativo, mesmo sob severos condicionamentos. Uma estratégia que apontava, desde o início, para a derrota do regime discricionário mediante a obtenção de ampla anistia e, fundamentalmente, de uma Carta democrática - esta mesma a que lealmente nos devemos referir em todos os momentos, especialmente nos de crise e incerteza, como o que ora atravessamos.

Eis-nos, como dissemos no princípio, antes de um novo e iluminador voo da coruja, a nos haver não só com o legado de Armênio, como também com os problemas um tanto opacos do presente. Movemo-nos num ambiente em que o mundo virtual - num indício, talvez, de verdadeira mudança antropológica - facilita enormemente a difusão do anseio por uma "democracia direta" que, segundo seus adeptos radicais, eliminaria a mediação institucional e os organismos estáveis da representação.

Além do fato de o mundo virtual também estar atravessado de boas e más possibilidades, podendo gerar, no limite negativo, um "assembleísmo eletrônico" com todos os vícios do assembleísmo tradicional, resta a evidência de que a esquerda hegemônica não parece ter pela Carta de 1988 o apreço a que devem sentir-se convocados todos os cidadãos. Alguns dos seus dirigentes veem a crise como ocasião para "enfrentar a direita e levar o governo para a esquerda", ainda que, a rigor, não tenham nenhum projeto alternativo de País ou de sociedade. Enxergam o conflito social legítimo como oportunidade de processos constituintes espúrios ou plebiscitos mal-ajambrados, que supostamente reuniriam um Executivo ainda mais hipertrofiado e a massa da população, fora ou dentro das redes sociais - mas sempre ao largo das instituições.

Num paradoxo só aparente, o caminho da fidelidade às regras do jogo democrático, como poderia ter sido em 1964 e como se patentearia nos anos da resistência, continua a ser a via mestra das mudanças substantivas, sem aventuras ou saltos no escuro. No velho PCB, em circunstâncias muito mais difíceis, pôde germinar um reformismo como o de Armênio Guedes. A esquerda hegemônica, hoje, está desafiada a fazer o mesmo: hic Rhodus, hic salta, diria conhecido pensador. E já não seria sem tempo.

Tradutor e ensaísta. É um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil e vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira (FAP)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Validade - Aécio Neves

Durou menos de 24 horas a validade das declarações da presidente da República na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, assegurando que a inflação não é motivo de preocupação e que as contas públicas estão sob controle.

O cenário descrito na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada no dia seguinte, é outro --a inflação continua elevada e resistente, exigindo máxima atenção.

A ata também contradiz a presidente em relação às contas públicas. Enquanto a primeira mandatária garante que a "política fiscal é robusta", o Copom vê o "balanço do setor público em posição expansionista", com crescente elevação dos gastos públicos, o que acaba elevando a pressão inflacionária.

O documento cumpre ainda a missão de mostrar algumas verdades importantes.

A presidente verá que se engana atribuindo as críticas ao seu governo ao pessimismo generalizado da oposição, dos empresários e da imprensa. A preocupação de inúmeros setores decorre, na verdade, de reiterados erros da política econômica. Nos últimos dois anos, a inflação do setor de serviços manteve-se acima de 7,5% ao ano. A inflação dos alimentos, aquela que atinge e penaliza as famílias mais carentes, chegou, em junho deste ano, a quase 13% --muito acima da inflação média.

Se a prévia de julho felizmente veio menor, a explicação está na sazonalidade dos preços dos alimentos e no congelamento das tarifas de transporte, resultante dos movimentos de protesto em junho, e não na política econômica.

No que tange às contas públicas, o investimento federal, nos dois primeiros anos do governo ficou estacionado como percentual do PIB. De janeiro a maio deste ano, o gasto público do governo federal cresceu R$ 40 bilhões, uma expansão de 13%, o mesmo ritmo de crescimento dos primeiros cinco meses de 2012. No mesmo período, o crescimento do investimento público, de acordo com dados oficiais divulgados pelo Tesouro Nacional, foi de só R$ 604 milhões.
Vale dizer: apesar do crescimento exponencial do gasto federal, o investimento ficou praticamente estagnado. A expansão concentrou-se nas despesas de custeio, que pressionam a inflação, apontan- do uma menor economia fiscal no futuro.

