terça-feira, 20 de abril de 2021

Eliane Cantanhêde – União nacional

- O Estado de S. Paulo

Proliferam não só nomes, mas frentes para um projeto pela democracia, pela vida

O principal recado do debate entre Ciro Gomes, João Doria, Fernando Haddad, Eduardo Leite e Luciano Huck, sábado à noite, foi a civilidade, até gentileza entre eles, ao longo de quase três horas. Deixando as divergências de lado, eles focaram na convergência contra os retrocessos do presidente Jair Bolsonaro, tratado por adjetivos ácidos, puxados pelo já trivial “genocida”.

Há inúmeras frentes para virar a página Bolsonaro e tocar a reconstrução do País, uma espécie de transição à la Itamar Franco pós-Collor. Assim como naquela época, o PT não participa de um projeto de união nacional, mas Haddad compôs bem a mesa, com conhecimento e sobriedade.

Ciro Gomes, ex-candidato três vezes à Presidência, ex-ministro e ex-governador do Ceará, é o que mais impressiona, com seu malabarismo verbal para juntar temas diferentes, amontoar números e produzir uma imagem de experiência e competência. Foi, também, responsável pela maior lista de “atributos” do presidente.

Doria foi Doria, a começar do vídeo e do áudio impecáveis, tudo milimetricamente programado. O governador de São Paulo explorou o fato de ter liderado a guerra pelas vacinas contra a covid no País e deixou o carimbo mais contundente contra Bolsonaro: “mito das mortes”.

Luiz Carlos Azedo - Entre a cruz e a caldeirinha

- Correio Braziliense

CPIs têm poder de polícia, podem fazer acareações e quebras de sigilo, convocar ministros e toda a equipe de governo. Podem virar o Inferno de Dante

A velha expressão lusitana que intitula a coluna vem a calhar por causa da situação macabra em que estamos. Sua origem é do tempo em que as pessoas morriam em casa, com um crucifixo sobre o peito e água benta junto aos pés, ou seja, seu significado original era estar moribundo, entre a vida e a morte, mas foi abrandado com o tempo: hoje, nos remete à situação angustiante, que, depois de vencida nada resolve, porque outra lhe sucede. Essa é situação do presidente Jair Bolsonaro, entre o Orçamento aprovado pelo Congresso e a CPI da Covid, que tiram seu sono no Palácio da Alvorada.

Com o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro tenta uma saída para não desmantelar o acordo feito com o Centrão na Câmara, que foi atropelado no Senado. O relatório do senador Marcio Bittar (MDB-AC) estourou o teto de gastos, pressionado pelo ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). Presidente do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) lavou as mãos sobre o Orçamento e, agora, está em apuros, porque o governo o pressiona para adiar a instalação da CPI da Covid, enquanto não se chega a um acordo em relação aos mais de R$ 20 bilhões em emendas parlamentares incluídas no Orçamento. A conta da eleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), era R$ 16 bilhões. Bolsonaro fará vetos para não correr o risco de ser acusado de irresponsabilidade fiscal, mas o alcance dos vetos depende dessas negociações.

Ricardo Noblat - Lira ganha batalha do Orçamento, Pacheco perde a da CPI

- Blog do Noblat / Veja

Governo Bolsonaro compra brigas em muitas frentes

De tanto esticar a corda e bater o pé, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, ganhou a batalha do Orçamento da União para este ano, entregando aos colegas o que havia prometido – bilhões de reais para o pagamento de emendas parlamentares e a construção de obras em seus redutos eleitorais.

Na outra parte do prédio do Congresso onde repousa a cúpula emborcada do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente da Casa, celebra uma vitória de pirro – o adiamento por mais uma semana da instalação da CPI da Covid-19, que ele fez tudo para boicotar, e o governo Bolsonaro também.

Pacheco e o governo tinham motivos diferentes para não querer a CPI. Para o governo, a exposição dos seus muitos erros no combate à pandemia só lhe fará mal em um ano em que ele só colherá más notícias. Para Pacheco, a CPI o retira por 90 dias ou mais do centro do palco da política nacional, e isso doeria em qualquer um.

