sábado, 21 de novembro de 2015

Opinião do dia: Fernando Gabeira

Além dos passos políticos e econômicos, será preciso considerar algo que ainda não foi acrescentado à corrente descrição da crise. Não é só econômica, política e ética. Vivemos também numa crise ambiental. No cotidiano, documento problemas agudos de falta d’água, cachoeiras reduzidas a fios, rios secando e, agora, o Doce levando este golpe lamacento. Há uma seca prolongada em grandes regiões do País, queimadas aparecem em vários lugares, algumas em áreas teoricamente protegidas. Políticos convencionais tendem a subestimar a importância que as pessoas dão hoje à crise ambiental. Não é preciso percorrer os lugares atingidos pela lama. As cidades ameaçadas por barragens vivem em tensão.

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Fernando Gabeira, “Pasadena não passará”, O Estado de S. Paulo, 20 novembro de 2015

Lula é vaiado em Salvador e diz que PT criou oportunidades para negros

• Ex-presidente é alvo de críticas em rápida passagem pela capital baiana nas comemorações do Dia da Consciência Negra

Heliana Frazão - O Estado de S. Paulo

SALVADOR - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado na tarde desta sexta-feira, 20, ao participar de um evento em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, na Liberdade, bairro de maior concentração populacional negra de Salvador (BA). Já no início da fala, com mais de duas horas de atraso, ao cumprimentar os presentes, de cima de um trio elétrico, Lula ouviu uma sonora vaia, seguida de reclamações relacionadas à crise financeira e à corrupção no País.

Alguns gritavam a sua indignação com a volta da inflação e o desemprego. "Se soubesse que ele estaria aqui, eu não viria. O País em crise, os pobres passando dificuldade e esse cara aqui jogando conversa fora. Que falta de consciência. E ainda colocou aquela mulher na presidência", esbravejava Janete Costa dos Santos, de 25 anos, referindo-se à presidente Dilma Rousseff.

Lula tentou reverter a situação de descontentamento popular enumerando algumas conquistas obtidas pela comunidade negra durante o governo do PT.

"Tenho consciência de que o que já foi feito são conquistas. Uma das grandes conquistas foi o estatuto da igualdade racial. Nesse século 21 tivemos momentos importantes na nossa história. Eu duvido que qualquer cientista político faça pesquisa para ver se em qualquer momento do País havia tantos negros e negras nas universidades", ressaltou, destacando as políticas públicas implementadas pelo PT, em benefício dos afrodescendentes.

"Eu sei que tem gente que não gosta da gente, sei que tem divergência. Queria que as pessoas que discordem de nós, colocassem a mão na cabeça e pensassem no que eram as negras e os negros antes do PT nesse País", disse, e reforçou que "nunca na história desse País o negro teve oportunidade de ser médico, engenheiro e não só ajudante de pedreiro nas grandes capitais ou empregadas domésticas.

Em seguida, o ex-presidente admitiu que ainda há muito a ser feito". "O movimento negro precisa estudar quais são as conquistas que a gente deseja, pois a luta do povo é infinita", Ele se despediu como se estivesse em campanha: "Um abraço a todos e até a vitória".

Congresso da juventude petista tem faixa exaltando Dirceu, Vaccari e Genoino

• Petistas envolvidos no escândalo do mensalão e também na Lava Jato são tratados como 'guerreiros do povo brasileiro' em evento

Vera Rosa e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

SALVADOR - Fotos estilizadas de petistas que tiveram os nomes envolvidos nos escândalos do mensalão e da Petrobrás, como o ex-ministro José Dirceu, Vaccari e seu antecessor Delúbio Soares, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, enfeitavam a quadra onde Lula discursou nesta sexta-feira, 20, durante o 3º Congresso da Juventude do PT, em Brasília, com a frase “guerreiros do povo brasileiro”. Além de Vaccari, Dirceu está preso em Curitiba.

Cobrado pelos jovens por sua aliança com o PMDB, o ex-presidente reiterou que o “ideal” seria que a Presidência, os 27 governadores, os 513 deputados federais e os 81 senadores fossem da esquerda ou “de um partido só”.

“Seria maravilhoso, mas, em não sendo maravilhoso, a gente tem de fazer aliança. Ah, como seria bom se a Dilma, sozinha, pudesse votar tudo e tivesse 257 votos no Congresso!”, exclamou Lula.

“Acontece que entre a política do sonho, o meu desejo ideológico e o mundo real da política há uma distância enorme. E a gente tem de aceitar o resultado (das urnas) e construir a governabilidade.”

Lula conclamou a juventude do PT a defender os programas do governo, em vez de só reclamar.

“Apenas escrever num documento ‘Fora Levy’ ou “Fora PMDB’ é muito pouco. Me desculpem, mas é muito pouco”, insistiu. “Quero saber qual é a proposta da juventude para a educação e o que vocês vão propor ao governo para a geração de emprego.”

Em Salvador, Lula diz que governos petistas fizeram mais pelos negros

Júlio Reis – Folha de S. Paulo

SALVADOR - Durante uma caminhada em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra na praça Nelson Mandela, em Salvador, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na tarde desta sexta-feira (20) que os críticos do governo federal deveriam comparar a situação da população negra no país antes e depois dos governos petistas.

"É possível discordar de nosso governo, mas eu gostaria que aqueles que discordam também pensassem qual era a situação do negro neste país antes de o PT chegar ao poder", afirmou.

Lula chegou ao ato às 17h20, no bairro da Liberdade, acompanhado do governador da Bahia, Rui Costa (PT). O ex-presidente foi direto para o trio elétrico que animava a festa e, no percurso, recebeu abraços de populares.

Durante o discurso, Lula foi ovacionado aos gritos de "Olé, olé, olá, Lula, Lula", mas também recebeu vaias de parte do público.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli também estavam presentes, mas Lula foi o único a discursar.

Em cerca de cinco minutos, o ex-presidente defendeu iniciativas do governo de Dilma Rousseff contra a desigualdade racial, como a aprovação da lei que destina cota de 20% das vagas em concursos públicos para negros, e mencionou também Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2010, último ano de seu governo.

Afirmou ainda que o governo petista ampliou como "nunca na história do país" a possibilidade de negros ingressarem nas universidades.

"Façam uma pesquisa e vejam se havia 1% de negro nas universidades. Hoje as meninas e os meninos negros podem alcançar serem médicos, e não apenas ajudantes de pedreiro ou empregadas domésticas", disse.

Lula se retirou da comemoração sem falar com a imprensa, enquanto o ato, que reunia cerca de 7.000 pessoas, segundo a PM, seguiu com uma caminhada em direção ao Pelourinho.

Lula: ‘Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia’

• Em congresso da juventude petista, mensaleiros foram homenageados em faixas

“Temos que ajudar a companheira Dilma a sair da encalacrada que a oposição nos colocou. É hora da gente se juntar” Lula Ex-presidente

Leticia Fernandes, Simone Iglesias e Maria Lima - O Globo

BRASÍLIA - Em um esvaziado congresso nacional da juventude do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levantou suspeitas sobre as doações de dinheiro feitas ao PSDB por empreiteiros ligados à Lava-Jato. No ginásio, faixas enalteciam os mensaleiros.

— Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia. Então, nosso companheiro (João) Vaccari, que é um companheiro inteligente, pegava dinheiro de propina, e o PSDB ia lá no cofre e pegava dinheiro limpo? Não podemos permitir que chamem petista de ladrão — afirmou.

A homenagem aos petistas condenados e presos no processo do mensalão os identificava como “guerreiros do povo brasileiro”. Foram citados o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, o ex-deputado José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. Também foi lembrado João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT preso pela Operação Lava-Jato.

Antes da chegada de Lula, o apresentador que animava a militância pediu saudações ao “guerreiro do povo brasileiro”. Os jovens saudaram, em coro, Dirceu, também chamado de “guerreiro da democracia” em outro cartaz.

O governador de São Paulo e um dos principais nomes do PSDB, Geraldo Alckmin, rebateu, em entrevista à rádio CBN, a afirmação de Lula:

— Pessoas que não têm como se justificar acabam usando argumento para dizer: “Não, os outros também fazem igual”. E não é verdade. O Brasil não tem financiamento público de campanha, então o financiamento tem que ser privado. Isso não tem nada a ver com corrupção, com superfaturamento, com propina. São coisas bastante distintas.

Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves disse, em Minas, que o encontro da juventude do PT, em que Lula “diz aos jovens que vale a pena roubar”, ficará marcado como um dos mais tristes episódios da cena política brasileira. E ainda que Lula “envergonha” o Brasil.

Durante o evento, Lula afirmou que é preciso empenho dos correligionários para defender o mandato da presidente Dilma Rousseff e voltou a pedir que o partido fique unido em meio à crise:

— Temos que ajudar a companheira Dilma a sair da encalacrada que a oposição nos colocou. Temos que levantar a cabeça. Se estamos passando por um momento delicado é hora da gente se juntar. Aécio rebateu: — O ex-presidente Lula pede ajuda para tirar Dilma da encalacrada que a oposição a colocou. Não! Brasileiros é que querem que alguém nos tire da encalacrada em que o Lula, a Dilma e o PT nos colocaram.

