quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: novos temas.

Antes os temas que nos preocupavam eram outros: subdesenvolvimento, pobreza, miséria, emprego. Claro que esses temas continuam presentes, mas novas questões ganham espaço na medida em que a prosperidade não resolve o problema da poluição, o congestionamento das cidades, a segurança das pessoas, o mau funcionamento da justiça etc.

Essa nova pauta, que se soma à antiga, é mais contemporânea. Surgem as lutas pelos direitos difusos, confusos e múltiplos. São direitos ligados à identidade de indivíduos e grupos, por vezes minoritários, mas atuantes. Eles estão no ar, embora ainda não tenham expressão política.

Isso se dá por duas razões: pela tradição autoritária, estatista e, portanto, antiliberal da esquerda e pela tradição elitista do próprio liberalismo, que não se preocupava com o social e, no plano econômico, não queria o Estado. Ou seja, a nova sociedade coloca questões que nossa tradição política tem dificuldade de absorver.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. “A soma e o resto”, pág. 133. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma intervém em pasta que faz uso político de verba contra cheia
Rio: chuva também preocupa no Noroeste
Com o mau tempo, aeroportos ainda registram atrasos de quase 20% dos voos
Obras mudam o cenário do Sambódromo
Pacote agora é para atrair mais turistas
Acre recebe ajuda federal para haitianos

FOLHA DE S. PAULO
Greve de policiais e bombeiros leva medo a Fortaleza
Casas novas de Alckmin têm infiltração e vazamentos
Infraero deixa de gastar R$ 1 bilhão em obra em 2011
Chuvas provocam mais duas mortes em Minas Gerais

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma reage a ministro que fez uso político de verba antienchente
Imóveis sobem 26% em 2011, mas ritmo de alta é menor

VALOR ECONÔMICO
Infraestrutura sustenta o investimento da indústria
País capta com a menor taxa da história
Pessoa física tira R$ 7,8 bi da Bovespa
Salário inicial na construção já bate o da indústria

CORREIO BRAZILIENSE
Idosos se libertam da ditadura do INSS
Chuva encerra férias de Dilma e ministros
A boquinha dos suplentes

ESTADO DE MINAS
Não faltou aviso
Suplentes com os benefícios de deputados

ZERO HORA (RS)
Estiagem põe 39 cidades gaúchas em emergência
Enchentes em Minas tiram de casa 10 mil
Estado reforça barreiras na fronteira

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Intervenção branca na pasta da Integração
Técnicos avaliam áreas de risco com chuva no Sudeste

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Que fim levou?

Nenhum dos 6 ministros demitidos por Dilma após suspeita de irregularidades chegou a ser punido

Breno Costa

BRASÍLIA - A perda do cargo foi, até agora, a única punição sofrida pelos ministros demitidos por suspeita de corrupção em 2010. A incômoda marca do primeiro ano do governo Dilma Rousseff é de uma queda na Esplanada dos Ministérios a cada dois meses.

Todos eles voltaram a ter rotina normal enquanto aguardam a conclusão de inquéritos e outras investigações preliminares.

Nenhum dos ministros demitidos chegou a ser processado por corrupção ou improbidade administrativa.

Primeiro da série que ficou conhecida como "faxina", Antonio Palocci (Casa Civil) era o ministro mais poderoso do governo Dilma até junho.

Saiu por conta de negócios mal explicados em sua consultoria, a Projeto, em caso revelado pela Folha. Isso não impediu o petista de, em seguida, reabrir a empresa que o derrubou.

No Congresso

Dois dos ministros não ficaram de mãos vazias: deixaram suas respectivas pastas, mas voltaram às suas cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Alfredo Nascimento (PR), ex-ministro dos Transportes, deixou a pasta em julho e ainda levou ao seu gabinete no Senado parte dos assessores que também foram alvo das demissões na pasta.

Pedro Novais (PMDB), que comandou o Ministério do Turismo até setembro, voltou para a Câmara.

Em comum entre Novais e Nascimento está a não apresentação de qualquer projeto de lei ou requerimento no retorno ao Legislativo. O peemedebista nem sequer chegou a discursar.

Dos seis ministros demitidos após suspeitas de envolvimento em irregularidades, só Carlos Lupi (PDT), último a perder o cargo, em dezembro, não é alvo de inquérito.

O caso mais avançado é o de Orlando Silva (PC do B), que deixou o Ministério do Esporte em outubro. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorizou a quebra do sigilo bancário e fiscal de Orlando e do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que o antecedeu no cargo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma intervém em pasta que faz uso político de verba contra cheia

Pernambuco, estado do ministro da Integração, foi o que mais ganhou recursos

Para evitar uso político na distribuição de verbas de prevenção contra enchentes, a presidente Dilma Rousseff fez ontem uma intervenção branca no Ministério da Integração Nacional, chefiado pelo pernambucano Fernando Bezerra. Agora, só haverá liberação de recursos com aval da Casa Civil. Em dezembro, o ministério listou 56 cidades do Sul e do Sudeste como prioritárias para receber verbas, mas Pernambuco e Bahia, estado do ex-ministro Geddel Vieira Lima, foram os que mais receberam: R$ 34 milhões e R$ 32 milhões. Só 30% do previsto no Orçamento para prevenir enchentes foram liberados em 2011. Em Minas, a chuva já matou seis pessoas e desalojou 2,1 milhões; 53 municípios decretaram situação de emergência.

Fechou o tempo na Integração

Dilma intervém para conter uso político da verba contra enchentes e tira poder de ministro

Roberto Maltchik, Gerson Camarotti

OMinistério da Integração Nacional elegeu, em dezembro, 56 cidades das regiões Sul e Sudeste como prioritárias para ações de preparação às enchentes, porém foram os estados do ministro Fernando Bezerra (Pernambuco) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Bahia) que receberam as maiores verbas de prevenção em 2011. O Rio de Janeiro, primeiro da lista de alerta, com 12 municípios em situação crítica de risco, ficou em décimo lugar, com 2,3% dos recursos pagos no ano passado. A suspeita de direcionamento político fez com que a presidente Dilma Rousseff decretasse ontem uma intervenção branca na pasta de Bezerra. A partir de agora, todas as liberações para enchentes só serão feitas com o aval da Casa Civil.

Dilma, que está de férias na Bahia, orientou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a determinar uma radiografia na rubrica de verbas para prevenção de enchentes. A intenção é evitar denúncias de favorecimento político. Por isso, as liberações serão submetidas à avaliação da Casa Civil.

O dinheiro de Prevenção e Preparação para Desastres destinado a Pernambuco, R$34,2 milhões, e à Bahia, R$32,2, supera o montante liberado em 12 meses para São Paulo, Santa Catarina, Ceará, Paraná, Paraíba e Alagoas. Os seis estados listados receberam da União R$62,7 milhões de prevenção em 2011. Os dados foram levantados pela ONG Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

A execução do programa de Prevenção, em 2011, não atingiu 30,6% do valor autorizado no orçamento federal. A dotação autorizada somava R$508,4 milhões, dos quais R$155,6 milhões foram pagos. Entre 2004 e 2011, o pagamento frente ao valor orçado ficou em 24,4%.

Em Pernambuco, Fernando Bezerra escolheu Petrolina, cidade na qual exerceu três mandatos como prefeito, para liberar os principais recursos de Resposta a Desastres Naturais no interior do estado. O ministro liberou para sua terra natal R$8,9 milhões, contra R$1,2 milhão destinado, em Pernambuco, aos 14 municípios devastados pela enxurrada em 2010. Petrolina só perdeu para Recife, com R$62 milhões, entre as 96 cidades pernambucanas contempladas.

Nordeste: prioridade para 36 cidades

Em 2011, o Rio de Janeiro foi o estado que mais recebeu dinheiro para reconstrução, com R$297,9 milhões, após as tempestades que arrasaram a Região Serrana. Pernambuco ficou em segundo lugar, com R$94,6 milhões, à frente de Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo.

Os 56 municípios escolhidos pela Integração Nacional fazem parte de uma lista de 251 cidades com risco elevado de desastre natural. Foram eleitos, de acordo com o ministério, porque estão nas regiões com a maior incidência de chuvas no período de verão. Outras 36 cidade do Nordeste devem receber o carimbo de prioritárias nas próximas semanas.

A Integração Nacional não comentou os motivos pelos quais Pernambuco é o estado que mais recebeu dinheiro de prevenção no Brasil em 2011. Tampouco se pronunciou sobre a preferência por Petrolina. Em nota, o ministério informou que, além dos recursos do programa de prevenção, a Secretaria de Infraestrutura Hídrica (SIH) vai liberar R$455 milhões em obras de drenagem para prevenção de enchentes até 2013, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nesse programa, de acordo com a assessoria, foram liberados R$130 milhões em 2011.

FONTE: O GLOBO

Governadores fazem defesa

BELO HORIZONTE – O governador de Minas, Antônio Anastasia (PSDB), evitou criar atritos com o governo da presidente Dilma Rousseff. Apesar de o Ministério da Integração Nacional ter repassado a Pernambuco, Estado do chefe da pasta, Fernando Bezerra, 90% dos recursos destinados à prevenção de desastres naturais no ano passado, o tucano afirmou ontem que não sente “discriminação” por parte do governo da petista. Assim como o colega mineiro, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), afirmou que não tem o que reclamar do ministro.