Felipe Salto – A Hidra orçamentária

- O Estado de S. Paulo

Executivo precisa cumprir o teto, aumentar emendas e obras, garantir dinheiro para Previdência e para benefícios sociais, mas equação não fecha

A Hidra é um monstro grego que, ao ter a cabeça decepada, ganha duas novas. A gestão das contas públicas transformou o arcabouço fiscal num monstrengo difícil de driblar. O projeto de lei (PLN) n.º 2 altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 para: a) retirar gastos da meta de resultado primário (receitas menos despesas, exceto juros); e b) aumentar a possibilidade de ajuste dos gastos discricionários (não obrigatórios).

A primeira mudança autoriza gastos por fora da meta legal. O Pronampe (ajuda a empresas), o BEm (medida para manter empregos) e a saúde (restritas ao combate à covid-19) são excluídos da meta de déficit primário. Independentemente da manobra contábil, a dívida será afetada. A alternativa, mais transparente, seria alterar a meta. 

Andrea Jubé - “Deus poupou-me do sentimento do medo”

- Valor Econômico

Centro já descartou Huck e Moro como presidenciáveis

Vamos tratar aqui de três presidentes: pela ordem, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, e Jair Bolsonaro. Este passou recibo, com firma reconhecida, de que sentiu a mão fria do “impeachment” roçar-lhe as costas na semana passada, quando o colegiado pleno do Supremo Tribunal Federal (STF) desferiu-lhe duas bordoadas: confirmou a ordem de instalação da CPI da pandemia, e o restabelecimento dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A CPI da pandemia, se não tem o impedimento do presidente como alvo, provocará enxaquecas palacianas. Lula, por sua vez, desponta hoje como a principal ameaça à reeleição de Bolsonaro. Mas, remarque-se que a política muda como as nuvens - ou como o humor presidencial.

Bolsonaro está mal humorado, e deixou o azedume transparecer na “live” de quinta-feira, quando o STF sacramentou a investigação contra seu governo, e a elegibilidade de Lula. “Só Deus me tira da cadeira presidencial, e me tira, obviamente, tirando a minha vida", vociferou.

Em recado velado, porém, audível, ao Congresso, ao STF e à oposição, acrescentou, com ênfase, que salvo a prerrogativa divina, “o que nós estamos vendo acontecer no Brasil não vai se concretizar, mas não vai mesmo. Não vai mesmo, tá ok?” Nesse trecho cifrado, Bolsonaro aludiu à ameaça de “impeachment”.

Mônica Scaramuzzo - A vacina e a fratura exposta nos municípios

- Valor Econômico

Empresários se dividem em como atuar na pandemia

Temos acordado todos os dias com uma bomba-relógio nas mãos. Não temos vacinas suficientes para acelerar a campanha de imunização nas próximas semanas e, pelo andar da carruagem, corremos o risco de encerrar o primeiro semestre sem fazer a tão esperada vacinação em massa para combater a covid-19.

Setembro é o mês de referência para uma parte dos empresários e altos executivos do país, reunidos no grupo Unidos pela Vacina, para que a imunização atinja boa parte da população brasileira. No entanto, pelo atual ritmo - e bateção de cabeça no governo federal -, o risco é de que esse prazo fique cada vez mais longe. E isso preocupa.

As constantes crises no Brasil têm tornado o empresariado cada vez mais vocal. Pesos pesados do mercado financeiro e da indústria já se uniram para discutir a crise da Amazônia e cobrar ações mais concretas do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para um posicionamento mais firme em relação aos compromissos climáticos. Contudo, a reunião desta semana, na chamada Cúpula de Líderes sobre o clima, comandada pelo presidente americano, Joe Biden, também será importante para ver como os Estados Unidos poderão ajudar o país a atravessar a crise sanitária.

Hélio Schwartsman - O distritão como ameaça

- Folha de S. Paulo

Se fosse desenhar nossas instituições, proporia algo bem diferente do que temos

Como tem ocorrido nos últimos ciclos eleitorais, a Câmara ameaça aprovar uma reforma que inclua o distritão, um sistema de cômputo de votos em que todos os candidatos a deputado por um estado, inclusive os de uma mesma legenda, concorrem diretamente uns com os outros, debilitando ainda mais os partidos políticos, que já são fracos no Brasil.

É pouco provável que a iniciativa prospere. Mas, numa estratégia semelhante à do ministro que gosta de fazer passar a boiada, parlamentares acabam trocando a desistência do distritão pela aprovação de alguma outra medida de menor alcance que os beneficie. Todo mundo fica feliz. A massa crítica de eleitores e os políticos responsáveis porque evitaram o pior, e deputados que prosperam na balbúrdia partidária porque conseguiram arrancar uma vantagem.