O principal mal causado ao país por essa sucessão de equívocos está sinalizada no parágrafo 21 da ata do Copom com todas as letras: o documento aponta como fator de restrição à retomada do crescimento a desconfiança das famílias e das empresas no governo e em sua política econômica.

Sem confiança, as famílias não consomem, os empresários não investem e a economia não anda. Sem o diagnóstico correto, a terapia pode acabar agravando a doença.

Aécio Neves, senador(MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Fala, Francisco! - Ricardo Noblat

“Como eu adoraria uma Igreja pobre para os pobres” - Papa Francisco, em 16 de março de 2013

“Algo aconteceu com nossa política, ficou defasada em relação às ideias , às propostas. As ideias saíram das plataformas políticas para a estética. Hoje , importa mais a imagem que o que se propõe. (...) Endeusamos a estatística e o marketing. Participar da vida política é uma maneira de honrar a democracia. Seria necessário distinguir entre a Política com P maiúsculo e a política com P minúsculo ”.

CIDADANIA. “A sociedade política só irá resistir se a satisfação das necessidades humanas for a nossa vocação. Esse é o papel do cidadão. (...) As pessoas são sujeitos históricos, o que significa cidadãos e membros da nação. O Estado e a sociedade devem gerar condições sociais que promovam e atuem como guardiãs de seus direitos, permitindo que sejam construtoras de seu próprio destino”.

DIGNIDADE. “Não existe uma única violação da dignidade de um homem ou de uma mulher que possa ser justificada por qualquer outra coisa ou ideia. Nem uma única. (...) Quando uma pessoa ou um povo vende sua dignidade, ou a barganha, todo o resto perde consistência e deixa de ter valor”.

VERDADE. “Em uma sociedade na qual as mentir as , os disfarces e a hipocrisia fizeram com que as pessoas perdessem a confiança básica no contrato social, o que poderia ser mais revolucionário do que a verdade?” .

MARGINALIZAÇÃO. “Antes, em nossa sociedade, podíamos falar de opressores e oprimidos. Com o tempo, notamos que essa categorização não era suficiente, havia que acrescentar mais uma, a de incluídos e excluídos. Hoje em dia, a coisa ficou muito mais selvagem, e temos que acrescentar outra antinomia : os que entram e os que sobram. Nesta civilização consumista, hedonista, narcisista, esta-mos nos acostumando ao fato de que certas pessoas são descartáveis”.

NEOLIBERALISMO. “A crise socioeconômica e o consequente aumento da pobreza têm suas origens em políticas inspiradas por formas de neoliberalismo que consideram o lucro e as leis do mercado como parâmetros absolutos acima da dignidade das pessoas ou dos povos. (...) Na predominante cultura neoliberal, o externo, o imediato, o visível, o rápido, o superficial: estes ocupam o primeiro lugar , e o real cede terreno às aparências”.

GLOBALIZAÇÃO. “A globalização que uniformiza é essencialmente imperialista e instrumentalmente liberal, mas não é humana. Em última instância, é uma maneira de escravizar os povos. (...) A globalização, como uma imposição unidirecional e uni-forme de valores, práticas e bens, anda de mãos dadas com a imitação e a subordinação cultural, intelectual e espiritual”.

PÁTRIA. “A pátria é o patrimônio dos pais, o que recebemos daqueles que a fundaram. São os valores que nos entregaram em custódia, mas não para que os guardemos em uma lata de conserva, e, sim, para que, com o desafio do presente, os façamos crescer e os lancemos à utopia do futuro. Esse é o nosso patrimônio”.

RELIGIÃO E POLÍTICA. “Pensar que o poder é impor o meu caminho, alinhar todo mundo e fazê-los andar por essa trilha me parece errado . Agora, se concebo o poder de uma maneira antropológica, como um serviço à comunidade, é outra coisa. A religião tem um patrimônio e o põe a serviço do povo , mas, se começa a se misturar com politicagem e a impor coisas por baixo do pano , transforma-se em um mau agente de poder . (...) Algumas pessoas me dizem: ‘Padre, os políticos não estão fazendo nada ’. Mas e você , o que está fazendo? Se não faz nada, então grite ”.

