Inchaço do cadastro distorce Bolsa Família
O Globo
De 22,3 milhões de famílias registradas como
pobres, 6,6 milhões estavam acima da linha da pobreza, estima pesquisa
O Brasil se tornou referência mundial em
políticas de transferência de renda por identificar as famílias em situação de
risco e pagar os benefícios de forma direta, simples e rápida. Foi crucial a
criação, em 2001, do Cadastro Único (CadÚnico). Até então, o governo mantinha
listas distintas de beneficiados para vários programas, como Bolsa Alimentação
ou Auxílio-Gás. Algumas famílias recebiam ajuda de três ou mais, outras de um
só, e o governo não sabia o que acontecia porque as informações eram mantidas
em silos. A consolidação do CadÚnico foi determinante para o sucesso do Bolsa Família,
lançado em 2003. De lá para cá, ele passou por vários aperfeiçoamentos.
Infelizmente, nos últimos anos houve deterioração na qualidade das informações.
Cerca de 6,6 milhões dos 22,3 milhões de famílias registradas como pobres no CadÚnico em 2023 não eram pobres, revelou estudo do Insper encomendado pelo governo. Os pesquisadores cruzaram dados do cadastro com a pesquisa domiciliar periódica do IBGE, a Pnad Contínua. Concluíram que 30% das famílias no CadÚnico tinham renda per capita acima de R$ 218 mensais — limiar da pobreza usado para determinar quem recebe Bolsa Família. No Rio, na Baixada Fluminense ou no oeste da Bahia a discrepância passa de 50%. A partir dos resultados, o governo precisa fazer um pente-fino e corrigir a distorção.