terça-feira, 12 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Inchaço do cadastro distorce Bolsa Família

O Globo

De 22,3 milhões de famílias registradas como pobres, 6,6 milhões estavam acima da linha da pobreza, estima pesquisa

O Brasil se tornou referência mundial em políticas de transferência de renda por identificar as famílias em situação de risco e pagar os benefícios de forma direta, simples e rápida. Foi crucial a criação, em 2001, do Cadastro Único (CadÚnico). Até então, o governo mantinha listas distintas de beneficiados para vários programas, como Bolsa Alimentação ou Auxílio-Gás. Algumas famílias recebiam ajuda de três ou mais, outras de um só, e o governo não sabia o que acontecia porque as informações eram mantidas em silos. A consolidação do CadÚnico foi determinante para o sucesso do Bolsa Família, lançado em 2003. De lá para cá, ele passou por vários aperfeiçoamentos. Infelizmente, nos últimos anos houve deterioração na qualidade das informações.

Cerca de 6,6 milhões dos 22,3 milhões de famílias registradas como pobres no CadÚnico em 2023 não eram pobres, revelou estudo do Insper encomendado pelo governo. Os pesquisadores cruzaram dados do cadastro com a pesquisa domiciliar periódica do IBGE, a Pnad Contínua. Concluíram que 30% das famílias no CadÚnico tinham renda per capita acima de R$ 218 mensais — limiar da pobreza usado para determinar quem recebe Bolsa Família. No Rio, na Baixada Fluminense ou no oeste da Bahia a discrepância passa de 50%. A partir dos resultados, o governo precisa fazer um pente-fino e corrigir a distorção.

Luiz Carlos Azedo - A história subterrânea do PCB na frente democrática

Correio Braziliense

Personagens destacados da política brasileira, Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e José Sarney também se relacionavam com os comunistas 

O jornalista Eumano Silva lança nesta terça-feira, a partir das 19h30, no tradicional Bar Beirute, em Brasília — reduto de artistas, estudantes, intelectuais e jornalistas —, o livro-reportagem Longa jornada até a democracia — Volume II, publicado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), que conta a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos subterrâneos da resistência ao regime militar e seu papel na construção da ampla frente democrática que viria a eleger o governador mineiro Tancredo Neves (MDB) à Presidência da República, no colégio eleitoral, em 1985.

Ao contrário de outras organizações de esquerda, a maioria formada a partir de suas dissidências, como o PCdoB de João Amazonas, o MR-8 de Carlos Lamarca e a ALN de Carlos Marighella, “rachas” registrados no livro, o então chamado “Partidão” não aderiu à luta armada. Era a maior organização comunista à época, mas defendeu a resistência ao regime militar nos espaços legais nos quais era possível alguma vida política: sindicatos; associações de moradores; cineclubes; diretórios estudantis; instituições, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); e a participação nas eleições em aliança com os liberais, na legenda do MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Andrea Jubé - Lula lidera exército de um homem só, e erra o alvo

Valor Econômico

Para analista, um dos principais fatores do derretimento do governo nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação

Um observador experiente da conjuntura política, com trânsito livre no Palácio do Planalto, comparou a queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas recentes à queda de um avião.

A metáfora pode soar sensível, até mesmo trágica, mas é adequada: acidentes desta gravidade decorrem de uma conjunção de fatores, e não de uma causa isolada, argumentou a fonte, que pediu anonimato, em conversa com a coluna.

Na visão deste analista um dos principais fatores do derretimento do governo Lula nas pesquisas é o erro na estratégia de comunicação. “O governo é um exército de um homem só”, ponderou. “Só o Lula se comunica no governo, e, ainda assim, tem errado, e está ultrapassado na forma de se comunicar”, criticou.

Maria Cristina Fernandes - Reunião tensa sela pacto de convivência entre presidente da Petrobras e ministro

Valor Econômico

Aproximação entre Silveira e Haddad pode vir a quebrar a aliança indissolúvel que Rui Costa mantinha com o MME

A distribuição de dividendos extraordinários ficou para depois. No limite, até 25 de abril, quando acontecerá a assembleia de acionistas da Petrobras. A reunião, “tensa”, na definição de um participante, atravessou a tarde de ontem no Palácio do Planalto e terminou às 19h30. Foi dedicada à exposição dos planos de investimento pela diretoria da estatal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil). Foi a terceira reunião sobre o tema em menos de uma semana.

Houve distensionamento baseado num “termo de convivência” entre Silveira e o presidente da estatal, Jean Paul Prates, selado por Lula. O compromisso foi de “harmonização” entre o Conselho de Administração, comandado por Silveira, e a diretoria, que responde a Prates.

Eliane Cantanhêde – E daí? Não tô nem aí!

O Estado de S. Paulo

Lula faz reunião em 18/3 para dar broncas nos ministros, mas quem vai dar broncas em Lula?

