segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Fernando Gabeira - Trump e Bolsonaro, os idos de janeiro

O Globo

Ambos são capazes de imaginar um golpe de Estado, mas realizá-lo de uma forma tão grosseira que podem acabar na cadeia

Há semelhança nas derrotas de Trump e Bolsonaro. Ambos questionaram antecipadamente o processo eleitoral. Trump implicou com o voto impresso; Bolsonaro estigmatizou as urnas eletrônicas. Ambos pressentiam a derrota e armavam o pulo do gato.

Na invasão do Capitólio no 6 de Janeiro, muitos acreditavam que a eleição de Biden fora um roubo. Em Brasília, no 8 de Janeiro, muitos também supunham que haviam sido iludidos pelas urnas eletrônicas.

Percebo agora que a hipótese de uma revolta popular era apenas o lance de um jogo mais complexo. Trump pretendia usar falsos delegados e resultados falsos para ser adotados pelo seu vice, Mike Pence, na sessão do Capitólio. Não funcionou.

Miguel de Almeida - A velha esquerda extrativista

O Globo

Danem-se as alternativas modernas. Como o uso do crédito de carbono

Ao deixar uma escola, onde fizera um discurso de campanha, o candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio recebeu três tiros na cabeça. Sete apoiadores seus ficaram feridos. O atentado foi reivindicado por uma facção criminosa ligada ao tráfico.

No rega-bofe de Belém, no Pará, não fosse pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, uma das principais questões amazônicas não teria despertado atenção — o combate ao crime organizado, na figura dos afamados PCC, Família do Norte e Comando Vermelho.

Estive em Belém dias antes do encontro e, dos dez ambientalistas com quem conversei, 12 gritavam alertas aflitos contra as quadrilhas ligadas ao tráfico. Em Tabatinga, norte do Amazonas, onde o Exército mantém um batalhão (ou resort?), há intenso tráfego aéreo com aeronaves — e elas não estão ali em voos de lazer. As facções operam não apenas com drogas, mas ainda com um combo de contrabando de madeira, pesca ilegal e garimpo em terras indígenas. Claro, a cocaína é a cereja. O desmatamento é outra das atividades, aí em parceria com tipos diversificados de meliantes.

Marcus André Melo* - Nordeste de esquerda?

Folha de S. Paulo

O Nordeste é tão "conservador" quanto o Brasil

As declarações recentes do governador mineiro, Romeu Zema (Novo-MG), abriram uma caixa de Pandora de disparates políticos. Trato aqui apenas do suposto "esquerdismo nordestino", o qual exigiria uma mobilização para contrabalançá-lo. Disparates sem o menor respaldo empírico.

No Nordeste há mais representantes na Câmara dos Deputados ligados ao centrão e outros partidos que orbitam em torno desse agrupamento do que a partidos afiliados a legendas de esquerda. Mais importante: o percentual de eleitos pelo PL, PP e Republicanos na região Nordeste (35,5%) é similar ao observado no plano nacional (36%). O Nordeste é, no mínimo, tão "conservador" quanto o Brasil.

Lygia Maria - Não matem o mensageiro

Folha de S. Paulo

Decisão do STF que permite punição de jornais por falas de entrevistados pode ameaçar a liberdade de imprensa

Em "Vidas Paralelas", o historiador grego Plutarco relata que o rei armênio Tigranes, ao receber a mensagem de que seu inimigo estava se aproximando, ficou tão irritado que mandou cortar a cabeça do mensageiro. Daí a expressão "Matem o mensageiro!", que descreve o ato de culpar o portador de notícias indesejadas.

Atualmente, a expressão remete a ataques à imprensa quando ela divulga informações desagradáveis sobre pessoas e temas com os quais o leitor tem afinidade. Esse modo passional de lidar com o jornalismo parece ser seguido pelo STF.

Na última terça (7), a corte decidiu que jornais podem ser responsabilizados por injúria, difamação ou calúnia proferida por um entrevistado.