Fonte: O Globo

Francisco e as ruas - Valdo Cruz

Em dimensões diferentes, o papa Francisco e o mundo político brasileiro enfrentam desafios bem semelhantes: suas instituições se desconectaram das vozes das ruas e correm o risco de serem destronadas. Uma, a médio e longo prazos. Outra, a curtíssimo.

Se os governantes brasileiros, Dilma Rousseff à frente, têm sangria de popularidade, pondo seus projetos de poder sob perigo no ano que vem, a Igreja Católica só fez perder fiéis nos últimos anos, como mostrou a pesquisa Datafolha --os católicos são hoje 57% dos brasileiros, bem abaixo dos 75% em 1994.

Daí que, nesse contexto, ganha relevância para lá do simbólico a vinda do papa ao Brasil. Pode ser uma oportunidade única de início de transformações na vida dos rebanhos de católicos e de eleitores.

Primeiro papa latino-americano, Francisco assumiu o comando da Igreja Católica como um sopro bendito de renovação. Talvez seja a pessoa, isso mesmo, pessoa, não santidade, certa para o momento de questionamentos do catolicismo.

Hoje espírita, nasci em família católica e tive intensa atividade na igreja entre os 15 e os 25 anos. Em grupos ligados à ala progressista, participei de trabalhos sociais na periferia de Belo Horizonte. Meu grupo era tachado de comunista pelo padre da nossa paróquia.

Nossos líderes, entre eles o saudoso padre Toninho Haddad, foram perseguidos e afastados de nós. Como os dogmas da igreja já não tocavam mais meu coração e mente, acabei dela me afastando.

Quando Francisco foi escolhido, confesso ter sentido saudades dos dias de católico. Só que tomei caminho sem volta, mas torço para que o pontífice consiga, de fato, resgatar a opção preferencial pelos pobres.

Seus bons exemplos indicam ser esse seu rumo e objetivo. Algo bem em falta entre os políticos brasileiros --de direita, centro e esquerda. Enfim, talvez o papa e as ruas, juntos, operem milagres por aqui.

Fonte: Folha de S. Paulo

Votos religiosos e políticos - José Roberto Toledo

Em tempos de visita do papa Brasil, a pesquisa Ibope/Estadão sobre a sucessão presidencial revela como se misturam as crenças políticas e religiosas:

1) Os católicos são 60% do eleitorado nacional. Os evangélicos crescem a cada eleição e já são responsáveis por praticamente 1 a cada 4 votos. Todas as outras religiões somadas, mais os agnósticos e ateus, chegam a apenas 16% dos eleitores.

2) Dilma Rousseff (PT) vence Marina Silva (sem partido) por 32% a 19% entre católicos. No mesmo segmento, Aécio Neves (PSDB) chega a 13%, e Eduardo Campos (PSB) tem 5%.

3) Evangélica, Marina empata tecnicamente com Dilma entre os evangélicos: 28% a 29%. Campos vai a 7%, e Aécio desce a 11% nesse grupo.

4) Entre adeptos de outras religiões, ateus e agnósticos, está 26% para Dilma, contra 21% de Marina. Quase um empate técnico.

5) Dilma pode aproveitar o encontro com o papa Francisco para pedir uma bênção. Desde março, a maior queda da intenção de voto na presidente foi entre os católicos: perdeu 29 pontos.

6) Mesmo assim, o perfil do eleitorado de Dilma continua sendo mais católico do que a média: 2 em cada 3 eleitores que declaram voto na presidente seguem o catolicismo.

7) Uma das principais razões para a predominância do voto católico em Dilma é geográfica. A presidente só não caiu mais porque manteve uma força eleitoral acima da média no Nordeste, justamente a região mais católica do Brasil.

8) O maior crescimento de Marina nos últimos meses foi entre os evangélicos: ela ganhou 11 pontos entre eles.

9) O grupo dos sem-religião ou adeptos de outras religiões tem menos fé nos candidatos a presidente: 1 em cada 4 diz que vai anular ou votar em branco.