‘O poste iluminou’
Mesmo em meio às dificuldades que Dilma enfrenta para governar, com apoio limitado no Congresso para aprovar medidas de ajuste fiscal, Lula defendeu sua sucessora:

— Diziam: ela nunca foi eleita nada, ela é um poste. O poste iluminou. É preciso ajudar a companheira Dilma para que ela possa aprovar tudo que quer e virar a página do ajuste fiscal.

Lula pediu aos petistas que priorizem as eleições municipais do ano que vem:

— Não tem 2018 se a gente não tiver 2016, nós precisamos construir 2016. O ideal para um partido é que ele pudesse disputar e ganhar a Presidência, 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados. Seria maravilhoso que só a esquerda pudesse fazer isso, mas não é possível.

Cobrado por integrantes da juventude a romper com o PMDB, Lula respondeu que é preciso garantir a governabilidade e, para isso, fazer alianças:

— Seria maravilhoso que a Dilma sozinha pudesse governar. Mas entre meu desejo ideológico e o mundo real da política tem uma distância enorme.

Lula ainda minimizou as cobranças dos jovens, que gritavam “Fora, Levy”, “Fora, Cunha”, e “Fora, Meirelles”.

Lula diz a juventude petista que acusações contra partido são "teses"

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em discurso no Congresso da Juventude do PT nesta sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exortou os jovens a ajudarem a presidente Dilma Rousseff a “sair da encalacrada” onde a oposição a colocou, pediu a Deus que o “ajuste” seja votado até o fim do ano para que venha o “crescimento” e chamou de “teses” as denúncias de corrupção contra petistas.

Lula ressaltou que é preciso ganhar “2016” antes de “2018” e recomendou aos jovens petistas que ergam a cabeça. “A gente não pode permitir que ladrão chame petista de ladrão”, afirmou.

Lula recomendou à plateia, formada por cerca de 300 jovens, que ajudem a “companheira Dilma a sair da encalacrada que a oposição colocou a gente”. Dilma foi convidada para o evento, mas aconselhada a não comparecer, porque os jovens gritavam palavras de ordem como “Fora, Levy” e “Fora, Cunha”, em alusão ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Eles perderam e não souberam perder, o que de mais grave pode acontecer a eles é que se continuarem com essa ignorância política, podem perder a quinta eleição”, disse Lula. “Deus queira que seja aprovado tudo o que ela [Dilma] quer até o fim do ano para a gente virar a página do ajuste e botar na página do crescimento”, disse, sobre os itens que precisam ser aprovados no Congresso Nacional sobre o ajuste fiscal.

O ex-presidente chamou de “tese” as denúncias de corrupção contra petistas, que foram julgados e condenados no mensalão, e agora são investigados na Operação Lava-Jato, que investiga desvios na Petrobras.

“Estão dizendo que companheiros nossos receberam dinheiro de propina, é apenas uma tese, eu quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado na sacristia”, afirmou.

“Na Petrobras tinha o cofre do dinheiro honesto, da propina, do dinheiro, e o Vaccari [João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, que está preso na Lava-Jato] só pegou do cofre do dinheiro sujo?”, questionou.

Lula ressaltou que “não tem 2018 se a gente não tiver 2016”, em alusão às próximas eleições municipais. “Precisamos construir 2016”, ressaltou. Ele disse que onde o PT não tiver candidato, é preciso fazer alianças, porque o povo não elege apenas candidatos de esquerda.

O ex-presidente disse que se preocupa com a “tentativa de setores dos meios de comunicação e da sociedade de induzir a sociedade brasileira a não gostar de política”. Segundo ele, a “desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta”.

Lula afirmou que sem a política, “o que vem é sempre pior”, e citou os exemplos da ditadura militar no país, que se estendeu de 1964 até 1985, e a eleição de Silvio Berlusconi na Itália. Ele disse, por fim, que o PT fez mais por esse país que qualquer outro partido. “Este país foi preparado para ser governado para um terço da sociedade”, afirmou.

Ao final, recomendou que os jovens façam um documento que avance em relação às palavras de ordem “fora Levy” e “fora Cunha”. “Quero saber qual é a proposta da juventude para a educação, para geração de empregos pra jovens”, afirmou.

Lula envergonha o Brasil, critica Aécio

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Comandante nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) rebateu nesta sexta-feira (20) declarações dadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante um congresso da juventude do PT. O tucano afirmou que Lula "envergonha o Brasil" e que seu partido sinaliza aos jovens que "vale a pena roubar" ao enaltecer nomes como José Dirceu e João Vaccari Neto em seus eventos.

Em discurso durante o ato, Lula disse que a militância precisava ajudar a presidente Dilma Rousseff a sair da "encalacrada que a oposição nos colocou depois das eleições". "Não, presidente. Os brasileiros é que querem que alguém os tirem da encalacrada que Lula, Dilma Rousseff e o PT nos colocaram", rebateu Aécio.

Segundo ele, Lula "envergonha" o país ao "sinalizar na direção contrária do que deveria fazer um ex-presidente".

O tucano condenou ainda as homenagens feitas pela militância jovem do PT durante o evento ao ex-ministro José Dirceu e ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ambos presos acusados de participação em escândalos de corrupção.

"Condenados pela última instância da Justiça são tratados como heróis nacionais. O PT inverte valores. Com isso, sinaliza para os jovens que vale a pena, vale a pena roubar", criticou Aécio.

Durante o congresso do PT, o ex-presidente afirmou que os militantes do partido "não podem permitir que ladrão fique chamando petista de ladrão".

Segundo Lula, "o PSDB precisa provar o que fala" quando acusa a sigla de ter arrecadado dinheiro de forma corrupta para os cofres do partido e para financiar campanhas eleitorais.

Para Aécio, a fala será lembrada como "um dos mais tristes episódios da política nacional"

Lemann diz que polarização política trava avanço do país

Maria Cristina Frias, Thais Bilenky – Folha de S. Paulo

NOVA YORK - O empresário Jorge Paulo Lemann, 76, criticou a polarização política no Brasil por travar o progresso do país e defendeu o diálogo entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Principal acionista da AB InBev e homem mais rico do Brasil, com um patrimônio de R$ 83,7 bilhões segundo a revista "Forbes", o empresário conversou com a Folha em evento organizado pela Fundação Lemann, cujo conselho ele preside, na Universidade Columbia, em Nova York, nesta sexta-feira (20).

"O pessoal não se entende. Até Fernando Henrique e Lula. Eles foram amigos, já trabalharam juntos e aí ficou nessa ciumeira de o Lula querer ser Fernando Henrique e Fernando Henrique querer ser Lula", disse.

"Tem de se unir por algumas coisas, [dizer:] vamos conversar que é importante", avaliou o empresário.

Em meio a essa polarização, "o PMDB fica ali no meio", observou. "Acho que o PMDB vai saltar fora desse governo daqui a pouco. Aí que as coisas vão acontecer."

Lemann ponderou que discursos idealistas tampouco ajudam a construir soluções práticas. "Está cheio de gente no Brasil que acha que igualdade é uma beleza. Eu acho igualdade uma beleza também, só que não funciona. Igualdade de oportunidade, isso sim. Agora, igualdade por igualdade... As pessoas não são iguais."

Em discurso no evento, o empresário afirmou que "incomoda que, no Brasil, as pessoas sejam tão preocupadas sobre ser de direita e ser de esquerda". "Poucos falam sobre o que deveria ser feito, sobre o que é prático e o que pode ajudar o país", criticou.

Marina Silva
Antes dele, a ex-senadora Marina Silva (Rede) falou sobre a crise no Brasil e no mundo, em decorrência do que ela considera ser um desgaste de instituições e estruturas tradicionais da democracia.

"Eu ouvi a Marina nesta manhã e gostei do que ela falou sobre achar um novo jeito, mais objetivo, de sair da situação atual de briga entre direita e esquerda, que não resolve nada", declarou.

Lemann se disse "esperançoso", apesar da crise.

"Eu tenho 76 anos. Já passei por muitos problemas. No fim, as coisas se resolvem e tenho certeza que o Brasil vai conseguir superar desta vez", afirmou. "Pode haver um Brasil muito melhor, e vejo bons sinais. Há muito empreendedorismo acontecendo lá."

Lemann elogiou o trabalho do Ministério Público nas denúncias de escândalos de corrupção: "Eu gosto dos promotores públicos no Brasil que estão lidando com a corrupção. É um grupo pequeno de pessoas que tem um efeito multiplicador tremendo".

Ele contou que sua fundação levou o método de ensino de matemática da Khan Academy a 500 mil alunos em 500 escolas em todo o Brasil. Para ele, é importante investir na formação de professor, mas não dá para esperar "50 anos".

O empresário formalizou, nesta sexta, a inauguração do Centro Lemann para estudos sobre o Brasil em Columbia. Além de doação à universidade, a fundação oferece bolsas de estudos para brasileiros no exterior.

Governo amplia previsão de queda do PIB para 3,1% e vê inflação a 9,9%

Por Fábio Pupo, Lucas Marchesini e Edna Simão – Valor Econômico

BRASÍLIA - A equipe econômica do governo prevê fechar o ano de 2015 com um déficit de R$ 51,8 bilhões para o governo central. O número está no 5º Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério do Planejamento.