A próxima reunião ministerial será na segundafeira, 18/3, e, por mais que o presidente Lula e o governo venham a dizer que já estava na agenda havia tempos, a verdade é que a luz amarela acendeu no Planalto e no gabinete presidencial depois das três últimas pesquisas e de praticamente todas as colunas de opinião no fim de semana.

Lula ainda não tinha estudado as pesquisas até ontem, como deveria, mas a equipe do ministro Alexandre Padilha, da Articulação Política, vem passando um pente-fino nos dados para identificar as áreas frágeis e os segmentos mais refratários para produzir relatório para Lula. Ele tem uma semana para tirar conclusões e se preparar para a reunião de 18/3.

Claire Moses - Avanço extremista na Holanda reflete impasse cada vez maior na Europa

O Estado de S. Paulo

A Itália já tem uma líder de extrema direita e o governo sueco tem um partido com raízes neonazistas

Há alguns meses, Geert Wilders era uma maldição para os partidos holandeses. Força perturbadora de extrema direita por duas décadas, ele prometeu acabar com a imigração de muçulmanos, taxar véus de cabeça e proibir o Alcorão. Ele chamou os marroquinos de “escória”. Seu partido apoiou a saída da União Europeia.

Mas Wilders venceu as eleições em novembro e, desde então, se tornou uma força política inevitável. “Ele é o maior”, disse Janka Stoker, da Universidade de Groningen. “Não dá para ignorá-lo.”

Esse dilema fez com que a Holanda se tornasse um teste para a Europa, que lida com a questão do que fazer com o avanço dos extremistas, que já não podem ser considerados marginais. A Itália já tem uma líder de extrema direita e o governo sueco depende de um partido com raízes neonazistas. A extrema direita representa partes significativas da oposição na França e na Alemanha.

Ultradireita exige lugar em coalizão após votação histórica em Portugal

O Estado de S. Paulo, AP.e EFE

Diálogo para formação de alianças começa hoje, mas os dois partidos mais votados rejeitam negociar com os radicais do Chega!, o que pode inviabilizar um novo governo

A eleição portuguesa de domingo produziu um cenário cada vez mais comum que aflige os países parlamentaristas: um partido de extrema direita e antissistema que obtém votação suficiente para inviabilizar qualquer formação de governo. Em Portugal, o fenômeno da vez é o Chega!, que quadruplicou sua bancada no Parlamento. Seu líder, André Ventura, exigiu participar do próximo governo.

“Esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal”, disse Ventura, em discurso após a eleição. “Há no Parlamento uma maioria clara. Essa maioria é entre o Chega! e o PSD (Partido Social-Democrata, que lidera a coalizão centro-direitista Aliança Democrática).”

Extrema direita reivindica compor governo em Portugal após centro-direita vencer com maioria apertada

Por O Globo e com AFP e El País)

Ascensão de partido antissistema foi confirmada em pleito cuja taxa de participação foi a mais alta em quase três décadas

No dia seguinte a uma eleição legislativa que pôs fim a oito anos de poder socialista em Portugal, a coalizão vencedora, a centro-direitista Aliança Democrática (AD), terá problemas para cumprir sua promessa de não formar o governo sem o apoio da extrema direita, que quadruplicou seus assentos no Parlamento. A ascensão do partido Chega foi confirmada no pleito deste domingo, cuja taxa de participação (66%) foi a mais alta em quase três décadas. A sigla antissistema, fundada em 2019 por André Ventura, passou de 12 para 48 deputados, com 18% dos votos. Em seu discurso de celebração, o líder do partido reivindicou formar o governo com a AD, afirmando que “o povo disse que a direita deve governar, e nosso mandato é para governar Portugal nos próximos quatro anos”.

Carlos Andreazza - Comissão de Educação virou xepa

O Globo

Só por isso ficou com Nikolas Ferreira. O PT escolheu a de Saúde. O resto é fita para afetar indignação

As emendas de comissão foram preparadas para ser — neste ano eleitoral — o novo abrigo (nova fachada) à dinâmica autoritária do orçamento secreto; que nunca acabou e que, mantido o núcleo duro de sua operação, vai se adaptando, de rubrica em rubrica, à natureza da superfície em que se desenrola. Com o aval do governo Lula e o despercebimento do STF — Corte constitucional cuja onipresença proativa tornou fútil o controle de constitucionalidade.

Não importa se afinal reunindo (o veto do presidente posto na pista para negócio) R$ 16 bilhões ou R$ 11 bilhões. Ali, nas emendas de comissão, constituiu-se um fundo eleitoral paralelo; não à toa a carga — e o pacto informal entre Planalto e Parlamento — pela liberação das verbas até junho.