10) Não faria nada mal a Campos descolar uma indulgência do papa. Nem que fosse pelo Twitter. Ele é o presidenciável com menos católicos em seu rebanho. Só não pode exagerar na carolice para não afugentar eleitores sem religião e de outros credos, entre os quais vai melhor do que os rivais.

11) Como já ocorrera em 2010, Marina vai melhor entre evangélicos: 1 em cada 3 eleitores seus é dessa fé. Mas ela está conquistando um público mais ecumênico do que lograra conquistar há três anos. Com um eleitorado ideologicamente eclético, questões de fé são cada vez mais espinhosas para Marina.

12) A fé, mas de um outro tipo, é o que ainda mantém Dilma à frente. Ela só lidera por causa dos petistas. Tem 61% dos simpatizantes do PT, mas perde de Marina entre os militantes de outras siglas, inclusive do PMDB, e empata com a rival no maior grupo, o dos eleitores sem preferência partidária.

13) A crença no PT está em baixa, porém. Caiu a 22% do eleitorado - um vale fundo pelo qual o petismo não passava desde a crise do mensalão, oito anos atrás. Mesmo assim, segue sendo a igrejinha mais frequentada entre todos os partidos - quase 5 vezes mais do que as do PMDB e do PSDB,

Voto exclusivo. Um. dos melhores indicadores da pesquisa Ibope/Estadão é a taxa de voto exclusivo dos candidatos a presidente. Ela é calculada a partir do potencial de voto, excluindo-se da conta os eleitores que dizem que votariam com certeza em mais de um presidenciável. O que sobra é o núcleo duro do eleitorado de cada candidato. Dilma lidera, com 24% de eleitores que só votariam nela. São proporcionalmente mais velhos, menos instruídos, mais pobres, moram em pequenas cidades e se concentram no Nordeste. Marina tem 12%, Aécio tem 8%, Campos e Joaquim Barbosa têm 3% cada.

Essas taxas confirmam a maior probabilidade de um segundo turno Dilma versus Marina. Mas mostram também como o cenário é volúvel e propício a mudanças repentinas: metade dos eleitores admite, hoje, votar em mais de um candidato - ou em nenhum deles.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Qual o rumo do governo? - Renato Janine Ribeiro

Que repercussões os recentes protestos terão nas eleições de 2014? A pesquisa divulgada esta semana pela CNT mostra que Dilma Rousseff continua líder, mas com só um terço dos votos, enquanto Marina Silva garante 20%, seguindo-se Aécio Neves, com 15%, e fechando a fila com Eduardo Campos e seus 7,4%. É uma escadinha. Assim Dilma ainda pode se reeleger, com certa dificuldade, mas os tucanos ficariam fora da final pela primeira vez desde 1989. Só que tudo pode mudar.

Pode mudar, mas há parâmetros novos: Dilma tem pouco mais do que o piso petista. Os votos adicionais, que desde a campanha de 2002 permitiram uma sucessão de vitórias do PT, foram embora. Já Marina pode ter apenas um soluço de popularidade. Ela não ofende, soma em vez de agredir e seu discurso é o mais próximo das manifestações de rua. Mas seu partido é, parte por convicção, parte por fragilidade mesmo, pouco sólido para assegurar um bom desempenho em 2014 - até porque, segundo a sabedoria convencional, ele precisaria de palanques nos Estados, ou seja, como já afirmei aqui, necessita assegurar a governabilidade antes, e não depois, das eleições. Eduardo Campos bem pode desistir, porque não sei se lhe interessa concorrer para ter menos de dez por cento dos sufrágios; isso pode comprometer projetos futuros. Resta Aécio.

Neste momento, se Marina é a challenger moral de Dilma, porque une todos os atributos para propor outro rumo ao País, Aécio é seu desafiante político. Pode estar atrás dela - e isso é normal, dado o protagonismo que Marina alcançou - mas tem os governadores, prefeitos e parlamentares que escoram uma campanha eleitoral. Quando sonhos e utopias cederem lugar ao feijão e ao fator prosaico da política, os tucanos avançarão nas pesquisas. O tempo da usura e do desgaste milita em seu favor. Basta não cometer erros maiores - e já vimos que Aécio não os fará. Pode falhar, mas não errar. Explico: Serra errou, por agressividade. Aécio demorou a assumir posições, não se projetou ainda como presidenciável para valer, mas a restrição a ele não vai além do "ainda", o que, para um político jovem e cheio de vida, não constitui um problema maior.