O relatório traz uma redução na receita total de R$ 57,920 bilhões em relação ao último documento. Agora, o total previsto para arrecadação é de R$ 1,260 trilhão no ano. Já a previsão de gastos cresceu. Os discricionários ficaram mantidos em R$ 246,904 bilhões e os obrigatórios cresceram R$ 2,773 bilhões, para R$ 861,612 bilhões.

O documento também atualiza os parâmetros econômicos considerados pelo governo atualmente. Agora, a equipe econômica trabalha com uma retração do PIB de 3,1% em 2015 (antes, a estimativa era uma queda de 2,4%).

Para a inflação medida pelo IPCA, o governo trabalha com 9,99% para este ano (ante 9,29% em documento anterior). O governo também eleva previsão de câmbio médio em 2015 para R$ 3,35 (ante R$ 3,25 do relatório anterior).

Brasil fechou 169 mil vagas de empregos formais em outubro

Por Camilla Veras Mota – Valor Econômico

SÃO PAULO - O país fechou 169.131 empregos formais em outubro, informou nesta sexta-feira o Ministério do Trabalho por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Foi o pior resultado para outubro desde 1992, quando começou a série histórica do cadastro.

O número foi maior que o estimado por analistas consultados pelo Valor Data, de fechanento de 153 mil vagas no período. Em outubro do ano passado, o Caged registrou o fechamento de 30.283 vagas.

Todos os setores acompanhados pelo Ministério do Trabalho apuraram resultado negativo no período. A maior queda ocorreu na construção civil (- 49.830 postos) devido, em parte, às atividades relacionadas à construção de edifícios (-18.055 postos) e obras de geração e distribuição de energia elétrica (-7.689). Em sequência, vieram a indústria de transformação (-48.444), serviços (-46.246) e comércio (-4.261).

Este foi o sétimo resultado negativo consecutivo do Caged e o nono neste ano. Em setembro, o país perdeu 95.602 postos.

Entre janeiro e outubro, o saldo é negativo em 818.918 vagas, levando em consideração a série com ajuste até setembro e outubro sem ajuste. Pelo mesmo critério, o país fechou nos 12 meses até outubro 1.381.992 de postos de trabalho.

Oposição fará ofensiva na Justiça para tirar Cunha da presidência da Câmara

• Após manobras que impediram leitura do relatório de Fausto Pinato (PRB-SP), PPS e Rede anunciam ação no Supremo Tribunal Federal pelo afastamento do peemedebista e deve receber apoio de outros partidos e do Conselho de Ética da Casa

Daiene Cardoso e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Partidos de oposição, agora adversários do peemedebista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preparam uma ofensiva no Supremo Tribunal Federal para afastá-lo da presidência da Câmara dos Deputados. O PPS anunciou que vai encaminhar na terça-feira um mandado de segurança alegando que o peemedebista vem se utilizando das prerrogativas do cargo para postergar o andamento do processo contra ele no Conselho de Ética.

O movimento ganhou forças após as manobras feitas por aliados de Cunha anteontem na Câmara para evitar a leitura de um relatório desfavorável a ele no Conselho de Ética da Casa. É a primeira vez que um partido importante da oposição anuncia que recorrerá à Justiça em busca de afastar Cunha do cargo.

A ação do PPS pode ganhar o apoio do PSDB e do DEM nos próximos dias. Na próxima semana esses dois partidos se reúnem para discutir o assunto, mas, segundo o Estado apurou, a tendência é de que caminhem na mesma linha do PPS.

Para o deputado Daniel Coelho (PE), vice-líder do PSDB, a alegação de que Cunha usa o cargo em benefício próprio tornou-se algo concreto. “Até então, havia uma tese de que ele poderia usar o cargo para obstruir as investigações. Na quinta-feira, ele materializou a tese”, afirmou.

No Conselho de Ética, colegiado onde é alvo de ação por quebra de decoro parlamentar, a medida também está sendo estudada pelo presidente José Carlos Araújo (PSD-BA). Membros do Conselho levantaram a hipótese de saída de Cunha após os aliados do peemedebistas manobrarem para adiar o início do processo por quebra de decoro parlamentar, anteontem. A ideia é que o Supremo intervenha para garantir que não haja interferência no processo legislativo e que a investigação terá seguimento.

A proposta foi rechaçada num primeiro momento por Araújo, mas qualquer conselheiro poderá levantar a sugestão no colegiado. A interlocutores, Araújo disse que poderá acolher a sugestão, quando estiver superada a fase da admissibilidade do parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP). O próprio Pinato, conforme apurou o Estado, admite reservadamente a necessidade de uma ação na Justiça para afastar Cunha e garantir o andamento dos trabalhos no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

A iniciativa do PPS é a terceira ação parlamentar pedindo a saída de Cunha. A primeira é a do vice-líder do governo, Sílvio Costa (PSC-PE), que recorreu à Procuradoria-Geral da República (PGR) pendido o afastamento de Cunha do cargo. Na ocasião, Costa apontou o uso indevido da função para retardar o pedido de investigação do PSOL e da Rede Sustentabilidade no Conselho de Ética.

Rede. A deputada Eliziane Gama (Rede-MA) vai protocolar, também na terça-feira, uma representação na PGR com o mesmo objetivo. No documento que será apresentado à Procuradoria, a deputada diz que Cunha tem se valido de “estratégia ilícita”. “É latente a falta de isenção do Presidente da Câmara”, afirma a deputada na representação. “É incompatível com a ética e a moral a manutenção do exercício da presidência pelo deputado Eduardo Cunha enquanto na condição de representado do Conselho de Ética da Câmara”, diz o documento.

O líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), usará o mesmo argumento no mandado de segurança no STF. “É necessário que Cunha deixe de possuir os poderes atinentes à presidência da Câmara, ainda que temporariamente, visto que já se utilizou fartamente deles, a fim de que cessem as indevidas intervenções e o processo possa chegar ao seu final”, disse. / Colaborou Pedro Venceslau

Oposição decide ir ao STF para tentar afastar Cunha

Um dia depois das manobras feitas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), para atrasar o processo contra ele no Conselho de Ética, a oposição decidiu pedir ao Supremo Tribunal o afastamento do deputado do cargo. Partidos de oposição também ameaçam obstruir as sessões da Câmara enquanto Cunha estiver no comando

Sustentação começa a ruir

• Oposição pedirá afastamento de Cunha da presidência da Câmara e obstruirá sessões

Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA e TERESINA - Os líderes oposicionistas definiram que atuarão em duas frentes para forçar o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara. A decisão é que haverá recursos externos, à ProcuradoriaGeral da República e ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo o impedimento dele no cargo, além da obstrução dos trabalhos na Câmara enquanto ele estiver presidindo as sessões.

Até poucos dias atrás, vários partidos de oposição ainda atuavam como aliados do peemedebista, mas após as manobras regimentais orquestradas por Cunha para impedir a ação do Conselho de Ética, na quinta-feira, esse apoio ruiu. Apoiado por fiéis escudeiros, inclusive no PT, ele conseguiu adiar a leitura do relatório preliminar que acata a denúncia de quebra de decoro parlamentar e pode resultar na sua cassação.

O PPS ingressará, na próxima terça-feira, com mandado de segurança no Supremo pedindo o afastamento de Cunha, sob a alegação de que ele se utiliza do cargo para evitar as investigações. Outros partidos podem assinar o pedido, que vem sendo discutido na área jurídica de legendas da oposição. O DEM ainda reunirá sua bancada para tomar uma decisão a respeito, e o PSDB também estuda alguma ação nesse sentido.

A Rede Sustentabilidade decidiu que, também na terça-feira, irá entrar com representação na Procuradoria-Geral da República contra Eduardo Cunha pedindo que seja solicitado ao Supremo o afastamento dele da presidência da Câmara. O partido avaliou que seria melhor acionar a PGR antes do STF para evitar que uma decisão monocrática de algum ministro da Corte enterrasse a possibilidade de afastamento.

Os líderes dos partidos da oposição têm mantido conversas desde quinta-feira para tentar uma ação conjunta para impedir que Cunha permaneça na presidência da Câmara. Há uma avaliação de que, com o apoio do PT para que não houvesse quórum na sessão do Conselho de Ética, ficou explicitado que há uma aliança entre o peemedebista e o governo para salvá-lo em troca de manter o impeachment engavetado.

— Ficou muito claro que Eduardo está jogando junto com o governo, então a oposição vai dar uma resposta a isso — afirma o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).

Aécio reforça discurso contra cunha
Ontem, em Belo Horizonte, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), reforçou do discurso contra Cunha.

— Achamos que o presidente da Câmara perdeu as condições de conduzir a Câmara dos Deputados — disse.

O vice-líder do PSDB, deputado Nilson Leitão (MT), afirma que a intenção é agir de forma “orquestrada”.