Cristina Serra - Bolsonaro, vira-latismo e ecocídio

- Folha de S. Paulo

Ele promove o retorno explícito ao complexo definido por Nelson Rodrigues

Nada mais ilustrativo dos modos de moleque com que o Brasil de Bolsonaro se apresenta ao mundo do que um detalhe de recente reunião entre o ministro do zero ambiente, Ricardo Salles, e a equipe de John Kerry, representante de Joe Biden para as questões climáticas.

Segundo reportagem de Marina Dias nesta Folha, os brasileiros exibiram aos norte-americanos o slide de uma TV de cachorro, típica das nossas padarias. A imagem mostrava um vira-latas apreciando os frangos no espeto com o título: "Expectativa de pagamento". Cada ave tinha o desenho de um cifrão. Bolsonaro é isso: o retorno explícito ao complexo de vira-latas definido por Nelson Rodrigues nos anos 1950.

Alvaro Costa e Silva - Crônica do país assassinado

- Folha de S. Paulo

Considerado imoral, romance concentra a violência e o ressentimento das 'pautas de costume'

Está nas livrarias uma nova edição de "Crônica da Casa Assassinada", que é, ao lado dos "Diários", a obra-prima de Lúcio Cardoso (1912-1968), o escritor nascido em Curvelo, Minas Gerais. Sua alma permaneceu enraizada em solo mineiro, mas o corpo se deixou contaminar alegremente pela brisa do mar de Ipanema --foi um dos grandes personagens do bairro nos anos 50 e 60.

Apesar dos elogios de Manuel Bandeira e Aníbal Machado à profundidade temática, riqueza formal e inovação do romance publicado em 1959, o resenhista do Diário Carioca, Olívio Montenegro, atacou o livro de forma furiosa, atribuindo a ele um "caráter imoral". Não era a primeira vez —nem seria a última— que a literatura de Lúcio Cardoso enfrentava esse tipo de agressão conservadora.

Joel Pinheiro da Fonseca - O Ocidente e o lockdown

- Folha de S. Paulo

Quarentenas e isolamento são medidas conservadoras?

Vivemos em tempos de decadência moral e espiritual. Os homens perderam a coragem. “Onde foram parar os machos?”, clama ávido um famoso assecla do bolsonarismo. E não pra menos! Pessoas em casa, fechadinhas, sem trabalhar, ganhando auxílio, com medo de um minúsculo vírus; isso não seria motivo de vergonha a nossos corajosos ancestrais?

Em uma variação do mesmo tema, o lamento ganha contornos espirituais. O homem moderno esqueceu-se de Deus e da vida eterna, e por isso é tão neuroticamente obcecado com a saúde. Afinal, a morte vem para todos. Por fim, corre o argumento, medidas de isolamento violam nossos santos direitos individuais, que não admitem restrição nenhuma. Não foi assim que o Ocidente se ergueu?

É bela a disposição de nossos conservadores em querer proteger nossa civilização. Mas é uma pena que ela não venha acompanhada de qualquer conhecimento histórico sobre essa civilização.

Oded Grajew* - Carta à elite econômica

- Folha de S. Paulo

Diminuir as desigualdades e a pobreza é, também, um ato de inteligência

Prezados senhores e senhoras:

Primeiramente, gostaria de relembrar alguns indicadores sociais do nosso país. Apesar de sermos um dos mais ricos e uma das maiores economias do mundo, 52 milhões de brasileiros vivem na pobreza (renda de até R$ 436 mensais) e 13 milhões na extrema pobreza (renda de até R$ 151 mensais).

Mais de metade dos brasileiros de 25 anos ou mais não concluiu a educação básica, e 33,1% não terminaram o ensino fundamental. Cem milhões de brasileiros não têm acesso a sistemas de esgotamento sanitário, e 35%, à água tratada. Quarenta e quatro mil brasileiros são assassinados por ano, a maioria de negros e pobres. O Brasil está em 105º lugar no ranking da mortalidade infantil, o principal indicador da infância.

Somos o sétimo país mais desigual do mundo, superado apenas por algumas nações africanas. As nossas desigualdades são escandalosas. Entre homens e mulheres, entre brancos e negros. Os 5% mais ricos auferem 95% da renda nacional, e 10% possuem 74% das riquezas. Em São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, a diferença da idade média ao morrer entre o distrito mais pobre e o distrito mais rico é de 24 anos! Em plena pandemia, o Brasil tem 20 bilionários a mais (revista Forbes), enquanto a fome atinge 9% da população!