Assim, na hora de ver quem ganhou e quem perdeu com a mudança no panorama político desde o dia seguinte ao Dia dos Namorados, dá para dizer: perderam Dilma e o PT, que podem se recuperar, mas terão que dar duro; ganha Marina, mas o que em teatro se chama um "succès d"estime", um sucesso de crítica, que não necessariamente se traduz em sucesso de público: é a vitoriosa moral; e ganham os tucanos.

Isso é curioso. Dos quatro presidenciáveis que citei, quem mais apareceu foi Marina Silva, seguida de Dilma Rousseff, que não podia se omitir quando entraram em cheque seu governo e partido. Mas o possível beneficiário político da crise é justamente - assim como Eduardo Campos - quem menos falou, porque talvez menos tivesse a dizer, sobre o clamor popular.

Agora, o que fica interessante é que tanto Marina quanto Aécio colocam a necessidade de uma nova agenda para o País, a do pós-Bolsa Família, como ele a chamou. Com efeito, os programas petistas mais populares, essa bolsa e o Pró-Uni, são medidas emergenciais contra a miséria e a injustiça social; ora, como ficará o País depois que sair da emergência? Quando as políticas - justamente - do PT tiverem levado o Brasil a uma normalidade, a uma saúde social, o que terão os candidatos a propor? Aqui me parece estar a questão quase fatal posta a cada um dos aspirantes ao Planalto.

Mesmo a falha na questão prejudica, em vez de ajudar, Dilma. Se é fato que os muito pobres e miseráveis passaram de 100 a 50 milhões no governo Lula, o problema é que as dezenas de milhões faltantes são as mais difíceis de retirar da grande pobreza. Portanto, a agenda petista não caducou. Continua sendo necessário erradicar a miséria. Mas já não está em jogo o destino de metade dos brasileiros, e sim de um quarto. Para os outros, novas agendas são necessárias. Aécio propõe a criação de novos empregos graças ao setor privado. Marina faz uso da ambiguidade da palavra "sustentável" - que nasce para tratar do verde, porém se pode aplicar a tudo, até mesmo à sustentabilidade de uma empresa no plano econômico, o que, sozinho, nada tem em comum com a ecologia - para sugerir uma revisão radical da economia e da sociedade. É a candidata, é o partido (ou Rede) mais utópico - e mais intelectualizado. Mas, enquanto isso, Dilma tem que formular sua proposta para o "day after" à pobreza, ao mesmo tempo que precisa continuar a erradicá-la. Jornada dupla de trabalho...

Para dificultar as coisas, seus antecessores deixaram marcas claras e populares. FHC concluiu a luta contra a inflação iniciada por Itamar Franco. Lula virou a política brasileira pelo avesso com a inclusão social. Mas qual é a marca de Dilma? Mesmo suas iniciativas mais fortes, como a redução na taxa de juros, trazem críticas sérias. Estamos naquele momento difícil em que qualquer movimento do cobertor mais expõe ao frio do que protege do calor. Propostas tão diferentes entre si como o plebiscito e o Mais Médicos geram efeitos negativos de tudo o que é lado. Será um problema de comunicação, como atiladamente observou Jânio de Freitas? Ou será mais fundo: de concepção? Não está claro o que o governo pretende. E a inércia das coisas, que até meados de junho favorecia a reeleição, agora a submete a um bombardeio cerrado. A boa fortuna de Dilma é que ela tem algum tempo - não muito, mas talvez o bastante, se mostrar "virtù" suficiente, para desenhar uma marca a aplicar às coisas.

Renato Janine Ribeiro, professor da USP

Fonte: Valor Econômico

O direito à saúde e a presença dos médicos estrangeiros - Marcus Pestana

Qualquer pesquisa de opinião demonstra que o acesso à saúde de qualidade é o principal problema do país na visão da maioria dos brasileiros. A pesquisa Datafolha, feita nos dias 27 e 28 de junho, confirmou essa realidade. Em resposta espontânea e única, 48% dos brasileiros elegeram a saúde como prioridade número um.

