domingo, 27 de julho de 2014

Opinião do dia: Marco Aurélio Nogueira

Quando Dilma fala em "mais mudanças, mais futuro", quantifica um processo em que o mais importante é a qualidade, silenciando sobre isso. Aécio Neves é imperativo quando propõe "muda, Brasil", mas não diz que a mudança social é uma construção que somente pode proliferar se for adotada pela sociedade: negociada com ela. Eduardo Campos diz que é preciso "coragem para mudar o Brasil", como se o problema fosse exclusivamente de falta de vontade e ousadia.

Caso se deixem levar por tais discursos mudancistas, as pessoas para quem a vida precisa de fato mudar ficarão sem saber para que lado correr. E passarão a se perguntar: se é assim, por que diabos esses candidatos não se dão as mãos e reúnem forças para desenhar uma mudança que seja factível e produza impacto efetivo sobre o futuro?

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp. Mudar sem sair do lugar. O Estado de S. Paulo, 26 de julho de 2014.

FH: ‘mal-estar’ aumentou chances de PSDB derrotar PT nas urnas

• Em entrevista à revista 'Isto É', o ex-presidente fez críticas à habilidade política de Dilma e disse que os tucanos estão unidos

- O Globo

RIO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à revista “Isto É” publicada neste fim de semana, disse que aumentaram as chances de o PSDB derrotar o PT nas eleições presidenciais deste ano. Segundo ele, essa percepção, que ele avalia não existir há dois anos atrás, é resultado de um "mal-estar" no país provocado por escândalos de corrupção e erros na política econômica, entre outros problemas.

“Hoje, eu acho possível transformar esse mal-estar em algo que tenha consequência eleitoral”, declarou o ex-presidente, elogiando a capacidade de articulação de Aécio Neves ("Aécio foi lá e fez"). O tucano fez duras críticas à gestão petista ao longo da entrevista. De acordo com FH, o governo petista persistiu no estímulo ao consumo e não olhou para outras questões. Sobraram críticas também para a habilidade política de Dilma: FH afirmou que, diferentemente de Lula, a presidente não sabe manejar o Congresso.

Na visão do ex-presidente, a pouca visibilidade da oposição pode ser um entrave na corrida eleitoral. Ele avalia que ações no Congresso, como discursos, apresentam pouca repercussão nos dias de hoje.

"Quando eu era senador, meus discursos eram publicados na íntegra nos jornais. Isso não acontece mais", afirmou. Para FH, "foi-se perdendo o elo entre o Congresso e a sociedade", e o mesmo tipo de fenômeno se aplica à UNE e aos sindicatos.

Ainda sobre eleições, FH disse que as eleições deste ano trouxeram a superação de um "grave problema" da desunião característica de disputas presidenciais anteriores. Ele afirmou que o PSDB, desta vez, está unido.

Petrobras: FH critica gestão de Lula
Na área econômica, o ex-presidente criticou a insistência da gestão petista no estímulo ao consumo em detrimento da ênfase no desenvolvimento econômico do país, por exemplo. Ele avalia que o governo demorou a entender a importância de ter capital público e privado para reativar o investimento. “Houve certa desatenção, não muito grave, à pressão inflacionária”, afirmou.

Já “na política monetária, por exemplo, o PT pode ter errado aqui e ou ali, mas não mudaram o que vinha sendo feito”, declarou. FH também se defendeu de acusações de que, durante seu governo, teve a intenção de privatizar a Petrobras. “Sempre lutamos para tirar qualquer partido de dentro das empresas. A Petrobras, por exemplo. Nunca pensamos em privatização. É mentira”, explicou, dizendo que a proposta era a mesma para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Ainda sobre a estatal, afirmou que Dilma está sofrendo as consequências do que ele considera uma ingerência partidária nas estatais.

Há chance de derrotar o governo agora, diz FHC à IstoÉ

• Ex-presidente afirmou que 'mal-estar' da sociedade favorece oposição

Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que, há dois anos, não acreditava na possibilidade de uma derrota eleitoral do governo, mas hoje acha possível transformar o "mal-estar" da sociedade em algo que tenha "consequência eleitoral".

Em entrevista à revista IstoÉ, FHC afirmou que o governo tem recursos enormes e exposição permanente e achava muito difícil que houvesse uma mudança. "Hoje existe um mal-estar no País. Isso favorece a oposição. Por isso, acho que temos grandes chances", afirmou.

FHC também apontou a pouca visibilidade da oposição como um obstáculo à mudança. Segundo ele, a oposição feita no Congresso não repercute mais. "Quando eu era senador, meus discursos eram publicados na íntegra nos jornais. Isso não acontece mais. Foi se perdendo o elo do Congresso com a sociedade". Para o ex-presidente, o mesmo ocorreu com outras instituições, como os sindicatos e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Ele disse ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "sabia manejar o Congresso" - "não da maneira correta, pois o mensalão ninguém pode apoiar" - mas que a atual presidente, Dilma Rousseff, não sabe.

Economia
O tucano também afirmou que o governo petista persistiu no estímulo ao consumo e não olhou para outros lados, como, por exemplo, o desenvolvimento econômico do País. Segundo Fernando Henrique, o governo levou muito tempo para entender que, para reativar o investimento, precisaria ter capital público e privado.

Segundo ele, o PT acredita que se muda o Brasil ocupando o Estado e controlando mais, sobretudo a economia, enquanto o PSDB acredita que é preciso não ocupar o Estado e ter uma "relação maior com a sociedade". Mas, para FHC, há similaridades entre os dois partidos. "Na política monetária, por exemplo, o PT pode ter errado aqui ou ali, mas não mudaram o que vinha sendo feito", afirmou.

"O juro não baixou como devia, é verdade. Mas isso é algo técnico. Ninguém está discutindo, na essência, a função do Banco Central."

Petrobras
FHC negou que tenha sido cogitada a privatização da Petrobras durante seu governo. "Queríamos a competição e tirar a influência partidária", disse, citando também o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. Para o tucano, Dilma está sofrendo as consequências da gestão Lula na estatal.

Bolsa Família
Fernando Henrique Cardoso disse que todos são a favor da distribuição de renda e outros governos só não fizeram isso porque não tinham como. Ele voltou a dizer que as bolsas (escola e alimentação) surgiram durante seu mandato e afirmou que a política de sustentação do salário mínimo começou no governo de Itamar Franco.

Campanha
FHC diz que Dilma não fala com o País como Lula e defende "simpatia" de candidato tucano à Presidência. "O Aécio pode falar. Jeitão ele tem. Mas precisa dizer alguma coisa que faça ele chegar lá". O ex-presidente disse que a união do partido, os bons palanques regionais e a grande rejeição ao PT em São Paulo aumentam a chance de uma vitória do PSDB.

'Quem é do PSDB apoia Aécio e PSB apoia Campos', afirma Alckmin

• Governador paulista evita falar sobre apoio a Campos no Estado e diz que Aécio é seu candidato à Presidência

Pedro Venceslau e Luís Lima - Agência Estado

SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, desconversou ao ser questionado sobre a decisão de abrir espaço em seu palanque para o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB). "Quem é do PSB vai apoiar o Eduardo Campos. Quem é do PSDB apoia o Aécio, que é o meu candidato", disse, ao lado do candidato mineiro, em evento na capital paulista neste sábado, 26. O PSB é aliado de Alckmin em São Paulo e terá a vice na chapa tucana.

Sobre a resistência da candidata a vice na chapa de Campos, Marina Silva, de ter sua imagem associada ao tucano em propagadas eleitorais, Alckmin disse apenas que "respeita" e tem "grande apreço pela ex-ministra".

Alckmin também rebateu a acusação feita pelo provedor da Santa Casa de São Paulo, Kalil Rocha, de que o governo estadual deixou de repassar recursos federais à instituição. "Tudo que o governo repassa nós repassamos para a Santa Casa", reforçou.

O governador manifestou apoio à proposta de instalar uma auditoria para verificar o repasse de recursos. "Mas o problema não é só da Santa Casa de São Paulo, é de todos que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS)", ressalvou.

Se apoiar o PT, eu sou um maluco, diz Skaf no interior de SP

• Candidato do PMDB ao governo paulista se nega a falar o nome de Dilma durante visita a Franca e Kassab sugere que ele pare de falar sobre apoiar a campanha da reeleição da presidente

Rene Moreira - O Estado de S. Paulo

FRANCA (SP) - O candidato do PMDB ao governo de São Paulo, o empresário Paulo Skaf, se viu numa situação complicada neste sábado, 26, ao ser questionado sobre a relação de sua campanha com o PT, aliado de seu partido em nível nacional. O peemedebista se nega a apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência, mas tenta evitar atrito porque acredita que fará o segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB) e precisará dos votos dos petistas.

Questionado pelo Estado sobre como lidaria com situações como as mensagens que têm sido postadas em suas páginas nas redes sociais pedindo distância dos petistas, Skaf disparou: "Eu não preciso lidar com a situação, porque, se apoiar o PT, eu sou um maluco", disse durante entrevista concedida em um hotel da cidade de Franca, onde estava prevista uma caminhada pela região central, cancelada em razão das chuvas. Segundo ele, o partido tem candidato a governador e é tão adversário quanto o PSDB. "A posição da nossa coligação é vencer o PT e o PSDB. Então, pode estar tranquilo que o apoio ao PT eu não darei", afirmou.