O processo tem origem em caso que envolve o ex-deputado federal Ricardo Zarattini, já falecido. Em entrevista para o Diário de Pernambuco em 1995, o delegado Wandenkolk Wanderley disse que Zarattini era o mentor do atentado a bomba no aeroporto de Guararapes (Recife), em 1966. Inocentado em 2013, o deputado entrou com ação contra o jornal.

Bruno Carazza* - ‘Bolsonaro era um mau militar’; e não era o único

Valor Econômico

Forças Armadas não podem reclamar do dano à sua imagem depois de aderirem ao governo Bolsonaro

O ano era 1993 e Jair Bolsonaro ainda estava no primeiro de seus sete mandatos como deputado federal. O capitão da reserva havia chegado a Brasília três anos antes, apoiado por 67.041 eleitores. Foi a sexta maior votação no Rio de Janeiro.

Afastado da política desde 1979, quando passou a faixa para João Figueiredo, o general Ernesto Geisel, quarto presidente depois do golpe militar de 1964, concedeu naquele ano uma série de entrevistas para os pesquisadores Maria Celina D’Araújo e Celso Castro, do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.

A certa altura da conversa, refletindo sobre as relações entre os militares e a política, Geisel chamou a atenção para a baixa influência que os fardados exerciam naquele momento, oito anos após a redemocratização.

Alex Ribeiro - Pouso suave da economia não é uma obra só do BC

Valor Econômico

Normalização das cadeias produtivas e atuação dos bancos centrais no exterior são alguns dos fatores que têm ajudado inflação a baixar sem derrubar o PIB

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem dizendo nos últimos dias que a instituição conseguiu o pouso suave da economia - ou seja, baixar a inflação, que estava muito alta, com um mínimo prejuízo em termos de perda do Produto Interno Bruto (PIB). Talvez seja ainda muito cedo para comemorar, mas, se de fato isso acontecer, será algo inédito na história do regime de metas para a inflação.

Campos Neto apresentou um gráfico, em depoimento no Senado na última quinta-feira, que mostra que a inflação ao consumidor caiu 8,7 pontos percentuais (pp.) entre junho de 2022 e junho de 2023, enquanto que a variação do PIB teve um incremento de 0,3 ponto entre junho de 2022 e de 2023. Outros países emergentes tiveram, em média, uma queda 1,9 ponto na inflação e de 4,4 pontos no PIB. Um caso extremo, citado por Campos Neto, é o Chile, onde uma pesquisa de expectativas dos especialistas do setor privado aponta uma contração de 0,5% do PIB neste ano.

Felipe Moura Brasil - ‘Deus’ do bolsonarismo foi descoberto

O Estado de S. Paulo

Quando as coisas complicam, a quem recorre a família Bolsonaro?

Frederick Wassef é um personagem e tanto. Quando o bolsonarismo precisou tirar Fabrício Queiroz dos holofotes, em razão da investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apontou o ex-assessor de Flávio Bolsonaro como operador do esquema de apropriação de salários de assessores, o advogado da família hospedou Queiroz em Atibaia até o momento da prisão do hóspede.

Quando o bolsonarismo precisou resgatar o Rolex recebido como presente oficial pelo então presidente Jair Bolsonaro e vendido nos Estados Unidos pelo pai de seu então ajudante de ordens Mauro Cid, o general Mauro César Lourena Cid, Wassef recuperou o relógio, “retornou com o bem ao Brasil” e o entregou em São Paulo a Mauro Cid, que “retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente”, de acordo com os indícios coletados pela Polícia Federal.

Denis Lerrer Rosenfield* - Ascensão e queda

O Estado de S. Paulo

Há um caminho aberto para lideranças de direita, conservadoras ou liberais, capazes de se distanciarem das posições de extrema direita de Bolsonaro

Enquanto Bolsonaro usufruiu da plenitude de seu poder, apresentou uma série de aspectos políticos que o colocariam como um líder da extrema direita, embora essas características se façam igualmente presentes em líderes esquerdizantes. Enfatizaria que se trata de aspectos políticos, pois na seara econômica, graças à atuação do ministro Paulo Guedes, o liberalismo econômico se fez presente, favorecendo uma economia de mercado e propondo uma redução do papel do Estado, apesar de interesses corporativos do então presidente terem sido igualmente atendidos. Poder-se-ia, talvez, dizer que é do jogo.