Merval Pereira - ‘Kigali já’

- O Globo

A Câmara dos Deputados tem uma oportunidade rara de ajudar a recolocar o Brasil no mapa da comunidade internacional em relação à política ambiental com a ratificação, no dia 22, o Dia da Terra, da Emenda de Kigali, um adendo ao Protocolo de Montreal para redução do uso de substâncias com elevado potencial de efeito estufa nas geladeiras, freezers e aparelhos de ar condicionado vendidos no país.

Hoje, 100% do mercado japonês e a maior parte dos países europeus já adotam fluidos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global. Essas tecnologias começam a dominar outros mercados robustos, como o chinês e o indiano. EUA e China anunciaram apoio em conjunto à Emenda de Kigali. Sua aprovação será um aceno diplomático ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que encaminhou ao Senado americano uma orientação por sua aprovação, e também aos demais países da OCDE que estão entre os 119 que já aderiram à emenda.

Míriam Leitão - Os vários pontos de atrito em Brasília

- O Globo

O governo usou ontem a tática de tentar adiar a instalação da CPI para continuar seu bombardeio ao possível relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL). O grupo dos sete senadores, de oposição e independentes, já está trabalhando na estrutura dos trabalhos e na lista de possíveis convocados. O ex-ministro Pazuello pode ir até mais de uma vez. Primeiro, como testemunha, depois, como investigado. Em outra frente, parlamentares e embaixadores se reuniram para discutir a cúpula do clima. O cantor Caetano Veloso compareceu, como representante da sociedade civil, e deu um recado direto aos diplomatas dos Estados Unidos e países europeus. “Salles é o antiministro e este governo ataca a Amazônia.”

Os dias estão intensos em Brasília nesta semana, com um feriado no meio e uma agenda lotada. A instalação da CPI se desdobra em várias reuniões e negociações sobre a ordem dos trabalhos e dos convocados. “Não temos tempo a perder”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele acha que tem que começar pelos ex-ministros da Saúde. Mas há na CPI quem defenda que se chame primeiro os cientistas para mostrar, com dados, como chegamos até aqui e quais são os riscos. A convocação de Paulo Guedes é a dúvida do momento. O ex-ministro Pazuello pode ser convocado mais de uma vez, explicou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Ele pode falar primeiro como testemunha. Depois, com o andar da CPI, pode ser novamente convocado, mas como investigado.

Carlos Andreazza - Breve roteiro para a CPI

- O Globo

Participei, ontem, do podcast “O assunto”, comandado por Renata Lo Prete. O tema: a CPI da Covid no Senado. Mais precisamente: as questões a serem investigadas na CPI. São muitas. E merecem desenvolvimento em texto; sobretudo porque clareiam um padrão.

Começo com o caos em Manaus. Está documentado que o Ministério da Saúde fez escolhas ali. Nada a ver com lentidão em dar respostas. Escolhas consistentes com o conjunto de posições que tomou ante a pandemia; conjunto com que o governo Bolsonaro opera — o padrão — para prolongar a permanência do vírus entre nós, o que garantirá as condições de desordem radical em que o bolsonarismo prospera.

Escolhas. Por exemplo: mesmo informado de que faltaria oxigênio, promoveu, às vésperas da desgraça, uma caravana pela cidade para difundir a adoção de tratamento precoce. E, no dia mesmo do colapso, mandou 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina ao Amazonas. (Os responsáveis por essa ode a um medicamento ineficaz continuam no ministério; razão mais que suficiente para que Marcelo Queiroga também seja ouvido na CPI.)

Zuenir Ventura - O inferno astral dele

- O Globo

O presidente Bolsonaro tem sérias razões para estar perdendo noites de sono. A primeira é, sem dúvida, a CPI da Covid. Além dela, há a Cúpula do Clima, quando será pressionado pelo presidente Biden por resultados concretos para a preservação da Amazônia e explicações sobre a denúncia do MPF de que há “violações sem precedentes na política indigenista”.

E há mais. Até a volta do Lula elegível está balançando o coreto de Bolsonaro, pois ela representa a ameaça de uma possível derrota numa eventual disputa eleitoral em 2022. Se os dois fossem para um segundo turno, o petista obteria 52% dos votos contra 34% do capitão, prevê uma pesquisa.