Anastasia, que assumiu contar com recursos federais para restauração dos estragos causados pela chuva desde o fim de 2011, lembrou que Fernando Bezerra visitou o Estado no último período chuvoso e classificou o ministro como “extremamente amigo” de Minas, “trazendo convênios e obras importantes” para municípios mineiros.

Com relação aos recursos para prevenção de desastres como enchentes e deslizamentos de terra, o governador mineiro avaliou que “não são valores grandes em face de outros projetos” que beneficiaram o Estado. “O Ministério da Integração tem alocado recursos expressivos”, disse.

O governador do Rio também defendeu o ministro. “Não tenho o que reclamar do ministro Fernando Bezerra”, disse Sérgio Cabral Filho, ao comentar a aplicação de recursos do Ministério da Integração Nacional para prevenção de enchentes. Apesar de o Rio – palco da maior tragédia natural do País há um ano – ter sido preterido pela pasta, Cabral afirmou que o ministro tem sido “um grande parceiro e proativo em todas as demandas”. “A presidente Dilma está completamente comprometida com essa reconstrução. Não temos o que falar do governo federal, a não ser agradecer”, acrescentou Cabral.

Indagado sobre a possível influencia da questão política na distribuição dos recursos, Cabral desconversou: “Isso aí não está na pauta”.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Eduardo diz que Dilma autorizou os repasses

Governador nega favorecimento ao Estado e sai em defesa de Bezerra Coelho. Ele afirma que repasses foram autorizados pela presidente em razão das enchentes na Mata Sul

Bruna Serra

Com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), no olho do furacão já no início de 2012, o governador Eduardo Campos (PSB) teve que sair ontem em defesa de seu afilhado político, alvo de reportagem do jornal Estado de S. Paulo – primeiro a informar que 90% das verbas do ministério destinadas à prevenção dos desastres naturais foram indicadas para Pernambuco, onde ficam as bases políticas de Bezerra Coelho.

Em entrevista à Rádio Jornal, o governador afirmou que o ministro estava apenas cumprindo ordens da presidente Dilma Rousseff. Eduardo argumentou que a maior parte dos recursos em questão vieram para o Estado em virtude das enchentes que atingiram a Mata Sul, por dois anos seguidos, em 2010 e 2011. “Todos acompanharam o que aconteceu aqui em 2010, na Mata Sul. Você está falando aí da liberação de R$ 25 milhões. Estamos colocando ali R$ 2,5 bilhões para a reconstrução de casas, estradas, hospitais, escolas, postos de saúde, muita coisa vai ficando para ser feita na rotina”, elencou.

Duas barragens são citadas na reportagem como destino das verbas, a de Cupira e a de Gatos. O governador confirmou o repasse e destacou que os projetos estão sendo colocados em andamento. “Os projetos são barragens, replantar mata ciliar, árvores ao longo do rio, fazer dragagens, esses projetos foram feitos. Quando a gente estava com esses projetos sendo concluídos, veio, um ano depois, uma nova enchente”, explicou o governador, antes de detalhar como se deu a parceria com o governo federal.

“A presidenta ligou para mim: ‘Eduardo, o que é que está havendo? É naquele mesmo lugar (as enchentes) de novo?’ Eu disse: ‘Presidenta, é, mas não é tão forte como da outra vez!’ Ela então me perguntou: ‘E o que é que evita isso?’ Aí respondi: ‘O que evita isso são cinco barragens e a dragagem do rio em áreas urbanas por causa do rio assoreado e plantar árvores’. Ela me perguntou se eu tinha os projetos. Coincidentemente estavam prontos os projetos das barragens. Ela disse que não poderia arcar com esse valor todo. Então, terminei propondo que para cada R$ 1 da União, nós colocaríamos R$ 1 também”, relatou.

TCU

O governador evitou responder perguntas sobre a auditoria que sua mãe, a ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes, fará nas obras da Transposição do Rio São Francisco. “Nunca comentei nenhuma decisão do TCU. Se fica impedido ou não, vocês tem que perguntar à ministra Ana”, afirmou. Até ser eleita para o atual cargo, a ministra era a líder do PSB na Câmara, partido presidido pelo filho e que tem em seus quadros o ministro Bezerra Coelho, titular da pasta responsável pela obra.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Oposição quer que Bezerra se explique ainda durante recesso

Andrea Jubé Vianna

BRASÍLIA - A oposição decidiu acionar a Comissão Representativa do Congresso, que funciona durante o recesso parlamentar, para cobrar explicações do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, sobre a destinação de 90% dos recursos voltados à prevenção de desastres naturais a Pernambuco. O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), anunciou que já prepara requerimento de informações. "Ele precisa explicar a lógica da divisão desse dinheiro. Tudo isso é suspeito", afirmou.

Além de pedir esclarecimentos a Bezerra, a liderança do PSDB na Câmara vai pedir informações sobre os investimentos em ações de prevenção feitos pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Os tucanos querem saber por que as obras de prevenção a desastres não constam da lista de prioridades do governo, e por que os poucos recursos liberados - R$ 139 milhões - concentraram-se em Pernambuco. "É vergonhosa (a concentração de recursos), não porque Pernambuco não mereça, mas porque as áreas de risco estão concentradas no Rio e em Minas", criticou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT e PSB disputam pasta de Ciência e Tecnologia

Nome de Ciro Gomes enfrenta resistência no Planalto; petistas querem emplacar deputado federal

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O silêncio da presidente Dilma Rousseff sobre a reforma ministerial abriu uma disputa nos bastidores pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Enquanto a bancada do PT paulista trabalha pela indicação do deputado federal Newton Lima (PT-SP), o grupo do PSB cearense tenta emplacar o ex-ministro Ciro Gomes. Já o mundo acadêmico defende uma solução técnica para o lugar do ministro Aloizio Mercadante, que já comunicou a interlocutores que será deslocado para o Ministério da Educação, no lugar de Fernando Haddad.

Em defesa de Newton, a bancada do PT argumenta que ele uniria critério técnico ao político, já que foi reitor da Universidade Federal de São Carlos, além de ser ex-prefeito da cidade paulista. E teria respaldo de setores do mundo acadêmico.

Em conversas reservadas, Mercadante confidenciou que Dilma teria preferência por um nome técnico, o que, na interpretação de petistas, mostra que Lima está entre os cotados. Se nomeado ministro, ele abrirá vaga na Câmara para o retorno de José Genoino (PT-SP), réu no processo do mensalão e primeiro suplente do partido.

Apesar do silêncio de Dilma, pelo menos uma informação circula no centro do governo: no Planalto há resistências à volta de Ciro ao ministério. Na avaliação de interlocutores de Dilma, ele só seria chamado se não criar problemas para a sucessão presidencial de 2014 - garantia que, afirmam conhecedores de Ciro, ninguém arrancará dele.

Até ontem, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não foi consultado sobre o tema. Setores do PSB próximos de Campos resistem à ideia do retorno de Ciro ao governo federal.

PSB sinaliza que Fernando Bezerra não deixará a pasta

O PSB já sinalizou ao Planalto que o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, não vai disputar a prefeitura de Recife. O movimento do PSB, ao anunciar a permanência de Bezerra, tem dois efeitos: evitar uma corrida do PMDB pela vaga da Integração Nacional e demonstrar ao PT interesse de costurar uma aliança na sucessão municipal em Recife.

Aliados de Campos deixam claro que Ciro não irá para o governo, se for para desalojar Bezerra. Portanto, esclarecem os socialistas, se ele conseguir vaga na equipe de Dilma, será para desalojar o ministro Leônidas Cristino, da Secretaria de Portos, também do PSB. Os aliados de Campos identificaram uma manobra do grupo de Ciro para enfraquecer o governador, que tem pretensões nas eleições presidenciais de 2014 e 2018. Lembram que Ciro foi convidado em 2010 para ser ministro de Dilma e recusou.

Além da saída de Haddad para disputar a prefeitura de São Paulo, também deve deixar o governo a ministra Iriny Lopes (PT), da Secretaria de Mulheres, que deseja a prefeitura de Vitória.

FONTE: O GLOBO

A reforma ministerial que não vai acontecer: Alberto Goldman

Vocês sabem o que vai acontecer na imaginada "reforma ministerial"?

Pois escrevam: não vai acontecer nada. Como eu já disse dezenas de vezes, o ministério de Dilma Roussef, ao contrário dos que pensam que diferiria do atual, é mesmo de .... Dilma Roussef. E é o mesmo do Lula, sem tirar nem por. Só sairam os que foram pegos com a mão na massa e saem os que já foram pegos e não sairam ainda.

Já falam lá no Planalto em "balanceamento" e não propriamente numa reforma. Sabem o que é isso? Não? Nem eu! Deve ser aquilo que faço nos pneus do meu carro, vez ou outra, quando alguns deles já estão carecas. Tiro daqui e ponho ali. Às vezes coloco o "estepe". Às vezes jogo um fora, quando já está muito gasto.