Do ponto de vista político, eu gostaria de ressaltar os seguintes aspectos:

Jaime Pinsky* - Nossos alunos precisam de livros?

O Estado de S. Paulo

O projeto apresentado pelo governo estadual de São Paulo vai na contramão do seu apregoado liberalismo, de sua suposta visão democrática

Nosso sistema educacional não tem oferecido muitos motivos de orgulho para os brasileiros. Nossos resultados em rankings internacionais e a perda de qualidade, a pretexto da universalização, são fatos conhecidos. É necessário, ainda, registrar certo marasmo da máquina pública educacional, algo facilmente percebido por todos os que já tentaram colaborar no aperfeiçoamento do sistema educacional e tiveram de enfrentar marasmo, má vontade e burocracia sem fim. Ideias novas, olhares diferentes e quebra de rotina parecem ameaças para muitos ocupantes de cargos de relevo nessa máquina emperrada. Dogmas e acomodação se unem para manter o mesmo, por pior que pareça.

Diante dessa realidade, poderia parecer que a reação à decisão do governo de São Paulo de abrir mão da verba do Ministério da Educação (MEC) para a compra de livros e a decretação do fim do livro didático impresso em papel não passam de reação do marasmo contra o dinamismo, da mesmice contra o novo. Só que não. Desta vez, temos algumas coisas muito sérias e até assustadoras aparecendo no horizonte, e é necessário falar sobre elas com clareza.

Morre José Murilo de Carvalho, um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros

O Globo

O imortal de Academia Brasileira de Letras e autor de 'Os bestializados' tinha 83 anos

Morreu na madrugada deste domingo o Acadêmico José Murilo de Carvalho, aos 83 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, com Covid-19. O velório será na segunda-feira, a partir das 9h, na Academia Brasileira de Letras. E o enterro, às 13h, no Mausoléu da ABL no Cemitério São João Batista.

Considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros, José Murilo era mineiro, bacharel em sociologia e política pela UFMG, mestre em ciência política pela Universidade de Stanford, na California, onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro. Foi professor e pesquisador visitante nas universidades de Oxford, Leiden, Stanford, Irvine, Londres, Notre Dame, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, e na Fundação Ortega y Gasset em Madrid.

José Murilo foi professor emérito da UFRJ e pesquisador emérito do CNPq. Eleito para a ABL em 2004, ocupava a cadeira nº 5. Escreveu 19 livros, entre eles “A Formação das almas”, “A cidadania no Brasil”, e “Os bestializados”. Fazia parte também da Academia Brasileira de Ciências.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Com escassez de recursos, Lula lança PAC de R$ 1,7 tri

Valor Econômico

A situação fiscal recomenda um programa mais focado e menos ambicioso

O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado na sexta-feira, em tudo se parece com os dois PACs anteriores, salvo nas condições financeiras, agora bem mais hostis aos investimentos públicos do que o foram entre 2007 e 2018. Os métodos do programa parecem ser os mesmos - discernem-se pouco as prioridades nas várias centenas de obras e programas listados. A rigor, é um ajuntamento de tudo o que pode vir a ser feito com tudo o que já vem sendo feito nos âmbitos federal, estadual e municipal, mais o desejo de obter investimentos privados da ordem de R$ 612 bilhões. O país precisa urgentemente ampliar investimentos em infraestrutura e a preocupação do governo é correta. O programa pode dar alguns bons frutos. O voluntarismo, a falta de gestão competente e truques contábeis para prover recursos transformaram os programas anteriores em um fracasso do tamanho das enormes expectativas que foram criadas.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - O amor antigo

 

Música | Edu Lobo e Chico Buarque - Choro Bandido