À distância vieram educação (13%), corrupção (11%) e segurança pública (10%).

O Brasil fez uma aposta ousada e generosa em 1988. O SUS deveria oferecer acesso universal e integral de qualidade como direito de cidadania.

Vinte e cinco anos depois, o SUS entra em seu período de maturidade exibindo avanços inegáveis, sucessos relativos, gargalos visíveis, demandas crescentes e insatisfações represadas.

Vivemos, nesta abertura de século XXI, uma combinação explosiva: direitos amplos, recursos escassos, judicialização extrema, custos crescentes, gestão insuficiente.

Não há como negar, o problema central é o subfinanciamento da saúde pública. Investimos, no Brasil, menos que países latino-americanos e muito menos que os países avançados e que a própria saúde complementar.

Diante dos protestos de rua, o governo Dilma sacou uma suposta solução mágica para os males do SUS: importar médicos. A polêmica se instalou. O déficit de médicos é real. Temos 1,8 profissionais para cada mil habitantes. Enquanto isso, México tem 2; Reino Unido, 2,7; Argentina, 3,2; Portugal, 3,9; Espanha, 4; e Cuba, 6,7.

A entrada de médicos estrangeiros tem que ser abordada sem corporativismo, xenofobia, açodamento ou viés ideológico.

Muitas vezes, os vazios assistenciais em regiões pobres e distantes se devem à precarização do trabalho médico, à falta de carreiras estruturadas e de condições dignas de trabalho. É preciso formar mais profissionais, descentralizar as escolas de medicina, estruturar uma carreira nacional do SUS, introduzir incentivos para a interiorização, apostar nas estratégias de telemedicina e educação permanente à distância.

Enquanto as medidas estruturantes de longo prazo não são tomadas ou não surtem efeito, não há mal em contarmos com apoio de médicos estrangeiros, tendo claro que essa questão não é mais importante do que a do subfinanciamento. O mesmo governo que derrotou os 10% das receitas federais para a saúde é que alardeia a importação de médicos como medida salvadora para todos os males do SUS.

Defendo a necessidade obrigatória da revalidação dos diplomas, como garantia da qualidade no atendimento, e a preferência para os médicos brasileiros. E, em contraposição a medidas improvisadas, demagógicas e paliativas, como a surpreendente proposta de extensão por mais dois anos do curso de medicina, creio que temos que apostar em soluções definitivas, como a estruturação da carreira nacional do SUS, a organização de verdadeiras redes assistenciais integradas e a aprovação imediata dos 10% dos recursos federais para a saúde.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG

Fonte: O Tempo (MG)

Boato que não foi boato - Paulo Brossard

Se, em 2012, as projeções quanto ao PIB começaram em 3,3% da economia nacional, esta acabou crescendo menos de 1%, 0,9% para ser preciso; como no ano anterior, no início do ano em curso, as projeções andavam em 3,3%, mas não demoraram em cair para 2,4%, e a tendência é de repetir o resultado de 2012. Para isso concorrem vários fatores, em primeiro lugar está a situação que amarga a indústria; por conta da inflação, por três vezes aumentou-se a taxa de juros, agora em 8,5%. E se é verdade que a senhora presidente, em uma de suas diárias divagações televisionadas, assoalhou que a inflação está contida e deve chegar ao fim do ano segundo a meta estabelecida, o fato certo é que o Banco Central praticamente anunciou o próximo agravamento senão os necessários agravamentos da taxa de juros, o que importa em dizer que o impacto inflacionário tem resistido às medidas anti-inflacionárias.

Esses dados servem para indicar os aspectos escuros da realidade nacional, cujas provas chegam aos feixes; sua confirmação está até na repentina descoberta de desnecessidade de 14 dos 39 ministérios. Em verdade, ninguém ignorava essa gritante anomalia, mas agora até em áreas oficiais houve quem percebesse que o rei estava nu – e disse o que muitos não queriam ver. A consequência desse fato não é irrelevante, pois dele resultou a possibilidade da exclusão da senhora presidente no primeiro turno da eleição presidencial; sua reeleição, até então tida como pacífica, hoje não passa de mera possibilidade, quiçá remota.