— Não é só uma ação, vamos ver todas as ferramentas que temos dentro de Casa. A única coisa certa é que decidimos que Eduardo Cunha não tem mais condições de presidir a Câmara. Vamos obstruir tudo, não vamos deixar ter sessão. Vamos exigir uma posição urgente pelo afastamento do presidente — afirma Leitão.

No PT, apesar de haver ainda uma parcela que age, a pedido do Palácio do Planalto, para evitar confrontos com Eduardo Cunha, é aguardada uma forte reação daqueles, hoje majoritários na bancada, que acusaram o golpe de terem sido expostos como aliados do presidente da Câmara na manobra para protelar seu caso no Conselho. Há reuniões agendadas para o início da semana e previsão de pressões sobre o presidente do PT, Rui Falcão, por uma decisão partidária sobre o caso.

— Na próxima semana, o limite para o PT tomar uma decisão coletiva já estará ultrapassado. Estamos buscando uma posição partidária e vamos ter reuniões com esse objetivo. Estamos buscando que Rui Falcão acompanhe essa decisão pela única posição possível, que é o enfrentamento ao Eduardo Cunha — afirma a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

A manobra de Cunha para impedir o andamento do processo no Conselho de Ética gerou ainda reação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Ontem, o presidente da entidade, Marcus Vinícius Furtado Coelho, e os 27 presidentes estaduais fizeram manifestação pública reivindicando agilidade na cassação de Cunha e afirmaram que poderão recorrer ao Supremo se o colegiado não estiver funcionando adequadamente. (Colaborou Efrem Ribeiro)

Pragmatismo pró-governo

• Deputado do PT diz que economia é mais urgente que cassar Cunha

Júnia Gama - O Globo

Um dos deputados faltosos do PT no Conselho de Ética na sessão de quinta-feira, que iria analisar a admissibilidade do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), explica de forma pragmática o que o levou a ajudar o peemedebista na ocasião.

— PT é governo e o governo precisa de tempo. Não faz mal nenhum esperar mais duas semanas no Conselho de Ética, deixar chegar dezembro e o governo terminar de votar a pauta econômica — justificou ao GLOBO Zé Geraldo (PT-PA), que ausentou-se para prejudicar o quorum da sessão no colegiado.

O deputado contou que a orientação foi dada em reuniões de coordenação da bancada do PT nas últimas semanas. Zé Geraldo garante que não há, no entanto, direcionamento por parte da cúpula do partido ou do governo sobre o voto dos três petistas no Conselho de Ética. E diz que, quando chegar o momento da votação, os três deputados do partido devem votar pela admissibilidade do processo.

— A não ser que mude alguma coisa, a gente vai votar pela admissibilidade. Quanto a isso, não teve nenhum pedido. Mas deve ser só daqui a duas semanas, só em dezembro. Para o governo, quanto mais tempo, melhor — disse.

Para ele, ainda há matérias econômicas importantes a serem votadas, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e a recriação da CPMF por meio de emenda à Constituição. O deputado diz ainda não temer que a manobra para ajudar Cunha seja revertida em mais uma avaliação negativa para o PT.

— O PT apanha de qualquer jeito, se faz coisa errada ou se acerta. Uma porrada a mais não vai fazer diferença — afirma.

Procuradoria começa a analisar acusações contra Pedro Paulo

• Favorito de Paes para a disputa no Rio em 2016 pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha por agressões à ex-mulher

Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria-Geral da República (PGR) começa a analisar a partir da próxima semana o caso do secretário executivo de Governo da prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho. Deputado federal licenciado pelo PMDB, ele é acusado de agredir sua ex-mulher Alexandra Marcondes, de acordo com duas ocorrências registradas por ela, em 2008 e 2010.

No último dia 6, o Ministério Público do Rio enviou para a PGR, em Brasília, os autos do inquérito sobre a briga envolvendo Pedro Paulo e a ex-mulher. Isso foi necessário porque Pedro Paulo é deputado e, portanto, tem foro privilegiado. Desse modo, só pode ser processado pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da PGR.

Os investigadores começarão a analisar o caso a partir desta segunda-feira. O objetivo é ter uma conclusão antes do fim de dezembro. Com isso, a PGR solicitará a abertura de inquérito ou arquivamento ao STF. Como envolve a agressão a uma mulher, Pedro Paulo pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha, cuja punição é de um a três anos de prisão.

Pré-candidatura. A história veio à tona somente este ano após o lançamento da pré-candidatura de Pedro Paulo à sucessão do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Foram reveladas duas ocorrências registradas pela ex-mulher Alexandra Marcondes. Em duas entrevistas coletivas, Pedro Paulo admitiu que bateu na mulher, mas disse que houve agressões mútuas. “Muitas vezes acontecem nos lares desentendimentos e erros. Não vou fazer aqui uma discussão se ela me agrediu, se eu me defendi. Não cabe aqui dizer o que aconteceu, qual foi o nível desse descontrole”, disse Pedro Paulo, em entrevista no dia 6.

As declarações foram feitas após a divulgação de uma briga que ocorrera em fevereiro de 2010. Segundo boletim de ocorrência feito por Alexandra, ela voltou mais cedo de uma viagem e encontrou roupas íntimas femininas no quarto do casal. Ao cobrar explicações do então marido. Pedro Paulo ficou irritado, jogou-a no chão e passou a agredi-la.

Quando tratou do assunto pela primeira vez, ele chegou a dizer que havia sido “um episódio isolado”. Dias depois, no entanto, foi revelada mais uma agressão, ocorrida em 2008, em São Paulo. Essa segunda agressão também foi registrada por Alexandra à Polícia. Em seguida, Pedro Paulo convocou mais uma entrevista coletiva para se explicar. Desta vez, a ex-mulher o acompanhou e saiu em defesa dele. “Quem nunca teve uma briga dentro de casa?”, disse Pedro Paulo. “Ele nunca foi agressivo”, disse Alexandra.

Até então, Eduardo Paes mantém apoio ao nome de Pedro Paulo para sucedê-lo. Além de amigo, o secretário é seu principal braço direito na prefeitura carioca. Caso Pedro Paulo não seja candidato, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), poderá ficar com a vaga.

Líderes do PMDB: candidatura de Pedro Paulo é insustentável

• A amigos, vice Michel Temer se disse chocado com as denúncias

Simone Iglesias - O Globo

Para a cúpula nacional do PMDB, a candidatura de Pedro Paulo Carvalho à sucessão do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), no ano que vem, tornou-se insustentável. Dirigentes se disseram chocados com as denúncias de que ele agrediu e ameaçou a ex-mulher, e foram categóricos ao afirmar que será um constrangimento para Pedro Paulo e para o partido enfrentar uma campanha que acabaria tendo o tema da violência contra a mulher como foco principal.

A pessoas próximas, o vice-presidente Michel Temer foi um dos que se disseram chocados com a situação. Os peemedebistas preferiram falar sobre o assunto reservadamente, sem declarações públicas, para evitar ampliar mais a crise, que ainda está circunscrita ao Rio. Além do incômodo geral, os peemedebistas lembraram que Temer foi quem criou a primeira delegacia da mulher, em São Paulo, em 1985.

— A Lei Maria da Penha matou a candidatura de Pedro Paulo. Não há o que fazer, as agressões são um problema insanável — disse um ministro peemedebista.

“Paes terá de repensar estratégia”
Além das agressões à ex-mulher Alexandra Marcondes Teixeira com chutes e socos, esta semana foi descoberto novo registro policial contra Pedro Paulo: a ex-mulher o acusou, em 2010, de ameaçar “sumir” com a filha do casal após a separação.

Segundo o ministro do PMDB, o clima é de mal-estar com a situação. Em um jantar esta semana entre ministros e dirigentes peemedebistas, Pedro Paulo, até então visto apenas como um político de importância local, virou o tema principal da conversa. Líderes do partido se mostraram surpresos com a situação, sem mesmo conhecer o atual secretário de Governo de Paes.

— Não o conheço, ouvi dizer que é um bom gestor. Lamentavelmente, isso é a última coisa que o eleitor vai lembrar quando se deparar com as ocorrências. É uma pena, mas Eduardo Paes vai ter que repensar sua estratégia, sob pena de perder o comando da prefeitura do Rio, que é estratégica para o partido. Quem da direção não vai ficar constrangido em ter que responder sobre isso publicamente na campanha? — perguntou outro ministro, que pediu reservas.

A cúpula do PMDB avalia que o episódio pode acabar respingando em Paes e prejudicando uma eventual candidatura à Presidência da República, no futuro. Integrantes do partido aventam seu nome, inclusive, para 2018. A cúpula da legenda sugere que, se ele tiver realmente a pretensão de entrar na disputa, que reposicione o discurso para não ficar com a biografia marcada.

Um senador afirmou que o prefeito do Rio errou em ter se envolvido pessoalmente no episódio. Acha que ele já deveria ter tirado Pedro Paulo do foco. Para os integrantes do partido, será muito ruim enfrentar uma campanha em que o candidato, mesmo com potencial eleitoral, tenha que passar todo o tempo se justificando, porque as denúncias são autoexplicativas e fáceis de assimilar.

— Os boletins de ocorrência vão “viralizar” nas redes sociais. As mulheres, que são maioria do eleitorado, vão fazer campanha contra. Agressão contra mulher é destruidor para qualquer um. Para um político, potencializa ainda mais — disse um integrante da executiva partidária.