Ela, Dilma, não vai fazer nada de novo. Não quer e não pode. Ou melhor, poderia, se quisesse. Mas vai levando, empurrando com a barriga, na expectativa de que a economia do país melhore e o povo vai deixando ela fazer o que quiser, como aliás vem acontecendo há nove anos.

Um dia a casa cai. Espero que eu e vocês não estejámos debaixo.

Alberto Goldman, ex-deputado, ex-governador de S. Paulo

FONTE: GOLDMAN

PMDB e DEM discutem acordo eleitoral

Negociação entre principal aliado do PT na coalizão governista e sigla da oposição é vista com bons olhos pelo Planalto

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) comanda os entendimentos, que podem abrir caminho para a fusão das legendas

Catia Seabra, Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - Sob o comando do vice-presidente Michel Temer, o PMDB -maior aliado do PT na coalizão governista- tenta atrair o oposicionista DEM para dobradinhas nas eleições municipais de outubro, ação que se bem-sucedida pode gerar uma futura fusão.

Apesar de não atuar diretamente, o Planalto vê com bons olhos a movimentação. Além de ampliar sua base de apoio no Congresso, ela também abafaria algumas das principais vozes críticas à gestão de Dilma Rousseff.

O próprio Temer participa da costura das alianças municipais, especialmente dedicado à viabilização da candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.

Depois de encontros com integrantes do comando nacional do DEM, como o presidente nacional, José Agripino (RN), e o líder da bancada na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), Temer convidou no último dia 21 o presidente estadual da sigla, Jorge Tadeu Mudalen (SP), para uma conversa sobre a eleição na capital.

Até então resistente a um acordo, Mudalen deixou o Palácio do Jaburu (residência oficial do vice-presidente) aberto a um acordo.

"Vejo com simpatia essa conversa com o PMDB", disse Mudalen, que, dois dias antes, jantara com o ministro peemedebista Moreira Franco (Secretaria de Assuntos Estratégicos).

Temer e Moreira não são os únicos do PMDB a flertar com o DEM. Também no mês passado, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, recebeu o secretário-geral do DEM, Onyx Lorenzoni (RS).

Na conversa, os dois se comprometeram a fazer um levantamento das cidades gaúchas onde há compatibilidade entre os dois partidos.

Mendes propôs objetivamente uma fusão. "O PMDB e o DEM precisam olhar para o Brasil com uma expectativa clara do que pode fazer uma aproximação cada vez maior entre os dois partidos: a eleição municipal como prévia de 2014."

Lorenzoni admite uma afinidade com o PMDB do Rio Grande do Sul. Mas diz que uma fusão não será necessária porque, apesar de debilitado com a criação do PSD, o "DEM dará a volta por cima" para 2014.

DEM e PMDB ensaiam também aproximação na Bahia e no Rio Grande do Norte, entre outros Estados. "No Maranhão, o DEM e o PMDB sempre caminharam juntos", disse o ministro do Turismo, Gastão Vieira (PMDB-MA).

A articulação preocupa a cúpula do PSDB. Preocupado com o risco de isolamento na oposição, o comando do partido pediu que seus governadores ampliem as negociações com o partido.

Segundo tucanos, o DEM já avisou que, caso constate que não é capaz de eleger 30 deputados federais nas próximas eleições (em 2010, elegeu 43, mas hoje só possui 27), terá que optar por uma fusão. Só não sabe se com o PMDB ou o PSDB.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Calamidades que se repetem

Tão regulares quanto os dias de um calendário, as tragédias decorrentes das chuvas de verão voltam a se repetir no Brasil. Todo começo de ano é assim: por mais previsíveis que sejam as intempéries, as ações de prevenção nunca chegam a tempo. No auge do verão passado, o governo federal prometeu ações sem precedentes para evitar que as calamidades voltassem a assustar os habitantes de áreas mais vulneráveis. Muito pouco, porém, foi feito.

Tão regulares quanto os dias de um calendário, as tragédias decorrentes das chuvas de verão voltam a se repetir no Brasil. Todo começo de ano é assim, a despeito das reiteradas promessas das autoridades de que, “desta vez”, a prevenção chegará antes da reconstrução.

Neste 2012 que se inicia, as sirenes de alerta voltaram a soar na região serrana do Rio de Janeiro. Teme-se a repetição da catástrofe do ano passado, que matou mais de 900 pessoas. Em Minas Gerais, já são dezenas as cidades sob estado de calamidade.

Por incrível que possa parecer, as chuvas torrenciais, por mais previsíveis que sejam, pegam novamente as populações desprevenidas, desprotegidas, desamparadas. O muito que poderia ter sido feito ao longo do ano revela-se um nada diante dos riscos que voltam a assombrar os moradores.

Em janeiro de 2011, no auge do verão passado, o governo federal prometeu ações sem precedentes para evitar que as calamidades voltassem a assustar os habitantes de áreas mais vulneráveis. Muito, muito pouco foi feito, porém.

Menos de um terço das verbas destinadas no Orçamento Geral da União do ano passado para “prevenção e preparação para desastres” foi investida: foram autorizados R$ 508 milhões e pagos apenas R$ 155 milhões. Ou seja, nada menos que R$ 353 milhões ficaram guardados no cofre, como se as populações deles não necessitassem para preservar suas vidas.

Trata-se, contudo, de padrão recorrente. Nos últimos oito anos, as dotações autorizadas pelo Congresso para esta rubrica somaram R$ 2,8 bilhões, mas apenas R$ 695 milhões foram aplicados.“Em outras palavras, de cada R$ 4 previstos em orçamento, apenas R$ 1 foi gasto”, escreve Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, n’O Globo de hoje.

O PT de Lula e Dilma Rousseff prefere remediar a prevenir. Desde 2003, o país aplicou sete vezes mais em“resposta a desastres e reconstrução” – R$ 5,9 bilhões – do que em ações de“prevenção e preparação para desastres” – os R$ 695 milhões citados acima. O mal é que, para muitos, o remédio acaba, infelizmente, vindo tarde demais, sem mais nenhuma valia.

Muitas das providências anunciadas nos últimos anos – como a implantação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres, cogitada desde 2004, mas hoje funcionando em condições de improviso e precariedade – só chegarão a tempo do verão de 2013, se é que chegarão.

Além disso, há o padrão nefasto das liberações politicamente endereçadas. Enquanto o Ministério da Integração Nacional foi ocupado por um político baiano na era Lula, a maior parte das verbas foi para a Bahia. Agora, o titular é um pernambucano e 90% das verbas vão para a terra do frevo e do maracatu.

“Dos gastos autorizados e pagos em 2011, Pernambuco recebeu 14 vezes mais do que o segundo colocado, o Paraná, onde chuvas fortes provocaram enxurradas e deslizamentos no ano passado”,relata hoje O Estado de S.Paulo, em manchete. O berço político do atual ministro –provável candidato a prefeito de Recife – recebeu R$ 25,5 milhões dos R$ 28,4 milhões pagos em obras autorizadas em 2011 para prevenção de desastres naturais.

Como se não bastasse, também com a regularidade de um relógio suíço, as imprevidências da gestão federal atingiram, novamente, as férias e o descanso de milhões de brasileiros que usaram, ou tentaram usar, os aeroportos para se deslocar nas festas de fim de ano.

Ontem, o dia foi de caos em alguns terminais, em especial o Santos Dumont e o Galeão, no Rio. Segundo balanço da Infraero, dos 2.339 voos domésticos programados para até as 19h desta segunda-feira, 560 atrasaram (24%) e 146 foram cancelados (6%). (Nesta madrugada, 23% dos voos – tanto domésticos quanto internacionais – atrasaram ou foram cancelados.)

O ano, infelizmente, começa com a repetição de exemplos de descaso das autoridades federais pela vida e pelo bem-estar dos brasileiros. Seria muito bom se 2012 marcasse uma mudança radical neste tipo de ocorrências. É difícil crer, mas não custa tentar.

FONTE: ITV

Desenvolvimento e desenvolvimentismo:: Brasílio Sallum Jr.

Professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo, Brasílio Sallum Jr. é autor de uma das mais completas interpretações da transição para a democracia no Brasil: em uma palavra, Labirintos (Hucitec, 1996) é uma obra seminal. O brilhantismo usual para lidar com categorias da Sociologia, da Política ou da Economia reaparece nestas linhas, acrescentado ao desafio de se reportar ao tempo presente. Para Brasílio, o binômio desenvolvimento/desenvolvimentismo ainda não assumiu uma formatação sólida e esbarra em obstáculos políticos, institucionais, sociais e econômicos, tanto de ordem doméstica como de domínio internacional. Esta entrevista foi concedida a Jefferson O. Goulart, em agosto de 2011, e publicada na Revista Faac (Bauru, v. 1, n. 2, p. 129-34, out. 2011/mar. 2012). 

Descontadas as estocadas de todos os lados nas disputas políticas e eleitorais, o que há efetivamente de continuidade e de ruptura na política macroeconômica e nas políticas de desenvolvimento da “Era Lula” em relação à “Era FHC”?