Merval Pereira -Interferência indevida

O Globo

A mensagem sub-reptícia é que o governo pretende fazer política pública à custa das grandes empresas nacionais, o que já deu em grande escândalo de corrupção

É preocupante a reação inicial do presidente Lula à sua queda de popularidade. Admitir que está longe de atingir o que prometeu durante a campanha eleitoral é saudável, desde que tenha sangue-frio diante da reversão de expectativa e não queira fazer acenos fáceis ao eleitorado.

A posição sobre os dividendos da Petrobras parece ter esse viés populista, que pode levar tudo de trambolhão. Dizer que a estatal deveria pensar antes no povo do que nos acionistas é o tipo de frase que define bem o que pensa do capitalismo nosso presidente, capaz de afirmar que tem o compromisso de reduzir o preço da gasolina e do diesel para o consumidor, mesmo à custa do prejuízo da Petrobras. Lula não vê motivos para manter o preço alinhado ao mercado internacional, embora seja esse o mercado que a estatal disputa, tendo até acionistas estrangeiros.

Míriam Leitão - Interferência na Petrobras

O Globo

Se a empresa voltar a ter prejuízo ou tiver redução do lucro quem mais perde é o próprio governo, seu maior acionista

Valor de mercado de uma empresa se recupera. Não foi a primeira vez que a Petrobras teve uma queda brusca. O problema é a percepção de interferência do Planalto nas decisões corporativas. Na última sexta-feira, as ações da estatal caíram 10,27%, fazendo evaporar R$ 55 bilhões de valor da companhia, pela decisão de não distribuir dividendos extraordinários. A atual oposição provocou um desastre parecido. Há três anos, na quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro anunciou que havia demitido o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, isso depois de muita tentativa de intervir no dia a dia da empresa. As ações, na época, caíram 6,6% numa sexta, e 21,5% na segunda, dia 22. Naqueles dois pregões a empresa perdeu R$ 102,5 bilhões de valor de mercado.

Hélio Schwartsman - Polarização dá tom da disputa paulistana

Folha de S. Paulo

Fenômeno político que acirra ânimos de adversários também os irmana ao bloquear terceira via

A polarização é uma coisa esquisita. Ela acirra os ânimos e radicaliza as opiniões dos dois grupos em oposição, mas também os irmana. É bem isso o que está acontecendo na disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, como mostrou a pesquisa do Datafolha.

A corrida paulistana é uma das que serão "nacionalizadas", com Lula e Bolsonaro se envolvendo diretamente para apoiar seus respectivos candidatos, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Isso é sinônimo de jogo duro, potencialmente sangrento. Mas interessa a ambos, pelo menos nas fases iniciais da campanha, assegurar que o adversário mantenha sua posição de força eleitoral. Enquanto as duas candidaturas se retroalimentarem, fica exíguo o espaço para o crescimento de uma terceira, que poderia romper a lógica de polarização.

Igor Gielow - Polarização embaralha cartas da eleição em São Paulo

Folha de S. Paulo

Empate frustra ilusão de favoritismo de Boulos e joga Nunes no colo de Bolsonaro

A nova pesquisa do Datafolha sobre a corrida eleitoral em São Paulo mostra a extensão do impacto da polarização que assola o Brasil desde que a centro-direita se organizou em torno do polo radicalizado encarnado em Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

As cartas estão bastante embaralhadas, mas sua disposição na mesa sugere um cenário hoje mais favorável em termos de condições puramente eleitorais para o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

De certa forma, o empate registrado entre o alcaide e o postulante Guilherme Boulos (PSOL) mostra na pesquisa o que as ruas mostraram no dia 25 de fevereiro, quando milhares de apoiadores de Bolsonaro foram à avenida Paulista: eles estavam lá não só pelo enrolado ex-presidente, mas pelo conservadorismo tornado antipetismo.

A aposta envergonhada de Nunes pelo lado que está sob fogo da Justiça, simbolizada por sua presença muda no palanque da Paulista, deverá dar lugar a um maior cacife do grupo do ex-presidente no pleito municipal.

Dora Kramer - Muito tiro e pouco tino

Folha de S. Paulo

É tarefa dos pares conter o ímpeto provocador dos presidentes de comissões

presença na presidência das comissões de Constituição e Justiça e de Educação de dois deputados afeiçoados a pautas retrógradas e atuações estranhas aos temas dos colegiados indica desapreço do partido de ambos, o PL, para com o bom andamento dos trabalhos da Câmara.

Isso é uma coisa. Outra é o ambiente de alarme estridente que se formou em torno do assunto. Soa um tanto artificial diante de uma realidade inescapável: o PL tem a maior bancada do colegiado e, com isso, conquistou o direito a mais indicações. Cinco dentre as 19 já formadas das 30 comissões permanentes.

Se os indicados são radicais ou moderados, cabe ao partido escolher o rumo a seguir. Bolsonaristas ferozes, incompetentes, irresponsáveis, sejam quais forem suas qualificações e/ou desqualificações, são tão deputados quanto quaisquer outros.

Poesia | Nosso Tempo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Quinteto Violado - Minha Ciranda