— Não há salvação alguma para essa candidatura. Vai virar piada em rede nacional. Como vai ser isso? Vote em mim e apanhe depois? — avaliou outro cacique do partido.

Alberto Aggio: A deseducação de Lula

Lula é um deseducador por excelência. Na semana que passou, em encontro da juventude do PT, ele “lecionou” para os jovens petistas e filopetistas proferindo a seguinte frase: "O ideal de um partido é que ele pudesse ganhar a Presidência da República, 27 governadores, 81 senadores e 513 deputados sem se aliar a ninguém. Mas, muitas vezes, temos que aceitar o resultado e construir a governabilidade". Enfatizo que ele estava discursando para a juventude, aquele setor da sociedade que, no Brasil, costumava-se dizer, que era o “futuro da Nação”.

Há problemas graves na frase de Lula. À juventude se pede geralmente que ela busque a utopia, busque o impossível, desafie, mude. E frequentemente esses anseios são também vocalizados juntamente com a noção de “ideal”; em política seria um “projeto ideal”. Na frase, Lula revela seu ideal: o PT, como qualquer outro partido (se supõe) deveria governar de maneira exclusiva, única e integral o país. O ideal de Lula é um desejo totalitário. Lula prega a utopia do totalitarismo aos seus jovens. Não os “ensina” ou os “educa” politicamente para uma realidade mais complexa, necessariamente mais plural, que deve ter na tolerância e na convivência de diferentes a perspectiva do seu “ideal”. A realidade diversa e complexa deve ceder, na política, a uma única parte, a um único partido.

Contra uma sociedade complexa e diferenciada, Lula apela aos jovens petistas que eles lutem pela conquista da unanimidade. O ideal de Lula seria aquilo que alguma vez Nelson Rodrigues identificou como burrice, afirmando que “toda unanimidade é burra”. Se o argumento vale, pode-se dizer que Lula quer emburrecer a juventude petista, com sua visão totalitária.

No entanto, ele sabe que qualquer partido político deve e deverá governar o Brasil com alianças. Mas o PT nunca entendeu sequer superficialmente essa questão e já deu vivas demonstrações de que lida com ela apenas a partir de critérios de máfia. Para o PT e obviamente para Lula, aliar-se a alguém é submeter o aliado, conquistar súditos e não parceiros. Lula sabe e deseduca sua militância dizendo, no fundo, que a aliança é sempre um desprazer, uma contingência, um mal que se deve suportar até que se possa romper com ela. Lula parece querer formar mais mafiosos do que jovens políticos de vocação democrática.

Um argumento combina com o outro: o totalitarismo como visão de partido único criou no petismo e em Lula, em particular, a imagem e o autoengano de serem o “partido da verdade”, olhando os outros com desconfiança, senão com repulsa, tendo, no fundo que “suporta-los”, já que ainda não tem todo o poder em suas mãos.

Gramsci dizia que Maquiavel havia escrito O Príncipe para aqueles que não sabiam e não lidavam com a política aprenderem como ela realmente funciona. Havia no sábio fiorentino uma intenção didática e pedagógica. Lula deve achar que a política é a imposição da sua verdade, de preferência de maneira totalitária. É isso que ele quer ensinar aos seus jovens. Deseduca a juventude petista para a convivência democrática.

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Alberto Aggio, historiador, professor da Unesp e presidente da Fundação Astrojildo Pereira

Almir Pazzianotto Pinto: Brasil 2016

- O Estado de S. Paulo

Afirmo que o governo
Lula é o mais corrupto de
nossa história nacional
Roberto Mangabeira Unger

Aproxima-se o fim do ano e a pergunta paira no ar: o que nos espera em 2016? Dois marcantes acontecimentos podem ser considerados certos: os Jogos Olímpicos em agosto e as eleições municipais em outubro. Tudo o mais é imprevisível, nebuloso, assustador.

O mais ousado futurologista – sinônimo adequado à expressão cientista político – talvez não se sinta encorajado a profetizar, no encapelado oceano de interrogações em que flutua à deriva o Brasil, como serão os 12 meses que se aproximam. As informações disponíveis revelam País em crise, sem rumos, sem governo, sem oposição, sem dinheiro, imerso em gigantesca onda de corrupção, com a economia em colapso, o mercado de trabalho em pânico, descrente de instituições governamentais.

Consultando passadas edições de jornais e de revistas de circulação nacional, chegaremos à constatação de que qualquer hipótese positiva referente a 2016 será temerária, sem base real de sustentação.

Vejamos a Olimpíada.

Teme-se fracasso igual ao da Copa de 2014, quando a seleção naufragou diante da Alemanha e da Holanda de maneira constrangedora. O atletismo, como sempre, vive à míngua de recursos. Depende do esforço heroico de pequeno grupo de atletas, que competem em condições de inferioridade com americanos, chineses, alemães, russos, jamaicanos, cubanos, de países cujos planejamento e estrutura lhes permitem alcançar marcas excepcionais. Sobrevivemos graças ao talento natural e à dedicação de desportistas como Ademar Ferreira da Silva, João do Pulo, Robson Caetano, Fabiana Murer, Maurren Maggi.

Quanto às eleições municipais, o panorama é desolador.

A falta de renovação nos impõe acompanhar disputas entre nomes desgastados, como Marta Suplicy. Prestes a atingir 71 anos, abandonou o PT, ao qual se filiou em 1981 e pelo qual foi candidata a governador do Estado, prefeita da capital, senadora da República e ministra do Turismo, para disputar, pelo PMDB, o regresso à chefia do Executivo municipal. Terá como adversário o desacreditado Fernando Haddad, de quem era, até há poucos dias, fiel companheira de legenda. O PSDB é pobre em dirigentes com trânsito fácil nas camadas populares, com as quais não consegue se comunicar. Andrea Matarazzo integra medíocre Câmara Municipal, sem brilho nem destaque. João Dória Júnior, bem-sucedido empresário do setor de comunicações e eventos, mas sem currículo político, dificilmente conseguirá legenda. Celso Russomanno, conhecido por ser homem de múltiplos partidos, disputou como favorito em 2012, mas se esvaziou na reta final e foi derrotado.

As disputas por prefeituras e Câmaras Municipais, em 5.570 municípios, serão travadas em cenário de crise. O lulopetismo debilitou o sistema econômico, causou fantástica taxa de desemprego, fechou indústrias, atrofiou a iniciativa privada, arruinou a União, Estados, o Distrito Federal e municípios.
Lula foi protagonista do maior calote político de todos os tempos. Tomou posse como presidente da República em janeiro de 2003. Em 2005, dois dos ministros mais íntimos, José Dirceu, da Casa Civil, e Antônio Palocci, da Fazenda, já sofriam pesadas acusações de corrupção. Em 13 anos de governo o PT aviltou o Legislativo, infiltrou-se no Judiciário, aparelhou estatais e sociedades de economia mista. Os escândalos apurados nos processos do mensalão, da Lava Jato, da Operação Zelotes, para ficar apenas nos mais divulgados, espraiaram-se pelo território nacional, de tal sorte que são raras as administrações municipais e estaduais acima de suspeitas.

A fundação do Partido dos Trabalhadores, em fevereiro de 1980, dias antes da malograda greve de abril no ABC, prometia algo inédito na esfera político-partidária, diferente da radicalização das esquerdas, do peleguismo petebista, do insaciável apetite peemedebista, do reacionarismo arenista. Anunciava-se proposta nova para o País, cansado do autoritarismo, à espera da democracia.

Afirmava-se que com o PT no poder a desigualdade de renda seria reduzida; o mercado de trabalho, robustecido; a inflação, contida; os salários reais, elevados. Lula assumia o compromisso de ser ético na vida pública, de renovar a legislação trabalhista, sanear a estrutura sindical corrompida pelo peleguismo, de promover a reforma do Estado. A realidade mostrou-se outra. A moralidade transformou-se em virtude escassa nas esferas públicas e as promessas de mudanças foram esquecidas. O que hoje se vê são ex-ministros, deputados, senadores, sindicalistas, empresários condenados ou réus de ações criminais.

Em discurso no Palácio do Planalto em 29 de outubro de 2004, na apresentação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo, o presidente Lula disse, em determinado momento: “Eu tinha um advogado chamado Almir Pazzianotto Pinto, que depois foi ministro do Trabalho, e eu vivia discutindo com ele o seguinte: olhe, eu não quero advogado para dizer o que eu tenho que fazer. Eu quero advogado para me livrar depois que eu fizer”. Até então as infrações atingiam a lei de greve, cujo rigor exigia ações ousadas, como as que se verificaram em 1978, 79 e 80. A mesma prática jamais traria bons resultados quando adotadas por presidente da República.

À debilidade de Lula e do PT não se contrapõe, todavia, oposição consistente. O PMDB flutua, com rara desfaçatez, de dentro para fora e de fora para dentro do governo. O PSDB, fundado em 1988 por dissidentes do PMDB que recusavam a liderança de Orestes Quércia, sofreu quatro contundentes derrotas para o PT. Hoje procede como pugilista sonado a caminho do ringue, vencido antes de se iniciar o combate.