Creio que os termos continuidade e ruptura são muito fortes para caracterizar as políticas das duas presidências. É preciso lembrar, antes de mais nada, que as políticas de Estado não são adotadas ou implementadas no vazio. Cada uma tenta lidar e, em geral, transformar condições domésticas e internacionais específicas. Sem a consideração dessas condições, a comparação entre políticas tem pouco sentido. O cambio flutuante, por exemplo, certamente pode ser vinculado a uma concepção macroeconômica neoliberal, mas sua adoção foi um alivio para a indústria quando foi adotado em 1999. Mas hoje, em função das mudanças das condições internacionais e domésticas, a mesma política vem causando enorme constrangimento à expansão industrial e à sua competitividade internacional. Em segundo lugar, embora se possa comparar os períodos Lula e FHC, não podemos esquecer que cada um presidiu dois governos, havendo algumas diferenças importantes entre eles, inclusive no que diz respeito às políticas macroeconômicas. Acredito que temos que tomar isso em consideração, caso quisermos pensar as diferenças entre os dois períodos presidenciais.

Isso posto, creio que há entre as duas presidências muita continuidade, sim, mas no sentido de que elas dão sequência à construção — muito disputada, é verdade — de uma nova forma de Estado, moderadamente liberal e democrática, cujo alicerces são a Constituição de 1988 e as reformas liberalizantes que acompanharam o Plano Real. Os governos presididos por Lula não desfizeram estes alicerces, continuaram a construção, embora tenham feito muito pouco em termos institucionais. Os problemas centrais com que cada governo teve que lidar foram muito diferentes. O da estabilização dominou completamente o primeiro governo FHC. No segundo governo, FH tentou trocar o foco para o desenvolvimento, mas a crise cambial e política, as crises externas e a ameaça de apagão inviabilizaram aquele projeto inicial. No primeiro governo Lula, a questão da estabilidade ainda foi central, principalmente no começo quando ele teve que lidar tanto com a herança da crise externa (originada na Argentina) quanto com a instabilidade decorrente do receio do “mercado” em relação à vitória da oposição.

O governo enfrentou muito bem estes desafios, mas ao “custo” de manter a nova ortodoxia legada pelo anterior. Tenho que usar aspas, pois acho que, para a maioria dos partidários do PT, a preservação das políticas macroeconômicas de FHC foi um custo. Mas, além disso, foi em minha opinião um ônus para o país, porque isso tornou aquela política um fetiche, intocável, não importam as circunstâncias. Esta herança não vinha só do governo FHC, mas também do período anterior a ele, derivada do passado que ele manteve. Parte deste legado funciona até hoje como uma canga que passou a nos oprimir, depois que a estabilização monetária deixou de ser o foco principal da política econômica do governo. A pressão bem-sucedida para manter depois aquela política acabou por enfraquecer, creio, o impulso para mexer, por exemplo, nas regras de mercado e na política de juros, desenhadas — como assegura o Nakano, da FGV — para enfrentar a instabilidade inerente a um ambiente inflacionário, mas mantida depois da estabilização. O bom senso interessado do “mercado” se impôs na gestão Meirelles, e o resultado é que, mesmo sem dívida externa significativa e com uma dívida interna palatável, continuamos a ter as mais altas taxas de juros do mundo. O pagamento destes juros absorve uma massa muito significativa de recursos públicos e tem consequências nefastas para a taxa de câmbio, desvalorizando o dólar de tal maneira que ameaça o desenvolvimento da indústria. Claro que minha opinião é de um não profissional da economia. Mas os profissionais não têm nos fornecido explicações muito convincentes sobre o nível de nossas taxas e, de forma geral, sobre nossos dilemas.

Seria adequado inferir que, tendo em vista os termos em que transcorreu o debate eleitoral e programático das eleições de 2010, foi legitimada uma agenda desenvolvimentista para o país? Quais seriam as implicações e desafios desse novo padrão no plano doméstico?

De fato, creio que o desenvolvimentismo está na agenda, mas tenho dúvidas de que predomine uma agenda desenvolvimentista. Mesmo no governo atual, em que a presidente é seguramente desenvolvimentista, não vejo que ele se mova segundo uma agenda deste tipo nem que procure construir um consenso político em torno disso. O desenvolvimentismo — em sua versão liberal — disputa, como tem feito desde os anos 1990, com neoliberais e estatal-distributivistas a prioridade na orientação do Estado. Mas disputa em desvantagem. Embora tenhamos hoje políticas sociais bastante razoáveis — particularmente as de garantir aumentos reais para o salário-mínimo e de transferência de renda —, há pressão distributiva muito grande especialmente para funcionários públicos (há projetos no Congresso que, em nome da justiça salarial para algumas categorias de servidores, ameaçam esgotar os recursos públicos).

Ora, isso compete com o “equilíbrio das finanças públicas”, mantra dos liberais, e com os “investimentos públicos”, mantra dos liberal-desenvolvimentistas. Uma agenda desenvolvimentista demanda produzir mais acordo sobre as prioridades, e isso é sempre difícil. O empresariado industrial, eventual suporte do desenvolvimentismo, é um ator coletivo cada vez mais fraco. A dinâmica eleitoral ajuda as políticas distributivas, e o “mercado” e seus porta-vozes espalhados na mídia ajudam a ortodoxia macroeconômica. Além disso, implantar uma política desenvolvimentista é difícil porque há, aparentemente, uma extraordinária ineficiência do Estado em realizar programas, coisa que nenhum governo gosta de reconhecer. Uma simples comparação entre as despesas orçadas e gastas efetivamente no PAC no segundo governo Lula já assusta. Mas não estou falando apenas do governo anterior. Creio que temos um problema político-administrativo no setor público que mais cedo ou mais tarde teremos que identificar e enfrentar.

Apesar das dificuldades, que eu talvez tenha sublinhado demais, estamos nos aproximando talvez de uma conjuntura crítica que vai exigir de nós brasileiros a construção de mecanismos que permitam aumentar significativamente a taxa de investimento público e privado, sob pena de não conseguirmos construir o suporte material à altura de nossas ambições sociais e políticas.

A aspiração a um ciclo de desenvolvimentismo, qualquer que seja, esbarra em relações de interdependência com atores políticos e econômicos internacionais. Na sua avaliação, quais seriam os principais constrangimentos externos?

De fato, há certos parâmetros internacionais que não temos como mudar. Não podemos impedir que os EUA inundem o mundo de dólares nem que a China mantenha uma taxa de câmbio muito desvalorizada. Ou que a fragilidade da economia argentina leve a políticas protecionistas que prejudicam nossas exportações para lá. Não podemos alterar o fato, também, de que nosso parque industrial é dominado por transnacionais. Entretanto, todos estes e outros parâmetros não podem ser vistos apenas como restrições, como elementos negativos. Por vezes, eles têm efeitos negativos e positivos. Eles exigem de nós políticas mais elaboradas que possam fazer com que funcionem mais em favor do nosso desenvolvimento. Ao invés de restringir a atuação das multinacionais, nosso interesse é que elas aumentem as plantas produtivas que mantêm aqui e, especialmente, sediem no Brasil parte de seus centros de produção de tecnologia. Que as empresas nacionais não sejam apenas fornecedoras de produtos feitos com mão de obra barata ou meras maquiadoras, mas ganhem capacidade de competição pela inovação.

O ponto central aqui é sermos um polo relevante de crescimento do capitalismo — que hoje não pode ser pensado em escala nacional. Desta expansão produtiva depende a incorporação em atividades econômicas regulares dos cerca de 25% de brasileiros que vivem de transferências de renda. Depende também a elevação do padrão de vida dos trabalhadores da base da pirâmide. Esta é a “distribuição” produzida pelo investimento que pode expandir para todos a possibilidade de uma vida decente. Esta é uma condição material fundamental para assegurar e expandir um modo democrático de vida. Da capacidade de inovação do sistema produtivo aqui instalado e dos centros de produção de ciência e tecnologia a ele conectados vai depender em que nicho da economia mundial do Brasil vai se situar. Creio que a preservação da ascensão brasileira no plano mundial dependerá, entre outros fatores, dessa expansão quantitativa e qualitativa de nossa base material. Infelizmente, ainda não encontramos o arranjo político-econômico que permita avançar nisso com velocidade.

Seguindo a mesma linha, e considerando os embaraços e empecilhos da regulação do comércio internacional (vide os impasses da rodada Doha), as dificuldades de recuperação da economia norte-americana, o fluxo de capital externo, a crescente importância da China ou os impasses do Mercosul em sua institucionalização e na integração regional, quais os principais temas e dilemas da política externa brasileira?

A política externa brasileira tem uma grande continuidade pelo menos desde o começo dos anos 1990. Ela se move em torno da diretriz da “integração competitiva”, procurando elevar o posicionamento do Brasil na construção e gestão da ordem mundial surgida a partir do fim do mundo soviético. Trata-se de uma estratégia difícil de implementar para uma potência média — econômica e militarmente — em um mundo de múltiplas potências de grande porte. Apesar dos percalços, ela parece estar sendo bem-sucedida. A exceção aqui é o Mercosul, cuja construção como união aduaneira e com maior abrangência tem sido talvez mais lenta do que o esperado. Mas não gostaria de ir muito além, porque não tenho acompanhado isso muito de perto e não sou especialista no assunto.

A transição para a democracia marca uma dupla mudança: de regime político e do modelo de Estado. A essa transformação também corresponde uma séria crise de hegemonia, só reconstruída tempos depois com o primeiro governo de FHC, uma nova maioria parlamentar, a agenda da estabilidade e uma orientação liberista. No período atual, que tipo de hegemonia temos?