Mudando de assunto ocorre-me registrar declaração do ministro da Fazenda, hábil em misturar temas para desfazer-se de alguns incômodos; em lugar de ocupar-se da reforma tributária, reclamada desde muito, esgueirou-se para distritos da denominada reforma política, misturando-a com plebiscito, e deixando no esquecimento a primeira das reformas, diretamente relacionada com o ministério que dirige. De repente, com engenho e arte, referindo-se às denominadas desonerações tributárias, aproveitou para dizer que elas, durante dois anos e meio, foram o centro da política do governo e para afiançar que "não há mais espaço para corte de impostos". Ora, como a carga tributária absorve mais da terça parte do PIB, disse sem dizer sequer adeus à reforma tributária, enterrou-a em silêncio, ao mesmo tempo que embalsamou as outras fossem quais fossem seus rótulos.

Encerrando, é relevante notar a publicação de uma nota singular, que visava apagar um boato malsinado. Dizia respeito à Bolsa Família, que teria sido extinta, fato que causara comoção entre milhares de pessoas nela interessadas. A senhora presidente qualificou a autora do boato de desumana e má, enquanto o ministro da Justiça asseverou que o plano fora orquestrado. A Polícia Federal, encarregada de apurar a autoria da infâmia, decorridos quase dois meses, concluiu pela ausência de qualquer ilicitude no suposto fato que provocara a indignação oficial, e foi solenemente publicado que o fato não ocorrera. E dessa maneira a infâmia deixou de existir, e as autoridades que se envolveram no caso não cometeram nenhuma precipitação ou leviandade, e até a direção da centenária e por muitos títulos benemérita instituição CEF foi mantida, porque nada menos elogiável teria acontecido. E desse modo findou um episódio raro, senão inédito, na crônica da administração pública, do qual tiveram participação conspícua algumas das eminências governamentais. E o governo lavrou um tento, pois, pela primeira vez, desde que o Brasil é Brasil, em ato estatal um boato deixou de ser boato infame e até de ter existido. Autêntico boato falso, falsíssimo como diria o José Dias, que adorava o superlativo.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

O fim de uma era - José Roberto Mendonça de Barros

Estamos vivendo o final de uma era. Vários fatores, externos e internos, se conjugam para isso. Vejamos os mais relevantes:

1) Fim do crescimento acelerado da China: como todos nós sabemos, a China passa por um delicado rebalanceamento de sua economia, onde a nova liderança política pretende reduzir o peso do investimento: como fator líder do crescimento, em benefício da elevação do consumo. Este é relativamente baixo, pois é estimado como sendo da ordem de 35% do PIB. Existem outros aspectos importantes desta política, como um esforço para elevar o conteúdo tecnológico das exportações, mas o fato é que o melhor resultado que se pode esperar para este ano é: um crescimento de 7,5%. Olhando mais adiante, o PIB irá se expandir a uma taxa ainda inferior a essa. Mesmo ressalvando que a demanda de alimentos e de petróleo continuará a crescer de forma rápida, os ganhos I de renda via preços de exportação de commodities serão menores, afetando negativamente o Brasil.

2) Fim do período de juros internacionais muito baixos: como todos sabem, o Banco Central americano vem sinalizando uma suave reversão da po¬lítica monetária expansionista. Com isso, o juro de mercado dos papéis longos já subiu algo como 6oo pontos. Es¬te movimento e a volta do crescimento mais robusto em 2014 estão levando a uma valorização da moeda americana e a uma alteração nos fluxos de capitais na direção daquele país. Assim, o custo de capital para o Brasil tende á se elevar. Também nossa política comercial externa mostrará mais uma de suas fragilidades, qual seja, o fato de ter abandonado há dez anos qualquer esforço para elevar a penetração de produtos brasileiros no maior merca¬do do mundo, algo que é parte da explicação de porque nossas exportações estão enfraquecendo rapidamente.