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Advogado ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do TST

Merval Pereira: O começo do fim

- O Globo

A imagem da deputada tucana Mara Gabrilli esforçando-se para ficar em pé na sua cadeira de rodas para encarar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e mandá-lo “levantar dessa cadeira” ficará marcada como representativa do início do fim da carreira política de Cunha. Assim como o discurso do então deputado Fernando Gabeira contra o presidente Severino Cavalcanti, uma espécie de Cunha do baixo clero, definiu a sua queda tempos depois.

Após a manobra vergonhosa que tentou para impedir a Comissão de Ética de votar o parecer sobre a aceitação do processo contra ele, Cunha apenas confirmou que não tem condições de manter o mandato, quanto mais a presidência da Câmara.

A deputada Eliziane Gama (Rede-MA), membro suplente no Conselho de Ética, vai fazer uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo o afastamento do presidente da Câmara, alegando que Cunha usa o cargo para obstruir o processo por quebra de decoro parlamentar.

Além de manobras para dificultar a tramitação do processo na Comissão de Ética, o (ainda) presidente da Câmara é acusado de usar recursos da Mesa Diretora para sua defesa pessoal. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, provavelmente vai voltar a cogitar pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão de Eduardo Cunha de suas funções de presidente da Câmara dos Deputados. A oposição — PPS, DEM e PSDB — também entrará no STF contra Cunha.

Com base no artigo 319, inciso VI, no capítulo V do Código de Processo Penal, que trata “das outras medidas cautelares”, assim redigido: “São medidas cautelares diversas da prisão: VI - Suspensão do exercício de função pública ou de atividade econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais”.

Quem duvida que ele, do alto de seu cargo, poderá ameaçar testemunhas? Há fortes suspeitas de que, por interposta pessoa, teria mostrado os dentes para o doleiro Alberto Youssef. Agora mesmo o relator de seu processo na Comissão de Ética denunciou que recebeu ameaças e pediu proteção para sua família. A medida cautelar independe do recebimento da denúncia.

A desassombrada atuação de Cunha, cada vez mais sem controles, à frente da presidência da Câmara, utilizando abertamente a chantagem política para se manter vivo, desmoraliza mais ainda a Câmara e transforma os deputados que não reagirem em figuras decorativas de uma pantomima.

Com sua imagem corroída pelos fatos, Cunha já não tem nem mesmo a carta do impeachment para jogar na mesa, pois o que sair de uma decisão tomada como salvavidas pessoal ou vingança não terá vigor político para se tornar realidade.

Nem mesmo a oposição, se tiver juízo, aceitará esse jogo sujo, que coloca sob suspeição até decisões corretas do ponto de vista legal. Qualquer decisão tomada por Cunha já nasce ilegítima, pois é ilegítima sua permanência na presidência da Câmara.

A vergonhosa série de arbitrariedades que coordena, e a política baixa de distribuir favores em troca de apoio, marcas registradas da atuação política de Cunha, definem de maneira indelével essa fase da política nacional. Só com a saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara será possível pensar-se em recuperar a respeitabilidade do jogo político-partidário em curso no país.

Mesmo assim, sua saída é condição indispensável, mas não suficiente para essa retomada. Há muitos outros Cunhas na cadeia (?) de comando da política brasileira, a começar pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que se beneficia do estardalhaço promovido pelo (ainda) presidente da Câmara para ficar esquecido, enquanto correm diversos processos contra ele.

Um país em que a presidente e o vice precisam se revezar em viagens internacionais para não permitir que o presidente da Câmara assuma a presidência da República não está em boa situação moral, não é mesmo?

Aliás, é a cadeia (?) sucessória uma das dificuldades para viabilizar politicamente o impeachment da presidente Dilma.

Igor Gielow: O Brasil e o terror

- Folha de S. Paulo

Escrevendo mais um capítulo de sua antologia filosófica, Dilma Rousseff cravou que o Brasil não tem de se preocupar com o terrorismo na Olimpíada do Rio, no ano que vem. "Estamos muito longe", disse a mandatária, que estava também distante do bom senso.

Dilma, que já havia sugerido "conversar com o Estado Islâmico" no passado, por prudência d06everia voltar atrás igualmente nesse vaticínio.

Como colocou o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), o Brasil não tem histórico de terror –seja em células, seja com "lobos solitários".

Falta caldo cultural; Foz do Iguaçu não fica na periferia pobre de Paris. Exceto por algum internauta louco, o EI não tem apelo ideológico aqui.

Teoricamente, algum terrorista poderia se infiltrar na onda de refugiados sírios acolhidos, é claro, mas isso é mais facilmente detectável pois não são massas atravessando a pé a fronteira. De resto, a maioria deles está a fugir da barbárie.

O que a área de inteligência sempre monitorou foram os passos de gente ligada ao Hizbullah libanês, esses sim assíduos frequentadores da chamada Tríplice Fronteira.

Eles costumam vir, contudo, para se esconder, em que pese a suspeita de terem participado do maior ataque por essas bandas, contra uma entidade judaica argentina em 1994.

Há também pontualmente suspeitas sobre a Al Qaeda, mas novamente falamos de terroristas de passagem.
A questão que escapou a Dilma é que se há um momento em que o perigo se coloca é durante os Jogos Olímpicos, evento internacional de máxima exposição e alvos vulneráveis tentadores politicamente, como Munique-72 deveria fazer recordar.

Além disso, a fase de ações externas do EI revelou gosto por eventos esportivos. Com o Congresso titubeando sobre legislação específica e com cerca de 50% da verba da Defesa para os Jogos em 2014-15 ainda a gastar, talvez o país esteja brincando com um azar bem próximo.

Tolerância com a corrupção – Editorial / O Estado de S. Paulo

Não é raro ouvir vozes críticas à Operação Lava Jato, como se ela fosse uma das responsáveis pela atual crise econômica brasileira. Até mesmo integrantes do governo culpam as investigações policiais pelo mau ambiente de negócios no Brasil dos dias de hoje. A nova investida agora, segundo reportagem do Estado, parte de centrais sindicais e empresários, que se mobilizam para evitar a “quebradeira” de construtoras envolvidas em denúncias de corrupção.

O plano seria restringir a punição penal e administrativa aos diretores das companhias, para que as empresas possam continuar operando nos mercados. Segundo o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, o movimento de trabalhadores e empresários não é “pró-corrupção”, e sim “pró-empregos e investimentos”.

Tal movimentação está longe de ser imune a riscos. Punir apenas as pessoas físicas, livrando as empresas, não é um bom caminho para combater a corrupção. O que tem sido investigado até agora não são atos de corrupção de determinados funcionários, que contrariaram as diretrizes das empresas. Investigam-se negócios escusos, nos quais as chefias dessas empresas tiveram ativa participação e que muito engordaram os seus resultados financeiros. Nesse cenário, impõe-se punir também as pessoas jurídicas pelos crimes. É o que manda a lei.

As críticas à Lava Jato têm como pano de fundo a equivocada ideia de que é impossível punir as grandes empreiteiras sem causar uma catástrofe nacional. Caso elas sejam responsabilizadas, o País ficará paralisado, as empresas quebrarão, milhares de empregos serão extintos. Diante de tantos efeitos indesejados, a prudência aconselharia a tolerar a corrupção. Ela seria um mal menor.

Esse sombrio panorama não é real. A legislação brasileira prevê a possibilidade de se realizar acordos de leniência, nos quais as empresas admitem seus equívocos, param de delinquir, restituem o que é devido, pagam compensações e multas e, cumpridas essas necessárias condições, voltam a operar – também com o poder público e as estatais.

Esse caminho, no entanto, está sendo evitado. Parece que algumas empresas nutrem a expectativa de encontrar um atalho menos custoso, como se ainda pudessem operar impunemente à margem da lei. Ignoram a Lei Anticorrupção, que prevê a punição para pessoas jurídicas. E continuam apostando numa solução que não implique vultosas indenizações e, especialmente, não exija uma mudança do comportamento que até o momento lhes foi tão benéfico.

No empenho por não alterar os costumes da impunidade, as empreiteiras têm contado com valiosa ajuda do Palácio do Planalto. Sem qualquer receio de alimentar essa enviesada esperança, o governo assume o discurso das empreiteiras e diz que é preciso muito cuidado na investigação e punição dos atos de corrupção, para não levar à quebradeira de empresas que geram empregos e fazem tanto bem ao País.

Esse discurso pode dar a entender que o governo, mais do que combater a corrupção, desejaria manter a impunidade. Afinal, os malfeitos das empreiteiras são também malfeitos do poder público e das estatais. Os negócios escusos envolvem os dois lados, e não apenas a parte privada. Talvez seja essa a razão para que o governo feche os olhos à realidade de que é possível punir as grandes empreiteiras e o Brasil seguir em frente, sem qualquer drama adicional. Há muitas médias e pequenas empresas no País com capacidade técnica e operacional para levar adiante as obras de infraestrutura. São elas – as médias e pequenas empresas – que já realizam boa parte das obras, como subcontratadas das grandes empreiteiras.