Como mencionei antes, o Estado que temos desde 1995 — para fixar uma data — é atravessado por três orientações distintas no que diz respeito à economia. Uma baseada no ideário neoliberal, mais elaborado intelectualmente e mais definido quanto às recomendações práticas, cuja principal demanda tem sido, além da ampliação do peso da iniciativa privada e da liberdade de mercado, a da estabilidade monetária. Uma segunda orientação baseada no ideário da “inserção competitiva” no capitalismo mundial (ou liberal-desenvolvimentista), que procura ajustar o velho nacional-desenvolvimentismo — constituir no Brasil um sistema econômico produtivo diversificado e integrado — ao novo contexto mundial em que predomina o liberalismo e a competição em escala global; sua demanda principal tem sido por investimento produtivo. Por último, uma terceira orientação baseia-se em um ideário que podemos denominar “estatismo distributivo”, que procura combinar presença forte do Estado, inclusive na produção, tendo em vista produzir uma “democracia substantiva” com repartição da renda para os assalariados e “excluídos”; sua demanda central é controle estatal para garantir a “distribuição”.

Cada governo desde 1995 tem dado maior ênfase a cada um desses ideários, mas eles sempre estiveram e estão presentes nos vários governos. Em nenhum momento, porém, alteramos o predomínio dos interesses financeiros na sociedade e nas políticas de Estado. As políticas liberal-desenvolvimentistas e estatal-distributivas têm sido executadas sempre respeitando aquele predomínio. Examinando as coisas mais de perto, vê-se que nenhum dos governos desde 1995 sequer tocou no perfil da distribuição da propriedade existente no pais. Esta questão sequer está na agenda; e, que eu saiba, nem as estatísticas que possam existir sobre isso são públicas. A esquerda vem se contentando com programas de transferência de renda, elevação real do salário-mínimo e políticas facilitadoras da mobilidade social. Elas nada mais são do que políticas tendentes a “civilizar” o capitalismo, que décadas atrás classificávamos como “selvagem”. Não há, porém, que minimizá-las, pois a miséria é tão grande e atinge tanta gente no Brasil que tais transferências são vitais, ao menos enquanto não conseguirmos encontrar um caminho para crescermos mais rápido de modo a pelo menos incorporar esta população, de forma regular, ao sistema produtivo.

Em recente entrevista, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros afirma que o governo de Dilma estaria “à esquerda” em relação ao de Lula porque seria mais “ideológico” e “intervencionista”. Em que medida essa percepção está correta e quais seriam suas eventuais consequências?

O que seria mais à esquerda hoje? Ser mais estatista? Não creio, pois boa parte das políticas de Estado — tributária, de regulação, alguns fundos, etc. — são extremamente onerosas para o conjunto dos assalariados. Mais Estado não significa sempre mais igualdade. Pode significar mais privilégio. Nossa história devia ter nos ensinado isso. Ou não tivemos taxas extraordinárias de crescimento — impulsionadas por grande intervencionismo estatal — com extrema concentração da renda? Esta combinação de Estado com privilégio se repete na política salarial e previdenciária para uma parte dos funcionários públicos. Em suma, ter a igualdade no horizonte, creio, está no cerne do que é ser “de esquerda”. Certas políticas “liberais” podem às vezes estar à esquerda, porque rompem com privilégios arraigados seja de segmentos do empresariado, seja de setores “especiais”da administração pública.

O professor Wanderley Guilherme dos Santos defende a tese de que, durante a “Era Lula”, tivemos uma ruptura definitiva com o populismo porque os padrões de inclusão tiveram um caráter mais universalista, diferente, portanto, da “cidadania regulada” própria dos tempos varguistas. O que pensa dessa proposição?

Creio que foi a Constituição de 1988 que rompeu com a cidadania regulada – com o SUS, com a política de assistência social, regulamentada pelo governo Itamar Franco, etc. O que o governo Lula nos legou foi uma política formalizada de aumento real do salário-mínimo — a que existia antes, desde 1994, não era formalizada — e uma expansão extraordinária das políticas de transferências de renda, o que não é pouco, mas isso cumpriu de uma certa forma a decisão de 1988.

O impeachment do presidente Collor revela um papel proeminente dos partidos políticos, também contrariando certas tendências da literatura política e sociológica de tratar nosso presidencialismo como um sistema frágil e intrinsecamente instável. Passados quase 20 anos daquele momento crítico, como o Sr. avalia o desempenho do nosso sistema decisório, em particular o papel desempenhado pelos partidos?

De fato, o impeachment de Collor legou para o sistema político a “lição” da necessidade de compartilhar o Executivo com os partidos políticos que tenham bancadas significativas no Congresso. Este compartilhamento vem permitindo ao Executivo contornar o poder que a Constituição de 1988 deu ao Legislativo, impondo a ele sua agenda. Os governos que o sucederam têm seguido a lição de maneiras variadas. Nos governos FHC havia mais homogeneidade de orientação política na coalizão, pois a composição ia do centro para a direita. A esquerda ficou na oposição. Com a vitória de Lula, as coisas se embaralharam, pois sua eleição dependeu de alianças à direita, de modo que o governo tornou-se mais heterogêneo e, no segundo período Lula, bastante heterogêneo. Não creio que uma vitória da oposição nas próprias eleições presidenciais possa mudar substancialmente isso. A oposição será obrigada a fazer alianças à esquerda, se quiser chegar à vitória.

Esta heterogeneidade das coalizões torna, como é óbvio, muito difícil dar direção ao governo. Ao contrário das esperanças desatadas pelo movimento de democratização, estamos muito longe de chegar a ter um Estado com uma burocracia eficiente que permita aos vitoriosos nos processos eleitorais imprimir eficazmente uma direção ao Estado. Temos um Estado com uma burocracia estável, mas, em muitas áreas, pouco eficiente e parcialmente dominada por “cliques” clientelistas — em que as clientelas são não apenas potenciais votantes, mas também financiadores de campanha e até simplesmente “enriquecedores” de segmentos da elite política. Sublinho, porém, de novo, que há vários ramos do Estado cuja burocracia é tecnicamente competente e protegida do clientelismo. Obviamente, a questão da eficiência e do caráter republicano da administração pública não é apenas uma “questão administrativa”. Ela tem que ser pensada no interior da dinâmica do sistema político, eleitoral e partidário.

É correto afirmar que tivemos um processo de maturação das instituições políticas no período recente e que, de outro lado, temos a conformação de uma nova sociedade (urbana, mais escolarizada, com mais mobilidade e ascensão, etc.)? E sobre a relação entre sociedade e instituições políticas, é possível dizer que hoje há mais sintonia entre as demandas daquela e as respostas destas?

Creio que vivemos um período de grande estabilidade política, e o crescimento econômico, ainda que limitado, a expansão do crédito e das oportunidades de educação (mesmo de baixa qualidade) vêm permitido maior afluência social. Mas creio que se faz demasiado alarde sobre a nossa mobilidade social; o que há mais é uma melhora das condições materiais de vida de uma faixa de assalariados e de pequenos empreendedores que antes não tinha acesso a certos itens de consumo — ao alcance apenas das classes médias e superiores. Isso “civiliza” uma parte dos assalariados, mas não significa necessariamente mobilidade vertical. Em pouco tempo, creio, teremos os resultados de grande pesquisa sobre classes e mobilidade dirigida pelo Nelson do Valle, que permitirão avaliar melhor a quantas andamos em relação a isso.

De qualquer maneira, acho que o movimento pela democratização, cujo ápice foram os anos 1980, continua produzindo impactos benéficos até hoje, tanto no plano político como no social. Claro que estas realizações estão longe de realizar os sonhos democratizantes daquela década. Somos ainda uma sociedade extraordinariamente desigual, e a melhora das condições materiais de certa camada de assalariados e da massa que vive na extrema pobreza não alterou isso de forma substancial. No entanto, tenho a impressão — é mesmo ainda uma impressão — de que o regime que construímos já dá sinais de falta de vigor. Parece que o Estado que construímos começa a se mostrar incapaz de realizar os sonhos dos 1980, de conduzir a sociedade brasileira a um grau social e politicamente satisfatório de desenvolvimento.

O ex-presidente FHC foi muito criticado por propor que a oposição esquecesse o “povão” e se preocupasse mais com segmentos intermediários emergentes. A esse entendimento subjaz a percepção de que a sociedade brasileira mudou bastante nas últimas décadas, mas, afinal, que tipo de sociedade emergiu após a década perdida, a transição democrática, a estabilização e os novos formatos da inclusão?

Creio que se criticou muito sem ler o documento de FHC. Fazia muito tempo que eu não lia um documento político-estratégico como este. Creio que se pinçou no texto uma frase mal construída e se fez dela uma espécie de reconhecimento do senso comum, daquilo que usualmente se acusa os tucanos, de alheamento em relação ao “povão”, de elitismo, etc. Incrível que isso ocorreu mesmo entre alguns tucanos. Ora, o que se trata lá é da inserção social de um partido, de um partido cujo principal adversário, o PT, tem inserção societária forte e tem a seu favor, hoje, o controle das políticas públicas e, portanto, a capacidade de atender em melhor medida as camadas mais pobres da população.

