Ministro do Esporte, 5º a cair por denúncias de corrupção, deve ser substituído por Aldo
Doze dias depois da denúncia de desvio de recursos do Ministério do Esporte para irrigar campanhas eleitorais do PCdoB, Orlando Silva, que se considerava "indestrutível", teve de deixar a pasta. A denúncia de que ele recebera propina não foi provada, mas os desvios de dinheiro público por ONGs ligadas ao PCdoB já tinham levado a Controladoria Geral da União a pedir a devolução de R$ 49 milhões e o Supremo Tribunal Federal a abriu, anteontem, inquérito para apurar as acusações contra Orlando, que atingem também o ex-ministro do Esporte e atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT, ex-PCdoB). Estimulado pelo ex-presidente Lula, o PCdoB resistiu a aceitar a saída de Orlando, que era dada como certa desde a semana passada. Com a abertura do inquérito no STF, porém, a situação dele ficou insustentável. Mesmo assim, o partido conseguiu manter a pasta, o que provocou críticas pesadas da oposição. Hoje o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, vai se reunir com a presidente Dilma, e eles devem anunciar o nome do deputado Aldo Rebelo. Ex-presidente da UNE como Orlando, Aldo sofreu resistências por sua atuação como relator do Código Florestal, mas já teria sido escolhido. Orlando é o sexto ministro demitido na gestão Dilma, sendo o quinto por denúncias de corrupção. Segundo a Procuradoria Geral, as investigações sobre Orlando vão continuar, agora no STJ.
No Esporte, uma troca de guarda
Orlando sai, mas PCdoB manterá ministério e nome de Aldo Rebelo deve ser anunciado hoje
Gerson Camarotti, Luiza Damé e Chico de Gois
Após resistir por 12 dias, Orlando Silva acabou saindo ontem do Ministério do Esporte, mas a presidente Dilma Rousseff manterá o PCdoB no comando da pasta, controlada pelo partido desde 2003, primeiro ano do primeiro governo Lula. Dilma pensou em tirar o partido aliado do Esporte, para desmontar o esquema de corrupção que teria sido montado envolvendo ONGs conveniadas do Programa Segundo Tempo. Mas "a relação de intimidade e de identidade" que o partido tem com o governo petista, como frisou ontem no Planalto o presidente da legenda, Renato Rabelo, deve garantir hoje a nomeação do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no lugar de Orlando.
Dilma e Renato Rabelo vão se reunir esta manhã para bater o martelo sobre a sucessão no Esporte. Dirigentes do PCdoB garantiram à noite que, embora não sugerido oficialmente, o nome de Aldo foi discutido na reunião de ontem entre Dilma, Orlando e Renato Rabelo. E que a presidente já teria aprovado a indicação, mas decidiram deixar para hoje a definição.
Ao adiar a decisão, cresceu no meio político a especulação de que Dilma teria resistência a Aldo Rebelo, por causa de seu papel como relator do Código Florestal. Ele atendeu aos interesses da bancada ruralista, impondo uma derrota ao governo. O Planalto não soltou comunicado oficial informando que, interinamente, responderá pelo ministério o secretário-executivo Waldemar Manoel Silva de Souza.
Após reuniões que entraram pela noite de terça-feira e a madrugada de ontem, dirigentes e líderes do PCdoB foram ao Planalto dizer a Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, que Orlando deixaria o cargo, frisando que o partido desejava ficar com o ministério. Gilberto teria garantido que Dilma manteria o ministério na cota do PCdoB.
PCdoB pressiona para manter pasta
O PCdoB, com o histórico de ser o mais antigo aliado do PT e dos governos petistas, queria a garantia de uma solução rápida para a sucessão de Orlando. Temia-se que uma demora na substituição pudesse levar a legenda a perder o ministério, numa eventual reforma ministerial de janeiro.
Orlando chegou ao Palácio do Planalto pouco depois das 18h e ficou uma hora e 20 minutos reunido com Dilma e Renato Rabelo. Não entregou uma carta demissão, mas anunciou sua decisão de sair do cargo, repetindo o discurso do encontro da última sexta-feira, quando Dilma o manteve, diante das alegações de que as denúncias eram caluniosas.
Antes de Dilma se reunir com o PCdoB, Gilberto Carvalho voltou a dizer, à tarde, que a tendência era a de o partido manter o ministério. Salientou, porém, que, para isso, era preciso resolver logo a situação de Orlando:
- Comuniquei a eles que era preciso dar um passo além. O Orlando teve uma atitude madura de compreender a situação - disse.
Na reunião com Dilma, Orlando fez um balanço de seu trabalho e avaliou a crise causada pelas denúncias do policial militar João Dias. Demonstrando tranquilidade e até bom humor, Orlando voltou a dizer que não haverá provas contra ele:
- Examinamos esta crise que foi criada nos últimos dias. Reafirmei para a presidente que não há, não houve e não haverá quaisquer provas que me incriminem porque fato nenhum houve que possa comprometer minha honra, minha conduta ética. Fui mais uma vez firme e indignado. Falei mais uma vez com a presidente da minha revolta com esse linchamento público que vivi, mas a tranquilizei, dizendo que em poucos dias, poucas semanas, a verdade virá á tona.
Segundo Orlando, o PCdoB não poderia servir de instrumento para ataques ao governo e, por isso, o melhor caminho era sua saída.
- O resultado da reunião que tive com a presidente foi de que a melhor solução seria eu me afastar do governo. Essa é uma decisão consciente que tomei, que a presidente acatou por entender que, dessa maneira, primeiro posso defender com mais ênfase a minha honra, que foi ferida sem nenhuma prova cabal. Segundo, vou poder continuar defendendo como militante e dirigente político o meu governo. Considero este o meu governo e vou defender o seu sucesso até o final.
Renato Rabelo disse que o PCdoB e Orlando são vítimas de uma montagem sórdida e de calúnias:
- Defendemos nosso ministro porque sabemos que ele é honesto, competente e sincero.
FONTE: O GLOBO