Para o País sair da crise, não é preciso tolerar a corrupção. Basta cumprir a lei. Caso uma ou outra grande empreiteira não consiga sobreviver num ambiente sem corrupção, há muitas outras empresas que podem ocupar com competência esse espaço.

A defesa sem escrúpulos de Cunha – Editorial / O Globo

• Manobras para retardar os trabalhos do Conselho de Ética ultrapassam tudo o que já se viu no Congresso, nos últimos tempos, em desfaçatez e desrespeito

O Congresso já assistiu a muitas manobras e chicanas de parlamentares na tentativa de escapar de punições. As mais comuns eram a fuga pela porta dos fundos da renúncia, para o retorno nas eleições seguintes, por meio de votos ordenhados, geralmente, pelo assistencialismo. A Lei da Ficha Limpa revogou de vez a malandragem.

Mas o arsenal à disposição desse tipo de esquiva continua farto, principalmente se for manipulado por um presidente da Câmara e se ele se chamar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido pela ousadia e falta de medidas.

O que o deputado tem feito para retardar ao máximo a tramitação de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa ultrapassa tudo o que se viu neste campo no Congresso, nos últimos tempos, em desfaçatez e em desrespeito ao próprio Legislativo e à inteligência alheia.

Indicado por “colaborações premiadas” de acusados na Operação Lava-Jato de ser beneficiário de propinas pagas pela Petrobras no esquema do petrolão, Cunha afastou as denúncias — normal —, mas passou a usar poderes do presidente da Casa para se defender.

Confirmada a existência de contas na Suíça não declaradas à Receita, do deputado, mulher e filha, Cunha foi formalmente acusado no Conselho de Ética. Pois garantira à CPI da Petrobras, instalada sob sua inspiração para barganhar apoio do governo Dilma e PT — vê-se hoje claramente —, que jamais tivera contas no exterior. Perjúrio, portanto. Logo, quebra de decoro.

Já com o nome encaminhado ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República, o deputado não desiste. Depois de uma explicação nada crível do deputado para as contas suíças, Cunha e aliados ultrapassaram todos os limites, quinta-feira, para evitar que o Conselho ouvisse a leitura do relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP). O plano é empurrar qualquer decisão do Conselho para 2016. Nisso, vale tudo. Eduardo Cunha chegou a abrir uma sessão no plenário da Casa mais cedo que o normal, para impedir os trabalhos no Conselho de Ética (segundo o regimento, comissões param de funcionar enquanto há sessões plenárias).

Até um ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, defendeu a renúncia de Eduardo Cunha. Mas a trincheira cavada por ele é eclética. O PT, já há algum tempo protetor do presidente da Câmara para que ele não despache algum processo de impeachment contra Dilma, participou das manobras de quinta-feira para sabotar o Conselho de Ética. Também o PSDB, no passado, e por motivo oposto ao do PT — quer o início da tramitação do impeachment —, fingiu nada haver contra Eduardo Cunha.

É imprevisível o desfecho desse circo de barganhas. Só não se discute que o deputado não tem condições de continuar a presidir a Casa, e que tudo isso prejudica a imagem da política e da própria democracia representativa. Não precisava ser assim.

Clima incerto – Editorial / Folha de S. Paulo

Os atentados terroristas em Paris dificilmente levarão ao adiamento da conferência mundial sobre mudança do clima (COP21), marcada para começar no próximo dia 30, na capital francesa. Tal é a disposição reafirmada pelo presidente François Hollande e apoiada pelos líderes do G20 na reunião que terminou na segunda-feira (16).

Não há dúvida, de todo modo, de que a 21ª reunião da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima ocorrerá à sombra de prioridades alteradas. Quando vários países se deparam com ameaça tão chocante e imediata, terminam em segundo plano os riscos climáticos que terão de enfrentar no futuro.

Esse não foi o único fator, porém, que levou as 20 maiores economias do mundo a obter escasso avanço nessa questão durante o encontro realizado na Turquia.

O processo internacional de negociação sobre formas de combater o aquecimento global se arrasta há mais de duas décadas porque precisa obter a concordância de 195 países quanto à melhor maneira de descarbonizar a economia global —ou seja, de reduzir sua dependência de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural).

A meras duas semanas do evento decisivo na capital francesa, a reunião do G20 evidenciou como ainda é muito incerto que de Paris resulte um acordo capaz de pôr o mundo na trilha necessária para minimizar o risco de fenômenos extremos, como tormentas, ondas de calor e secas devastadoras.

Considera-se prudente impedir um aumento da temperatura média da atmosfera terrestre acima de 2°C (ou 1,2°C além do 0,8°C já registrado). Para isso, as emissões de gases do efeito estufa precisariam ser zeradas até 2050.

Os compromissos nacionais até agora, voluntários, não garantem isso. Pelas últimas estimativas, caminha-se ainda para um inquietante aquecimento de 3°C.

Um poderoso instrumento para reverter esse rumo seria suspender os subsídios aos combustíveis fósseis, calculados em US$ 5,3 trilhões anuais (mais que o dobro do PIB do Brasil). O G20 pôs o tema em pauta, mas nada de concreto incluiu no comunicado final.

"Reafirmamos nosso compromisso de racionalizar e eliminar subsídios ineficientes a combustíveis fósseis que encorajem o consumo desnecessário, no médio prazo, reconhecendo a necessidade de apoiar os pobres", diz o documento. "Estaremos empenhados em fazer progresso adicional na direção desse compromisso."

As lideranças mundiais se limitaram a repetir a ladainha sobre a necessidade de um acordo ambicioso e com força legal em Paris —mas os sinais que emitiram na Turquia apontam no sentido oposto.

Ivan Alves Filho*: Zumbi: dos Palmares e de todo o Brasil

Entre o final do século XVI e o início do século XVIII, o estado de Alagoas atual serviu de palco para uma verdadeira epopeia, encarnada pelos combatentes do Quilombo dos Palmares. Ao questionar toda uma estrutura que poderíamos denominar de igualitária, a qual prevalece até meados do século XVI, o colonialismo português abre a via para a sociedade de classes no Brasil: no lugar das roças indígenas, o latifúndio; no lugar dos homens livres, os escravos. 

O Quilombo representa para os escravos negros, índios, mestiços e brancos pobres - para os que não tinham, enfim, vez nem voz na sociedade colonial - acima de tudo uma alternativa de vida. De uma vida sem perseguições nem espoliações. Contrastando com a penúria generalizada na Colônia, praticamente mergulhada na monocultura do açúcar, existia em Palmares um aparelho produtivo capaz de satisfazer não apenas as necessidades materiais dos membros da comunidade, como também gerar um excedente, negociado junto aos vilarejos coloniais vizinhos.

Essa primeira tentativa concreta de superação da realidade colonial foi finalmente esmagada pelas forças portuguesas e pelas tropas arregimentadas pelos senhores de engenho e escravos de várias capitanias. Não obstante isso, a compreensão do que se passou nas florestas que se estendiam do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até o norte do curso inferior do rio São Francisco, em Alagoas, se revela de extrema importância: o Quilombo dos Palmares logrou construir uma comunidade conduzida com autonomia pelos ex-escravos e homens livres que ali nasceram.

Convém examinar, além das formas de organização material do Quilombo (trabalho livre, propriedade comunitária da terra), a complexa questão do território efetivamente controlado pelos quilombolas. Um território frequentemente invadido, depredado. Trata-se, na realidade, de uma sociedade acossada.

Nesse contexto, as forças produtivas não têm como se expandir além das atividades de subsistência e se encontram, de fato, bloqueadas. Em Palmares, vigora uma forma social de produção algo coletivizada, cuja especificidade maior consiste em ser transitório e em servir de refúgio para os perseguidos e espoliados da sociedade oficial. A segurança e a sobrevivência, a guerra e o medo - eis os verdadeiros motores da comunidade palmarina. Zumbi dos Palmares foi o grande nome dessa epopeia. Batizado com o nome de Francisco, ele nascera na mítica Serra da Barriga, em 1655. Tinha, portanto, 40 anos ao ser assassinado. 

Criado pelo padre Antonio de Melo, o menino Francisco, então coroinha que "conhecia todo o latim que há mister e crescia em português e latim muito a contento", fugira para Palmares em 1670, tornando-se em poucos anos o dirigente máximo do Quilombo. Para o historiador Joel Rufino dos Santos, a troca de nomes de Franscico para Zumbi poderia significar uma recuperação da própria identidade, das raízes africanas. Faz sentido. Mas mesmo assim, resta saber se Zumbi mesmo reivindicava esse nome para si, ou se, ao contrário as autoridades é que se referiam a ele dessa forma - o que também não deixava de ser significativo. 

Ao aceitar o confronto final em Macaco, capital do Quilombo, no ano de 1694, Zumbi provavelmente não via outra saída para si e o movimento que ele liderava. Ou seja, fora até o limite de suas forças. Mas essas mesmas forças esbarravam nas chamadas condições históricas objetivas. Afinal, a ordem escravista não dava aos escravos rebelados aquelas condições mínimas para abatê-lo. Ou seja, a realização de uma política de alianças que fosse além do própria estamento escravista, submetido, de outra parte, a constantes renovações de natureza demográfica, devido à curta duração do ciclo de vida do escravo. 