Isso me permite sublinhar algo que se tem enfatizado pouco, ou sequer apontado, a propósito nosso sistema partidário. Uma de suas características chave é que este sistema é totalmente desequilibrado, no sentido em que ele tem um partido, o PT, articulado com movimentos populares e organizações de trabalhadores, e os demais não têm esta inserção societária, embora conservem os vínculos clientelistas usuais na política brasileira. A coalizão lulista e a que sustenta a atual presidente está ancorada nesses dois pontos de apoio. O documento de FHC chama a atenção dos seus correligionários justamente para a pouca viabilidade de um partido que não tem inserção societária articulada; que confia em ganhar eleição apenas com base em uma retórica eleitoral com afinidade com os valores da classe média. O esquecimento a que foi relegado, aparentemente, o documento, depois das “repercussões” na imprensa, mostra a dificuldade de converter um partido de quadros em um partido socialmente articulado.

Collor, Itamar, FHC e Lula (ambos duas vezes) tiveram que formar maiorias depois das eleições. Desde a democratização, agora, pela primeira vez um governo é eleito já com uma sólida e majoritária base de sustentação no Congresso. Essa nova situação altera substantivamente o sistema de barganhas políticas e aumenta a governabilidade, ou apenas amplia o poder de fogo do PMDB e de outros aliados?

Você tem razão em relação às diferenças entre os governos anteriores e Dilma. Esta foi eleita pela própria coalizão que tem hoje responsabilidade de governo. O PMDB só participou da coalizão de governo e não da que elegeu FHC em 1994 e Lula em 2002. Essa participação na coalizão eleitoral dá mais autoridade aos partidos na hora de demandar posições no governo. Mas creio que a questão da “governabilidade” deve ser pensada, ao mesmo tempo, como sustentação parlamentar e como direção política. Às vezes, a amplitude da sustentação vai em sentido inverso à capacidade de imprimir direção, da capacidade de definir um rumo que oriente o conjunto da coalizão. A base partidária do atual governo é muito grande, mas não é sólida. Sua solidez depende — no esquema clientelista que vivemos — da capacidade do governo articular sua coalizão. Isso é tanto mais necessário porque, à falta de um ideia-força que convença os aliados, fica-se reduzido ao atendimento maior ou menor, mais ou menos “justo”, das demandas da base. O tamanho da base parece dar ao governo mais capacidade de manobra, mas torna complicada a administração das demandas. Se não houver, além disso, vantagens eleitorais em aliar-se a um governo com prestígio popular, o tamanho não dará tranquilidade ao governo. Embora a trajetória do governo Dilma até agora tenha sido bastante acidentada, eu não arriscaria projetar isso para o futuro. Os governos, como as pessoas, aprendem com as dificuldades. Temo, apenas, que o aprendizado signifique aumento da tolerância com o malfeito.

Alguns analistas ressaltam a “simplificação” do quadro partidário mediante um bipartidarismo informal entre PT e PSDB (sintetizado nas últimas cinco disputas presidenciais), que, inclusive, passou a reorientar a conduta destes e de seus aliados nas disputas estaduais. Em sua opinião, essa tendência deve continuar nas próximas eleições ou é possível projetar novas disputas com novos atores? O PSD pode alterar essa dinâmica?

Tanto quanto eu possa prever, a tendência no futuro imediato é de manutenção da polarização. Além de quadros, o PSDB tem o controle de vários estados importantes da federação, o que faz dele um adversário relevante. Não creio, porém, que possa se sustentar a médio prazo apenas nisso. Terá que sair do canto do ringue, seja na direção da “sociedade organizada”, seja na direção de partidos à sua esquerda. Se não fizer isso, tenho a impressão de que terá poucas chances de sucesso ao enfrentar o PT. Mesmo se Lula não for o candidato em 2014.

Em relação ao PSD, não me parece que agregue muito. Deverá ser mais um partido clientelista entre outros. Aliás, esta polarização PT e PSDB pode organizar as alternativas disponíveis, mas enfraquece no plano político-institucional o impulso de mudança que vem da sociedade. Estes impulsos democratizantes e liberalizantes — que se expressam em doses diferentes naqueles partidos — têm sempre que se acomodar ao particularismo clientelista dominante nos demais partidos. Veja, não estou dizendo que PSDB e PT estão imunes ao clientelismo, mas que ainda têm capacidade de lutar por objetivos mais marcados pelo universalismo.

FONTE: REVISTA FAAC & GRAMSCI E O BRASIL

Teresa Cristina - Pura Semente

Duplo papel:: Merval Pereira

Num ano eleitoral, com o julgamento político mais importante da História recente do país, o Supremo Tribunal Federal (STF) será o centro das atenções a partir de sua volta aos trabalhos em fevereiro. Suas decisões terão necessariamente consequências políticas, seja qual for o resultado do julgamento.

O Supremo terá o duplo papel de julgar e ser julgado pela opinião pública. Nada poderia ser mais prejudicial aos interesses dos "mensaleiros" do que a polêmica em torno do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A opinião pública estará com sua atenção voltada para o posicionamento do plenário do Supremo em relação à liminar que o ministro Marco Aurélio Mello concedeu nos últimos momentos do ano, quando o Judiciário entrava em recesso, congelando as ações do CNJ.

Outra liminar, esta do ministro Ricardo Lewandowski, suspendeu uma investigação no Tribunal de Justiça de São Paulo sobre possíveis pagamentos abusivos.

As medidas foram entendidas pela opinião pública como ações corporativas, e a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, transformou-se em heroína popular, um Dom Quixote de saias a lutar contra os gigantescos interesses corporativos do Judiciário.

Mesmo que tenha errado no tom quando iniciou o embate, ao afirmar que havia "bandidos togados", a ministra cometeu no máximo uma inconveniência verbal, não uma inverdade.

Seu papel de combate ao corporativismo, que alimenta a impunidade dos frequentes "malfeitos" registrados nos diversos níveis do sistema judiciário, tem sido a melhor tradução do espírito que criou o Conselho Nacional de Justiça.

O CNJ não foi criado como um órgão revisor e tem amplos poderes para receber denúncias contra juízes, mesmo diretamente, sem a necessidade de que a reclamação passe pelos tribunais locais.

Os poderes são tão amplos que ele pode agir por conta própria e vinha investigando casos de corrupção na magistratura sem a necessidade de aguardar uma decisão do tribunal local.

Invertendo a judicialização da política, o senador Demóstenes Torres (DEM) apresentou emenda constitucional que garante ao CNJ o direito de julgar e punir juízes.
Na verdade, essa emenda remete ao espírito da lei que criou o CNJ e seria dispensável se não fosse a reação corporativa que levou a Associação dos Magistrados do Brasil a entrar com ação no Supremo contra o conselho.

O plenário, portanto, terá o papel fundamental de definir para a opinião pública qual é o papel do CNJ e, por consequência, qual o seu próprio papel na estrutura de poder brasileiro: se vai ficar protegendo seus interesses corporativos ou está a serviço da sociedade.

Há um movimento nos bastidores do Supremo para que se chegue a uma difícil solução, que não sacrifique a atuação do CNJ, mas atenda as associações de magistrados, que, refletindo o sentimento da classe, se sentem expostas ao que consideram arbítrio da Corregedoria do CNJ.

A posição do pleno do Supremo a respeito do papel do CNJ terá uma relação direta com o outro julgamento, o do mensalão.

Se levarmos em conta o comentário do ministro Ricardo Lewandowski, flagrado falando ao telefone celular com seu irmão depois do julgamento em que os 40 do mensalão foram indiciados, temos que admitir que essa correlação existe.

A pressão da opinião pública, que já se faz sentir nessa disputa com o CNJ a ponto de o plenário não ter julgado a questão por "falta de clima", conforme explicação não oficial, estará mais uma vez voltada para o Supremo.

Se satisfeita com a decisão sobre o CNJ, a opinião pública transferirá para o STF a esperança de que se faça justiça no julgamento do mensalão.

Se, ao contrário, considerar que o plenário do STF atendeu mais aos interesses da classe do que aos da sociedade, a metafórica "faca no pescoço" a que o ministro Lewandowski atribuiu o indiciamento do ex-ministro José Dirceu como "chefe da quadrilha" poderá voltar a funcionar.

É claro que os ministros do Supremo têm que se ater ao que está nos autos, mas têm também que observar o que a sociedade espera da Justiça.

Quando o mesmo ministro Lewandowski deu uma entrevista recentemente dizendo que alguns dos crimes do mensalão prescreveriam porque não haveria tempo para julgá-los ainda em 2012, houve uma reação negativa da opinião pública, e alguns de seus colegas se viram na obrigação de estranhar as declarações.

O próprio ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, entregou no dia seguinte seu voto, que, na opinião de muitos, já estava atrasado, para não ser acusado de estar postergando o julgamento.

Lewandowski, que é o revisor do voto, alegou também que teria que começar do zero a leitura do processo, e foi desautorizado por Barbosa, que revelou que o processo já estava digitalizado e acessível a todos os ministros há bastante tempo.