Em outra, o sonho da “pátria armada”, tão caro ao belicoso presidente, cai por terra, porque 72% dos brasileiros são contra a flexibilização da compra e do uso das armas. Com certeza, não querem estimular mais mortes — devem achar suficientes as 375 mil causadas por coronavírus e as 40 mil vítimas fatais de homicídio. Por via das dúvidas, a ministra Rosa Weber, do STF, suspendeu os decretos presidenciais com o mesmo objetivo.

“Por que o governo teme a CPI?”, queria saber em 2007 o então deputado federal Jair Bolsonaro, com a mesma pergunta que se faz hoje a ele, presidente. Ontem, como hoje, não houve resposta — talvez por não ser necessária: os fatos e as evidências respondem por si.

Malu Gaspar - Nas redes bolsonaristas, suposto complô para matar o presidente vira denúncia bombástica

- O Globo

O vídeo em que a jornalista Leda Nagle repercute a postagem de um perfil falso do diretor-geral da Polícia Federal sobre uma suposta conspiração do STF e de Lula no atentado contra Jair Bolsonaro em 2018 incendiou as redes bolsonaristas nesta segunda-feira. 

O vídeo de pouco mais de 2 minutos surgiu nas redes logo pela manhã, quando Leda leu os tuítes da conta falsa de Paulo Maiurino, já suspensa pelo Twitter, em uma live privada. 

"Minha Nossa Senhora do perpétuo socorro (…) Eu não sei o que fazer, fico tão assustada com isso tudo! Porque isso não é política, né? Isso é tudo, menos política", disse a jornalista, depois de ler toda a postagem falsa em nome de Mairuino. 

Imediatamente, foram disparadas mensagens em massa reproduzindo a fake news, e apontando Leda Nagle como a responsável pela suposta apuração.

“A ordem para matar Bolsonaro partiu do STF e Lula! Diretor da Policia Federal Paulo Maiurino fez declaração que pode provocar uma intervenção no país, assistam! Fonte: Jornalista Leda Nagle”, diz um texto replicado em vários grupos.

No início da tarde, Polícia Federal informou que o perfil do diretor, Paulo Maiurino, havia sido falsificado. Leda Nagle chegou a se desculpar publicamente por ter divulgado a informação falsa, mas era tarde.  

Luiz Carlos Azedo - A nobreza, o povo e a plebe

- Publicada domingo, dia 18 de abril, no Correio Braziliense e no Estado de Minas

Temos o regime de votação mais moderno e eficiente do mundo, o voto direto, secreto e universal na urna eletrônica, ao lado de uma sociedade extremamente desigual

A palavra isogênese — no dicionário, igualdade ou semelhança de origem ou desenvolvimento — é a linha que separa a democracia moderna das antigas, que se baseavam na participação direta apenas de uma elite de proprietários, como na República de Platão. É o fundamento ideal do regime democrático, que se baseia na concepção enraizada no Ocidente de que a natureza humana faz os homens originalmente iguais, não importa a condição social. Para que essa compreensão se tornasse hegemônica, muito contribuiu o fundamento cristão de que todos os homens são irmãos, porque são filhos de Deus.

Essa ideia-força foi um dos pilares da Revolução Francesa (1789-1799), que secularizou a fraternidade e ancorou o jusnaturalismo, ou seja, a doutrina de que os indivíduos são pessoas dotadas de moral e direitos inalienáveis e invioláveis, que lhes pertencem por natureza. Assim, a ideia de soberania popular se contrapõe à soberania do príncipe. Para se ter uma ideia de como as coisas avançaram neste terreno, basta lembrar que Nicolau Maquiavel, nas Histórias florentinas, dizia: “Em Florença se distinguem os nobres entre si, os nobres e o povo, e por último o povo e a plebe.”

Música | Jorge Aragão - Papel de pão

 

Poesia | Bertolt Brecht - Precisamos de você

Aprende - lê nos olhos,
lê nos olhos - aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.

Faça perguntas sem medo
não te convenças sozinho
mas vejas com teus olhos.
Se não descobriu por si
na verdade não descobriu.

Confere tudo ponto
por ponto - afinal
você faz parte de tudo,
também vai no barco,
"aí pagar o pato, vai
pegar no leme um dia.

Aponte o dedo, pergunta
que é isso? Como foi
parar aí? Por que?
Você faz parte de tudo.

Aprende, não perde nada
das discussões, do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por você.

Você não será ouvinte
diante da discussão,
não será cogumelo
de sombras e bastidores,
não será cenário
para nossa ação