Ora, isso dificultava sobremaneira a formação de uma memória de classe. A transmissão indispensável de experiências. Além do que, os próprios escravos se dividiam entre trabalhadores produtivos - que operavam nos engenhos e no corte da cana-de-açúcar - e trabalhadores domésticos. Isso, para não aludirmos aos diferentes horizontes étnicos presentes no Quilombo. De toda forma, Zumbi e seus companheiros nos deixaram uma grande lição: criaram um Brasil não-oficial, em contraposição ao Brasil oficial, um projeto estatal português sem dúvida. 

 Em Palmares, surgia uma Nação chamada Brasil, ainda que às avessas. E, ainda hoje, a luta desses homens ecoa, forçando em todos nós um justo sentimento de admiração. Um grande dirigente revolucionário do nosso tempo observou certa feita que “um chefe militar não pode esperar arrancar uma vitória indo além dos limites impostos pelas condições materiais, mas ele pode e deve lutar pela vitória nos limites mesmos dessas condições. O cenário onde se desenrolam suas atividades repousa sobre condições materiais objetivas, mas ele pode, sobre este cenário, conduzir ações magníficas, deu uma grandeza épica”.

Zumbi, enquanto chefe militar, parece ter compreendido isso.

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* Historiador e jornalista, é autor de uma dezena e meia de livros, entre os quais Memorial dos Palmares, Brasil, 500 em documentos, Giocondo Dias - Uma vida na clandestinidade e O historiador e o tapeceiro.

Luta contra a escravidão: Defesa com conhecimento de causa

• Especialistas revelam o papel de intelectuais negros, como Machado de Assis, na Abolição

Eduardo Vanini - O Globo

Quem observa a força com que os movimentos sociais têm ganhado as ruas do Brasil, em nome de diferentes causas, pode não imaginar o quão distantes e organizadas são as raízes desse tipo de ação no país.

É o caso do movimento abolicionista, considerado por muitos historiadores uma das primeiras grandes mobilizações populares em terras brasileiras. Por trás desse movimento, que reverberou por vias, teatros e publicações impressas no final do século XIX, estão atores nem sempre lembrados com o devido destaque: literatos negros que se empenharam em dar visibilidade ao tema. Debruçados sobre essa fase decisiva da história do Brasil, uma leva de historiadores tem revelado detalhes sobre a atuação desses personagens e mostrado que a conexão entre eles era muito maior do que se imagina.

A historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto fez deste tema sua tese de doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Ela investigou a atuação de homens negros, livres, letrados e atuantes na imprensa e no cenário político-cultural no eixo Rio-São Paulo, como Ferreira de Menezes, Luiz Gama, Machado de Assis, José do Patrocínio e Theophilo Dias de Castro. Segundo Ana Flávia, eles não só colaboraram para que o assunto ganhasse as páginas de jornais, como protagonizaram a criação de mecanismos e instrumentos de resistência, confronto e diálogo. Ela percebeu que não eram raros os momentos em que desenvolveram ações conjuntas.

— O acesso ao mundo das letras e da palavra impressa foi bastante aproveitado por esses “homens de cor”, que não apenas se valeram desses trânsitos em benefício próprio, mas também aproveitavam para levar adiante projetos coletivos voltados para a melhoria da qualidade de vida no país. Desse modo, aquilo que era construído no cotidiano, em conversas e reuniões, ganhava mais legitimidade ao chegar às páginas dos jornais — conta Ana Flávia.

A utilização da imprensa por eles foi de suma importância, na visão das pesquisadora. A “Gazeta da Tarde”, por exemplo, sob direção tanto de Ferreira de Menezes quanto de José Patrocínio, dedicou considerável espaço para tratar de casos de reescravização de libertos e escravização de gente livre, crime previsto no artigo 179 do Código Criminal do Império, como pontua a historiadora.

— Ao mesmo tempo, o jornal também se preocupou em dar visibilidade a trajetórias de sucesso de gente negra na liberdade, como aconteceu em 1883, quando a “Gazeta” publicou em folhetim uma versão da autobiografia do destacado abolicionista afro-americano Frederick Douglass — ilustra Ana Flávia.

Como observa o professor do Programa de Pós-graduação em História da UFF Humberto Machado, eles conheciam de perto as mazelas do cativeiro e levaram essa realidade às páginas dos jornais. José do Patrocínio, por exemplo, publicou livros que mostravam detalhes da escravidão como pano de fundo em formato de folhetim, que fizeram muito sucesso. Esses trabalhos penetravam em setores que desconheciam tal realidade.

— Até os analfabetos tomavam conhecimento, porque as pessoas se reuniam em quiosques no Centro do Rio de Janeiro e escutavam as notícias. A oralidade estava muito presente nesse processo. Fora isso, havia eventos, como conferências e apresentações teatrais, e as pessoas iam tomando conhecimento e se mobilizando contra a escravidão. O resultado foi um discurso voltado não só à população em geral, mas também aos senhores de engenho, mostrando a eles a inviabilidade da manutenção dos cativeiros — relata o professor, que escreveu o livro “Palavras e brados: José do Patrocínio e a imprensa abolicionista no Rio”.

Para a professora Martha Abreu, do Departamento de História da UFF e doutora em história negra no Brasil, a conexão entre intelectuais negros seria inevitável diante de um cenário como aquele. E essa ligação foi fundamental para que o movimento ganhasse adesão popular.

— Quando analisamos esses escritores e verificamos de quem eram amigos, percebemos que certamente estavam sempre juntos. E essa troca foi fundamental para que o movimento ganhasse corpo. Ele envolveu jornalistas, lideranças religiosas, operários, trabalhadores de porto, intelectuais e muitos outros.

Título póstumo da OAB
Outro importante personagem desse contexto é Luiz Gonzaga de Pinto Gama. Seu nome, inclusive, foi lembrado no começo deste mês, quando a Ordem dos Advogados do Brasil concedeu a ele o título de advogado, 133 anos após sua morte. Nascido em Salvador, filho de um português com uma escrava liberta, Gama foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha 10 anos. Após conquistar sua alforria, tentou frequentar a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, hoje da Universidade de São Paulo, mas foi impedido por ser negro. Ele, então, assistiu às aulas como ouvinte e o conhecimento adquirido o possibilitou atuar na defesa jurídica de negros escravos. Além disso, ao lado de Rui Barbosa, fundou o jornal “Radical Paulistano”.

De acordo com o diretor do Instituto Luiz Gama, Camilo Onoda Caldas, há dois fatos marcantes na biografia do literato que merecem ser celebrados:

— Primeiro, sua atuação nos tribunais. Ele utilizou seus conhecimentos jurídicos obtidos de forma autodidata e sua escrita e oratória impecáveis para obter a liberdade de mais de 500 escravos. Os autos de processos judiciais encontrados mostram que Luiz Gama possuía um domínio sofisticado das leis, que foi imprescindível para obter vitória nos processos judiciais — relata. — Em segundo lugar, ele era um abolicionista, pois sabia que a atuação perante o Poder Judiciário tinha um caráter limitado e que, portanto, era preciso desenvolver um embate no nível político, o que implicava em um conflito de classe, pois havia forte oposição por parte da elite agrária brasileira que explorava o trabalho dos negros.

A tese de Ana Flávia destaca também participação de Machado de Assis neste contexto. Segundo ela, apesar de ser um sujeito discreto, se mostrava bastante atento aos acontecimentos:

— Machado manteve vínculos com Francisco de Paula Brito, Castro Alves, Ferreira de Menezes e Antonio Cândido Gonçalves Crespo. Desse último, guardou a carta que recebera em junho de 1871, em que o remetente manifestava satisfação pelo fato de ambos serem homens de cor, tal como registrado nesse trecho:

“A Vossa Excelência, já eu conhecia de nome há bastante tempo. De nome e por uma secreta simpatia que para si me levou quando me disseram que era... de cor como eu”.

Como lembra a professora de Literatura do Colégio Pedro II, Gloria Vianna, doutora em Literatura Comparada pela UFF, Machado de Assis era afrodescendente e em sua literatura é possível notar que este é o lugar a partir do qual ele fala. A grande questão, segundo ela, é que ele nunca fez literatura panfletária, e muitos ainda cobram isso dele.

Para entendê-lo melhor, de acordo com Gloria, é preciso considerar quem eram seus leitores. Segundo ela, o censo de 1876 mostra que só 16% da população sabia ler. E Machado escrevia exatamente para esses 16% da elite branca leitora.

— Ele elabora, então, um projeto genial: faz a elite branca confessar os seus delitos, a sua miséria. E nisso ele é impiedoso, quando não, irônico — conta a professora. — É clássico o exemplo da crônica publicada no jornal “Gazeta de Notícias”, em 19 de maio de 1888, em que um senhor, desejoso de ser eleito deputado, entende que seria uma ótima publicidade libertar seu escravo antes da abolição e faz um banquete para dar a notícia e receber os aplausos requeridos por seu gesto. Mas, depois da divulgada abolição, o senhor continua a tratar o rapaz de forma desumana.