Esse fato certamente ajudará a nova ministra do Supremo Rosa Maria Weber, que tomou posse a 19 de dezembro.

Se ela aproveitar o recesso para começar a leitura do processo, provavelmente não terá necessidade de pedir vistas quando o julgamento começar, talvez em maio.

Se pedir vistas, terá três meses para a leitura, o que atrasará mais ainda o julgamento, colaborando para a possibilidade de prescrição de alguns crimes, como o de organização de quadrilha, caso os acusados sejam condenados a penas de até dois anos.

Os advogados de defesa estariam contando tanto com o pedido de vistas da ministra Rosa Maria quanto com a aposentadoria de dois ministros ainda este ano: o atual presidente do Supremo, Cezar Peluso, e o futuro, Ayres Britto, farão 70 anos provavelmente no decorrer do julgamento, e, se tiverem de ser substituídos, haverá um atraso que beneficiará a maioria dos acusados com a prescrição das penas.

Há no Congresso uma emenda constitucional que prorroga para 75 anos a aposentadoria compulsória dos funcionários públicos.

Embora faça todo o sentido essa prorrogação, pois a idade de 70 anos foi fixada quando a expectativa de vida do brasileiro era bem menor, o PT certamente mobilizará a base governista para não a aprovar, para beneficiar os acusados com o atraso do julgamento.

FONTE: O GLOBO

Saldo devedor:: Dora Kramer

Da reforma política à adoção de critérios eticamente saudáveis para a divisão de poder na coalizão governamental, passando por uma decisão definitiva sobre a Lei da Ficha Limpa, cada um dos Poderes da República ficou devendo a sua parte no ano passado.

Com tantas decisões adiadas e muitas questões em suspenso, 2012 abre a conta no vermelho.

Difícil estabelecer quem é o maior devedor. No Poder Legislativo acumula-se o maior número de pendências, mas é no Executivo e no Judiciário que estão as mais polêmicas.

Quando voltar do recesso, em fevereiro, o Congresso encontrará à sua espera uma pauta pesada incluindo a votação do Código Florestal, aprovado na Câmara, modificado no Senado e por isso devolvido ao exame dos deputados.

Os parlamentares terão de correr com a aprovação da Lei Geral da Copa e, em pleno ano eleitoral, precisarão dar conta de uma proposta que contrapõe Estados, municípios, adversários e correligionários: as novas regras de repartição dos royalties do petróleo, assunto cuja solução definitiva acabará ficando com o Supremo Tribunal Federal.

A reforma política continuará no arquivo das pendências eternas, bem como não será neste ano que o Parlamento conseguirá solucionar de maneira satisfatória a questão da tramitação das medidas provisórias nem corrigir as distorções administrativas que fazem da Câmara e do Senado uma usina de denúncias.

Para resolver o assunto MPs falta ao Poder Legislativo independência em relação ao Executivo e para fazer a reforma administrativa falta vontade.

Da mesma forma, não existe disposição no Congresso de retomar as práticas da fiscalização externa e da punição interna aos desvios de conduta parlamentar, itens importantes do saldo devedor.

O Poder Executivo na política inicia o ano devendo uma reformulação nas regras para o preenchimento de cargos e a sistemática na condução dos ministérios, assim como não poderá deixar de se confrontar com a resolução do caso do ministro da Indústria e Comércio.

Fernando Pimentel passou o fim do ano escondendo-se da imprensa para evitar questionamentos sobre suas consultorias, mas não poderá passar os próximos três anos esgueirando-se pelos cantos ou recusando-se a dar explicações, sustentado na tese de que "ninguém tem nada com isso".

O Judiciário acumulou dívida antiga (e desnecessária) ao deixar pendente a decisão sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, embora o assunto esteja praticamente liquidado em favor da validade, a julgar pelas posições já conhecidas da maioria dos ministros.

O passivo de polêmicas para 2012, porém, é significativo: a decisão sobre a retirada de prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e o julgamento do mensalão, um teste importante para a resistência do Supremo a pressões.

No mais, passamos o Reino Unido no quesito Produto Interno Bruto e assumimos o posto de 6.ª economia do mundo.

Agora falta ultrapassar países como Macedônia, Albânia e Cazaquistão, integrantes da lista de 83 nações à frente do Brasil no quesito desenvolvimento humano, sem esquecer as 46 que nos antecedem no PIB per capita, que é a divisão do produto total pela população nacional.

Léguas a percorrer. A diferença entre o excesso de público perfeitamente administrado do aeroporto Charles De Gaulle (Paris) e o caos reinante em Guarulhos (SP) no mesmo dia 1.º do ano conta parte da história da nulidade da infraestrutura no Brasil.

A constatação não é só desoladora: é constrangedora.

Dez mais. A última edição de 2011 da revista francesa Le Nouvel Observateur traz uma reportagem especial sobre os anos 60, "a década que mudou o mundo".

Relaciona acontecimentos marcantes em todas as áreas e cita entre eles a inauguração de Brasília, "uma capital de ficção científica".

Definição da revista: "Mais que uma cidade, é uma utopia que brotou da terra. Uma indiscutível ideia de futuro - obrigatoriamente radiosa, obra-prima da arquitetura moderna".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Quem controla as cigarras:: Marta Arretche

Dez entre dez analistas afirmam que o controle sobre as finanças dos Estados-membros é condição necessária para salvar a Europa. Esta unanimidade não deixa de ser curiosa, pois há grande divergência sobre as causas do excessivo endividamento e, mais ainda, sobre as políticas emergenciais.

Os governantes europeus parecem fracos para tomar as medidas domésticas necessárias à saída da crise. Há quem diga que o problema é de falta de lideranças. Faltariam às democracias modernas líderes como Churchill, capazes de obter o sacrifício de seus cidadãos sob circunstâncias adversas. Churchill, contudo, foi fragorosamente derrotado nas eleições de 1945!

Políticas de ajuste fiscal impõem perdas aos eleitores. Logo, têm grandes chances de levar a derrotas eleitorais. Daí decorre a solução de montar governos "técnicos" ou de coalizão nacional, na tentativa de proteger os Ulysses europeus do (en)canto das urnas.

No plano doméstico, os governos tentam evitar a punição de seus eleitores. No plano europeu, o problema é evitar que medidas para salvar os endividados hoje gerem incentivos para mais endividamento amanhã. Está clara a razão do impasse!

A história é conhecida no Brasil. Até meados da década de 90, os governos estaduais tinham grande margem para captar recursos. Podiam comportar-se como cigarras ou formigas. Os governadores jogavam suas dívidas no colo da União à proximidade do inverno, contando com o fato de que, se deixados à própria sorte, exporiam todos ao risco da escassez.

Para que a União socorresse as cigarras, barganhas políticas entre governadores e presidentes nem seriam necessárias. Não se tratava de fraqueza de vontade ou da necessidade do presidente obter apoio parlamentar. Bastava o presidente reconhecer que poderia ser responsabilizado pela escassez geral na eleição seguinte. Por isto, a saída recorrente era a União assumir a dívida dos estados. Os bancos, por sua vez, continuavam a emprestar para governos sabidamente inadimplentes, a juros cada vez mais altos, pois contavam com o socorro da União, embora cada socorro fosse apresentado como o derradeiro. Esopo ficaria desolado: eram as cigarras que davam lições às formigas!

Como pôde o Brasil sair deste impasse? E por que uma solução parece longínqua para a Europa? Resposta intuitiva, porém incompleta, é de que a Europa é uma união de países independentes ao passo que o Brasil é um Estado-nação.

A principal diferença, na verdade, remete ao dilema de todos os sistemas de governo. Diz respeito à autoridade do centro. O problema institucional europeu é ser governado por um centro politicamente constrangido. A Alemanha enfrenta problema semelhante pelas mesmas razões. Por isto, os Länder são as maiores cigarras dentre os governos regionais da Europa e o governo federal alemão é frequentemente chamado a socorrê-los.

No Brasil, as instituições que permitiram ao presidente Fernando Henrique Cardoso aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal são as mesmas que permitiram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva incorporar 12 milhões de famílias ao Bolsa Família no prazo recorde de um ano. A Constituição de 1988 autorizou a União a legislar em qualquer área de política pública, em particular naquelas cuja execução está sob responsabilidade de Estados e municípios. Os constituintes deram continuidade a um modelo de Estado cujas origens datam dos anos 30, que combina ampla autoridade jurisdicional à União com limitadas oportunidades de veto aos governos subnacionais.

Nem sequer uma emenda constitucional foi necessária para aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Bolsa Família. Bastou aos presidentes fazer uso de recursos deixados à sua disposição pela Carta.

A Lei de Responsabilidade Fiscal está baseada nos artigos que conferem ao governo central autoridade sobre as finanças dos governos subnacionais. O Bolsa Família foi iniciado por medida provisória e aprovado como lei ordinária.

Na (con)federação europeia, as instituições centrais têm muito limitada autoridade para legislar sobre as finanças públicas e as políticas sociais dos estados-membros. Em seu desenho atual, iniciativas nesta direção podem ser facilmente vetadas por uma minoria em um referendo, na volta da padaria com os pães do café da manhã de domingo.