O candidato repetiu que está descartada a possibilidade de abrir palanque para a presidente. "O palanque natural da presidente Dilma é o palanque do PT, o partido dela. O eleitor não entende o que é palanque duplo". E completou: "Entendo assim, muito claramente, o PT é um adversário nosso assim como o PSDB. Em relação a palanque duplo, isso confunde o eleitor."

Ao ser indagado que, se apoia mesmo a Dilma, por que evita falar o nome dela, Skaf começou a se irritar. "Eu já falei da nossa posição hoje aqui em São Paulo. O nome da Dilma fala a Dilma...”, alegou. "Entenda a nossa posição- em São Paulo nós somos adversários, então esta é a situação, e eu estou concentrado na nossa eleição", complementou.

Saia justa. A discussão política sobrou até para o candidato ao Senado na chapa do PMDB, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que acompanhava Skaf na visita à região. Durante a entrevista aos jornalistas, uma repórter argumentou que fora o próprio Kassab quem teria dito que o peemedebista apoia a Dilma. "Eu disse que o candidato Paulo Skaf, com a inteligência que tem, vai encontrar ao longo da campanha o ponto de equilíbrio, porque ele tem adversário em São Paulo que é o PT.
Portanto, ele é candidato a governador e o PT é adversário dele", interveio.

O candidato do PSD disse entender o interesse da imprensa em abordar uma situação delicada como esta. Em seguida sugeriu ao colega ao lado: "Se eu fosse o candidato Paulo Skaf eu não me manifestaria sobre esse tema, que é polêmico, até porque o PT é adversário dele, então eu não me manifestaria até o momento em que possa encontrar um ponto de equilíbrio que seja compreensível...".

Skaf, por sua vez, acatou a sugestão e pediu para um assessor ao lado acabar com a entrevista. Antes, porém, explicou que não quer polêmica com o PT. "Neste momento vocês sabem muito bem que há uma probabilidade maior de irmos para o segundo turno contra o PSDB. Então, nesse primeiro momento, o adversário é o próprio PT. Primeiro né, para viabilizar o segundo turno... Já tem polêmica demais, não serei eu que irei aumentar isso...", finalizou.

Campos: velha política está com pé na canoa PT-PSDB

• Segundo candidato, apenas quebrando polarização será possível ter nova forma de governo

Olívia Bulla - Agência Estado

O ex-governador de Pernambuco e candidato às eleições presidenciais pelo PSB, Eduardo Campos, voltou a dizer neste sábado, em entrevista coletiva concedida na cidade mineira de Juiz de Fora, que, para mudar o Brasil, é preciso ter coragem para romper com a velha política e construir um novo caminho. "Vamos mostrar que estamos prontos para fazer a mudança política que o Brasil deseja", afirmou Campos, na companhia da vice-presidente da chapa, a ex-senadora Marina Silva, e também do candidato do partido ao governo do Estado de Minas Gerais, Tarcísio Delgado.

Segundo o candidato, a velha política no Brasil está com o pé em duas canoas. "Na canoa do PT, que governa, e na canoa do PSDB, que já governou e governou cercado da velha política." A mesma opinião tem a vice-presidente na chapa. "A quebra da polarização PT-PSDB é o que vai unir o Brasil", afirmou Marina.

Só quebrando essa polarização, segundo Campos, seria possível ter uma nova forma de governabilidade no Brasil. "Fazer a mudança verdadeira, para que o Brasil se reencontre com o desenvolvimento econômico, com a geração de oportunidade de trabalho, de geração de renda, com sustentabilidade", afirmou.

De acordo com Campos, a mudança do modo de governar o Brasil deve envolver a sociedade. "Temos uma crença muito forte de que a mudança será feita pela sociedade." Ele afirmou também que as conquistas do presente serão preservadas, mas para mudar o futuro é preciso melhorar a educação, a saúde, a segurança, garantindo serviço público de qualidade e melhorando as condições de vida da população.

Para tanto, Campos diz que o primeiro eixo é um novo Estado brasileiro e uma "democracia de alta intensidade". "O Brasil só vai equilibrar sua economia e dar conta da agenda se inverter a lógica política que hoje domina Brasília, que é a lógica da política para os políticos, para os partidos, quando cada um se colocar como agente dessa mudança", emendou.

Aécio e Alckmin cumprem agenda juntos

• Dois dias atrás, governador paulista disse que, se convidado, participaria de atividades com presidenciável do PSB em São Paulo

Sílvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Dois dias após ter afirmado que participaria de atividades de campanha com o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, se fosse convidado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cumpriu, neste sábado, agenda eleitoral na capital paulista com o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, e classificou como “futricas” as queixas de aliados do mineiro à aproximação entre ele e Campos. Para evitar mais polêmica, Aécio negou qualquer mal-estar entre ambos e disse que a declaração de apoio de Alckmin a ele é “suficiente”.

— Quem é do PSB vai apoiar o seu candidato, que é o Eduardo Campos, e quem é do PSDB apoia o Aécio, que é o meu candidato. O resto são apenas futricas — disse Alckmin, que desconversou quando perguntado se continuava de pé a posição de acompanhar o adversário de Aécio em alguma atividade em São Paulo.

O PSB de Campos faz parte da coligação de Alckmin, candidato à reeleição. O partido indicou o vice do tucano na sucessão paulista, o deputado federal Márcio França.

Depois de caminhar debaixo de chuva com o governador no parque da Juventude, construído no local do antigo presídio Carandiru, na Zona Norte, e visitar uma feira de tecnologia, na Zona Leste, organizada pelo padre Rosalvino, aliado do PSDB desde os tempos do ex-governador Mário Covas, Aécio afirmou estar satisfeito com as declarações de apoio de Alckmin.

— Para mim, isso é extremamente suficiente e satisfatório. Estou muito honrado em ter o apoio do governador Geraldo Alckmin, e vamos ganhar juntos a eleição.

Mais uma vez perguntado sobre o caso dos aeroportos feitos por sua gestão em Minas Gerais, o presidenciável repetiu que “não há nada mais a esclarecer”.
Aécio também disse concordar com alguns bancos e consultorias econômicas que avaliaram nos últimos dias que a vitória da presidente Dilma Rousseff não faria bem à economia brasileira.

— Essas avaliações apontam na mesma direção: o fracasso da política econômica da atual presidente da República. O atual governo perdeu a capacidade de gerar expectativas positivas e isso impacao fortemente em nosso crescimento.

O candidato tucano criticou a manifestação do governo sobre a guerra entre israelenses e palestinos:

— Acho que faltou equilíbrio. Todos nós temos que condenar o uso excessivo da força por parte de Israel, mas, da mesma forma, temos que condenar as ações do Hammas com o lançamento sucessivo de foguetes. Faltou uma palavra mais clara de convocação a um cessar-fogo e a um entendimento entre as partes. O Brasil se precipitou, a meu ver, com uma nota com viés muito mais unilateral do que o esperado de um país como o Brasil.

Discurso de candidatos na prática é outro

• À frente de governos, Dilma, Aécio e Campos agiram de forma diferente da que preconizam aos eleitores

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Os três principais candidatos à Presidência da República apontam as mazelas dos outros, mas têm em comum alguns exemplos de "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Dilma Rousseff (PT), por exemplo, procurou, no início de seu governo, criar a imagem de gerentona que não aturava malfeitos. Por isso, demitiu a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), afastou o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e disse que, a partir dali, tudo seria diferente.

Presidente Recuperou PR e Lupi
Com o calendário da eleição apertando-lhe o calcanhar, e com a traição do PTB, que depois de lhe ter feito juras de amor caiu nos braços de Aécio, Dilma cedeu aos apelos do PR: afastou o ministro Cesar Borges que, apesar de ser do partido, não tinha a simpatia dos mandachuvas, e, em troca, levou o tempo de TV que tanto queria. A faxina ficou debaixo do tapete. No lugar de Borges, a presidente voltou a escalar Paulo Sérgio Passos, que já havia fora ministro em outras ocasiões e vivia orbitando pelo governo.

Dilma também trabalhou para que Carlos Lupi se demitisse do Ministério do Trabalho, em dezembro de 2011. Ele caiu depois de uma série de denúncias de que sua pasta beneficiava ONGs vinculadas a partidários do PDT. A própria Comissão de Ética da Presidência recomendou a exoneração dele. Lupi chegou a peitar a própria Dilma, dizendo que só deixava o cargo "abatido à bala". Depois, fez troça com a situação, dizendo que amava sua chefe.

Mas o amor, na ocasião, não lhe manteve na cadeira. Agora, porém, irritada com a aliança entre o PT e o PSB no Rio, que tem o craque Romário como candidato a senador, Dilma resolveu apoiar o ex-auxiliar.

PMDB é aliado de Campos em PE
O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse que, uma vez eleito, não governará com o PMDB. Não faltaram críticas ao partido, sobretudo aos senadores José Sarney (AP), que já anunciou que se retirará da vida pública, e Renan Calheiros (AL), um dos principais líderes da legenda.

O PMDB já foi o principal adversário de Campos em Pernambuco. Jarbas Vasconcelos, eleito prefeito e governador, rompeu com Miguel Arraes e virou a cara para seus descendentes, Campos incluído. No entanto, no segundo mandato do socialista no governo do estado, o PMDB passou a frequentar a antessala do gabinete do governador. E Jarbas e Campos selaram a paz. Nesta eleição, Jarbas concorre a deputado federal. O PMDB integra a aliança de Paulo Câmara, o candidato de Campos para substituí-lo.

Campos também costuma apresentar-se como o novo na política, que deseja romper com velhas práticas. Porém, em seu governo, foi aliado de Severino Cavalcanti (PP) e Inocêncio Oliveira (PR), deputado federal desde 1975. Em seu primeiro mandato, criou 29 secretarias, e hoje ataca o governo federal pelo número de ministérios - 39. Antes de deixar o governo neste ano, ele reduziu a 23 as secretarias.

A tática de criticar certas atitudes quando se está na oposição, e fazer o contrário, quando no governo, também foi usada por Aécio Neves. Enquanto o PSDB usa todo o espaço que dispõe para pedir CPI sobre qualquer assunto que envolva o governo federal, quando Aécio era governador de Minas a Assembleia Legislativa, controlada por ele, não criou nenhuma CPI. E não foi por falta de propostas da oposição. Uma delas queria investigar a reforma no Mineirão e a cessão do espaço para uma empresa pública administrar. Mas o governo atuou e a proposta não prosperou.

Aécio, que se apresenta como alternativa ao PT, uniu-se ao partido nas eleições de 2008 ao apoiar, com Fernando Pimentel (PT), o candidato do PSB, Márcio Lacerda, à Prefeitura de Belo Horizonte.

A assessoria da campanha da presidente Dilma informou que a resposta para o fato de ela ter aceitado as condições do PR para trocar o ministro dos Transportes estava no discurso que fez na posse de Paulo Sérgio Passos, em substituição a Cesar Borges, em 26 de junho.

- Nesse momento nós estamos fazendo uma pequena reorganização no time que toca a infraestrutura logística no governo. Eu estou realocando as melhores pessoas em funções diferentes, ainda que semelhantes na essência e nos princípios. Altero a equipe e passo a aproveitar ainda mais a competência de três servidores públicos exemplares, que já exerceram diferentes atividades e em todas se saíram muito bem - discursou Dilma, sem menção ao PR.

A assessoria não informou por que Dilma, que antes não morria de amores por Lupi, agora o apoia ao Senado no Rio.

A assessoria de Eduardo Campos reafirmou que o candidato quer reduzir à metade o número de ministérios, e justificou a criação de 29 secretarias em sua administração como forma de "empoderar algumas áreas sem haver acréscimo de gastos ou cargos comissionados".

Negação de clientelismo
Sobre as alianças com Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira, a assessoria afirmou que elas se deram "em torno de um programa de governo considerado inovador e voltado para os que mais precisam". Ainda segundo a assessoria, Campos nunca foi pautado pelo clientelismo ou pelo fisiológico. "Conversamos com todas as forças políticas, mas nosso critério para o preenchimento de cargos sempre foi a competência."

A assessoria observou que as críticas dirigidas pelo candidato ao PMDB referem-se apenas à ala do partido vinculada aos senadores Sarney e Renan.

Através da assessoria, Aécio argumentou que CPIs são instrumentos fundamentais das minorias para fiscalizar e investigar as ações de um governo, mas não podem ser banalizadas e usadas apenas para a disputa política. "No caso de Minas Gerais, absolutamente nenhum fato determinado com alguma consistência surgiu", afirmou.

Aécio disse que em 2008 foi feita uma ousada aliança política em favor de um nome que ele e Pimentel achavam ter as qualidades necessárias para administrar Belo Horizonte. "Mesmo sendo governador e tendo alta aprovação na capital, abri mão de lançar uma candidatura de meu partido porque considerava que a eleição de Márcio Lacerda era a que melhor atendia aos interesses da população", disse o tucano.

No congresso, Aécio e Campos defenderam propostas polêmicas

• Presidenciáveis não confirmam se ideias vão fazer parte dos programas de governo

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - Candidatos à Presidência, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) apresentaram no Congresso propostas polêmicas. Quando era deputado, Aécio defendeu desconto obrigatório na mensalidade escolar para quem tem mais de um filho, flexibilização de limites de endividamento de estados e municípios e antecipação de feriados para segundas-feiras. Campos propôs dinheiro da União para pagamento de auxílio-funeral, reduzir pela metade tributos para quem contratar jovens ou pessoas com mais de 45 anos e aumentar de três para quatro anos o ensino médio. Procurados, não responderam se essas ideias farão parte de seus programas de governo. Dilma Rousseff não foi incluída porque nunca exerceu mandato parlamentar.

Aécio foi deputado federal por quatro vezes e é senador pela primeira vez. Em 1992, propôs garantir em lei desconto obrigatório para as famílias com mais de um filho nas mensalidades em escolas particulares. O abatimento seria de 20% para o segundo filho, 30% para o terceiro filho e 40% para o quarto filho e seguintes. Em 1999, queria a proibição de contingenciamento em programas de crédito educativo. As duas propostas foram arquivadas. No Senado, em 2011, defendeu dedução do Imposto de Renda para empresas por gastos com ensino para os empregados.

No atual mandato apresentou projeto que flexibilizava a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), uma das bandeiras do PSDB, ao propor a adoção de limites de endividamento maiores para que estados e municípios pudessem fazer investimentos nos anos de 2013 e 2014. O senador protocolou ainda vários projetos que aumentavam repasses de recursos da União para estados e municípios. Um deles obriga a compensação quando o governo federal faz desonerações tributárias. Defendeu a inclusão do programa Bolsa Família na lei que trata das políticas de assistência social e a garantia do benefício por seis meses para quem conseguisse renda para sair do programa. Ainda na Câmara, defendeu os "feriadões" ao propor, em 1997, que os feriados fossem sempre comemorados, antecipadamente, às segundas-feiras. Propôs a coincidência das eleições, esticando o mandato de prefeitos.

IR e bolsa família
Aécio disse que as propostas reforçam suas bandeiras, mas não garantiu a defesa delas em sua campanha presidencial. "Nas propostas, estão claros os seguintes pontos: a defesa do fortalecimento de estados e municípios, aproximando o cidadão da solução dos problemas do seu dia a dia; a necessidade do crescimento da economia com aumento dos investimentos e a adoção de regras claras e estáveis; o compromisso com a superação da pobreza, com a transformação da Bolsa Família em política de Estado; a garantia de educação de qualidade a todos. Sempre lembrando que o combate à inflação e a responsabilidade fiscal são pontos prioritários e inegociáveis", disse, por sua assessoria.

Eduardo Campos teve três mandatos na Câmara. Em 2001, propôs que a União passasse a auxiliar estados e municípios no pagamento de auxílio-funeral e auxílio-natalidade. O pagamento seria para quem recebesse até três salários-mínimos e no caso de morte chegaria a um salário. O projeto foi rejeitado por ir contra a LRF e arquivado em 2007.

A preocupação com geração de empregos foi a motivação para outro projeto. Em 2003, Campos defendeu reduzir à metade alíquotas de impostos para quem desse o 1º emprego para "jovens de até 30 anos" ou empregasse pessoas com mais de 45. As empresas poderiam deduzir no IR 50% do salário dos contratados, desde que não excedessem um limite de 30% do total de IR devido.

O candidato do PSB defendeu outras medidas com impacto nas contas públicas, garantindo seguro-desemprego para trabalhador rural que tenha trabalhado por menos de seis meses e permitindo saque do FGTS para pagar curso superior, inclusive para dependentes. Propôs ainda, em 2003, uma alteração na Educação elevando de três para quatro anos a duração do ensino médio. Na mesma proposta desejava elevar para nove anos a duração do ensino fundamental, adotada em todo o país em 2010. Em um projeto que chamou de Lei de Responsabilidade Eleitoral, defendeu que a Justiça Eleitoral fixe teto de gastos, proibição de despesas de campanha para divulgação de pesquisas e aluguel de espaços. Propaganda de TV só seria feita em lugares fechados.

O candidato do PSB não respondeu se as propostas estão mantidas. "O programa de governo é uma construção coletiva e será apresentado nos próximos dias. Portanto, não há como assegurar que algum projeto desses esteja ou não contido nele por enquanto", disse a assessoria.

Eleitor vai às urnas sentindo o bolso

• Alta dos preços afeta o cotidiano do brasileiro e repõe inflação no centro do debate eleitoral

Alexandre Rodrigues – O Globo

Vinte anos depois do Plano Real, a inflação volta ao centro do debate eleitoral. Decisiva nas vitórias do PSDB sobre o PT em 1994 e 1998, a estabilidade econômica ainda serviu ao discurso do medo ensaiado pelos tucanos em 2002, que não impediu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Nas duas eleições seguintes, ficou em segundo plano. Parecia consolidado o consenso em torno da política de metas de inflação do Banco Central. Já no início da campanha presidencial deste ano, o tema retoma o protagonismo. A inflação não sai da boca dos candidatos, sobretudo os desafiantes de Dilma Rousseff (PT), municiados por pesquisas e marqueteiros que já perceberam como as remarcações de preços voltaram a incomodar.

Palavras como "carestia" e "arrocho" retornaram aos discursos. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não perdem uma oportunidade de acusar Dilma de negligenciar o combate à inflação para tentar impulsionar a economia com gastos públicos descontrolados enquanto salários são corroídos. A petista responde que não há descontrole inflacionário e fiscal, exibindo índices no intervalo de tolerância da meta oficial e superávit nas contas, pelo menos no papel. E devolve a acusação dizendo que as "medidas duras" defendidas pelo tucano e a revisão da meta de inflação prometida pelo socialista gerariam desemprego.

Economistas ouvidos pelo GLOBO concordam: os números mostram uma dificuldade do governo para domar a alta dos preços, mas não há risco de hiperinflação. Pelo 5º ano consecutivo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai chegar a dezembro muito próximo do teto do intervalo de tolerância de dois pontos porcentuais da meta oficial de 4,5%. A previsão é do governo, que estimou na semana passada uma inflação de 6,2% no fim deste ano.

Alta nos alimentos e serviços
As estimativas do mercado são mais pessimistas, já que, em junho, o indicador passou da trave quando se considera o resultado acumulado em 12 meses: 6,52%. Na prévia do índice de julho (IPCA-15), o dado mais recente do IBGE, a inflação acumulada em 4,14% nos primeiros sete meses de 2014 praticamente esgota o centro da meta para o ano.

Acontece que o impacto no orçamento das famílias é maior. Índice oficial da inflação, o IPCA é uma média do comportamento de todos os preços. A alta tem sido maior nos alimentos e nos serviços. A feira livre, o cabeleireiro e o transporte configuram o que fica mais caro. O brasileiro começa a ver com mais frequência reajustes acima da inflação, que foi de 5,91% em 2013. Foi o caso de restaurante, plano de Saúde e mensalidade escolar, que subiram mais de 10% em 2013. Na feira, a tangerina subiu 73%. A farinha de trigo, 25%. A alta sazonal de alimentos permite trocá-los por outros, mas substituir o aluguel dá mais trabalho. Como os serviços são o componente mais resistente da inflação (em 2013, subiram 8,7%), o cidadão sente um retrocesso no bem-estar conquistado pelo aumento da renda e do emprego.

- Faz uns três meses que passei a gastar mais para comprar as mesmas coisas na feira. Eram R$ 100 por semana e agora são R$ 150. Sou diabética e consumo, por recomendação médica, diariamente frutas e verduras. Não posso parar. Mas já tem laranja custando R$ 10 e banana, R$ 6 - conta Antônia Amaral, na Glória.

- Vivemos um tipo de inflação que afeta diretamente o bolso do consumidor - afirma Bruno Fernandes, economista da Confederação Nacional do Comércio: - Não há dúvidas de que as pessoas têm hoje uma percepção muito mais forte da inflação do que nas últimas eleições. ( Colaborou: Carolina Benevides )

Em 4 anos, Dilma cresce menos do que Lula em 1

- Correio Braziliense

A decisão do Banco Central de injetar R$ 45 bilhões na economia em um momento em que o custo de vida já rompeu o teto da meta de inflação deixa claro que a prioridade do governo, a três meses das eleições, é apenas evitar que o país mergulhe numa recessão. A avaliação da equipe econômica é de que o país vive um colapso de confiança e que, portanto, é preciso criar uma agenda positiva para reverter o pessimismo de investidores, e das famílias.

Não é para menos. Se a previsão de crescimento de instituições conceituadas como a gestora de recursos Franklin Templeton Investments, o Banco Fibra, e a consultoria GO Associados, se confirme em 0,5%, o resultado do governo Dilma Rousseff só seria melhor do que o do período de Fernando Collor e Itamar Franco na Presidência, entre 1990 e 1994.

Se os prognósticos estiverem corretos, significa dizer que a média de expansão do PIB dos últimos quatro anos seria de apenas 1,69%. Mesmo o crescimento acumulado durante o mandato, de 6,90%, ficaria abaixo da média de expansão da economia apenas no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o PIB avançou 7,53%.

No Palácio do Planalto, o sinal de alerta está ligado. A avaliação ainda é de que Produto Interno Bruto (PIB) não enche a barriga do eleitor. Mas, diante da ameaça de recessão, passou-se a temer também pelo mercado de trabalho, que começa a dar sinais claros de perda de força. O pacote de estímulo ao crédito do BC foi lançado na mesma semana em que os prognósticos do mercado financeiro para o crescimento econômico caíram abaixo de 1% pela primeira vez no ano e que o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou em 0,6 ponto a projeção de expansão da atividade para o Brasil em 2014.

Também na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou as novas projeções para a economia. A revisão foi ainda maior, de 1,8% para apenas 1%. Para a entidade, "as causas da forte desaceleração são várias e decorrem mais do ambiente doméstico do que da economia mundial", declarou, por meio de nota.

Piora
Os últimos dados preparados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aos quais o Planalto acompanha com lupa, mostram um cenário preocupante para os trabalhadores. Ao excluir dos cálculos os fatores sazonais, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) já sinaliza aumento do desemprego. São dados que ainda podem piorar à medida que novos indicadores econômicos apontarem para a estagnação do crescimento.

Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados da produção industrial de junho, na sexta-feira. Os economistas do Santander projetam queda de 1,6%, na comparação mensal, com ajuste sazonal. No comparativo anual, o resultado seria ainda pior: contração de 7,2%.

Para os analistas do banco, o baixo resultado "está em linha" com a confiança do empresário industrial, "que vem mostrando quedas mensais consecutivas", escreveram em análise a clientes. Todos os índices de confiança do empresário industrial têm operado no vermelho. O mais recente, elaborado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), atingiu, em julho, o menor patamar da história.

Ao deficit de confiança, diz o economista Vagner Alves, da gestora de recursos Franklin Templeton Investments, somam-se problemas que a indústria enfrenta há décadas, como a falta de mão de obra qualificada, pressões de aumentos de salários e dificuldade em competir com produtos estrangeiros. "A indústria enfrenta um descompasso muito forte. Os salários continuam subindo desde 2008 e a produção estacionou. Isso é perda de competitividade na veia", assinala.

Recessão técnica
Sem a força das fábricas, a economia sofre para mostrar bons resultados. No primeiro trimestre, o PIB brasileiro avançou 0,2%, um dos menores crescimentos entre países do G 20. Como as perspectivas para o segundo trimestre são ainda piores, nada indica uma reversão desse quadro. "Entre abril e junho, a economia deve ter encolhido 0,5%", diz o Vagner Alves, indicando as previsões feitas pela Franklin Templeton Investments.

No cenário em que trabalha, dada a intensidade da queda no segundo trimestre, até mesmo o resultado do PIB primeiro trimestre seria tragado para baixo. "As nossas previsões indicam que o país já está em recessão técnica", observa o economista.

Sem aumentar a produção interna, a indústria também sofre com a competição de importados, que, muitas vezes, chegam a custar até três vezes menos do que similares nacionais. O que ainda ajudava a salvar as vendas das fábricas eram as exportações para países vizinhos, como Venezuela e Argentina. Mas, em meio à forte crise de dólares e diante da recessão, ambos estão com problemas de importar itens brasileiros.

No primeiro semestre, as vendas de itens brasileiros ao exterior caíram 3,4%. Ao mesmo tempo, diante da moderação do consumo interno, as importações também recuaram, num total de 3,8%. Ou seja, apesar de o cenário internacional favorecer o comércio exterior, o Brasil está exportando e importando menos, o que fez a nossa corrente de comércio encolher 3,6% em 2014.

Boa parte dessa queda é atribuída à fraqueza do setor industrial. Diante de problemas de custos e já com margens pressionadas, a indústria brasileira se tornou presa fácil para concorrentes externos. Ao mesmo tempo, ao ver os lucros encolherem, os empresários botaram o pé no freio e engavetaram investimentos.

O economista Bruno Fernandes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), não tem dúvidas de que 2014 será um ano para ser esquecido. "O PIB já está dado. Por mais que a gente esteja a pouco mais da metade do ano, e que o governo tente lançar pacotes salvadores, não há muito mais o que fazer. A economia brasileira vai patinar mais uma vez este ano."

Corrida pelo apoio do empresariado

- Correio Braziliense

Com a economia dando sinais de desaceleração, e a arrecadação de campanha bem aquém da idealizada pela classe política, os presidenciáveis iniciam esta semana um périplo entre os representantes do PIB brasileiro em busca de apoio. Desde que tiveram os registros oficializados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), será a primeira vez que estarão diante do setor produtivo brasileiro — primeiro na Confederação Nacional da Indústria (CNI) e, semana que vem, na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) — para reverter o clima de pessimismo em relação a 2015.

Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff, naturalmente, enfrenta um nível de desgaste maior que seus adversários. "Não há como negar que o discurso oposicionista, neste momento, é mais simpático aos ouvidos do empresariado", reconheceu o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE) têm mantido, desde os tempos de pré-campanha, um diálogo mais próximo com os empresários. Já Dilma enfrenta mais dificuldades, sendo, por diversas vezes, acusada de centralizadora e intervencionista. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou-se em filtro nessa relação e, nas últimas semanas, a petista viu-se obrigada a corrigir rotas, abrindo o Palácio da Alvorada para jantares com setores produtivos. Prometeu, inclusive, revisar de forma mais profunda algumas atitudes caso seja reeleita em outubro.

Mesmo assim, a tendência atual é de que seja bastante questionada tanto pelos adversários quanto pelos empresários, embora o formato das sabatinas não preveja troca de perguntas entre os presidenciáveis. Na tarde de sexta-feira, Eduardo Campos publicou, em sua página no Facebook, um receio de repetição, ao término deste ano, de nova goleada de 7 x 1 sobre o Brasil (em uma referência à derrota para a Alemanha na Copa do Mundo), desta vez na economia. "Não gosto nem de me lembrar daquele jogo, mas prestei atenção na provocação do jornal Financial Times, que prevê um novo 7 x 1 na vida dos brasileiros ainda este ano: 7% de inflação e 1% de crescimento do PIB", disse o candidato socialista.

Presidente estadual do PSDB paulista, o deputado Duarte Nogueira afirma que o desafio da candidatura tucana é apresentar aos empresários a certeza de que a mudança de governo trará um ambiente mais confiável na economia. "Nunca arrecadamos tantos impostos e crescemos tão pouco em nossa história", lamentou o deputado. Para o parlamentar, o problema atual deriva da falta de planejamento do governo, que prefere adotar políticas de curto prazo. "O nosso candidato apresentará uma proposta de planejamento a longo prazo para aumentar a eficiência da nossa economia, implementar políticas regulatórias mais efetivas e trabalhar pela formação de uma mão de obra mais qualificada", defendeu Nogueira.

Ex-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP) reconheceu que existem críticas ao governo, mas afirmou que, por outro lado, Dilma tem muito a apresentar aos empresários sobre as medidas implementadas ao longo dos últimos anos, como os incentivos à produção, a redução na taxa de juros e a desoneração na folha de pagamentos, entre outras ações governamentais. "Os debates serão uma oportunidade para expor nossas políticas e para ouvir as demandas dos diversos setores", ponderou Teixeira.

Incertezas
Os representantes do setor ressaltam que o momento é destinado mais a ouvir as propostas dos presidenciáveis do que definir o apoio a A ou B. Durante o lançamento do Plano Safra, em maio deste ano, a então presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia Abreu — que deixou o cargo para concorrer à reeleição como senadora —, afirmou que não há uma decisão fechada de apoio do setor. "É bobagem querer fazer esta divisão de quem apoia ou não a presidente (Dilma). Não existe uma classe desse tamanho unânime", desconversou a senadora, que defende a reeleição da presidente.

Para o diretor de Políticas e Estratégias da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, os empresários querem ouvir, neste momento, qual a agenda dos candidatos para os próximos anos. Os presidenciáveis que participarão do encontro receberam com antecedência o documento elaborado pela CNI com as propostas de ação, políticas e até sugestões de projetos que tramitam no Congresso para desafogar o setor produtivo.

José Augusto reconhece que, até o momento, nenhum dos candidatos ao Planalto — nem mesmo a presidente Dilma — deixou claro quais são as propostas econômicas que serão implementadas a partir de janeiro de 2015. A regra vale até mesmo para Dilma, candidata à reeleição. "Às vésperas de uma disputa eleitoral, é comum a existência de incertezas quanto ao futuro, principalmente porque os governantes tendem a retardar medidas consideradas impopulares", explicou o diretor da CNI.

Diagnóstico
Confira os assuntos econômicos que devem permear o debate dos presidenciáveis com os empresários

PROBLEMAS
Inflação
» O índice está superando o limite do teto estabelecido pelo governo
Produto Interno Bruto (PIB)
» Deve crescer, se muito, 1% em 2014
Juros
» A taxa básica da economia, a Selic, segue entre as mais altas do mundo

DEMANDAS
» Insegurança jurídica, especialmente nas relações no campo
» Estabelecimento de uma política agrícola perene
» Melhorias na infraestrutura e na logística
» Aprimoramento nos acordos comerciais internacionais, com a queda de barreiras alfandegárias
» Redução da carga tributária
» Dúvidas sobre o custo dos investimentos futuros e a manutenção no nível de investimentos

Dilma não gera 'boas expectativas', diz tucano

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse, na manhã deste sábado (26), que o governo de Dilma Rousseff (PT) "perdeu a capacidade de gerar expectativas positivas" na economia.

A fala repercutiu reportagem da Folha que mostrou que analistas econômicos estão reavaliando as chances de vitória da petista.

"Há uma coisa essencial em economia: expectativa. Esses avaliações mostram que o atual governo perdeu a capacidade de gerar expectativas positivas, seja nos agentes internos, seja nos agentes externos", afirmou.

Aécio falou sobre o tema depois de cumprir agenda no Parque da Juventude, em São Paulo, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Após a caminhada, esvaziada pela chuva, Aécio alterou a agenda para acompanhar Alckmin a uma visita às obras sociais do padre Rosalvino, tido como influente líder católico, na zona leste da capital.

Aeroporto
Ao final da visita, Aécio voltou a desconversar ao responder sobre o uso do aeroporto que construiu, quando governador, em Cláudio (MG).

"Já dei todos os esclarecimentos que julgava necessários. Se quiserem falar sobre o Brasil, estou aqui", disse.

Alckmin, por sua vez, recuou da declaração, dada na última quinta-feira (24), de que poderia fazer campanha para Eduardo Campos, candidato do PSB ao Planalto --o partido tem a vaga de vice na chapa de Alckmin à reeleição.

"Quem é do PSB vai apoiar Campos, e quem é do PSDB vai apoiar Aécio Neves, que é meu candidato a presidente".

Oriente médio
Sobre o posicionamento do Brasil em relação ao conflito no Oriente Médio, Aécio disse considerar que faltou um "brado mais claro" pedindo um cessar-fogo na região.

Para o tucano, a nota do Itamaraty foi equivocada, porque teve "viés unilateral" ao condenar a ação militar israelense na faixa de Gaza --a nota não fez menção aos ataques do Hamas a Israel.

Dilma pode 'esclarecer mais' sobre Petrobras, diz Campos

• Candidato do PSB será testemunha de Costa, ex-diretor da estatal preso pela PF

Marina Dias – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos afirmou nesta sexta-feira (25) que a presidente Dilma Rousseff é "quem poderia esclarecer mais coisas sobre Paulo Roberto Costa", ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e alvo da Operação Lava Jato, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.

Na quarta-feira (23), a Justiça Federal acolheu pedido da defesa de Costa, que indicou o ex-governador de Pernambuco como testemunha, e mandou intimar Campos para depor no processo sobre suposto desvio de dinheiro das obras da refinaria Abreu e Lima. "Estou à disposição da Justiça", disse Campos, questionado sobre se compareceria. "Mas acho que quem poderia esclarecer mais coisa sobre Paulo Roberto Costa era a Dilma, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras, que nomeou o Paulo Roberto".

Ajuda financeira seletiva abre crise entre PT e PMDB

• Sem aval de seu partido, Renan Calheiros costurou apoio de R$ 35 milhões.

• Negociação, que gerou mal-estar, beneficiaria só cinco peemedebistas que irão concorrer aos governos estaduais.

Andréia Sadi, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Negociação envolvendo o repasse oficial de recursos financeiros do PT para o PMDB abriu uma crise entre os dois partidos, os maiores da coligação pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Sem aval do comando peemedebista, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), costurou o recebimento de uma ajuda de campanha de R$ 35 milhões.

O PT, que arrecadaria o valor por meio de doações legais de empresas, repassaria a quantia a cinco candidatos do PMDB a governos estaduais em Rondônia, Amazonas, Paraíba, Pará e Alagoas --onde Renan Filho é o nome do partido na disputa.

Em quatro desses Estados o candidato peemedebista tem o apoio oficial do PT (a exceção é em Rondônia).

O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), foi informado da exclusão da maioria do partido no repasse e exigiu que fosse feita uma distribuição igualitária para todos os candidatos da sigla.

Segundo relatos ouvidos pela reportagem da Folha, a negociação com Renan foi acertada com Aloizio Mercadante (PT), ministro da Casa Civil. Por meio de sua assessoria, o ministro negou que tenha tratado do assunto com Renan ou com "qualquer liderança do PMDB": "A Casa Civil não trata das finanças de campanhas, sendo este um tema exclusivo dos partidos".

O mal-estar no PMDB chegou aos ouvidos de assessores de Dilma. Congressistas afirmam que o imbróglio foi o principal motivo da volta de Temer à presidência do partido. Porém, a equipe de Temer nega, alegando que ele voltou ao comando do PMDB para estar à frente da interlocução política na campanha.

Pelo desenho acordado entre PT e PMDB, seriam repassados cerca de R$ 8 milhões para Alagoas, Paraíba, Amazonas e Pará. Rondônia, Estado do então presidente do partido, Valdir Raupp, ficaria com R$ 3 milhões.

"Eles acharam que ninguém ficaria sabendo. Tem que ser socializado", ironiza um cacique do PMDB à Folha. A cúpula do partido quer contemplar, entre outros, os candidatos ao governo de Goiás, Iris Rezende, do Ceará, Eunício Oliveira, e do Rio Grande do Norte, Henrique Eduardo Alves. Nenhum deles é apoiado pelo PT.

Petistas negam a articulação, mas afirmam que há pressão de aliados --como PMDB, PR e PP-- para ajuda nos Estados.

Um peemedebista da cúpula da legenda explica, sob a condição do anonimato, a "dependência"" da doação intermediada pelo PT: segundo ele, o empresário doa com mais facilidade "para quem manda"". Auxiliares do comitê presidencial afirmam que a ordem é ajudar, mas só depois que conseguirem resolver a campanha nacional.

Além disso, a orientação é "endurecer"" com partidos que possuem ministérios, como o PMDB, já que, na avaliação petista, os titulares das pastas têm interlocução com o empresariado.

Segundo relato de participantes da negociação, houve acerto e o valor será distribuído de maneira "igualitária"". Outros peemedebistas afirmam que a negociação não se concretizou. A assessoria de Temer afirma que os partidos da coligação nacional tentarão auxiliar "politicamente"" todos os palanques estaduais que estiverem alinhados com Dilma.

Eunício Oliveira (tesoureiro do PMDB) afirma que o assunto nunca foi tratado com ele. Já o tesoureiro do PT, João Vaccari, não se manifestou. Na sexta (25), a Folha tentou, mas não conseguiu falar com Renan Calheiros.

'Povo espera do governo qualidade de vida', diz Fernando Henrique

• Para melhorias serem sentidas na ponta, afirma ex-presidente, é preciso aprimorar máquina do Estado

Alexa Salomão, Gabriel Manzano, Ricardo Grinbaum - O Estado de S. Paulo

Seja quem for o presidente eleito em outubro, seu principal desafio será converter a ação do Estado em qualidade de vida para a população, um desejo crescente que se reflete na cobrança por serviços públicos mais eficientes. Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, melhorar o funcionamento da máquina pública foi a chave para o Plano Real no combate à inflação, 20 anos atrás, mas o tema ainda é um ponto preocupante.

"O que importa hoje não é o 'quantos por cento' de inflação temos", diz FHC. "O que assusta agora é perceber que os fundamentos não estão funcionando tão bem quanto deveriam. O conjunto da obra está bamboleante."

Fernando Henrique vê o País "pagando o preço" pela falta da reforma política, que ele próprio reconhece como uma frustração. Para sair dela, afirma, é preciso um entendimento entre PT, PSDB e PMDB, mas há um empecilho: as incessantes "pedradas" entre tucanos e petistas. "Lula é hegemônico, quer tomar conta de tudo, esmagar o adversário", diz. "Não há como fazer acordo."

Seu governo ficou marcado pela estabilização. O de Lula, pela distribuição de renda. Como será lembrado o governo Dilma? E qual marca deve buscar o próximo governo?

Essas marcas são todas parciais, mas enfim, são marcas. O governo Dilma vai ser lembrado como uma espécie de cabra cega. O mundo teve a crise e fizeram uma tentativa de crescimento pela expansão do crédito, pelo consumo e pela ingerência do Estado - como uma volta aos anos 60 e 70. Nada disso está funcionando muito bem. O governo ficou, assim, sem marca. Ela foi apresentada como uma grande gerente e as circunstância não permitiram que se visse isso.

E para a frente, qual seria o norte?

O Brasil, do ponto de vista material, melhorou muito. Então, por que nos sentimos perdidos hoje? No passado, achamos que bastava fazer a economia crescer e isso nos levaria ao Primeiro Mundo. Ora, estar no primeiro mundo é ter qualidade de vida! Se você for a qualquer pequeno país europeu - Portugal, Dinamarca, Croácia, que seja, são infinitamente menos crescidos que o Brasil em termos econômicos, mas a população se sente no Primeiro Mundo. Porque ela tem educação, segurança, respeito à lei. No futuro, um governo, para deixar uma marca, vai ter que insistir nos intangíveis - o que é difícil, porque as pessoas não vão sentir no começo.

Um ponto de forte debate é como fazer ajustes no Estado sem ameaçar a distribuição de renda. É possível?

Quando fizemos o Plano Real, a crítica do PT, do PDT e de não sei mais quem era que os trabalhadores, mais uma vez, iriam arcar com os custos. Não aconteceu isso. Aconteceu o inverso. A taxa de pobreza caiu de 40% para 30% com a estabilização e houve aumento dos salários. Fazer ajustes não quer dizer apertar o cinto do povo. Vou dar outro exemplo. Se for olhar a proporção do PIB que é gasto em bolsas e comparar com a proporção do PIB que é gasto com subsídios para setores empresariais, via BNDES, vai ver que é a mesma coisa. O governo dá para cima e dá para baixo. É mais fácil você parar com o subsídio do que com a bolsa. As bolsas vieram para ficar.

Qual é o balanço dos 20 anos do Real?

O Real não foi um plano apenas para controlar a inflação, mas para controlar as causas da inflação. As empresas não estavam em má situação. A economia havia crescido algo como 5%. Quem estava em má situação era o Estado. Se não resolvêssemos a situação do governo, não haveria como controlar a inflação. Isso significava repor a ideia de que contratos valem, que quem deve precisa pagar, que Estados e municípios precisam arcar com suas contas. Reorganizar o mecanismo de endividamento interno e o orçamento. A moeda foi a parte imediata. Levamos anos trabalhando para colocar em ordem o mecanismo institucional. A Lei de Responsabilidade Fiscal é do ano 2000. Hoje, o que importa não é o "quantos por cento" de inflação. A inflação é de cinco e pouco por cento. Seis. Não é de assustar. No meu tempo era 20%, 30% ao mês. O que assusta agora é perceber que os fundamentos não estão funcionando tão bem quanto deveriam. O conjunto da obra está bamboleante: a Lei de Responsabilidade Fiscal não é cumprida adequadamente, o gasto público não está sendo controlado, o endividamento é elevado.

E qual a maior frustração com o Real?

As reformas ficaram pela metade. Era muito difícil negociar com o Congresso. A reforma política - eu tomei a decisão de não começar por ela, porque se começássemos por ela não sairíamos dali - era importante. Deixamos para o Congresso fazer. Estamos pagando o preço pela falta da reforma política. Se queremos uma democracia bem avaliada pela população, temos que fazer a reforma política. Quando fui à África do Sul (no funeral de Nelson Mandela, em 2013), os ex-presidentes estavam juntos e eu disse a todos: nós somos responsáveis pelo caos. Ninguém acredita nesse sistema que está aí. Por que não chegamos a um denominador comum? O Sarney se sentiu atraído pela ideia. Falei com o Lula. Mas não prosperou.

E a presidente Dilma, como reagiu?

Ninguém reagiu. Quando houve a crise, a presidente tentou. Mas a coisa foi mal coordenada. Para fazer isso é preciso realmente liderança - e liderança dos partidos. É preciso de entendimento entre PT, PSDB e PMDB. Assim teremos a maioria. Mas vou colocar o problema de outra maneira. Todos os governos sempre acham que fizeram muita coisa - e incluo o meu. Porém, há um problema sério de gestão no Brasil: o resultado não chega na ponta. Você faz o projeto, monitora os números, faz isso e aquilo. Os que estão no mundo oficial estão felizes, mas o cidadão não sente a diferença. Quando cheguei à Presidência da República, o SUS (Sistema Único de Saúde) era uma proposta da Constituinte, mas não funcionava. Era um inferno. Montamos. Hoje há o SUS. Os governos têm uma série de programas na área da Saúde. As pessoas podem receber medicamento de graça até em casa. O cidadão, porém, não sente que nada disso existe porque funciona mal.

E qual é a causa disso?

Falta de gestão. Há um tempo, não agora, me perguntaram no PSDB qual seria um bom slogan para a campanha. Eu disse: em vez do que fez o Barack Obama nos Estados Unidos, com o Yes, We Can, deveríamos ter o Yes, We Care - nós prestamos atenção em vocês, nós cuidamos. O povo se sente descuidado. É preciso ver como essa máquina pública funciona e atacar de frente essa grave falta de gerenciamento.

Se o seu candidato, Aécio Neves, chegar ao Planalto, o que ele deveria fazer para impedir que a política continuasse a ser mais do mesmo?

A primeira condição é ter uma agenda. A segunda, fazer aliança para cumprir essa agenda. Terceiro, fazer tudo publicamente. Não quer dizer que no meu governo foi sempre assim, não. Mas eu tinha uma concepção do que queria fazer. Eu queria estabilizar a economia, dar acesso à educação, melhorar a saúde, fazer a reforma agrária, acertar a Previdência, que não consegui. Procurava fazer com critério.

Como Aécio Neves vai brigar contra o maior tempo de Dilma na TV?

Os políticos têm uma obsessão pelo tempo de TV. Muito tempo pode ser bom, mas pode ser mau também. O povo ouve, às vezes, mas nem sempre. Tem momento em que ele fecha o ouvido. Hoje, o programa eleitoral terá um peso menor do que no passado, por causa das mídias sociais. Não sei se a campanha vai ser decidida na televisão.

Como, então, vai ser decidida?

O importante é que o candidato se desempenhe. Eu costumo fazer o seguinte: começa o programa eleitoral, eu tiro o som. Porque o que você transmite não é só o que fala, é como você fala, qual é o seu jeitão. É subconsciente. E eu acho que o Aécio tem um bom jeitão.

A economia vai pautar a eleição?

A economia pauta sempre. O bolso pesa mais que o coração ou, pelo menos, tanto quanto. Mas não é a economia. Não é desses erros que estamos falando. O que vai pautar é a carestia. O bolso gasta mais que a bolsa, quando falamos dos mais pobres. A vida está cara. Isso as pessoas sentem. É a feira que vai pautar a campanha.

Na luta para chegar ao 2º turno, Eduardo Campos começou a bater em Aécio. Isso vai atrapalhar uma futura aliança entre eles?

Os dois são racionais. E sabem qual o limite, tanto de bater quanto de apoio. Mas no segundo turno o eleitorado não segue líderes. Veja as pesquisas de opinião. Dilma, no Datafolha, está na frente, 36%, Eduardo 8%, Aécio 20%. No 2.º turno Aécio vai pra 40%, Campos pra 38%. E não teve nenhum líder no meio disso! No segundo turno, o que vai contar muito é a rejeição.

Na sua relação com o ex-presidente Lula, o sr. falou em parar de jogar pedra um no outro. E as pedradas quase sempre dizem respeito à corrupção. O que falta para superar essas diferenças?

O que falta é vontade dele. Ele é hegemônico, quer tomar conta de tudo. E quem quer tomar conta de tudo quer esmagar quem? O principal adversário! Quando fizemos a transição do meu governo para o dele, logo eles definiram que o inimigo era o PSDB. Não era adversário, era inimigo. No mesmo dia falaram em herança maldita. É o hegemonismo: "Eu sou tudo. O mundo começa comigo, eu sou o bom, os outros são maus." Esse é um jogo, não há como fazer acordo.

Sergio Fausto: Eleições 2014: das vaias aos votos

- O Estado de S. Paulo

A mais recente safra de pesquisas de intenção de voto indica que o eleitorado brasileiro vai encontrando forma mais elegante do que a ofensa pessoal e mais eficaz do que a vaia para demonstrar o seu descontentamento com o governo Dilma Rousseff.

Ainda faltam quase três meses para a eleição, mas impressiona o virtual desaparecimento da diferença entre as intenções de voto na atual presidente e no principal candidato da oposição, Aécio Neves, num cada vez mais provável segundo turno. Essa diferença, que era de 27 pontos porcentuais no Datafolha de fevereiro, é hoje, segundo a última pesquisa do mesmo instituto, de apenas 4 pontos porcentuais. A tendência é consistente com a piora na avaliação do governo e com o aumento da rejeição à presidente-candidata. 

Quando a comparação se faz com o outro candidato da oposição, Eduardo Campos, a tendência é a mesma, embora a redução da diferença seja menor.

O quadro eleitoral em formação põe por terra a ideia ventilada pelo ex-presidente Lula de que a insatisfação com o governo Dilma se concentra num grupo social restrito, a chamada "elite branca".

Não é ódio o sentimento que move o crescente descontentamento político-eleitoral. Fosse ódio, as oposições já apareceriam nos calcanhares de Dilma nas intenções de voto para o primeiro turno, pois o eleitor que odeia quem está no poder logo cristaliza o seu voto em quem possa derrotá-lo. Trata-se de um sentimento mais brando: um desejo de mudança que ainda não sabe quem quer, mas dá sinais de começar a saber quem não quer.

As pesquisas tampouco refletem um suposto cerco da "mídia conservadora" ao governo. Não tem faltado oportunidade para a presidente se comunicar com a população pelos meios de comunicação de massa. Se alguém se pode queixar do tempo de exposição na TV na fase de pré-campanha são os candidatos da oposição, que travam a disputa sem a vantagem de estar na Presidência da República, foco natural de atenção da mídia. Que culpa tem a imprensa se a economia está parando, a inflação segue alta e o mercado de trabalho esfria?

A imagem de um governo popular submetido ao cerco de uma "elite odienta" e de uma "mídia conservadora" é uma figura recorrente na retórica utilizada pelo ex-presidente Lula. Ele a empregou pela primeira vez em resposta à crise do "mensalão". Voltou a usá-la recentemente, na convenção que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff. Em momentos de dificuldade política, para efeitos dramáticos, recorre ao paralelo histórico com o segundo governo de Getúlio Vargas, cujo trágico desfecho completa 60 anos no próximo dia 24 de agosto.

No imaginário lulista, o golpismo udenista ressurge encarnado no PSDB, que como a velha UDN, por não conseguir ganhar no voto, pretenderia chegar ao poder por vias tortas, ao arrepio da vontade popular. Essa narrativa faz lembrar a famosa frase de Marx segundo a qual a História ocorre duas vezes: uma como tragédia e outra como farsa.

É inegável a inclinação não democrática da ala ferozmente antigetulista da UDN. Basta lembrar o que escreveu Carlos Lacerda ainda antes de Vargas anunciar sua candidatura às eleições de 1950: "O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato a presidente da República. Candidato, não deve ser eleito.
Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar". Para interromper o mandato de Vargas a UDN conspirou com setores das Forças Armadas e da imprensa. O partido não reconhecia a legitimidade do "velho ditador", a despeito de sua volta ao poder pelo voto, e apontava a suposta ameaça de imposição por Vargas, em aliança com Perón, de uma "República sindicalista", que subverteria a ordem liberal da Constituição de 1946 e elevaria o risco de o País pender em direção ao bloco soviético.

O paralelo histórico com o presente é uma farsa. A legitimidade dos mandatos recebidos por Lula e Dilma nunca foi questionada. Os militares estão nos quartéis e atuam rigorosamente dentro dos limites que a Constituição estabelece. O PSDB, como partido de oposição, moveu-se sempre dentro da legalidade e com moderação, sendo não raro criticado por isso. A imprensa é hoje mais plural e politicamente independente do que jamais foi na História brasileira. As elites diversificaram-se e abriram-se a novos grupos, acostumando-se a lidar com governos de distintas cores políticas. As densas paranoias da guerra fria dissiparam-se.

Com todos os seus defeitos, temos hoje uma democracia melhor que no passado. A queda da presidente nas pesquisas não resulta de uma orquestração de pequenos grupos poderosos contra o governo, da mesma maneira que a piora de todos os indicadores da economia brasileira não é produto de uma "conspiração dos mercados". Ambos os fenômenos respondem a um processo típico em regimes democráticos e em economias de mercado, duas criações humanas que costumam andar juntas: um ciclo vicioso de deterioração das expectativas por perda de confiança no governo.

Para o eleitor, eleições são tanto um julgamento sobre o passado (estou melhor do que estava?) quanto sobre o futuro (tenho uma expectativa realista de que estarei melhor do que estou?). A estratégia petista para outubro é convencer o eleitor a julgar o governo Dilma como base em todo o período de 2003 a 2014, para obscurecer o fato de que os últimos quatro anos não sustentam a retórica triunfalista dos anos Lula. 

Será isso suficiente para recuperar a esperança em "mais futuro, mais mudança"? Ou o PT deixará o futuro e a esperança de lado e martelará a tecla do passado e do medo, pintando o PSDB como a reencarnação da UDN e o governo de Dilma como a cidadela a defender em nome dos interesses do "povo"?

Acontece que, numa democracia, sem restrições ao direito de votar, o eleitorado é expressão do povo. E se uma nova maioria eleitoral começa a formar-se, como dizer que ela é contra os interesses do povo?

Sergio Fausto é Superintendente Executivo do IFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, é membro do Gacint-USP.

Merval Pereira: PT abaixo da média

- O Globo

Não há praticamente dúvidas entre os especialistas eleitorais de que teremos segundo turno, e de que a presidente Dilma deve vencer o primeiro em um patamar bem abaixo do nível que ela e o ex-presidente Lula tiveram nos pleitos anteriores. Lula teve nos primeiros turnos de 2002 e 2006 46% e 48% dos votos, respectivamente, e Dilma voltou a fazer 46% em 2010. Isso se deve à perda de prestígio do PT junto ao eleitorado, embora ainda seja o partido com mais adeptos, mas sobretudo à avaliação negativa do governo Dilma.

Os candidatos do PSDB comportaram-se de maneira nada homogênea no primeiro turno nas eleições anteriores, embora no segundo turno tenham tido resultados semelhantes, em torno de 40% do eleitorado, chegando a 44% em 2010.

Nas eleições de 2002 e 2006 o candidato José Serra teve, respectivamente, 23% e 32% dos votos, enquanto Geraldo Alckmin teve a melhor votação no primeiro turno do PSDB em uma eleição presidencial perdida. Atingiu 41% dos votos, mas não conseguiu agregar eleitores no segundo turno, quando teve votação menor. Serra só chegou ao segundo turno em 2002 porque dois outros candidatos foram bem votados: Garotinho, do PSB, com cerca de 17% dos votos e Ciro Gomes, do PPS, com cerca de 12%.

As projeções do cientista político Jairo Nicolau, da UFRJ, um dos melhores analistas de resultados eleitorais, indicam que, com os dados de hoje, a presidente Dilma deve fechar o primeiro turno abaixo do índice histórico do PT, recebendo em torno de 39% dos votos válidos. O candidato do PSDB, Aécio Neves, teria 29% e o do PSB, Eduardo Campos, 12%.

Uma característica especial desta eleição é que os chamados candidatos nanicos estão sendo muito bem votados, e poderão chegar a 8% ou 10% dos votos, mais uma razão para que os analistas cravem que haverá segundo turno. Só o pastor Everaldo, do PSC, aparece nas pesquisas com cerca de 3% a 4% das intenções de votos.

A queda da votação da presidente Dilma reflete a dificuldade que ela terá num embate num segundo turno com o tucano Aécio Neves, o provável representante da oposição. A grande incógnita é o número de votos em branco e nulos, ainda muito alto nas pesquisas atuais. É um fato que a campanha eleitoral ainda não entrou na agenda do cidadão eleitor, mas há um conjunto de fatores, e não apenas um, para explicar essa demora em se ligar nas eleições deste ano.

Sem dúvida, o fato de a Copa do Mundo de futebol ter sido realizada no Brasil, independente do resultado desastroso dentro do campo, foi uma das razões para adiar esse contato do eleitor com os candidatos.

Mas a desilusão com a política também é uma explicação bastante provável para esse número ainda alto de desinteresse da população.

A campanha somente entrará na agenda do cidadão a partir do começo do horário eleitoral, em meados de agosto, e mesmo assim em ritmo mais lento devido à importância crescente das mídias sociais, como Facebook, Twitter e outros, e dos canais de televisão a cabo que não transmitem os programas eleitorais oficiais.

Tudo indica que a oposição terá no segundo turno o reforço de um eleitorado que terá o mesmo tamanho numérico que Marina Silva teve em 2010: o pastor Everaldo e Eduardo Campos, somados, podem chegar a ter por volta de 15% a 20% do eleitorado.

Os dois terão papel importante na composição do segundo turno, e apenas um deles, Campos, do PSB, tem fôlego para aparecer como um candidato surpresa atropelando o hoje favorito da oposição.

Sua pontuação nas pesquisas não sugere que isso possa acontecer, mas não há analista que possa cortá-lo do páreo a esta altura da disputa.

Dora Kramer: História sem fim

- O Estado de S. Paulo

Quem acusa todo mundo acaba não acusando ninguém. Fazendo um paralelo com comissões parlamentares de inquérito: quanto mais amplas, menos eficazes são.

Partindo desse princípio o ministro José Jorge, relator do processo que investiga a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás, considera que o Tribunal de Contas da União fez a opção certa ao não queimar etapas e, nessa primeira fase, se concentrar na diretoria executiva da estatal.

Até haveria embasamento para se estender a responsabilidade ao Conselho de Administração à época do negócio presidido por Dilma Rousseff e composto por pesos pesados do empresariado nacional.

Mas, no lugar de transitar pelo terreno minado, a escolha foi se desviar dos obstáculos a fim de garantir o objetivo. Para isso havia o parecer da unidade técnica corroborando o argumento de que o conselho aprovara a compra da refinaria com base em documentos incompletos fornecidos pela diretoria executiva.

Quanto mais gente estivesse envolvida, mais difícil seria aprovar o relatório e o trabalho de um ano poderia ficar perdido. Em março de 2013, o que se tinha era um emaranhado que foi sendo destrinchado até que se construiu uma trilha da qual emergiu a dimensão do prejuízo: US$ 792 milhões de dólares.

Esse número está consolidado. O relatório foi aprovado por unanimidade, o que não deixa dúvida sobre a opinião do colegiado. Resta agora a segunda etapa. Nela, todos os 11 diretores executivos apontados como responsáveis pelo negócio vão se defender.

Aí é que os integrantes do Conselho de Administração poderão (ou não) ser levados de volta à cena da qual foram inicialmente afastados. Tudo vai depender da linha de defesa dos diretores. A situação deles não é fácil: o Tribunal de Contas determinou o bloqueio de seus bens e, se confirmada a culpa, serão obrigados a devolver o valor do prejuízo.

Note-se, não são apenas onze pessoas, mas onze famílias atingidas. Se na defesa aceitarem que a responsabilidade foi mesmo só deles, vão lhes restar as artimanhas de postergação, mas dificilmente conseguem fugir da responsabilização.

Mas, e se a defesa atribuir a responsabilidade final ao Conselho de Administração? Caso apresentem fatos consistentes, o TCU não terá como recusar a inclusão dos conselheiros que por enquanto estão isentos.

Até porque o colegiado aprovou sem contestações o relatório apontando o prejuízo e as irregularidades encontradas no processo de compra da refinaria de Pasadena.

A reação inicial de alguns dos diretores não indica uma posição de conformismo com a decisão do Tribunal de Contas da União. Nestor Cerveró e Ildo Sauer, por exemplo, dizem que o estatuto da Petrobrás é claro: a responsabilidade na aquisição de ativos cabe ao conselho e não à diretoria.

Ao contrário de algumas interpretações exclusivamente referidas nas eleições, a decisão do tribunal de contas não arrefece o caso. Por outra, acende a chama da revolta em homens cuja luta daqui em diante se resume a sobreviver.

Mau começo. A presidente Dilma Rousseff em nota ao Estado criou o argumento que amparou a decisão do Tribunal de Contas da União para excluir o Conselho de Administração da Petrobrás do primeiro relatório sobre a compra da refinaria de Pasadena.

Nesse aspecto, saiu-se bem levando em conta a questão eleitoral. Mas, na Petrobrás o sentimento é o de que para se safar a presidente jogou a companhia no fogo.

Quando o caso veio a público em função da manifestação da presidente, um ministro do TCU confidenciou a um senador governista que a corte estava pronta para aprovar a compra da refinaria com base nos dados fornecidos por José Sérgio Gabrielli e Graça Foster.

Mas voltou atrás com base na seguinte razão: se ela que era a presidente do conselho disse que o negócio estava errado não seria o tribunal que se arriscaria a aprovar.

Eliane Cantanhêde: Salve-se quem puder

- Folha de S. Paulo

A rejeição do tal "mercado" a Dilma e as reavaliações para baixo das chances de reeleição são a típica faca de dois gumes --ou o típico discurso que cabe em dois palanques, em sentidos opostos.

Assim como rebaixam toda hora as previsões de crescimento, que já rondam 1%, agências e consultorias rebaixam simultaneamente as perspectivas de vitória de Dilma.

Se essas duas tendências andam juntas --quanto mais o aumento do PIB cai, mais a crença na vitória de Dilma cai--, há um pêndulo que já virou piada socialmente, mas é levado a sério nas campanhas: Dilma cai nas pesquisas, as Bolsas sobem; Dilma sobe, as Bolsas caem.

Para a oposição, é, ou parece ser, um grande trunfo poder martelar nos palanques e nos programas de TV, com dados de pesquisas, agências e bancos, o quanto Dilma é rejeitada por "quem entende das coisas".

Mas, para o PT e a campanha da reeleição, é, e não apenas parece ser, uma imensa vantagem poder usar os mesmíssimos dados para cristalizar ainda mais o discurso, talvez a sensação, de que Dilma é rejeitada "pela elite", "pelos mercados", "pelos bancos" por sua alma "robinhoodiana", de tirar de ricos insaciáveis para dar aos pobres famintos.

Não é bom para Aécio Neves e para Eduardo Campos colar suas imagens, seus discursos e seus programas a essa "elite", símbolo da desigualdade ancestral brasileira. E é bom para Dilma mostrar-se como a mulher que lutou contra a ditadura e agora enfrenta os poderosos.

Entre a versão e os fatos (os bancos nunca lucraram tanto quanto na era Lula...) vai uma imensa distância. Mas sempre há um bom marketing para sobrepor versões a fatos.

O problema é que a rejeição de Dilma está longe de ser exclusiva do "mercado". Bate em 35% no país, 47% no Estado de São Paulo e em estonteantes 49% na capital paulista. E não é só dela --é dela e do PT.

Aliás, Lula vai passar incólume por essa imensa onda de rejeição?