3) Fim do crescimento rápido da nossa demanda interna: como se sabe, a partir de 2010 a demanda das famílias começou a enfraquecer, o que hoje é visível a olho nu. Não se repetirão mais a velocidade da inclusão de novas famílias no mercado de consumo (não exis¬tem outros 13 milhões de domicílios que possam receber o Bolsa Família), a bancarização acelerada de novos clientes e a existência de baixos níveis de I endividamento. Ao contrário, o eleva¬do comprometimento de renda com prestações é hoje uma limitação à expansão rápida do consumo. É por isso que todos os esforços governamentais para bombar a demanda têm tido resultados pífios.

4) Fim da folga fiscal: a arrecadação vai se elevar muito mais lentamente, tornando mais difícil financiar novos gastos, elevações reais do salário míni¬mo e novas concessões de benefícios fiscais.

5) Fim do período de crescimento rápido do PIB: no período 2011 /2013, o crescimento do PIB será inferior a 2%.

Isso não acontece por acaso. Já se discutiu a exaustão que ou as condições de oferta melhoram e, junto com elas, nossa competitividade, ou uma boa parte do modesto crescimento da de¬manda vai vazar para o exterior, na for¬ma de maior importação. Pelo menos dois fatores estão se transformando num obstáculo intransponível para se atingir crescimento mais robusto. Falo aqui do custo total da mão de obra e da carga tributária. O custo do trabalho não para de aumentar (salários, encargos e outros dispêndios) e não tem j qualquer ligação mais sistemática com | a elevação da produtividade. E este é ? um processo ainda em curso, pois, e como já mostrou José Pastore, a legislação trabalhista não para de criar novos j gastos por todos os tipos de razão, e isto sem considerar a nova pauta sindical, onde se inclui a demanda da sema¬; na de 40 horas de trabalho, que será i discutida neste semestre.

Simultaneamente, a complexidade de nossos tributos está atingindo limites insuportáveis para as companhias. Não se trata apenas do tamanho da carga, mas da insanidade da mudança cotidiana de regras dos mais diversos tipos de impostos (PIS/Cofins e ICMS, especialmente). Se estes dois fatores não forem adequadamente encaminha¬dos, nossos custos de produção jamais se tornarão de novo minimamente competitivos. Ao mesmo tempo, é sonho imaginar que uma mega desvalorização cambiai magicamente resolve esses problemas, sem ser dissipada por uma forte inflação.

6) Fim do novo experimento de campeões nacionais: este fenômeno já vinha se delineando desde o colapso dos grupos Independência e Bertin, do caso LBRe outras dificuldades. Entretanto, a derrocada do Grupo X ilustra o ponto de forma definitiva, Embora o ajuste ainda não tenha terminado, é certo que o conglomerado empresa de energia (MPX) terá outro controlador, os dois portos, que são bons ativos, deverão ter continuidade com outra organização empresa¬rial. É nebuloso o futuro dos ativos ligados ao petróleo. Mesmo no melhor cenário, as per¬das resultantes deste processo serão muito expressivas. Por exemplo, se tomarmos o preço das ações das seis empresas abertas, nas datas das respectivas operações, e colocarmos os valores em dólar e compararmos com os preços do último dia onze, chegaremos a uma perda do mercado da ordem de US$ 12 bilhões. A OGXe a OSX tinham coloca¬do no mercado externo bônus da ordem de US$ 4,1 bilhões, sendo que o mais líquido deles está hoje sendo negociado a 16 centavos por dólar.

Muitas dívidas bancárias estão sendo renegociadas, processo que está longe de seu final. Entretanto, é certo que o volume de provisão que o sistema terá de fazer será considerá-vel E fácil antever que o mercado de crédito ficará ainda mais seletivo. Outros credores e fornecedores também estão sendo afetados.

A forte deterioração das expectativas e o desarranjo político atual tem, em parte, a ver com a percepção dessas tendências.

Estamos realmente no final de uma era, especialmente de uma era onde o marketing é mais importam j te que os fatos, onde o discurso é que estamos a um passo do paraíso, enfim, do nunca antes neste País. Vai ser preciso trabalhar muito para voltar a crescer.

* Economista

Fonte: O Estado de S. Paulo