Nossos presidentes enfrentaram resistência para implantar aquelas medidas, a despeito de seus incontestes benefícios gerais. Governadores postumamente descritos como grandes estadistas resistiram às medidas de FHC para tirá-los da confortável condição de cigarras. Lula teve de contornar a resistência de governadores e prefeitos a colaborar com uma iniciativa que traria dividendos políticos ao presidente. As limitadas possibilidades de veto dos governos subnacionais permitiram a aprovação e implementação das medidas. Em ambos os casos, restou aos derrotados a estratégia de buscar dividir os louros da vitória.

Os dirigentes europeus não contam com esta fortuna, o que lhes exige doses muito superiores de virtude. A Europa de hoje é vítima do sucesso da Europa de ontem. Exportou para o resto do mundo o modelo do Estado-nação e dos Estados de bem-estar. As identidades construídas a partir deles estão na raiz da resistência ao alargamento da autoridade legislativa da União. Por isto, a solução do impasse europeu parece tão longínqua. Ela requer substanciais mudanças institucionais para fortalecer a União. Faltou combinar as decisões de 9 de dezembro, largamente festejadas, com os parlamentos e os eleitores. Perdoem-me o plágio: estas decisões não trarão paz definitiva para a Europa!

Marta Arretche é professora livre-docente de ciência política na USP, diretora do Centro de Estudos da Metrópole.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Dívidas que vencem:: Míriam Leitão

O problema das dívidas dos países que vencem este ano não é tão grande quanto parece, mas é suficientemente grave. Ontem, a Bloomberg chegou ao número assustador de US$7,6 trilhões vencendo em 2012; isso é mais do que uma China. Parece uma grande encrenca. Mas o importante não é o tamanho da dívida e sim a capacidade de pagar. O Japão é o maior devedor, mas não tira o sono de ninguém.

Do total, US$3 trilhões são títulos que terão que ser pagos ou rolados pelo Japão. O país tem a maior dívida do mundo em relação ao PIB há muitos anos e sempre conseguiu financiá-la a um custo muito baixo, às vezes até negativo. Tem uma enorme capacidade de poupança e seus maiores credores são os próprios japoneses.

A segunda maior conta que bate este ano é a dos títulos americanos, aqueles para os quais os investidores correm em momento de insegurança. Os US$2,6 trilhões que vencem este ano serão facilmente rolados. A ansiedade que houve no ano passado foi criada pelo impasse político que impedia a elevação do teto da dívida. A paralisia decisória continua sendo a grande dificuldade dos Estados Unidos.

Outro país que terá um grande vencimento é a Alemanha - US$285 bilhões - mas também sobre ela não há dúvida sobre a capacidade de pagamento. A Alemanha está no centro da crise por ser a economia mais poderosa num continente em convulsão, mas tem enorme capacidade de pagamento. O país tem tido dados positivos, destoantes dos de outros países da área. Ontem, saiu a taxa de desemprego de 6,8%, a mais baixa desde 1991. No mesmo dia, na outra ponta da crise europeia, a Espanha chegou ao inacreditável índice de 22% de desemprego.

A China entrou na conta da Bloomberg porque tem US$121 bilhões vencendo, mas sinceramente ninguém pensa que o país não possa pagar esse valor, montada como a China está em US$3,2 trilhões de reservas cambiais. O Brasil teria por essa conta US$169 bi vencendo no ano. Tem mais do que o dobro disso de reservas cambiais. Se houver mais escassez de oferta de crédito, como ocorreu em 2008, os juros ficarão mais caros. Nesse contexto, o Brasil terá problemas que poderá enfrentar com as mesmas armas de 2008, quando o BC irrigou o mercado usando em parte as reservas.

Noves fora os que podem se financiar, sobram os grandes problemas e o maior deles é da Itália. Há outras encrencas graves como Grécia e Espanha. O que cria instabilidade não é o volume da dívida vencendo, mas a confiança na capacidade de o país honrar seus compromissos, ou equilibrar suas contas em algum dia no futuro. Se há dúvidas de que o país cumprirá suas metas - e ontem a Espanha disse que não cumprirá - isso significa que a dívida será realimentada pelo déficit e continuará crescendo. A tendência é a de os bancos pediram uma taxa maior para rolar as dívidas e neste contexto vai se formando um círculo vicioso. Quanto maior a desconfiança, maior será a taxa de juros cobrada pelos investidores. Quanto mais elevada for a taxa, mais dificuldade o país terá de pagar e portanto maior a desconfiança dos bancos credores.

As contas feitas pela Consultoria Tendências mostram dados um pouco diferentes dos da Bloomberg, e estão em euros, mas pode-se conferir no gráfico abaixo que há problemas graves nas dívidas de alguns países europeus. A Itália tem a maior concentração de vencimentos no primeiro trimestre - 130,6 bilhões - o que significa dizer que está entrando no ano com dificuldades. A França também tem uma concentração de títulos a serem renegociados, ou refinanciados, no primeiro trimestre. São 124 bilhões. A eleição presidencial na França adicionará um grau a mais de incerteza nesse quadro.

Outra forma de olhar os dados é comparando com seu PIB. A Alemanha que não tem problema grave de rolagem de dívida tem títulos vencendo que representam 9% do seu PIB; a Grécia, sobre a qual há muitas dúvidas sobre a capacidade de o país honrar seus compromissos, tem dívida vencendo em 2012 equivalente a 27% de sua economia. A Itália terá que resgatar ou rolar um quarto do seu PIB.

Ontem, a Grécia falou o que todos vinham pensando mas não tinham coragem de falar. Admitiu que pode sair da Zona do Euro. O problema das dívidas soberanas continua grave, mas o número de US$7,6 trilhões de vencimentos em 2012 faz com que ele pareça ainda maior.

FONTE: O GLOBO

2012, crescimento sem ilusões :: Paulo R. Haddad

Terminado o ciclo de prosperidade da economia mundial que se estendeu de 2002 a 2008, o Brasil buscou uma trajetória de crescimento econômico ancorada no fortalecimento do mercado interno e na persistência da vigorosa demanda externa por produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais (minérios, metais, bioenergia, alimentos, etc.). E, de certa forma, foi possível prolongar aquele ciclo por alguns trimestres com relativo sucesso no nosso país.

Contudo, a experiência histórica mostra que, quando a economia global sofre um processo recessivo que não é transitório, mas é durável e se aprofunda, é muito improvável que possa haver, em escala mundial, alguma economia nacional de maior expressão que venha a se constituir numa ilha de prosperidade. Ou seja, é muito difícil blindar qualquer país ou região de um colapso econômico global.

Iniciamos o ano de 2012 com a atual crise financeira nos Estados Unidos e na Europa se caracterizando como a mais dramática crise depois dos anos 30. É ilusório pensar que uma crise nas economias dominantes intensa, longa e profunda possa não atingir significativamente as economias periféricas ou emergentes. Os mecanismos de transmissão se manifestam inexoravelmente por meio da queda nos fluxos de comércio internacional de bens e serviços e nos fluxos de financiamento nos mercados de capitais globalizados.

Por outro lado, são limitados os graus de liberdade de que as nossas autoridades econômicas dispõem para conceber e executar políticas de demanda expansionistas. Há um processo de inflação rastejante ou furtiva em andamento que constrange novas e significativas quedas nas taxas de juros. E o orçamento do setor público consolidado se encontra enrijecido por vinculações constitucionais e por comprometimentos políticos com crescentes despesas correntes - em que se destacam as políticas sociais compensatórias, que se tornarão crescentemente indispensáveis se a atual desaceleração econômica se aprofundar.

É evidente que o Brasil ainda se destaca no cenário mundial como uma economia que dispõe de imensas potencialidades de crescimento econômico por causa, principalmente, da exuberância competitiva de sua base de recursos naturais renováveis e não renováveis. Assim, mesmo num quadro de economia mundial convalescente, sempre haverá muitos grandes projetos de investimento sendo concebidos, estruturados e implementados na economia brasileira.

Como tenho destacado em artigos no Estadão, são grandes projetos de investimento que se orientam pelo comportamento dos mercados no médio e no longo prazos, em que novos patamares de demanda foram alavancados de forma sustentada pela China e por outros países emergentes como megaconsumidores de produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais. Nisso esses investimentos se posicionam competitivamente em nível global, independentemente das turbulências financeiras de curto prazo. Sua implementação tem como fatores limitantes os riscos jurisdicionais e a lentidão das burocracias governamentais que prevalecem hoje no País. O seu financiamento tem como origem principal investimentos liderados pelo setor privado nacional ou internacional, com ou sem suporte do BNDES, seduzidos pela suas elevadas taxas internas de retorno financeiro, capazes de atrair capitais estrangeiros diretamente produtivos.

Esses investimentos certamente poderão garantir alguma taxa de crescimento de nossa economia em 2012, mas nada que possa caracterizar um ciclo de expansão sustentada. É evidente que é muito difícil fazer prognósticos sobre uma economia quando esta passa pela inflexão de um ciclo de prosperidade para um ciclo recessivo. As políticas econômicas ficam a descoberto de redundâncias protetoras, tornando-se menos resistentes a choques exógenos, a efeitos inesperados e às falhas comuns nas predições condicionais dos economistas.

Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento, da Fazenda do governo Itamar Franco

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO