Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna
Por: Patricia Fachin | IHU On-Line, 03 Julho 2017
Para explicar a absolvição da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral – TSE em meio a uma série de escândalos políticos, disputas e apostas em torno da permanência de Michel Temer na Presidência da República até a sucessão presidencial em 2018, o sociólogo Luiz Werneck Vianna recorre a Max Weber para defender que o que tem imperado no país, especialmente na decisão do TSE, é uma ética da responsabilidade. O que, segundo ele, não significa a ausência de uma ética de convicções. “Essas duas éticas não se contrapõem, ao contrário do que certas opiniões ingênuas formulam, elas se complementam. O estadista, o homem de Estado verdadeiro, é aquele que é capaz de ser fiel a uma ética de responsabilidade sem abdicar das suas convicções, fazendo com que essas convicções estejam presentes na sua tomada de posição, que tem que considerar o mundo”, afirma.
De acordo com ele, embora houvesse “elementos para a condenação da chapa no Tribunal Superior Eleitoral”, diante do caos em que o país se encontra, “o formalismo jurídico não vai levar a lugar nenhum” e, portanto, outros elementos foram considerados na decisão política dos juízes do TSE. “Acredito que naquela decisão esteve presente, sim, um cálculo político dos juízes que resolveram absolver a chapa, com uma ética de responsabilidade, pois onde nos teria levado uma ética de convicção estranha e exótica à da responsabilidade? Onde? Está se preparando a sociedade para uma saída à direita, é isso? Ela está aí, rondando”, diz.
Embora faça elogios e críticas à atuação do Ministério Público e do Judiciário na cena política, Werneck Vianna insiste que o que falta ao país é “clarividência”, “reflexão” e um “projeto”. “Temos que ir aos fundamentos nessa hora de caos em que todas as referências estão sendo destruídas. Temos que voltar um pouco para a nossa própria história. (...) Por que mudamos de orientação e fizemos com que uma era, que se abria com uma plataforma de interromper a modernização autoritária que nos vinha dos anos 30, não fosse levada adiante? Por que de repente nós aderimos à modernização autoritária? Por que a esquerda aderiu às práticas econômicas dos governos do regime militar?”, questiona.
Embora seja favorável à Operação Lava Jato, Werneck questiona: “Como se sai desse buraco? Colocando 80% dos políticos na cadeia, é isso?” E adverte: “Nós temos que criar mercado de trabalho para 14 milhões de brasileiros, que estão à míngua. Uma coisa é a defesa de programas ético-morais, outra coisa é esse moralismo rastaquera, que está dominando a mídia, a opinião das redes sociais”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line na última sexta-feira (30-06-2017), Werneck analisa a conjuntura política e comenta a escolha da subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, que irá substituir Rodrigo Janot à frente da Procuradoria Geral da República a partir do dia 17 de setembro. A decisão, frisa, representa uma “lufada de ar fresco nesse ar viciado que aí está”.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012).
Confira a entrevista.
IHU On-Line — Segundo uma pesquisa recente, a percepção de 95% dos brasileiros é a de que o Brasil não está no rumo certo. Considerando a situação política do país, a sua percepção também é essa?
Luiz Werneck Vianna — Qual é o rumo certo? Essa questão do rumo é complicada; é quase uma questão metafísica.
IHU On-Line — Mas considerando a crise atual em torno do presidente da República e o impeachment da ex-presidente Dilma, era de se esperar que o país estivesse nessa situação de crise continuada?
Luiz Werneck Vianna — O impeachment, como já disse em alguns artigos e em entrevistas para o IHU, é sempre muito traumático, é uma solução extrema e que deixa sequelas, e as sequelas estão aí. Os partidos e as personalidades que foram atingidos pelo impeachment estão respondendo às circunstâncias posteriores de forma muito irracional e sensorial. Mas imagino que isso também vai se esvair, assim como em outras circunstâncias; o tempo ajuda.
Por que de repente nós aderimos à modernização autoritária? Por que a esquerda aderiu às práticas econômicas dos governos do regime militar?
Na medida em que a sucessão presidencial se aproxima, novos tempos, novos temas e novas questões vão se impor, inclusive essa com a qual você iniciou a entrevista, sobre os rumos. A sociedade vai definir, entre os candidatos dos partidos, os rumos a seguir. Não vai se voltar à política econômica da época de Dilma; acho isso de uma improbabilidade absoluta. Aquela política nos levou a uma situação muito ruim do ponto de vista econômico, social e político. A sucessão presidencial tende a nos devolver aos trilhos da racionalidade à medida que os novos candidatos vão ter que oferecer plataformas exequíveis, persuasivas e estimulantes. Mas é preciso voltar a crescer.